Para os amantes da música erudita e aqueles que desejam ter seu primeiro contato com os clássicos, uma oportunidade imperdível está chegando a Cascavel e região. Nos dias 1º e 2 de maio, o Teatro Municipal Sefrin Filho será palco da 7ª edição do Noite de Gala, um evento grandioso promovido pelo Membra Vocal e a Orquestra de Câmara de Cascavel. Este evento será uma verdadeira celebração da música clássica, apresentando o majestoso Réquiem de Mozart, sob a regência de Israel Menezes, um dos maestros mais importantes do cenário nacional e com ampla carreira internacional.
Os ingressos para o Noite de Gala são gratuitos, mas devido à capacidade limitada do Teatro Municipal Sefrin Filho, é essencial fazer a reserva antecipadamente. Você pode reservar seu lugar pelo link https://www.facebook.com/profile.php?id=61557648473727 no ícone cadastre-se.
Não deixe para depois, garanta sua presença neste evento extraordinário que ocorre em duas apresentações, sempre às 20h. a classificação é livre. Todas as orientações para a retirada das entradas serão encaminhadas exclusivamente para quem fizer a reserva.
Uma noite de emoções
Para interpretar Réquiem de Mozart, o Noite de Gala contará com a participação de talentosos cantores, músicos e instrumentistas, incluindo coros convidados, tanto nacionais quanto internacionais. Entre os destaques também estão solistas como Michele Coelho, Matheus Bressan, Thiago Stopa e Camila Santiago, que encantarão o público com suas performances emocionantes.
Embora os ingressos sejam gratuitos, os organizadores incentivam os espectadores a contribuírem com doações de alimentos ou produtos de higiene pessoal, especialmente itens para higiene feminina, que serão destinados a entidades assistenciais de Cascavel. “Juntos, podemos fazer a diferença e ajudar aqueles que mais precisam”, considerou um dos idealizadores do evento, o chanceler Jocimar Silva.
“Não perca esta oportunidade única de vivenciar a grandiosidade da música clássica em um dos eventos mais prestigiados de Cascavel e região. Prepare-se para uma noite de emoções intensas e arrepios musicais no 7º Noite de Gala”, completou o maestro Israel Menezes.
Uma das figuras mais importantes da história brasileira, o paranaense Ney Braga foi governador do Estado e ministro, mas começou sua ascensão favorecido pelo cunhado, o governador Bento Munhoz da Rocha Netto.
Nascido na Lapa, orientado para a carreira das armas e cursando a Academia Militar do Realengo (RJ), aos 22 anos, em 1938, Ney Braga se casa com Maria José, filha do ex-governador Caetano Munhoz e irmã de Bento, engenheiro que nessa época fundava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná.
Bento já se destacava de forma incomum como a grande liderança da família quando Maria José morre, em 1944. No ano seguinte, Bento foi eleito deputado federal constituinte e em 1946 se notabilizou por devolver ao Paraná o Território Federal do Iguaçu via emenda à nova Constituição.
Ney, após a perda da esposa, concentrou-se com empenho nos estudos militares, no Rio de Janeiro, travando conhecimento e sólida amizade com dois futuros presidentes da República: Humberto de Alencar Castelo Branco e Ernesto Geisel.
De volta a Curitiba em 1949, Ney se casa em segundas núpcias com Nice Camargo Riesenberg e no ano seguinte será promovido a major. Bento, por sua vez, elege-se governador do Paraná em 1950 e nomeia Ney como integrante do Conselho Regional de Desportos do Paraná.
Não era uma posição que desse muito destaque ao cunhado, mas Ney integrava o grupo nacionalista do Clube Militar, que então tinha grande prestígio. Braga se destacou como um dos líderes nesse meio até em 1952 ser chamado pelo cunhado Bento para chefiar a polícia do Paraná.
Ney estruturou delegacias
Com a responsabilidade de dar fim aos sangrentos combates pela posse da terra no interior, Ney Braga, na altura dos 35 anos, tratou de estruturar a futura Secretaria de Estado da Segurança.
Cascavel se tornou Município por ato de Bento. Até o nome da cidade foi um presente de Munhoz, pois se o Território Federal do Iguaçu continuasse, a cidade teria o nome de Guairacá. No entanto, a polícia local tinha instalações precárias e o mesmo efetivo de quando ainda era distrito de Foz do Iguaçu.
