Categoria: Alceu Sperança

  • Prosperidade começa nos anos da guerra

    Prosperidade começa nos anos da guerra

    O rolo compressor federal sobre o Estado do Paraná avançou com os decretos 1.968 e 2.610, de 1940, que determinavam a realização de levantamentos topográficos na região Oeste do Paraná. Eram sinais claros de que os estudos para criar um território federal, apartado do Paraná, não se limitavam a rumores.

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    As ardilosas tentativas do Estado de agir na região ficavam ainda mais limitadas. Na habitual estratégia autoritária de jogar a culpa em terceiros, os adeptos do controle federal completo no Oeste acusavam o Estado do Paraná de omissão e se apresentavam como criadores da ação positiva que iria desenvolver a região: a Marcha para Oeste, requentando a secular ação dos bandeirantes.

    As turmas de pesquisa que saíram a campo investigaram quantas propriedades particulares havia na faixa de fronteira e constataram aproximadamente 3.600 famílias no trecho pesquisado.

    Só um terço da área, porém, havia sido objeto de titulação oficial, reforçando a proposta de criar um território federal redentor.

     

    A origem dos conflitos

    O preparo das condições objetivas para a formação do novo território federal prosseguiu com as medidas de reincorporação ao patrimônio da União de todas as terras pertencentes à Companhia Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande e os bens e direitos da Brazil Raillway Company existentes no território nacional, entre março e julho de 1940.

    Com os decretos-leis 2.073 e 2.436, de 8 de março e 22 de julho de 1940, respectivamente, começava uma longa disputa pelo domínio das terras entre o Estado do Paraná, União e a Braviaco, empresa que herdou o patrimônio da antiga empresa do magnata estadunidense Percival Farquhar.

    Essa disputa está na base dos sangrentos conflitos pela posse da terra na conflagrada região do Rio Piquiri, como também no Sudoeste do Estado.

     Mas na época ninguém anteviu essa possibilidade. Os estudos feitos, que levaram aos atos federais de março de 1940, projetavam a rápida liberação de terras para os colonos sulistas, já acossados pelo crescente parcelamento das colônias entre seus filhos – a minifundiarização –, em tempos nos quais o capital humano era uma numerosa prole.

    Governada por oficiais do Exército, a Prefeitura de Foz do Iguaçu, por sua vez, testemunhava uma espécie de retorno à antiga Colônia Militar, extinta em 1912.

    Nessa virada da década, com a II Guerra Mundial em curso, o prefeito é o capitão Melquíades* do Valle (1898–1974), que concentrava os poderes de prefeito, chefe militar e de polícia.

    *Seu nome era “Melchiades”, mas a grafia que passou à história foi “Melquíades”.

     

    O Correio fez a diferença

    Como policial e militar, Valle vigiava a fronteira e reportava sinais de agitação armada principalmente na Argentina. Como prefeito, atendia a um oitavo do território paranaense.

    Foi ele quem atendeu a um pedido do líder cascavelense, Jeca Silvério, determinando a abertura de uma agência telegráfica de primeira classe no distrito situado no extremo-Leste do Município de Foz do Iguaçu.

    Cascavel, com essa agência, ganhou em definitivo uma de suas famílias mais importantes, que seria decisiva para a criação do Município: Pompeu Reis.

    Desde a morte do agente dos Correios, Bento dos Santos Barreto, em 1938, Horácio Ribeiro dos Reis (1912–1987), então residente em Catanduvas, passou a atender também ao serviço postal no distrito de Cascavel.

    Nascido em Guarapuava, em 3 de maio de 1912, Reis estudou Comércio e Contabilidade na cidade natal e em 1929 ingressou nos serviços do Correio, atendendo ao trecho entre Catanduvas e Porto Mendes.

    Em 1938, com a morte de Bento Barreto, Reis foi designado para o posto, acumulado com suas funções até a nomeação do novo agente, Paulo Maceno, designado para a agência de primeira classe a ser instalada em Cascavel.

     

    Com eles, Cascavel começa a crescer

    Foi ao substituir os serviços de Bento Barreto que Horácio Reis estreitou seus laços com o povoado de Cascavel. Casado com Alvina Pompeu, filha de Manoel Ludgero Pompeu, patriarca de uma das famílias mais importantes da região, Reis antes de vir morar em Cascavel já possuía atividades comerciais nesse local em sociedade com Aníbal Lopes da Silva.

    Ao trazer a família que ainda vivia em Catanduvas (a esposa Alvina [2013– 2008], o filho Aírton, as filhas Anadir, Avanir, Agripina e Áurea), Reis teceu em Cascavel com as famílias do sogro Manoel Ludgero e de Aníbal Lopes uma rede familiar que representava o dinamismo da cidade que começava a prosperar.  

    De importante presença em Catanduvas, a família de Theodorico Rodrigues da Cunha também se integrava à mesma rede familiar de Reis. Idalina (Dinoca), esposa de Ludgero Pompeu, era da família Rodrigues da Cunha.

    Uma história significativa daqueles anos 1940 foi o episódio em que um criador de porcos, não acreditando que Cascavel teria futuro, deixou de ser o dono de duas quadras centrais de Cascavel – uma das quais a do Banco Itaú da Praça Wilson Joffre.

     

    Suinocultor fez aposta errada

    Enquanto Horácio Reis se destacava no esporte e na política, a esposa Alvina Pompeu revelava tino comercial. Com a responsabilidade de alimentar uma família numerosa e hóspedes que se abrigavam junto ao armazém da família, ela se interessou por uma vara de porcos tocada por um vendedor que sempre passava pela vila: Osório Magalhães, que morava em Catanduvas.

    Alvina pretendia segurar o criador em Cascavel para garantir aos cascavelenses o fornecimento imediato da criação. Por isso propôs a Magalhães um negócio excepcional: a família Pompeu Reis ficaria com a criação toda e o criador teria facilitada a aquisição de duas quadras centrais em Cascavel, entre as ruas São Paulo e Rio Grande do Sul, próximas à futura Praça Wilson Joffre.

    Magalhães, filho de um funcionário dos Correios que fazia a limpeza das linhas telegráficas, não acreditava que Cascavel fosse crescer:

    – Ela disse: “Compre ali que você não se arrepende”. Eu disse: “Mas o quê eu quero com esse taquaral? Eu morava em Catanduvas e lá era uma cidade. Aqui não havia nada (Prisma Cascavel, 29 de julho de 1994).

    Recusando o negócio sugerido por Alvina, Osório seguiu em frente rumo ao Rio Paraná, em busca de negócio melhor, mas logo depois uma peste se abateu sobre a criação.

    Na volta, Magalhães lamentou não ter vendido os porcos em Cascavel e no futuro lamentaria muito mais: os lotes que desprezou passaram a valer uma fortuna. Mas aprendeu a lição e depois veio para Cascavel como Alvina lhe havia aconselhado.

     

    Cascavel, cidade hospitaleira

    Alvina Pompeu contou que sempre costumava hospedar amigos na casa comercial do marido Horácio, mas a circulação pela vila aumentou tanto nos anos 1940 que ela precisava colocar colchões até por cima dos balcões.

    Foi quando a família decidiu investir na construção de um hotel, que viria a ter 62 leitos − o Hotel Pompeu Reis, onde em 1949 foi criado o Tuiuti Esporte Clube, por membros das famílias Reis, Pompeu, Galafassi, agregados e militares da Aeronáutica.

    Sob a liderança de Reis, essas famílias formaram o núcleo do esforço pela criação do Município de Cascavel, que aconteceria uma década depois.

    Enquanto Cascavel desafiava prognósticos negativos no tenso primeiro ano da II Guerra Mundial, a força militar de Foz do Iguaçu tinha ordens para redobrar a atenção sobre o movimento na fronteira. Temia-se alguma ação de tropas inimigas provenientes da Argentina.

    Os governos dos dois países se mantinham neutros no conflito, mas as atentas autoridades descobriram que de fato havia argentinos armados invadindo o território brasileiro. Não para ocupar, mas para roubar madeira.

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • A luta de um ucraniano atormentado por guerras

    A luta de um ucraniano atormentado por guerras

    O empenho, a dedicação e também o sofrimento dos pioneiros ucranianos entre os anos 1930 e 1940 para formar a grande Cascavel pode ser representados pela história do imigrante Alexandre Kachuba.

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    Ele até 1940 labutava no transporte com carroça. Em suas idas e vindas, foi abordado por uma viúva cujo marido acabara de ser assassinado em um dos trágicos episódios que tinham por pano de fundo a ausência da Justiça e a luta incessante pela posse das melhores terras.

    Sem mais condições de permanecer na atividade, a viúva deu permissão a Kachuba para tocar a lavoura de café da família na região de Nova Aurora, interior do então Distrito de Cascavel, no setor Leste do Município de Foz do Iguaçu.

    Aquela pareceu ao imigrante ucraniano uma oportunidade de ouro, pois quem lidava com café enriquecia rapidamente. A dificuldade estava no início da produção. Depois, deslanchava e era só contar os lucros, ano após ano.

    Para chegar a essa altura, já com 26 anos, Alexandre e a família haviam sofrido situações de horror e tristeza.

    Nascido em Kiev, a capital da Ucrânia, em 14 de dezembro de 1914, Alexandre estava com 11 anos em 1925, quando junto com quatro irmãos embarcou com os pais, Horácio e Maria Kachuba, para uma viagem cheia de confiança ao Brasil.

    A I Guerra Mundial deixara um passivo de desolação na Ucrânia. Stálin havia assumido o poder na então União Soviética e o futuro da Ucrânia parecia incerto para os camponeses.

