Categoria: Cultura

  • Colonos organizam a resistência

    Colonos organizam a resistência

    O ano de 1954 começou para os colonos paranaenses em clima de entusiasmo com as promessas de impulso à agropecuária após a bem-sucedida realização, em setembro do ano anterior, do I Congresso Florestal Brasileiro, promovido pelo Instituto Nacional do Pinho.  

    Com a participação destacada de profissionais e servidores públicos ligados ao setor agrícola, o congresso, parte dos festejos do primeiro centenário do Estado, teve ênfase na silvicultura, priorizando a exploração racional na madeira e a eliminação dos erros cometidos na atividade agrícola, dentre eles as queimadas.

    Uma recomendação importante foi evitar o reflorestamento à base de eucalipto em áreas férteis e apropriadas para a agricultura. Outra, criar cursos de agronomia para compatibilizar o manejo florestal e o desenvolvimento da agropecuária.

    As Associações Rurais

    A adoção de técnicas e práticas agropecuárias adequadas e a terra temporariamente pacificada pela ação policial do Estado, segundo a visão otimista desse período, permitiriam ao Paraná alcançar o topo da produção rural brasileira. 

    No entanto, o afastamento do chefe de Polícia do Estado, Ney Braga, indicado para concorrer à Prefeitura de Curitiba, devolveu os quadros policiais do interior aos habituais esquemas de compadrio com os grileiros. 

    Só quando Braga finalmente conquistar o governo do Estado poderá novamente empreender a repressão aos conflitos de terras. 

    Por ora, a estratégia dos produtores rurais era unir as comunidades em torno de seus interesses, criando Associações Rurais. Com elas, teriam ação política, ações de pesquisa e proteção contra os grileiros.

    A Associação Rural de Cascavel foi criada em 1953 pelo candidato derrotado à Prefeitura de Cascavel no pleito de 1952, o farmacêutico Tarquínio Joslin dos Santos, ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).

    A ARC é a origem do atual Sindicato Patronal Rural de Cascavel. Uma congênere da ARC também surgiu em Toledo.

    O aviso de Willy Barth

    O tema principal em discussão nas Rurais era a urgência de estudar a terra, o clima e as variedades culturais, evitando pragas e outros riscos. Concluíram que a monocultura do café levaria o Estado à ruína no caso de uma geada ampla*.

    A monocultura já apresentava problemas no Norte do Estado e maior risco teria nas regiões mais frias, abaixo do Rio Piquiri. Willy Barth, o líder de Toledo, temia essa possibilidade. 

    Em tempos de políticas públicas imprecisas e a volta das liberdades com o fim da ditadura, entretanto, o espontaneísmo produtivo se concentrava na presunção de rápido enriquecimento com o café. 

    Os avisos caíram no vazio. Muitos colonos perderam o trabalho, o tempo e os investimentos das famílias até aprender a dura lição de que a policultura era na época a prática mais recomendável até melhor conhecimento sobre as possibilidades da terra.   

    *A geada ampla de fato veio, em 1975

    Lições aprendidas

    Os agricultores de Marechal Cândido Rondon preferiram pagar o preço em 1954 e descobriram que a febre cafeeira “não trouxe resultados positivos devido a fatores climáticos, pois o fenômeno de geadas, embora esparsas e de baixa incidência, prejudicava os produtores, que abandonaram esta cultura, depois de duas colheitas” (Projeto Memória de Marechal Cândido Rondon).

    Além da Associação Rural passar a agir em Toledo, Foz do Iguaçu também tratou de iniciar a sua, igualmente por influência de Tarquínio Santos, que para lá se transferiu, atendendo a conselho médico.

    O Município tentou estimular o associativismo oferecendo dois lotes para sediar a Associação Rural, mas só em fevereiro de 1954 houve interesse efetivo em construir uma sede, por iniciativa do prefeito Francisco Guaraná de Menezes.

    Por essa época, Toledo dava mais um passo na estrutura de seu interior, criando o Distrito de Maripá, no extremo-Norte do Município. Também já projetava o Distrito de Novo Sarandi, próximo a Marechal Cândido Rondon, que viria a ser uma referência em cerâmica no interior paranaense. 

    Nação conturbada

    No cenário nacional, uma forte ofensiva golpista contra o presidente Getúlio Vargas começa, abertamente, em 8 de fevereiro de 1954, quando 81 oficiais do Exército enviam ao ministro da Guerra um memorial protestando contra o governo.

    É o Manifesto dos Coronéis, escrito por Golbery do Couto e Silva (1911–1987), que alegava temer a união do Brasil com a Argentina em uma “república sindicalista nos moldes peronistas”. 

    Na verdade, o alvo central do movimento era o polêmico acordo militar firmado entre Brasil e EUA no início da década, que proibia a venda de matérias-primas de valor estratégico – o ferro, por exemplo – aos chamados “países socialistas”, liderados pela antiga URSS. 

    Getúlio Vargas não cumpriu a imposição, “vendendo ferro à Polônia e Tchecoslováquia, em 1953 e 1954, a preços muito mais altos do que os que pagavam os Estados Unidos” (Eduardo Galeano, Veias Abertas da América Latina). 

    Vargas agradava aos apoiadores mais próximos e desagradava aos interesses econômicos em conflito: de um lado, os mecanismos de acumulação capitalista; de outro, as organizações trabalhistas, que saíam da antiga influência anarquista para a comunista. 

    A vinda de padre Guilherme

    A grande influência religiosa entre os colonos os levava a confiar nas escolas controladas por padres e freiras. Em Cascavel, nessa época, dizia-se que a escola do Estado não tinha nome (era apenas Grupo Escolar) e uma escola religiosa, ainda inexistente, só tinha nome – Colégio Nossa Senhora Auxiliadora.

    Na intenção de que a escola em breve pudesse ser construída, o padre Guilherme Maria Heyer (1906–1997), que assumiu a direção da Paróquia Nossa Senhora Aparecida em 5 de julho de 1953, substituindo o padre Francisco Schlüter, deu-lhe o nome no início de 1954.

    Heyer, da Congregação Verbo Divino, foi quem completou a transferência da sede paroquial da provisória igreja construída pelo padre Luiz Luíse para a moderna igreja de belos vitrais construída ao lado, abrindo espaço para as futuras obras da Catedral.

    Como um dos atos finais de sua gestão, o prefeito José Neves Formighieri fez na igreja de madeira, em 12 de outubro de 1956, a entrega ao padre Guilherme Maria Heyer do documento que oficializava a posse da área pela Paróquia de Nossa Senhora Aparecida.

    Sobrevivendo a um acidente aéreo

    Em 1954 não havia o prédioo, alunos ou professores, nem mesmo um terreno onde o educandário com nome pudesse ser construído. Padre Guilherme anunciou a criação da Escola Nossa Senhora Auxiliadora porque foi a esta santa que o padre recorreu, em prece, ao sofrer um acidente aéreo que quase o privou de suas históricas ações em favor da Igreja Católica no interior do Paraná. 

    Prometeu que se sobrevivesse iria construir em Cascavel uma escola com o nome da santa. Foi difícil e demorado conseguir apoio e recursos para construir a grande escola que ele idealizou, mas em 16 de março de 1957, a pedido de padre Guilherme, um grupo formado por quatro religiosas da Congregação de São Carlos Bartolomeu partiu da cidade de Caxias do Sul (RS) para a instalar em Cascavel.

    Obstáculos vencidos

    Embora já iniciadas as obras, da escola ainda havia só o nome. Coube à irmã Hermenegilda Bonafé levar a diante todo o processo de coordenação e direção do Colégio, começando pela matrícula dos alunos.

    Com as obras paralisadas por falta de material, as primeiras aulas foram prestadas em casa alugada até que as primeiras salas ficassem prontas. 

    Toda a madeira havia sido oferecida pela Industrial Madeireira do Paraná, com o apoio das famílias Festugato e Galafassi, mas faltava material como pregos e vidraças, fornecidos em 1957 até o acabamento pela família Luchesa, proprietária da Comercial Oeste Paraná Ltda (Copal). 

    Com o mais moderno e completo sistema de educação da época, o prédio em madeira abrigava além de centenas de estudantes, as juvenistas que ali moravam em preparação para a vida religiosa.