Com os recursos do Estado já comprometidos e escassos, a única forma de estruturar bem a polícia no interior seria contar com a ajuda das prefeituras e das populações das principais cidades.
O truque era nomear como delegados pessoas ligadas aos prefeitos, já que no interior ainda não havia deputados estaduais nem federais com força política e mobilizadora para essa tarefa.
Foi assim que Ney Braga conseguiu nomear para a delegacia de polícia de Cascavel o comerciante de combustíveis Eurides Cezário Formighieri, irmão do prefeito José Neves Formighieri.
A delegacia de Cascavel estava em vacância desde a eleição de Antônio Rodrigues de Almeida para a Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, no pleito de julho de 1951.
Com família na cidade, Almeida continuou nomeado como delegado de Cascavel até que em setembro de 1953 Ney Braga designou para comandar a delegacia de Cascavel o contabilista de ofício, mas também subdelegado policial, Eurides Formighieri, irmão do prefeito.
A paralisia da II Guerra
Eurides era filho de um ex-delegado de polícia: o empreiteiro Virgílio Formighieri, que construiu trechos da futura BR-277 no Paraná, havia sido chefe do polícia no interior catarinense, em Caçador, onde ele, a irmã Regina e o cunhado Carlos Sperança eram lideranças importantes.
Embora formado em Contabilidade, Eurides foi subdelegado de polícia de Cascavel e em diversas ocasiões se viu às voltas com os jagunços. Homens armados que tomavam as terras de posseiros, eles enfrentavam a resistência dos colonos, que também se armavam para defender suas famílias.
Aos 35 anos, gaúcho de Lagoa Vermelha e longa vivência no interior de Santa Catarina, estendida nas obras rodoviárias pelo interior do Paraná, Eurides já havia acumulado uma densa biografia.
Eurides considerava que de todas as dificuldades pelas quais passou até chegar à nomeação como delegado de polícia de Cascavel ele só não conseguiu resolver duas.
A primeira dificuldade insuperável foi a eclosão da II Guerra Mundial, que afetou seriamente as obras rodoviárias devido à concentração de recursos para fazer frente às consequências negativas do conflito mundial, embora sem envolvimento inicial direto do Brasil.
Quando sobreveio a guerra, a família de Eurides Formighieri estava nas cercanias do Rio Cavernoso em pleno trabalho de construção de estradas. Hoje é difícil acreditar que o trigo estivesse racionado para a população civil, mas o esforço de guerra transtornou a produção e o comércio.
O acampamento das obras contava com um armazém para fornecer alimentos aos operários. Para abastecer o armazém, as opções de Eurides eram comprar em Ponta Grossa ou se abastecer na Argentina e no Paraguai, onde obtinha produtos melhores e mais baratos.
Pagamento negado
Com tudo parado, o único jeito era esperar até o retorno à vida normal, mas então ocorreu a segunda dificuldade que trouxe desânimo à família Formighieri, assim que a II Guerra terminou.
O governador Moysés Lupion não quis remunerar Virgílio Formighieri e filhos pelas obras. Propôs que aceitassem terras em pagamento. Os Formighieri tiveram a sorte de encontrar algumas boas áreas, recomendadas pelo amigo João Miotto, na região do Rio Centenário.
Mesmo com a oferta de terras, o que complicou ainda mais a situação foi que Lupion não as titulou em nome dos Formighieri, mas de terceiros.
Com isso, Eurides se desgostou e decidiu se instalar na vila de Cascavel. Logo depois viria o irmão José Neves, para se tornar o primeiro prefeito municipal.
Além de participar de obras da BR-277, ao lado do pai e do irmão, Eurides ajudou a construir a estrada ligando Foz do Iguaçu às Cataratas. Foi uma forma de Lupion compensar em parte o golpe que aplicou nos Formighieri.
Como a comunidade fronteiriça reclamava boas estradas ligando Foz às Cataratas e ao porto Meira e os Formighieri ainda contassem com o material que utilizaram em outras obras rodoviárias, foram chamados a trabalhar na fronteira.
Arranjo Estado-Município
Eurides Cezário Formighieri foi designado para o cargo de delegado de polícia, já para o Município de Cascavel, em 2 de setembro de 1953, em ato assinado pelo então major e futuro governador, Ney Braga.
