Campo de futebol virou a Praça da Matriz

Time de futebol de seis jogadores na Praça da Matriz. Nos destaques, Dodô Pompeu em 1949 e o Estádio Municipal Ciro Nardi

Os primeiros jogos de futebol em Cascavel foram promovidos pelos operários das serrarias, com o apoio dos comerciantes e trabalhadores nas obras da Estrada Estratégica Federal (futura BR-277). As equipes se constituíam na base do “quem quer ir lá jogar contra a serraria vizinha?”. À medida que os times de futebol se organizavam começaram a surgir torneios, segundo Juvenal Gonçalves da Silva, que trabalhava com madeira. 

“Os primeiros campos de futebol eram áreas contíguas às serrarias, as praças de capelas ou igrejas e descampados de chácaras e sítios. Nesses espaços, era providenciada primeiro a limpeza por roçada do matagal, seguindo-se a extração de troncos, raízes e tocos” (Regina Sperança e Alceu A. Sperança, Tuiuti, a Presença Azul). 

Quando era possível, aplainava-se o terreno nas dimensões aproximadas às dos campos oficiais. Não havia grama e constantemente os atletas tropeçavam em raízes, daí advindo o mais tradicional nome de times da época: “Arranca-Toco Futebol Clube”. 

Para enfrentar as equipes das serrarias e demais localidades da região – Toledo por exemplo, que surge em 1946, e Foz do Iguaçu, a sede do Município – formou-se uma equipe da vila de Cascavel. 

“Era o time de futebol de Cascavel, que nem nome tinha. Mas disputava jogos defendendo as cores de Cascavel e fazia muitas partidas com Foz do Iguaçu, Laranjeiras do Sul e mais tarde com Toledo, a partir de 1946” (Amadeu Rodrigues Pompeu).

Caminhão de jogadores

Para se deslocar às outras localidades, os jogadores de Cascavel viajavam em caminhões que durante a semana eram utilizados para transportar toras e madeira serrada. Eram caminhões com reboques, com os quais era possível levar, além da delegação de diretores e atletas, alguns torcedores. 

Jogavam no time de futebol na vila de Cascavel jovens das famílias Siqueira, Pompeu, Zandoná e Fogaça, entre outras. Também os militares destacados para o Posto da Força Aérea não se furtaram de correr atrás da pelota ao lado de seus hospedeiros. 

Na década de 1940 estava em reconstrução o campo de aviação e havia intensa circulação na sede distrital. Afinal, eram cerca de 50 operários trabalhando na reconstrução do “aeroporto” da vila “e todo esse povo que faz trabalho pesado tem condições de exercitar bem o esporte” (Amadeu Pompeu). 

Aquela equipe dos anos 1940 levava como “ídolos” os irmãos Amadeu e Dodô Pompeu, que jogavam no ataque e eram sempre temidos pelas outras equipes. A pequena comunidade de Cascavel qualificava a equipe de “um timão”.

O timão era organizado informalmente, mas a sociedade cascavelense se tornava mais complexa e a riqueza da madeira transbordava para necessidades de serviços e confortos dos centros urbanos. O desenvolvimento econômico da comunidade favorecia uma organização social mais aprimorada. 

A presença do Tuiuti

Fundado em agosto de 1949 por militares da Aeronáutica, membros das famílias tradicionais, madeireiros e comerciantes, o Tuiuti Esporte Clube seria, até a instalação do Município de Cascavel, em dezembro de 1952, o centro dos debates e das tomadas de decisões. 

Em 1953, quando a Prefeitura começa a organizar a cidade, o time de futebol do Tuiuti, o Leão do Oeste, disputava o Campeonato Regional de Foz do Iguaçu, já que Cascavel pertencia a esse Município, e competia contra todos os clubes da fronteira. 

Não havia um estádio para o Tuiuti mandar seus jogos. Treinamentos e competições se realizavam na área que desde a criação do Distrito estava prevista para ser a Praça da Matriz.

Nos jogos realizados em Cascavel, o sargento Oswaldo Hercílio de Oliveira montava um palco dotado de microfone ao lado do campo e assim transmitia os jogos, entrevistava os jogadores, divulgava a entrega de prêmios e troféus.

Amarrando cavalos   

Desde 1949 o campo já estava gramado, mas não havia cuidados especiais afora os tomados pelos diretamente interessados. Os jogadores tinham que limpar o campo antes de jogar. 

“Era um potreiro, mesmo. Era grama misturada com samambaia, muita guanxuma. Transversal ao campo, tinha uma meia valeta no centro. Os operários da CER-1 atravessavam o campo sempre pelo mesmo caminho para ir até a Comercial Oeste Paraná, que era na esquina da rua Pio XII com a Avenida Brasil. Foi assim que se formou aquela espécie de valeta. Era preciso contratar alguém para com um carrinho tapar a valeta com terra para poder jogar” (Dercio Galafassi).

No dia a dia as pessoas amarravam cavalos nas traves. “Quando elas apodreciam e os animais se assustavam, elas até caíam”, lembrou Galafassi.

Além das dificuldades naturais para enfrentar quanto à qualidade do campo, disponibilidade de boas bolas e material esportivo adequado, havia também as inevitáveis brigas entre jogadores e torcedores, já que inexistiam os alambrados e os poucos policiais não podiam garantir a segurança em jogos importantes. 