    Depois de encerrar em abril de 1959 suas atividades em Cascavel, padre Guilherme foi designado para criar a Paróquia de Santa Terezinha, em Guarapuava, mas deixou o legado da criação de uma das escolas mais importantes do interior paranaense.

    100 anos da revolução: Com o revólver no peito 

    A Força Pública paulista, comandada pelo major Miguel Costa, imediatamente aderiu ao movimento revolucionário no dia 5 de julho de 1924, obrigando o governador paulista Carlos de Campos e o comandante militar da região, general Abílio de Noronha, a abandonarem às pressas a capital.

    Às 6 horas da manhã, conta João Cabanas em A Coluna da Morte, deparou-se com o major Miguel Costa, que lhe pôs o revólver ao peito e perguntou, nervoso:

    – Você é brasileiro?

    – Sou.

    – Então tem que aderir à revolução. 

    Um terço dos militares paulistas, do Exército Brasileiro e da Força Pública se rebelaram.

    “Após ganhar o controle da capital do Estado, os revoltosos marchariam até o Rio de Janeiro, para depor o presidente Artur Bernardes, alijando do poder não somente a pessoa que consideravam inimiga do Exército, mas também todo o estamento político que era representado por ele: as corruptas oligarquias regionais que colocavam seus interesses particulares acima dos nacionais e utilizavam os instrumentos burocráticos do Estado para auferir benefícios privados” (Mateus Fernandez Xavier, A Coluna Prestes e a Política Externa Brasileira na Década de 1920).

    A Coluna da Morte, livro de João Cabanas

     

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Cascavel celebra o Dia Mundial do Rock com festival repleto de atrações

    Cascavel celebra o Dia Mundial do Rock com festival repleto de atrações

    O bom e velho rock nosso de cada dia está mais vivo que nunca. Neste sábado (13), Cascavel será palco de uma celebração especial em homenagem ao Dia Mundial e Municipal do Rock. A data, que também marca o encerramento do 34º Festival de Música de Cascavel, promete agitar o Centro Cultural Gilberto Mayer e o Teatro Municipal Sefrin Filho com uma programação intensa, iniciando às 16h e estendendo-se até a noite, com shows, workshow e apresentações de grande destaque.

    Atrações 

    A Secretaria de Cultura de Cascavel, responsável pela organização do festival, preparou um evento que promete agradar aos amantes do rock de todas as idades. A comemoração começa às 16h com uma apresentação de voz e violão do músico Xanga, proporcionando um momento de conexão direta com o público, no Centro Cultural Gilberto Mayer. 

    Em seguida, o palco será tomado pela energia das bandas locais. A banda On The Rocks, conhecida por seu rock visceral, promete sacudir a galera com seus clássicos. A esperada Vinyl Voador, que retornou à cena em 2021, também se apresentará, trazendo seus sucessos e novidades para os fãs. Com músicas como “Eclipse” e “White Rose”, a banda consolidou-se como um dos grandes nomes do rock cascavelense.

    O guitarrista Cesário Filho, um autodidata conhecido por sua técnica apurada e timbragem expressiva, realizará um workshow, compartilhando um pouco de sua vasta experiência e técnica com o público cascavelense. Cesário, que já acompanhou artistas internacionais e brasileiros de grande nome, como Akira Kushida e Eduardo Falaschi, é uma figura dinâmica na cena musical.

    Encerrando o festival com chave de ouro, às 20h, a Orquestra Sinfônica de Cascavel fará um Tributo ao Dia Mundial do Rock, no Teatro Municipal, com uma performance que já tem ingressos esgotados e promete ser inesquecível.

    Solidariedade 

    Além de celebrar a música, o evento também tem um propósito social nobre: a arrecadação de ração para a Acipa (Associação Cascavelense de Proteção aos Animais). A entrada sugerida para o evento é de 1kg de ração para cães, que será destinada ao abrigo mantido pela ACIPA, onde cerca de 100 animais aguardam adoção. Aqueles que já retiraram seus ingressos pelo site paralela.art.br são igualmente incentivados a contribuir com a doação de ração.

    Histórico

    O Dia Mundial do Rock é celebrado em 13 de julho em homenagem ao Live Aid, megaevento que aconteceu em 1985 e reuniu grandes nomes da música mundial em prol do combate à fome na Etiópia. Em Cascavel, o Dia Municipal do Rock foi instituído pela lei 7.260/2021, reforçando o compromisso da cidade em celebrar a cultura rockeira.

    Cascavel, que pode ser considerada a Capital do Rock do Paraná, abriga por aproximadamente 100 bandas ativas, além de várias outras ainda em fase de formação. A cidade ganhou projeção nacional nos anos 80 com a banda Ecos da Tribo e, desde então, vem cultivando um cenário musical vibrante e diversificado.

    Programação

    O evento no Centro Cultural Gilberto Mayer promete ser um marco na história do rock local. A programação inclui:

    16h – Show de voz e violão com Xanga: Momento intimista e envolvente.Workshow com Cesário Filho: Demonstração de técnica e interatividade com o público (sem horário específico).Shows com as bandas On The Rocks e Vinyl Voador: Energia e clássicos do rock cascavelense (sem horário específico).

    No teatro Municipal:

    20h – Tributo ao Dia Mundial do Rock pela Orquestra Sinfônica de Cascavel: Encerramento grandioso com repertório especial.

    Cascavel se prepara para um evento histórico, que além de celebrar o rock em todas as suas vertentes, reafirma o compromisso da comunidade com a solidariedade e a cultura. Não perca essa oportunidade única de vivenciar um dia repleto de música, energia e boas ações!

    Fonte: Assessoria

  • Tre Amici. Conheça Jocimar Silva, Matheus Bressan e Thiago Stopa, os tenores que fazem história na música

    Tre Amici. Conheça Jocimar Silva, Matheus Bressan e Thiago Stopa, os tenores que fazem história na música

    Três gigantes da música clássica, cada um com uma carreira internacional bem trilhada e reconhecimento nacional consolidado, se reúnem para proporcionar um espetáculo que não exigirá viagens longas e caras para a Europa ou os Estados Unidos. 

    Os Três Amigos, Jocimar Silva, Matheus Bressan e Thiago Stopa, conhecidos como I Tre Amici, se uniram para exibições primorosas que serão exibidas, pela primeira vez nesta turnê, no dia 24 de julho a partir das 20h no Anfiteatro da Universidade Paranaense (Unipar) em Cascavel. Depois de Cascavel o trio segue para apresentações em outras cidades com o objetivo de popularizar a música clássica, mas também trazendo para o repertório canções italianas e a música popular brasileira. Um espetáculo para todos os estilos, todos os gostos e para todos os públicos, sem classificação de idade.Mas afinal, quem são os gigantes tenores que embarcam em turnê regional, em uma iniciativa inédita por todo o Oeste do Paraná?Jocimar Silva é uma personalidade cujas conquistas transcendem a música, sendo Doutor Honoris Causa, Chanceler Internacional, Embaixador Imortal da Paz e Comendador, começou sua jornada na música clássica há décadas como solista em ópera e oratório, Jocimar é uma figura ilustre, cuja influência se estende à regência de vários coros, incluindo o Coral da OAB Cascavel e o Grupo Vocal Mariage. No oeste do Paraná, ele é uma força imbatível, tendo fundado o Coral da Itaipu Binacional e formado talentos que hoje brilham internacionalmente. Sua dedicação à música e à formação de novos talentos é inegável, e seu impacto na cena musical local é profundo e duradouro.Matheus Bressan é graduado em Canto pela Faculdade Ave Maria, começou sua trajetória musical em Cascavel sob a orientação de Jocimar Silva. Sua voz ecoou por oito países na Europa, além do Brasil e dos Estados Unidos. Ele se aperfeiçoou com mestres renomados, como Bento Hess nos EUA e Fulvio Massa na Itália. Seu nome é sinônimo de excelência, especialmente conhecido por sua participação na “Noite de Gala” em Cascavel. Agora, como membro de I Tre Amici, sua voz continua a encantar audiências ao redor do mundo, trazendo consigo uma qualidade que só os grandes cantores possuem.Thiago Stopa é o barítono que muitas vezes é carinhosamente confundido como tenor. Iniciou seus estudos musicais aos 13 anos com Jocimar Silva. Graduado pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Thiago teve mentores como Carla Domingues e Denise Sartori. Sua jornada o levou ao Madrigal Vocale de Curitiba e ao núcleo de ópera da EMBAP, destacando-se como solista em produções como “The Mikado” e “Chip and his Dog”. Em Bolonha, Itália, ele estudou por cinco anos com o maestro Fulvio Massa, sendo aluno da Escola de Ópera do Teatro Comunal de Bolonha. Aos 30 anos, sua carreira já influencia uma nova geração de cantores. Como membro de I Tre Amici, ele busca inovar no canto lírico e explorar novas possibilidades artísticas.“O espetáculo que eles preparam é um convite à emoção, uma viagem musical que promete arrebatar corações e mentes. O repertório inclui canções italianas, músicas populares, árias de óperas, napolitanas e brasileiras. O objetivo é aproximar as pessoas desses espetáculos, proporcionando a oportunidade de conhecer e se apaixonar pela música clássica”, explica Jocimar Silva.Para o professor, este é um momento histórico, uma chance única de oferecer ao público uma experiência digna dos maiores teatros do mundo, sem sair do Paraná.

