Categoria: Alceu Sperança

  • O plano perfeito para o Oeste

    O plano perfeito para o Oeste

    A situação no Brasil em 1931 era de frustração com o governo que prometeu pôr fim à corrupção e empregar de forma eficiente os recursos nacionais. Havia protestos populares. No dia 17 de janeiro, a Marcha da Fome seria fortemente reprimida.

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    As organizações operárias não teriam vida fácil a partir de então. O governo faria de tudo para esmagá-las ou seduzi-las. A Lei da Sindicalização, editada em 19 de março de 1931, submete os sindicatos aos “delegados” do Ministério do Trabalho, que os controlam e proíbem “ideologias sectárias”. Comemorar o dia 1º de maio passa a ser crime e dá cadeia.

    O declínio nas exportações de café leva o governo a queimar o excedente estocado devido aos altos custos de armazenamento. A crise econômica ainda segue destruindo o esforço de milhares de brasileiros que trabalham no campo.

    Sob pressão, Getúlio Vargas procura controlar a insatisfação popular aceitando a exigência dos operários, que havia décadas reclamavam a jornada de 8 horas de trabalho na indústria.

    General sob pressão

    No Paraná, o general Mário Tourinho já é considerado um incômodo pelos novos controladores do poder, que pressionam fortemente para “gauchizar” as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná e Santa Catarina.

    Sob o comando do general Tourinho, o Paraná desapropriava as terras cedidas no regime anterior para projetos que não vingaram, mas com o decreto n˚ 800, de 8 de agosto de 1931, que depois viria a se estender com a lei 46, de 10 de dezembro de 1935, a determinação de vender essa terras (devolutas, ou devolvidas) para empresas particulares foi um passo à frente.

    “Desde então, funcionaram duas ações colonizatórias: a pública, sendo o Estado do Paraná o agente colonizador; e a privada, a cargo de empresas de colonização” (Antonio Marcos Myskiw, Colonos, Posseiros e Grileiros – Conflitos de terras no Oeste Paranaense [1961/66]). 

    Para avançar no processo de ocupação da área de sua abrangência, considerando que já existia a vila de Encruzilhada/Aparecida dos Portos desde março do ano anterior, em 1˚ de setembro de 1931 a administração municipal de Foz do Iguaçu pede ao governo do Estado a posse das terras da futura cidade de Cascavel.

    Planos não faltaram

    A União também fazia a sua parte: organiza o Departamento Nacional de Povoamento (DNP) e os ministérios da Viação e da Guerra criam a Comissão de Estradas de Rodagem Paraná-Santa Catarina.

    Na sequência do projeto de federalizar as áreas de fronteira, em 20 de outubro de 1931 o decreto 2.153 cria o Parque Nacional do Iguaçu, até então estadual, segundo proposta feita por Alberto Santos-Dumont (1873–1932).

    O transcorrer do ano de 1931 é desastroso para o general Mário Tourinho, acusado de perseguir os jornais oposicionistas e manter com seu irmão Plínio uma oligarquia familiar que controlava a administração pública. Tourinho não cede às pressões e sua situação à frente do governo se torna insustentável:

    “A partir de meados de 1931, aumentaram as denúncias contra o interventor, na maioria advindas de elementos vinculados à Legião Revolucionária Paranaense e ao Centro de Resistência Revolucionária do Paraná. Essas organizações notificaram o ministro da Justiça, Osvaldo Aranha, de que as residências de seus integrantes vinham sendo objeto de vigilância policial” (Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: 1930-1983, FGV/CPDOC).

    Tourinho sai de cena

    Antagonizado no Rio de Janeiro e dentro do próprio governo local, Tourinho deixa o poder em 29 de dezembro de 1931. Como jamais desejou ter governado, jamais retornará às atividades políticas.

    Quando o interventor Mário Tourinho caiu em desgraça por defender os interesses paranistas e não permitir perseguições, comuns nas trocas abruptas de governo, assumiu a administração do Paraná por um curto período outro representante de tradicional família araucariana – o professor curitibano João David Pernetta (1874-1933).

    Pernetta preparou, entre 29 de dezembro de 1931 e 30 de janeiro seguinte, a posse do novo interventor – Manoel Ribas (1873−1946). Parlamentar, ele exerceu por duas vezes essa tarefa de governador-tampão. A rigor, não governou, mas se notabilizou na cena federal por seu empenho na formulação das leis sociais e previdenciárias.

    Vargas foi habilidoso. Colocou no governo do Paraná um paranaense que lhe era fiel, já vivia há um bom tempo fora das Araucárias, em serviço no Rio Grande do Sul, e estava desligado das tramas curitibanas.

    Manoel Ribas, ainda jovem, foi para Santa Maria organizar uma cooperativa de ferroviários. Adaptou-se à região, ganhou prestígio e em 1927 se elegia prefeito, cargo que não perdeu com a revolução.

    Reconstruindo a Polícia

    Dar ao Paraná um excelente administrador nascido no próprio Estado foi a solução que Vargas encontrou para substituir o general Tourinho, um antoninense.

    A fórmula foi aceita: um político e empresário de sucesso, de origem paranaense e fiel ao novo regime, devolveria o equilíbrio perdido com o afastamento da oligarquia Camargo-Munhoz.

    Uma das primeiras iniciativas de Manoel Ribas foi reorganizar a estrutura de segurança pública do Paraná, onde a família Tourinho reinava absoluta. Com o decreto 1.505, de 25 de junho de 1932, criou a Força Pública do Estado, unindo o Corpo de Bombeiros e a Força Militar, que passa a se denominar Polícia Militar.

    Ribas sabia que o projeto de “invasão” gaúcha não era bem visto pelos paranaenses. Assim, uma solução apresentada pelo juiz Osório do Rosário Corrêa para fazer Foz do Iguaçu se tornar um fantástico centro continental de lazer – uma “Las Vegas” tropical – surgiu como a opção ideal.

    Capaz de fazer o mais remoto interior paranaense se integrar produtivamente ao conjunto do Estado, o plano de Osório Correa era magnífico: aposentava o projeto de tomar novos territórios dos paranaenses e determinava as fontes financeiras para a formação de um centro internacional de turismo, com cassinos, rede de hotéis de luxo e parques de diversões.

    O plano ideal

    Com todas as pontas amarradas, a partir de uma nova estrutura urbana montada por uma “prefeitura especial” para atuar em Foz do Iguaçu por um período de dez anos, o plano impunha a brasilidade na região que o relatório de Zeno Silva considerava abandonada e sob domínio estrangeiro.

    A prefeitura especial, controlada por paranaenses, concentraria toda a arrecadação municipal, estadual e federal exclusivamente para o desenvolvimento da estrutura prevista, além de empréstimos tomados ao Banco do Brasil a ser pagos com essa ampla tributação.

    O projeto de Osório Correa era tão amplo que previa a construção de uma cidade planejada, o saneamento da região com a eliminação das toscas taperas, a povoação por cidadãos brasileiros de iniciativa e o aprimoramento da educação pública para que as crianças não crescessem falando “portunhol”.

    A imprensa curitibana aplaudiu a proposta porque “tudo isso seria feito sem aqueles pruridos antipáticos de separação daquele território do todo paranaense” (jornal Gazeta do Povo, 30 de junho de 1932).

    Enquanto o projeto de nova “Las Vegas” encantava os curitibanos, pois evitaria a perda de território, parte para Foz do Iguaçu um destacamento de militares, sob o comando do capitão Edgard Buxbaun, que depois chegaria ao generalato. A “Las Vegas” do Iguaçu era paranista demais para vingar, mas os militares de Buxbaun cumpririam suas missões.

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  • Mäder criou Cascavel, mas foi cancelado

    Mäder criou Cascavel, mas foi cancelado

    Novamente pacificado após a vitória da revolução de 1930, ao menos quanto às ações militares, o país retomava seu ritmo normal, às voltas com a crise econômica e sofrendo com as deficiências estruturais do interior.

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    Fatos positivos foram a abertura, pela Marinha, de uma agência em Guaíra, acima das Sete Quedas, e o registro da Cooperativa Agrária de Consumo de Responsabilidade Ltda – A Liberdade, em Vera Guarani, município de Paulo Frontin –, como a primeira do gênero aceita pelo poder público.

    Um fator importante que permitiu ao general Mário Tourinho concretizar boa parte das medidas que determinou para o extremo-Oeste do Paraná foi ter nomeado para comandar a Prefeitura de Foz do Iguaçu, em março de 1931, o parnanguara Othon Mäder (1895–1974), ex-secretário de Terras do Estado, que tinha ótimo conhecimento sobre a região.

    Foi assim que o prefeito, por ação política, aceitou que uma cidade nascesse do nada: Cascavel. Mäder, também por ação política, seria no futuro ignorado na cidade que ele criou por ser adversário político de Moysés Lupion, que mandava em Cascavel nas décadas de 1940 e 1950.

