Autor: Alceu Sperança

  • Os famigerados irmãos Zandoná: heróis ou jagunços?

    Os famigerados irmãos Zandoná: heróis ou jagunços?

    O começo da década de 1940 foi uma época extremamente difícil para o mundo. Em plena II Guerra Mundial, o Brasil estava asfixiado pela ditadura, havendo intensa perseguição aos filhos de imigrantes, sobretudo, no Sul, aos italianos e alemães.

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    Neste último caso, pela suposição de que todo alemão fosse nazista, como atualmente há quem suponha, sem noção da realidade, que todo russo apoie a ocupação da Ucrânia.

    O estopim para a perseguição se deu em março de 1941, quando o navio brasileiro Taubaté foi atacado por um avião de guerra nazista no Mediterrâneo, causando comoção nacional.

    No remoto interior paranaense, longe do conflito mas já trabalhando para a necessária reconstrução das áreas destruídas, a dedicação aos serviços madeireiros era recompensada por um rápido desenvolvimento.

    O estudo das atividades desenvolvidas pelas famílias já constituídas ao chegar à vila de Cascavel na primeira metade dos anos 1940 aponta uma diversidade de iniciativas.

    Sendo em geral numerosas, as famílias dividiam seus membros entre atividades rurais (lavoura, criação e tarefas com madeira) e urbanas (comércio e prestação de serviços). Alguns também serviam a órgãos do Estado.

     

    A parteira que teve muitos filhos

    Foi a diversidade de trabalhos prestados à comunidade que fez da família Zandoná uma das que participariam de forma decisiva e dinâmica na formação da cidade.

    Pedro e Gemma Barbieri Zandoná, a Mamãezinha, travaram contato com Cascavel em 1941, ao cabo de uma penosa viagem que durou 16 dias. Filhos de imigrantes italianos, Pedro e Gemma nasceram em Lagoa Vermelha (RS), onde também constituíram família e depois se transferiram para Concórdia (SC), cidade cujo nome harmonizava Paraná e Santa Catarina para dar fim aos atritos do Contestado.

    Gemma teve nove filhos: Laura (Miotto), Adelino, Vivaldino, Osvaldo, Elia (Lopes), Maria (Fávero), Dorivaldo, Donarino e Neli. Ganhou o apelido de Mamãezinha por ser parteira e assim chamar as jovens pioneiras que davam à luz na região.

    A maioria dos cascavelenses nascidos nos anos 1940 e 1950 viu a luz pelas mãos de Gemma Zandoná.

     

    A importância do Hotel Gaúcho

    A família logo se destacou, estabelecendo-se com loja, serraria e negócios com erva-mate, além de adquirir um terreno junto ao líder da comunidade, Jeca Silvério, para ali abrir o Hotel Gaúcho.

    Foi nessa hospedaria que o madeireiro Florêncio Galafassi morou por dois anos, até construir residência na cidade enquanto estruturava a Industrial Madeireira do Paraná (Imapar), da família Festugato.

    O Hotel Gaúcho foi também a base da família Zanato para iniciar a cidade de Corbélia e da família do alfaiate Ítelo Webber, que pretendia seguir para a região do Rio Piquiri mas decidiu não prosseguir por conta dos conflitos de terras entre Cafelândia e Nova Aurora.

    Ali o futuro vereador, prefeito e deputado estadual Fidelcino Tolentino também teve seu primeiro emprego na cidade, ainda bem jovem, trabalhando com o pai José, que comprou o hotel. 

    Pedro Zandoná tinha muita influência na comunidade. Seus filhos Vivaldino, Osvaldo e Dorivaldo participaram da fundação e diretorias do Tuiuti Esporte Clube.

    Pedro foi um dos líderes da comunidade que convenceu José Neves Formighieri a se candidatar à Prefeitura de Cascavel em 1952.

    Como toda família numerosa, sobretudo famílias que participam diretamente de suportaram o pior dos tempos pioneiros.

     

    Os irmãos nervosos

    Dorivaldo Zandoná, o Vesgo, tinha 9 anos quando a família veio para Cascavel. Adulto, foi motorista da Fundação Paranaense de Colonização e Imigração, tarefa na qual ganhou a fama de jagunço* perigoso.

    Sua péssima fama piorou ao ser preso por se envolver em briga na Churrascaria Maracanã, em 1956. Dela resultou a tragédia conhecida como o “Crime do Espeto”, na qual foi morto o proprietário do estabelecimento, Antônio Cirilo Perboni. Vesgo foi condenado a seis anos de prisão.

    O gerente bancário Rubens Nascimento, no livro Histórias Venenosas, conta que sabia da fama de jagunços de Dorivaldo e do irmão Donarino, o Bernardão, mas se surpreendeu no contato pessoal:

    “Vesgo não era vesgo, e até bem apessoado, embora ambos se mostrassem um tanto arredios, recatados, sem muitas palavras, mas se mostraram educados e respeitosos, até algo tímidos, como avessos à fama que gozavam”.

    A serviço da Fundação, na condição de guardas patrimoniais, Vesgo e Bernardão foram considerados heróis em diversas ocasiões.

     

    Técnica de convencimento

    Rubens Nascimento conta que certa vez os irmãos Zandoná foram chamados para apaziguar um posseiro de nome Danton, que impedia os topógrafos do governo de atravessar suas terras para prosseguir com a medição.

    O posseiro ameaçou os funcionários do Estado com uma espingarda junto à cerca e eles chamaram o apoio de guardas patrimoniais para dar sequência ao trabalho. Eram os irmãos Zandoná. Nunca se soube exatamente o que eles fizeram nessa diligência, mas os agrimensores relataram que logo ao chegar eles tranquilizaram facilmente o valentão.

    Inquiridos sobre como conseguiram a façanha, Vesgo, o mais comunicativo, disse ter dito ao posseiro: “Se você impedir a passagem dos topógrafos ou disparar um só tiro contra os agrimensores vamos te comer vivo”.

    A fama de bad boys do sertão, portanto, não era de todo injusta. Para os posseiros, embora os irmãos estivessem a serviço do Estado eram demônios humanos que “matavam só pra ver o tombo”.

    *O termo “jagunço” designava qualquer pessoa ostensivamente armada.

     

    Escapou vivo e fez história

    A tristeza pelo envolvimento do Brasil na guerra foi amenizada por uma notícia festejada com muita alegria já em abril de 1941: a solução para o grave problema do transporte entre Guarapuava e Foz do Iguaçu, que atrapalhava o comércio do médio-Oeste com os portos do Rio Paraná e nos dias de chuva atrasava por vários dias a recepção de mercadorias, estacionadas no centro do Estado.

    O que havia, até então, era a antiga Estrada Estratégica, que aproveitava os melhores trechos das picadas ervateiras e militares até o divisor de águas em Cascavel, de onde seguia para Foz do Iguaçu.

    A Estratégica veio projetar a então vila de Cascavel, pertencente a Foz do Iguaçu e até os anos 1930 apenas um ponto de passagem sem atrativos, como um futuro centro polarizador da região.

    As obras da rodovia federal tiveram início em 7 de junho de 1941, tendo por trás da pressa alguém que correu risco de vida por sua passagem no Oeste do Paraná.

    O coronel Juarez Távora era um dos soldados revolucionários que ocupou o Oeste do Paraná entre 1924 e 1925 e teria um triste destino se fosse capturado no cerco a Catanduvas. Do preso dois anos depois, mas fugiu da cadeia e continuou a lutar contra o governo.

    Com a revolução de 1930, agora vencedor, sua carreira militar avançou, bem como sua influência junto ao Estado Maior do Exército. Sendo conhecedor da importância da região, o parecer de Távora sobre a importância estratégica de uma boa rodovia no interior paranaense prevaleceu.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Os mundos paralelos de Pompeu e Silvério

    Os mundos paralelos de Pompeu e Silvério

    Nascido em Catanduvas, Aírton Pompeu Reis (1932–2007), que seria advogado, líder político oestino e secretário do governo do Paraná, declarou ao pesquisador Sérgio Antônio Thomé (A Primeira Escola Primária em Cascavel) ter estudado em Aparecida dos Portos entre 1940 e 1941, fazendo a segunda e terceira séries na Casa Escolar dessa vila.

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    Que “Aparecida dos Portos” é essa, que não figura sequer em antigos mapas? Oficialmente, a vila citada por Reis tinha o nome de Cascavel. Era a sede de um importante distrito de Foz do Iguaçu desde 1938, mas os religiosos insistiam em chamar o lugar de “Aparecida dos Portos”, nome cunhado erroneamente pelo prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Maria Thiletzek, em 1931. Afinal, Cascavel possuía muitas nascentes e riachos, mas nenhum com portos, que estavam no Rio Paraná.

    A briga pelo nome da cidade

    Para os viajantes, de passagem, o lugar continuou sendo “Encruzilhada dos Gomes” até a criação do Território Federal do Iguaçu, em 1943, quando a ditadura tentou sem sucesso mudar o nome do lugar para “Guairacá” (Alceu e Regina Sperança, Cascavel: Uma Santa na Encruzilhada).

    Antes residentes em Guarapuava, a mãe de Aírton, Alvina Pompeu Reis (1913–2008), era professora e o pai, Horácio Ribeiro dos Reis (1912–1987), prestava serviços aos Correios e Telégrafos.

    A família Reis (Preto no Branco, 4/4) se transferiu para a vila porque Horácio foi designado para trabalhar em Cascavel, que era como os Correios consideravam o nome da vila.

    Para Aírton, os professores chamavam a localidade como “Aparecida dos Portos” porque o nome oficial, “Cascavel”, não era bem aceito por muitos e principalmente pelos mais religiosos.