Em 7 de agosto de 1953, quando entrou em vigor a Lei 25, que dava à Praça da Matriz o nome de “Praça Getúlio Vargas”, a Prefeitura precisava projetar a construção de equipamentos adequados à nova destinação.  

O Tuiuti não poderia mais mandar seus jogos no local, que deveria ser uma área de convivência diária para a população e não só palco de eventuais jogos do clube, então o único da cidade. 

Praça afastou o futebol

A Lei 22, de 4 de agosto de 1953, autorizando a Prefeitura a conceder auxílio de 10 mil cruzeiros ao Tuiuti Esporte Clube para contribuir no custeio de um campo de futebol pela entidade foi um meio de afastar o esporte da área, que deveria em breve receber equipamentos para formar a Praça Getúlio Vargas.

Até isso ser possível, os jogos aconteciam ainda na praça prometida e na Serraria São Domingos, cuja população era maior que a vila de Cascavel.  

O fracasso do Brasil na Copa do Mundo de 1954, depois de imensa desilusão nacional em 1950, no Estádio do Maracanã, deixou os planos esportivos de lado devido a necessidades mais urgentes. O Município era muito grande e tudo estava por fazer.  

No entanto, a cidade crescia, a juventude exigia não mais um campo de futebol, mas um estádio. Em 1957, a confiança em um bom desempenho do Brasil na Copa de 1958, que iria revelar Pelé, animou a comunidade e a ideia de um estádio municipal prosperou. 

O futebol brasileiro voltava a ser considerado o melhor do mundo e o Tuiuti fazia a sua parte: conhecido como o “Leão do Oeste”, o clube azul fazia sucesso, reforçado com jogadores da Seleção do Paraguai.

O novo prefeito, Helberto Schwarz, eleito em 1956, havia jogado no Tuiuti e decidiu que o progresso trazido pela madeira permitia ousar a construção de um estádio em área do Estado reservada a obras de futuros prédios públicos, junto ao cemitério da Rua Carlos Gomes.

Calote no jardineiro

A tarefa de obter a área foi facilitada pelo deputado Ruy Gândara, genro do governador Moysés Lupion. “Gândara conseguiu, com ajuda da Prefeitura, fazer um bom campo de futebol, um estádio bem montado, com arquibancadas”. (Beto Pompeu). 

O presidente da Câmara, Alir Silva, contratou Floriano Pavoski para fazer o plantio da grama. No entanto. ameaçado de morte por grileiros de terras teve que abandonar a cidade. 

Encerrado o trabalho, Pavoski, mais tarde professor e diretor do Colégio Adventista, entrou na Justiça para receber o dinheiro da grama e outras tarefas, como a pintura de duas casas: foi apalavrado para trabalhar a Cr$ 100,00 diários e alegou ter recebido apenas a metade, ao cabo de 84 dias. 

Já a construção do Estádio Municipal, que em 1965 recebeu o nome de Ciro Nardi, foi administrada sem problemas pelo major Oscar Ramos Pereira, que chefiava a seção de obras da Comissão de Estradas de Rodagem e não se negava a cooperar com outras obras necessárias à consolidação da comunidade cascavelense.

Hoje, na mesma área, mantém-se com alterações ao longo dos tempos o Complexo Esportivo Ciro Nardi. O Tuiuti mais tarde construiu seu próprio campo de futebol no bairro São Cristóvão, área em que depois iria edificar seu complexo social e esportivo, doada pela colonizadora Pinho & Terras, uma das empresas responsáveis pela formação da Rota Oeste (as cidades do trecho Cascavel–Foz do Iguaçu da BR-277). 

100 anos da revolução: Governo sabia do plano

 Conforme o documento policial “Denúncia de um movimento subversivo”, de abril de 1924, o governo sabia que “elementos” civis e militares planejavam tomar o poder e até matar o presidente da República. Entre os militares citados estavam o coronel reformado Isidoro Dias Lopes e dentre outros civis o jornalista Macedo Soares e o anarquista José Oiticica.

Com poucos partidários na guarnição do Exército no Rio de Janeiro, o grupo fez contato com militares de São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Minas Gerais, “obtendo êxito”. Havia planos também de recrutar forças de fora do país: o tenente Heitor Mendes teria prometido reunir três mil homens no Paraguai para auxiliar as “forças revoltadas”. O RS não aparecia nesse plano.

O roteiro do golpe era levantar as guarnições de São Paulo, Mato Grosso Paraná e Minas Gerais, enquanto Oiticica “agitaria” o meio operário no RJ, distraindo a atenção das guarnições da capital e favorecendo a entrada das forças militares rebeldes dos demais estados. 

O presidente Artur Bernardes seria eliminado em um atentado em Petrópolis com granadas de mão a ser lançadas por anarquistas. Os artefatos, entretanto, foram descobertos a partir de denúncia feita por um açougueiro cujo estabelecimento se situava próximo ao local onde estavam armazenados.

 O presidente Artur Bernardes soube em abril de 1924 que militares e anarquistas tentariam dar um golpe e matá-lo

 

Fonte: Alceu Sperança

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