    Embarcando no navio perfeito

    Ao decidir tentar vida nova na América, a família Kachuba começou tendo sorte: o navio em que embarcaram era seguro, confortável e bem provido de alimentos. Havia até assistência médica para que a viagem, com duração de um mês e meio, transcorresse livre de problemas.

    Tudo corria bem até que uma tempestade incomum sobreveio e o capitão do grande navio deu uma ordem desesperada às mais de mil pessoas embarcadas: o naufrágio era iminente e todos deviam se munir de salva-vidas.

    Mas o navio resistiu. Alexandre e família chegaram inteiros ao Rio de Janeiro, mas logo no desembarque o menino sofreu um acidente, que foi só o início de uma chegada cheia de contratempos.

    Houve muita confusão para separar os pertencentes de mil pessoas e a família Kachuba perdeu tudo que havia trazido, ficando todos os sete só com a roupa do corpo, com a qual embarcaram no avião que os levou ao destino previsto: a Colônia Moema, em Mafra.

    Rumo a Centralito

    Já homem feito, a convite do também imigrante Miguel Pali, Alexandre se transferiu para Centralito, onde se dividia entre atividades coloniais e o trabalho com toras de madeira na Serraria São Domingos, da família Lupion, na Cruz Grande.

    Ganhava pouco na serraria e decidiu usar a carroça, preciosa conquista de seu trabalho, para levar os produtos coloniais ao já na época centro habitado de maior trânsito: Cascavel.

    Ter uma carroça era como possuir um carro de luxo. Enchê-la de produtos coloniais e sair atrás de clientes em Cascavel passou a ser o projeto de vida de Alexandre.

    Mas só achou um enorme samambaial em meio ao qual se espalhavam algumas poucas casinhas. Não encontrou uma só pessoa que quisesse comprar seus produtos, para os quais esperava encontrar ávidos compradores: um saco de batatas e outro de feijão.

    Seu lucro foi conhecer pessoas, que em Cascavel eram prestativas e solidárias. Assim, logo conseguiu fornecer gêneros alimentícios para a Comercial Oeste (Copal) e para a família Bartnik, que abriu um pequeno armazém.

    O que não conseguia vender, trocava por outros alimentos. A partir daí o imigrante se tornava um cascavelense. Alexandre se casou com Ana, filha de Estefano e Rosa Kitto, matrimônio do qual resultaria uma prole de 14 filhos.

    A grande oportunidade seria aquele cafezal compartilhado com a viúva da futura Nova Aurora, no qual trabalhou durante seis anos até acontecer a grande decepção de sua vida: 2,5 mil pés de café torrados pela geada.

    A esposa descartou o alambique

    Era ainda o tempo da guerra na Europa e o café assumia o topo das maiores esperanças dos colonos do interior. Mais que uma aposta, era já uma realidade de riqueza para muitos imigrantes que chegavam ao Paraná e seus filhos.

    Com o fracasso no cafezal, Alexandre tentou mudar de ramo, plantando cana para abastecer a produção de um alambique, mas a esposa Ana não suportava o calor e os mosquitos.

    A solução foi levar o que pôde na carroça e retornar a Centralito. Como a dona da fazenda não estava cumprindo sua parte no contrato, alguém disse a Kachuba que ele também não precisava cumprir a sua. Repartiu a criação “às meias” com a viúva e levou sua parte para Centralito.

    As terras do Oeste eram vendidas pelas colonizadoras a partir do conceito de que a terra roxa, predominante na região, era altamente propícia ao café. De fato, é, mas na época não havia a pesquisa, a extensão rural, o monitoramento climático nem histórico das culturas.

    Como o café rendia bem na terra excelente, era uma loteria: se a geada não viesse, a família poderia progredir. Se viesse, começaria tudo outra vez.

    Geadas aqui, Hitler na Europa

    Na região de Cascavel, foram décadas de tentativas com o café até a geada vencer e a soja se impor, mas no Norte do Paraná a cafeicultura deslanchou.

    “Com a ocupação do Norte do Estado e o estímulo ligado às atividades de beneficiamento do café, o Paraná apresentou, entre 1930 e 1949, um espetacular crescimento de 10% ao ano, superior ao de São Paulo e ao do Brasil” (Demian Castro, Mudança, permanência e crise no setor público paranaense: um balanço da trajetória estadual na segunda metade do século XX).

    Isso acontece no Paraná ao mesmo tempo em que, na Europa, Hitler ordena em abril de 1940 a criação do campo de concentração de Auschwitz, onde mais de três milhões de vidas serão ceifadas, dentre as quais um milhão de judeus.

    Ocorre ampla migração motivada pela guerra e o Paraná é um importante foco de atração para os expatriados.

    As pequenas e médias propriedades de menos de 100 hectares já constituem 84% do total das explorações agrícolas do Paraná como resultado do sistema de venda de lotes a colonos atraídos pelas colonizadoras e distribuição de terras a sertanejos e imigrantes pobres.

    A ameaça de mais perdas

    O Censo Demográfico de 1940 registra o Paraná com 1.236.276 habitantes. Em todo o Oeste, havia uma irrisória população de apenas 7.645 habitantes, equivalente um bairro de Ponta Grossa, então com 38.417 moradores.

    Cascavel tinha 404 habitantes, 80% desta população residente na zona rural. O panorama desse interior ainda despovoado também começaria a mudar no curso da guerra e imediatamente após a vitória aliada.

    “A partir de 1940, a população aumenta de forma muito rápida, atraída pelo ouro verde, o café. Os baixos preços das terras praticados no Paraná, comparados aos de São Paulo, assim como a alta das cotações do café sobre o mercado internacional contribuem para este movimento” (Tânia Navarro Swain, Fronteiras do Paraná: da colonização à migração).

    Em meio às dificuldades no comércio externo causadas pela guerra, o Paraná vê crescer a ameaça de perder mais territórios sem poder reagir, porque a ditadura não permitia contestações.

    Nem bem estavam cicatrizadas as feridas da perda do Sudoeste para Santa Catarina e já os decretos 1.968 e 2.610, de 1940, determinavam a realização de levantamentos topográficos na região Oeste do Paraná, sinalizando claramente para a breve criação de um território federal.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Governo estimulava colonos a ocupar terras

    Governo estimulava colonos a ocupar terras

    De mãos atadas pela ditadura do Estado Novo em suas iniciativas no Oeste, o foco do governo paranaense estava na Estrada do Cerne, iniciada em 1935 e concluída em 1940, que chegava como ligação vital ao desenvolvimento integrado do Estado.

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    Seus 700 quilômetros ligavam Curitiba ao Porto Alvorada, com bifurcação para Londrina e Jacarezinho. Sem apoio do governo federal, o Estado a construiu com seus próprios recursos.

    Ao final da obra, o interventor Manuel Ribas enviou carta um pouco provocativa ao ditador Vargas comunicando que havia construído “a maior rodovia de todos os tempos”.

    Embora já inaugurada em 1939 no Norte, Ribas repetiu a inauguração em Curitiba, em 13 de setembro de 1940. Esse período coincide com a louvação festiva dos feitos dos governantes, de acordo com o culto à personalidade vigente no plano mundial: Stalin (Rússia), Hitler (Alemanha), Franco (Espanha), Mussolini (Itália) e Mao (China).

    Ribas, personalidade forte

    No Brasil, o “mito” era Getúlio Vargas. No Paraná, Manuel Ribas. Por isso mesmo a segunda inauguração da Rodovia do Cerne foi acompanhada de viagens festivas ao longo de todo o percurso.

    A cada parada, comícios, discursos e filmagens – o cinema começou no Norte paranaense por obra do misto de cineasta e corretor de imóveis Hikoma Udihara (1882–1972).

    Ribas causava incômodos entre os seguidores fascistas de Vargas porque mesmo após a criação do Estado Novo, em 1937, que assumiu as feições de uma ditadura de extrema-direita, o interventor do Paraná mantinha um discurso relativo à questão agrária que muitos consideravam “comunista”.

    Ele justificava a distribuição de terras aos sertanejos e imigrantes pobres como forma de impedir uma insurreição no campo. Argumentava que o Paraná sofria com a sanha de “senhores feudais”, que ele se dispunha a “acabar”.

    A dupla tática do Paraná

    A queda de braço de Ribas com os grandes latifundiários ficou empatada no Oeste, já que o governo estadual havia traçado um projeto de colonização para as terras das antigas concessões outorgadas no período imperial, mas o bloqueio federal na faixa de fronteira embaraçava o andamento das ações nessa área.

    Para contornar a proibição, o Estado tomou a iniciativa de estimular posseiros a ocupar lotes na faixa de fronteira, onde o Estado não podia agir por imposição do comando ditatorial, encastelado no Rio de Janeiro, mas contava com as pressões dos colonos em busca de infraestrutura de transportes.

    Sabendo das festividades em torno da Rodovia do Cerne, os colonos que chegavam ao Oeste sonhavam em festejar a rodovia que os levaria a unir Paranaguá a Foz do Iguaçu no mesmo caminho, sem as centenas de trechos desconexos nos quais os pioneiros transitavam com muitas dificuldades.

    O plano de Ribas se completava com o estímulo à formação e atração de empresas colonizadoras. As empresas paulistas faziam a propaganda da terra como propícia à cafeicultura e extração de madeira.

    As gaúchas destacavam, além da fertilidade, a amplitude dos lotes, muito atrativa quando comparada com a diminuta extensão das terras retalhadas por heranças de sucessivas gerações.

    Cartórios e jagunços

    A valorização dos imóveis por prometidas e esperadas ferrovias e rodovias desencadeou uma intensa febre de interesses e ambições.