    Os ingressos em Cascavel são acessíveis – R$ 40 – apenas para cobrir os custos operacionais. Depois da capital do oeste, o I Tre Amici planeja percorrer as cidades da região oeste e estender suas apresentações por todo o estado. “Na Europa e nos Estados Unidos, espetáculos assim podem custar centenas ou milhares de dólares. Aqui, queremos trazer essa oportunidade para que as pessoas possam ter acesso, conhecer e participar”, afirma Matheus Bressan.Thiago Stopa desafia aqueles que ainda não tiveram contato com a música clássica. “Muitas pessoas dizem não gostar de música clássica porque nunca tiveram a oportunidade de apreciá-la de verdade. As trilhas sonoras dos filmes, desenhos animados e muitos arranjos atuais derivam da música clássica. É uma falsa ilusão não gostar. Convido todos a assistirem a um de nossos espetáculos e descobrirem que gostam e vão gostar cada vez mais.”Os ingressos estão à venda na Kahal Escola de Música, na Rua Canela, número 37, bairro Tropical em Cascavel, ou pelo telefone (45) 9 9980-2066. 

    Fonte: Assessoria

  • Municípios gêmeos, Comarcas gêmeas

    Municípios gêmeos, Comarcas gêmeas

    14/11/1951, 14/12/1952, 14/12/1953 e 9/6/1954 são datas comuns a Cascavel e Toledo. As duas primeiras se referem à criação e instalação dos municípios. As demais, criação e instalação das Comarcas, datas que justificariam a relação fraternal.  

    Para chegar a elas, uma longa história transcorreu. Até 1910, quem precisasse dos préstimos da Justiça no Oeste do Paraná teria que encaminhar a petição aos oficiais da Colônia Militar do Iguaçu, criada em 1889.

    As decisões judiciais passaram à esfera do Estado do Paraná em 8 de abril de 1910, com a criação do Distrito Judiciário. Em 1917 ocorreu a criação da Comarca de Foz do Iguaçu, só instalada de fato em 3 de março de 1919, com a Lei 1.658.

    Toledo ainda não exista em 18 de janeiro de 1938, quando a Lei 6.244 criou o Distrito Judiciário de Cascavel. Em dezembro de 1952, quando foram instalados os municípios de Cascavel e Toledo, gêmeos de nascimento e instalação, tinham realidades fundiárias diferentes: o vasto Município de Cascavel abrangia a região conflitada do Vale do Rio Piquiri e o de Toledo era controlado sem disputas internas pela madeireira e colonizadora Maripá, na antiga Fazenda Britânia.   

    Soluções provisórias

    O prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, conhecia bem a realidade do Piquiri e designou o irmão Eurides Formighieri para pacificar a área. Abrangendo todo o Noroeste, a tarefa não era cabível à Prefeitura de Cascavel. Por conta disso, foi enviado ainda em 1952 o coronel João Rodrigues da Silva Lapa, que em dois meses de atuação fez inúmeras detenções. 

    De imediato, em 24 de dezembro de 1952, o Estado regulamentou a atuação do Departamento de Geografia, Terras e Colonização para agilizar o registro de terras. O DGTC, por sua vez, criou a Inspetoria de Terras de Cascavel, primeiro órgão estadual a se instalar no município.

    Os colonos do interior, porém, reclamavam de corpo mole dos encarregados pela inspetoria em favor dos grileiros (https://x.gd/SGWyC). 

    O prefeito Neves Formighieri e a Câmara Municipal, desaguadouros naturais das queixas, articularam com o responsável pelo Cartório Civil, Sandálio dos Santos, a criação de uma Comarca em Cascavel para evitar a via crúcis dos colonos a Foz do Iguaçu, com altos custos e perda de tempo.

    Mortes em série

    Tempos difíceis, “forças ocultas” impediram a Comarca, mas as mortes aumentaram. A circulação de jagunços e posseiros no comércio urbano de Cascavel logo traria o clima de violência do interior para a cidade, que crescia. 

    Em 28 de setembro de 1953, antes da instalação da Comarca, o comerciante João Nei Miotto matou com um tiro o vereador Adelino André Cattani, na praça Getúlio Vargas, ao lado da Rua Pio XII, onde ficava a Copal (Comercial Oeste), de Itacir e Lídia Luchesa. Matar era a solução trivial para as discussões.

    “Dona Lídia Luchesa conta que cada vez que matavam alguém na frente da Comercial Oeste (Copal) ela corria a colocar um crucifixo entre as mãos do baleado para a extrema-unção. Em pouco tempo acabou com o estoque de crucifixos de sua casa e do armazém” (Xico Tebaldi, Conversa de Chimarrão). 

    Este era o clima de insegurança quando ainda toda a região estava subordinada à Comarca de Foz do Iguaçu, sobrecarregada com antigos problemas da fronteira e os da colonização recente, em que títulos novos de propriedade se sobrepunham a posses decenárias, como em Criciúma (Santa Terezinha de Itaipu).

    “A Colonizadora chegou querendo tirar a gente da terra. Vieram os empregados com espingardas 12, prontos para matar os ‘bandidos’, como eles diziam” (Leonardo Wichoski https://x.gd/igFMS). “Bandidos” seriam os posseiros.   

    Intensa disputa 

    A Comarca de Cascavel veio a ser efetivamente criada, mas não vinha só: a lei 1.542, de 14 de dezembro de 1953 também criava a gêmea toledana, resultado de uma intensa disputa entre os municípios gêmeos, pois a Assembleia Legislativa pretendia criar só uma Comarca para todo o Médio-Oeste (https://x.gd/pwPms). 

    Em dia 31 de maio de 1954, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, desembargador José Munhoz de Mello, determinava, por meio de portarias, atos solenes de instalação das Comarcas de Segunda Entrância de Cascavel e Toledo. 

    A de Toledo foi entregue ao experiente jurista Cid Cordeiro Simas. O promotor de Justiça designado foi Clóvis do Espírito Santo, ainda bem jovem. Simas permaneceu algum tempo em Toledo, mas aos primeiros juízes designados para Cascavel parecia que um tição aceso lhes caía nas mãos, pois nessa cidade com nome de cobra até os advogados eram ameaçados e expulsos.

    Origem do preconceito

    O advogado mineiro Antônio Pereira Tomé veio para Cascavel já com casa reservada e aluguel pago, mas teve que permanecer vários meses em um hotel porque a proprietária do imóvel, ao saber que o inquilino era um advogado, recusou-se a lhe liberar a moradia.  

    Alugava-se para jagunços, mas não para advogados. No passado, aproveitando-se da ingenuidade dos caboclos interioranos, homens bem falantes chegavam de Curitiba ou Porto Alegre se apresentando como advogados, falando de forma empolada e cativante. 

    Os falsos “doutores” davam golpes no comércio e desapareciam. Como era um artifício muito usado, os “caipiras” abriram o olho para não cair mais na lábia dos malandros. 

    Quando começaram a vir ao interior os verdadeiros profissionais do direito, a partir de 1954, enfrentaram a barreira de desconfiança dos caboclos, cansados de ser passados para trás por trapaceiros que usavam três ou quatro palavras em Latim para fingir cultura jurídica.

