Categoria: Alceu Sperança

  • Começa de fato a colonização

    Começa de fato a colonização

    Nas primeiras décadas do século XX se aprofundou irreversivelmente o processo de minifundiarização das propriedades no Nordeste gaúcho, fator que determinou a expulsão de muitas famílias de descendentes de imigrantes italianos.

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    Estava aberto o caminho para a ação das companhias colonizadoras, que descortinavam espaços para a ocupação do Paraná. Os filhos e netos dos imigrantes já vinham ao Paraná, mas não contavam com estímulos para ficar. Inexistiam condições de trabalho ou um mínimo de infraestrutura favorável.

    “Eram constantes as reclamações por parte dos encarregados das companhias colonizadoras que tinham interesse em colonizar as terras marginais ao Rio Paraná, no sentido de um aparente descaso por parte das autoridades governamentais paranaenses quanto à abertura de vias de comunicação mais adequadas, que permitissem uma maior integração da área a ser povoada com centros que já possuíam uma importância comercial mais acentuada” (José Augusto Colodel, Obrages & Companhias Colonizadoras).

    Enquanto Santa Helena era o destino de várias famílias italianas paulistas e gaúchas, a região da atual Cascavel, que só começaria a existir dez anos depois, atraía cada vez mais grupos de colonos eslavos.

    Os poloneses e ucranianos traziam algum dinheiro, muitos por estímulo governamental, outros atraídos pela propaganda das colonizadoras, e consolidaram na região o sistema safrista − o cultivo do milho combinado com a criação de suínos.

    Pedro Ferri, o agente

    A falência do projeto colonizador da empresa Meier, Annes & Cia foi um obstáculo na corrida dos colonos gaúchos ao Oeste. Mas a companhia Alegretti, que adquiriu as terras da empresa falida, tinha Pedro Ferri como agente de propaganda e vendas.

    Ferri se beneficiava de um duplo conhecimento: sabia que dificuldades os agricultores viviam em sua região de origem e tinha perfeita noção do potencial do novo destino. Afinal, já vivia no Oeste paranaense.

    Para Ferri, portanto, a tarefa de vender as terras paranaenses foi facilitada pelo fato de que no Sul os colonos ocupavam áreas inferiores a dez hectares, não raro em regiões acidentadas.

    Além dos morros que atrapalhavam, mais desafiadoras eram as áreas pedregosas, reduzindo severamente o espaço aproveitável. De resto, não havia gaúcho que ficasse indiferente aos relatos de Ferri sobre a fartura de terras existente no Paraná.

    Terras boas distribuídas em colônias superiores a dez hectares, assim, funcionavam como um ímã para os colonos que migraram a partir de 1920 do Rio Grande do Sul ao Paraná, provenientes principalmente de Bento Gonçalves, Alfredo Chaves, Cachoeira e Marau.

    Fim da guerra exigiu madeira

    Quem sofria produzindo em minifúndios com terras não raro escarpadas e pedregosas considerava um paraíso a fartura de áreas devolutas no Paraná. Vivendo em colônias retalhadas por heranças distribuídas a proles numerosas, eles viam que logo também precisariam repartir esses “pedacinhos” com seus filhos.

    No Paraná, chegavam a um paraíso que tinha um lado particularmente infernal: um interior desprovido de todo e qualquer conforto, sem uma carteira de clientes aos quais vender os produtos coloniais.

    Mas a aventura estava apenas começando: eles imediatamente se lançavam ao trabalho duro de tarefas combinadas entre uma agricultura de subsistência e a extração da madeira, cuja procura disparou após o fim da I Guerra Mundial.

    Para juntar a subsistência com ganhar para as despesas, servindo às madeireiras, era uma lida de sol a sol repartida entre a tração animal e o braço do colono, que manuseia alternadamente a enxada, o machado e o serrote.

    “O transporte da madeira para as serrarias ou pontos de embarque era realizado por carroças ou através do arrasto, tracionado por três, quatro ou cinco juntas de bois” (Noeli Woloszyn, Em Busca da Terra).

    Diversifica-se a população

    Pelo vasto interior paranaense, até então com vilas diminutas e muitos acampamentos transitórios, forma-se uma população rarefeita, dispersa em ranchinhos ocupados por uma ou duas famílias, bastante isoladas uma das outras, que constituem plantações diversas, principalmente de milho, feijão e trigo, além de criar suínos.

    É o sertanejo paranaense retornando aos hábitos anteriores à Guerra do Contestado, com o caboclo agora se somando aos imigrantes e seus filhos.

    Essa nova realidade beneficiou enormemente a pequena e isolada vila de Foz do Iguaçu, cuja população se entusiasmava com a abundância de gêneros alimentícios trazidos pelos novos habitantes, que deram vida ao comércio local:

    “As terras são fertilíssimas e produzem abundantemente cana-de-açúcar, arroz, mandioca, frutas tropicais como a laranja, banana, mamão etc. Devem também produzir café e algodão, mas supomos que a cana-de-açúcar, o arroz e a mandioca são suas principais culturas” (Jayme Bailão, A Foz do Iguaçu e as Cataratas, 1921).