    Para varrer Mäder da história, criou-se a lenda de que a cidade de Cascavel não começou em 1930, nas terras de Jeca Silvério, mas no Cascavel Velho, propriedade rural iniciada em setembro de 1922 em antigo pouso ervateiro da obrage Domingo Barthe, abandonado desde 1901.

    Para cancelar Othon Mäder de vez, a rua de Cascavel que tinha seu nome foi alterada em 1963 para “Rua Visconde de Guarapuava” por ação do PTB, partido adversário de Mäder, que o acusava de perseguir Getúlio Vargas e levá-lo ao suicídio. Medida justificável, porque pessoas vivas não podem ser nomes de logradouros públicos. Mäder morreu em 1974.

    Ferrovia, a prioridade inviável  

    Em 1930, a viagem de Guarapuava a Foz do Iguaçu, de carroça, demorava cerca de três meses, com a velocidade variando de acordo com o clima. O governo revolucionário assumiu o compromisso de construir rodovias e ferrovias que nem o Império nem a Primeira República deram conta.

    Em abril de 1931, as propriedades da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande foram incorporadas à Estrada de Ferro do Paraná, sepultando de vez sob uma grossa lápide de corrupção, tramoia e frustração o sonho de integrar o Oeste pelos trilhos.

    Desde pelo menos 1883 era prioridade no plano ferroviário do Império a ligação entre Ponta Grossa e o Paraguai, passando pela ainda inexistente Foz do Iguaçu. O plano era plantar trilhos entre Ponta Grossa e o Rio Iguaçu, margeando o Rio Jordão até sua foz no Iguaçu e a partir daí acompanhar o Iguaçu até sua foz no Rio Paraná.

    O plano foi feito sem nenhum estudo do território, que só começou a ser feito em 1889, com a criação da Colônia Militar do Iguaçu. Ignorando a imensidão de cursos de água às margens do Iguaçu, o projeto se arrastou sem sequência até sucumbir por inviabilidade.

    Jeca Silvério vira latifundiário

    Um mês após a chegada dos revolucionários ao governo do Paraná, em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas assume as funções de chefe do governo provisório. Nessa mesma data, Mário Tourinho cassa, com o decreto revolucionário nº 300, a concessão outorgada à Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) para a colonização de terras.

    Com a medida, Jeca Silvério deixou de ser arrendatário das terras da Encruzilhada dos Gomes, passando a proprietário. Surge assim o esboço de um projeto: criar uma futura cidade.

    Silvério passa a distribuir terrenos a familiares, empregados e viajantes a caminho dos portos do Rio Paraná ou de volta de entregas já feitas a clientes da fronteira.

    A nova legislação pretendia evitar o controle estrangeiro da região de fronteira. A lei 19.842, de 12 de dezembro de 1930, restringia o acesso e permanência de empresas estrangeiras e trabalhadores estrangeiros em território brasileiro.

    Exigia, dentre outras coisas, que as empresas tivessem, em seu quadro de funcionários, no mínimo 2/3 de funcionários brasileiros. Mas desestimulando os estrangeiros seria preciso estimular os brasileiros a ocupar os territórios liberados do controle externo.

    Apoio à colonização

    Também em dezembro de 1930 o governo do Paraná outorgava ao empresário Miguel Matte concessão para explorar madeira e erva-mate em vasta área de terras nas cercanias de Foz do Iguaçu. Dessa concessão brotariam várias das atuais cidades da chamada “Rota Oeste”, no trajeto Cascavel-Foz do Iguaçu.

    Em Aparecida dos Portos, como a futura Cascavel passou a ser chamada pelos religiosos, por iniciativa do prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Thiletzek, o projeto de formar a cidade avançou com a conquista do telégrafo, em 20 de julho de 1931.

    O telegrafista Bento dos Santos Barreto (1871–1938), a pedido do líder Jeca Silvério, não expediu o primeiro telegrama como emanado da vila de Aparecida dos Portos. Substituiu o nome religioso por outro: Cascavel.

    “Alegou obedecer a uma antiga lei que determinava dar às novas vilas os nomes dos acidentes geográficos mais próximos. Tem início uma polêmica que irá durar décadas em torno do nome da cidade” (Alceu e Regina Sperança, Cascavel: Uma Santa na Encruzilhada).

    Em Curitiba, uma polêmica ainda maior está começando. É a guerra política entre os paranistas e os gaúchos que hegemonizam o novo governo, adeptos da entrega de parte do Paraná a colonizadores sul-rio-grandenses respaldados pela União.

    Antiparanistas em ação

    O projeto antiparanista avançou em julho de 1931, quando Zeno da Silva e Ciro Silva reportaram ao governo haver desinteresse de Santa Catarina e Paraná em desenvolver a região do antigo Contestado e Oeste do Paraná.

    Ciro Silva afirmava que as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná e Santa Catarina estavam “em pleno abandono”, ameaçando os interesses do Brasil e a “unidade nacional” (jornal Gazeta do Povo, 23 de julho de 1931).

    Os paranistas reagem às provocações de Zeno e Ciro Silva repudiando as afirmações de que o Paraná havia abandonado suas regiões Oeste e Sudoeste. Alegavam que embora o controle da fronteira fosse de responsabilidade da União, o povoamento induzido pelo Estado estava em plena marcha.

    Os dirigentes paranistas afirmaram que a região da faixa de fronteira era de responsabilidade do governo federal, mas admitiam que o Paraná “não dispunha das grandes somas necessárias para efetivar a colonização e estabelecer limites com a Argentina”.

    Fazendo retornar ao patrimônio público as concessões confiadas a empresas estrangeiras e de colonização cujos projetos não tiveram êxito, o Paraná assegurou que estava cumprindo a sua parte.

    O ano de 1931 foi especialmente traumático para o Brasil. O ano começou com uma rebelião de soldados, resultando em troca de tiros com a Força Pública em Niterói (RJ).

    Nas capitais, onde não ocorreram as mudanças prometidas, os trabalhadores continuavam descontentes. Sentiram que foram usados para fazer uma revolução que não era sua.

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  • Revolução veio para acabar com a corrupção

    Revolução veio para acabar com a corrupção

    O general Mário Alves Tourinho era muito respeitado. Cursando a Escola de Tiro do Realengo (RJ), logo ao ingressar na vida militar esteve presente na proclamação da República, em 15 de novembro de 1889.

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    Servente de metralhadora, participou da resistência na Lapa sob o comando do general Carneiro. Atuou na campanha militar do Contestado. Em 1924 fez o cerco aos rebeldes em São Paulo.

    Depois dessa longa e exitosa carreira militar, pediu reforma em 1928 e foi surpreendido em seu “pijama” pela revolução de 1930, da qual um dos mais dedicados articuladores foi o irmão Plínio.

    O governo lhe veio como um presente em família. Nunca havia pensado em exercer qualquer função política e também não tinha ideia de como governar, mas para honrar a indicação mergulhou no estudo das finanças do Estado.

    O general Tourinho era um paranista. Logo no início de seu governo como interventor do Estado em outubro de 1930, porém, iria se confrontar com a proposta, que ele rejeitava, de transformar as regiões Oeste e Sudoeste em extensão territorial do Rio Grande do Sul.

    O Paraná já havia perdido a metade da região contestada para Santa Catarina. Não aceitaria perder as regiões Oeste e Sudoeste para um território federal que retiraria sua autoridade sobre duas regiões ricas e promissoras.

     

    Tropas em movimento

    A revolução precisava sufocar qualquer força favorável ao governo destituído. Já com terreno livre, as tropas gaúchas avançam pelo Paraná e chegam a Ponta Grossa.

    O 5º Regimento de Cavalaria Divisionária, sediado em Castro, permanecia fiel ao governo e ao recuar em direção a São Paulo destruiu trechos da ferrovia e danificou pontes.

    Os governistas não tornariam fácil a ascensão dos revolucionários.  Concentram forças em Itararé (SP), junto à divisa com o Paraná, para impedir seu avanço. Militares e policiais paranaenses rebeldes se deslocam rapidamente para lá e logo serão seguidos pelos gaúchos.

    A vanguarda sulista de Miguel Costa (1874–1959) chega no dia 7 de outubro a Ponta Grossa, seguindo de imediato para Castro. Em Jaguariaíva alcança o Norte Pioneiro aproveitando o ramal ferroviário do Paranapanema.

    “A gauchada estava sequiosa para combater e não admitia que tivesse seguido na frente um batalhão do 13º R.I. (força militar paranaense). Eram trezentos homens bem fardados e bem armados” (Alcebíades Miranda, Justitia Vanum Verbum: Episódios da Revolução de 1930).

     

    Vencer não foi fácil

    A crença de que a revolução de 1930 se deu sem resistência é falsa. Além de escaramuças no Norte Pioneiro (Sengés) e do bloqueio no Vale do Ribeira, para onde seguiram outras forças de Curitiba, havia a forte concentração governista em Itararé.

    “A batalha aí travada teve características aparentemente modernas, com trincheiras em toda a frente de combate, arame farpado, ninhos de metralhadoras e artilharia” (Jordan Young, Aspectos Militares da Revolução de 1930).

