O ano de 1954 começou para os colonos paranaenses em clima de entusiasmo com as promessas de impulso à agropecuária após a bem-sucedida realização, em setembro do ano anterior, do I Congresso Florestal Brasileiro, promovido pelo Instituto Nacional do Pinho.
Com a participação destacada de profissionais e servidores públicos ligados ao setor agrícola, o congresso, parte dos festejos do primeiro centenário do Estado, teve ênfase na silvicultura, priorizando a exploração racional na madeira e a eliminação dos erros cometidos na atividade agrícola, dentre eles as queimadas.
Uma recomendação importante foi evitar o reflorestamento à base de eucalipto em áreas férteis e apropriadas para a agricultura. Outra, criar cursos de agronomia para compatibilizar o manejo florestal e o desenvolvimento da agropecuária.
As Associações Rurais
A adoção de técnicas e práticas agropecuárias adequadas e a terra temporariamente pacificada pela ação policial do Estado, segundo a visão otimista desse período, permitiriam ao Paraná alcançar o topo da produção rural brasileira.
No entanto, o afastamento do chefe de Polícia do Estado, Ney Braga, indicado para concorrer à Prefeitura de Curitiba, devolveu os quadros policiais do interior aos habituais esquemas de compadrio com os grileiros.
Só quando Braga finalmente conquistar o governo do Estado poderá novamente empreender a repressão aos conflitos de terras.
Por ora, a estratégia dos produtores rurais era unir as comunidades em torno de seus interesses, criando Associações Rurais. Com elas, teriam ação política, ações de pesquisa e proteção contra os grileiros.
A Associação Rural de Cascavel foi criada em 1953 pelo candidato derrotado à Prefeitura de Cascavel no pleito de 1952, o farmacêutico Tarquínio Joslin dos Santos, ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
A ARC é a origem do atual Sindicato Patronal Rural de Cascavel. Uma congênere da ARC também surgiu em Toledo.
O aviso de Willy Barth
O tema principal em discussão nas Rurais era a urgência de estudar a terra, o clima e as variedades culturais, evitando pragas e outros riscos. Concluíram que a monocultura do café levaria o Estado à ruína no caso de uma geada ampla*.
A monocultura já apresentava problemas no Norte do Estado e maior risco teria nas regiões mais frias, abaixo do Rio Piquiri. Willy Barth, o líder de Toledo, temia essa possibilidade.
Em tempos de políticas públicas imprecisas e a volta das liberdades com o fim da ditadura, entretanto, o espontaneísmo produtivo se concentrava na presunção de rápido enriquecimento com o café.
Os avisos caíram no vazio. Muitos colonos perderam o trabalho, o tempo e os investimentos das famílias até aprender a dura lição de que a policultura era na época a prática mais recomendável até melhor conhecimento sobre as possibilidades da terra.
*A geada ampla de fato veio, em 1975
Lições aprendidas
Os agricultores de Marechal Cândido Rondon preferiram pagar o preço em 1954 e descobriram que a febre cafeeira “não trouxe resultados positivos devido a fatores climáticos, pois o fenômeno de geadas, embora esparsas e de baixa incidência, prejudicava os produtores, que abandonaram esta cultura, depois de duas colheitas” (Projeto Memória de Marechal Cândido Rondon).
Além da Associação Rural passar a agir em Toledo, Foz do Iguaçu também tratou de iniciar a sua, igualmente por influência de Tarquínio Santos, que para lá se transferiu, atendendo a conselho médico.
O Município tentou estimular o associativismo oferecendo dois lotes para sediar a Associação Rural, mas só em fevereiro de 1954 houve interesse efetivo em construir uma sede, por iniciativa do prefeito Francisco Guaraná de Menezes.
Por essa época, Toledo dava mais um passo na estrutura de seu interior, criando o Distrito de Maripá, no extremo-Norte do Município. Também já projetava o Distrito de Novo Sarandi, próximo a Marechal Cândido Rondon, que viria a ser uma referência em cerâmica no interior paranaense.
Nação conturbada
No cenário nacional, uma forte ofensiva golpista contra o presidente Getúlio Vargas começa, abertamente, em 8 de fevereiro de 1954, quando 81 oficiais do Exército enviam ao ministro da Guerra um memorial protestando contra o governo.
É o Manifesto dos Coronéis, escrito por Golbery do Couto e Silva (1911–1987), que alegava temer a união do Brasil com a Argentina em uma “república sindicalista nos moldes peronistas”.
Na verdade, o alvo central do movimento era o polêmico acordo militar firmado entre Brasil e EUA no início da década, que proibia a venda de matérias-primas de valor estratégico – o ferro, por exemplo – aos chamados “países socialistas”, liderados pela antiga URSS.