    “Aírton contou que no cabeçalho do caderno escreviam o nome da comunidade (hoje Cascavel), Aparecida dos Portos” (Sérgio Thomé, A Primeira Escola Primária em Cascavel).

    Biografias entrelaçadas

    O ano de 1940 foi o auge da ditadura Vargas. Os partidos e entidades da sociedade civil estavam abolidos, os direitos suspensos, o Congresso Nacional fechado, a imprensa e as artes sob censura obrigadas a estabelecer o controle ideológico da população por meio do ufanismo, em vertente brasileira do fascismo europeu.

    Para conhecer o país que emergiu da revolução de 1930, o governo chamou um novo recenseamento nacional da população, que passaria a ser decenal. O encarregado de fazer o Censo na região de Cascavel foi Manoel Ludgero Pompeu, pai de Alvina Reis e avô de Aírton.

    Manoel, ligado aos getulistas, trouxe os filhos para Cascavel, dentre os quais Amadeu, então com treze anos, que viria a ser um dos fundadores da Acic. Com isso, passou a compartilhar o comando de Cascavel com Jeca Silvério.

    Há uma impressionante correlação entre as biografias dos dois, como se fossem personalidades destinadas aos mesmos propósitos. Eram amigos, correligionários e agiam de acordo.

    Jeca Silvério nasceu em 21 de março de 1888, em Candói (PR).

    Manoel Pompeu, em 26 de março de 1888, em Nonoai (RS).

    Silvério foi subprefeito distrital de Cascavel e seu sucessor foi Pompeu.

    As famílias dos dois participaram ativamente da afirmação de Cascavel como cidade, associadas às famílias de seus filhos, genros e noras.

    Manoel morreu em 24 de dezembro de 1966, na véspera do Natal. Silvério, em 31 de dezembro, na véspera do Ano Novo.

    Com vidas paralelas, ao se estabelecer em Cascavel eles foram complementares.

    A explosão do Norte

    O Censo Demográfico de 1940 registra o Paraná com 1.236.276 habitantes. Em todo o Oeste, havia uma irrisória população de apenas 7.645 habitantes, equivalente a um bairro de qualquer cidade média da região.

    Pelo censo de 1940 a vila de Cascavel constava com 404 habitantes, 80% desta população residentes na zona rural.

    Enquanto Estado e União se enfrentam na Justiça pelo domínio das terras do Sudoeste, no Norte do Paraná a colonização se acelerava sem obstáculos. Paralelamente à inglesa Companhia de Terras Norte do Paraná, várias outras empresas menores atuaram na região, nos anos seguintes também em direção ao Oeste, antecipando o boom imobiliário do pós-guerra.

    Eram elas Boralli e Held (Alto Paraná), Cobrinco (Santa Cruz do Monte Castelo), Leôncio de Oliveira Cunha (Paraíso do Norte), Armando Chiamulera e sócios (Nova Londrina), Tarquínio Ferreira e outros (Santa Isabel do Ivaí), Spinardi e Sebastião Delfino (Loanda), Gutierrez Beltrão (Tamboara), Organizações Ademar de Barros (Terra Rica), Imobiliária São Paulo-Paraná (Querência do Norte), Sivas Pioli (São Carlos do Paraná), Almeida Prado (Itaúna do Sul e Diamante do Norte).

    As imobiliárias recebiam do Estado áreas de 10 mil alqueires e deveriam abrir estradas e patrimônios e se incumbir da venda dos lotes. Depois desta fase, pagavam uma cota determinada ao Governo do Paraná, que expedia, então, os títulos definitivos de propriedade. (…) a maioria girava em torno de uns 250 hectares” (Ana Yara D. P. Lopes, Pioneiros do Capital – A Colonização do Norte do Paraná).

    Posse, venda e roubo de terras

    No início da década de 1940 já estavam concentrados na região Norte do Estado 340.449 habitantes, “o que correspondia a nada menos que 27,5 por cento do total do Estado” (Fernando Antonio Sorgi, Desenvolvimento Econômico Regional: Um Estudo do Norte Pioneiro do Paraná).

    Essa população responde por uma crescente produção de café no Estado, que em 1940 já é responsável por 7% da safra nacional. Mas o Oeste ainda continuava desafiador.

    O Estado não podia agir e a União pouco agia, mas um novo estímulo à procura por terras no interior começou a se apresentar em 14 de fevereiro de 1941, quando as sempre anunciadas mais ainda indefinidas colônias agrícolas federais foram regulamentadas por decreto-lei.

    Em meio à multidão de aventureiros que se deslocam ao Paraná há desde colonos com algum dinheiro e posseiros sem eira nem beira até colonizadores desonestos e grileiros.

    “A grilagem de terras no Paraná fica clara no Relatório da Interventoria Federal do Paraná ao Presidente da República – relativo ao período de 1932 a 1944, quando relaciona 20 grandes grilos de terra no Paraná, perfazendo uma área total de 2.434.567 alqueires, quase 20% de todo o território do Estado” (Valdir Izidoro da Silveira, Os Comunistas e a Reforma Agrária no Paraná).

    Epidemia abalou a ditadura

    Sabendo que a maior parte das áreas griladas pertencia a milhares de posseiros cujo pioneirismo de fato desbravou o interior do Paraná, o interventor Manoel Ribas afirmou, frente à gravidade da situação: “Precisamos acabar com esses senhores feudais”.

    As viagens dos colonos em busca de terras no remoto sertão sofreu então um forte obstáculo: no primeiro trimestre de 1941, chegando ao auge em março, uma epidemia de malária grassou nas regiões de colonização recente.

    O governo acabara de festejar a erradicação do mosquito transmissor no Nordeste quando a realidade superou a propaganda e mostrou sua gravidade no interior paranaense, obrigando à reorganização, já em 2 de abril, do Departamento Nacional de Saúde, do Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública, incluindo o Serviço Nacional de Malária.

    A propaganda ufanista desmoralizada pelos fatos foi uma das causas da crescente rejeição ao regime ditatorial, que ainda se aguentou até a guinada de Vargas para o lado dos Aliados na II Guerra Mundial, quando o anseio por democracia se tornou incontrolável.

    Foi a necessidade de vencer a malária, aliás, que empurrou o Brasil para a influência estadunidense e, assim, para o lado que venceria o conflito.

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    Fonte: Fonte não encontrada

  • Veio procurar petróleo e fundou um clube

    Veio procurar petróleo e fundou um clube

    Na queda de braço entre União e Estado para comandar o esforço de desenvolvimento e colonização no Oeste, em 1940 a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado do Paraná, criada em 1924 por lei federal e instalada em 1933 como estadual, em 1940 foi recriada como Capitania Fluvial dos Portos do Rio Paraná por decreto do presidente Getúlio Vargas.

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    Os atritos entre União e Estado iriam dar em uma arrastada pendência judicial e conflitos sangrentos pela posse da terra, mas com a II Guerra em pleno curso e aumentando a destruição na Europa, a necessidade de reconstrução faz a década de 1940 começar altamente promissora para o Oeste do Paraná, por conta de suas matas cobertas de madeira.

    O movimento madeireiro abriu um leque de oportunidades para os aventureiros que vinham para a região. Os relatos indicam que eles chegavam, ocupavam uma área e partiam em busca das famílias. Na volta corriam o risco de encontrar outra família no local – ou, pior, os jagunços dos grileiros de terras.  

    Lavoura, moinho, mel, loja, hotel, ônibus…

    A história de José Bartnik, filho do marceneiro e carroceiro polonês Valentin e de Maria Galeski Bartnik, é um caso exemplar de sucesso entre os pioneiros. Nascido em 21 de junho de 1908 em Colônia Vieira, no Município catarinense de Canoinhas, José uniu as famílias Galeski e Bartnik à Tfardoski, de sua esposa Bertha, de origem austro-alemã, que vivia em Catanduvas.

    A família Bartnik pertence ao núcleo inicial de colonos poloneses e ucranianos que se deslocou de Santa Catarina ao Paraná na década de 1920. Os Bartnik se instalaram inicialmente em Catanduvas e depois em Formiga (Cascatinha).

    Até por volta de 1939 ele trabalhou na lavoura, vindo depois a montar um moinho para arroz, fubá e trigo, possuindo, ainda, cerca de 400 caixas de abelhas, vendendo os produtos da apicultura em Ponta Grossa e Guarapuava.

    Em 1940, vendendo essa propriedade “por 18 contos”, veio morar em Cascavel, montando uma loja de secos e molhados. Marceneiro, carpinteiro, comerciante, hoteleiro, também atuou no setor de combustíveis e teve uma empresa de ônibus na linha Cascavel-Corbélia.

    Além de fundar o Tuiuti Esporte Clube ao lado de outros pioneiros em 1949, Bartnik foi eleito vereador para a primeira legislatura, em 1952, e foi secretário da Câmara quando o Município começou a funcionar, em 1953. José Bartnik e Bertha tiveram nove filhos: Atacília, Ercílio, Valdir, Gládis, Ivone, Loudi, Zita, Neli e Judite. Ele morreu em 22 de setembro de 1968.

    Avião apoiava avanço dos colonos

    O cenário em que Bartnik se movia era a arrancada do ciclo madeireiro regional, favorecido pelo Correio Aéreo, que aproximava os colonos do contato com as famílias nas regiões de origem.

    A movimentação de correspondências, remédios e artigos perecíveis pelo ar aumentou, determinando em 1940 as reformas dos campos de aviação de Cascavel, Pinheirinho e Vinte-e-Quatro, tarefa entregue pelo Departamento de Aviação Civil ao feitor Floriano Borissa.

    Sebastião Alves Krassuski, que viria a ser um dos fundadores do Tuiuti Esporte Clube ao lado de Bartnik, dos aviadores e famílias ligadas a Florêncio Galafassi e Manoel Ludgero Pompeu, começou a se fixar na região de Cascavel em novembro de 1945, quando partiu de Laranjeiras do Sul, então capital do Território Federal do Iguaçu.