    A operação consistia, no caso de não vencer em Itararé, tomar Bauru para juntar com as forças vindas via Minas Gerais e então fechar sobre o Rio de Janeiro, liquidando a partida.

    Em Quatiguá, próximo aos limites com o Estado de São Paulo, aconteceriam os combates mais violentos da revolução de 1930. A batalha prevista para acontecer em Itararé (SP) será travada em território paranaense.

     

    O golpe final

    Entre os dias 11 e 13 de outubro, as tropas governistas, vindas de São Paulo, enfrentaram os revolucionários paranaenses, reforçados por uma coluna gaúcha ansiosa para dar o troco pela derrota sofrida em 1924.

    “O tiroteio cerrou nas suas linhas. Era formidável a sua potência de fogo! As suas metralhadoras pesadas em rajadas sucessivas metralhavam o pequeno lugarejo, completamente aberto, constituído de poucas casas, distanciadas umas das outras” (Wanderley Verás, O Combate de Quatiguá).

    A tropa legalista é derrotada e se retira do Paraná destruindo as facilidades para travessia do Rio Paranapanema, como a ponte ferroviária da Viação São Paulo-Paraná. A ponte pênsil rodoviária Manoel Alves de Lima, em Ribeirão Claro, foi danificada com dinamite para bloquear a progressão das forças do Sul.

    Seriam os últimos esforços dos militares ainda fiéis ao governo para tentar impedir o inevitável: em 24 de outubro, no Rio de Janeiro, Exército e Marinha desfecham um golpe de Estado e prendem o presidente Washington Luís (1869–1957), seguindo-se negociações pacíficas até a vitória final da revolução.

     

    General sob pressão

    No governo do Paraná, o general Tourinho não tardou a ser acossado pelo apetite de subalternos ansiosos para lotear o governo entre si. Mas não permitiu. Mesmo contra a vontade de alguns oficiais, promoveu sindicâncias na condição de magistrado, sem favorecimentos.

    Ao anular concessões de serviços públicos lesivas aos cofres públicos, porém, ganhou o rancor dos políticos e dos militares ansiosos para levar vantagens com o poder conquistado.

    “Mário viu-se, de repente, sob o turbilhão de intrigas que lhe desestabilizavam o governo. Sem o chamado jogo de cintura para aparar arestas e nem satisfazer ambições desmedidas, por ser brioso e justo, obrigou-se a renunciar ao cargo em 29 de dezembro de 1931” (David Carneiro e Túlio Vargas, História Biográfica da República no Paraná).

    Assim, o Paraná perdia um de seus mais honestos governadores. Digno, porém desprovido de habilidade para contornar a ganância de líderes sequiosos de poder e fortuna.

     

    Classe média + oligarquias

    A revolução poderia ser o começo de uma nova era para o País. Pela primeira vez as velhas oligarquias latifundiárias não controlam mais o Brasil ao serviço exclusivo de seus negócios, como havia sido no curso do Império e da Primeira República. Não controlavam mais o País sozinhas, pelo menos.

    Do ponto de vista social, a crise comercial do café, a emergência da nova classe média e o avanço da industrialização criaram um novo Brasil, mas as ambições financeiras e os maus costumes políticos permaneciam.

    Como constatou o general Mário Tourinho, os apetites econômicos logo se atiçaram e os antigos controladores dos tentáculos do poder em breve se associaram aos novos poderosos.

     

    Corrupção não foi provada

    As principais propostas revolucionárias, como “extinção progressiva do latifúndio” e “auditoria da corrupção do governo deposto”, jamais saíram do papel. As promessas revolucionárias caem por terra, uma a uma.

    O tribunal especial instituído em 28 de novembro de 1930 para julgar os crimes do governo deposto não apurou um só caso de corrupção.

    Em agosto de 1931 foi suspensa a interdição dos bens dos membros do governo anterior. Os governantes derrubados pela prática de uma corrupção jamais provada ganhavam assim um óbvio atestado de probidade.

    Mesmo isolado e sob pressão, o general Mário Tourinho, tentava impor o ritmo revolucionário no Paraná. A atuação de Tourinho começou a incomodar quando as posses da poderosa família Camargo e de seus beneficiários foram desapropriadas.

    Por baixo desse cenário repleto de tensões, por outro lado, nascia a cidade de Cascavel. Foi a desapropriação determinada por Tourinho que fez de Jeca Silvério o dono das terras da futura “capital do Oeste”

    Fonte: Fonte não encontrada

  • País agitado e o Paraná em paz

    País agitado e o Paraná em paz

    O assassinato do governador paraibano João Pessoa pelo advogado João Duarte Dantas em 26 de julho de 1930 joga de vez o País em estado de tensão. Pessoa concorreu a vice-presidente nas eleições de março, acompanhando Getúlio Vargas, e não se conformou com a derrota eleitoral.

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    Estudantes e operários saem às ruas da capital paraibana. Atacam casas e lojas dos políticos governistas. Começa um crescendo de ações de rebeldia que levará a uma nova revolução.

    O Paraná continua em paz, mas o Rio Grande do Sul é tomado pelos revolucionários, que decidem marchar rumo ao Rio de Janeiro para depor o presidente Washington Luís.

    As elites das Araucárias permaneciam apoiando o governo. Mesmo com o Brasil em clima de guerra, as autoridades paranaenses procuravam manter suas atividades sem sobressaltos. A oligarquia Camargo-Munhoz está sólida no poder, aliando industriais urbanos e agropecuaristas rurais.

    Aqui, a classe média já estava no poder. Como a ascensão da classe média implica maior consumo de energia, o Paraná inaugura uma usina considerada grande para os padrões da época: Chaminé, implantada na Serra do Mar, nas cercanias de Curitiba, terá uma produção de 9 megawatts.  

     

    Ganhar o PR era essencial

    A tarefa dos revolucionários, que já controlam o Rio Grande do Sul nos primeiros dias de outubro de 1930, não será simples. O plano é marchar rapidamente ao Rio de Janeiro e tomar o poder.

    Mas, como em 1894 e 1924, o obstáculo será o Paraná. Como na frustrada Revolução Federalista, o Paraná era uma barreira governista desafiando os revolucionários.

    Nela, o heroísmo do general Antonio Ernesto Gomes Carneiro (1846–1894) e seus comandados na Lapa retardou as forças rebeldes e permitiu ao governo uma vitória arrasadora.

    Ao atacar com firmeza os revolucionários paulistas em Catanduvas e acossar a coluna gaúcha de Luiz Carlos Prestes (1898−1990), em seu avanço rumo ao Paraná, em 1924/25, o governo asfixiou o movimento e expulsou seus remanescentes do território. 

    Agora mais experientes, os revolucionários que sobreviveram à derrota de 1925 voltam a lutar pelo poder. Têm apoio político e popular e estão mais solidamente ancorados na força dos quartéis.

    Combatem um governo enfraquecido pelas divisões internas e abalado pela crise mundial. Não encontram resistências no movimento operário, a não ser a crítica do PCB de que esta não será uma revolução de fato, mas a troca de uma elite econômica no poder por outra.

     

    Trem, a solução

    Mesmo com tanto apoio na classe média, continuava extremamente difícil fazer a travessia de quatro estados, considerando que um deles é o Paraná, sempre um forte obstáculo aos avanços revolucionários.

    Por mar não seria possível deslocar tropas, porque o governo controlava as forças navais. A decisão foi seguir por trem. Em 3 de outubro as forças rebeldes já cruzavam Santa Catarina.

    Querem chegar rapidamente a Porto União e esperam ansiosamente que os rebeldes virem o jogo no Paraná, onde há uma fortíssima oligarquia favorável ao governo federal.

    Porto União deixará logo de ser um obstáculo. Quando as forças revolucionárias alcançam a divisa catarinense com o Paraná, o Batalhão de Caçadores de Joinville, que se rebelou e aderiu à revolução, já aguardava as forças do RS. Não para prender ninguém, mas para apoiar.

    É 4 de outubro. O Paraná também já começa a cair sob controle revolucionário: o 13º Regimento de Infantaria se rebela e assume o controle de Ponta Grossa, mas a capital ainda representa um desafio.

    O major curitibano Plínio Tourinho (1882−1950) conduz a conspiração em Curitiba e conquista a adesão da guarnição federal, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros.

    Com isso, o governo logo ficava sem defesa frente ao germe revolucionário, que grassava sem freio em sua estrutura militar.

     

    De irmão para irmão

     Sem respaldo, o governador Affonso Camargo retira-se a Paranaguá e foge para São Paulo, onde vai aguardar os acontecimentos em segurança.

    Curitiba cai na manhã de 5 de outubro de 1930 sob governo revolucionário. Às 13h parte um telegrama endereçado a Getúlio Vargas. É Plínio Tourinho comunicando a conquista da capital. A resposta, exultante, vem de imediato:

    “Porto Alegre, 5 – Major Tourinho. Curitiba. Paraná. Bravo! Bravo! Marcho com o Rio Grande ao vosso encontro. Vamos todos, Exército e povo. Abraços. Getúlio Vargas”.