    Erva-mate, ainda um ciclo forte

    Nas obrages ervateiras do Rio Paraná, exploradas por proprietários estrangeiros, a mão-de-obra era requisitada exclusivamente para a atividade mais rentável da época: a extração da erva-mate e, crescentemente, da madeira.

    Preservava-se a floresta argentina, cortava-se a do Paraná. Produzir comida não interessava aos donos das empresas, que abasteciam os seus empregados – os mensus – com seus próprios armazéns.

    “Cada mensu (…) era obrigado a suprir-se de gêneros alimentícios, roupas e tudo o mais no armazém ou no barracón da obrage. (…) Nas barrancas do Rio Paraná, a agricultura era terminantemente proibida no interior das obrages” (Ruy Christóvam Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).

    O Oeste do Paraná era um latifúndio colado em outro, em mata contínua. O Censo Demográfico de 1920 desmentiu as estimativas de que nessa região viviam mais de dez mil pessoas.

    Na verdade, pouco passavam da metade dessa previsão: 1.500 brasileiros, 1.500 argentinos e 3.000 paraguaios – “que  perfaziam densidade demográfica de 0,5 habitantes por quilômetro quadrado” (Roberto Lobato Corrêa, O Sudoeste Paranaense antes da Colonização).

    Para entender o quanto era realmente pequena a população brasileira no Oeste paranaense, concentrada nos portos do Rio Paraná, basta dizer que Palmas, no Sudoeste, estava com 10.270 habitantes em 1920.

    A Encruzilhada dos Gomes

    O Médio-Oeste não passava de um vasto campo de coleta de erva-mate. Pela dificuldade no transporte, não valia a pena arrastar madeira da Cascavel de hoje, então inexistente, até o Rio Paraná. Além de faltar o trem, os caminhões não suportariam trafegar nas trilhas carroçáveis.

    Excetuando as áreas pertencentes às obrages ou reservadas à projetada estrada de ferro, havia no Médio-Oeste uma larga faixa de terras devolutas encravada entre as companhias Domingo Barthe e Nuñes y Gibaja.

    Nela ficava, desde 1895, o entroncamento de trilhas que os sertanejos chamavam de Encruzilhada dos Gomes.

    Em 1921, com a transferência de terras pertencentes à Companhia Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande do Sul à sua sucessora Braviaco (Companhia Brasileira de Viação e Comércio), o movimento colonizador passa a ter em conta não mais apenas o centro, o Sul e os portos do Extremo-Oeste, mas, com o Norte e Noroeste, também o Médio-Oeste e o Sudoeste paranaense.

    A Braviaco manifestara a intenção cumprir o acordo firmado com o governo estadual, de atrair colonos para as terras disponíveis nos vazios despovoados, cujo aproveitamento se limitava à coleta de erva-mate e contrabando de madeira.

    Ela venderá terras à primeira família que em setembro de 1922 vai se apossar da Encruzilhada dos Gomes, local onde em 1930 terá início a futura cidade de Cascavel.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Entra em cena o automóvel

    Entra em cena o automóvel

    Em pleno clima pré-revolucionário e apesar das três fronteiras, era fragilíssima a presença federal em Foz do Iguaçu ainda em 1919. Havia deserções nas forças militares e as vagas eram preenchidas com soldados estrangeiros (Júlio Nogueira, Do Rio ao Iguaçu e ao Guaíra).

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    A estrada que viria a ser a BR-277 estará plenamente concluída de Leste a Oeste do Paraná em novembro de 1919, em ritmo acelerado e com muitos sacrifícios. Precária, com prazos forçados e trechos arruinados pelo clima, para as autoridades o mais importante não era a qualidade da obra em si, mas ficar pronta para inaugurar no 66º aniversário do Estado, em 19 de dezembro.

    Foz do Iguaçu nesse fim de década é uma vila irregular, com ruas em desalinho. Pela falta de abastecimento com artigos nacionais a população se satisfaz com produtos argentinos. “As construções eram quase todas de madeira e cobertas de zinco. Apesar da limpidez e frescura dos riachos, a água potável era retirada de poços desabrigados” (Ruy Christóvam Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).

    No esquecido extremo-Oeste do Paraná os fatos do Brasil ainda parecem muito distantes, mas uma revolução logo virá para fazer da terra vermelha um palco de batalhas. Com uma estrutura fronteiriça tão débil, não seria de espantar que meia dúzia de guerrilheiros chegasse e dominasse Foz do Iguaçu. É o que em breve iria acontecer.

    As primeiras viagens de automóvel

    O Paraná encerrava a segunda década do século XX ligando via rodoviária o litoral à fronteira. Estava oficialmente concluída a Estrada Estratégica – também chamada de Transbrasiliana, por cortar o Brasil de Leste a Oeste.