    Assustaram o juiz

    O primeiro juiz designado para Cascavel, em 5 de maio de 1954, foi Inácio Pinto de Macedo. Ao chegar à cidade na manhã do dia 9 para assumir suas funções, logo ao desembarcar do avião DC-3 da Real Aerovias no Aeroporto Coronel Alberto Mendes da Silva foi informado da ocorrência recente de cerca de 30 homicídios. 

    “Uma rápida passada de olhos pela cidade o convenceu a ordenar o transporte de suas malas de volta para o avião, que partiria às 14 horas daquele mesmo dia. E tirou o time, alegando que o clima aqui era muito pesado” (Xico Tebaldi, fotógrafo e historiador).

    Os temores de Macedo logo se confirmaram. Um dos primeiros jagunços submetidos a julgamento ameaçou resolutamente de morte o juiz Aurélio Feijó, substituto de Macedo à frente da Comarca, sem poupar o promotor, o próprio advogado e jurados.

    O clima era realmente “pesado”. Em ponto de encontro no centro de Cascavel, um agricultor ameaçou o inimigo de morte, “serviço” que jurou completar bebendo o sangue do desafeto. A ameaça foi cumprida à risca, em público, e confirmada tranquilamente pelo autor no curso do julgamento.

    Por essa época, um jagunço encontrou um homem marcado para morrer dentro da Igreja de Santo Antônio e o convidou a “morrer lá fora para o barulho não incomodar os santos” (https://x.gd/HrDrQ).

    Jovens promotores

    A muito custo a Comarca foi instalada. O corajoso advogado baiano Epiphânio Figueiredo veio quase por acaso, enviado às presas para celebrar um casamento, e foi convencido a ficar na função de juiz substituto, mesmo presenciando um tiroteio logo em sua primeira visita ao centro da cidade, hoje o Calçadão da Avenida Brasil.

    Para a promotoria foi designado um paranaense corajoso: Josaphat Porto Lona Cleto, a exemplo de Espírito Santo, em plena juventude. Aos 23 anos, precisava punir um jagunço que aterrorizava a região de Cafelândia e ofereceu denúncia contra o “valentão”.  

    Levado pela polícia ao Fórum, na tentativa de intimidar as autoridades, o jagunço ameaçou o promotor e disse “um monte de barbaridades”, segundo o juiz Figueiredo. Alertado para o fato de que suas declarações só fariam aumentar a pena, prosseguia com as bazófias: “Isto não vai dar em nada. E se der em alguma coisa, vou fazer picadinho de vocês”. 

    Figueiredo conta que ele e o promotor sentiram preocupação diante das ameaças, mas não se deixaram intimidar. Os tempos eram difíceis também para os bandidos, enfrentando autoridades pioneiras que não conheciam o medo (Cascavel, a Justiça https://x.gd/8pn1J).

    100 anos da revolução: Os primeiros conspiradores 

    O início do movimento, em 5 de julho de 1924, proveio de uma intensa preparação. A posição de Siqueira Campos era de que a revolução deveria irromper simultaneamente em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

    Servindo na época no quartel-general do general Abílio de Noronha comandante da 2ª Região Militar, sediada em São Paulo, Newton Estillac Leal foi um dos encarregados das articulações nesse Estado.

    Além de Estillac, tomavam parte nas conspirações os irmãos Juarez e Joaquim Távora, Eduardo Gomes, Arlindo de Oliveira, Osmar Soares Dutra, Tales Marcondes, Emídio Miranda e Miguel Costa. 

    Dias Lopes, general reformado, foi escolhido para ser o comandante. Seu nome inspirava coragem e firmeza. Gaúcho de Dom Pedrito, abandonou o Exército em 1893 para participar da Revolução Federalista, no RS, contra o governo Floriano Peixoto. 

    Com tais líderes à frente, a data da deflagração do novo movimento foi fixada em 5 de julho de 1924, para homenagear os revoltosos de 1922.

    A não era revolucionária, mas feita para cativar apoio popular: voto secreto, descentralização do poder, moralização e independência do Legislativo, obrigatoriedade do ensino primário e profissional.

     Ilustração de jornal expõe o general Izidoro Dias Lopes como chefe da revolução 

     

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Entre fios e cores: Josiane Griesbach revela sua arte têxtil no MAC

    Entre fios e cores: Josiane Griesbach revela sua arte têxtil no MAC

    O Museu de Arte de Cascavel – MAC se prepara para uma nova e emocionante exposição de arte têxtil, apresentando o trabalho da renomada artista Josiane Griesbach. A abertura está marcada para este domingo (7), às 10h, no MAC Gilberto Mayer, localizado no Centro Cultural Gilberto Mayer – Rua Duque de Caxias, 379. A exposição permanecerá aberta ao público até o dia 10 de setembro de 2024.

    Josiane Griesbach, nascida em Marechal Cândido Rondon, Paraná, é uma artista que traz uma história de transformação e reinvenção. Inicialmente formada em Educação Física, Josiane dedicou mais de vinte anos ao bem-estar físico de seus alunos. Contudo, sua paixão pela exploração a levou a uma nova jornada na Arquitetura, interrompida pela pandemia global.

    Durante esse período de mudança, Josiane descobriu seu verdadeiro chamado na arte têxtil. Autodidata, mergulhou no universo das fibras, combinando materiais sintéticos e naturais para criar peças únicas. Suas obras são inspiradas pelas formas da natureza e ambientes cotidianos, refletindo uma abordagem inovadora e criativa que resulta em peças que cativam e inspiram.

    Josiane já exibiu suas obras na prestigiosa mostra CasacorPR por dois anos consecutivos e participou de várias exposições individuais e coletivas em Foz do Iguaçu. Suas criações transcenderam fronteiras, sendo incorporadas em acervos de hotéis e coleções particulares em várias cidades do Brasil. Por meio de seu estúdio, JOGstudio®, continua a explorar e expandir os limites da arte têxtil.

    A exposição de ARTE TÊXTIL em Cascavel é uma celebração dessa expressão artística milenar, destacando a capacidade de transformar tecidos, fios e materiais têxteis em obras de arte tanto tradicionais quanto contemporâneas. O público terá a oportunidade de apreciar a complexidade e beleza das peças de Josiane, cada uma delas uma expressão de sua visão única do mundo.

    O MAC Gilberto Mayer convida todos a participar desta abertura, prometendo uma experiência enriquecedora e inspiradora para todos os visitantes. A entrada é gratuita e aberta ao público.

     

    Fonte: Assessoria

  • Os mordedores de gorjetas

    Os mordedores de gorjetas

    Após as traições governamentais às promessas de Manoel Ribas, que chamou os posseiros a vir ao Paraná com a garantia de ter as terras registradas, e de Bento Munhoz da Rocha Neto, assegurando que iria proteger os direitos dos colonos, os jagunços levaram terror aos produtores sem que as autoridades paranaenses tomassem providências efetivas para assegurar o direito à propriedade. 

    O abandono e o desprezo às necessidades dos colonos causaram revoltas que não foram contempladas com soluções, mas revidadas com violência policial e liberdade de ação aos jagunços das colonizadoras particulares.

    No segundo governo de Moysés Lupion (1956–1961) já não havia mais distinção entre os jagunços responsáveis por grilagens de terras e a ação repressora da polícia.

    O Paraná se transformou descaradamente em Estado-jagunço em junho de 1958, quando a Polícia, partindo de Cascavel, cercou a cidade de Palotina, arbitrariedade desfeita pela intervenção do Exército. 

    Depois houve uma operação para promover o esquecimento. Muitos responsáveis por situações criminosas viraram nomes de ruas, escolas e praças. 

    Colonos atraídos e traídos 

    Faz parte da operação de esquecimento a lenda sobre a presença dos posseiros ter sido “espontânea”, expondo os colonos revoltados como invasores que ocupavam a terra sem direito. 

    Na verdade, os posseiros reocuparam o Oeste. A região havia sido primeiramente área de domínio dos jesuítas espanhóis e até o início do século XX estava entregue ao controle das obrages anglo-argentinas dos portos do Rio Paraná. 

    Chamados a reocupar a terra, os posseiros vieram e trabalharam nela, mas a exaltação do progresso trazido pelos vencedores dos conflitos agrários dos anos 1950 se tornou, por sua visibilidade, a verdade para quem se limita a consultar dados oficiais e ouvir as histórias de quem venceu.