    Bons lotes ocupados por posseiros são cobiçados por empresas colonizadoras que alargam seus territórios cartorialmente ou pela mão armada de seus funcionários – os jagunços.

    Para impor disciplina a essa tendência, o plano de colonização das terras devolutas (ou seja, readquiridas por devolução) determina a fundação, na margem esquerda do Rio Piquiri, das colônias Piquiri, Cantu, Goio-Bang e Goio-Erê. À margem direita do Ivaí, as colônias Manoel Ribas, Muquilão e Mourão.

    “Seguiu (o governo) planos de colonização, demarcando os lotes rurais e prevendo áreas para a instalação de núcleos urbanos. Os lotes agrícolas, nessas colônias, foram, em geral, de áreas superiores àqueles do Norte do Paraná, medindo, em média, mais de 20 alqueires” (Cecília Maria Westphallen, Brasil Pinheiro Machado e Altiva Pillati, Nota prévia ao estudo da ocupação da terra no Paraná moderno).

    Selecionar colonos, a missão

    Em 1939, a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande já havia dado a volta por cima na frustrada revolução de outubro de 1930, obtendo a revalidação da concessão cassada pelo Estado do Paraná.

    A empresa pretendia apenas a posse das terras às margens da estrada de ferro projetada para o Oeste do Paraná, que jamais iria construir.

    Em março de 1940, por conta dessa inoperância, a rede ferroviária e as terras, que haviam sido transferidas à companhia Braviaco, seriam incorporadas ao patrimônio da União.

    É uma grande extensão de terras da melhor qualidade. Prevalece nessa época a tese de que para desenvolver áreas com tão elevada qualidade produtiva era preciso selecionar colonos capacitados, tarefa que só poderia ser cumprida pelas colonizadoras, porque uma ação do Estado nesse sentido determinaria o favorecimento a uns (os “amigos do rei”) em detrimento de outros, fora das influências políticas e famílias palacianas.

    As colonizadoras, por sua vez, tinham a facilidade de selecionar pelo bolso e pela origem: com índios e descendentes de escravos sem fortunas ou heranças que lhes permitissem comprar as melhores terras, as colonizadoras direcionavam a propaganda das melhores para famílias de colonos de origem europeia com algum capital familiar e experiência no trato da terra.

    Guerra traz problemas ao Paraná

    A eclosão da II Guerra Mundial, em 1939, vai favorecer o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. A siderurgia brasileira, com destaque para Volta Redonda, no Rio de Janeiro, era de interesse vital para os EUA.

    No início do conflito, porém, o Paraná não conseguiu nenhum benefício e seu Oeste estava paralisado.

    Ao contrário, apenas contabiliza prejuízos: a indústria estadual, dada a má performance de seu principal produto – a erva-mate – reduziu sua participação na indústria nacional, que chegara ao pico de 3,4% em 1919, para 2,2% em 1939, revelando entre esses anos as taxas de crescimento mais baixas do País (Wilson Cano, Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil, 1930-1995).

    A produção brasileira de algodão incrementou-se num ritmo impressionante entre 1934 e 1939: de 126 mil toneladas passou a mais de 320 mil. A pesada mão dos EUA, no entanto, derrubou os preços ao jogar seus excedentes no mercado mundial. “A preços de dumping e como parte dos programas de ajuda exterior, os excedentes se espalham pelo mundo” (Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina).

    Como o algodão, outros produtos que já começam a ser produzidos no Paraná sofrem o impacto da variação de preços.

    No interior do Paraná, a guerra causa mais temor de um indesejado envolvimento do Brasil no conflito que a expectativa de participar ativamente do esforço de reconstrução das regiões conflagradas.

    A madeira, servindo sobretudo ao mercado interno e com encomendas restritas pelo exterior por embaraços justamente criado pela guerra, aguardava a hora de ser chamada para esse esforço. E o Oeste estava quase intacto, coberto de pinheiros.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • A guerra na Europa e a corrida ao Oeste

    A guerra na Europa e a corrida ao Oeste

    Em março de 1939 a Alemanha invadia Praga, anexava a Boêmia e submetia toda a Tchecoslováquia à sua “proteção”. Em 1˚ de setembro as forças nazistas penetravam nas fronteiras polonesas, obrigando a Inglaterra e a França a declarar guerra ao Eixo em 3 de setembro.

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    Um mês depois, em 1.º de outubro de 1939, um filho de imigrantes da Boêmia chegava à vila de Encruzilhada/Aparecida dos Portos/Cascavel – nome ainda indefinido para a população, que se dividia entre grupos que chamavam o lugar pelos três nomes.

    Para os viajantes, era e Encruzilhada dos Gomes. Para os religiosos, Aparecida dos Portos. Para o patriarca José Silvério de Oliveira, Cascavel. A Prefeitura de Foz do Iguaçu, salomonicamente, anotava: Encruzilhada de Aparecida dos Portos de Cascavel.

    Quem à região chegava com sua carroça, trazendo a família – a esposa Waldemira e três filhos, era o sapateiro Pedro Carlos Neppel. Vinha de Canoinhas e passando por Porto União (SC) soube que poderia ter sucesso no Oeste paranaense, onde havia terras oferecidas até de graça.

    A trajetória de Neppel é emblemática de muitos outros colonos descendentes de imigrantes que chegavam de Santa Catarina.

    Não era uma vinda “espontânea”, como se engana a historiografia romântica, mas fruto da propaganda do Estado e das colonizadoras, que apregoavam o Oeste como a solução para a minifundiarização que emergia da repartição dos lotes pelos vários filhos dos imigrantes.

     

    O sapateiro Neppel

    Nascido em 1906, em São Bento do Sul (SC), Pedro Carlos Neppel era filho dos alemães Pedro e Ana Neppel.

    “Os Neppl são provenientes da Boêmia e estão entre os primeiros imigrantes de São Bento do Sul, ali chegados em 1876, todos descendentes de Georg Neppl, um madeireiro endinheirado que decidiu emigrar ao Brasil” (Fernando Tokarski, historiador catarinense).

    Ao chegar, Neppel recebeu de Jeca Silvério uma casa, pela qual passaria a pagar aluguel prestando serviços como sapateiro.

    Logo a sapataria atraiu as atenções gerais da vila e das colônias próximas e com os resultados de seu negócio, dois anos depois já adquiria terrenos na Rua Osvaldo Cruz – uma pequena chácara –, onde passou a residir.

    Neppel logo se destacou na comunidade e de 1943 a 1947, na vigência do Território Federal do Iguaçu, foi o primeiro Juiz de Paz de Cascavel, nomeado pelo juiz da Comarca de Foz do Iguaçu. Morreu em 1960.

     

    Informação chegava a cavalo

    As informações em 1939 não eram tão imediatas, mas o telégrafo e o rádio faziam as notícias chegar aos lugares servidos de redes e emissoras. As notícias da guerra alcançavam carroças em trânsito rumo ao Oeste pelos cavaleiros que viajavam sem cargas e os ultrapassavam na marcha à fronteira, como os estafetas que a cada quinze dias levavam correspondências aos oestinos.

    Distante da guerra, o Governo do Paraná decidiu centrar esforços na colonização das áreas devolutas que faziam parte das antigas concessões do Império, embora, como se verificaria mais tarde, essas terras na verdade pertencessem ao patrimônio da União, onde esta ação não estava autorizada pela ditadura do Estado Novo.

    O objetivo era colonizar o Oeste, estimulando as atividades das empresas colonizadoras que hoje estão presentes na origem de praticamente a totalidade dos municípios do Oeste e do Norte do Estado.

    Uma descrição da origem das vilas do Oeste em 1939 apontava que Foz do Iguaçu já era uma comunidade quando os militares chegaram, em 1889.

    Os portos estabelecidos no Rio Paraná foram criados na segunda metade do século XIX para as atividades das obrages argentinas.

    Cascavel veio do cruzamento de trilhas tropeiras/ervateiras onde o patriarca José Silvério de Oliveira se estabeleceu em 28 de março de 1930.

    Fora disso, o Oeste era só uma imensa mata na qual a extração de erva-mate e madeira se repartia entre raros empreendimentos autorizados e o contrabando sem controle.

     

    O colono Kalichevski

    Por isso, no final da década de 1930 ainda era uma declaração ousada afirmar nesses tempos mundialmente conflituosos e de grave crise nacional que Cascavel teria um grande futuro.

    Mas foi o que disse o general Emílio Lúcio Esteves ao passar pela Encruzilhada de Cascavel quando se dirigiu em 1939 à Companhia Isolada de Foz do Iguaçu, segundo Alípio de Souza Leal.

    Antes da passagem do general Esteves, em abril de 1939 o colono Casemiro Kalichevski, partindo de Ponta Grossa, também atraído pela propaganda do Oeste, vinha com a família conduzindo uma carroça puxada por três cavalos (Jornal Gazeta do Iguaçu, junho de 1993).

    Ao chegar, disseram-lhe que o lugar se chamava Encruzilhada e muitos só passavam por ali e seguiam até o Rio Paraná, mas quem tivesse alguma habilidade especial que interessasse ao patriarca do local, Jeca Silvério, ganhava até casa para morar e terras para cultivar.

    Kalichevski não ficou porque seus pais, já desde 1937, estavam estabelecidos nos arredores da atual Santa Terezinha de Itaipu, para onde Casemiro foi levar a mudança da família em 1939.

    Sua família descobriu que havia terras de graça, mas as melhores, às margens das trilhas mais batidas, eram controladas por particulares e burocratas do Estado, que financiavam a compra.

