Barth: cooperação e competição com Cascavel

Com líderes do PTB de Cascavel, Willy Barth faz animado comício em 1960, na campanha do senador Nelson Maculan ao governo do Estado. Lyrio Bertoli e Egon Pudell, eleitos póstumos de Barth

Tudo foi muito rápido na vida de Willy Barth. Gaúcho de Rio Pardinho, no interior de Santa Cruz do Sul, o filho de Adolfo e Maria Blodina Schilling Barth começou a trabalhar ainda adolescente como balconista, mas logo saiu para se movimentar intensamente entre o comércio e a colonização de terras com potencial de progresso. 

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Casado em 1941 com Diva Rodrigues Paim, de família de fazendeiros de Vacaria, teria com ela as filhas Vera Regina, Ana Beatriz, Maria Bernardette e Maria Cristina.

Ele viajava cada vez mais longe, a ponto de ser advertido pela esposa por um telegrama: “Favor comunicar o dia mês e ano que pretende voltar para casa”.

A ironia produziu efeito, remetendo Willy rapidamente para uma visita urgente à família. A cada viagem, partindo ou voltando, ele se associava a mais gente, formava empresas e criava projetos de expansão.

Associou-se ao colonizador Alberto Dalcanale e aos irmãos Ernesto e Josué Anoni, com os quais, ao lado de Gastão Bonetti, fundou a empresa Barth & Anoni, com sede em Carazinho e atuação na colonização de glebas em Vila Oeste (SC), local que mais tarde se tornaria o município de São Miguel do Oeste.

O salto maior começou quando convidou o amigo Alfredo Ruaro, comerciante em Farroupilha, para ser seu corretor de terras, apresentando-o aos também colonizadores Alberto e Luiz Dalcanale Filho.

Desse encontro histórico resultou que Ruaro e os Dalcanale compraram a Fazenda Britânia, propriedade inglesa intermediada pelo coronel Jorge Schimmelpfeng. 

Reconhecimento a Ruaro

Constituía-se desta forma a companhia Maripá, à qual Barth se integrou e depois viria a comandar. Entre os principais acionistas figuravam os nomes de Willy Barth, Alberto Dalcanale, Alfredo Paschoal Ruaro, os irmãos Egon e Kurt Bercht e Leonardo Júlio Perma. 

O chamado “grupo alemão” controlava 66% das ações, mas era o italiano Ruaro quem dava as cartas na colonização do Oeste. Em 7 de abril de 1946, com muitas terras a colonizar e um mar de madeiras a explorar, o projeto cresceu: os sócios da empresa decidiram formar a Serraria Maripá.

O encontro de Barth com o Médio-Oeste do Paraná aconteceu em 1948, quando veio apenas com o propósito de conhecer as novas terras que precisavam ser colonizadas.

Quando Alfredo Ruaro se retirou para desenvolver outros projetos colonizadores, dentre os quais Céu Azul, para o substituir Willy Barth foi eleito gerente da colonizadora Maripá em 25 de março de 1949.

Anos depois, em 1961, em discurso aos formandos de segundo grau do Colégio La Salle, um emocionado Barth lembrou “o estoicismo do primeiro administrador, Alfredo Ruaro, sempre laborioso e otimista, a enfrentar diariamente as longas jornadas de trabalho e a encontrar sempre tempo, à noite, para incentivar seus companheiros de colonização com reuniões alegres, onde as velhas canções da longínqua Itália eram entoadas, em coro”.

Sbaraini, um velho conhecido

Barth assumiu a direção da Maripá com sua equipe trazida do Sul, distribuindo tarefas entre os dois focos centrais: a colonização e a indústria e comércio da madeira. 

Já havia trabalhado com Carlos Sbaraini na venda de madeira, embalsada e exportada pelo Rio Uruguai. Com ervais no Sul e no Mato Grosso, Sbaraini apostava sem hesitar em projetos de futuro, o que lhe valeu ser sócio de nove empresas.

Foi natural, assim, deixar Sarandi (RS) para se associar à Maripá e Willy Barth em projeto no qual a colonizadora entrava com o pinhal e Carlos Sbaraini com sua experiência madeireira.

Sem pretender se ausentar do Paraná, com uma ampla região para atuar, Barth decidiu trazer a família de Porto Alegre em agosto de 1950. 

A esposa Diva conta o luxo que encontrou em Toledo: a casa em que foi morar estava sem portas e janelas. Só havia a madeira bruta, mais nada.

A marca da agilidade 

A chegada de Willy Barth a Toledo deu agilidade a todas as frentes de ação. Organizou a exportação de madeira, estimulou a instalação de novas indústrias, casas comerciais e de prestação de serviços.

Surgiram, além das serrarias, fundições, cerâmicas, mercearias, oficinas mecânicas, moinhos, fábricas de bebidas, alfaiatarias, sapatarias, ferrarias, gabinetes dentários, hotéis e outros estabelecimentos (Oscar Silva, Rubens Bragagnollo e Clori Fernandes Maciel, Toledo e Sua História). 

Deu início às vilas de Marechal Cândido Rondon, Quatro Pontes, Vila Margarida, Nova Concórdia, Vila Nova, Novo Três Passos, Vila Mercedes, Nova Santa Rosa, Novo Sobradinho, Vila Maripá, Sede Curvado, Pérola Independente, Entre Rios, São Roque, Pato Bragado, Iguiporã e outros povoados. 