    O colonizador Miguel Matte fez todo o percurso com seu automóvel em 72 horas. O prefeito de Foz do Iguaçu, coronel Jorge Schimmelpfeng, um dos construtores da estrada, também iria percorrer a Estratégica em toda a sua extensão, viajando com seu automóvel Ford desde Santa Helena até Curitiba.

    Logo em seguida o governador Affonso Alves de Camargo cumpriu o percurso em uma histórica visita motorizada de inspeção aos portos do Rio Paraná, em companhia do prefeito iguaçuense.

    Os viajantes embarcados em automóvel por todo o trecho da Estratégica no Oeste paranaense podiam nessa época ser contados nos dedos de apenas uma das mãos.

    Com o término do governo de Affonso Camargo, em 25 de fevereiro de 1920, assume seu vice, o médico antoninense Caetano Munhoz da Rocha. Candidato único, sem riscos eleitorais, Munhoz da Rocha assumiu o governo para o quatriênio 1920/24 pela segunda vez. Na condição de vice-presidente do Estado havia governado interinamente durante as negociações do Contestado.

    Os antecedentes de Cascavel

    Com uma ávida busca pelo pinheiro paranaense no pós-I Guerra, logo os caminhões estarão testando a trafegabilidade da Estratégica em 1920, ano em que o Censo Demográfico iria apurar no Estado uma população de 686 mil habitantes e no Brasil cerca de 31 milhões, então com 75% de analfabetos.

    No Médio-Oeste, colonos catarinenses, caboclos e poloneses começam a se fixar na região da atual Cascavel, de onde partiriam muitas carroças transportando erva-mate aos portos do Rio Paraná.

    Os agricultores eslavos produziam artigos coloniais para o consumo dos administradores e empregados das obrages e seus portos.

    Só o Porto Artaza, de Júlio Allica, assegurava aos colonos um mercado de consumo bastante amplo, com um número de empregados superior ao de grandes empresas sediadas em capitais. “A empresa tem a seu serviço 940 homens, dos quais muitos ali se acham definitivamente domiciliados, com família” (Júlio Nogueira).

    Seguindo a trilha aberta pela Comissão Estratégica, que teria o seu leito melhorado em 1920, justificando o nome de “rodovia”, os colonos poloneses provenientes de Santa Catarina trazem importantes contribuições à agropecuária e à prestação de serviços.

    São eles que introduzem no Médio-Oeste, a partir da década de 1920, a carpintaria, a marcenaria, a selaria, a sapataria e os primeiros instrumentos agrícolas.

    Começam a chegar os colonos gaúchos

    A publicidade das terras do Alto Paraná feita pela colonizadora Meier, Annes & Cia, sucessora da antiga Petry, Meier & Azambuja, oferecia maravilhosas colônias com cerca de 10 hectares.

    Convencidas pelo rol de atrativos das terras, a começar pelo preço baixo e alta produtividade, as famílias Bortolini e Ferri partiram de Bento Gonçalves e Garibaldi, cidades do Nordeste gaúcho, numa aventura digna das epopeias pioneiras.

    Embarcados em um carroção em Carlos Barbosa, cruzaram diagonalmente o Estado rumo à fronteira, em Uruguaiana. Afastavam-se ainda mais de uma linha reta rumo ao destino pretendido. Em Uruguaiana, desmontaram o carroção para seguir de trem até Posadas, na Argentina. A bordo de um navio cargueiro argentino da Companhia Rodríguez “e viajando três dias rio acima, sem parar à noite, atingiram o Porto de Santa Helena (…) Esta aventura durou mais de um mês” (Valdir Marafon, Mosaicos). Chegando a Santa Helena, remontaram o carroção para seguir até as colônias pretendidas.

    O desafio rodoviário

    O problema do escoamento da madeira e da erva-mate continuava. Mais coletores de matérias-primas se incorporando ao mercado de trabalho e industriais abrindo serrarias pressionavam a reduzida e sofrível malha rodoviária.

    A solução para esse volume crescente de produção ficara óbvia desde o fim do tropeirismo. A melhor resposta não estava em caminhões fazendo crateras na Estrada Estratégica, de manutenção tão árdua quanto improdutiva: quando uma equipe de reparos chegava ao fim do trecho em Foz do Iguaçu, já teria que haver outra recomeçando todo o serviço em Guarapuava.

    A saída para ampliar a comunicação, o escoamento de madeira e erva-mate e incentivar a colonização nas regiões Norte, Noroeste, Oeste e Sudoeste do Paraná teria, forçosamente, que ser a ferrovia.

    Para estimular a construção de vias férreas, o governo paranaense contratou a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, oferecendo em troca dos trilhos o direito de uso sobre uma vastíssima área de 2,1 milhão de hectares.

    Esse direito, que também deveria levar embutidas as obrigações referentes à construção do ramal Guarapuava-Foz do Iguaçu, foi cedido pela companhia ferroviária à colonizadora Braviaco (Companhia Brasileira de Viação e Comércio).