    Nascido em Guarapuava, Krassuski chegou para trabalhar na função de motorista de caminhão, empregado pela Comissão de Estradas de Rodagem, que prosseguia as obras da rodovia federal, futura BR-277, mas já conhecia Cascavel desde 1940, quando, aos 23 anos, fazia o transporte de operários para trabalhar na construção do segundo aeroporto cascavelense.

    Gaiotas: presentes em todas as obras

    A tecnologia para o transporte de material eram gaiotinhas puxadas por jumentos. A gaiota era um misto de carrocinha com vagonete, com mecanismo para deslizar sobre trilhos.

    Os operários contratados para a empreitada de reconstrução, vindos de outras regiões, ao concluir o serviço tinham duas opções. Voltariam aos locais de origem para esperar novos trabalhos. Ou aceitariam a oferta de terras para ficar na vila, onde já havia oportunidades na indústria madeireira e prestação de serviços.

    Mas Krassuski ainda voltaria a Guarapuava e só no final da II Guerra decidiu se radicar em Cascavel. O caminhão utilizado por Krassuski na época, segundo Antônio Coutinho, filho de José Coutinho, um dos operários que participou das obras do aeroporto, pertencia a uma companhia norte-americana de exploração petrolífera.

    Era a Standard Oil, da família Rockfeller, que por meio da Companhia Geral Pan-Brasileira, ligada a Moysés Lupion, perfurou dois poços de petróleo na região de Cascavel.

    Sinais dizem que há petróleo

    Hoje essa lembrança parece fantástica e surreal, pois não há petróleo em Cascavel. No entanto, fala-se em petróleo no Paraná desde fins do século 19, quando uma equipe norte-americana foi contratada para explorar e abrir 124 poços na bacia do Rio Paraná.

    Mapas geológicos estadunidenses da época apontavam para a existência de recursos minerais variados na região, inclusive petróleo. Isto se deve à presença de uma ampla camada de basalto, rocha firme resultante da existência de vulcões ativos na região na pré-história.

    Para saber o que ela esconde, só perfurando. Por isso o interior do Paraná foi pioneiro também na exploração petrolífera nacional. O primeiro poço do Brasil foi aberto em Inácio Martins, próxima a Guarapuava e Irati.

    Entre 1980 e 1982, a Paulipetro, estatal paulista criada pelo então governador Paulo Maluf, perfurou 69 poços sem achar jazidas viáveis. Entre 1998 e 2008, a Agência Nacional do Petróleo ofereceu em leilão 11 blocos para a exploração de petróleo, sem sucesso. Oito nem receberam lances.

    Em 2010 a ANP voltou àquela região, com mais de 600 homens encarregados de achar petróleo e gás desde o Sul até a área de Itapejara do Oeste.

    Foi mais uma das frustradas operações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas deixou como legado o estudo exploratório da Bacia Sedimentar do Paraná.

    Das cartas ao ramo imobiliário

    Quando veio se fixar em Cascavel, Sebastião Krassuski não imaginava que iria se tornar uma das pessoas mais conhecidas e estimadas da cidade depois de participar em 1949 da fundação do Tuiuti Esporte Clube, do qual foi ecônomo.

    Em sua época, o Tuiuti funcionava como uma espécie de cassino informal. Sendo o jogo legalizado desde 1933 e proibido no governo Dutra em 1946, o clube, fundado em 1949, contava com um salão de jogos de cartas.

    Mesmo atacado pelos religiosos, o carteado funcionava porque as autoridades estavam distantes, em Foz do Iguaçu, e os policiais do distrito de Cascavel fechavam os olhos para o jogo, que não tinha ligações criminais, ficando sob a vigilância do ecônomo e rigorosa obediência às regras do clube.

    Com isso, eram permitidas as rodadas de pife-pafe e pôquer, que movimentavam a sociedade cascavelense. Com a instalação do Município, em 1952, e da Justiça Estadual, em 1954, os jogos de azar no clube não seriam mais aceitos.

    A extinção dos jogos de cartas inviabilizou o trabalho de Krassuski na administração dos jogos de salão no Tuiuti, mas o transformou em corretor de imóveis. O Município tinha muitos lotes para vender e precisava dessa renda para tocar as atividades da Prefeitura.

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  • Militares comandam o Oeste durante a guerra

    Militares comandam o Oeste durante a guerra

    Embora o governo do Paraná estivesse impedido de agir na região de fronteira, uma das razões pelas quais em 1940 a matriz Pinho & Terra criou a Colonizadora Gaúcha, que daria origem a São Miguel do Iguaçu, foi a orientação estadual de aproveitar os recursos florestais da região, antecipando-se aos madeireiros argentinos apanhados roubando madeira pelos militares que chefiavam a Prefeitura de Foz do Iguaçu.

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    Com a Colonizadora Gaúcha, entram para a história do Paraná os ítalo-gaúchos Alfredo Paschoal Ruaro, Luiz Dalcanale, Arlindo Mosé Cavalca e Benvenuto Verona. O desmatamento que eles trarão será considerado patriótico. Até o corte da primeira árvore pela empresa foi festejado como feito histórico.

    Além da atenção especial que a guerra obrigava o Exército a ter no patrulhamento da fronteira, a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado do Paraná, criada em 1924, deixa de ser uma representação estadual: era promovida a Capitania Fluvial dos Portos do Rio Paraná, aos cuidados da Marinha.

     

    A II Guerra continua

    Enquanto o governo brasileiro aprimorava a fiscalização nas fronteiras, Benito Mussolini, em 10 de junho de 1940, declarava guerra à França e Inglaterra.

    Empolgado, no dia seguinte o ditador Getúlio Vargas faz um discurso pró-fascismo, a bordo do encouraçado Minas Gerais. Não ficaria só no discurso: em setembro, a Marinha inglesa aprisiona em Lisboa o navio brasileiro Siqueira Campos, que trazia armas alemãs para o Brasil.

    Se as bases para as informações históricas sobre o Médio-Oeste do Paraná foram as memórias de Sandálio dos Santos (1902–1964) e Alípio de Souza Leal (1889–1974), a base dos cenários regionais dos anos 1940 veio dos prefeitos militares de Foz do Iguaçu e de Oscar Ramos Pereira (1911–1982).

    A importância dos relatos começa já pela biografia de Ramos Pereira, cearense de Fortaleza nascido em 11 de abril de 1911. Primeiro da turma ao se formar no Colégio Militar da cidade natal, era aspirante a oficial da Engenharia, em dezembro de 1932, quando se integrou ao 12º Batalhão Rodoviário do Paraná.

     

    Oscar, um trunfo para Cascavel

    É desde essa época, portanto, que Ramos Pereira passa a anotar observações sobre os trechos de estradas que ajudou a construir.

    Chamado a participar da construção da Escola Militar de Rezende (RJ), atual Academia das Agulhas Negras, depois da obra, em 1940, que Oscar foi lotado na Comissão de Estradas de Rodagem (CER) Paraná-Santa Catarina, encarregada de construir a futura BR-277, oficializada em 1941.

    Nessa tarefa ele conheceu Cascavel, em 1952: vinha substituir o capitão Dalmo Lemos Pragana (1919–2004) na chefia da 5ª Seção da CER-1, setor regional da Engenharia do Exército criado em 1945.

    Logo Oscar se apaixonou pela cidade. Para ele, era como se uma criança estivesse nascendo e precisasse de cuidados para começar a andar. Foi pensando assim que aceitou convite do prefeito José Neves Formighieri para dirigir os serviços topográficos do novo Município.

     

    “Piquiriguaçu”

    É com o apoio dessa história de íntima relação com o interior do Paraná que Oscar Pereira resumiu o que encontrou na região nessa época. Ele no início se alinhava à ótica dos representantes de Vargas no apoio à Marcha para Oeste mas também viu distorções e passou a se alinhar aos paranistas.

    Em depoimento para a memória histórica de Cascavel, Oscar escreveu:

    – Em 1940, como nos anos anteriores, os governos estaduais muito pouco faziam para o desenvolvimento daquela portentosa região mediterrânea, que poder-se-ia chamar, em suave e eufônica toponímia composta, Piquiriguacu, por se situar entre os grandes cursos d’água, o Rio Piquiri e o Rio Iguaçu, com assinalados destaques na História paranaense.

    – Ante essa condição, o governo federal, atendendo à ótica de então, criou o Território Federal do Iguaçu, com área desmembrada dos Estados do Paraná e Santa Catarina, e sediando a capital do Território na cidade de Laranjeiras do Sul, semeando, assim, descontentamento no seio da tradicionalidade paranaense, que nunca aceitou como justo o ato do governo federal, ao estabelecer essa verdadeira capitis diminutio em relação à capacidade realizadora das administrações do Paraná, mas que feria, profundamente, todo um passado de iniciativas desbravadoras dos paranaenses, que, se melhor não puderam realizar na região territorializada, foi porque não se estendiam, nessa região, as programações administrativas governamentais.

    – Bem por isto e acolhendo o desagrado dos paranaenses é que foi incentivado por parlamentares paranaenses postulando no Congresso Nacional a reintegração da área federalizada, finalmente restabelecida em 1946 com a extinção do Território do Iguaçu, que salvo a experiência de mais um grande erro no período ditatorial, nada produziu, senão que acarretou enorme dessoramento de verbas federais, inocuamente dissipadas na pretendida nova unidade territorial.

     

    Os prefeitos militares

    Foz do Iguaçu teve dois prefeitos em 1940. O tenente Abílio Rodrigues e o capitão Miguel Balsi administram então um município correspondente a um oitavo do território paranaense, exercendo cumulativamente as funções de delegados regionais de polícia.