    A adesão do Paraná representava praticamente a vitória da revolução, por sua situação geográfica e a identidade de objetivos entre o povo cansado de crise e a guarnição militar rebelada.

    Sob governo revolucionário, o Paraná será comandado por um general da reserva – o antoninense Mário Alves Monteiro Tourinho (1871−1964), não por acaso irmão do major Plínio. Mais uma vez o poder no Paraná ficava entre parentes. Desta vez, parentes revolucionários.

    Os revolucionários já haviam conquistado Curitiba anteriormente, no movimento federalista. A diferença é que em 1894 o povo paranaense repudiava os invasores gaúchos: os famigerados corta-cabeças que mataram na Lapa o herói Gomes Carneiro.

     

    Vem aí Cascavel

    Com a fuga de Affonso Camargo e a posse do general Tourinho havia a promessa de uma nova forma de governar o Paraná. Acreditava-se vencida a exclusão do povo pelas famílias dos antigos barões e viscondes.

    Ansiava-se por uma estrutura de poder alicerçada na sociedade emergente: a nova classe média, que promovia sua revolução aproveitando a crise e contando com o apoio dos trabalhadores.

    No entanto, o fio histórico interrompido no Paraná logo será retomado. Os novos governantes se amoldaram às antigas práticas elitistas, afastaram o general Tourinho e passaram um atestado de inocência ao governo deposto.

    As velhas oligarquias se reciclariam mais uma vez, a exemplo do que já haviam feito na passagem do Império para a República e continuarão fazendo no futuro.

    Para o Oeste do Paraná, a revolução terá como uma de suas conquistas a formação da cidade de Cascavel, na época uma esquecida encruzilhada com quatro casas.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Estado do Iguaçu foi interrompido pela revolução

    Estado do Iguaçu foi interrompido pela revolução

    A Aliança Liberal divulga seu programa em 20 de setembro de 1929, propondo anistia ampla e voto secreto. Lança Getúlio Vargas candidato à Presidência, com o respaldo das lideranças regionais do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais.

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    É nesse clima de agitação política que o jurista Teixeira de Freitas (1890−1956) aprofunda seus estudos sobre a redivisão territorial do Brasil e recomenda a fusão dos estados do Paraná e Santa Catarina para formar uma só unidade da Federação: o Estado do Iguaçu.

    No Norte paranaense, a mata é cortada para o acesso dos compradores de lotes coloniais. A primeira caravana chega ao Patrimônio Três Bocas em dezembro de 1929.

    Era composta de oito japoneses que vieram acompanhados do agenciador de terras da Companhia de Terras Norte do Paraná, Hikoma Udihara (1882–1972). Começa nesse momento a se formar a cidade de Londrina.

    Enquanto o desbravamento do Norte paranaense prossegue, com iniciativa inglesa e colonos japoneses, cresce em todo o País a campanha da Aliança Liberal, que sacode a vida republicana sempre marcada pela corrupção e por incompetência administrativa.

    Não era um movimento revolucionário: visava apenas a competir no pleito presidencial de março do ano seguinte. Mas a reação governista, fraudulenta e repressiva, não deixará outra opção aos descontentes a não ser uma nova revolução.

    A crise do café

    A produção brasileira de café de 1929 acrescentou 21 milhões de sacas a um estoque já encalhado, das quais apenas 14 milhões foram exportadas.

    O temor quanto ao futuro imediato leva os cafeicultores a se aferrar ainda mais ao poder: em 12 de outubro, a convenção situacionista indica Júlio Prestes como candidato a presidente.

    A intenção dos fazendeiros paulistas de manter o País sob seu controle gera manifestações de desagrado por todo o Brasil, especialmente em Minas Gerais.

    A 24 de outubro, a crise explode nos EUA. Caem no desespero os cidadãos que perderam repentinamente suas economias depois de confiar na estabilidade do sistema – o american way of life.

    No dia 29, as finanças mundiais já estão destroçadas irreversivelmente, deixando imunes apenas os países ligados à União Soviética, isolados dos EUA.

    É a maior crise de todos os tempos, até então. Com o desastre da economia estadunidense caem os preços do café, do açúcar, da borracha e do cacau e com eles as exportações brasileiras.

    O mundo mergulha na incerteza. “O Brasil queimou 78 milhões de sacas de café: assim ardeu em chamas o esforço de 200 mil pessoas durante cinco safras” (Roberto Simonsen, História Econômica do Brasil).

    Agro cai, indústria avança

    Os amplos estoques de café sem compradores são queimados na mesma velocidade da erosão do poder político dos cafeicultores. Em contrapartida, cresce a influência dos industriais, que a partir daí serão a força dominante em um Brasil que já ultrapassa a marca de 40 milhões de habitantes.

    A decadência da cafeicultura e a transferência do capital para a indústria urbana resultarão em mão-de-obra melhor qualificada. Forma-se, assim, um mercado consumidor mais consistente e se afirma a classe média.

    A concentração industrial no Sudeste, especialmente em São Paulo, encaminhará o País a um irreversível processo de urbanização. Socialmente, já é uma revolução.

    O ano de 1930 começa efervescente. Em 24 de fevereiro, depois de conflitar com o governador paraibano, João Pessoa, o coronel José Pereira, com um vastíssimo arsenal de armas recebido para combater Lampião e a Coluna Prestes, mobiliza seus dois mil jagunços. É a Guerra de Princesa, um dos elementos detonantes da revolução de 30.

    Revolução, base da cidade de Cascavel

    Nas eleições presidenciais de 1º de março, a contagem oficial apresenta 1.091.709 votos para o “Candidato Nacional” (Júlio Prestes) e 742.794 votos para o “Candidato Liberal” (Getúlio Vargas, que tinha João Pessoa como vice).

    Esse resultado, decorrente das habituais fraudes eleitorais brasileiras, será indiretamente responsável pela criação de uma cidade na época improvável: Cascavel.

    Quando a notícia da derrota de Vargas chega ao armazém de José Silvério de Oliveira (1888–1966), o Nhô Jeca, ele imediatamente trata de abandonar a localidade de Pouso Alegre, interior de Guarapuava, temendo represálias de ferrenhos adversários políticos.

    Ao retornar de uma limpeza de ervais, recolhe seus pertences e foge para a Encruzilhada dos Gomes, no caminho entre Catanduvas e os portos do Rio Paraná, onde possui terras tomadas em arrendamento junto ao colono Antônio José Elias.

    A vinda Jeca Silvério

    Enquanto ao Norte se encerra a construção de uma estrada de rodagem que liga o município de Jataí ao Patrimônio de Londrina, José Jeca Silvério inicia sua marcha na rota de Catanduvas para a Encruzilhada.

    É o dia 27 de março. Nessa mesma data, a Companhia de Terras Norte do Paraná acaba de vender seu primeiro lote colonial, adquirido pelo agricultor Mitsugi Ohara.

    Jeca Silvério chega à Encruzilhada dos Gomes com a mudança em 28 de março de 1930. O deslocamento de sua comitiva de parentes e amigos é facilitado porque a Prefeitura de Foz do Iguaçu havia melhorado os trechos mais dramáticos da estrada.

    É a fundação da cidade de Cascavel. Silvério determina a seus empregados e parentes a construção de um pequeno armazém − a bodega, no dizer dos sertanejos – e as três primeiras casas de moradia para família.

    Ali, nos arredores de seu acampamento, ele já mantinha roçados de milho e praticava o safrismo: a combinação da safra do milho com a engorda de suínos. Para viajar a Foz do Iguaçu, partindo dessa vila de quatro casinhas, era preciso estar com as armas de prontidão, em coldre ou junto às rédeas.

    Lembranças dos pioneiros 

    Não havia salteadores, à exceção de alguma família de índios pedindo algumas utilidades, mas a qualquer momento, de dia ou de noite, os carroceiros eventualmente se viam na contingência de disparar contra os felinos predadores que viviam na mata.

    A menina Dilair, filha de Jeca Silvério, acompanhava o pai em suas viagens: “Nós íamos de carroça, demorando cinco dias para ir e cinco dias para voltar. Na estrada era possível ver os tigres passar, amedrontando a todos. Era preciso dormir na estrada, o que era também difícil devido aos urros das feras”.

    Apesar da agropecuária ainda incipiente em Cascavel, havia já em 1930 uma avançada agroindústria na região. O suíço Michael Willieux, arrendatário da Fazenda Britânia, instalou uma fábrica de extração do suco da laranja azeda, que era exportado para a Europa, via Argentina, em latas de cinco quilos, para ser utilizado como fixador de perfumes.

