Frustrado no sonho de governar a Flórida, em julho de 1537 Álvar Núñez Cabeza de Vaca partiu de Havana, escapou da ameaça de um corsário francês e chegou aos Açores sob a proteção da armada portuguesa. Em Lisboa, encontra os integrantes da expedição de Pedro de Mendoza, o fundador de Buenos Aires, que morreu na viagem.
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Soube então pelo piloto Gonçalo da Costa que os índios dificultavam o acesso dos espanhóis às riquezas do Rio da Prata. Na América do Sul, nessa época, Juan de Ayolas, o sucessor de Mendoza, estava desaparecido.
Durante a busca pelos rios Paraná e Paraguai, Juan de Salazar em 15 de agosto de 1537 funda uma cidade na baía de Caracará, na margem Leste do Rio Paraguai: Nossa Senhora de Assunção.
Vivos e trazendo ouro e prata, Ayolas e seus homens voltam em 1538 ao porto de Candelária, onde Domingos Irala tinha ordens para esperá-lo com os barcos. Mas algo o desviou desse compromisso, provavelmente a fundação da Colônia de Maracaju, e os índios Paiaguás atacaram, matando Ayolas, 80 outros espanhóis e os carregadores.
A longa jornada
Depois desse golpe, as aventuras dos exploradores espanhóis também foram desestimuladas. É quando o já calejado Cabeza de Vaca recebe, em 1540, uma “licença” para “conquistar e pacificar e popular as terras” como “adelantado del Río de la Plata”, o que faria dele o futuro (e polêmico) administrador da região do atual Paraguai.
Partindo de Santa Catarina em 18 de outubro de 1541, com 250 homens armados, 36 cavalos e alguns índios vaqueanos, “atravessou a Serra do Mar, a margem oriental do Campo do Tenente e o Iguaçu nas proximidades de Araucária. (…) Prosseguindo, alcançou o Rio Tocoarí (Ivaí), onde foi socorrido com víveres que lhe ofereceram os índios Guaranis chefiados por Abangabí” (Romário Martins, Bandeiras e bandeirantes em terras do Paraná).
A expedição transpôs as serras da Esperança e do Cantu. Em 1º de dezembro “varou o Iguaçu ou Água Grande e, dois dias depois, o Tibagi (…) levava, portanto, a caravana na direção Noroeste” (Lima Figueiredo, Oeste paranaense). Os espanhóis souberam pelos índios aliados, nos arredores da futura Catanduvas, que poderiam navegar sem problemas pelo Rio Iguaçu, mas na região do Piquiri não haveria facilidades: os índios de lá eram hostis.
Saltos de Santa Maria
Cabeza de Vaca dividiu a expedição em três partes. Duas seguiriam pelas margens, a pé e a cavalo, e a terceira, com ele e 80 besteiros e espingardeiros, iriam por água, em canoas fornecidas pelos índios informantes.
O reinício da viagem, em 1º de janeiro de 1542, foi acompanhado de muitas dificuldades. Com a escassez de víveres, “tiveram de se alimentar de vermes de taquara, que fritavam”, matando a sede com “a água das chuvas passadas que as canas guardam por muito tempo” (Romário Martins).
No desvio da marcha para o Sul, Cabeza de Vaca chega em 14 de janeiro de 1542 novamente ao Rio Iguaçu. Depois de transpor as Cataratas, batizadas como Saltos de Santa Maria, desce até a barra no Rio Paraná.
“Quando nos aproximamos deste rio [Iguaçu], soubemos, por informação dos índios, que o mesmo se lança no Paraná, também chamado Rio da Prata, e que nas margens destes dois cursos d’água os indígenas tinham morto os portugueses mandados por Martim Afonso de Sousa para descobrir este país”, escreveu Alvar Cabeza de Vaca, reportando suas andanças pela região.
O relato do cronista
Na foz do Rio Iguaçu o enviado espanhol encontrou os índios Guaranis, para cuja hostilidade os exploradores já estavam advertidos. Negociaram com eles, em troca de presentes, a ultrapassagem do grande rio, feita com sucesso.
O interior do Paraná, meio século após o “achamento” do Brasil por Cabral, era um teórico domínio espanhol desde o Tratado de Tordesilhas. Na realidade, era alvo de disputas territoriais entre diferentes tribos, como constatou Cabeza de Vaca, conhecedor dos costumes indígenas. Suas crônicas e comentários permitiriam retraçar toda a trajetória dessa expedição pelas terras do atual Paraná.
“Foi o primeiro documento a informar que quase todo o interior do Paraná estava habitado e, ao mesmo tempo, mostrar que havia uma divisão política entre esses diversos grupos de mesma matriz cultural, organizados politicamente em cacicados (conjunto de aldeias sob a liderança de um prestigioso cacique, que dominavam certas porções de territórios bem definidos)” (Lúcio Tadeu Mota e Francisco Silva Noelli, Índios, Jesuítas, Bandeirantes e Espanhóis no Guairá nos séculos XVI e XVII).
Valeu pelas Cataratas
Após uma peregrinação de seis meses, na manhã de 11 de março de 1542 Cabeza de Vaca chega a Assunção, onde passaria momentos ainda mais difíceis que os vividos como escravo dos índios na América do Norte. Sua passagem pelo futuro Paraná foi paradisíaca perto do que enfrentou a seguir.
Em fevereiro de 1543, um grande incêndio destrói Assunção. Os espanhóis ficam sem roupas e abrigo. Doente, em 25 de abril de 1544 o governador é surpreendido por trinta espanhóis que invadem sua casa gritando: “Liberdade! Liberdade” Com espadas, adagas, arcos e arcabuzes, gritam ameaças de morte. Rende-se e é conduzido amarrado a um cômodo cercado de guardas.
Em março de 1545 é embarcado à força para a Espanha, acusado de traição, roubos, escravização e assassinato de índios. Para os brasileiros, entretanto, passou à história como o “descobridor” das Cataratas do Iguaçu.
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