    Eles vigiam tanto a ofensiva dos argentinos no contrabando de madeira quanto a crescente chegada de colonos gaúchos que já somam nessa época ao redor de 15 mil pessoas na região (Jean Roche, A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul).

    Os prefeitos militares de Foz do Iguaçu serem também chefes policiais se explica pelo decreto-lei 2.262, de 3 de junho de 1940. Com ele, o presidente Getúlio Vargas determinava que cidades de interesse estratégico passavam a ser “consideradas guarnições especiais, em virtude de estarem situadas em locais de condições de vida precária”.

    Além de Foz do Iguaçu, figuravam no decreto, dentre outras, as cidades de Cáceres, Porto Velho, Macapá, Rio Branco e Oiapoque.

    A estratégia do governo estadual para intervir na faixa de fronteira se baseou, assim, no incentivo à colonização por empresas imobiliárias e, nas áreas devolutas, como no Sudoeste, a ocupação da terra pela posse.

     

    Bate-cabeça entre Estado e União

    “A partir destes fatos, intensificou-se o fluxo migratório na região com famílias se estabelecendo e, dando início a uma povoação partir de 1940, o governo federal estimulou a política de ocupação de espaços vazios. Desta forma intensificou-se a colonização, com mais levas de gaúchos e catarinenses e paranaenses de outras regiões do Estado” (João Carlos Vicente Ferreira, Municípios Paranaenses, Origens e Significados de seus Nomes).

    Já em 1930 uma vasta porção de terras antes entregue pelo governo brasileiro ao magnata norte-americano Percival Farquhar e sua falida empresa Brazil Railway havia retornado ao domínio do Paraná por um decreto estadual que anulou a concessão.

    Dez anos depois, ignorando a medida paranaense, a União tomou para si as glebas Missões e Chopim a pretexto de se ressarcir de uma dívida da Brazil Railway junto ao Tesouro Nacional.

    A incorporação foi contestada pelo Paraná com o argumento de que a empresa estadunidense não era mais detentora dos títulos de posse havia dez anos. Estará aí uma das principais causas dos conflitos de terras na região.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Prosperidade começa nos anos da guerra

    Prosperidade começa nos anos da guerra

    O rolo compressor federal sobre o Estado do Paraná avançou com os decretos 1.968 e 2.610, de 1940, que determinavam a realização de levantamentos topográficos na região Oeste do Paraná. Eram sinais claros de que os estudos para criar um território federal, apartado do Paraná, não se limitavam a rumores.

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    As ardilosas tentativas do Estado de agir na região ficavam ainda mais limitadas. Na habitual estratégia autoritária de jogar a culpa em terceiros, os adeptos do controle federal completo no Oeste acusavam o Estado do Paraná de omissão e se apresentavam como criadores da ação positiva que iria desenvolver a região: a Marcha para Oeste, requentando a secular ação dos bandeirantes.

    As turmas de pesquisa que saíram a campo investigaram quantas propriedades particulares havia na faixa de fronteira e constataram aproximadamente 3.600 famílias no trecho pesquisado.

    Só um terço da área, porém, havia sido objeto de titulação oficial, reforçando a proposta de criar um território federal redentor.

     

    A origem dos conflitos

    O preparo das condições objetivas para a formação do novo território federal prosseguiu com as medidas de reincorporação ao patrimônio da União de todas as terras pertencentes à Companhia Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande e os bens e direitos da Brazil Raillway Company existentes no território nacional, entre março e julho de 1940.

    Com os decretos-leis 2.073 e 2.436, de 8 de março e 22 de julho de 1940, respectivamente, começava uma longa disputa pelo domínio das terras entre o Estado do Paraná, União e a Braviaco, empresa que herdou o patrimônio da antiga empresa do magnata estadunidense Percival Farquhar.

    Essa disputa está na base dos sangrentos conflitos pela posse da terra na conflagrada região do Rio Piquiri, como também no Sudoeste do Estado.

     Mas na época ninguém anteviu essa possibilidade. Os estudos feitos, que levaram aos atos federais de março de 1940, projetavam a rápida liberação de terras para os colonos sulistas, já acossados pelo crescente parcelamento das colônias entre seus filhos – a minifundiarização –, em tempos nos quais o capital humano era uma numerosa prole.

    Governada por oficiais do Exército, a Prefeitura de Foz do Iguaçu, por sua vez, testemunhava uma espécie de retorno à antiga Colônia Militar, extinta em 1912.

    Nessa virada da década, com a II Guerra Mundial em curso, o prefeito é o capitão Melquíades* do Valle (1898–1974), que concentrava os poderes de prefeito, chefe militar e de polícia.

    *Seu nome era “Melchiades”, mas a grafia que passou à história foi “Melquíades”.

     

    O Correio fez a diferença

    Como policial e militar, Valle vigiava a fronteira e reportava sinais de agitação armada principalmente na Argentina. Como prefeito, atendia a um oitavo do território paranaense.

    Foi ele quem atendeu a um pedido do líder cascavelense, Jeca Silvério, determinando a abertura de uma agência telegráfica de primeira classe no distrito situado no extremo-Leste do Município de Foz do Iguaçu.

    Cascavel, com essa agência, ganhou em definitivo uma de suas famílias mais importantes, que seria decisiva para a criação do Município: Pompeu Reis.

    Desde a morte do agente dos Correios, Bento dos Santos Barreto, em 1938, Horácio Ribeiro dos Reis (1912–1987), então residente em Catanduvas, passou a atender também ao serviço postal no distrito de Cascavel.

    Nascido em Guarapuava, em 3 de maio de 1912, Reis estudou Comércio e Contabilidade na cidade natal e em 1929 ingressou nos serviços do Correio, atendendo ao trecho entre Catanduvas e Porto Mendes.

    Em 1938, com a morte de Bento Barreto, Reis foi designado para o posto, acumulado com suas funções até a nomeação do novo agente, Paulo Maceno, designado para a agência de primeira classe a ser instalada em Cascavel.

     

    Com eles, Cascavel começa a crescer

    Foi ao substituir os serviços de Bento Barreto que Horácio Reis estreitou seus laços com o povoado de Cascavel. Casado com Alvina Pompeu, filha de Manoel Ludgero Pompeu, patriarca de uma das famílias mais importantes da região, Reis antes de vir morar em Cascavel já possuía atividades comerciais nesse local em sociedade com Aníbal Lopes da Silva.

    Ao trazer a família que ainda vivia em Catanduvas (a esposa Alvina [2013– 2008], o filho Aírton, as filhas Anadir, Avanir, Agripina e Áurea), Reis teceu em Cascavel com as famílias do sogro Manoel Ludgero e de Aníbal Lopes uma rede familiar que representava o dinamismo da cidade que começava a prosperar.  

    De importante presença em Catanduvas, a família de Theodorico Rodrigues da Cunha também se integrava à mesma rede familiar de Reis. Idalina (Dinoca), esposa de Ludgero Pompeu, era da família Rodrigues da Cunha.

    Uma história significativa daqueles anos 1940 foi o episódio em que um criador de porcos, não acreditando que Cascavel teria futuro, deixou de ser o dono de duas quadras centrais de Cascavel – uma das quais a do Banco Itaú da Praça Wilson Joffre.

     

    Suinocultor fez aposta errada

    Enquanto Horácio Reis se destacava no esporte e na política, a esposa Alvina Pompeu revelava tino comercial. Com a responsabilidade de alimentar uma família numerosa e hóspedes que se abrigavam junto ao armazém da família, ela se interessou por uma vara de porcos tocada por um vendedor que sempre passava pela vila: Osório Magalhães, que morava em Catanduvas.

    Alvina pretendia segurar o criador em Cascavel para garantir aos cascavelenses o fornecimento imediato da criação. Por isso propôs a Magalhães um negócio excepcional: a família Pompeu Reis ficaria com a criação toda e o criador teria facilitada a aquisição de duas quadras centrais em Cascavel, entre as ruas São Paulo e Rio Grande do Sul, próximas à futura Praça Wilson Joffre.

    Magalhães, filho de um funcionário dos Correios que fazia a limpeza das linhas telegráficas, não acreditava que Cascavel fosse crescer:

    – Ela disse: “Compre ali que você não se arrepende”. Eu disse: “Mas o quê eu quero com esse taquaral? Eu morava em Catanduvas e lá era uma cidade. Aqui não havia nada (Prisma Cascavel, 29 de julho de 1994).

    Recusando o negócio sugerido por Alvina, Osório seguiu em frente rumo ao Rio Paraná, em busca de negócio melhor, mas logo depois uma peste se abateu sobre a criação.

    Na volta, Magalhães lamentou não ter vendido os porcos em Cascavel e no futuro lamentaria muito mais: os lotes que desprezou passaram a valer uma fortuna. Mas aprendeu a lição e depois veio para Cascavel como Alvina lhe havia aconselhado.

     

    Cascavel, cidade hospitaleira

    Alvina Pompeu contou que sempre costumava hospedar amigos na casa comercial do marido Horácio, mas a circulação pela vila aumentou tanto nos anos 1940 que ela precisava colocar colchões até por cima dos balcões.

    Foi quando a família decidiu investir na construção de um hotel, que viria a ter 62 leitos − o Hotel Pompeu Reis, onde em 1949 foi criado o Tuiuti Esporte Clube, por membros das famílias Reis, Pompeu, Galafassi, agregados e militares da Aeronáutica.

    Sob a liderança de Reis, essas famílias formaram o núcleo do esforço pela criação do Município de Cascavel, que aconteceria uma década depois.

    Enquanto Cascavel desafiava prognósticos negativos no tenso primeiro ano da II Guerra Mundial, a força militar de Foz do Iguaçu tinha ordens para redobrar a atenção sobre o movimento na fronteira. Temia-se alguma ação de tropas inimigas provenientes da Argentina.