Não lhe faltaria o apoio do irmão prefeito e dos vereadores Antônio Massaneiro, Donato Matheus Antônio e Francisco Stocker, que inteirados da situação precária da delegacia local, colocaram o prefeito José Neves Formighieri diante de um fato consumado: a lei 24/53, que concedia auxílio no valor de cinco mil cruzeiros à delegacia.
Stocker, aliás, havia sido delegado distrital de Cascavel, embora residisse na Colônia Esperança. Donato, em lamentável episódio, foi assassinado por um vizinho antes que os recursos pudessem chegar às mãos dos policiais.
O valor, felizmente, ajudou o Estado a ter em Cascavel uma delegacia de polícia mais qualificada para dar conta de suas grandes tarefas, considerando que o Município tinha uma grande extensão.
Varridos da história
Devido aos antagonismos políticos acirrados na década de 1960, que levariam ao golpe civil-militar de 1964, a memória dos antigos policiais foi varrida da história, para mágoa de José Neves Formighieri ao recordar o irmão Eurides por ocasião de sua morte, em 1982:
“Ele foi primeiro delegado do Município, inclusive usava o carro dele e gasolina do bolso para atender as necessidades e ocorrências, que não eram poucas naquela época. Do Piquiri até o Iguaçu havia muitos conflitos. Em todas essas áreas era feita a cobertura policial pela delegacia de Cascavel” (entrevista a Jairo Eduardo).
Ironicamente, o mesmo Ney Braga que em 1953 reforçou a delegacia de polícia de Cascavel com o apoio da Prefeitura e da Câmara, ao se eleger para o governo do Estado, em 1961, soube que Cascavel estava sob o domínio dos grileiros e jagunços ligados a Moysés Lupion e determinou ao coronel Ítalo Conti, chefe da Polícia estadual, fazer uma limpa na delegacia.
Nem precisou: todos debandaram, restando só um policial: Aparício Lara. Conti perguntou a Lara porque não fugiu. “Eu não tinha rabo preso com ninguém”, foi a resposta. Mesmo assim, sofreu o castigo de ficar recolhido aos serviços burocráticos em Curitiba durante seis meses.
1924: 100 anos da revolução
A situação de São Paulo em março de 1924 era de carestia elevada e os sindicatos de operários organizando greves. “Havia dificuldade na distribuição de água, no transporte de pessoas e de mercadorias, na limpeza pública, o que acabava por gerar movimentos sociais de insatisfação. Nos jornais havia protestos contra a carestia, a falta do sal, e a necessidade de barateamento do pão” (Associação Comercial de São Paulo).
No Norte do país, o bando do cangaceiro Lampião espalhava o terror, com pilhagens, assaltos e ataque. Choques entre bandos rebeldes e forças do governo não eram novidade nesse cenário. O governo tentou jogar os cangaceiros contra os revolucionários.
Um fator que humilhou os brasileiros e abriu caminho à revolução foi a receita dada pela Missão Montagu, enviada pelos banqueiros ingleses para obrigar o Brasil a pagar a dívida externa: demitir em massa, entregar a eles o Banco do Brasil e eliminar as aposentadorias.
Com o governo pautado pelos interesses britânicos, o desagrado dos operários e dos militares aumentou a tal ponto que a crise, a humilhação e a incapacidade do governo de satisfazer as necessidades da população resultou em rebeldia generalizada.
Maria Bonita e Virgulino Lampião, que o governo quis contratar para combater os revolucionários
As primeiras leis municipais de Cascavel, em 1953, foram de iniciativa do prefeito, para adequar o Município recentemente criado às normas gerais de funcionamento do poder municipal. Uma das primeiras leis propostas pelos vereadores, iniciativa do enfermeiro Antônio Alves Massaneiro, a Lei 9, aprovada em 9 de abril de 1953, criava a Taxa Hospitalar, beneficiando diretamente o Hospital Nossa Senhora Aparecida, do médico Wilson Joffre (https://x.gd/AkEgi).
É quando começa a formação do polo médico de Cascavel, um dos mais importantes do país. A lei, sancionada pelo prefeito José Neves Formighieri em 15 de abril, determinava a cobrança de um adicional de 5% sobre os impostos municipais para repasse trimestral ao Hospital Nossa Senhora da Aparecida “até que outros estabelecimentos congêneres venham a ser instalados, quando então será estabelecido novo critério para o emprego e distribuição”.