    Ferrovia: planos frustrados

    Em 18 de fevereiro de 1920, a lei estadual 1.909 atribui à Braviaco a execução da Estrada de Ferro Oeste do Paraná. Um mês depois, em 20 de março, a lei 1.939 aprova o primeiro plano de viação ferroviária do Estado e sinaliza para a valorização das terras do Oeste, que viria com a infraestrutura de transportes: a já concluída Estrada Estratégica e a prometida extensão da ferrovia.

    Como sucessora da Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, a empresa Braviaco priorizava a comercialização das terras que obtivera em troca das ferrovias projetadas. Seria muito competente e veloz na venda das terras e nada produtiva na extensão dos trilhos.

    Os dados do Censo Demográfico de 1920 reafirmam que o Oeste ainda se mantinha sob domínio estrangeiro: em Foz do Iguaçu havia 4.148 habitantes estrangeiros e apenas 2.282 brasileiros. A nova onda de negócios com a terra que se desencadeia em 1920, entretanto, vai trazer mais brasileiros natos que descendentes de imigrantes.

    A primeira consequência dessa onda de negócios foi o aumento de tamanho dos latifúndios. Em abril de 1920, por exemplo, Roberto Stuber adquire cerca de 50 mil hectares junto ao governo do Paraná para acrescentá-los às terras da sociedade Petry, Meier e Azambuja, integrada ao projeto de colonização de Santa Helena.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Os dois monges e o Cometa de Halley

    Os dois monges e o Cometa de Halley

    Para compensar as traições e trapaças sofridas pelos imigrantes no passado recente, a criação de núcleos coloniais com estrangeiros no interior do Paraná foi condicionada pelo governo de João Cândido Ferreira a uma localização privilegiada, até com a intenção de facilitar o escoamento dos produtos agrícolas para o crescente mercado consumidor.

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    Quanto às condições produtivas, deveriam ser terras de “fertilidade natural”, com abastecimento de água permanente e topografia suave para permitir a lavoura mecanizada. Os lotes, de 20 a 25 hectares, podiam ser pagos à vista ou em cinco anos, neste caso somente para imigrantes com família.

    A competência no desenvolvimento do lote colonial e “boa conduta e dedicação ao trabalho e à família” quitariam automaticamente as duas últimas prestações, determinava o regulamento.

    Essa regra deixava os imigrantes na condição de reféns do julgamento das autoridades, mas o Paraná voltava a ser atrativo aos colonos estrangeiros.

    Sob o império do capital estrangeiro

    Nesse contexto de novos estímulos à imigração, a Compañia Maderas del Alto Paraná teve funcionamento autorizado pelo governo federal em 18 de julho de 1907. Seu representante era o coronel Jorge Schimmelpfeng, ligado a Hilary Howard Lang, administrador da corporação inglesa The Alto Parana Development Co Ltd, da qual a propriedade no Brasil era uma ramificação.

    Um mês depois, a empresa titulava a área de 251.438 hectares do imóvel “São Francisco”. A propriedade tem formalmente a motivação colonizadora, mas o interesse real estava na exploração da abundante erva-mate e da imensa reserva florestal.

    O capital estrangeiro dá as cartas. Em 1908, a Companhia Estrada de Ferro São Paulo−Rio Grande passava ao controle da empresa Brazil Railway, com sede no Maine, EUA. Está aí a origem de graves problemas agrários no Paraná.

    Os resíduos negativos dessa empresa causaram décadas de permanente sofrimento para os sertanejos que, sem acesso à terra, não tinham como trabalhar, já que toda sua vida e conhecimento estavam ligados às atividades rurais primárias.

    Insegurança e medo

    A insegurança no remoto interior do Paraná passa a viver uma escalada. “O crime, zombando de toda a ação defensiva e repressiva, campeia e alastra, sob influência de causas múltiplas, antropológicas, físicas ou sociais que, de modo soberano e irrepreensível, imperam sobre os indivíduos e as sociedades” (Pamphilo de Assumpção, advogado, um dos fundadores da OAB/PR, em declaração de 21 de agosto de 1908).

    Visto frequentemente nos arredores de Lages, um novo monge “São João Maria” conquistava rapidamente adeptos aguerridos para uma rebelião contra as autoridades republicanas.

    Esse monge, que passa a desafiar o Monge, apelido do novo governador do Paraná, Francisco Xavier da Silva, aproveita-se da tradição de bondade e supostos milagres de dois andarilhos precedentes para estimular os protestos dos sertanejos contra a exploração e expulsão que sofriam com o avanço das obras da Estrada de Ferro São Paulo–Rio Grande.

    O rei invencível e salvador

    A mistura dos sertanejos espoliados e dos trabalhadores abandonados à própria sorte cria um caldo de cultura explosivo. Um novo arraial como Canudos começa a se desenhar.

    O desinteresse das autoridades pelo futuro dessa gente, que determinou a expulsão impiedosa dos sertanejos das terras que ocupavam para a construção da estrada de ferro e a exploração madeireira, cria rancor contra os republicanos e, consequentemente, ódio à República.