Getúlio Vargas não cumpriu a imposição, “vendendo ferro à Polônia e Tchecoslováquia, em 1953 e 1954, a preços muito mais altos do que os que pagavam os Estados Unidos” (Eduardo Galeano, Veias Abertas da América Latina).
Vargas agradava aos apoiadores mais próximos e desagradava aos interesses econômicos em conflito: de um lado, os mecanismos de acumulação capitalista; de outro, as organizações trabalhistas, que saíam da antiga influência anarquista para a comunista.
A vinda de padre Guilherme
A grande influência religiosa entre os colonos os levava a confiar nas escolas controladas por padres e freiras. Em Cascavel, nessa época, dizia-se que a escola do Estado não tinha nome (era apenas Grupo Escolar) e uma escola religiosa, ainda inexistente, só tinha nome – Colégio Nossa Senhora Auxiliadora.
Na intenção de que a escola em breve pudesse ser construída, o padre Guilherme Maria Heyer (1906–1997), que assumiu a direção da Paróquia Nossa Senhora Aparecida em 5 de julho de 1953, substituindo o padre Francisco Schlüter, deu-lhe o nome no início de 1954.
Heyer, da Congregação Verbo Divino, foi quem completou a transferência da sede paroquial da provisória igreja construída pelo padre Luiz Luíse para a moderna igreja de belos vitrais construída ao lado, abrindo espaço para as futuras obras da Catedral.
Como um dos atos finais de sua gestão, o prefeito José Neves Formighieri fez na igreja de madeira, em 12 de outubro de 1956, a entrega ao padre Guilherme Maria Heyer do documento que oficializava a posse da área pela Paróquia de Nossa Senhora Aparecida.
Sobrevivendo a um acidente aéreo
Em 1954 não havia o prédioo, alunos ou professores, nem mesmo um terreno onde o educandário com nome pudesse ser construído. Padre Guilherme anunciou a criação da Escola Nossa Senhora Auxiliadora porque foi a esta santa que o padre recorreu, em prece, ao sofrer um acidente aéreo que quase o privou de suas históricas ações em favor da Igreja Católica no interior do Paraná.
Prometeu que se sobrevivesse iria construir em Cascavel uma escola com o nome da santa. Foi difícil e demorado conseguir apoio e recursos para construir a grande escola que ele idealizou, mas em 16 de março de 1957, a pedido de padre Guilherme, um grupo formado por quatro religiosas da Congregação de São Carlos Bartolomeu partiu da cidade de Caxias do Sul (RS) para a instalar em Cascavel.
Obstáculos vencidos
Embora já iniciadas as obras, da escola ainda havia só o nome. Coube à irmã Hermenegilda Bonafé levar a diante todo o processo de coordenação e direção do Colégio, começando pela matrícula dos alunos.
Com as obras paralisadas por falta de material, as primeiras aulas foram prestadas em casa alugada até que as primeiras salas ficassem prontas.
Toda a madeira havia sido oferecida pela Industrial Madeireira do Paraná, com o apoio das famílias Festugato e Galafassi, mas faltava material como pregos e vidraças, fornecidos em 1957 até o acabamento pela família Luchesa, proprietária da Comercial Oeste Paraná Ltda (Copal).
Com o mais moderno e completo sistema de educação da época, o prédio em madeira abrigava além de centenas de estudantes, as juvenistas que ali moravam em preparação para a vida religiosa.
Depois de encerrar em abril de 1959 suas atividades em Cascavel, padre Guilherme foi designado para criar a Paróquia de Santa Terezinha, em Guarapuava, mas deixou o legado da criação de uma das escolas mais importantes do interior paranaense.
100 anos da revolução: Com o revólver no peito
A Força Pública paulista, comandada pelo major Miguel Costa, imediatamente aderiu ao movimento revolucionário no dia 5 de julho de 1924, obrigando o governador paulista Carlos de Campos e o comandante militar da região, general Abílio de Noronha, a abandonarem às pressas a capital.
Às 6 horas da manhã, conta João Cabanas em A Coluna da Morte, deparou-se com o major Miguel Costa, que lhe pôs o revólver ao peito e perguntou, nervoso:
– Você é brasileiro?
– Sou.
– Então tem que aderir à revolução.
Um terço dos militares paulistas, do Exército Brasileiro e da Força Pública se rebelaram.
“Após ganhar o controle da capital do Estado, os revoltosos marchariam até o Rio de Janeiro, para depor o presidente Artur Bernardes, alijando do poder não somente a pessoa que consideravam inimiga do Exército, mas também todo o estamento político que era representado por ele: as corruptas oligarquias regionais que colocavam seus interesses particulares acima dos nacionais e utilizavam os instrumentos burocráticos do Estado para auferir benefícios privados” (Mateus Fernandez Xavier, A Coluna Prestes e a Política Externa Brasileira na Década de 1920).

Fonte: Alceu Sperança