    Saindo de Cascavel, Kalichevski demorou um mês para chegar ao destino, porque a Picada do Benjamim, entre Céu Azul e Matelândia, parecia impossível para a passagem de uma carroça carregada.

    “Por meados de 1939 quase ficamos isolados de Foz do Iguaçu em virtude da obstrução completa da Picada Benjamin. Ainda sob a orientação de Nhô Jeca e com a colaboração da municipalidade de Foz do Iguaçu mediante a aplicação de parcos recursos que aqui já arrecadávamos pôde ser restabelecido o trânsito” (Sandálio dos Santos, Memórias).

     

    Jogo liberado

    Na época, o prefeito de Foz do Iguaçu era o capitão Melquíades do Valle, que contou com a boa vontade do interventor Manuel Ribas para construir o Palácio das Cataratas, sede da Prefeitura, e usou bem uma vaquinha dos cascavelenses feita para consertar a Picada do Benjamin.

    Em troca, o capitão do Valle, que também fazia as vezes de delegado de polícia e tinha a responsabilidade de atender a um oitavo do território paranaense, determinou a abertura de uma agência telegráfica de primeira classe no distrito de Cascavel, no extremo-Leste do Município.

    O fim de década parecia trazer novos tempos, até porque a guerra que começava a infelicitar o mundo afetava positivamente os assuntos dos oestinos: a reconstrução requeria muita madeira. E a madeira barata estava no sertão do Brasil.

    Quando a empresa de aviação Pan Air ousou criar uma linha aérea que partiria de São Paulo rumo a Assunção, com pousos em Curitiba e Foz do Iguaçu, o Oeste finalmente se sentia como parte do Brasil. Até a revolução de 1930 era conhecida pelos viajantes como “terra dos paraguaios”.

    A linha da Pan Air serviu para apressar a construção do Hotel Cassino Iguassu, em obras que se arrastavam desde 1937. Era uma aposta firme no movimento aéreo conquistado, pela maior divulgação das atrações turísticas da região e pelo fator central que motivou o nome do hotel: a liberação das casas de jogo pelo presidente Getúlio Vargas.

    Iniciativa do governo do Paraná para estimular o turismo, o Hotel Cassino tinha água quente, água encanada, quarto com banheiro e até um minizoológico.

    Cascavel ainda era só um ponto de passagem nesse primeiro ano da II Guerra. Já tinha polícia, oferecia terras sem custos para quem viesse morar no local e era um “Patrimônio Municipal” apoiado pela Prefeitura de Foz do Iguaçu, mas não passava de um povoado com alguns poucos serviços a oferecer.

    Havia, entretanto, uma novidade: o contador Sandálio dos Santos chamou para si a tarefa de dar excelência à Casa Escolar, que ele também transformou em consultório médico e embrião de biblioteca.

    Lá ele atendia alunos e seus familiares consultando uma coleção de livros na qual se destacava O Conselheiro Médico do Lar, de Humberto O. Swartout, que o médico improvisado qualificava de “excelente”.

    Talvez seja exagero, mas é possível datar daí o primeiro passo do futuro polo médico de Cascavel.

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    (foto)

    Hotel Cassino Iguassu, o templo do jogo no Oeste paranaense. Nos destaques, o capitão Melquíades do Valle e o livro de medicina que tratava os cascavelenses

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Soldados prontos para repelir invasão platina

    Soldados prontos para repelir invasão platina

    Registra-se em 1938 uma grande expansão da indústria madeireira no Paraná. Prosperam cerca de 500 serrarias instaladas em todo o Estado e quase uma centena de fábricas de beneficiamento.

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    Em julho de 1938 termina a Guerra do Chaco, entre Paraguai e Bolívia, onde não se achou o petróleo esperado pelo apetite dos grandes interesses estrangeiros.

    Mas em 22 de janeiro de 1939 jorra petróleo pela primeira vez no Brasil, no poço de Lobato (BA), e as atenções agora vão se concentrar no Brasil.

    Tais interesses não precisarão de mais essa guerra, até porque outra já existia e era mundial. Importava-lhes era domar a ditadura nacionalista brasileira e dominar o País, como sempre havia sido desde o Brasil Colônia.

    É um período de organização das bases econômicas do País que, para o bem ou para o mal, será favorecido pela progressão e continuidade do conflito internacional. Para o mal, o mundo em ruínas. Para o bem, o reinício da democracia. 

    A profecia do general Esteves

    Um dos heróis da Guerra do Chaco, o marechal José Félix Estigarribia (1888–1940), assumiu a presidência do Paraguai em agosto de 1939 e sugeriu entendimentos entre seu governo e o brasileiro, com mediação dos EUA, para que seu país pudesse ter uma saída marítima para o Atlântico.

    Ele se torna o pai do atual corredor de exportações via BR-277 ao manifestar seu “deseo vehemente de encontrar salida a la costa atlântica, afim de que el país cuente com dos avenidas para sus contactos e sus comunicaciones com el mundo” (Oscar Ramos Pereira, Rodovias Paranaenses Construídas Pelo Exército). 

    O general Emílio Lúcio Esteves havia tentado, sem sucesso, impedir que a coluna revolucionária gaúcha comandada por Luiz Carlos Prestes chegasse ao Paraná, em 1925.

    Grande conhecedor do território, ele viaja em 1939 rumo à Companhia Isolada de Foz do Iguaçu quando, ao passar pela Encruzilhada dos Gomes/Aparecida dos Portos/Cascavel, avalia que esse então remoto povoado localizado no entroncamento de trilhas ervateiras formado no final do século XIX será no futuro um grande centro regional (Alípio de Souza Leal, Rudimentos Históricos).

    O Oeste e a II Guerra

    Com a II Guerra Mundial já em seus primeiros movimentos, às 4h da madrugada de 4 de outubro de 1939, quarta-feira, a guarnição militar de Foz do Iguaçu recebe ordens do Rio de Janeiro para ficar em estado de alerta.

    Os soldados sofrem um dia inteiro de tensão, imaginando que as ordens se referiam a uma possível movimentação de tropas argentinas pretendendo invadir o Brasil, mas logo saberão que se trata de uma guerra ainda circunscrita à Europa.

    De resto, a função da Companhia do Exército em Foz do Iguaçu era justamente ficar de sobreaviso em relação a qualquer agitação militar ou civil eventualmente identificada na região da tríplice fronteira.

    A II Guerra Mundial, desde o princípio, voltou a influenciar negativamente o processo de colonização na faixa de fronteira do Oeste paranaense, mas o governo do Estado prosseguia em seu plano de oferecer facilidades e estimular as companhias colonizadoras a levar adiante projetos de ocupação, povoamento e exploração econômica do interior.

     Terra: de graça para ocupar, cara para comprar

    Mesmo sendo interventor com a chancela do ditador Vargas, Manuel Ribas tinha uma oposição poderosa. Não entre os pobres sertanejos, que se sentiam à vontade para ocupar áreas inexploradas de centenários latifúndios, mas entre os novos coronéis da terra, vindos de São Paulo e da Inglaterra.

    Quando Ribas determinou ao capitão Telmo Ribeiro a abertura de uma estrada ligando a Fazenda Velha Brasileira, atual Paranavaí, ao restante do Paraná, o dirigente da Companhia de Terras Norte do Paraná, o inglês Arthur Huge Miller Thomas, que colonizava as regiões de Maringá e Londrina, sentiu-se ameaçado e tentou interferir.

    A iniciativa do governo em abrir uma nova via que daria à Velha Brasileira acesso a outras cidades do Paraná visava diminuir a influência paulista, pois até então a única estrada que chegava até a colônia começava em Presidente Prudente, no Oeste Paulista. Porém, quando soube da ordem de Manuel Ribas, o colonizador inglês Arthur Thomas viajou para Curitiba para tentar convencer o interventor a mudar de ideia” (David Arioch).

    Jagunços: até Telêmaco Borba foi um

    O empresário inglês argumentou que a Fazenda Brasileira prejudicaria seus negócios, já que havia feito elevados investimentos em infraestrutura na região do Norte Novo. A empresa britânica vendia lotes a preços altos para maximizar seus lucros.

    Thomas não se conformava com a ampliação de uma estrada até Paranavaí, onde o governo do Estado vendia terras a preços baixos ou simplesmente os entregava aos necessitados.

    O capitão Telmo Ribeiro, por sua vez, é emblemático de um tipo de pioneiro rude, que fez história como desbravador e foi acusado de arbitrariedades, como também o misto de agente policial e jagunço Marins Belo em Cascavel e o célebre Telêmaco Borba, acusado de assassinatos com motivações políticas. 

    Em março de 1939 as tropas nazistas invadem Praga, anexam a Boêmia e submetem toda a Tchecoslováquia à sua “proteção”.

    Em 1˚ de setembro, quando as forças nazistas penetram nas fronteiras polonesas, o ditador Vargas é instado a definir a posição do Brasil frente a essas continuadas agressões.

    No dia seguinte, porém, Vargas declara que o Brasil ficará neutro. A 3 de setembro, Inglaterra e França rumam em sentido oposto: declaram guerra à Alemanha.

     Sertanejos satisfeitos, ingleses descontentes

    Muitos estrangeiros foragidos das perseguições da II Guerra começam a chegar ao Paraná e tomam conhecimento das terras de graça para colonos pobres com vontade de trabalhar.

    Para os ingleses de Mr. Thomas, essa generosidade com os sertanejos paranaenses e pobres imigrantes ameaçava o desenvolvimento do Norte Pioneiro e parte do Norte Novo. Ou seja, atrapalhava seus negócios com a terra.