    O sebastianismo, crença em um poderoso e invencível rei que virá para salvar o povo de seus algozes republicanos, preenche de rancor as omissões dos poderes públicos. É na tradição sebastianista que uma encarnação do rei Sebastião e dos monges antigos se torna comandante da redentora guerra santa sertaneja contra a República e suas crueldades.

    A ideia de retornar à monarquia está centrada na lembrança bucólica de que os sertanejos no Império podiam viver e praticar suas culturas de subsistência livremente nas matas.

    Na República, eles se autointitulam “pelados”. Sentem-se molestados pelos interesses norte-americanos que tomam as terras e os expulsam, respaldados por peludos – os militares da União e a polícia do Estado do Paraná, que garantem aos concessionários estrangeiros a posse das terras em troca da ferrovia.

    Assim, o movimento sertanejo liderado pelo “monge” José Maria/Lucena iria agravar a disputa entre os dois Estados e se prestava à estratégia de domínio territorial das autoridades barrigas-verdes.

    Cometa de Halley

    No início de 1910 houve muito alarde em torno da próxima passagem do Cometa de Halley, que seria em maio. O visitante celeste traria, para os supersticiosos, o “fim do mundo” que não viera na virada do século.

    No interior do Paraná houve muito medo, principalmente porque em 1909 ocorreu a terrível “seca dos taquarais”, liquidando totalmente as lavouras. Nesse tempo de estiagem e penúria, vieram vastos incêndios.

    Vendendo máscaras de proteção que hipoteticamente protegeriam os consumidores da ação destrutiva do cometa, espertalhões espalharam o boato de que a cauda do cometa era venenosa e ao passar pela Terra iria matar pessoas e animais. Não era difícil, assim acreditar que o mundo estava acabando por causa do cometa.

    Além dos vendedores de proteção e cura para os supostos malefícios do Halley, outro oportunista, dizendo-se “profeta”, saía pelas vilas fazendo previsões catastróficas.

    Monge capitaliza desgraças

    A Colônia Mallet, futura Laranjeiras do Sul, recebeu a visita de um homem baixo, gordo, vermelho, com cabelos e bigodes ruivos.

    “Seu nome era Miguel Lucena que aproveitando a fama deixada por João Maria, havia assumido o nome de José Maria. Reuniu os sertanejos e anunciou que haveria uma guerra da qual muito poucos escapariam e para se salvar, era necessário se esconder no mato, alcançar o Rio Iguaçu e atravessá-lo cento e cinquenta vezes como penitência” (João Olivir Camargo, Nerje).

    Os sertanejos crédulos reuniram as famílias e partiram em direção ao rio. Construíam ranchos de taquara nas matas vicinais e esculpiam canoas para a travessia, mas o alimento escasseou logo nas primeiras travessias.

    “A ideia de ir de um lado para outro cento e cinquenta vezes foi irritando o povo. Uma estiagem prolongada secou as nascentes de água potável (…) as criações morreram, as crianças, acometidas por desidratação e verminose, começaram a sumir” (João Olivir Camargo).

    Entre uma e outra nova travessia do rio, alguns já desconfiavam que a “profecia” do monge era um engodo.

    Latifúndio cresce

    As desgraças de 1909 não impediram as autoridades de confirmar que o futuro do Paraná estava em suas áreas ainda inexploradas: as matas do extremo-Oeste haviam escapado da destruição, colonizá-la era essencial, como continuar a luta para que Santa Catarina não tomasse o Sudoeste.

    Com a habitual justificativa de pretender explorar a erva-mate, a Compañia Maderas del Alto Paraná requereu a compra de mais 22 mil hectares, em operação autorizada pelo governo estadual, medida que ampliava o latifúndio inglês na região.

    É nessa época, também, que surge Guaíra, por iniciativa da Companhia Mate Laranjeira (originalmente Larangeira), criada por Thomaz Larangeira e as famílias Murtinho (MT) e Mendes Gonçalves (Argentina).

    A Mate Laranjeira tinha sedes no Rio de Janeiro, Paraguai e Argentina, seu principal mercado consumidor. Em suas terras nas proximidades das Sete Quedas a empresa fundou o Porto Monjoli e em seguida, abaixo dos saltos, o Porto Capitão Mendes Gonçalves (Porto Mendes).

    Fonte: Fonte não encontrada

  • A história do coronel Jorge

    A história do coronel Jorge

    Mais de um mês depois de começar sua viagem ao Oeste, primeira tentativa importante do Estado do Paraná para abrasileirar a região, em 8 de outubro de 1904 o engenheiro Arthur Martins Franco chegava para iniciar a demarcação das terras das obrages das margens do Rio Paraná.

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    Seriam 52 dias “num sertão deserto e desconhecido, chefiando uma turma de 16 homens, composta quase toda de paraguaios e argentinos, entre os quais havia apenas 2 brasileiros: o Francisco Chagas, o balizador, e meu cozinheiro José, paulista”.

    Franco e os técnicos Aristides e Getúlio seguiam a cavalo e “a peonada marchava a pé, mochila às costas”.