    Os colonos foram atraídos pelas sociedades de imigração, pela propaganda das colonizadoras e promessas governamentais de posse assegurada, mas foram traídos pela roubalheira de terras montada por empresas, governo, jagunços e burocratas. 

    Por ausência, vítimas de chacinas e crimes encomendados jamais poderão dar sua versão. Uma luz forte sobre a distorção dos fatos, porém, foi dada pelo historiador Maurílio Rompatto ao salientar o esquecimento provocado por interesses governamentais e particulares.

    Seu livro “Piquiri O Vale Esquecido”, recupera a história e a memória da luta pelas terras do “grilo Santa Cruz” especificamente na colonização de Nova Aurora.

    Depoimentos vivos

    Cotejando dados oficiais com histórias de quem sobreviveu, o historiador teve duas vantagens sobre outros acadêmicos que abordam a história do Oeste paranaense: primeira, ele nasceu na própria região, em Formosa do Oeste, e conseguiu localizar pessoas que viveram na pele as glórias e tragédias da colonização. 

    “Só o título garantia a propriedade sobre a posse da terra, instrumento legal que poderia proteger o posseiro da grilagem. Os funcionários da Inspetoria [de terras] tinham mais interesse pelo negócio da terra do que pelo trabalho agrícola. Muitas vezes recepcionavam os documentos de titulação solicitados e tão esperados pelos posseiros e os vendiam a grileiros ou a especuladores imobiliários”. 

    Depois de obter os títulos, escreveu Rompatto, “os grileiros ainda recebiam o auxílio da força pública para expulsar os posseiros das terras ou eles mesmos faziam o serviço valendo-se de força particular composta por jagunços. Dificultando e/ou confundindo burocraticamente o posseiro, a Inspetoria, às vezes, forjava documentos e títulos de propriedades para se vender diversas vezes a mesma terra”.

    Depois de muito insistir para obter o reconhecimento legal de suas terras, os colonos começaram a entender o mecanismo da grilagem: as colonizadoras “influenciaram os funcionários da 9ª Inspetoria de Terras e Colonização de Cascavel, encarregada da titulação, para que dificultassem ao máximo o processo de regularização”.

    Zezinho da Inspetoria sob pressão 

    Ironicamente, a Inspetoria de Terras, criada em dezembro de 1952 com ampla jurisdição, compreendendo os municípios de Cascavel, Guaíra, Foz do Iguaçu, Toledo, Guaraniaçu e Laranjeiras do Sul, tinha exatamente o objetivo de agilizar os registros de imóveis rurais: “Processar as legitimações de posse requeridas na forma legal, para efeito da expedição do competente título de domínio aos posseiros”. 

    Clemente Esser conheceu bem esse mecanismo. Tentando o registro de suas propriedades, partiu de Nova Aurora oito vezes em direção a Cascavel para requerer a documentação, sem sucesso. Sentindo-se enganado, em uma das viagens comentou a situação com “um jagunço da Inspetoria de Terra, um de chapéu preto, bem barrigudão, com revólver na cinta”. 

    “Olha, eu vou te dar uma dica”, sugeriu o jagunço. “Tem que fazer que nem nós; quando nós queremos um lote de terra e o inspetor não quer dar, a gente chega até ele e diz: ou você dá se não nós te mata! E se não fizer uma proposta brava dessa aí, vão te passar pra trás!”

    Esser não chegou a dizer explicitamente que ameaçou o inspetor José de Oliveira, conhecido como Zezinho da Inspetoria, mas declarou que seguiu a orientação dada pelo jagunço de pressioná-lo, deixando claro que não aceitaria mais demora: “Aí ele acertou tudo. Mas se não fosse aquela dica ali, eu acho que eu tinha ficado sem nada!”

    A chave necessária

    O inspetor José de Oliveira construiu uma biografia respeitada em Cascavel. Paulista de Bernardino de Campos, nascido em 1927, Zezinho da Inspetoria veio para Cascavel em 1956, estabelecendo-se como empresário agropecuarista e se elegendo vereador em cinco pleitos eleitorais consecutivos, cumprindo 22 anos de mandato, período em que foi secretário e presidente da Câmara Municipal.

    Para os colonos, desde muito antes da presença de Oliveira à frente da 9ª Inspetoria, não bastava ter o direito de registrar a própria terra nem perder horas de trabalho correndo a Cascavel em busca da solução, pois os burocratas preferiam segurar a documentação indefinidamente até que fosse utilizada a chave necessária para destravar o registro: a propina. 

    Após idas e vindas infrutíferas, os colonos cansados de tanto perder tempo esperando caíam nas garras dos “mordedores de gorjetas”, expressão utilizada pelo agricultor Clemente Dariva.

    Pelo depoimento de Dariva, havia títulos de propriedade que deveriam ser concedidos aos posseiros, mas eram dados “aos jagunços da Inspetoria e das Companhias […] ou muitas vezes vendiam pra outros”. 

    “Aquele que estava na terra, mesmo tendo a licença de roça, não era dono definitivo da propriedade porque não tinha título de propriedade. Muitos tinham licença, requerimento de título de propriedade, porque já tinha formado lavoura e tudo, perdia para outro porque os títulos eram desviados lá em Cascavel”.

    A aurora da verdade

    Mesmo com a posse da terra, licença de roça e requerimento de título de propriedade, para ter o título definitivo o colono tinha que “dar gorjeta para funcionário da Inspetoria, pagar pra ter a terra, que muitas vezes já tinha pago por ela no ato do requerimento”, afirmou Dariva. 

    “Isso quando o título não custava duas ou três vezes o valor da terra. Ficava mais caro o documento do que a terra. Mas fazer o quê? O posseiro precisava do título pra mais tarde não ser despejado por quem viesse a tê-lo”.

    Nova Aurora foi o nome dado à vila, cidade e depois Município pelo padre Luiz Bernardes, da paróquia de Corbélia. Antes, o lugar era conhecido como Encruzilhada Tapejara, que no idioma indígena significa “Senhor dos Caminhos”.  

    Por décadas o nome otimista de Nova Aurora foi turvado pelas angústias dos posseiros derivadas do grilo Santa Cruz, grande desvio de terras que causou infelicidade e mortes na região (https://x.gd/wZHYp).

    Nova Aurora começou a se formar na década de 1940, mas seu brasão limita a história do lugar aos anos de 1967 e 1968. Só a apuração dos fatos sem retoques suavizadores sobre os problemas agrários pode desmontar a falsa história dos posseiros como invasores.

    Em geral ocorreu o contrário: a grilagem de terras se deu expulsando os verdadeiros donos. Nesse sentido, a contribuição do pesquisador Maurílio Rompatto é inestimável. 

    100 anos da revolução: A tese do branqueamento

    Às vésperas da revolução, em 28 de junho de 1924, o deputado mineiro Fidélis Reis defendeu enfaticamente uma tese que sempre teve curso em parte da elite nacional: o “branqueamento da raça”.

    Retomava a ideia dos deputados Andrade Bezerra e Cincinato Braga, que desde 1921 queriam proibir “a imigração de indivíduos humanos das raças de cor preta”, sob pena de expulsão do país, a menos que tivessem dinheiro para se manter no país até ir embora.

    Fidélis Reis, em 1924, não só retomava a proposta de “branquear” o Brasil como também rejeitava a vinda de imigrantes japoneses e chineses. Em setembro do ano anterior um terremoto no Japão matou mais de cem mil pessoas. A China tinha farta mão de obra, mas era ainda um país pobre, longe de ser a atual potência emergente. 

    Interessava à agricultura brasileira atrair de lá famílias úteis para o desenvolvimento rural do país, mas os projetos racistas criavam dificuldades, até ser barrados pela Constituição. Os imigrantes de várias origens conseguiram vir e contribuíram de forma destacada para o desenvolvimento do agro brasileiro.

    Nilo Peçanha: presidente era negro, mas tinha fotografias branqueadas

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Quem são os três tenores amigos do oeste do Paraná

    Quem são os três tenores amigos do oeste do Paraná

    Você já pensou na possibilidade de assistir, ao vivo e de forma presencial, um espetáculo com três tenores de renome e com carreira internacional consolidadas e que são referência em suas áreas de atuação? E mais, para isso você não precisaria viajar para a Europa ou os Estados Unidos, por exemplo.