    Arthur Miller Thomas e a Companhia Norte do Paraná só vendiam terras a quem pagasse em dinheiro, mas o governo facilitava qualquer espécie de transação. Os ingleses temiam um êxodo de colonos atraídos para as terras devolutas do Centro-Oeste.

    Como a abertura de rodovias andava mais rápido que a implantação da via férrea, as novas estradas facilitariam a exploração das terras devolutas, oferecidas aos despossuídos pelo governo de Manuel Ribas.

    Thomas não conseguiu dobrar o teimoso Ribas. Em tempos de nacionalismo, as pressões de estrangeiros não eram bem-vindas. Ao contrário, o governo proibiu a comercialização de terras para estrangeiros na região da fronteira alegando motivos de segurança nacional, “sendo, em consequência, nacionalizadas várias companhias” (Cecília Westphalen). 

    O capitão Ribeiro continuou avançando em suas empreitadas de construção de estradas e ainda em 1939 o interventor Manuel Ribas inaugurava a Estrada do Cerne, que orgulhosamente apresentava como “a maior rodovia de todos os tempos”.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Ditadura não gostava do nome “Cascavel”

    Ditadura não gostava do nome “Cascavel”

    A extensão da faixa de fronteira para 150 quilômetros foi um grande golpe dado no Paraná pelo governo ditatorial de Getúlio Vargas.

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    “Até 1937, quando instalou-se como ditador no chamado Estado Novo, Getúlio contemporizou com as elites políticas paranaenses. Receava magoá-las, precisava ainda de seu apoio. Naquele ano, todavia, viu-se suficientemente forte para fazer inserir o artigo 165 na Constituição Federal, o qual criava uma faixa de fronteira de 150 quilômetros de largura” (José Augusto Colodel, Cinco Séculos de História).

    A “faixa de fronteira” será imposta como um território federal dentro do Estado. O governo paranaense não pode mais planejar, agir ou promover investimentos ali sem autorização do Governo Federal.

    Se já havia a sempre repetida alegação de que o governo do Paraná “esqueceu” o interior, o que já não era verdade pelo menos desde 1905*, o Paraná não teve como levar adiante seus projetos de colonização induzida porque foi impedido de administrar a fronteira.

    Na capital federal, o Rio de Janeiro, já era tramado o próximo passo do projeto de tirar do Paraná a faixa de fronteira, não apenas limitando a jurisdição estadual mas confiscando parte de sua área.

    *Ano da expedição do engenheiro Arthur Martins Franco à fronteira, para medir as obrages

    Soldado brasileiro, filhos paraguaios

    Em missão no Oeste paranaense, o tenente-coronel José de Lima Figueiredo reforçou a tese de que o Paraná abandonou a região: “Escolhemos parar na obraje* Sete de Setembro, do senhor Eugênio Caferata, argentino. O senhor Caferata trabalha com 120 homens, sendo 82 paraguaios e 38 argentinos. O único brasileiro existente neste recanto do nosso Brasil é um soldado de polícia ali destacado, que, aliás, é casado com uma paraguaia e seus filhos falam… o guarani”.

    Contemplando o projeto de ocupação da faixa de fronteira, o Plano Rodoviário do Departamento Nacional de Estradas e Rodagem vem a calhar para a expectativa dos colonos de que os caminhos com maior trânsito de carroça e caminhões serão melhorados.

    Elaborado em 1937, o plano conduz à criação do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem no ano seguinte e ao Programa Rodoviário Marcha para o Oeste em 1941. Na fronteira, uma conquista concreta é a inauguração da linha internacional Rio de Janeiro-Assunção-Buenos Aires, pela Pan American Airways, com voos semanais a Foz do Iguaçu.

    Fora da faixa de fronteira, a linha férrea alcança Apucarana em 1937, já se aproximando do centro do Paraná, em mais uma etapa de estruturação da economia regional.

    Nessa época, o café ainda ocupa o segundo lugar no volume transportado pelos trilhos, perdendo para o milho. Em menos de uma década, porém, vai assumir a primeira posição. De resto, as exportações no Brasil estão em declínio, mas as do Paraná aumentam.

    *Obraje: grafia espanhola

    Catanduvas, uma tentativa

    Nesse período politicamente conturbado também no Paraná, em clima de confronto entre fascistas e antifascistas, o governo do Paraná procura levar a administração para além dos limites da faixa de fronteira, em cuja área está proibido de interferir.

    Em 31 de março de 1938, o decreto-lei estadual 6.667 cria o distrito de Rocinha (atualmente sede municipal de Catanduvas), pertencente a Guarapuava. Com isso, o governo do Estado ousa estimular projetos de colonização nas regiões Oeste e Sudoeste, mesmo com o risco de “invadir” a faixa de fronteira, mas recebe uma ducha de água fria:

    “É pensamento de S. Exa., o presidente da República, criar em breve, em regiões fronteiriças alguns territórios federais, entre os quais figurará o Território Federal do Iguaçu. Daí não ser conveniente, fazerem-se desde já, até mesmo a brasileiros, qualquer alienação de concessão de terras nessa região. Cada Território Federal, será governado por um oficial do exército ou da marinha, que terá atribuição para regular a utilização das terras devolutas e promover o povoamento e localização de colonos, de modo a atender aos interesses nacionais” (Relatório do Departamento de Terras e Colonização de 1938, apresentado por Antônio Baptista Ribas).

    Hitler afia as garras

    Em tempos de ditadura, enfim, predomina o supremo “pensamento” do Führer: em março de 1938, Hitler anexa a Áustria ao território da Alemanha. É o chamado Anschluss (anexação).

    Em todo o mundo há reações negativas à expansão do domínio nazista. Os alemães que aderem ao nazismo e o propagam no Brasil, com a conivência do governo fascista, são francamente hostilizados pelo povo. A embaixada alemã até se queixa das “perseguições” que os nazistas sofrem no Brasil.

    Há muita insatisfação no País com a ditadura. Os integralistas, que antes favoreceram a implantação do regime, já se mostram descontentes com a falta de poder aos seus líderes. Assim, rompem com o governo e armam uma operação militar com o propósito de invadir a residência oficial, capturar o ditador Vargas e tomar o Poder.

    Galinhas-verdes atacam

    O ataque é desfechado na madrugada do dia 11 de maio de 1938, num grande fiasco, selando o fracasso definitivo dos integralistas, popularmente conhecidos como “galinhas-verdes”.

    Com Hitler mais poderoso na Europa e Vargas mais poderoso no Brasil, o Paraná, impedido de atuar na faixa de fronteira, concentra esforços na estrutura do desenvolvimento da região Norte do Estado.

    O primeiro trem chega a Arapongas e, nos limites da faixa de fronteira, Rocinha recebe em 20 de outubro de 1938 o nome de Catanduvas.

    O decreto-lei estadual 7.573 também cria o distrito administrativo de Cascavel, pertencente ao Município de Foz do Iguaçu. É até onde o Estado tem permissão para alcançar. A população chama o lugar de Encruzilhada e Aparecida dos Portos, mas o Estado descarta esses “batismos” populares.

    Por sua vez, a ditadura não aprecia o nome Cascavel, que logo será mudado para Guairacá e só vai se consagrar definitivamente em 1951, com a criação do Município.

    Esqueceram as margens do Paraná

    Em outubro de 1938, o engenheiro carioca Theophilo de Andrade percorre a fronteira Brasil-Paraguai, margeando o Rio Paraná. Missão: fazer um estudo para a implantação de um ramal ferroviário cruzando o Paraná rumo ao pantanal mato-grossense.

    Ele pretendia a integração do Oeste brasileiro pelos trilhos, “e averiguar a viabilidade de uso do rio Paraná, acima e abaixo das Sete Quedas, como rota da Marcha para o Oeste via navegação” (Antonio Marcos Myskiw, A Fronteira como Destino de Viagem: A Colônia Militar de Foz do Iguaçu [1876-1907]).

    Para o desolado engenheiro Andrade, o projeto não poderia avançar porque suas ideias esbarraram numa imposição geográfica. Constata que o Rio Paraná não tem margens: tem barrancas.

    “Este fato, preliminarmente fixado, quase tira ao rio importância agrícola. Não serve de elemento de fecundação do solo, mas somente de via de comunicação e de escoamento, para as terras que atravessa” (Theophilo de Andrade, O rio Paraná no roteiro da marcha para o oeste).

    Fonte: Fonte não encontrada

  • O Paraná se constrói ao Norte e Oeste

    O Paraná se constrói ao Norte e Oeste

    Com a chegada do trem a Nova Dantzig (Cambé) e em seguida a Rolândia, em 1936, mais dois passos importantes são dados para a colonização do Norte. Os colonos já começam a povoar o centro do Paraná. Partindo do Leste para o Oeste, eles avançam de Guarapuava para o Noroeste e para o Sudoeste.

     PRINCIPAIS NOTÍCIAS PELO WHATS. ENTRE NO GRUPO

    Por iniciativa da Prefeitura de Foz do Iguaçu, organiza-se ao comando de Jeca Silvério a vila de Cascavel. É o Paraná que se estrutura com o trem avançando a partir de Ourinhos na formação do Norte Novo e a expansão das colônias do Sul e Sudoeste.

    Com mais gente em busca das terras propícias à produção agrícola e havendo enormes latifúndios não explorados em posse das velhas oligarquias estaduais que enriqueceram no Império e na Primeira República, uma expressão começa a se incorporar aos discursos e às preocupações dos planejadores: reforma agrária.