    “Por iniciativa desse administrador foi instalada, às margens do Rio Branco, uma fábrica para extração de petit grain − extrato da folha da laranja azeda apepú − e de cedrão, extrato de erva cidreira, com a produção sendo vendida para o consumo em São Paulo e Rio de Janeiro (via Porto Mendes-Guaíra-Porto Epitácio; daí pela Estrada de ferro Sorocabana e depois pela Central do Brasil)” (Rubens Bragagnollo, Um Pouco da História do Oeste do Paraná).

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  • Italianos fracassam, mas voltarão para dominar

    Italianos fracassam, mas voltarão para dominar

    Com o fracasso da experiência colonizadora italiana no extremo-Oeste, asfixiada pela precária infraestrutura de caminhos no máximo carroçáveis, com apoio dos governos federal e estadual os ingleses da Companhia de Terras Norte do Paraná conseguiram casar perfeitamente seu plano imobiliário com o interesse do Paraná de fazer o interior produzir.

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    Privilegiando o sistema de pequena propriedade rural, dividindo antigos latifúndios em lotes coloniais, será um dos mais rápidos e bem-sucedidos processos de colonização aplicados no Brasil.

    A morte do ex-governador Generoso Marques, em 8 de março de 1928, é também o último suspiro da era em que o Paraná se dividia entre republicanos maragatos e monarquistas pica-paus. Agora eram todos republicanos e o poder durava décadas nas mãos do mesmo grupo.

    Os preços da erva-mate começam a cair drasticamente no mercado internacional, mas o fenômeno tardou para alcançar o Rio Paraná. Em 1928, Foz do Iguaçu exportou pouco mais de 10 mil toneladas de mate e em 1929 os registros apontavam uma ligeira alta, chegando perto de 11 mil toneladas.

    Quanto mais a crise aperta, mais as carroças dos pioneiros rumam a Oeste seguindo as obras da Estrada Estratégica. Em 1928, um grupo de 29 famílias de imigrantes alemães que partiu de Cruz Machado chega a Foz do Iguaçu. Para a época, era um êxodo.

    A violência da crise

    Os preços da erva-mate começaram a cair drasticamente no mercado internacional em 1928. A queda no volume de encomendas do produto era um reflexo das turbulências pelas quais o mundo estava passando. Nos EUA, em julho de 1929, a redução brusca dos índices de produção industrial leva a uma recessão.

    Com a consequente diminuição da procura pela erva-mate paranaense, uma sensação de fim de ciclo já se espalha entre os industriais do setor. Seria uma situação sem volta: a Argentina não precisava mais do mate paranaense, já que sua produção própria era de ótima qualidade.

    O medo se espalhou pelo Paraná: como se recuperar desse abalo, se a erva-mate respondia por 85% da economia paranaense? O temor se justificava. A erva-mate jamais voltaria a ter a importância que tivera nas exportações paranaenses até esse final de década.

    A madeira surgia como o recurso natural em melhores condições de aproveitamento, como se viu na expansão do mercado no pós-I Guerra.

    O boom madeireiro

    O ímpeto com que os paranaenses se lançaram às derrubadas, porém, levou o governo a se preocupar com a exploração racional da madeira, posta abaixo avidamente onde havia condições de transporte, como na fronteira ferroviária e nos trechos de estradas mais bem conservados.

    Assim, em 25 de abril de 1929 a lei estadual n.º 2.670 cria o Instituto de Madeira do Paraná, na tentativa de evitar o desastre de um aniquilamento rápido e irracional de árvores que demoram décadas para se formar, embora possam ser abatidas em segundos. Uma lei que de pouco serviu: mais e melhores estradas representavam maior e mais rápido escoamento das cargas.

    Por uma negociação com a Companhia Mate Laranjeira, o Paraná quis tornar pública a ferrovia particular pioneira do Oeste paranaense, entre Guaíra e Porto Mendes.

    “O governo do Estado, ciente das necessidades viárias dos habitantes da região compreendida entre os rios Piquiri e Paranapanema, sem comunicações com quaisquer centros comerciais e objetivando o desenvolvimento daquela região, entrou em entendimento com a empresa Mate Laranjeira para a abertura da sua linha férrea ao tráfego público” (Lando Rogério Kroetz, As Estradas de Ferro do Paraná 1880-1940).

    Regalias excessivas

    Data de 5 de março de 1929 um contrato firmado entre os empreiteiros Raul & Heitor Mendes e o Estado do Paraná concedendo aos empresários o privilégio para o uso e gozo da estrada construída por 60 anos.

    Era um negócio nos moldes do celebrado com Percival Farquhar: cessão gratuita de uma área de 10.000 hectares de terras devolutas, privilégio sobre uma faixa de 15 quilômetros em cada eixo da linha e isenção de impostos estaduais sobre materiais adquiridos para serviços da estrada e outros impostos.

    “Nestas condições os favores concedidos foram considerados lesivos aos interesses do Estado, tratando-se, sobretudo, de uma simples via férrea do sistema Decauville” (Lando Rogério Kroetz).

    O impasse em torno da ferrovia pioneira do Oeste só teria desfecho depois da revolução de 1930, mesmo porque em 23 de abril de 1929 a lei estadual n.º 2.683, ao criar o Instituto de Estradas de Rodagem do Paraná, já sinalizava para o crescente predomínio das rodovias na preocupação central da administração do Estado.

    Crise avança. Nasce Londrina

    A política nacional entra em efervescência. Em 17 de junho de 1929, os políticos mineiros rompem com os paulistas: o governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870−1946) cede sua candidatura presidencial ao ex-ministro gaúcho Getúlio Vargas. A Paraíba indica o vice João Pessoa (1878−1930).

    Os trabalhadores, agora transitando do anarquismo para o “bolchevismo”, eram severamente reprimidos. Em 20 de junho de 1929 a polícia invade a sede da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e leva 69 presos.

    Indiferente aos acontecimentos nacionais, no inverno de 1929 a Companhia de Terras Norte do Paraná tomava posse efetiva de suas terras. Em 20 de agosto, um grupo de desbravadores, entre eles o pioneiro apucaranense Kurt Jakowatz e mais alguns peões contratados, partiram de Ourinhos em um caminhão Ford para uma aventura em meio à mata gelada.

    “No dia 21 de agosto, bem cedo, chegamos a margem esquerda do Rio Tibagi, de onde iniciamos a dura caminhada até o local denominado Patrimônio Gleba Três Bocas (atual Londrina), onde se iniciava as terras da Companhia. Foi uma viagem feita com grande sacrifício, caminhando por um picadão escuro e barrento, onde o agrimensor Alexandre Razgulaef, orgulhosamente, fincou o primeiro marco de madeira e disse: ‘Chegamos!’ ” .

    Era o início da conquista audaciosa das terras virgens e roxas do Norte do Paraná.

    No teatro das operações políticas, formaliza-se em agosto de 1929 a Aliança Liberal, tendo como líderes o poeta fluminense Afonso Pena Júnior (1879−1968), filho do ex-presidente, e o gaúcho Ildefonso Simões Lopes (1866−1943), ex-ministro da Agricultura e fundador da Confederação Rural Brasileira. Será a semente de uma revolução.

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  • Fracassos e vitórias na colonização

    Fracassos e vitórias na colonização

    O fracasso da colonizadora Espéria na velha Santa Helena se deu porque as escassas famílias de colonos de origem italiana atraídas para a região abandonaram as terras rapidamente por falta de estrutura regional no Oeste em que só trilhas para a passagem de ervateiros e estradas carroçáveis para o transporte da leve erva-mate interessava.

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    Mais promissor foi o empreendimento do paulista Francisco da Cunha Junqueira, que começou com pés no chão e apoio de cima: família e governo. Em 1920 ele assumiu a propriedade de cinco mil alqueires de terras deixados como herança no Nordeste paranaense por seu sogro (e tio), o coronel Cornélio Procópio de Araújo Carvalho (1857−1909).

    Procópio, mineiro que pontificou em Ribeirão Preto (SP) e tinha propriedades entre o Sul paulista e o Norte paranaense, deu nome ao loteamento urbano e rural concluído por Junqueira em 1926.

    A terra roxa chama

    Por sua vez, os caboclos penetravam na região Oeste se estabelecendo às margens da Estrada Estratégica, obra essencial que muitos deles ajudavam a construir, recebendo terras em troca do trabalho.

    Desde o fim do século XIX já corria de boca em boca no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina a notícia de que no Paraná havia terra roxa: as áreas mais férteis do mundo, configuradas pela mesopotâmia dos rios Paraná, Piquiri e Iguaçu.

    Com tais perspectivas, e dando pistas de que o governo da Polônia não estava alheio à situação de seus compatriotas emigrados para o Brasil, o general polonês Stephan Czeniski* explorou a região do Piquiri.

    *Grafia constante no manuscrito das Memórias de Sandálio dos Santos. Como não encontramos esse nome nas pesquisas, talvez ele quisesse se referir a Stefan Strzemienski

    Ele pretendia aproveitar a área para colonização, mas acabou desistindo de qualquer projeto oficial devido à ocorrência de maleita, uma doença endêmica na região. Mesmo assim os eslavos continuariam vindo ao Paraná.