Hoje seria impossível uma lei para beneficiar uma empresa, mas o hospital criado pelo médico Wilson Joffre surgiu como uma espécie de cooperativa formada pelas famílias mais numerosas da cidade e das vilas do interior. No futuro, quando Joffre comprar todas as cotas pertencentes a essas famílias, a casa de saúde já estará sólida e não precisará mais da Taxa Hospitalar.
A conquista do posto de saúde
Massaneiro foi um dos líderes do movimento para criar o Município, depois de já ter participado em 1949 da fundação do Tuiuti Esporte Clube. Este, até 1952, funcionava alternativamente como uma espécie de conselho da comunidade, procurando resolver os problemas do distrito de Cascavel diante da omissão ou falta de recursos da Prefeitura de Foz do Iguaçu.
A história de Massaneiro começa em 22 de dezembro de 1913, quando nasceu em Taquara Verde (Caçador, SC). Órfão, foi adotado por Artur e Carolina Santos, pais do farmacêutico Tarquínio Joslin dos Santos (https://x.gd/aVokt).
Artur trabalhava no ramo madeireiro em Curitiba, onde Tarquínio nasceu, em 13 de abril de 1900. Depois a família se transferiu para União da Vitória e fazia negócios com o interior catarinense.
Adotado pela família Santos, ainda criança Massaneiro foi treinado por Artur em serviços farmacêuticos e enfermaria, seguindo os passos do irmão Tarquínio, até a família se transferir para Foz do Iguaçu.
Na fronteira, onde já participava do quadro médico do Estado na área de enfermagem, Massaneiro soube que estava prevista a abertura de um Posto de Saúde no Distrito de Cascavel, reivindicado pelas lideranças locais, dentre elas seu irmão de criação, Tarquínio.
Santos considerava que os tratamentos paliativos dados por curandeiros se baseavam em deixar a doença cumprir seu ciclo e ir embora, mas havia males persistentes que requeriam atenção continuada, a ser oferecida por orientação técnica adequada.
Fora do futebol, só sucesso
Vindo para Cascavel na expectativa da breve criação do posto de saúde, Massaneiro participou em 1949 da criação do Tuiuti Esporte Clube, atuando nele como bom presidente, mas um diretor esportivo sofrível, segundo outro fundador do clube, Clary Boaretto:
“O primeiro fogo do Tuiuti foi contra uma equipe da Serraria Central, de Moysés Lupion, onde hoje é Santa Tereza, ao lado da casa de Paulo Víchoski. Perdemos o jogo por 6 a 2”.
O time foi organizado pelo primeiro presidente do Tuiuti, João Arquelau Soares, e por Massaneiro. Afastados os dois da seção esportiva, o Tuiuti veio a se tornar depois uma poderosa equipe na região.
Nos demais setores, porém, Massaneiro participou com sucesso das iniciativas para o fortalecimento da comunidade local até que em 1951 foi designado para a função de enfermeiro responsável pelo primeiro posto de saúde.
População pequena, jovem e saudável, as ocorrências no posto eram escassas. Massaneiro abriu sua própria farmácia próxima ao hospital, na Rua Moysés Lupion, atual Sete de Setembro, esquina com Rio Grande do Sul, diante da futura Praça Wilson Joffre.
Os remédios que abasteciam as farmácias eram encomendados em São Paulo, despachados para Porto Epitácio (SP), no Rio Paraná, dali seguindo até Foz do Iguaçu, onde eram retirados.
Na farmácia de Santos, só pagava pelos remédios quem tinha recursos. Os pobres, sem condições de pagar, levavam os medicamentos gratuitamente. Massaneiro também mais socorria doentes do que lhes vendia remédios.
Meio comércio, meio caridade
Por sua atitude, os dois farmacêuticos eram amados pela população. Para ajudar os despossuídos, a primeira luta comunitária de Tarquínio em Cascavel, após a instalação de sua farmácia, foi reivindicar para a vila o posto de saúde, criado em seguida pelo governo do Estado.
O posto era dirigido por seu irmão de criação, o enfermeiro Antônio Massaneiro. Com a criação do posto público e a ampliação dos serviços do Hospital Nossa Senhora Aparecida, Tarquínio se sentiu à vontade para vender o estabelecimento e se mudar para Foz do Iguaçu, a conselho médico, para tratamento de saúde.