    Partindo para o interior do sertão, outro mês e meio se passou até a turma de agrimensura em sua árdua viagem ao interior do Paraná alcançar o local onde começaria a demarcar as terras da obrage Nuñes y Gibaja.

    “Nesses primeiros dias a marcha para o acampamento Central foi uma verdadeira odisseia, porque começou a chover sem cessar e nos lugares baixos, canhadas ou mesmo terrenos planos, onde havíamos passado facilmente, por ocasião da nossa entrada, estavam agora de tal modo encharcadas, que constituíam verdadeiros atoleiros, onde os cargueiros ficavam presos, atolados até a barriga, e que era preciso descarregar toda a carga para o animal sair, arrancado dali pelos peões que nos acompanhavam” (Arthur Martins Franco, Recordações de Viagens ao Alto Paraná).

     

    Foco na pose das terras

    Franco vinha medir terras enquanto brasileiros excluídos de posses no período de liberdade condicional que se seguiu à Lei Áurea vinham de outras regiões do País para tomar posse delas.

    Alheios aos esquemas cartoriais políticos e familiares das elites paulistas, curitibanas, litorâneas e guarapuavanas, eles começam a escolher “posses” no interior do Paraná, processo que daria origem aos primeiros atritos com os latifundiários e seus agentes locais.

    Como os fazendeiros paulistas que vêm ocupar e/ou comprar terras, os posseiros acompanhavam os trilhos da estrada de ferro São Paulo−Rio Grande, que no final de fevereiro de 1905 chegam a União da Vitória.

    Essa massa de deserdados, sem condições de adquirir terras pela compra, ocupa áreas que o governo cedeu no Império a grandes interesses estrangeiros. Eles são a origem dos “pelados”, que sempre a um passo da rebelião contra a ordem republicana recentemente instituída serão iludidos pelo fanatismo armado.

     

    Militar expulso do Exército

    Curitiba tinha na primeira década do século XX um vereador incomum. Jorge Henrique Schimmelpfeng (1876−1929), aos 29 anos, já havia feito história. Cadete na Escola Militar da Praia Vermelha, florianista, combateu a Revolta da Armada e em março de 1895, por solidarizar-se com colegas na vaia contra o general Jacques Ouriques (1848−1932), foi expulso da academia militar.

    Aos 19 anos, apadrinhado pelo pai comerciante, havia assumido a função de subcomissário de Polícia em Curitiba, de onde se credenciou para uma vaga na Câmara Municipal.

    Mesmo anistiado depois pelo Exército e recebendo o posto de coronel, Jorge nunca mais retornou de fato à carreira militar, mas ser vereador em Curitiba já não cabia em seus projetos.

    Preferiu trocar a comodidade de uma tranquila vereança para se meter na fronteira desconhecida assumindo um encargo oficial. Sua missão era instalar uma comissão fiscal do Estado na então minúscula e desprestigiada Vila Iguaçu, onde as autoridades estaduais pretendiam aplicar um plano regional de desenvolvimento.

     

    Surge a Fazenda Britânia

    Jorge Schimmelpfeng fará muito mais que cumprir funções burocráticas a serviço do Estado. Ele decidiu mergulhar de corpo e alma na tarefa de transformar a Vila Iguaçu em uma cidade importante.

    Em 6 de abril de 1905, representando o capital inglês da Compañia de Maderas del Alto Paraná, ele adquire 274 mil hectares de terras devolutas e forma a Fazenda Britânia, um fantástico latifúndio das terras mais férteis do planeta, entre o Rio São Francisco e o Porto Artaza, do argentino Júlio Allica.

    Nessa propriedade, que será a origem de Toledo, Marechal Cândido Rondon e outros municípios do Oeste, vai ocorrer uma das primeiras experiências industriais do remoto interior paranaense além do beneficiamento da madeira.

    Seria uma fábrica de essências para fixar perfumes, instalada na comunidade de Rio Branco. Com alambiques, extrairiam o óleo da planta vetiver e da casca da laranja silvestre apepú.

     

    Mão de obra paraguaia

    O Porto Britânia escoava madeira, erva-mate e os demais produtos da Fazenda. “O administrador geral das terras pertencentes à Compañia Maderas del Alto Paraná, no Brasil, era Mr. Flemming. Os exploradores, picadores e os carroceiros dessa companhia eram paraguaios. Os carretões usados para o transporte dos toros de madeira, das matas até o porto, eram chamados de alçapremas, sendo puxados por bois ou burros” (Projeto Memória de Marechal Cândido Rondon).

    As obrages prosperavam e os latifúndios cresciam. Foi nesse período que o Estado do Paraná passou a Colônia Lopeí e com ela também os pousos Guajuvira, 1° de Outubro, Arroio Grande, Palmito, Pouso Frio e Toledo, cada qual com 200 hectares, ao domínio da companhia Nuñes y Gibaja. Isso acontecia um quarto de século antes de a cidade de Cascavel ter início.

     

    Barthe, o dono do Oeste

    O ano de 1905 foi todo tomado por um trabalho intenso de construção rodoviária. O governo do Paraná queria alcançar com a máxima brevidade a Colônia do Iguaçu, então com escassos mil habitantes, número que iria dobrar já no ano seguinte. A aceleração da obra atraía mais gente, agora brasileiros, para a região.