    É isso que três gigantes da música clássica, que vivem no oeste do Paraná, querem oferecer aos paranaenses. Pela primeira vez na história regional três cantores que fizeram carreira internacional se unem para promover espetáculos de música clássica, mas que trazem no repertório canções italianas, músicas populares, arias de operas, napolitanas e brasileiras. 

    O I Tre Amici, ou Os Três Amigos, Jocimar Silva, Matheus Bressan e Thiago Stopa dedicam a vida à música e prepararam espetáculos que serão levados para todo o Paraná nos próximos meses. “O objetivo é colocar as pessoas cada vez mais próximas destes espetáculos para que tenham a possibilidade, de quem ainda não conhece, conhecer e se apaixonar. Também é a oportunidade para quem gosta ver de perto uma exibição digna de grandes centros internacionais feita por paranaenses”, lembra o chanceler, Jocimar Silva.

    Jocimar foi professor de música de Matheus e Thiago e a sinergia do trio vem de longa data. “E desde então, há mais de uma década, estamos próximos, cantando juntos. Matheus e Thiago foram para a Europa, Estados Unidos, fizeram carreira internacional e hoje nos possibilitam, neste retorno, levarmos um espetáculo primoroso para os paranaenses”, completou.

    Com a proposta de ingressos a preços mais acessíveis, em torno de R$ 40 apenas para a cobertura dos custos operacionais do espetáculo, o trio tem como objetivo percorrer cidades da região oeste e depois estender apresentações pelo Paraná. “Na Europa, nos Estados Unidos espetáculos assim podem custar centenas, milhares de dólares o ingresso, aqui queremos trazer essa oportunidade para que as pessoas possam ter acesso, conhecer, participar”, afirmou Matheus Bressan.

    Thiago Stopa vai além. O barítono – que costumeiramente e carinhosamente é confundido como tenor – lembra que na maioria das vezes pessoas que dizem não gostar ou não ter afinidade com a música clássica não tiveram contato para o conhecimento mais aprofundado.

     “Se pegarmos as trilhas sonoras mais importantes do cinema, de desenhos animais, a maioria dos arranjos atuais, tudo vem da música clássica. Então as pessoas criam uma falsa ilusão que não gostam, mas as desafio a acompanhar um dos nossos espetáculos e ver que sim, elas gostam e vão gostar cada vez mais”, afirmou ao lembrar que o repertório é vasto, abrangente para encantar todos os estilos musicais e em todas as idades.

    O primeiro espetáculo está agendado para a noite de 24 de julho no Anfiteatro da Universidade Paranaense (Unipar) em Cascavel. “Será mais de uma hora de músicas que farão as pessoas, de todas as idades, se emocionarem”, garantiu Jocimar.

    Os ingressos já estão à venda na Kahal Escola de Música na Rua Canela, número 37 no bairro Tropical ou pelo telefone (45) 9 9980-2066.

     

    Fonte: Assessoria

  • Mundo dividido, Oeste em construção

    Mundo dividido, Oeste em construção

    O mês de janeiro de 1954 iniciava o segundo ano de autonomia municipal de Cascavel e Toledo. Foi um tempo de supremacia da madeira, mas com a melhoria das vias de transporte a agricultura deixara de ser praticada sobretudo para fins de subsistência. 

    No Norte do Estado, o café se alastrava por onde a madeira saía. O enriquecimento pelo café era notícia pelo Brasil afora. A propaganda das colonizadoras aproveitava o fato para anunciar as terras do Oeste como igualmente favoráveis a essa cultura.

    No entanto, não havia qualquer base produtiva anterior que atestasse a viabilidade da rubiácea na região. A suposição provinha da proximidade.Quem chegava se empregava em atividades das colonizadoras enquanto se fixava na colônia adquirida e começava a base da produção futura. Havia trabalho para todos e uma iludida fé no café que demorou quatro anos para se desvanecer, com as terríveis geadas de 1958. 

    Por onde se andava, era mato para os lados e um povoado a ser alcançado no fim das estradas-tronco, de onde se ramificavam novas trilhas, algumas carroçáveis e as principais já com a circulação de caminhões.

    Cenário geral

    No mundo, a Guerra da Coreia havia terminado. As superpotências (EUA e União Soviética) dividiam o mundo entre si. No Brasil, quem não apoiasse o domínio norte-americano era acusado de conspirar em favor da URSS. 

    Getúlio Vargas, reabilitado de sua feroz ditadura pelo voto, em 1950, insistia no nacionalismo. Contrariando os militares e civis brasileiros que se alinham na Guerra Fria ao lado dos EUA, em outubro de 1953 Vargas criou a Petrobrás para administrar o setor petrolífero do país sob o regime de monopólio estatal. 

    As autoridades norte-americanas, em represália, reduziram à metade os recursos de empréstimos prometidos ao Brasil, que ajudariam a superar o atraso do país. Houve agitação pró e antiamericana. 

    Para apoiar o governo, os trabalhadores em processo de perdas salariais exigiam 100% de reajuste. Ainda em janeiro de 1954, o ministro do Trabalho, João Goulart, aceitou aumento nesse percentual para o salário mínimo, irritando os empresários, que só aceitam 42%.

    Mais flexível, mas sem abrir mão do papel do Estado como indutor do desenvolvimento, o governo do Paraná em novembro de 1953 havia instituído o Fundo de Eletrificação do Estado, para a manutenção do Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee). 

    Com esse fundo, projetava uma “sociedade de economia mista para a construção e exploração de centrais de energia elétrica”. É a origem da Copel. O próximo passo nesse rumo veio em janeiro de 1954, quando a lei 1.726 determinava a organização de “uma sociedade de economia mista sob a designação de Indústrias Reunidas do Xisto Pirobetuminoso Paranaense”. 

    Experiências diversas de colonização 

    A democracia conquistada em 1946 era testada a cada passo, nas instituições, nas ruas e na imprensa de todas as correntes. Pelos trabalhadores, fazendo exigências. Por uma forte ala militar, insistindo em direcionar o governo em favor dos EUA.  

    Alheia a esses movimentos, que impactavam mais a capital federal – o Rio de Janeiro – e as grandes cidades, a região Oeste paranaense se organizava positivamente, com o desenvolvimento de diversos projetos colonizadores.

    Um projeto se destacou com o desmembramento da colonizadora Maripá: a venda de terrenos pela Companhia Pinho e Terras ao Norte de Toledo, oferecidos pelo padre-corretor Hermogênio Borin (1921–2010) como a “terra prometida”, alegoria com a Canaã bíblica, “a terra que mana leite e mel”.

    Ali surge Palotina, cujo primeiro grupo de colonos, vindos de Santa Maria (RS), chegou ao barracão da colonizadora Pinho e Terras em 5 de janeiro de 1954, conduzidos por Borin e padre Rafael Pivetta.

    Entre os recém-chegados estava Domingos Francisco Zardo, cuja família participará decisivamente da estruturação do Oeste paranaense. Designado como diretor da colonização por Alfredo Ruaro, um dos proprietários da Pinho e Terras Ltda, Zardo continuou de onde o padre Borin terminou.

    Borin, um contestador

    Os corretores de imóveis em geral serviam a empresas colonizadoras, mas Borin era um caso à parte. Filho de agricultores do interior de Santa Maria (RS), com educação religiosa, ingressou na Sociedade Vicente Pallotti em 1942, decisão que determinou seu futuro e parte importante do Oeste paranaense: Palotina recebeu este nome por sua influência e os padres palotinos se tornaram conhecidos em todo o Sul.

     Professor, Borin completou o estudo de Teologia em São Leopoldo, foi ordenado presbítero em 1948 e designado vigário de Cruz Alta no ano seguinte. Depois de participar da colonização no Oeste, Borin foi vigário em várias cidades e retornou a Palotina em 1995.

    Com ideias religiosas polêmicas, escreveu o livro “O Inferno Vazio: a Descoberta do Século”, ampliando uma discussão teológica ainda hoje corrente, também defendida pelo papa Francisco. 

    Sempre com o foco imobiliário, Borin comprou e escriturou muitas terras no Paraná e MS. Em seu testamento, datado de 2007, declarou: “Durante a vida, me fui desmaterializando. Desfiz-me… de todas as terras conquistadas na época da colonização… de minha aposentadoria e de uma colônia que recebi de herança de meu pai” (https://x.gd/9mUkF).