    Os governos dos dois países se mantinham neutros no conflito, mas as atentas autoridades descobriram que de fato havia argentinos armados invadindo o território brasileiro. Não para ocupar, mas para roubar madeira.

     

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  • A luta de um ucraniano atormentado por guerras

    A luta de um ucraniano atormentado por guerras

    O empenho, a dedicação e também o sofrimento dos pioneiros ucranianos entre os anos 1930 e 1940 para formar a grande Cascavel pode ser representados pela história do imigrante Alexandre Kachuba.

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    Ele até 1940 labutava no transporte com carroça. Em suas idas e vindas, foi abordado por uma viúva cujo marido acabara de ser assassinado em um dos trágicos episódios que tinham por pano de fundo a ausência da Justiça e a luta incessante pela posse das melhores terras.

    Sem mais condições de permanecer na atividade, a viúva deu permissão a Kachuba para tocar a lavoura de café da família na região de Nova Aurora, interior do então Distrito de Cascavel, no setor Leste do Município de Foz do Iguaçu.

    Aquela pareceu ao imigrante ucraniano uma oportunidade de ouro, pois quem lidava com café enriquecia rapidamente. A dificuldade estava no início da produção. Depois, deslanchava e era só contar os lucros, ano após ano.

    Para chegar a essa altura, já com 26 anos, Alexandre e a família haviam sofrido situações de horror e tristeza.

    Nascido em Kiev, a capital da Ucrânia, em 14 de dezembro de 1914, Alexandre estava com 11 anos em 1925, quando junto com quatro irmãos embarcou com os pais, Horácio e Maria Kachuba, para uma viagem cheia de confiança ao Brasil.

    A I Guerra Mundial deixara um passivo de desolação na Ucrânia. Stálin havia assumido o poder na então União Soviética e o futuro da Ucrânia parecia incerto para os camponeses.

    Embarcando no navio perfeito

    Ao decidir tentar vida nova na América, a família Kachuba começou tendo sorte: o navio em que embarcaram era seguro, confortável e bem provido de alimentos. Havia até assistência médica para que a viagem, com duração de um mês e meio, transcorresse livre de problemas.

    Tudo corria bem até que uma tempestade incomum sobreveio e o capitão do grande navio deu uma ordem desesperada às mais de mil pessoas embarcadas: o naufrágio era iminente e todos deviam se munir de salva-vidas.

    Mas o navio resistiu. Alexandre e família chegaram inteiros ao Rio de Janeiro, mas logo no desembarque o menino sofreu um acidente, que foi só o início de uma chegada cheia de contratempos.

    Houve muita confusão para separar os pertencentes de mil pessoas e a família Kachuba perdeu tudo que havia trazido, ficando todos os sete só com a roupa do corpo, com a qual embarcaram no avião que os levou ao destino previsto: a Colônia Moema, em Mafra.

    Rumo a Centralito

    Já homem feito, a convite do também imigrante Miguel Pali, Alexandre se transferiu para Centralito, onde se dividia entre atividades coloniais e o trabalho com toras de madeira na Serraria São Domingos, da família Lupion, na Cruz Grande.

    Ganhava pouco na serraria e decidiu usar a carroça, preciosa conquista de seu trabalho, para levar os produtos coloniais ao já na época centro habitado de maior trânsito: Cascavel.

    Ter uma carroça era como possuir um carro de luxo. Enchê-la de produtos coloniais e sair atrás de clientes em Cascavel passou a ser o projeto de vida de Alexandre.

    Mas só achou um enorme samambaial em meio ao qual se espalhavam algumas poucas casinhas. Não encontrou uma só pessoa que quisesse comprar seus produtos, para os quais esperava encontrar ávidos compradores: um saco de batatas e outro de feijão.

    Seu lucro foi conhecer pessoas, que em Cascavel eram prestativas e solidárias. Assim, logo conseguiu fornecer gêneros alimentícios para a Comercial Oeste (Copal) e para a família Bartnik, que abriu um pequeno armazém.

    O que não conseguia vender, trocava por outros alimentos. A partir daí o imigrante se tornava um cascavelense. Alexandre se casou com Ana, filha de Estefano e Rosa Kitto, matrimônio do qual resultaria uma prole de 14 filhos.

    A grande oportunidade seria aquele cafezal compartilhado com a viúva da futura Nova Aurora, no qual trabalhou durante seis anos até acontecer a grande decepção de sua vida: 2,5 mil pés de café torrados pela geada.

    A esposa descartou o alambique

    Era ainda o tempo da guerra na Europa e o café assumia o topo das maiores esperanças dos colonos do interior. Mais que uma aposta, era já uma realidade de riqueza para muitos imigrantes que chegavam ao Paraná e seus filhos.

    Com o fracasso no cafezal, Alexandre tentou mudar de ramo, plantando cana para abastecer a produção de um alambique, mas a esposa Ana não suportava o calor e os mosquitos.

    A solução foi levar o que pôde na carroça e retornar a Centralito. Como a dona da fazenda não estava cumprindo sua parte no contrato, alguém disse a Kachuba que ele também não precisava cumprir a sua. Repartiu a criação “às meias” com a viúva e levou sua parte para Centralito.

    As terras do Oeste eram vendidas pelas colonizadoras a partir do conceito de que a terra roxa, predominante na região, era altamente propícia ao café. De fato, é, mas na época não havia a pesquisa, a extensão rural, o monitoramento climático nem histórico das culturas.

    Como o café rendia bem na terra excelente, era uma loteria: se a geada não viesse, a família poderia progredir. Se viesse, começaria tudo outra vez.

    Geadas aqui, Hitler na Europa

    Na região de Cascavel, foram décadas de tentativas com o café até a geada vencer e a soja se impor, mas no Norte do Paraná a cafeicultura deslanchou.

    “Com a ocupação do Norte do Estado e o estímulo ligado às atividades de beneficiamento do café, o Paraná apresentou, entre 1930 e 1949, um espetacular crescimento de 10% ao ano, superior ao de São Paulo e ao do Brasil” (Demian Castro, Mudança, permanência e crise no setor público paranaense: um balanço da trajetória estadual na segunda metade do século XX).

    Isso acontece no Paraná ao mesmo tempo em que, na Europa, Hitler ordena em abril de 1940 a criação do campo de concentração de Auschwitz, onde mais de três milhões de vidas serão ceifadas, dentre as quais um milhão de judeus.

    Ocorre ampla migração motivada pela guerra e o Paraná é um importante foco de atração para os expatriados.

    As pequenas e médias propriedades de menos de 100 hectares já constituem 84% do total das explorações agrícolas do Paraná como resultado do sistema de venda de lotes a colonos atraídos pelas colonizadoras e distribuição de terras a sertanejos e imigrantes pobres.

    A ameaça de mais perdas

    O Censo Demográfico de 1940 registra o Paraná com 1.236.276 habitantes. Em todo o Oeste, havia uma irrisória população de apenas 7.645 habitantes, equivalente um bairro de Ponta Grossa, então com 38.417 moradores.

    Cascavel tinha 404 habitantes, 80% desta população residente na zona rural. O panorama desse interior ainda despovoado também começaria a mudar no curso da guerra e imediatamente após a vitória aliada.

    “A partir de 1940, a população aumenta de forma muito rápida, atraída pelo ouro verde, o café. Os baixos preços das terras praticados no Paraná, comparados aos de São Paulo, assim como a alta das cotações do café sobre o mercado internacional contribuem para este movimento” (Tânia Navarro Swain, Fronteiras do Paraná: da colonização à migração).

    Em meio às dificuldades no comércio externo causadas pela guerra, o Paraná vê crescer a ameaça de perder mais territórios sem poder reagir, porque a ditadura não permitia contestações.

    Nem bem estavam cicatrizadas as feridas da perda do Sudoeste para Santa Catarina e já os decretos 1.968 e 2.610, de 1940, determinavam a realização de levantamentos topográficos na região Oeste do Paraná, sinalizando claramente para a breve criação de um território federal.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Governo estimulava colonos a ocupar terras

    Governo estimulava colonos a ocupar terras

    De mãos atadas pela ditadura do Estado Novo em suas iniciativas no Oeste, o foco do governo paranaense estava na Estrada do Cerne, iniciada em 1935 e concluída em 1940, que chegava como ligação vital ao desenvolvimento integrado do Estado.

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    Seus 700 quilômetros ligavam Curitiba ao Porto Alvorada, com bifurcação para Londrina e Jacarezinho. Sem apoio do governo federal, o Estado a construiu com seus próprios recursos.

    Ao final da obra, o interventor Manuel Ribas enviou carta um pouco provocativa ao ditador Vargas comunicando que havia construído “a maior rodovia de todos os tempos”.

    Embora já inaugurada em 1939 no Norte, Ribas repetiu a inauguração em Curitiba, em 13 de setembro de 1940. Esse período coincide com a louvação festiva dos feitos dos governantes, de acordo com o culto à personalidade vigente no plano mundial: Stalin (Rússia), Hitler (Alemanha), Franco (Espanha), Mussolini (Itália) e Mao (China).

    Ribas, personalidade forte

    No Brasil, o “mito” era Getúlio Vargas. No Paraná, Manuel Ribas. Por isso mesmo a segunda inauguração da Rodovia do Cerne foi acompanhada de viagens festivas ao longo de todo o percurso.

    A cada parada, comícios, discursos e filmagens – o cinema começou no Norte paranaense por obra do misto de cineasta e corretor de imóveis Hikoma Udihara (1882–1972).

    Ribas causava incômodos entre os seguidores fascistas de Vargas porque mesmo após a criação do Estado Novo, em 1937, que assumiu as feições de uma ditadura de extrema-direita, o interventor do Paraná mantinha um discurso relativo à questão agrária que muitos consideravam “comunista”.