    Caminhos fluviais

    Em carroções, a cavalo ou pelo Rio Paraná, eles chegavam. Quem optava pela via fluvial conhecia algum conforto no serviço de navegação monopolizado por empresários argentinos. O vapor Salta, da Companhia Nuñes, Gibaja, Martínez & Co, tinha rodas laterais e podia navegar em águas rasas.

    Esse “ônibus” fluvial dispunha de cômodos para três classes de passageiros. Os da primeira classe tinham apartamentos individuais, banheiro, boa comida e serviços de bordo. Outro barco da empresa, o España, tinha música ao vivo por gramofone ou vitrola.

    O Paraná estava fora da restrição imposta pelo governo federal nos acordos regionais para cotas máximas de venda de café e atraía os fazendeiros paulistas que fugiam desses limites.

    Cotas, um longo debate

    Houve uma corrida em busca de terras no Paraná, mas com o início do governo Washington Luís as pressões para forçar Munhoz da Rocha a aceitar as cotas cresceriam até se tornar incontornáveis.

    Munhoz da Rocha cedeu. Agora já não faria muita diferença produzir café no Sul de São Paulo ou no Norte do Paraná, mas os paulistas já possuíam um amplo estoque de terras no Norte paranaense.

    Se Munhoz perdeu pontos com os cafeicultores, porém, ganhou com a população: conseguiu que em 5 de janeiro de 1927 o decreto federal 5.141 autorizasse recursos para a construção da atual BR-277.

    Com o decreto 5.141, de 5 de janeiro de 1927, foi instituído o Fundo Especial para Construção e Conservação de Estradas de Rodagens Federais, que vem consagrar o chamado “rodoviarismo” no País.

    O Fundo teria o propósito de financiar o desenvolvimento rodoviário do Brasil, mas em seus passos iniciais se limitou à elaboração de um programa de construção de “estradas de primeira classe”, uma das quais deveria ser a atual BR-277.

    O programa, como tantos na história deste País, empacou: só em 1º de julho de 1941, em Ponta Grossa, muitos anos depois, seria finalmente instalada a Comissão de Estradas de Rodagem Paraná−Santa Catarina, encarregada de iniciar a obra prometida em 1927.

    Mais que imperialismo inglês

    Mas os pioneiros se moviam. Muitos se atolavam e sofriam horrores sem ter a quem recorrer no meio do mato. O capitão Arthur Joaquim Pamphiro aconselhava a quem pretendia viajar entre Curitiba e Foz do Iguaçu a só tentar a proeza no verão, quando chove menos.

    Com a chuva, a estrada ficava imprestável. A vegetação se unia por sobre a estrada e impedia o sol de apressar a secagem do leito.

    O capitão Pamphiro estudou em detalhes a região dominada pelos ingleses e defendia a tese de que esse controle não era fruto de “intuitos imperialistas”, mas consequência do abandono completo ao qual o governo do País relegou a região.

    Na verdade, havia as duas coisas, mas o governo do Paraná avançou mais um passo em seu projeto de integração entre as regiões ao delegar ao engenheiro Francisco Natel de Camargo a tarefa de transformar em rodovia a velha “Picada do Benjamim”.

    Benjamim entrou na história por ter sido o local de encontro da força revolucionária gaúcha e dos soldados paulistas nos momentos finais da Revolução de 1924. Era uma herança das expedições militares pioneiras, trecho que seria hoje o trajeto entre Céu Azul e Foz do Iguaçu.

    Além do favorecimento à atuação das empresas colonizadoras, as atividades do Estado prosseguiam em Foz do Iguaçu e no estímulo ao desenvolvimento do Sudoeste, com a atração ainda esparsa de colonos sulistas, no curso de 1927.

    As famílias dominantes

    Caetano Munhoz da Rocha, cujo vice era Marins Alves de Camargo, devolve o governo em fevereiro de 1928 a seu antecessor e irmão de seu vice, o senador Affonso Camargo.

    Era mudar para manter o mesmo: o senador Camargo assumia o governo e o governador Munhoz assumia a vaga deixada por Affonso no Senado. Tudo em família e entre compadres, mantendo no poder a mesma oligarquia que remonta aos tempos imperiais, fio de domínio que pode ser puxado desde o tropeirismo.

    Agora, a orientação é ocupar a terra com produção agropecuária diversificada, não mais dependente da monocultura. O sonho ferroviário sofria baixas a cada projeto, mas jamais saiu e cena. A Companhia Ferroviária São Paulo−Paraná obteve pelo decreto nº 450, de 20 de abril de 1928, o “privilégio de uso e gozo” por noventa anos de uma concessão que em sua primeira etapa abrangia de Ourinhos até Cambará.

    Dali, depois de transpor o Rio Tibagi, o projeto é seguir em direção ao espigão divisor entre os rios Paranapanema e Tibagi. Com a extensão prevista de 280 quilômetros, a meta é prolongar a estrada até o Rio Paraná, em um ponto conveniente próximo aos portos São José e Guaíra.

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  • Forma-se a Coluna Prestes

    Forma-se a Coluna Prestes

    No dia 27 de dezembro de 1924, a coluna gaúcha rebelde rompe ainda no Sul o cerco legalista, vai cortar as matas das bacias dos rios Uruguai e Iguaçu e alcançar o Paraná. Será um avanço penoso, repleto de riscos, peripécias e lições de estratégia militar.

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    Os soldados gaúchos finalmente chegam ao Paraná em 7 de fevereiro de 1925. A intenção de juntar as forças gaúchas com as paulistas para sair do Paraná rumo à tomada do poder no Rio de Janeiro já não teria êxito, mas sua marcha daria origem ao mito do capitão Prestes, cuja coluna, formada em Foz do Iguaçu, iria inspirar a Grande Marcha da Revolução Chinesa.

    “Ao passar pelo Paraná muitos contatos fizemos com pequenos camponeses e assentados, muitos deles inclusive se incorporando a nossa coluna. Se tempo tivéssemos, era uma região que caberia um maior trabalho de arregimentação de parceiros para estas difíceis tarefas” (Luiz Carlos Prestes, declaração sobre o Oeste do Paraná, “Quem Manda no Paraná Livro 2: A Era Camargo-Munhoz, oligarquias que transitam do Império à I República (1900 – 1930)”.

     

    A ofensiva do governo

    A que atribuir a calorosa recepção do sertanejo paranaense aos soldados gaúchos, numa época em que Prestes era um completo desconhecido no interior do Brasil? O abandono, a repressão, o custo de vida e as fraudes das oligarquias nos processos eleitorais explicam. A educação era reservada apenas aos filhos dos ricos e aos estrangeiros.

    Mas estavam isolados no Sul, o que favoreceu ao governo preparar em março de 1925 uma formidável ofensiva para liquidar o movimento.

    O ataque final às posições rebeldes no interior do Paraná começa em 23 de março. Mantendo o fogo, Rondon deflagra no dia 27 uma operação arrasadora: o Corpo da Brigada Militar e o 7º Regimento de Infantaria, integrados por mil soldados, cercam e vencem os 30 soldados revolucionários que mantinham posição em Cajati.

    No dia seguinte, as forças legais apertam o cerco à última posição rebelde: Catanduvas. Os revolucionários capitulam no dia 29. No início da madrugada do dia 30, sob a promessa de que receberiam do governo um tratamento respeitoso, considerando sua condição de militares, formalizam oficialmente a rendição.

    No entanto, os soldados vencidos seriam tratados com extrema dureza e enviados para o campo de concentração de Clevelândia do Norte, no isolado Oiapoque amapaense, destino dos líderes sindicais comunistas e militantes anarquistas apanhados pela repressão violenta desencadeada pelo governo.

     

    Falha permite fuga

    A estratégia de Rondon não contava com as brechas em seu cerco. Houve um grupo de rebeldes que furou o enorme cerco das tropas governistas e em 5 de abril de 1925 alcançou o antigo pouso tropeiro de Cascavel, ao Sul da atual cidade, então inexistente, de onde partiu para se reunir à coluna gaúcha e ao pelotão que controlava a fronteira.

    Contrariando as intenções de Rondon, os soldados paulistas se encontram em 7 de abril com a coluna gaúcha em Benjamin (atual Céu Azul), ali celebrando um pacto de não-rendição.

    Em 12 de abril de 1925, já reunidos em Foz do Iguaçu, a decisão de prosseguir a luta encontra um obstáculo na pressão governista, que marcha firme rumo à fronteira, onde Rondon pretende encurralar de vez os rebeldes remanescentes.

    A retomada de Foz do Iguaçu pelas forças legalistas se dá uma semana depois, a 19 de abril, pondo fim a sete meses de administração revolucionária. É assim que tem início a legendária Coluna Prestes.

    Uma das consequências do movimento tenentista, entre 1922 e 1925, com a Coluna Prestes percorrendo o interior e conhecendo uma realidade diferente daquela que os militares acompanhavam nas capitais, foi a descoberta dos interesses ingleses aliados com as oligarquias remanescentes do Império.