    Tema sempre explosivo, ela encontra no governador Manuel Ribas um importante defensor: “Talvez seja esse programa – tornar cada brasileiro do sertão um proprietário rural – um dos melhores elementos de combate às ideias e campanhas subversivas à ordem social e política da nossa pátria”.

    Ribas, com habilidade, defende a tese de que a pregação comunista por uma rebelião rural seria silenciada se o poder público concedesse a generosa oportunidade de que toda família de sertanejo fosse dona de um pedaço de terra.

    As boas intenções de Ribas esbarram, porém, em obstáculos fortíssimos, a começar pela resistência dos latifundiários a se desfazer das terras que usam como estoque de riqueza.

    Sabotando o desenvolvimento

    Os grandes proprietários de terras se contentam em deixar a erva-mate brotar, derrubar árvores e criar algum gado, porque já é fácil trazê-lo do Mato Grosso. Na agricultura, evitam lavouras além do café.

    O milho é produzido sobretudo para combiná-lo com a suinocultura – o safrismo. A estrutura de escoamento é sofrível e eles não possuem capitais suficientes para aplicar na exploração agrícola nem mão-de-obra, além da familiar, que aceite ser assalariada em regime de semiescravidão.

    Os posseiros rejeitam trabalhar nos latifúndios apenas por teto e comida, como escravos. Têm notícia de que o governador quer que todos tenham terra e trabalhem. A boa nova se espalha e eles marcham para ocupar as melhores terras.

    Com os migrantes apoiados pelo Estado, os grandes proprietários não têm para quem vender as terras a preços de mercado de modo a fazer capital e colocá-lo a serviço de seus empreendimentos. Os sertanejos preferem tomar terras do Estado e trabalhar para si mesmos, utilizando a mão-de-obra familiar.

    Estímulo concreto à colonização

    Favorecendo a migração ao interior, em 1936 “o governo isentou de impostos a bagagem, móveis, utensílios, veículos e animais dos colonos que procuravam se fixar nas regiões rurais do Estado” (Ana Yara Dania Paulino Lopes, Pioneiros do Capital: A Colonização do Norte Novo do Paraná).

    Ribas simpatizava com a ideia de distribuir terras aos sertanejos, portanto, mas tinha ordens de reprimir os comunistas, que pregavam o mesmo. Para combatê-los, o governador cria, em 5 de março de 1937, a Delegacia de Ordem Política Social, polícia política instituída com a lei 177.

    O mundo fervilha. Em 26 de abril de 1937, em plena Guerra Civil Espanhola, a aviação aérea nazista bombardeia Guernica, provocando um horrendo massacre que só teria depois paralelo na explosão das bombas atômicas pelos EUA no Japão.

    Este, por sua vez, em 7 de julho invade a China, recebendo em troca a resistência de uma guerrilha que se transforma em Guerra de Libertação Nacional. Desenha-se o contorno de uma II Guerra Mundial.

    Transporte: da terra ao céu

    O Paraná atrai nessa época uma importante leva de colonos eslavos que ou chegam de uma Europa conturbada ou aproveitam as facilidades concedidas pelo governo Ribas para se transferir das regiões escarpadas de Santa Catarina para as terras planas do Paraná.

    Os migrantes se entusiasmam com as terras mas se queixam da precariedade das estradas, impedindo o transporte de cargas mais pesadas. Os agentes dos Correios também reclamam. Mesmo com a estrada periclitante, já havia em serviço, além dos estafetas a cavalo, uma jardineira – micro-ônibus que se deslocava da fronteira até a capital.

    Para compensar as demoradas viagens do serviço postal por terra, o Correio Aéreo Nacional em agosto de 1937 começa uma escala de voos que integra até a diminuta vila de “Encruzilhada de Aparecida dos Portos de Cascavel”:

    “O CAN realiza no Paraná um percurso que se inicia em Curitiba, seguindo por Prudentópolis, Cascavel, Foz do Iguaçu e Guaíra, penetrando no Mato Grosso. Nas tardes de quarta-feira, a preocupação de toda a pequena população do povoado é presenciar o pouso do monomotor da Aeronáutica” (Carlos e Alceu A. Sperança, Pequena História de Cascavel e do Oeste).

    Começa o Estado Novo

    Somando-se à ofensiva nazista na Europa e à expansão do militarismo japonês na Ásia, em novembro de 1937 o Brasil também ingressa na era do predomínio fascista.

    Getúlio Vargas rasga a Constituição que ele próprio elaborou em 1934 e desfecha um golpe de Estado com o apoio das elites econômicas que viam com simpatia seu controle rígido sobre os trabalhadores.

    Por força da Carta Magna, Vargas teria que deixar o poder em 1938. Com o apoio dos integralistas, forja-se o Plano Cohen, com base em documento grosseiramente falsificado pelo capitão Mourão Filho, responsável depois também por começar a ditadura do 1º de abril de 1964.

    Divulgado à nação para semear o medo em torno de um perigo inexistente, o “Plano Cohen” serviu de pretexto para Vargas convencer o Congresso a liquidar a Constituição e os poucos direitos que ela concedia.

    Depois de impor o Estado de Sítio em todo o País, Vargas fechou o próprio Congresso Nacional e elaborou uma nova Constituição, de inspiração fascista e imposta por sua autoridade pessoal.

    Com o golpe, Manoel Ribas, acusado de simpatia com os comunistas por apoiar a entrega de terras aos sertanejos paranaenses, deixa de ser governador em 10 de dezembro de 1937, mas como é fiel a Vargas volta a ser designado como interventor.

    Bandeira já queimada

    O novamente interventor Manoel Ribas foi poupado, em 1937, de engolir um dos absurdos impostos pela ditadura fascista de Getúlio Vargas: a queima das bandeiras estaduais em praça pública.

    O regime instaurado em 1937, batizado de “Estado Novo”, embora nada tivesse de novidade, recuperava os maus costumes autoritários do Império e da Velha República e exigia apenas uma bandeira nacional, banindo as estaduais.

    O Paraná é o único Estado a escapar dessa humilhação porque o ex-governador Caetano Munhoz da Rocha havia decretado já em 1923 a extinção da bandeira paranaense, que só voltará a tremular nos prédios públicos e escolas com a redemocratização do País, em 1947.

    Todos os direitos e garantias individuais são suspensos. No livro Falta Alguém em Nuremberg, David Nasser elenca as formas de torturas praticadas: esmagamento de testículos com alicates, extração de unhas e dentes, queima de seios com cigarros, introdução de arame nos ouvidos, aquecimento de órgãos genitais com maçarico e outros maus-tratos cruéis.

    Além de já não ter mais bandeira, o Paraná estava ameaçado de perder território, como já havia acontecido na derrota para Santa Catarina no episódio do Contestado. Perderia justamente seu Oeste e o grande rio com seu nome.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Obsessão: levar o trem ao Rio Paraná

    Obsessão: levar o trem ao Rio Paraná

    Na metade da década de 1930, o Paraná apressa a recuperação das terras que havia cedido para frustrados projetos de colonização. Além de fornecer a concessão aos irmãos Matte, anula a doação de 300 hectares feita a Antônio Alves Almeida, no Norte do Estado, e reverte ao patrimônio público 240 mil hectares concedidos à colonizadora Meyer, Annes e Cia Ltda (antiga Petry, Meier & Azambuja), depois Companhia de Colonização Espéria junto ao Porto de Santa Helena.

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    O governo do Estado pretende nessa época uma ferrovia que, partindo de Guarapuava, teria como objetivo fazer o aproveitamento e posterior escoamento das riquezas do Terceiro Planalto.

    Entretanto, o ambicioso projeto paranaense de ligar por via férrea o Porto de Paranaguá, que acabara de ser concluído, e com a fronteira, passando pelo centro distribuidor de Guarapuava, foi atropelado por estudos feitos pela Inspetoria Federal das Estradas de Ferro.

    Com base neles, a União assumiu a Estrada de Ferro de Guarapuava, incorporada à Rede de Viação Paraná-Santa Catarina. O Estado do Paraná, dócil, baixou o decreto 967, de 23 de abril de 1934, “transferindo para a União, sem nenhum ônus, todo o acervo da estrada em construção” (Lando Rogério Kroetz, As Estradas de Ferro do Paraná 1880-1940).

     

    Norte avança, Oeste empaca

    O governo Federal homologou a transferência se comprometendo a concluir as obras e contratou a empresa Braco S.A. para a construção dessa estrada de ferro, que só alcançou Guarapuava em 1951 e jamais chegaria a Foz do Iguaçu.

    Ao Norte, a Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná transpunha o Rio Tibagi para estender seus trilhos até Londrina, Cambé, Rolândia, Arapongas e Apucarana.

    É pelos trilhos que chegam milhares de compradores de terras ao Norte do Paraná: em 1935, lotes da região de Londrina já terão sido adquiridos por 2.133 proprietários estrangeiros e 1.266 colonos brasileiros, segundo relatório da Companhia de Terras do Estado.

    A nova Constituição ampliou para 100 km o limite da Faixa de Fronteira, afastando o governo do Paraná das principais atividades que desenvolvia para induzir a ocupação do extremo-Oeste.

    Com isso, avançava ainda mais o projeto de retirar dos estados do Paraná e Santa Catarina suas porções oestinas. Mesmo assim, é o governo do Estado que envia à fronteira o primeiro médico de Foz do Iguaçu.

    Dirceu Lopes pagava com a montagem de um posto de saúde em Foz do Iguaçu o crédito que recebeu por um ano de estudos na Universidade do Paraná.