    Ele justificava a distribuição de terras aos sertanejos e imigrantes pobres como forma de impedir uma insurreição no campo. Argumentava que o Paraná sofria com a sanha de “senhores feudais”, que ele se dispunha a “acabar”.

    A dupla tática do Paraná

    A queda de braço de Ribas com os grandes latifundiários ficou empatada no Oeste, já que o governo estadual havia traçado um projeto de colonização para as terras das antigas concessões outorgadas no período imperial, mas o bloqueio federal na faixa de fronteira embaraçava o andamento das ações nessa área.

    Para contornar a proibição, o Estado tomou a iniciativa de estimular posseiros a ocupar lotes na faixa de fronteira, onde o Estado não podia agir por imposição do comando ditatorial, encastelado no Rio de Janeiro, mas contava com as pressões dos colonos em busca de infraestrutura de transportes.

    Sabendo das festividades em torno da Rodovia do Cerne, os colonos que chegavam ao Oeste sonhavam em festejar a rodovia que os levaria a unir Paranaguá a Foz do Iguaçu no mesmo caminho, sem as centenas de trechos desconexos nos quais os pioneiros transitavam com muitas dificuldades.

    O plano de Ribas se completava com o estímulo à formação e atração de empresas colonizadoras. As empresas paulistas faziam a propaganda da terra como propícia à cafeicultura e extração de madeira.

    As gaúchas destacavam, além da fertilidade, a amplitude dos lotes, muito atrativa quando comparada com a diminuta extensão das terras retalhadas por heranças de sucessivas gerações.

    Cartórios e jagunços

    A valorização dos imóveis por prometidas e esperadas ferrovias e rodovias desencadeou uma intensa febre de interesses e ambições.

    Bons lotes ocupados por posseiros são cobiçados por empresas colonizadoras que alargam seus territórios cartorialmente ou pela mão armada de seus funcionários – os jagunços.

    Para impor disciplina a essa tendência, o plano de colonização das terras devolutas (ou seja, readquiridas por devolução) determina a fundação, na margem esquerda do Rio Piquiri, das colônias Piquiri, Cantu, Goio-Bang e Goio-Erê. À margem direita do Ivaí, as colônias Manoel Ribas, Muquilão e Mourão.

    “Seguiu (o governo) planos de colonização, demarcando os lotes rurais e prevendo áreas para a instalação de núcleos urbanos. Os lotes agrícolas, nessas colônias, foram, em geral, de áreas superiores àqueles do Norte do Paraná, medindo, em média, mais de 20 alqueires” (Cecília Maria Westphallen, Brasil Pinheiro Machado e Altiva Pillati, Nota prévia ao estudo da ocupação da terra no Paraná moderno).

    Selecionar colonos, a missão

    Em 1939, a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande já havia dado a volta por cima na frustrada revolução de outubro de 1930, obtendo a revalidação da concessão cassada pelo Estado do Paraná.

    A empresa pretendia apenas a posse das terras às margens da estrada de ferro projetada para o Oeste do Paraná, que jamais iria construir.

    Em março de 1940, por conta dessa inoperância, a rede ferroviária e as terras, que haviam sido transferidas à companhia Braviaco, seriam incorporadas ao patrimônio da União.

    É uma grande extensão de terras da melhor qualidade. Prevalece nessa época a tese de que para desenvolver áreas com tão elevada qualidade produtiva era preciso selecionar colonos capacitados, tarefa que só poderia ser cumprida pelas colonizadoras, porque uma ação do Estado nesse sentido determinaria o favorecimento a uns (os “amigos do rei”) em detrimento de outros, fora das influências políticas e famílias palacianas.

    As colonizadoras, por sua vez, tinham a facilidade de selecionar pelo bolso e pela origem: com índios e descendentes de escravos sem fortunas ou heranças que lhes permitissem comprar as melhores terras, as colonizadoras direcionavam a propaganda das melhores para famílias de colonos de origem europeia com algum capital familiar e experiência no trato da terra.

    Guerra traz problemas ao Paraná

    A eclosão da II Guerra Mundial, em 1939, vai favorecer o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. A siderurgia brasileira, com destaque para Volta Redonda, no Rio de Janeiro, era de interesse vital para os EUA.

    No início do conflito, porém, o Paraná não conseguiu nenhum benefício e seu Oeste estava paralisado.

    Ao contrário, apenas contabiliza prejuízos: a indústria estadual, dada a má performance de seu principal produto – a erva-mate – reduziu sua participação na indústria nacional, que chegara ao pico de 3,4% em 1919, para 2,2% em 1939, revelando entre esses anos as taxas de crescimento mais baixas do País (Wilson Cano, Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil, 1930-1995).

    A produção brasileira de algodão incrementou-se num ritmo impressionante entre 1934 e 1939: de 126 mil toneladas passou a mais de 320 mil. A pesada mão dos EUA, no entanto, derrubou os preços ao jogar seus excedentes no mercado mundial. “A preços de dumping e como parte dos programas de ajuda exterior, os excedentes se espalham pelo mundo” (Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina).

    Como o algodão, outros produtos que já começam a ser produzidos no Paraná sofrem o impacto da variação de preços.

    No interior do Paraná, a guerra causa mais temor de um indesejado envolvimento do Brasil no conflito que a expectativa de participar ativamente do esforço de reconstrução das regiões conflagradas.

    A madeira, servindo sobretudo ao mercado interno e com encomendas restritas pelo exterior por embaraços justamente criado pela guerra, aguardava a hora de ser chamada para esse esforço. E o Oeste estava quase intacto, coberto de pinheiros.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • A guerra na Europa e a corrida ao Oeste

    A guerra na Europa e a corrida ao Oeste

    Em março de 1939 a Alemanha invadia Praga, anexava a Boêmia e submetia toda a Tchecoslováquia à sua “proteção”. Em 1˚ de setembro as forças nazistas penetravam nas fronteiras polonesas, obrigando a Inglaterra e a França a declarar guerra ao Eixo em 3 de setembro.

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    Um mês depois, em 1.º de outubro de 1939, um filho de imigrantes da Boêmia chegava à vila de Encruzilhada/Aparecida dos Portos/Cascavel – nome ainda indefinido para a população, que se dividia entre grupos que chamavam o lugar pelos três nomes.

    Para os viajantes, era e Encruzilhada dos Gomes. Para os religiosos, Aparecida dos Portos. Para o patriarca José Silvério de Oliveira, Cascavel. A Prefeitura de Foz do Iguaçu, salomonicamente, anotava: Encruzilhada de Aparecida dos Portos de Cascavel.

    Quem à região chegava com sua carroça, trazendo a família – a esposa Waldemira e três filhos, era o sapateiro Pedro Carlos Neppel. Vinha de Canoinhas e passando por Porto União (SC) soube que poderia ter sucesso no Oeste paranaense, onde havia terras oferecidas até de graça.

    A trajetória de Neppel é emblemática de muitos outros colonos descendentes de imigrantes que chegavam de Santa Catarina.

    Não era uma vinda “espontânea”, como se engana a historiografia romântica, mas fruto da propaganda do Estado e das colonizadoras, que apregoavam o Oeste como a solução para a minifundiarização que emergia da repartição dos lotes pelos vários filhos dos imigrantes.

     

    O sapateiro Neppel

    Nascido em 1906, em São Bento do Sul (SC), Pedro Carlos Neppel era filho dos alemães Pedro e Ana Neppel.

    “Os Neppl são provenientes da Boêmia e estão entre os primeiros imigrantes de São Bento do Sul, ali chegados em 1876, todos descendentes de Georg Neppl, um madeireiro endinheirado que decidiu emigrar ao Brasil” (Fernando Tokarski, historiador catarinense).

    Ao chegar, Neppel recebeu de Jeca Silvério uma casa, pela qual passaria a pagar aluguel prestando serviços como sapateiro.

    Logo a sapataria atraiu as atenções gerais da vila e das colônias próximas e com os resultados de seu negócio, dois anos depois já adquiria terrenos na Rua Osvaldo Cruz – uma pequena chácara –, onde passou a residir.

    Neppel logo se destacou na comunidade e de 1943 a 1947, na vigência do Território Federal do Iguaçu, foi o primeiro Juiz de Paz de Cascavel, nomeado pelo juiz da Comarca de Foz do Iguaçu. Morreu em 1960.

     

    Informação chegava a cavalo

    As informações em 1939 não eram tão imediatas, mas o telégrafo e o rádio faziam as notícias chegar aos lugares servidos de redes e emissoras. As notícias da guerra alcançavam carroças em trânsito rumo ao Oeste pelos cavaleiros que viajavam sem cargas e os ultrapassavam na marcha à fronteira, como os estafetas que a cada quinze dias levavam correspondências aos oestinos.

    Distante da guerra, o Governo do Paraná decidiu centrar esforços na colonização das áreas devolutas que faziam parte das antigas concessões do Império, embora, como se verificaria mais tarde, essas terras na verdade pertencessem ao patrimônio da União, onde esta ação não estava autorizada pela ditadura do Estado Novo.

    O objetivo era colonizar o Oeste, estimulando as atividades das empresas colonizadoras que hoje estão presentes na origem de praticamente a totalidade dos municípios do Oeste e do Norte do Estado.

    Uma descrição da origem das vilas do Oeste em 1939 apontava que Foz do Iguaçu já era uma comunidade quando os militares chegaram, em 1889.

    Os portos estabelecidos no Rio Paraná foram criados na segunda metade do século XIX para as atividades das obrages argentinas.

    Cascavel veio do cruzamento de trilhas tropeiras/ervateiras onde o patriarca José Silvério de Oliveira se estabeleceu em 28 de março de 1930.