    O franco-argentino Domingo Barthe já controlava a exploração dos mais de 60 mil hectares adquiridos às margens dos rios Paz, Tormenta e nascentes do São Francisco, cujos confins se estendiam mais de 90 quilômetros além do Rio Paraná.

    A localização de propriedades tão distantes dos portos do Rio Paraná exigia a construção de estradas que facilitassem o escoamento da erva-mate e da madeira por essa via navegável (José Augusto Colodel, Obrages & Companhias Colonizadoras).

    Barthe aproveitou a construção das “picadas” necessárias aos seus negócios para requerer mais terras ao governo do Estado, ampliando seu domínio em mais mil hectares, vindo a ter dois portos de embarque: Santa Helena e Sol de Maio.

     

    A angústia de Vicente Machado

    O território se apresentava crescentemente dominado por estrangeiros e seus empreendimentos, defendidos por “jagunços” dos “pelados”, que testavam os limites dos proprietários cartoriais e grileiros de terras.

    Não sem razão, portanto, a preocupação com o povoamento do território centralizou a mensagem que o governador Vicente Machado enviou aos deputados estaduais em 1905.

    O governador apresentava um balanço bem sombrio do contencioso com Santa Catarina. As chances do Paraná se reduziram desde que o governo federal rescindiu contratos para o assentamento de novos imigrantes: “As grandes levas de imigrantes desapareceram”, lamentou Machado.

    A suspensão do apoio federal à ocupação do território paranaense pelos imigrantes não só levou à escassez de colonos interessados em ocupar o interior remoto e abandonado como veio favorecer as incursões paramilitares barrigas-verdes.

    Sem apoio financeiro, os colonos não viriam. E se os cofres araucarianos estavam exauridos, como o governo iria bancar a entrada de novas famílias de imigrantes? Além de pagar os custos da viagem da Europa ao Brasil, seria preciso custear a propaganda das terras paranaenses no exterior.

     

     (foto 1)

     

    Fazenda Britânia, destacando a futura cidade de Toledo (1946): experiência inglesa chancelada pelo coronel Schimmelpfeng

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Pioneiros entre ilusões e surpresas

    Pioneiros entre ilusões e surpresas

    Os imigrantes chegavam ao país em crescente número no fim do século XIX. O sucesso da atração de braços estrangeiros se devia à Superintendência do Serviço de Imigração na Europa, instalada em Paris sob a direção do cônsul-geral José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845−1912), o Barão do Rio Branco.

    A formação das novas colônias no vale do Iguaçu constituía fator de ânimo, apesar da tragédia causada pelas enchentes, mas a situação nacional também era desfavorável: todo o País mergulhava em crise financeira, que sequer era a primeira desde a instauração da República, em 1889.

    Sofrendo pressões dos republicanos progressistas, o marechal Deodoro da Fonseca não tem mais condições de se sustentar no poder. É forçado a renunciar em 23 de novembro de 1891, em plena crise econômica e institucional, quando assume o marechal Floriano Peixoto, seu vice – e adversário.

    Lendas e verdades

    Nesse início da década final do século XIX, contavam-se lendas fantasiosas e verdades inacreditáveis sobre essa região já parcialmente explorada por estrangeiros mas desconhecida pelas autoridades brasileiras.

    Verdades incríveis como a extrema fertilidade do solo, que depois os técnicos comprovariam ser similar à da Mesopotâmia, o vale bíblico dos rios Tigre e Eufrates. E lendas fantasiosas sobre fortunas em ouro em pó que os jesuítas teriam deixado ocultas quando foram expulsos pelos bandeirantes.

    Logo depois da Guerra do Paraguai, um empreendedor ainda mais de olho na hipotética fortuna dos jesuítas que nas riquezas reais organizou expedições e saiu farejando o tesouro que os padres e os índios teriam deixado para trás.

    É Norberto Mendes Cordeiro, que se intitulava “comendador amansador de índios”, um fazendeiro de Guarapuava a quem o Cacique Bandeira, esperto e manipulador, comunicara a localização de um certo Campo do Abarrancamento ou Campinas Vitorianas, onde a riqueza estaria à sua espera.

    Da ilusão à conquista

    A sugestão interessou ao ambicioso “Comendador Marcondes”, como Norberto era conhecido, que com mais quatorze companheiros guarapuavanos saiu em expedição para tomar posse dos campos anunciados como sítios de maravilhosas riquezas.

    Foi assim, em 1893, que esses fazendeiros de Guarapuava registram no Juízo Distrital de Colônia Tereza a posse de 60 mil hectares do Imóvel Mourão, para criação de gado. A área foi denominada “Campos de Criar”.

    A declaração de posse, que servia como registro de propriedade, relacionou trinta nomes de pecuaristas guarapuavanos donos dessa vasta área em comum. Ela estava na região que o futuro conheceria como Campo Mourão.

