A terra roxa do Norte do Município de Cascavel, que em 1953 abrangia os atuais municípios de Cafelândia, Nova Aurora e Corbélia, já apresentava uma excelente produção de café, resultante da atração de imigrantes desde o período da II Guerra Mundial (1939–1945), motivando um elevado movimento financeiro que depois as geadas viriam abalar.
Foi devido ao café e não somente à madeira que Djalma Al-Chueyr (1904–1975) criou o Banco Agrícola Vale do Rio Piquiri (Banquiri), dirigido em Cascavel por Alceu Barroso e Alceu Barroso Filho, tendo por acionistas os principais madeireiros, agropecuaristas e comerciantes da região.Nascido em São Paulo em 31 de julho de 1904, Djalma Rocha Al-Chueyr foi aos três anos de idade trazido ao Paraná pelos pais Jorge e Ernestina e sua presença neste Estado o levaria a desempenhar um papel importante na Revolução de 1930.
Sem passar pelo Paraná, onde poderiam ser presos, seria impossível a Getúlio Vargas e seus companheiros gaúchos chegar ao Rio de Janeiro para depor o presidente Washington Luís.
Na época ele ganhou prestígio por ter sido o oficial de ligação entre os chefes nacionais da Revolução de 1930, de março a outubro desse ano, mas depois da reviravolta de 1964 o nome dele foi varrido pelos novos donos do poder, restando poucos rastros de sua presença na vida paranaense.
Conspiração e espionagem
Em 1º de outubro de 1930, Al-Chueyr foi designado para garantir ao movimento o apoio do Sul do Paraná e Santa Catarina. Como subcomandante do Batalhão Siqueira Campos, formado por revolucionários da região do antigo Contestado, tinha à disposição 900 homens.
Depois da revolução, foi chamado ao governo paulista, atuando no presídio político e nas delegacias de Ordem Política e Social (Dops), que espionavam a população para evitar futuras conspirações contra o governo. Sua atuação revolucionária foi premiada com a promoção a major, mas com as transformações políticas no país ele se deslocou para a oposição depois da redemocratização, em 1946.
De volta ao Paraná, na vida civil, formou-se em Contabilidade e dedicou-se principalmente à agricultura. Presidiu a Fundação Paranaense de Colonização e na política, militou no Partido Democrático-Social (PSD), foi prefeito de Palmeira e Ribeiro Claro, além de dirigente no Paraná do PSP (Partido Social Progressista), fundado em São Paulo por Adhemar de Barros no período pós-Vargas.
Em Cascavel, o PSP teve entre seus líderes Paulo Dodô Rodrigues Pompeu, Adelar Bertolucci, Algacyr Biazetto e Zacarias Silvério de Oliveira, sobrinho do fundador de Cascavel, Tio Jeca Silvério.
Estradas particulares
Após o golpe civil-militar de 1964, o PSP foi dissolvido por imposição da ditadura e os empreendimentos de Djalma Al-Chueyr se arruinaram. O Banquiri não conseguiu se manter por muito tempo. Foi extinto em 1967 por uma comissão liquidante chefiada por Itacyr Luchesa e Fábio Bertocco.
As instalações do Banquiri foram vendidas ao Banco Comercial e mais tarde adquiridas pelo Bamerindus, depois HSBC. A mesa do gerente Alceu Barroso, com o cofre do banco, foi dada de presente ao madeireiro Florencio Galafassi, importante acionista do banco.
Se o Banquiri foi por algum tempo um promissor parceiro da comunidade cascavelense, com papel de destaque também em Corbélia, a madeireira e colonizadora Maripá sempre foi parceira de Toledo até os anos 1960.
Como era dona e mantenedora do território da antiga Fazenda Britânia, ao ser criado o Município de Toledo foi necessário transferir o controle das suas estradas ao poder público.
A lei municipal 32, sancionada pelo prefeito Ernesto Dall’Oglio, determinava que por doação da empresa, passavam a ser de domínio público municipal a estrada de Toledo a Porto Britânia, passando por Xaxim, Nova Concórdia, Vila Margarida e Quilômetro Dez e a estrada de Quilômetro Dez a Toledo passando por Vila Nova, Novo Sarandi, Quatro Pontes e General Rondon.
Três outras estradas também foram incorporadas ao Município, com percursos incluindo Dez de Maio, Dois Irmãos, Quatro Pontes, Xaxim, Nova Videira, Três Bocas, Vila Nova e Vila Maripá.
Hidrelétrica nas Sete Quedas não vingou
A população de Guaíra começava nessa época a ouvir notícias sobre estudos de engenheiros de vários países, destacando-se Alemanha, União Soviética, Estados Unidos, Inglaterra e Japão, interessados em gerar energia elétrica com as Sete Quedas.
Quem veio a ser chamado pelo governo brasileiro para criar um projeto concreto de aproveitamento hidrelétrico de Sete Quedas, porém, foi o engenheiro Marcondes Ferraz.
