O rolo compressor federal sobre o Estado do Paraná avançou com os decretos 1.968 e 2.610, de 1940, que determinavam a realização de levantamentos topográficos na região Oeste do Paraná. Eram sinais claros de que os estudos para criar um território federal, apartado do Paraná, não se limitavam a rumores.
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As ardilosas tentativas do Estado de agir na região ficavam ainda mais limitadas. Na habitual estratégia autoritária de jogar a culpa em terceiros, os adeptos do controle federal completo no Oeste acusavam o Estado do Paraná de omissão e se apresentavam como criadores da ação positiva que iria desenvolver a região: a Marcha para Oeste, requentando a secular ação dos bandeirantes.
As turmas de pesquisa que saíram a campo investigaram quantas propriedades particulares havia na faixa de fronteira e constataram aproximadamente 3.600 famílias no trecho pesquisado.
Só um terço da área, porém, havia sido objeto de titulação oficial, reforçando a proposta de criar um território federal redentor.
A origem dos conflitos
O preparo das condições objetivas para a formação do novo território federal prosseguiu com as medidas de reincorporação ao patrimônio da União de todas as terras pertencentes à Companhia Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande e os bens e direitos da Brazil Raillway Company existentes no território nacional, entre março e julho de 1940.
Com os decretos-leis 2.073 e 2.436, de 8 de março e 22 de julho de 1940, respectivamente, começava uma longa disputa pelo domínio das terras entre o Estado do Paraná, União e a Braviaco, empresa que herdou o patrimônio da antiga empresa do magnata estadunidense Percival Farquhar.
Essa disputa está na base dos sangrentos conflitos pela posse da terra na conflagrada região do Rio Piquiri, como também no Sudoeste do Estado.
Mas na época ninguém anteviu essa possibilidade. Os estudos feitos, que levaram aos atos federais de março de 1940, projetavam a rápida liberação de terras para os colonos sulistas, já acossados pelo crescente parcelamento das colônias entre seus filhos – a minifundiarização –, em tempos nos quais o capital humano era uma numerosa prole.
Governada por oficiais do Exército, a Prefeitura de Foz do Iguaçu, por sua vez, testemunhava uma espécie de retorno à antiga Colônia Militar, extinta em 1912.
Nessa virada da década, com a II Guerra Mundial em curso, o prefeito é o capitão Melquíades* do Valle (1898–1974), que concentrava os poderes de prefeito, chefe militar e de polícia.
*Seu nome era “Melchiades”, mas a grafia que passou à história foi “Melquíades”.
O Correio fez a diferença
Como policial e militar, Valle vigiava a fronteira e reportava sinais de agitação armada principalmente na Argentina. Como prefeito, atendia a um oitavo do território paranaense.
Foi ele quem atendeu a um pedido do líder cascavelense, Jeca Silvério, determinando a abertura de uma agência telegráfica de primeira classe no distrito situado no extremo-Leste do Município de Foz do Iguaçu.
Cascavel, com essa agência, ganhou em definitivo uma de suas famílias mais importantes, que seria decisiva para a criação do Município: Pompeu Reis.
Desde a morte do agente dos Correios, Bento dos Santos Barreto, em 1938, Horácio Ribeiro dos Reis (1912–1987), então residente em Catanduvas, passou a atender também ao serviço postal no distrito de Cascavel.
Nascido em Guarapuava, em 3 de maio de 1912, Reis estudou Comércio e Contabilidade na cidade natal e em 1929 ingressou nos serviços do Correio, atendendo ao trecho entre Catanduvas e Porto Mendes.
Em 1938, com a morte de Bento Barreto, Reis foi designado para o posto, acumulado com suas funções até a nomeação do novo agente, Paulo Maceno, designado para a agência de primeira classe a ser instalada em Cascavel.