     

    Paraná, um pigmeu agrícola

    Manuel Ribas deixa de ser interventor em janeiro de 1935 para ser oficializado como governador do Paraná. A partir de agora o Paraná nunca mais terá um presidente, como nos tempos imperiais e na República Velha.

    O já governador Ribas, no entanto, voltará a ser interventor quando Vargas golpear novamente os próprios compromissos e implantar uma ditadura sem máscaras, em 1937.

    Ribas assumiu, com a lei 46, de 10 de dezembro de 1935, a tarefa de promover a colonização com “proprietários rurais, cidadãos brasileiros reconhecidamente pobres que revelem aptidão para os trabalhos agrícolas”.

    A lei pretendia privilegiar os interessados que já viviam no Paraná, mas o governo federal queria espaços para a penetração de colonos vindos do Sul.

    “As empresas particulares, principalmente aquelas organizadas no Rio Grande do Sul, ficaram incumbidas de colonizar tendo como elemento humano os descendentes de imigrantes que estavam se deslocando da região colonial do Rio Grande do Sul e Oeste de Santa Catarina para as regiões Sudoeste e Oeste paranaense” (Antonio Marcos Myskiw, Titulação de terras no Oeste Paranaense: Uma análise documental).

    A pauta básica de exportações paranaenses se limita à erva-mate, café e madeira. É, porém, uma produção irrisória: em 1935, toda a safra paranaense de café não chega a meio por cento da produção nacional. O Paraná estava ainda longe de ser um “celeiro” para o Brasil.

     

    Ribas apoia formação de Cascavel

    O projeto de povoamento do Médio-Oeste avança em 16 de abril 1936, quando o governador Manuel Ribas expede o título de domínio pleno das terras do primeiro perímetro urbano de Cascavel.

    Em favor de Foz do Iguaçu, o título abrangia uma área de 1.001 hectares. Surgia o Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos de Cascavel, nome quilométrico pelo qual o governador tentava harmonizar os religiosos e os políticos do lugar, empenhados numa queda de braço para definir o nome da cidade.

    Foz do Iguaçu, na época, tem cinco edifícios federais, dois estaduais e 244 particulares, com uma população de 1.500 habitantes na sede e 6 mil no município, abrangendo de Guaíra a Cascavel. Toledo só começaria a se formar dez anos depois.

    A frota de veículos de Foz do Iguaçu é constituída por nove automóveis, 19 caminhões e 206 carroças com quatro rodas feitas de tocos secos de madeira. Há seis ferrarias, uma das quais em Guaíra, que presta serviços ao transporte com carroças, cavalos e bois.

     

    Assim era o Oeste nos anos 1930

    A indústria fronteiriça é composta por seis serrarias, uma fundição localizada no distrito de Guaíra, quatro fábricas de rapadura, nove engenhos de aguardente, uma fábrica de móveis, duas de gelo, duas de beneficiar arroz e duas olarias, uma delas em Guaíra.

    Há três usinas de eletricidade – na sede, em Guaíra e Porto Mendes. São sete carpintarias, duas delas em Guaíra.

    Um estaleiro completo constrói pequenas lanchas e embarcações miúdas. A navegação fluvial continua a ser controlada por estrangeiros: as companhias argentinas Milvanovich e Nuñes fazem despachos semanais.

    O vasto Município de Foz do Iguaçu tem ainda dois grupos escolares, um deles em Guaíra, e seis escolas estaduais isoladas, uma das quais em Cascavel .

    Esse retrato da fronteira em meados da década de 1930 se completa com anotações sobre o rebanho regional: lanígero, cem cabeças; caprino, trinta; equino, 250; cavalar, 400; suíno, 2 mil; bovino, 1.500.

    O Paraná se molda na força dos imigrantes e sertanejos, pelo braço do paraguaio das obrages, dos paulistas e mineiros que chegam pelo trem, dos catarinenses e gaúchos que se deslocam em carroças, cavalos e por embarcações argentinas no Rio Paraná.

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  • Estado do Iguaçu compensaria os paranaenses

    Estado do Iguaçu compensaria os paranaenses

    O governo autointitulado “provisório” de Getúlio Vargas tinha interesse em abrir novas fronteiras agrícolas para os colonos do Rio Grande do Sul, derivando dessa intenção a proposta de criar um território federal englobando as regiões ocidentais de Paraná e Santa Catarina.

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    “(…) o objetivo do grupo que controlava o governo federal, chefiado pelo gaúcho Getúlio Vargas, era subtrair do controle desses estados a sua parte Oeste, para que melhor se atendesse aos interesses dos capitalistas e em consequência das companhias colonizadoras gaúchas” (Ruy Christóvam Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).

    Em 28 de outubro de 1932, Mário Augusto Teixeira de Freitas (1890-1956), diretor geral de Informações, Estatística e Divulgação do Ministério da Educação e Saúde Pública, faz no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro uma conferência intitulada O Reajustamento Territorial do Quadro Político do Brasil, em que propunha fundir estados com superfícies reduzidas.

    Tido como um dos maiores sábios brasileiros, Teixeira de Freitas pretendia juntar Paraná e Santa Catarina num Estado só.

    Paraná: o rio ou o Marquês?

    A nova unidade da Federação seria o Estado do Iguaçu, proposta que já havia sido feita por Sud Menucci em 1930. Segundo o modelo de Teixeira de Freitas, o Estado do Iguaçu surgiria amplo e forte, superando completamente as revoltas e o rancor que ficaram ao perder para SC a região do Contestado.

    Seria a extinção do sentimento de perda que o Paraná alimentava desde que na demanda vencida por Santa Catarina ficou sem seu então Sudoeste – a atual região Oeste de Santa Catarina.

    Ao contrário, porém, o avanço da proposta de gauchizar o Oeste paranaense levou ao projeto de criação de um Território Federal, medida inaceitável para Curitiba, pois tiraria ainda mais área do Paraná.

    Significava aumentar o trauma da derrota. O Paraná perderia até a referência do grande rio que muitos supõem ser a origem do nome do Estado. Na verdade, o nome do Estado foi uma homenagem ao Marquês do Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão (1801–1856), que uniu o país em um raro governo de sucesso e forçou a criação do Estado, que SP boicotava.

    O embrião do nazismo

    O ano de 1933 começou em clima sombrio no plano mundial. Adolf Hitler se torna primeiro-ministro da Alemanha e em todo o mundo há uma reação negativa à ascensão no nazismo.

    Era preciso impedir que a pregação populista contaminasse as demais nações europeias e vingasse nas Américas.

    O incêndio do Reichstag (parlamento alemão), em 27 de fevereiro, sinaliza o que virá pela frente. O crime, ordenado pelo nazista Goering, é imputado aos comunistas, que são presos aos milhares.

    No Brasil abalado pela crise mundial, o ano será marcado pela criação do Instituto Brasileiro do Café (IBC), que estabelece rígido controle sobre o mercado da rubiácea.

    Acreditava-se que a solução viria da eleição, em 3 de maio, da Assembleia Nacional Constituinte. Apesar de ter deputados escolhidos por apenas 5,7% da população adulta, a Constituinte deu ocasião para que a primeira mulher (Carlota de Queirós) e o primeiro trabalhador (Álvaro Ventura) chegassem ao Congresso Nacional.

    O drama do café

    O preço do café encalhado em 1933 estava reduzido a cerca de um terço do que era em 1928. Por conta da crise, Vargas proibiu o plantio de novas mudas de café durante três anos e ordenou a queima de milhões de sacas estocadas em depósitos do governo.

    As medidas de controle rigoroso não se limitaram apenas ao café. A Comissão de Defesa da Produção do Açúcar, criada em 1931, é transformada em 1933 no Instituto do Açúcar e do Álcool. O pinho, o mate, o sal e a borracha são submetidos a controle oficial com a imposição de novos mecanismos burocráticos.

    Em desespero, os aventureiros partiam para conquistar terras nas áreas já sem índios. Em 1932, com a melhoria dos caminhos, já era possível viajar entre Guarapuava e Foz do Iguaçu em “apenas” um mês.

    Foi justamente nesse ano que se deu a segunda grande corrente da migração de colonos poloneses de Santa Catarina para o Oeste paranaense. Ocupando e produzindo em terras devolutas, em breve os carroções poloneses de oito animais levariam suínos e milho a Foz do Iguaçu e demais portos do Rio Paraná.

    Sob influência fascista

    Os colonos sugeriam que a viagem de um mês entre Guarapuava e o Rio Paraná poderia ser encurtada com trabalhos mais frequentes de conservação nos caminhos da colonização.

    Como a intenção do governo do Estado era povoar rapidamente o interior para evitar a vitória do projeto de entrega de partes do Paraná a empresários gaúchos, a melhoria dos caminhos ficou prioritária.

    Sob a nova Constituição, promulgada em 16 de julho de 1934, o Brasil sepultava de vez os propósitos da revolução de 1930, atrelando os sindicatos ao Estado, não permitindo o direito do voto aos analfabetos, cabos e soldados e criando brecha para a “eleição indireta” do presidente da República, mecanismo imposto para beneficiar Getúlio Vargas.

    É uma carta repleta de falhas, logo desmoralizada pela última rebelião tenentista, em 1935 – a chamada “Intentona Comunista”, liderada por Luiz Carlos Prestes. 

    Além disso, a nova Carta não resistirá ao ataque fascista de 1937, claro reflexo da ascensão de Adolf Hitler, que havia se declarado “führer” (líder) na Alemanha. A ditadura do Estado Novo teria matizes do fascismo europeu.

    Cascavel nos planos

    A Prefeitura de Foz do Iguaçu, no propósito de povoar seu vasto Município, conquistara junto ao governo do Estado a criação do Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos de Cascavel em 1936.