     

    Revolução teve consequências

    A união das colunas gaúcha e paulista no Oeste do Paraná pode ser considerada o marco inicial da decadência do controle britânico no Brasil. Os ingleses ainda comandariam a colonização no Norte do Paraná, mas em contrapartida crescia o poder dos EUA em São Paulo.

    No pós-revolução, Arthur Hugh Miller Thomas organiza a Companhia de Terras Norte do Paraná, cujos estatutos são registrados em 24 de setembro de 1925. É o início da colonização do Norte/Noroeste do Paraná, prenunciando a avalanche cafeeira, que venceu o projeto inicial dos ingleses de transformar o Norte do Paraná num imenso algodoal.

    A fama do Paraná como grande produtor de café começaria a partir de 1925, ano em que a rubiácea passa a ser plantada no território em grande escala. Com a expansão do café, que ocupa farta mão-de-obra, brotam vilas por toda a frente de colonização.

    Essas vilas, mais a estruturação urbana dos centros de polarização, criam a necessidade de madeira beneficiada para a construção de casas. Com a manutenção das vendas já crescentes aos mercados nacional e estrangeiro, a nova procura por tábuas e móveis gera um ciclo sustentável para a indústria madeireira.

     

    O salto do café

    O avanço do café e a madeira mantendo e ampliando os mercados conquistados no pós-I Guerra vieram a calhar. Compensavam os investimentos feitos pelos ávidos desbravadores brancos ludibriados pelo habilidoso Índio Bandeira com o Conto do Ouro dos Jesuítas.

    O vazio deixado pelo inexistente ouro dos religiosos, com o qual Bandeira explorou por algum tempo a cobiça dos brancos, foi rapidamente preenchido pelo que havia de mais óbvio a fazer com os campos livres: a criação de gado.

    Nas eleições de 1º de março de 1926, Washington Luís (1869−1957), encarnação da oligarquia cafeeira paulista, obtém a maior votação até então alcançada por um presidente da República: 99,86% dos votos.

    No interior do Paraná, enquanto os carroções dos poloneses já marcavam com a profundidade de suas rodas as trilhas carroçáveis existentes na região, a Industrial Agrícola e Pastoril do Oeste de São Paulo, que havia adquirido terras da antiga Meier, Annes & Cia, vendeu sua propriedade à Companhia Paranaense de Colonização Espéria Ltda.

    Financiada por capitais italianos, a Espéria investiu muito em seu projeto, mas o empreendimento fracassou, uma vez que os poucos colonos de origem italiana atraídos para a região abandonaram as terras rapidamente.

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Governo incapaz, militares em ação

    Governo incapaz, militares em ação

    O primeiro semestre de 1924 foi de pressões militares, respondidas pelo governo com indiferença. Frente ao descaso do governo e o agravamento da situação social, os rebeldes decidem tomar o poder. O tenentismo se insere em definitivo na história do Brasil.

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    Os primeiros tiros são disparados na madrugada de 5 de julho de 1924. Os 3.500 revolucionários rebeldes em armas que tomam São Paulo serão logo implacavelmente cercados por 14 mil homens das forças legalistas.

    As tropas do governo bombardeiam fortemente a capital paulista. O arcebispo d. Duarte Leopoldo e Silva (1867−1930) pede em vão ao presidente Arthur Bernardes que pare de jogar bombas contra São Paulo.

    Em 11 de julho são contados cerca de 1.800 prédios destruídos, 503 mortos e 4.876 feridos. Enquanto o Exército retoma o controle de São Paulo e faz dez mil prisões, os rebeldes fogem rumo ao Oeste.

    Em Bela Vista, fracassa o levante para tomar o Estado de Mato Grosso, que ainda incorporava o atual MS. Seguem-se levantes em todo o País. Em Curitiba não havia condições políticas, mas no interior do Paraná havia simpatia pelos rebeldes, o que explica a fácil ocupação do Oeste e a permanência dos revolucionários na região por sete meses.

    Exploração estrangeira

    Nos meses anteriores à fuga dos soldados rebeldes paulistas rumo ao Mato Grosso, nos domínios estrangeiros do Oeste também havia notícias de revoltas.

    Eram crescentes os atritos entre os empregados do “imperador da fronteira”, Júlio T. Allica, submetidos a um regime de semiescravidão, e o exército particular desse latifúndio – as comissiones. Os acontecimentos nacionais, progressivamente dramáticos, logo irão também ameaçar seus interesses na região.

    O governo federal tomara algum tempo antes dos eventos revolucionários a iniciativa de determinar a construção de um ramal telegráfico de Lopeí a Porto São Francisco.

    A obra, de 51 quilômetros, chegou a ser iniciada, mas logo foi interrompida. Com a eclosão do levante armado em São Paulo e a iminência do avanço das tropas revolucionárias sobre a região, veio a ordem de retomar os trabalhos em ritmo acelerado.

    O posto telefônico do entreposto ervateiro de Lopeí, que depois será a origem dos Correios em Cascavel, inicia operações, incluindo telégrafo, em 9 de setembro.

    À espera de Prestes

    O comando revolucionário procura se instalar no Mato Grosso com a intenção de prolongar a luta e assim permitir às tropas que viriam do Rio Grande do Sul em apoio – a base da futura Coluna Prestes – somar-se aos contingentes paulistas na tentativa de virar o jogo contra as forças legalistas.

    A coluna paulista, contida pelas tropas governistas, é empurrada para o Sul. Vai tomar os portos do Rio Paraná, inclusive Foz do Iguaçu, enquanto parte das forças se deslocará de Guaíra, pela região de Cascavel, cuja cidade ainda não existia – só começará a se formar em março de 1930 –, para resistir às forças governistas enquanto aguarda a coluna gaúcha.

    A estratégia dos sublevados se tornaria vitoriosa – ou teria possibilidades para tal – não fosse a fidelidade do presidente (governador) paranaense, Caetano Munhoz da Rocha, ao governo da União.

    No final de fevereiro de 1924, Caetano Munhoz da Rocha inicia um novo mandato no governo do Paraná, que ficará ainda mais seis anos nas mãos da oligarquia Camargo−Munhoz.

    Caetano trazia como vice-governador o ex-deputado Marins Alves de Camargo (1882−1962), irmão de seu antecessor (e posteriormente sucessor), Affonso Alves de Camargo. João Moreira Garcez, igualmente, tem o mandato renovado por mais quatro anos como prefeito de Curitiba.

    Moeda brasileira sem valor

    No interior, além da expansão da cafeicultura ao Norte, Miguel Matte, com capital argentino, constitui a Companhia Florestal do Paraná, tendo facilidades para adquirir glebas junto à antiga Colônia Militar do Iguaçu. Tinha o compromisso de colonizar assumido em contrato firmado com o governo paranaense.

    Em Foz do Iguaçu, a Prefeitura tentava superar a forte presença estrangeira na região emitindo sua própria moeda. Era uma espécie de vale de pagamento que, a exemplo do carcomido dinheiro brasileiro, não tinha crédito junto à população.

    “Ninguém o recebia. As próprias instituições brasileiras, como o correio, a prefeitura ou a receita, quando precisavam remeter a verba respectiva para Curitiba, enviavam, inicialmente, o peso argentino recolhido dos contribuintes ou usuários para o consulado brasileiro em Posadas. Ali, o consulado brasileiro convertia o peso para moeda brasileira, para em seguida ser o mesmo remetido para Curitiba” (Ruy Christovam Wachowicz, Obrageros, Mensus e Colonos).

    Primeira unidade motorizada das forças terrestres brasileiras, a coluna organizada por Dilermando recebeu o nome de Regimento Provisório de Cavalaria. Foi composta por efetivos da Força Militar do Paraná e civis cedidos pela Brazil Railway Co, empresa do estadunidense Percival Farquhar.

    Provisório e improvisado

    O RPC era formado por 60 homens, 38 veículos e uma centena de cavalos. Concentrando voluntários em Ponta Grossa, o contingente chegou a cerca de 150 homens somando os militares com os civis em armas.

    Deslocando-se no leito da Estrada Estratégica, o RPC deixou a cidade às 6h da manhã do dia 27 de julho, precedido por um destacamento de segurança. O Regimento vai inicialmente a Catanduvas e daí a Santa Tereza, na época um depósito da Companhia Domingos Barthe. Desloca-se até a Picada do Benjamin (Céu Azul), de onde seguiria aos portos do Noroeste.

    Naquela mesma data, os 3.500 revolucionários comandados por Isidoro Dias Lopes (1865−1949) e Miguel Costa (1885−1959) abandonam São Paulo, que controlavam desde o 5 de julho, e rumam para Oeste, com apoio dos ferroviários.

    Por sua vez, chegando a Santa Helena em 2 de agosto, o RCP se desloca pela estrada de ferro da Companhia Matte Laranjeira rumo a Guaíra, onde se instalou dois dias depois, recebendo reforço de 23 homens do destacamento policial de Foz do Iguaçu, sob o comando do tenente Artur Borges Maciel.