    A partir daí passam a ser legitimadas as futuras posses e registros oficiais de terras no remoto interior do Paraná.

    Choque de realidade

    A ideia de um Eldorado araucariano, seja pelo suposto ouro, seja pelas terras promissoras, animava muitos espíritos ambiciosos. Mas chegar ao Rio Paraná era extremamente penoso.

    “No sertão e nas restingas, a largura da picada é de 20 metros, mas pela extrema uberdade do solo, o mato limita o caminho a um pequeno trilho, zombando em seu rápido e precoce desenvolvimento, das foices e machados das turmas de conservação” (José Muricy, A Foz do Iguassú — Ligeira Discripção de uma Viagem Feita de Guarapuava à Colônia da Foz do Iguassú em Novembro de 1892).

    Quem finalmente conseguia chegar à região encontraria raros brasileiros, mas muitos estrangeiros que haviam descoberto o verdadeiro “ouro” daquela época: o contrabando de erva-mate e madeira para a Argentina.

    Um estrangeiro, por exemplo, como o francês Raymond Robert de Blasset. Ao pedir às autoridades da Colônia Militar do Iguaçu uma concessão de terras “para criação e cultura”, Blasset declarava ser morador do local desde 1887 (Cecília Maria Westphalen, História documental do Paraná: primórdios da colonização moderna na região de Itaipu).

    Blasset empregava mais de cem pessoas. Não era um simples colono, mas um empreendedor fincado no remoto interior, ignorado pelas autoridades paranaenses e até então a salvo dos impostos oficiais.

    Leis corretivas

    Relatos como o de Blasset causavam surpresa entre os militares, que se consideravam os “desbravadores” da região. Por conta dessa ocupação desconhecida das terras do interior, o governo do Paraná edita em dezembro de 1892 a Lei 68 – o primeiro regulamento regional de terras.

    Com a Constituição de 1891, as terras devolutas haviam passado ao domínio dos Estados, mas a Lei 68 ainda seguia os princípios da lei agrária imperial, de 1850, “notadamente quanto ao conceito, apuração física e destinação das terras devolutas” (Antenor Bonfim e Francisco Pereira Muniz, Comentário à Lei de Terras do Paraná).

    Nesse mesmo sentido, a Lei n° 1 do Paraná já havia criado, em abril de 1892, a Secretaria de Estado de Obras Públicas e Colonização do Paraná, um reforço importante na documentação das terras ocupadas.

    A autonomia concedida à Colônia Militar ocorreu em outubro de 1892. Agora a Comissão Estratégica passará a se encarregar exclusivamente dos trabalhos de conservação da “estrada estratégica” Guarapuava−Foz do Iguaçu.

    Entre rodovias ou ferrovias

    Nesse momento, a prioridade era impor o controle oficial por um fio transbrasiliano, ou seja, cortar o Brasil de Leste a Oeste no eixo paranaense por essa rodovia “estratégica”.

    Na prática, era o arquivamento dos vários projetos ferroviários do Império. Mas no sentido Norte−Sul a integração pretendida estava mantida: ela seria ferroviária.

    As terras do interior paranaense foram classificadas em geral como de “terceira ordem” pelo governo estadual, o que correspondia a um preço mais baixo.

    Não era uma depreciação negativa sobre a fertilidade da terra: a baixa classificação alcançava sobretudo as áreas localizadas em matas fechadíssimas, sem estradas de acesso.

    “As terras devolutas do Estado do Paraná estavam classificadas em três categorias − de primeira, segunda e terceira ordens − conforme sua situação relativa a centros urbanos e portos marítimos, fertilidade e fins a que se destinavam” (Pedro Calil Padis, O Paraná: uma Visão de Conjunto).

    Um valor, na verdade, estipulado pela distância dos centros abastecedores e a disponibilidade de meios para o transporte dos produtos. Valor que só mudaria quando mais rodovias e novas ferrovias rasgassem o Paraná.

    Brasileiros contra brasileiros

    Mas um novo fator veio retardar a ocupação do interior do Paraná: a Revolução Federalista consumiu recursos e ocupou homens que poderiam cobrir o interior da infraestrutura mínima para o aproveitamento da região.

    Enquanto os combates aconteciam, em 1º de março de 1894 o paulista Prudente de Morais (1841−1902) vence a primeira eleição direta para presidente, pondo fim à tumultuada República dos Marechais.

    Finda a Revolução Federalista, em 1895, começam a transitar pela Estrada Estratégica, ainda muito precária, colonos do Rio Grande do Sul, de Guarapuava e de Ponta Grossa tendo como destino a Colônia Militar do Iguaçu, onde havia a distribuição de propriedades em troca de serviços prestados.

    Os argentinos ainda eram a maioria dos negociantes do lugar e também trataram de obter a posse de terrenos coloniais. Essa primeira população iguaçuense dedicou-se à pequena agricultura e à suinocultura, principalmente os caboclos, naturais do Paraná, que chamavam os imigrantes gaúchos de gringos.

    Fonte: Fonte não encontrada