A situação no Brasil em 1931 era de frustração com o governo que prometeu pôr fim à corrupção e empregar de forma eficiente os recursos nacionais. Havia protestos populares. No dia 17 de janeiro, a Marcha da Fome seria fortemente reprimida.
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As organizações operárias não teriam vida fácil a partir de então. O governo faria de tudo para esmagá-las ou seduzi-las. A Lei da Sindicalização, editada em 19 de março de 1931, submete os sindicatos aos “delegados” do Ministério do Trabalho, que os controlam e proíbem “ideologias sectárias”. Comemorar o dia 1º de maio passa a ser crime e dá cadeia.
O declínio nas exportações de café leva o governo a queimar o excedente estocado devido aos altos custos de armazenamento. A crise econômica ainda segue destruindo o esforço de milhares de brasileiros que trabalham no campo.
Sob pressão, Getúlio Vargas procura controlar a insatisfação popular aceitando a exigência dos operários, que havia décadas reclamavam a jornada de 8 horas de trabalho na indústria.
General sob pressão
No Paraná, o general Mário Tourinho já é considerado um incômodo pelos novos controladores do poder, que pressionam fortemente para “gauchizar” as regiões Oeste e Sudoeste do Paraná e Santa Catarina.
Sob o comando do general Tourinho, o Paraná desapropriava as terras cedidas no regime anterior para projetos que não vingaram, mas com o decreto n˚ 800, de 8 de agosto de 1931, que depois viria a se estender com a lei 46, de 10 de dezembro de 1935, a determinação de vender essa terras (devolutas, ou devolvidas) para empresas particulares foi um passo à frente.
“Desde então, funcionaram duas ações colonizatórias: a pública, sendo o Estado do Paraná o agente colonizador; e a privada, a cargo de empresas de colonização” (Antonio Marcos Myskiw, Colonos, Posseiros e Grileiros – Conflitos de terras no Oeste Paranaense [1961/66]).
Para avançar no processo de ocupação da área de sua abrangência, considerando que já existia a vila de Encruzilhada/Aparecida dos Portos desde março do ano anterior, em 1˚ de setembro de 1931 a administração municipal de Foz do Iguaçu pede ao governo do Estado a posse das terras da futura cidade de Cascavel.
Planos não faltaram
A União também fazia a sua parte: organiza o Departamento Nacional de Povoamento (DNP) e os ministérios da Viação e da Guerra criam a Comissão de Estradas de Rodagem Paraná-Santa Catarina.
Na sequência do projeto de federalizar as áreas de fronteira, em 20 de outubro de 1931 o decreto 2.153 cria o Parque Nacional do Iguaçu, até então estadual, segundo proposta feita por Alberto Santos-Dumont (1873–1932).
O transcorrer do ano de 1931 é desastroso para o general Mário Tourinho, acusado de perseguir os jornais oposicionistas e manter com seu irmão Plínio uma oligarquia familiar que controlava a administração pública. Tourinho não cede às pressões e sua situação à frente do governo se torna insustentável:
“A partir de meados de 1931, aumentaram as denúncias contra o interventor, na maioria advindas de elementos vinculados à Legião Revolucionária Paranaense e ao Centro de Resistência Revolucionária do Paraná. Essas organizações notificaram o ministro da Justiça, Osvaldo Aranha, de que as residências de seus integrantes vinham sendo objeto de vigilância policial” (Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: 1930-1983, FGV/CPDOC).
Tourinho sai de cena
Antagonizado no Rio de Janeiro e dentro do próprio governo local, Tourinho deixa o poder em 29 de dezembro de 1931. Como jamais desejou ter governado, jamais retornará às atividades políticas.
Quando o interventor Mário Tourinho caiu em desgraça por defender os interesses paranistas e não permitir perseguições, comuns nas trocas abruptas de governo, assumiu a administração do Paraná por um curto período outro representante de tradicional família araucariana – o professor curitibano João David Pernetta (1874-1933).
Pernetta preparou, entre 29 de dezembro de 1931 e 30 de janeiro seguinte, a posse do novo interventor – Manoel Ribas (1873−1946). Parlamentar, ele exerceu por duas vezes essa tarefa de governador-tampão. A rigor, não governou, mas se notabilizou na cena federal por seu empenho na formulação das leis sociais e previdenciárias.
Vargas foi habilidoso. Colocou no governo do Paraná um paranaense que lhe era fiel, já vivia há um bom tempo fora das Araucárias, em serviço no Rio Grande do Sul, e estava desligado das tramas curitibanas.
Manoel Ribas, ainda jovem, foi para Santa Maria organizar uma cooperativa de ferroviários. Adaptou-se à região, ganhou prestígio e em 1927 se elegia prefeito, cargo que não perdeu com a revolução.
Reconstruindo a Polícia
Dar ao Paraná um excelente administrador nascido no próprio Estado foi a solução que Vargas encontrou para substituir o general Tourinho, um antoninense.
A fórmula foi aceita: um político e empresário de sucesso, de origem paranaense e fiel ao novo regime, devolveria o equilíbrio perdido com o afastamento da oligarquia Camargo-Munhoz.
Uma das primeiras iniciativas de Manoel Ribas foi reorganizar a estrutura de segurança pública do Paraná, onde a família Tourinho reinava absoluta. Com o decreto 1.505, de 25 de junho de 1932, criou a Força Pública do Estado, unindo o Corpo de Bombeiros e a Força Militar, que passa a se denominar Polícia Militar.
Ribas sabia que o projeto de “invasão” gaúcha não era bem visto pelos paranaenses. Assim, uma solução apresentada pelo juiz Osório do Rosário Corrêa para fazer Foz do Iguaçu se tornar um fantástico centro continental de lazer – uma “Las Vegas” tropical – surgiu como a opção ideal.
Capaz de fazer o mais remoto interior paranaense se integrar produtivamente ao conjunto do Estado, o plano de Osório Correa era magnífico: aposentava o projeto de tomar novos territórios dos paranaenses e determinava as fontes financeiras para a formação de um centro internacional de turismo, com cassinos, rede de hotéis de luxo e parques de diversões.
O plano ideal
Com todas as pontas amarradas, a partir de uma nova estrutura urbana montada por uma “prefeitura especial” para atuar em Foz do Iguaçu por um período de dez anos, o plano impunha a brasilidade na região que o relatório de Zeno Silva considerava abandonada e sob domínio estrangeiro.
A prefeitura especial, controlada por paranaenses, concentraria toda a arrecadação municipal, estadual e federal exclusivamente para o desenvolvimento da estrutura prevista, além de empréstimos tomados ao Banco do Brasil a ser pagos com essa ampla tributação.
O projeto de Osório Correa era tão amplo que previa a construção de uma cidade planejada, o saneamento da região com a eliminação das toscas taperas, a povoação por cidadãos brasileiros de iniciativa e o aprimoramento da educação pública para que as crianças não crescessem falando “portunhol”.
A imprensa curitibana aplaudiu a proposta porque “tudo isso seria feito sem aqueles pruridos antipáticos de separação daquele território do todo paranaense” (jornal Gazeta do Povo, 30 de junho de 1932).
Enquanto o projeto de nova “Las Vegas” encantava os curitibanos, pois evitaria a perda de território, parte para Foz do Iguaçu um destacamento de militares, sob o comando do capitão Edgard Buxbaun, que depois chegaria ao generalato. A “Las Vegas” do Iguaçu era paranista demais para vingar, mas os militares de Buxbaun cumpririam suas missões.
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