Dados oficiais fornecidos pela Prefeitura de Cascavel à reportagem do Preto no Branco indicam um cenário preocupante de aumento no número de pessoas em condições de vulnerabilidade econômica e social e uma explosão de concessões de benefícios sociais.
Os indicadores informados pela Secretaria de Comunicação do Paço, checados pela reportagem no canal oficial de concessão do governo federal, revelam que Cascavel concentra hoje um número recorde, nunca visto antes, em beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família, por exemplo.
O próprio Município admite, em sua resposta oficial, que para receber este benefício não se pode haver renda per capital mensal maior que R$ 218, ou seja, famílias que estão próximas da pobreza. Em maio deste ano, segundo o Município, foram 13.022 famílias beneficiadas. O número é 86% superior que o registrado há menos de três anos, em 2021.
Segundo dados da Secretaria da Assistência Social do município em entrevista ao Preto no Branco em março passado, em 2021 o município contava com sete mil concessões deste benefício. Em maio deste ano, os números saltaram para 13.022. “Para responder esta questão vamos utilizar os dados dos beneficiários do Programa Bolsa Família, pois para ser elegível ao Bolsa Família, a renda per capita mensal, não deve ultrapassar R$ 218. No mês de maio foram 13.022 famílias beneficiárias”, afirmou a prefeitura.
Em 2021 eram injetados todos os meses na economia local R$ 1,5 milhão provenientes do programa. No fim de 2023 – quando eram 12 mil beneficiários – o volume saltou para R$ 8,5 milhões e agora se aproxima dos R$ 9 milhões.
Considerando dados médios da formação das famílias brasileiras, Cascavel tem neste momento cerca de 40 mil pessoas que dependem deste benefício de assistência social para sobreviver. Isso representa cerca de 11% da população local, que é de aproximadamente 350 mil pessoas com base no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Um em cada 3 cascavelenses precisou de atendimento da assistência social em 2023
Tantos atendimentos também refletem à necessidade de aumento de investimentos específicos no setor.
Indicadores da Secretaria Municipal de Assistência Social revelam que, em 2016, o setor tinha um orçamento anual de R$ 35 milhões, em R$ 2024 subiu para R$ 75 milhões, mais que dobrou em oito anos, mas os números se mostram desafiadores.
O aumento na dependência de programas sociais no município reflete também na necessidade de expansão do sistema de atendimento.Cascavel conta hoje com nove Cras (Centro de Referência de Assistência Social), quatro Creas (Centros de Referência Especializado de Assistência Social) com foco no fortalecimento dos vínculos familiares, dez centros de acolhimentos, está na eminência de receber o quarto restaurante popular e uma rede com três unidades de Conselho Tutelar.
Isso porque, os atendimentos nos serviços assistenciais e de amparo social não param de aumentar.
Segundo a Secretaria de Assistência Social, somente no ano de 2023 Cascavel registrou 93 mil atendimentos de diferentes pessoas nestas unidades. É como se um em pouco mais de três cascavelenses dependeu, em algum momento durante os 365 dias do ano passado, de um acompanhamento psicossocial, passou por um Cras, pelo Creas ou por sistemas do serviço público social.
Esses atendimentos correspondem a 97 mil pessoas diferentes de um total de 350 mil habitantes locais.
Se analisados os procedimentos globais, os números são ainda mais preocupantes: foram quase 300 mil atendimentos ano passado, considerando que uma mesma pessoa pode ter tido mais do que um atendimento no decorrer do ano.
Moradores em situação de rua: explosão em casos com destaque a estrangeiros
Os dados sociais também se revelam alarmantes quando o assunto são os moradores em situação de rua. A Assistência Social do município havia mapeado no ano de 2017, 800 pessoas em situação de rua que foram atendidas pela pasta. No ano passado esse dado saltou para 3,5 mil diferentes pessoas em situação de rua, avanço de 338%.
Somente em maio de 2024, havia o mapeamento de mais de 500 pessoas vivendo em situação de rua em Cascavel. “Na base do Cadastro Único do governo federal, no mês de maio, são 532 pessoas em situação de rua cadastradas em Cascavel”, afirmou o Município à reportagem considerando que essas pessoas vêm e vão entre as cidades da região.
O número de estrangeiros em situação de rua também revela um cenário de preocupação. Cascavel passou a ser um importante reduto para estrangeiros vindos de diversos cantos do mundo em busca de um emprego ou para recomeçar a vida, fugindo de guerras civis, militares ou mesmo de governos totalitaristas ou da fome. Apesar de um número elevado de vagas de emprego ofertadas diariamente e que não conseguem ser preenchidas, há um indicador elevado de pessoas com dificuldades de acesso ou com problemas para agilizar documentos sem os quais não podem se inserir ao mercado formal de trabalho.
Em 2017, segundo a Assistência Social, Cascavel contava com 27 estrangeiros atendidos pelo sistema que tinham vindo de outros países e que estavam em situação de rua, em 2023 eram 800 pessoas, salto de quase 30 vezes entre um período e outro.
A reportagem também questionou o Município sobre o número de famílias vivendo em regiões consideradas de risco/perigo para enchentes, alagamentos, em áreas de ocupação e invasões. A prefeitura não forneceu este dado.

Um terço dos cascavelenses está no cadastro único
Um terço dos cascavelenses, ou seja, 54.178 famílias que juntas somam 123.530 pessoas, estavam inscritas no Cadastro único do Município no mês de maio de 2024. O cadastro indica famílias com necessidades de atendimentos específicos no setor social, psicossocial e afins em baixa renda.
Além dos 13.022 beneficiários do Bolsa Família, há ainda 2.897 famílias cadastradas para receber auxílio Gás dos Brasileiros (dados de abril porque o repasse a bimestral), 3.915 idosos recebendo benefício de prestação continuada (BPC) outras 3.771 pessoas com deficiência recebiam o mesmo benefício (BPC), além de 739 famílias que recebiam o Cartão Promover. Para o Cartão Comida Boa eram 1.834 famílias beneficiarias.
Os dados são de maio.
Questionado sobre quais ações são voltadas às regiões mais carentes da cidade e que tipo de atendimento é prestado às famílias, a Prefeitura de Cascavel se limitou a informar que a porta de entrada para o atendimento aos que estão em situação de vulnerabilidade são as unidades de Cras. “Em Cascavel são nove unidades de Cras que atendem todo o município de Cascavel e executam o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). As equipes atendem as famílias, identificam as demandas e promovem os atendimentos necessários”, concluiu.
Fonte: Juliet Manfrin
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