    Ao sentir a saúde abalada por um câncer na garganta, passou a se tratar em Cascavel até decidir regressar ao RS, onde morreu em 2010, aos 89 anos. 

    A discreta Zona Bonita

    O início de 1954 foi especialmente favorável a Toledo, que em janeiro inaugurava aeroporto e Aeroclube. Em seu interior florescia discretamente desde abril de 1950 uma comunidade formada sobretudo por colonos alemães que teria um papel importante na pluralidade étnica da região.

    Os primeiros colonos a chegar foram Erich Ritscher, Antônio Rockembach e Oswaldo Heinrich, vindos do Rio Grande do Sul. Chamavam a área inicialmente de Zona Bonita. 

    Ali brotou a Vila Flórida, que mais tarde, como distrito de Toledo, seria rebatizada como General Rondon, em homenagem ao famoso sertanista, morto em 1958. 

    Em abril chegaria o casal Benno e Alice Weirich, já com um filho, nascido em Arabutá (SC). A eles se uniu um irmão de Benno, Lauro Mathias Weirich. Em agosto desse mesmo ano o casal teria os gêmeos Glaucio e Claucia. 

    A vinda crescente de colonos à Vila Flórida se devia à propaganda do café, como ocorreu com Cafelândia e Palotina. Foi a propaganda do café promovida pela colonizadora Maripá que despertou o interesse de Oscar e Írica Kaefer para deixar Piratuba (SC) e se mudar ao Paraná.

    Lá, a família se dedicava à fotografia e com essa atividade acumulou algum capital, base para a aquisição de uma colônia de terras, uma chácara e uma casa (Lucia Teresinha Macena Gregory, https://x.gd/3hAPr).

    O atribulado médico militar

    A localidade, que teve o nome alterado para “General Rondon” e se tornou a sede do Município de Marechal Cândido Rondon, chamou a atenção do médico alemão Friedrich Rupprecht Seyboth.

    Com muita história na bagagem, no Brasil e na Europa, ele havia chegado em dezembro do ano anterior com a esposa Ingrun Klagges e os filhos Dietrich e Dieter, nascidos na Alemanha, além de Matias e Pedro, nascidos em Novo Hamburgo (RS) e Piratuba (SC).

    Filho de imigrantes alemães, Friedrich Seyboth nasceu em 13 de dezembro de 1919 no município de Estrela (RS). Aos 6 anos a família o levou à Alemanha. Aos 20, ingressou na faculdade de Medicina em Berlim, onde conheceu a esposa Ingrun.

    Em 1940, ingressando na Academia Médica da Aeronáutica, com a eclosão da II Guerra foi enviado para o Norte da África, destacado para o corpo médico, sob o comando do marechal Erwin Rommel. 

    “De volta para a Alemanha, serviu como médico na região de Hamburgo, onde ao final da guerra foi aprisionado pelas forças aliadas, sendo posteriormente libertado” (Marcos Nestor Stein, https://x.gd/QLiuJ). 

    As ligações da família da esposa Ingrun antes da II Guerra com líderes nazistas levantaram suspeitas de que ele estaria reorganizando o nazismo a partir do remoto interior do Paraná. Mais uma teoria da conspiração para se somar às demais sobre comunistas, ETs, jacarés humanos etc.

    100 anos da revolução: Religião ou guerra?

    O líder gaúcho Borges de Medeiros (1863–1961), que depois projetou Getúlio Vargas, foi disputado pelas forças em conflito na primeira metade do ano de 1924. Uma delas pedia a adesão de Medeiros à “Religião da Humanidade”.

    Sequência das ideias do filósofo francês Augusto Comte surgida em 1854, era uma religião sem crenças no sobrenatural. Defendia uma espiritualidade só humana, esclarecida pela ciência em evolução, para alcançar o desenvolvimento em paz com base no altruísmo.

    Carlos Torres Gonçalves, que chamou Medeiros para a Igreja Positivista, ficou decepcionado quando o chefe gaúcho aderiu ao violento presidente Artur Bernardes. Quando ainda nem se pensava em revolução, Gonçalves avaliou que o governo federal iria alimentar a revolta, “desprestigiando-se e enfraquecendo-se”.

    Os positivistas eram pela paz, mas foi um positivista – o general Cândido Rondon – que contrariou as próprias ideias (“morrer se preciso for, matar nunca”) ao combater com dureza os rebeldes no Paraná, pelo que jamais seria perdoado quando eles triunfaram, em 1930.   

    Fonte: Alceu Sperança

  • Morre Chrystian, cantor que fez dupla com Ralf, aos 67 anos

    Morre Chrystian, cantor que fez dupla com Ralf, aos 67 anos

    O cantor Chrystian, que fez parte da dupla Chrystian e Ralf, morreu na noite desta quarta-feira (19). Ele tinha 67 anos e estava internado em um hospital de São Paulo. A morte foi confirmada pela família, por meio de nota. O velório será a partir das 11h em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo.

    A assessoria do cantor afirmou que ele precisou ser hospitalizado após ser diagnosticado “com uma condição médica que exige repouso imediato e tratamento especializado”. A causa da morte não foi divulgada.

    Em fevereiro deste ano, Chrystian foi internado Hospital do Rim, em São Paulo, após ser diagnosticado com rim policístico. O cantor chegou a se preparar para um transplante de rim. A doação seria feita pela esposa, Key Vieira.

    Entretanto, a cirurgia foi adiada para o final de 2024. Durante os exames pré-operatórios, o cantor precisou passar por um cateterismo.

    “Esse procedimento exige o uso de uma medicação para afinar o sangue, por seis meses, e durante este tratamento não é permitido que seja realizada uma cirurgia”, afirmou a equipe do artista à época.

    Após ser hospitalizado nesta quarta-feira, a assessoria do cantor afirmou que ele estava seguindo todas as recomendações médicas. Além disso, um show marcado para sábado (22) em Franco da Rocha, na Grande São Paulo, foi cancelado.

    Por meio de nota, a família disse que Chrystian dedicou 60 anos de sua vida à música sertaneja. Leia a íntegra da nota mais abaixo.

    “Sua voz inconfundível e sua paixão pela música trouxeram alegria e emoção aos fãs em todo o Brasil.”A família também agradeceu pelo apoio recebido por fãs, amigos e colegas de profissão.

    Fonte: G1

  • A “República dos Catarinas” abriu a Rota Oeste

    A “República dos Catarinas” abriu a Rota Oeste

    Os negócios do café permitirão ao governador Bento Munhoz da Rocha Neto comemorar o centenário de emancipação do Paraná, em 1953, com obras monumentais como o Centro Cívico e o Teatro Guaíra, transformando definitivamente Curitiba em metrópole. 

    O interior, no entanto, virou um barril de pólvora. Depois da morte de Manoel Ribas, suas promessas de proteger os posseiros foram ignoradas e Bento tratou, ele próprio, de descumprir os compromissos assumidos com os lavradores. 

    Houve paz dos novos municípios criados pelo governador em 1951, que tiveram eleições em 1952 e a posse dos prefeitos em dezembro de 1952. Nesses municípios, a expectativa recaía sobre os prefeitos e suas câmaras de vereadores, casos de Cascavel, Guaíra e Toledo.

    Foz do Iguaçu, Município do qual os três novos municípios se emanciparam, viveu um período de míngua. O Município precisou atender às múltiplas necessidades de seus novos distritos – Medianeira, Matelândia e Gaúcha (depois renomeado para São Miguel do Iguaçu https://x.gd/2s9aC), – e não conseguia servir melhor à sua população histórica.

    Pruner, herói da colonização 

    A cobrança da população não cabia mais na Câmara Municipal iguacuense, até porque o presidente, vereador Érico Francisco Pruner, foi um dos astros da colonização do interior e tinha mais relação com os novos distritos que com a população tradicional.

    Vindo de Brusque (SC), Pruner se casou em 1944 com Irma Rios, filha de Antonio Nunes Rios e Elfrida Engel, casal que em 1916 hospedou o inventor do avião, Alberto Santos-Dumont, quando esteve em visita às Cataratas e iniciou a campanha para criar o Parque Nacional do Iguaçu.