Determinado a construir um aeroporto, uniu a comunidade de Toledo e em apenas 52 horas concluiu a pista na qual pouco depois pousaria o primeiro avião. 

Piadas, mas cobranças

Como dirigente da Maripá, Barth apoiou com recursos financeiros a instalação de casas de saúde, correio, telégrafo, clubes sociais, usina hidrelétrica, igrejas católicas e evangélicas, bem como escolas particulares e públicas. 

Alternava bom humor com nervosas cobranças de desempenho, “mas, mesmo nos momentos de nervosismo, ajudava e animava a todos indistintamente, falando sempre no progresso de Toledo” (Oscar Silva et alia).

Barth encarnou, rapidamente, todo o poder em Toledo e arredores. Sua influência se estendia a todos os setores da comunidade, a ponto de se dizer que tudo o que saía da boca de Barth era lei.

Certa vez, o Tuiuti Esporte Clube, que raramente perdia na região, foi jogar contra uma seleção toledana e perdia já por 3 a 0 quando um jogador de Cascavel caiu na área toledana e reclamou pênalti. 

“O juiz, na dúvida se marcava ou não a infração, foi consultar a opinião de Willy Barth. Como nós já estávamos perdendo por um escore bem avantajado, o Willy Barth falou: ¬– É pênalti, mesmo!” (Amadeu Pompeu, em Tuiuti, A Presença Azul, de Regina e Alceu A. Sperança).

Dois teimosos

Episódio que revela a personalidade de Barth foi a queda de braço entre ele e o padre Antônio Patuí, um italiano que sobreviveu a duas guerras e sempre conseguia o que propunha. Se Barth não fosse evangélico, hoje Toledo teria o nome de Cristo Rei, exigido pelo padre.

“Afinal, senhor Willy”, dissera padre Antônio Patuí ao grande colonizador do Oeste, “o senhor é evangélico luterano, e eu sou católico, e assim somos ambos cristãos. Portanto, nada mais justo que mudar o nome de Toledo para o nome de Cristo Rei”.

“Willy respondeu-lhe que o nome da vila era o do arroio Toledo, e este era um nome já muito antigo na região, e que não havia hipótese alguma de mudá-lo. O bom padre Antônio recorreu, então, a uma ideia alternativa: ‘Então o nome de Cristo Rei será dado à praça que fica em frente da nova igreja que se projeta construir!’ Willy informou que não seria possível. A praça seria uma homenagem ao diplomata que, ao convencionar as divisas da nossa região, fixou em definitivo que este solo fosse brasileiro. Levaria a praça, portanto, o nome do Barão do Rio Branco” (Ondy Hélio Niederauer, Toledo no Paraná).

Mas o padre não desistiu: “Bem no centro da Praça Barão do Rio Branco vamos colocar uma estátua bem grande de Cristo Rei!”

A insistência do padre já estava deixando Willy impaciente:

– Não, padre. No centro irá a estátua do Barão do Rio Branco. E se o senhor quiser pode, ao redor da praça, a espaços iguais, colocar tantas estátuas de Cristo Rei quantas quiser, desde que cada uma não seja maior que trinta centímetros. 

No fim, orgulho cultural 

Willy Barth se elegeu prefeito de Toledo em 1960 e estava destinado a ter uma carreira política brilhante pela frente pela capacidade de gestão. 

Como prefeito, não recebeu recursos públicos. Ao contrário, cedeu máquinas da Maripá para serviços da Prefeitura e emprestou dinheiro do próprio bolso para pagar os compromissos da administração municipal. 

Flutuando entre a competição e a cooperação com as autoridades cascavelenses, sobretudo as lideranças do PTB, mergulhou na campanha eleitoral de 1962 mirando a conquista de influência nacional.

Já fazendo um balanço de seus dois anos como prefeito e do passado como colonizador do Médio-Oeste, Barth considerava a Maripá um sucesso no campo da cultura:

“Podemos afirmar, com altivez e orgulho, que a região da Fazenda Britânia, hoje compreendendo as comunidades de Toledo e Rondon, é a de menor índice de analfabetismo em todo o Oeste e Sudoeste paranaense. Esta liderança cultural já é uma consagrada conquista nossa”.

Concorrendo pelo PTB a uma suplência no Senado da República, em 2 de abril de 1962, com o entusiasmo que sempre aplicava aos seus projetos, discursava com vibração em um comício em Guaraniaçu quando se sentiu mal. 

Levado às pressas ao hospital, não resistiu ao ataque cardíaco fulminante. Estava com 55 anos de idade e muitos planos, continuados por sucessores também ousados e dinâmicos, dentre os quais Egon Pudell.

Segundo prefeito de Toledo, Pudell foi indicado ao cargo por Barth e depois fez a campanha de Barth à Prefeitura enquanto fazia a própria campanha a deputado estadual. 

Em estado de luto, Pudell venceu a eleição de 1962 em dobradinha com o cascavelense Lyrio Bertoli. Barth estava morto, mas contribuíra para a eleição dos primeiros deputados estadual e federal oestinos. 

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