    Estava em seus planos concretizar o projeto do líder local, Jeca Silvério, de criar ali uma cidade.

    Um apelo empresarial enviado ao Ministério do Exército pede ajuda no sentido de que fosse construída uma boa rodovia no lugar do descuidado leito da Rodovia Estratégica.

    “A estrada que desta vai a Guarapuava está transformada em picada, deformada extraordinariamente pela ação do tempo. (…) Uma boa estrada de rodagem facilitará a exportação de mil e mil pinheiros, que os colonos, formando campos como os de Cascavel, derrubam para serem eliminados pelo fogo, causando assim enormes prejuízos para o Estado e para o município” (jornal Gazeta do Povo, 18 de junho de 1937).

    Ganhos com Carambeí e Londrina

    Em Foz do Iguaçu, nessa época, é também instalada a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado do Paraná, que havia sido criada ainda em 1924 por lei federal mas ficou engavetada.

    Desenha-se uma estrutura de reforço a Foz do Iguaçu e cresce o seu papel como responsável pelo desenvolvimento do Médio Oeste paranaense. Mesmo assim, o destino desse esforço será a derrota.

    O governo sob o comando de Manoel Ribas seguiu em 1934 o esforço do general Tourinho para apressar o povoamento do interior paranaense, mas só se arrastavam os estudos para criar uma estrutura turística autossustentável em Foz do Iguaçu.

    Menos mal que nos arredores de Carambeí começava a formação da Colônia Terra Nova, por imigrantes alemães, em Castro surgia a colônia Castrolândia e Londrina se tornava município.

    Democracia em perigo e fracasso no Oeste

    Os estudos sobre a viabilidade do turismo em Foz do Iguaçu não andavam, mas do outro lado da fronteira houve agilidade: os argentinos se anteciparam e abriram o Parque del Iguazu, ironizando a demora com que no Brasil as decisões eram tomadas e em seguida postas de lado.

    Havia acontecido o mesmo processo amarrado com as obras do Porto de Paranaguá. Paralisadas depois da tentativa do governador antoninense Caetano Munhoz da Rocha de compensar o desinteresse do governo federal pelo nosso litoral, na década de 1920, elas foram concluídas em 1934, assim como a ligação ferroviária entre Jaguariaíva e Curitiba, completada somente dez anos depois de iniciada.

    Com o autoritarismo chegando, as pressões populares não serão mais tão ouvidas e novos tempos sombrios vão liquidar a democracia no Brasil. Mas Cascavel, criada por getulistas e apenas começada, foi favorecida pelo alinhamento ao poder.

     

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  • Militares a dois dias da revolução

    Militares a dois dias da revolução

    Levando a missão de criar a Companhia Isolada do Exército, o capitão Edgard Buxbaun seguiu à frente de um destacamento com 200 integrantes, oito oficiais e diversos sargentos e cabos, chegando a Foz do Iguaçu em 7 de julho de 1932. Dois dias depois, a 9 de julho, forças militares sediadas em São Paulo se rebelavam contra o “governo provisório” de Getúlio Vargas, que havia deposto o presidente Washington Luís.

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    Agora as forças de Vargas é que são as “legalistas” e seus adversários, os constitucionalistas, assumem o papel de “revolucionários”.

    Buxbaun foi instruído para combater o contrabando, instalar uma estação radiotelegráfica e construir o aeroporto de Foz do Iguaçu. Seus comandados sentiram que foram isolados nos confins do Paraná para não reforçar os contingentes que se rebelavam pelo país.

    Para as autoridades paranaenses, a retomada dos objetivos da antiga Colônia Militar pela Companhia Isolada será uma ação adicional para afirmar a integração paranaense, iniciar a estruturação do futuro centro internacional de turismo e evitar assim a indesejável desagregação do território.

    No entanto, essas intenções em breve seriam frustradas. Os paranistas a partir daí puderam resistir ao máximo, retardando a derrota por onze anos, porque os getulistas tinham outros planos para a região.  

    A trajetória de um capitão

    A rigor, nem o governo Vargas era tão revolucionário quanto se dizia em 1930, nem a nova revolução constitucionalista merecia esse nome: sua proposta elementar não era mudar a estrutura de poder, que se transferia das oligarquias rurais para as elites industriais urbanas e sua florescente classe média.

    Sob a justificativa de lutar por uma nova Constituição para o Brasil, a principal intenção era, objetivamente, assegurar maior poder no contexto nacional ao Estado de São Paulo, que orgulhosamente se proclamava “A Locomotiva do Brasil”.

    Essa nova agitação em São Paulo, como já havia sido em 1924, também deixou em estado de alerta as forças militares legalistas e o governo paranaense.

    Considerando esse quadro, que história levava consigo para o “exílio” em Foz do Iguaçu o capitão Buxbaum? Nascido em 1896, o capitão chegava a Foz do Iguaçu com 36 anos e uma sólida fama de rebelde. Entrou no Exército em 1912, saindo aspirante a oficial da arma de infantaria pela Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 1918.

    Preso, mas cheio de méritos

    Em dezembro do mesmo ano foi promovido a segundo-tenente. Em 5 de julho de 1922 participou do fracassado levante tenentista da Vila Militar, que, articulado aos levantes do forte de Copacabana e da Escola Militar do Realengo, no Rio, e ainda à sublevação da guarnição de Mato Grosso, constituiu um protesto contra a eleição de Arthur Bernardes para a presidência da República e algumas punições impostas aos militares pelo presidente Epitácio Pessoa (1919–1922).

    A ação de seu grupo, comandada pelo segundo-tenente Frederico Buys, e na qual tomaram parte também os tenentes César Gonçalves e Artur da Costa e Silva – futuro presidente da República –, resultou na morte do capitão José Barbosa Monteiro.

    Apesar de preso em consequência da insurreição, Buxbaum em setembro de 1922 foi promovido a primeiro-tenente. Retornando às fileiras, alcançou em fevereiro de 1929 a patente de capitão e no mesmo ano concluiu o curso de aperfeiçoamento de oficiais.

    Cumprindo ordens

    Dez anos depois, em 15 de agosto de 1932, Buxbaum ordenava que os militares em serviço na Companhia Isolada em Foz do Iguaçu fossem para Guaíra, buscando evitar a repetição da derrota legalista de 1924, quando os rebeldes paulistas ocuparam o Oeste do Paraná com facilidade.

    Os verdadeiros revolucionários, ou seja, os tenentes que empolgaram parte da população com sua pregação liberalizante dez anos antes, chegavam à exaustão em 1932 com a derrota do “constitucionalismo”.

    Vários antigos revolucionários já haviam se acomodado na máquina de governo de Vargas e outros estavam foragidos no exterior, como Luiz Carlos Prestes. Ao ser indagado sobre como resolvera o problema dos tenentes rebeldes, o irônico Vargas respondeu: “Promovi-os a capitães”.

    A essa altura, não era por acaso que Buxbaum era capitão. A pá de cal no movimento constitucionalista se deu com a posterior conciliação, já que Vargas consentiu em votar uma nova Carta. A partir daí, o tenentismo que minguava em 1932 teria seus remanescentes liquidados em 1935.

    Os militares paranaenses retornaram ao quartel em 21 de outubro de 1932. Nunca mais o Paraná voltará a ser palco de combates decisivos para a vitória de qualquer grupo, governista ou rebelde.

    Líder nacionalista

    Quanto a Buxbaum, sem jamais perder o ardor revolucionário ele não ficou só no posto de capitão. Em dezembro de 1937 foi promovido a major e em setembro de 1943 a tenente-coronel. Foi de 1945 a 1949 comandante do 38º Batalhão de Infantaria, no Espírito Santo, e promovido a coronel. Em 1952 passou para a reserva, promovido a general de divisão.

    Aí foi para a política. Com outros militares da ala nacionalista do Exército, foi diretor da Liga de Emancipação Nacional (LEN), criada em abril de 1954 para defender as liberdades democráticas, a nacionalização das fontes de energia elétrica e da distribuição do petróleo, a reformulação da política cambial e fiscal, a promoção de uma reforma agrária e um desenvolvimento econômico independente do país.

    A LEN era uma organização formada por militantes comunistas e militares nacionalistas. Em abril de 1955, Buxbaum se tornava presidente-executivo da LEN, que dirigiu até sofrer forte perseguição e ser fechada por decreto do presidente Juscelino Kubitschek em 1956.

    O legado de Buxbaum

    Fundando então o Movimento Brasileiro dos Partidários da Paz, o general Buxbaum foi distinguido com o Prêmio Internacional da Paz e morreu em 13 de novembro de 1958.

    Sem cumprir suas missões, Edgard Buxbaum jamais teria fechado sua carreira militar no posto de general.

    No Oeste do Paraná ele fez história, pois ao sair de Foz do Iguaçu havia cumprido todas as missões das quais foi encarregado, dentre as quais a construção do vital aeroporto, em 1933, que em breve serviria ao Correio Aéreo Nacional. Também em 1933 foi instalada a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado.

    Nesse ano, em que o Estado passou o projeto de viabilizar a cidade de Cascavel à Prefeitura, Foz do Iguaçu teve três prefeitos.

    O primeiro foi Otto Trompczynski, um agrimensor com a preocupação de avançar a colonização. Depois, Antônio de Souza Mello Júnior, o comissário de terras encarregado de medir o que seria o Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos (Patrimônio Velho) de Cascavel.

    Por fim, Jorge Samways, que tinha parentes e propriedades em Cascavel. Visivelmente uma cidade começava a avançar no Médio-Oeste.

    CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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