Por conta do interesse na hidreletricidade a região também atraiu a família Byington, com larga tradição no desenvolvimento do setor no país. A exploração hidrelétrica das Sete Quedas, na época, foi inviabilizada pela rejeição do governo paraguaio ao projeto. A proposta futuramente seria substituída por Itaipu, empreendimento binacional com o Paraguai.
O projeto de colonização da família Byington, entretanto, fez história: ocupando no Noroeste paranaense uma área com 136 mil hectares, deu origem a cinco municípios: Altônia, Nova Esperança, Pérola (nome da esposa de Alberto Byington), São Jorge do Patrocínio e Xambrê.
Terras, telefonia e cinema
A Companhia Byington iniciou a colonização das terras adquiridas abrindo uma estrada ligando Xambrê a Guaíra, onde estabeleceu o Porto Byington e construiu uma balsa para a travessia do Rio Piquiri.
“A Companhia Byington é de origem norte-americana. Seus fundadores migraram para o Brasil e iniciaram as atividades no Estado de São Paulo, atuando no ramo de eletricidade. Antes de se estabelecerem no Estado de São Paulo, os Byington realizaram atividades na capital da Argentina, Buenos Aires e, em seguida, no Rio de Janeiro. Após o período no Rio de Janeiro, foram para Campinas, quando os empreendedores começam a realizar as primeiras atividades no fornecimento de energia, criando pequenas hidrelétricas” (Flávio Fabrini, Formação Socioespacial do Noroeste do Paraná e a Ação da Companhia Colonizadora Byington).
Com essa iniciativa, ali tem início a formação da cidade de Altônia (nome formado pelas silabas “Al” de Alberto, “ton” de Byington e “ia” de Companhia).
Alberto Byington, já em 1912, participou da criação da Companhia Telefônica do Paraná, para explorar a concessão da telefonia no Estado. Seu filho, Alberto Byington Jr., foi o produtor do primeiro filme nacional sonoro inteiramente sincronizado: Coisas nossas (Wallace Downey, 1931).
Progresso trouxe “desnível econômico”
O governo do Paraná continuava estimulando as iniciativas particulares de colonização e levava adiante os seus próprios projetos, mas os anúncios que falavam em “progresso” e “desbravamento” ocultavam a dura realidade dos problemas agrários: a dificuldade para determinar legalmente a propriedade da terra e os embates entre os jagunços das colonizadoras e os posseiros e colonos esbulhados dispostos a resistir.
Mergulhado nas obras do Centro Cívico, destinadas a marcar o centenário do Paraná e a imortalizá-lo, projetando-o como potencial candidato a presidente do Brasil, o governador Bento Munhoz da Rocha Neto tratava superficialmente os problemas do interior, mas admitia ter dificuldades.
Em pronunciamento na Assembleia Legislativa, Bento reconhecia o “surgimento do desnível econômico, inédito até então no Paraná, terra clássica da pequena lavoura de subsistência”, lamentando que “a avalanche da onda cafeeira que traz riqueza” fosse acompanhada também por “multidões de desajustados e doentes”. Em consequência, afirmou, em seu discurso mais lembrado, “percebe-se a miséria que acompanha o progresso.
As medidas para desnivelar jamais vieram, sufocadas pelas grandes obras em Curitiba e as motivações econômicas predominantes: a expansão das lavouras de café e a extração da madeira.
Com elas, a corrida entre as empresas colonizadoras e os posseiros pelo registro legal da cobiçada terra roxa, atestada entre as melhores do mundo, alastrou-se do Norte para o Noroeste e o Médio-Oeste do Paraná.
100 anos da revolução: Jecas e estrangeiros
Em maio de 1924, o jovem escritor paulista Oswaldo Barroso lançava o livro Memórias de um Recruta. Lançado pela editora de Monteiro Lobato, causou grande impacto nos meios militares e despertou atenção devido à intensa boataria sobre movimentações revolucionárias.
As impressões de um jovem que acabara de completar o serviço militar poderiam revelar aos leitores a efervescente base da pirâmide, perturbada pelo custo de vida e as atitudes autoritárias do presidente Artur Bernardes.
Barroso observou que a maioria dos jovens militares eram descendentes de colonos estrangeiros ou “Jecas” do interior. Projetava, obviamente, que sairiam desses segmentos os futuros comandantes das forças.
Em 24 de maio, um certo Capitão X respondia ao livro criticamente, na Revista da Semana, da Companhia Editora Americana (RJ). Não com a raiva e a grosseria atual das redes sociais, mas com elegância e respeito, respondendo que o quartel “nacionalizou, educou e instruiu” os filhos de colonos estrangeiros e os jecas, que constituíam o povo brasileiro.
Primeira editora do país, a Monteiro Lobato & Companhia faliu em consequência do bombardeio de São Paulo pelas forças governistas no início da revolução, mas em 1925 renasceu como Cia. Editora Nacional.

Fonte: Alceu Sperança
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