    Supostamente ligado aos interesses ingleses já desmobilizados na região, Pruner partiu de Foz do Iguaçu com uma turma de trabalhadores paraguaios abrindo cerca de 50 quilômetros na mata fechada em direção ao Leste (https://x.gd/9aOCa). 

    Começava com ele a “República dos Catarinas”, a concatenação de personalidades e ações que levaram à formação da Rota Oeste – o trecho Foz do Iguaçu-Cascavel da futura BR-277. 

    Pontificaram na “República dos Catarinas”, além de Pruner, nomes influentes como Silvino Dal Bó (1920–1974), proveniente de Urussanga, e Írio Manganelli (1922–1980), ligados à Colonizadora Criciúma, que fez a primeira atração de colonos provenientes de SC para a Rota Oeste.

    Dal Bó criou a Colonizadora Criciúma, nome da cidade onde nasceu Manganelli, agrimensor da empresa, para colonizar 5.500 alqueires de terra adquiridos para este fim e que no futuro resultariam em comunidades importantes como Santa Terezinha de Itaipu e São Miguel do Iguaçu.

    Nesse sentido, embora tenha sido um chefe de Legislativo atuante, a memória mais marcante de Pruner está ligada sobretudo à formação de São Miguel do Iguaçu (https://x.gd/Y4pj1). 

    Com tanto movimento nas matas, a população que se espalhava nas colônias superou rapidamente a da cidade de Foz do Iguaçu, tornando natural o predomínio de vereadores do interior na Câmara Municipal. 

    Projeto combinava madeira e café

    O presidente Érico Francisco Pruner era ligado aos colonizadores. Em 1949 foi instituída a vice-presidência, que antes não havia, entregue ao vereador Balduíno Weirich, que também representava o setor rural.   

    Silvino Dal Bó também viria a ser vereador, presidente da Câmara e |prefeito de Foz do Iguaçu. Manganelli foi vereador, presidiu a Câmara e assessorou a Prefeitura na gestão de Emílio Henrique Gomez, um dos grandes colonizadores da Rota Oeste, prefeito de Foz do Iguaçu e Céu Azul e fundador de Medianeira.

    Uma particularidade importante da Colonizadora Criciúma é que não se limitava a vender terras aos colonos que chegavam. Seguindo a noção corrente de que o solo do Oeste era o mais fértil do mundo, similar às terras da Ucrânia e do Vale do Rio Mississipi (EUA), supôs que as terras da região seriam propícias ao plantio do café, cultura que enriquecia o Paraná nessa época. 

    A Criciúma apontava aos colonos que acreditaram em seu projeto um paraíso produtivo na combinação da exploração da madeira, com a derrubada florestal pagando a lavoura do café.

    “Estas famílias almejavam transformar a região Oeste, ainda coberta pela mata virgem, em cafezais, a exemplo da região Norte do Estado” (Adilson Pasini, História de Santa Terezinha de Itaipu).

    A fria surpresa das geadas

    O cultivo do café, de acordo com os estudos da Criciúma, seria feito no esquema “sombreado”, técnica utilizada nos países de colonização espanhola caracterizada por uma produção menor que em áreas desmatadas, de baixo impacto ecológico.

    A retirada de madeira, de venda imediata, bancaria os investimentos de médio prazo na cafeicultura. A experiência, entretanto, foi desastrosa.“Em julho de 1953 caiu sobre a região uma geada muito forte, a qual destruiu os cafezais e o sonho dos colonos que haviam investido no plantio do café sombreado. Mas a terra era fértil e constatou-se a viabilidade do cultivo de outras culturas como milho, feijão, hortelã e, posteriormente, soja” (Adilson Pasini).

    A estrutura assegurada pela colonizadora facilitou a transição rápida de cultivo e logo as pequenas vilas que brotaram desde o pós-guerra na Rota Oeste progrediam, recebendo mais colonos. Com eles, mais eleitores para reforçar o poder político da “República dos Catarinas”

    A prioridade de Pruner pela estruturação dos novos distritos e as ligações familiares com os pioneiros mais respeitados de Foz do Iguaçu lhe deram um papel determinante na formação tanto da Rota Oeste quanto da estruturação do turismo em Foz do Iguaçu.

    Imprensa reforçou a cidade  

    O apoio irrestrito da comunidade aos agricultores e a necessidade de educar seus filhos uniu a comunidade iguaçuense em torno da criação, em 12 de junho de 1953, da Escola dos Trabalhadores Rurais Dr. Ernesto Luiz de Oliveira (Colégio Agrícola), futuro Centro Estadual de Educação Profissional Manoel Moreira Pena. 

    Ernesto Luiz de Oliveira (1874–1938), nascido na Lapa, foi secretário da Agricultura do Paraná e se notabilizou por condenar as queimadas e derrubadas florestais, exigindo sua proibição. Tenente na Revolução Federalista, dedicou-se à educação até ser nomeado secretário da Agricultura pelo governador Carlos Cavalcanti.

    Para as famílias tradicionais de Foz do Iguaçu, a reduzida representação da Câmara Municipal não bastava para pressionar em favor da concentração de recursos na sede. Era preciso abrir uma frente importante de pressão.

    Com a imprensa livre, fortalecida após a ditadura, e a disseminação da radiofonia pelo interior, surgem em 1953 o jornal A Notícia, de João Lobato Machado, Acelino de Castro e Inácio Sotto Maior, com equipamento vindo do jornal Correio d’Oeste, de Cascavel, e a base inicial da Rádio Cultura, que seria oficializada em 1956.

    Os veículos de comunicação abriram um foco de debates sobre a necessidades de estruturar a cidade para a atração e recepção de turistas. O Parque Nacional, criado em 1939, tinha um público estritamente regional. Irma Rios Pruner levava pequenos grupos de turistas para ver as Cataratas. 

    Marechal Dutra e Marechal Rondon

    Foz do Iguaçu já contava com um aeroporto para voos comerciais desde 1941, mas não havia ainda um fluxo intenso de turistas. A imprensa motivou a união da comunidade local tendo como foco o fortalecimento do turismo regional, mas o projeto sofreu um baque em abril de 1946, quando o marechal Eurico Gaspar Dutra, presidente da República, mandou fechar todos os cassinos no Brasil, decretando o fim do Hotel Cassino de Foz do Iguaçu e de outros 70 no Brasil. 

    Era preciso estimular o turismo interno, portanto, e não só para visitação às Cataratas e ao Parque Nacional, mas para conhecer as anunciadas terras mais férteis do mundo. Milhares de folhetos de projetos coloniais no Oeste do Paraná circulavam em SC e RS.

    Com padre Luiz Luíse conseguindo levar a aviação a Cascavel, abriu-se a perspectiva de mais voos também a Foz do Iguaçu, favorecendo uma nova ofensiva da comunidade na estruturação do turismo local.

    Enquanto isso, no interior de Toledo, que também receberá linhas regulares de aviação, sua antiga Vila Flórida, formada com a presença crescente de colonos de origem alemã desde 1949, tornava-se distrito com o nome de Vila General Rondon. Em 1960 ela será promovida a Marechal Cândido Rondon, já na condição de Município.

     

    100 anos da revolução: Era certo que ela viria  

    Frente à indiferença e truculência do governo elitista e o agravamento da situação social, os rebeldes decidiram em junho de 1924 tomar o poder para encaminhar as reformas que não vinham. Os preparativos iriam se desenrolar ao longo desse mês.

    “Se são militares que formam na vanguarda dos movimentos de regeneração política do Brasil, é que suas armas lhes davam a possibilidade de agir; e não estava ainda em condições de substituí-los a ação das massas populares, desorganizadas e politicamente inativas. Os ‘tenentes’ assumirão por isso a liderança da revolução brasileira” (Caio Prado Jr, prefácio ao livro A Coluna Prestes, de Lourenço Moreira Lima).

    “Pregava-se a revolução em toda parte: nos lares, nas fábricas, nas repartições públicas, nas casas de comércio generalizado, com frases incompreensíveis de patriotismo confuso. A culpa era dos governos. O mal era dos governos. E ninguém se lembrava da queda apavorante do algodão e do açúcar, na deblateração demagógica em favor do voto secreto, tido como remédio salvador da República” (José Maria dos Santos, A Política geral do Brasil).

    Barricada revolucionária aguarda ataque das forças governistas

     

    Fonte: Alceu Sperança