    Os legalistas foram ao rio Paraná com a missão de castigar os rebeldes e saíram tosquiados: logo perderiam posições, portos e até a ferrovia. Como os revolucionários não conseguiram se instalar no Mato Grosso, decidiram optar pelos caminhos fluviais do Sul.

    Agiram rápido e bem. Os 500 homens da linha de vanguarda sob o comando do coronel João Francisco apresaram cinco navios da Companhia de Navegação São Paulo–Mato Grosso e ocuparam os portos paulistas nos quais as forças de Dilermando haviam estabelecido posições defensivas.

     Vitórias rebeldes

    A primeira unidade motorizada do Exército brasileiro, portanto, apresentou um final infeliz. Os revolucionários ainda se mostravam superiores nos combates. Os dois lados aprenderam muito com as manobras no Oeste paranaense, porém.

    Depois elas seriam minuciosamente estudadas nas escolas militares. Em 14 de setembro, frustrado o movimento preventivo das suas forças em Guaíra, Dilermando Cândido de Assis determina a retirada do Regimento Provisório de Cavalaria.

    No dia seguinte os soldados revolucionários ocupam os portos São Francisco e Mendes. Porto Britânia cai no dia 19. Uma patrulha chefiada por Juarez Távora (1898–1975) toma Foz do Iguaçu em 24 de setembro. A esperança dos rebeldes agora está no avanço da coluna que virá do Sul.

    Em 28 de outubro, jovens oficiais do 1º Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo (RS) se rebelam. No dia seguinte os soldados gaúchos, ao comando do capitão Luiz Carlos Prestes (1898−1990), já estão em marcha rumo ao Paraná. Aqui, entretanto, a força revolucionária paulista, dividida em duas, com parte em Foz do Iguaçu e a outra entre os sertões do Médio-Oeste e do Sudoeste, era severamente fustigada pelos governistas. Os primeiros choques frontais se dão no feriado republicano de 15 de novembro, na Serra do Medeiros.

     

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  • Estrada Boiadeira e militares rebeldes

    Estrada Boiadeira e militares rebeldes

    Fazendo levantamentos topográficos de toda a área, a Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) estabelece em 1920 a posse sobre as terras. Ficam de fora as glebas ainda incorporadas ao patrimônio da Companhia Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande e que se destinam teoricamente à construção da Estrada de Ferro Oeste do Paraná.

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    Também se excluem os latifúndios dominados pelas obrages Domingo Barthe, Nuñes y Gibaja, Maderas del Alto Paraná, Julio T. Allica e Matte Laranjeira.

    Os colonos que chegam a essas terras liberadas nos anos seguintes começam a se fixar ao longo da Estrada Estratégica e já não são mais apenas os estrangeiros transplantados de seus países.

    São principalmente filhos daqueles que chegaram ao Sul nos anos finais do século XIX, então no processo de povoar vazios demográficos e criar uma agricultura de abastecimento.

    Ao contrário das fantasiosas teses que consideram esse um fenômeno espontâneo, as autoridades estaduais desde o início da República procuram estimular a colonização com “imigrantes que tenham certo capital, fundando cooperativas e empresas agrícolas”, segundo a historiadora Oksana Boruszenko.

     

    Alcançando Campo Mourão

    A falha do governo foi confiar que as colonizadoras plantariam a infraestrutura necessária. Por sua vez, as empresas traziam os colonos confiando que a pressão social faria a autoridade estadual entrar em ação para dotar a região da infraestrutura necessária.

    Nessa época, Manoel Mendes de Camargo leva adiante as obras da Estrada Boiadeira, que avança de Pitanga a Campo Mourão por um traçado próprio. A partir daí o empreiteiro seguiu os termos do contrato firmado com o governador Affonso Alves de Camargo: seguir até o Porto Xavier da Silva, no Rio Paraná, aproveitando o traçado seguido pelos antigos construtores – Colle, Weiss & Cia.

    A inauguração da Estrada Boiadeira se dá em 1921, com a passagem das primeiras tropas de mulas vindas do Rio Grande do Sul e, em sentido contrário, de uma tropa de bois trazida do Mato Grosso pelo próprio construtor Mendes de Camargo.

     

    Encruzilhada dos Gomes entra na história

    No Médio-Oeste, Antônio José Elias (1869–1944) adquire uma área do projeto Braviaco e começa suas atividades rurais nos arredores da Encruzilhada dos Gomes, onde no futuro começará a se formar a cidade de Cascavel.

    O ano de 1922, além dos avanços ferroviários, marcou uma reviravolta na política de atração de imigrantes, que até então havia sido a menina dos olhos dos governantes paranaenses. Caetano Munhoz da Rocha decidiu que não valia a pena investir na atração de imigrantes. Manifestou-se “contrário em principio à imigração estipendiada pelos cofres públicos”:

    − Não acho justo nem razoável que se gaste com o estrangeiro o que poderia ser aplicado em escolas e estradas, em benefício dos nacionais, os verdadeiros povoadores e desbravadores dos nossos sertões (…).

    Rocha optou por apoiar “toda a iniciativa particular para povoamento do nosso extenso e rico território já fazendo concessões de acordo com a lei nº 1.642 de 1916, já facilitando a demarcação de lotes para os nacionais ou estrangeiros que os requerem diretamente”.

     

    Censura à imprensa e banqueiros exigentes

    Hitler se sentiria à vontade no Brasil. Ele foi preso na Europa, mas o senador paulista Adolfo Gordo (1858−1929) dava nome à lei aprovada para impor censura à imprensa brasileira. É neste cenário que lorde Edwin Montagu (1879−1924), ex-secretário do Tesouro da Inglaterra, chega ao Brasil no fim de 1923 para monitorar as contas nacionais.

    Acompanhado por Charles Addis (1861−1945), diretor do Banco da Inglaterra e presidente do Hong-Kong and Shangai Banking (HSBC), Montagu traz um personagem que em breve será decisivo no desenvolvimento capitalista no Paraná − Simon Joseph Fraser (1871–1933), o Lorde Lovat. Agrônomo e diretor da Sudan Cotton Plantations Syndicate, Lorde Lovat queria produzir aqui o algodão que a indústria têxtil inglesa pagava caro para importar em larga escala.

     A intenção era transformar parte da volumosa dívida brasileira em terras. Nelas, sua empresa produziria o algodão pretendido. É a dívida nacional, portanto, que traz a principal colonizadora do Norte do Paraná.

     

    Maus conselhos ao presidente

    Os agentes ingleses da Missão Montagu aconselharam o presidente Bernardes no início de 1924 a demitir em massa, privatizar o Banco do Brasil e eliminar as aposentadorias. Com o governo pautado pelos interesses britânicos, aumenta o desagrado dos operários e dos militares.

    Lorde Lovat, um dos membros da Missão Montagu, começa 1924 visitando no Paraná o major Barbosa Ferraz, latifundiário paulista que reinava no Norte Pioneiro.

    Em companhia do engenheiro Gastão de Mesquita Filho e do prefeito de Jacarezinho, o campineiro Willie Davids (1893−1944), Lovat veio conhecer a região de Cambará, onde o café já florescia e ele ambicionava obter amplas áreas para plantar algodão.

    Mesmo sabendo dessa firme intenção do visitante inglês, o habilidoso Mesquita deu corda a Lovat durante um jogo de bilhar. Alimentava o propósito de convencê-lo a desenvolver outro negócio: criar infraestrutura para agregar valor a terras que seriam de grande proveito com vias de escoamento para a produção agrícola.

     

    Tacada certa de Mesquita

    Sobre a mesa de bilhar de Barbosa Ferraz, Mesquita abriu um mapa e mostrou ao lorde inglês o traçado dos primeiros quilômetros de ferrovia em construção. Ela seria, como no sonho de André Rebouças desprezado pelo imperador d. Pedro II, a espinha dorsal de um ambicioso plano de colonização:

    “Nada mais era do que o Traçado Cincinato Braga (1864−1953, parlamentar paulista), de ligação com o Paraguai, que anos antes havia sido proposto no Congresso e que não chegara a ser aprovado, embora fosse muito mais conveniente procurar atingir esse país via Cambará e Guaíra. Ao expor o plano eu ia desvendando a Lovat a possibilidade de obter lucros e ao mesmo tempo servir ao País através da abertura da estrada de ferro e da concomitante colonização nacional das terras por elas cortadas” (Mesquita Filho, citado em Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná, Rubens Rodrigues dos Santos et alia).

    Na cena política nacional, os militares rebeldes exigiam que o governo Bernardes instituísse o voto secreto. Pediam a descentralização do poder, moralização e independência do Legislativo, obrigatoriedade do ensino primário e qualificação profissional para os trabalhadores.

    Uma pauta nada revolucionária, afinal. Mas para as forças retrógradas que apoiavam o governo era inaceitável e merecia ser tratada com muita violência. E bombas.

    Fonte: Fonte não encontrada