Em 9 de julho de 1816 o padre curitibano Francisco das Chagas Lima vencia a disputa com o comandante Diogo Pinto de Azevedo Portugal pelo controle de Atalaia/Guarapuava. A junta administradora da expedição, em São Paulo, determinava que o chefe militar entregasse o comando ao tenente Antônio da Rocha Loures e se apresentasse em São Paulo.
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O novo comandante de Guarapuava, casado com a irmã do padre Chagas Lima, Joana Maria da Luz, pôs fim ao conflito aceitando a liderança do religioso. Sob menor influência militar e agora abaixo da proteção religiosa, expandiram-se em Atalaia as roças, as fazendas e os campos de criação pelo trabalho dos índios catequizados.
Diogo Pinto, ao verificar o grande número de índios que trabalhavam em Atalaia, ordenou, para desgosto do padre Chagas, que os catequizados (chamados de índios mansos) o acompanhassem em sua mudança para Linhares.
“Percebe-se a relutância do reverendo Francisco das Chagas Lima em aceitar essas ordens, já que insistiu em permanecer com o aldeamento e a povoação em Atalaia, e, junto a si, tinha o apoio de Antônio da Rocha Loures” (Almir Antonio de Souza, Armas, Pólvora e Chumbo: A Expansão Luso-Brasileira e os Indígenas do Planalto Meridional na Primeira Metade Do Século XIX).
Começa a guerra no Sul
Após a proclamação da independência das Províncias Unidas do Rio da Prata, em 7 de julho de 1816, houve a tentativa de José Gervásio Artigas de criar um território livre e democrático na região do atual Uruguai.
Contra ele, tropas portuguesas comandadas por Araújo Correia atacaram em 28 de agosto a Fortaleza de Santa Teresa, que se rendeu sem muita resistência.
A chamada Banda Oriental foi ocupada militarmente pela força portuguesa de seis mil homens sob o comando do general Carlos Frederico Lecor, que entrará vitorioso em Montevidéu no ano seguinte, 1817.
Em resposta à ofensiva lusa, o Rio Grande do Sul foi invadido por Santana do Livramento e São Borja, atacada em 20 de setembro. A guerra contra Artigas iria durar longo tempo, e assim toda a ação de conquista do interior paranaense foi deixada de lado.
O ímpeto inicial dos investimentos curitibanos na frente de ocupação do Oeste refluiu com a ação militar no Uruguai, ao esvaziar a força armada na vanguarda colonizadora.
Paraná desguarnecido
Apesar de ficar sem força militar alguma, o bloqueio comercial imposto pela guerra favoreceu as exportações da erva-mate paranaense. Agora, além do gado, a riqueza também estava no mate. O gado era comprado no Sul, mas a erva, como os pinheirais, estava nos arredores, ao alcance da mão.
As milícias haviam se retirado de Guarapuava nessa época para se dirigir ao Sul, em apoio à ocupação do Uruguai. Com a força militar no Paraná reduzida a zero, o capitão-mor de Paranaguá, Manoel Antônio Pereira, encaminhou em 11 de junho de 1817 ao Conde de Palma, o governador de São Paulo, um sinal de alarme.
Comunicava “não haver naquela vila nenhuma defesa, podendo acontecer serem invadidos e saqueados pelo inimigo ou corsários de Buenos Aires, e que não havia pólvora, bala, nem armas” (Antônio Vieira dos Santos, Memória Histórica da Cidade de Paranaguá, II).
Índios caçam índios
No Oeste, os chefes índios catequizados eram instruídos a sair à mata para capturar outros índios, especialmente mulheres e crianças, com o fim de aumentar a força de trabalho em Atalaia.
As autoridades narravam os eventos de modo que não lhes parecessem desfavoráveis nem incriminadores: agora, segundo a versão portuguesa, eram os índios que caçavam índios.
Além da escravidão e das doenças que vieram com a “civilização”, as tribos eram jogadas umas contra as outras para que os mais fracos procurassem refúgio entre os soldados portugueses.