Com eles, Cascavel começa a crescer
Foi ao substituir os serviços de Bento Barreto que Horácio Reis estreitou seus laços com o povoado de Cascavel. Casado com Alvina Pompeu, filha de Manoel Ludgero Pompeu, patriarca de uma das famílias mais importantes da região, Reis antes de vir morar em Cascavel já possuía atividades comerciais nesse local em sociedade com Aníbal Lopes da Silva.
Ao trazer a família que ainda vivia em Catanduvas (a esposa Alvina [2013– 2008], o filho Aírton, as filhas Anadir, Avanir, Agripina e Áurea), Reis teceu em Cascavel com as famílias do sogro Manoel Ludgero e de Aníbal Lopes uma rede familiar que representava o dinamismo da cidade que começava a prosperar.
De importante presença em Catanduvas, a família de Theodorico Rodrigues da Cunha também se integrava à mesma rede familiar de Reis. Idalina (Dinoca), esposa de Ludgero Pompeu, era da família Rodrigues da Cunha.
Uma história significativa daqueles anos 1940 foi o episódio em que um criador de porcos, não acreditando que Cascavel teria futuro, deixou de ser o dono de duas quadras centrais de Cascavel – uma das quais a do Banco Itaú da Praça Wilson Joffre.
Suinocultor fez aposta errada
Enquanto Horácio Reis se destacava no esporte e na política, a esposa Alvina Pompeu revelava tino comercial. Com a responsabilidade de alimentar uma família numerosa e hóspedes que se abrigavam junto ao armazém da família, ela se interessou por uma vara de porcos tocada por um vendedor que sempre passava pela vila: Osório Magalhães, que morava em Catanduvas.
Alvina pretendia segurar o criador em Cascavel para garantir aos cascavelenses o fornecimento imediato da criação. Por isso propôs a Magalhães um negócio excepcional: a família Pompeu Reis ficaria com a criação toda e o criador teria facilitada a aquisição de duas quadras centrais em Cascavel, entre as ruas São Paulo e Rio Grande do Sul, próximas à futura Praça Wilson Joffre.
Magalhães, filho de um funcionário dos Correios que fazia a limpeza das linhas telegráficas, não acreditava que Cascavel fosse crescer:
– Ela disse: “Compre ali que você não se arrepende”. Eu disse: “Mas o quê eu quero com esse taquaral? Eu morava em Catanduvas e lá era uma cidade. Aqui não havia nada (Prisma Cascavel, 29 de julho de 1994).
Recusando o negócio sugerido por Alvina, Osório seguiu em frente rumo ao Rio Paraná, em busca de negócio melhor, mas logo depois uma peste se abateu sobre a criação.
Na volta, Magalhães lamentou não ter vendido os porcos em Cascavel e no futuro lamentaria muito mais: os lotes que desprezou passaram a valer uma fortuna. Mas aprendeu a lição e depois veio para Cascavel como Alvina lhe havia aconselhado.
Cascavel, cidade hospitaleira
Alvina Pompeu contou que sempre costumava hospedar amigos na casa comercial do marido Horácio, mas a circulação pela vila aumentou tanto nos anos 1940 que ela precisava colocar colchões até por cima dos balcões.
Foi quando a família decidiu investir na construção de um hotel, que viria a ter 62 leitos − o Hotel Pompeu Reis, onde em 1949 foi criado o Tuiuti Esporte Clube, por membros das famílias Reis, Pompeu, Galafassi, agregados e militares da Aeronáutica.
Sob a liderança de Reis, essas famílias formaram o núcleo do esforço pela criação do Município de Cascavel, que aconteceria uma década depois.
Enquanto Cascavel desafiava prognósticos negativos no tenso primeiro ano da II Guerra Mundial, a força militar de Foz do Iguaçu tinha ordens para redobrar a atenção sobre o movimento na fronteira. Temia-se alguma ação de tropas inimigas provenientes da Argentina.
Os governos dos dois países se mantinham neutros no conflito, mas as atentas autoridades descobriram que de fato havia argentinos armados invadindo o território brasileiro. Não para ocupar, mas para roubar madeira.
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