A crise provocada pela guerra tarifária entre Estados Unidos e alguns países pelo mundo, sobretudo a China, principal parceria comercial do Brasil, já reflete nos números das exportações, tanto em volume comercializado quanto resultado financeiro das vendas externas.
Referência na comercialização de proteína animal, Cascavel fechou o primeiro trimestre de 2025, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior do governo federal, com o maio volume financeiro de exportações da história. US$ 143 milhões, perto dos R$ 800 milhões considerando a conversão média da moeda americana em R$ 5,8. “Não gosto das brigas tarifárias, mas acho que pode trazer um reflexo positivo para o mercado brasileiro, principalmente às carnes e aos grãos. O Brasil pode se beneficiar dessa guerra comercial”, destaca o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) Ricardo Santin.
O reflexo para Cascavel já foi sentido e deve se potencializar nos dados até o fim do semestre, com a possibilidade de uma escalada tarifária entre os países. Do total exportado de janeiro a março, quase US$ 71 milhões correspondem somente à carne de aves e outros US$ 26,5 milhões dizem respeito à soja. Sozinhos os segmentos respondem por quase US$ 100 milhões exportados. “E quando se exporta carne, no nosso caso principalmente as aves, é valor agregado que se está exportando. É o grão transformada em proteína que gera emprego e renda para milhares de pessoas”, reforça o diretor da Coopavel, Rogério Rizzardi.
Para Rizzardi, o mundo está em busca de mais alimentos. O Brasil, e em especial a região oeste do Paraná, tem o potencial para aumento produtivo com certa fluidez e agilidade, sem elevar áreas de produção e com indústrias adaptadas para os mercados mais exigentes do planeta. “Temos capacidade e podemos atender todos os mercados. Se tiver demanda, temos como atendê-la com excelência e preços competitivos”.
Para o economista Rui São Pedro esse mercado se ampliando, diante da guerra tarifária, segue batendo à porta. “Essa guerra comercial e tarifária pode se estender por muito tempo então mercados, como o nosso, que podem fornecer produtos antes comprados dos Estados Unidos, podem e já estão sendo favorecidos”, avalia.
Cascavel supera marca de exportações mesmo durante a pandemia
Além dos valores em dólares, Cascavel também registrou o maior volume de exportação da história em toneladas. Foram 126,2 mil toneladas de produtos comercializados no primeiro trimestre. O volume supera, inclusive, o auge das exportações no início de 2020, quando o mundo entrava na pandemia da Covid-19 e foi considerado um dos períodos mais emblemáticos às vendas externas. Naquele ano, de janeiro a março, foram vendidas 112,6 mil toneladas. “Ou seja, não é só mais dinheiro, mas sobretudo mais produto sendo vendido. É uma janela importante de mercado sendo ocupada com a expertise daquilo que a gente já sabe e faz tão bem”, reforça o economista.
Para o presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, ainda há o que se esperar dos entraves tarifários, mas ele afirma que as cooperativas do agro estão preparadas para atender o mercado, independente de tarifaços, mas pela necessidade eminente de mais alimentos.
Somente no Paraná, o sistema que é considerado o mais forte do Brasil com cerca de um terço do faturamento das cooperativas nacionais, vai investir em infraestrutura próximo de R$ 8 bilhões neste ano. Além de abastecer o mercado interno, os negócios estão avançando no cenário internacional. O setor produtivo paranaense exporta para cerca de 190 países. “E temos capacidade de avançar em produção e com qualidade com a possibilidade de ampliar produção de forma imediata. O Paraná, e em especial o oeste, estão bem preparados para isso”, afirma o presidente.
Para Rui São Pedro, fortes impactos deverão ser sentidos no fim do quadrimestre, com dados que devem ser compilados na próxima semana. Isso porque, o acirramento da guerra comercial se deu em abril, quando os Estados Unidos anunciaram taxação de mais de 200% a produtos chineses, com contrapartida asiática e boicote a produtos americanos.
Ásia é o maior parceiro comercial
Somente para países da Ásia, Cascavel exportou no primeiro trimestre deste ano 87,2 mil toneladas de produtos e um volume financeiro de US$ 70 milhões. Ano passado, haviam sido cerca de US$ 20 milhões e 15,3 mil toneladas de produtos. Para os especialistas, as projeções são reforçadas pelos números.
“As evidências estão confirmadas. Apesar de uma guerra tarifária não trazer benefícios para nenhuma nação e o risco de provocar uma crise mundial pelas incertezas de negócios, ela pode ser ocupada por alguns segmentos do mercado, mas para que se isso se mantenha e avance, a diplomacia e o governo brasileiro precisam estar empenhados em abrir e conquistar mercados”, reforça.
Para o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, Luis Rua, o Brasil, toda a cadeia do agro brasileira está impactada.
O secretário lembrou que pelo menos 30% das carnes de aves que embarcaram para China eram dos Estados Unidos, que respondem por uma variação de 16% a 18% da carne suína e 8% da carne bovina que os chineses consomem anualmente.
“Óbvio que, com os EUA saindo deste mercado, o Brasil se coloca à disposição. Existem outros players, mas, talvez, nem todos tenham a escala que o Brasil possui para poder apoiar [a China]”, disse Rua.
Para o secretário, o bom desempenho dos exportadores, “dependerá do apetite chinês” pelos produtos brasileiros.
“Poucas geografias do mundo têm a condição de entregar o que o Brasil entrega com os mesmos atributos. Porque o Brasil consegue ter um produto com qualidade, competitividade, sustentabilidade e sanidade, pois é livre de todas as doenças de notificação obrigatória para qualquer produto de origem animal e tem uma situação fitossanitária muito privilegiada”, acrescentou.