Segundo Mércio Pereira Gomes (Os Índios e o Brasil), as epidemias eram mais destrutivas quando ocorriam associadas a guerras de extermínio ou de escravização. A escassez de alimentos, a exaustão e o desgaste dos indígenas cativos facilitavam a baixa no sistema imunológico e propiciavam a contaminação.
Começa a tradição colonial
Para estimular a ocupação definitiva dos Campos de Guarapuava, foram distribuídas sesmarias aos integrantes da expedição de conquista e também para outros fazendeiros dos Campos Gerais, Curitiba e São Paulo interessados em utilizar a terra e que auxiliariam os conquistadores com alimentos, montarias e pousadas.
Data desse momento o início da formação da estrutura fundiária baseada em grandes propriedades na região.
Segundo a legislação portuguesa, “o tamanho de uma sesmaria seria de uma légua de testada por três de comprimento ou cinco mil e quatrocentos alqueires de terra. Havia outras que apresentavam a superfície de uma légua e meia quadrada, área equivalente a quatro mil e cinquenta alqueires de terras” (Carlos Eduardo Schipanski, As Cavalhadas em Guarapuava).
“Toda fazenda possuía seu próprio pomar e as atafonas encarregavam-se do feitio da farinha de mandioca e polvilho. Os monjolos e pilões produziam o fubá e a farinha de milho. Os laticínios em geral, o charque, banha, linguiça, doces, sabões e velas para a iluminação eram produtos da indústria doméstica” (Alcioly Therezinha Gruber de Abreu, A posse e o uso da terra: modernização agropecuária de Guarapuava).
Forma-se com o incentivo da doação de terras aos escolhidos pelo trono português, portanto, a base para a estruturação da sociedade do interior paranaense.
Punido deu a volta por cima
Enquanto a guerra se arrastava no Sul, acontecia em 6 de fevereiro de 1818, no Rio de Janeiro, a coroação oficial do rei João VI como chefe do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Em Guarapuava, o cacique Yongong foi dado como desaparecido. Forçado por Atanagildo Pinto Martins a seguir um roteiro perigoso no interior da atual Santa Catarina, nunca mais voltou. Martins foi punido, mas depois participou heroicamente de novas ações militares e se redimiu perante os chefes militares.
O destino do cacique, obrigado a seguir um caminho perigoso depois de advertir sobre os riscos que haveria ao trilhá-lo, é revelador da situação humilhante dos índios aprisionados na frente de conquista territorial.
A frente de vanguarda que deveria avançar para o Oeste do atual Paraná recebeu nova ordem em 22 de agosto de 1818: estabelecer povoações ao longo da estrada para as Missões. Atanagildo, que conhecia o terreno, teria utilidade nessa missão.
Palmas, a retomada
Por ora, a Oeste estava um território de difícil acesso: “Imensa região de campos devolutos, pontilhados de bosques, vergéis, entremeados de pinheiros (…) florestas imensas de matas virgens, povoadas de pinheirais, imbuías e demais espécies de árvores frondosas. Taquarais e caratuvais intransponíveis; espinhos das mais variadas espécies, como anhapindá, pata-de-vaca, agulheiros, tramas de cipó enlaçam-se pelos troncos ou cerrados debaixo da mata agreste” (José Bischoff, Sombras do Passado).
Uma grande seca se abateu sobre a frente de conquista do território paranaense em 1819. Houve muito desânimo no interior desassistido.
Com o extremo-Oeste do atual Paraná descartado, Atanagildo Pinto Martins comunicou ter à disposição guias índios que lhe permitiam acesso fácil aos Campos de Palmas. Com isso conseguiu convencer Portugal a considerar a região estratégica para seus objetivos e devolvê-lo ao jogo.
Incluindo Palmas na agenda já seria possível ocupar também a margem esquerda do Rio Paraná, entre os rios Paranapanema e Iguaçu.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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