    Fora disso, o Oeste era só uma imensa mata na qual a extração de erva-mate e madeira se repartia entre raros empreendimentos autorizados e o contrabando sem controle.

     

    O colono Kalichevski

    Por isso, no final da década de 1930 ainda era uma declaração ousada afirmar nesses tempos mundialmente conflituosos e de grave crise nacional que Cascavel teria um grande futuro.

    Mas foi o que disse o general Emílio Lúcio Esteves ao passar pela Encruzilhada de Cascavel quando se dirigiu em 1939 à Companhia Isolada de Foz do Iguaçu, segundo Alípio de Souza Leal.

    Antes da passagem do general Esteves, em abril de 1939 o colono Casemiro Kalichevski, partindo de Ponta Grossa, também atraído pela propaganda do Oeste, vinha com a família conduzindo uma carroça puxada por três cavalos (Jornal Gazeta do Iguaçu, junho de 1993).

    Ao chegar, disseram-lhe que o lugar se chamava Encruzilhada e muitos só passavam por ali e seguiam até o Rio Paraná, mas quem tivesse alguma habilidade especial que interessasse ao patriarca do local, Jeca Silvério, ganhava até casa para morar e terras para cultivar.

    Kalichevski não ficou porque seus pais, já desde 1937, estavam estabelecidos nos arredores da atual Santa Terezinha de Itaipu, para onde Casemiro foi levar a mudança da família em 1939.

    Sua família descobriu que havia terras de graça, mas as melhores, às margens das trilhas mais batidas, eram controladas por particulares e burocratas do Estado, que financiavam a compra.

    Saindo de Cascavel, Kalichevski demorou um mês para chegar ao destino, porque a Picada do Benjamim, entre Céu Azul e Matelândia, parecia impossível para a passagem de uma carroça carregada.

    “Por meados de 1939 quase ficamos isolados de Foz do Iguaçu em virtude da obstrução completa da Picada Benjamin. Ainda sob a orientação de Nhô Jeca e com a colaboração da municipalidade de Foz do Iguaçu mediante a aplicação de parcos recursos que aqui já arrecadávamos pôde ser restabelecido o trânsito” (Sandálio dos Santos, Memórias).

     

    Jogo liberado

    Na época, o prefeito de Foz do Iguaçu era o capitão Melquíades do Valle, que contou com a boa vontade do interventor Manuel Ribas para construir o Palácio das Cataratas, sede da Prefeitura, e usou bem uma vaquinha dos cascavelenses feita para consertar a Picada do Benjamin.

    Em troca, o capitão do Valle, que também fazia as vezes de delegado de polícia e tinha a responsabilidade de atender a um oitavo do território paranaense, determinou a abertura de uma agência telegráfica de primeira classe no distrito de Cascavel, no extremo-Leste do Município.

    O fim de década parecia trazer novos tempos, até porque a guerra que começava a infelicitar o mundo afetava positivamente os assuntos dos oestinos: a reconstrução requeria muita madeira. E a madeira barata estava no sertão do Brasil.

    Quando a empresa de aviação Pan Air ousou criar uma linha aérea que partiria de São Paulo rumo a Assunção, com pousos em Curitiba e Foz do Iguaçu, o Oeste finalmente se sentia como parte do Brasil. Até a revolução de 1930 era conhecida pelos viajantes como “terra dos paraguaios”.

    A linha da Pan Air serviu para apressar a construção do Hotel Cassino Iguassu, em obras que se arrastavam desde 1937. Era uma aposta firme no movimento aéreo conquistado, pela maior divulgação das atrações turísticas da região e pelo fator central que motivou o nome do hotel: a liberação das casas de jogo pelo presidente Getúlio Vargas.

    Iniciativa do governo do Paraná para estimular o turismo, o Hotel Cassino tinha água quente, água encanada, quarto com banheiro e até um minizoológico.

    Cascavel ainda era só um ponto de passagem nesse primeiro ano da II Guerra. Já tinha polícia, oferecia terras sem custos para quem viesse morar no local e era um “Patrimônio Municipal” apoiado pela Prefeitura de Foz do Iguaçu, mas não passava de um povoado com alguns poucos serviços a oferecer.

    Havia, entretanto, uma novidade: o contador Sandálio dos Santos chamou para si a tarefa de dar excelência à Casa Escolar, que ele também transformou em consultório médico e embrião de biblioteca.

    Lá ele atendia alunos e seus familiares consultando uma coleção de livros na qual se destacava O Conselheiro Médico do Lar, de Humberto O. Swartout, que o médico improvisado qualificava de “excelente”.

    Talvez seja exagero, mas é possível datar daí o primeiro passo do futuro polo médico de Cascavel.

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    (foto)

    Hotel Cassino Iguassu, o templo do jogo no Oeste paranaense. Nos destaques, o capitão Melquíades do Valle e o livro de medicina que tratava os cascavelenses

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Soldados prontos para repelir invasão platina

    Soldados prontos para repelir invasão platina

    Registra-se em 1938 uma grande expansão da indústria madeireira no Paraná. Prosperam cerca de 500 serrarias instaladas em todo o Estado e quase uma centena de fábricas de beneficiamento.

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    Em julho de 1938 termina a Guerra do Chaco, entre Paraguai e Bolívia, onde não se achou o petróleo esperado pelo apetite dos grandes interesses estrangeiros.

    Mas em 22 de janeiro de 1939 jorra petróleo pela primeira vez no Brasil, no poço de Lobato (BA), e as atenções agora vão se concentrar no Brasil.

    Tais interesses não precisarão de mais essa guerra, até porque outra já existia e era mundial. Importava-lhes era domar a ditadura nacionalista brasileira e dominar o País, como sempre havia sido desde o Brasil Colônia.

    É um período de organização das bases econômicas do País que, para o bem ou para o mal, será favorecido pela progressão e continuidade do conflito internacional. Para o mal, o mundo em ruínas. Para o bem, o reinício da democracia. 

    A profecia do general Esteves

    Um dos heróis da Guerra do Chaco, o marechal José Félix Estigarribia (1888–1940), assumiu a presidência do Paraguai em agosto de 1939 e sugeriu entendimentos entre seu governo e o brasileiro, com mediação dos EUA, para que seu país pudesse ter uma saída marítima para o Atlântico.

    Ele se torna o pai do atual corredor de exportações via BR-277 ao manifestar seu “deseo vehemente de encontrar salida a la costa atlântica, afim de que el país cuente com dos avenidas para sus contactos e sus comunicaciones com el mundo” (Oscar Ramos Pereira, Rodovias Paranaenses Construídas Pelo Exército). 

    O general Emílio Lúcio Esteves havia tentado, sem sucesso, impedir que a coluna revolucionária gaúcha comandada por Luiz Carlos Prestes chegasse ao Paraná, em 1925.

    Grande conhecedor do território, ele viaja em 1939 rumo à Companhia Isolada de Foz do Iguaçu quando, ao passar pela Encruzilhada dos Gomes/Aparecida dos Portos/Cascavel, avalia que esse então remoto povoado localizado no entroncamento de trilhas ervateiras formado no final do século XIX será no futuro um grande centro regional (Alípio de Souza Leal, Rudimentos Históricos).

    O Oeste e a II Guerra

    Com a II Guerra Mundial já em seus primeiros movimentos, às 4h da madrugada de 4 de outubro de 1939, quarta-feira, a guarnição militar de Foz do Iguaçu recebe ordens do Rio de Janeiro para ficar em estado de alerta.

    Os soldados sofrem um dia inteiro de tensão, imaginando que as ordens se referiam a uma possível movimentação de tropas argentinas pretendendo invadir o Brasil, mas logo saberão que se trata de uma guerra ainda circunscrita à Europa.

    De resto, a função da Companhia do Exército em Foz do Iguaçu era justamente ficar de sobreaviso em relação a qualquer agitação militar ou civil eventualmente identificada na região da tríplice fronteira.

    A II Guerra Mundial, desde o princípio, voltou a influenciar negativamente o processo de colonização na faixa de fronteira do Oeste paranaense, mas o governo do Estado prosseguia em seu plano de oferecer facilidades e estimular as companhias colonizadoras a levar adiante projetos de ocupação, povoamento e exploração econômica do interior.

     Terra: de graça para ocupar, cara para comprar

    Mesmo sendo interventor com a chancela do ditador Vargas, Manuel Ribas tinha uma oposição poderosa. Não entre os pobres sertanejos, que se sentiam à vontade para ocupar áreas inexploradas de centenários latifúndios, mas entre os novos coronéis da terra, vindos de São Paulo e da Inglaterra.

    Quando Ribas determinou ao capitão Telmo Ribeiro a abertura de uma estrada ligando a Fazenda Velha Brasileira, atual Paranavaí, ao restante do Paraná, o dirigente da Companhia de Terras Norte do Paraná, o inglês Arthur Huge Miller Thomas, que colonizava as regiões de Maringá e Londrina, sentiu-se ameaçado e tentou interferir.

    A iniciativa do governo em abrir uma nova via que daria à Velha Brasileira acesso a outras cidades do Paraná visava diminuir a influência paulista, pois até então a única estrada que chegava até a colônia começava em Presidente Prudente, no Oeste Paulista. Porém, quando soube da ordem de Manuel Ribas, o colonizador inglês Arthur Thomas viajou para Curitiba para tentar convencer o interventor a mudar de ideia” (David Arioch).

    Jagunços: até Telêmaco Borba foi um

    O empresário inglês argumentou que a Fazenda Brasileira prejudicaria seus negócios, já que havia feito elevados investimentos em infraestrutura na região do Norte Novo. A empresa britânica vendia lotes a preços altos para maximizar seus lucros.

    Thomas não se conformava com a ampliação de uma estrada até Paranavaí, onde o governo do Estado vendia terras a preços baixos ou simplesmente os entregava aos necessitados.

    O capitão Telmo Ribeiro, por sua vez, é emblemático de um tipo de pioneiro rude, que fez história como desbravador e foi acusado de arbitrariedades, como também o misto de agente policial e jagunço Marins Belo em Cascavel e o célebre Telêmaco Borba, acusado de assassinatos com motivações políticas. 

    Em março de 1939 as tropas nazistas invadem Praga, anexam a Boêmia e submetem toda a Tchecoslováquia à sua “proteção”.

    Em 1˚ de setembro, quando as forças nazistas penetram nas fronteiras polonesas, o ditador Vargas é instado a definir a posição do Brasil frente a essas continuadas agressões.

    No dia seguinte, porém, Vargas declara que o Brasil ficará neutro. A 3 de setembro, Inglaterra e França rumam em sentido oposto: declaram guerra à Alemanha.

     Sertanejos satisfeitos, ingleses descontentes

    Muitos estrangeiros foragidos das perseguições da II Guerra começam a chegar ao Paraná e tomam conhecimento das terras de graça para colonos pobres com vontade de trabalhar.

    Para os ingleses de Mr. Thomas, essa generosidade com os sertanejos paranaenses e pobres imigrantes ameaçava o desenvolvimento do Norte Pioneiro e parte do Norte Novo. Ou seja, atrapalhava seus negócios com a terra.

    Arthur Miller Thomas e a Companhia Norte do Paraná só vendiam terras a quem pagasse em dinheiro, mas o governo facilitava qualquer espécie de transação. Os ingleses temiam um êxodo de colonos atraídos para as terras devolutas do Centro-Oeste.

    Como a abertura de rodovias andava mais rápido que a implantação da via férrea, as novas estradas facilitariam a exploração das terras devolutas, oferecidas aos despossuídos pelo governo de Manuel Ribas.

    Thomas não conseguiu dobrar o teimoso Ribas. Em tempos de nacionalismo, as pressões de estrangeiros não eram bem-vindas. Ao contrário, o governo proibiu a comercialização de terras para estrangeiros na região da fronteira alegando motivos de segurança nacional, “sendo, em consequência, nacionalizadas várias companhias” (Cecília Westphalen). 

    O capitão Ribeiro continuou avançando em suas empreitadas de construção de estradas e ainda em 1939 o interventor Manuel Ribas inaugurava a Estrada do Cerne, que orgulhosamente apresentava como “a maior rodovia de todos os tempos”.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Ditadura não gostava do nome “Cascavel”

    Ditadura não gostava do nome “Cascavel”

    A extensão da faixa de fronteira para 150 quilômetros foi um grande golpe dado no Paraná pelo governo ditatorial de Getúlio Vargas.

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    “Até 1937, quando instalou-se como ditador no chamado Estado Novo, Getúlio contemporizou com as elites políticas paranaenses. Receava magoá-las, precisava ainda de seu apoio. Naquele ano, todavia, viu-se suficientemente forte para fazer inserir o artigo 165 na Constituição Federal, o qual criava uma faixa de fronteira de 150 quilômetros de largura” (José Augusto Colodel, Cinco Séculos de História).

    A “faixa de fronteira” será imposta como um território federal dentro do Estado. O governo paranaense não pode mais planejar, agir ou promover investimentos ali sem autorização do Governo Federal.

    Se já havia a sempre repetida alegação de que o governo do Paraná “esqueceu” o interior, o que já não era verdade pelo menos desde 1905*, o Paraná não teve como levar adiante seus projetos de colonização induzida porque foi impedido de administrar a fronteira.

    Na capital federal, o Rio de Janeiro, já era tramado o próximo passo do projeto de tirar do Paraná a faixa de fronteira, não apenas limitando a jurisdição estadual mas confiscando parte de sua área.

    *Ano da expedição do engenheiro Arthur Martins Franco à fronteira, para medir as obrages

    Soldado brasileiro, filhos paraguaios

    Em missão no Oeste paranaense, o tenente-coronel José de Lima Figueiredo reforçou a tese de que o Paraná abandonou a região: “Escolhemos parar na obraje* Sete de Setembro, do senhor Eugênio Caferata, argentino. O senhor Caferata trabalha com 120 homens, sendo 82 paraguaios e 38 argentinos. O único brasileiro existente neste recanto do nosso Brasil é um soldado de polícia ali destacado, que, aliás, é casado com uma paraguaia e seus filhos falam… o guarani”.

    Contemplando o projeto de ocupação da faixa de fronteira, o Plano Rodoviário do Departamento Nacional de Estradas e Rodagem vem a calhar para a expectativa dos colonos de que os caminhos com maior trânsito de carroça e caminhões serão melhorados.

    Elaborado em 1937, o plano conduz à criação do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem no ano seguinte e ao Programa Rodoviário Marcha para o Oeste em 1941. Na fronteira, uma conquista concreta é a inauguração da linha internacional Rio de Janeiro-Assunção-Buenos Aires, pela Pan American Airways, com voos semanais a Foz do Iguaçu.

    Fora da faixa de fronteira, a linha férrea alcança Apucarana em 1937, já se aproximando do centro do Paraná, em mais uma etapa de estruturação da economia regional.

    Nessa época, o café ainda ocupa o segundo lugar no volume transportado pelos trilhos, perdendo para o milho. Em menos de uma década, porém, vai assumir a primeira posição. De resto, as exportações no Brasil estão em declínio, mas as do Paraná aumentam.

    *Obraje: grafia espanhola

    Catanduvas, uma tentativa

    Nesse período politicamente conturbado também no Paraná, em clima de confronto entre fascistas e antifascistas, o governo do Paraná procura levar a administração para além dos limites da faixa de fronteira, em cuja área está proibido de interferir.

    Em 31 de março de 1938, o decreto-lei estadual 6.667 cria o distrito de Rocinha (atualmente sede municipal de Catanduvas), pertencente a Guarapuava. Com isso, o governo do Estado ousa estimular projetos de colonização nas regiões Oeste e Sudoeste, mesmo com o risco de “invadir” a faixa de fronteira, mas recebe uma ducha de água fria:

    “É pensamento de S. Exa., o presidente da República, criar em breve, em regiões fronteiriças alguns territórios federais, entre os quais figurará o Território Federal do Iguaçu. Daí não ser conveniente, fazerem-se desde já, até mesmo a brasileiros, qualquer alienação de concessão de terras nessa região. Cada Território Federal, será governado por um oficial do exército ou da marinha, que terá atribuição para regular a utilização das terras devolutas e promover o povoamento e localização de colonos, de modo a atender aos interesses nacionais” (Relatório do Departamento de Terras e Colonização de 1938, apresentado por Antônio Baptista Ribas).

    Hitler afia as garras

    Em tempos de ditadura, enfim, predomina o supremo “pensamento” do Führer: em março de 1938, Hitler anexa a Áustria ao território da Alemanha. É o chamado Anschluss (anexação).

    Em todo o mundo há reações negativas à expansão do domínio nazista. Os alemães que aderem ao nazismo e o propagam no Brasil, com a conivência do governo fascista, são francamente hostilizados pelo povo. A embaixada alemã até se queixa das “perseguições” que os nazistas sofrem no Brasil.

    Há muita insatisfação no País com a ditadura. Os integralistas, que antes favoreceram a implantação do regime, já se mostram descontentes com a falta de poder aos seus líderes. Assim, rompem com o governo e armam uma operação militar com o propósito de invadir a residência oficial, capturar o ditador Vargas e tomar o Poder.

    Galinhas-verdes atacam

    O ataque é desfechado na madrugada do dia 11 de maio de 1938, num grande fiasco, selando o fracasso definitivo dos integralistas, popularmente conhecidos como “galinhas-verdes”.

    Com Hitler mais poderoso na Europa e Vargas mais poderoso no Brasil, o Paraná, impedido de atuar na faixa de fronteira, concentra esforços na estrutura do desenvolvimento da região Norte do Estado.

    O primeiro trem chega a Arapongas e, nos limites da faixa de fronteira, Rocinha recebe em 20 de outubro de 1938 o nome de Catanduvas.

    O decreto-lei estadual 7.573 também cria o distrito administrativo de Cascavel, pertencente ao Município de Foz do Iguaçu. É até onde o Estado tem permissão para alcançar. A população chama o lugar de Encruzilhada e Aparecida dos Portos, mas o Estado descarta esses “batismos” populares.

    Por sua vez, a ditadura não aprecia o nome Cascavel, que logo será mudado para Guairacá e só vai se consagrar definitivamente em 1951, com a criação do Município.

    Esqueceram as margens do Paraná

    Em outubro de 1938, o engenheiro carioca Theophilo de Andrade percorre a fronteira Brasil-Paraguai, margeando o Rio Paraná. Missão: fazer um estudo para a implantação de um ramal ferroviário cruzando o Paraná rumo ao pantanal mato-grossense.

    Ele pretendia a integração do Oeste brasileiro pelos trilhos, “e averiguar a viabilidade de uso do rio Paraná, acima e abaixo das Sete Quedas, como rota da Marcha para o Oeste via navegação” (Antonio Marcos Myskiw, A Fronteira como Destino de Viagem: A Colônia Militar de Foz do Iguaçu [1876-1907]).

    Para o desolado engenheiro Andrade, o projeto não poderia avançar porque suas ideias esbarraram numa imposição geográfica. Constata que o Rio Paraná não tem margens: tem barrancas.

    “Este fato, preliminarmente fixado, quase tira ao rio importância agrícola. Não serve de elemento de fecundação do solo, mas somente de via de comunicação e de escoamento, para as terras que atravessa” (Theophilo de Andrade, O rio Paraná no roteiro da marcha para o oeste).

    Fonte: Fonte não encontrada