Ainda em 1951, quando assumiu o posto, Massaneiro, sempre atento às notícias que vinham de Curitiba, surpreendeu-se com a informação de que na Assembleia Legislativa do Paraná tramitava projeto de lei criando vários municípios, dentre os quais o de Toledo.
A vitória da mobilização
Obtendo mais informações, Massaneiro percebeu que o novo Município de Toledo abrangeria ampla área do distrito de Cascavel, inclusive a cidade. De imediato, Massaneiro correu a cidade em busca de apoio à proposta de ir a Curitiba e impedir a manobra de Toledo de incluir Cascavel em seu território.
Tentou apelar à Assembleia, mas as comissões parlamentares não queriam aceitar a criação de dois municípios na região, até porque nenhum teria meios próprios para se manter. Um amigo que conheceu em Santa Catarina – o agropecuarista José Neves Formighieri – ficou sensibilizado com a campanha de Massaneiro e decidiu ir à luta.
Neves bancou a equipe pró-Cascavel com dinheiro do bolso durante o tempo necessário para virar o jogo e evitar que Cascavel fosse transformado em distrito de Toledo. Depois de intensas negociações, conseguiu o apoio necessário para garantir a criação do Município, sem imaginar que iria nascer sem recursos do Estado e ele, Neves Formighieri, seria o primeiro prefeito.
Para se manter, o novo Município teria que vender terrenos urbanos que pouco interessavam aos colonos. Eles viviam em suas propriedades no campo e só investiriam em mais terras.
Mesmo assim, sem recursos, Cascavel conseguiu entrar nos anexos da lei 790, de 14 de novembro de 1951, como um dos novos municípios do Paraná, ao lado de Toledo e não como parte deste.
Um homem de ação
Depois de participar na linha de frente da luta pela emancipação de Cascavel, Massaneiro concorreu à Câmara Municipal pelo PTB nas eleições municipais, elegendo-se com 51 votos. Concorreu, portanto, na chapa contrária à do irmão Tarquínio (Partido Republicano). A lei 9 foi sua iniciativa mais importante.
Massaneiro, nas eleições de 1956, concorreu à Prefeitura, mas desistiu por conta da polarização entre Helberto Schwarz e Wilson Joffre. Em 1959 foi eleito para a presidência da Associação Rural de Cascavel, criada por Tarquínio, ali permanecendo até 1963.
Massaneiro também foi juiz de paz. Casado com Maria Herondina Costa Doca Massaneiro, teve três filhos: Itacir, Marlene e Edson. Morreu em 5 de janeiro de 1972, dando nome a uma das principais ruas transversais à Avenida Brasil.
Por sua vez, Tarquínio morreu em 3 de março de 1979, de edema pulmonar e insuficiência renal, depois de três infartos. Para homenagear sua memória, o Município de Cascavel deu seu nome a um importante parque ecológico e a uma rua do Jardim Maria Luíza, paralela à Avenida Carlos Gomes.
Santos era sogro do major Francisco José Ludolf Gomes, da Engenharia Militar do Exército, que se casou com a filha Yolanda e integrou a Comissão e Estradas de Rodagem (CER-1), responsável pela construção da atual BR-277 desde Ponta Grossa até Foz do Iguaçu.
100 anos da revolução: Ódio mortal à crítica
O cartunista Belmonte (Benedito Bastos Barreto) tinha 18 anos quando criou um personagem – Juca Pato – que sempre confiava no governo, seguia com fidelidade e obediência o presidente de plantão e se dava muito mal por não ter espírito crítico para perceber os defeitos e falhas dos políticos.
Em 15 de março de 1924, quando militares rebeldes brasileiros preparavam uma revolução, a revista Cigarra publicou entrevista com Belmonte, na qual ele mostrava surpresa com a reação furiosa dos adeptos do presidente Artur Bernardes aos desenhos críticos ao governo: “Eu tive a honra de receber a primeira carta anônima, carta pavorosa e ameaçadora em que o ignoto remetente prometia espatifar-me os ossos e beber-me o sangue”. “Eu sorrio, porque vejo nelas [nas ameaças] o reflexo dessa potência que é o lápis a serviço de uma causa”.
Sempre satirizando a extrema-direita e o nazismo, Belmonte foi caluniado até pelo todo-poderoso Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler: “Certamente o artista foi pago pelos aliados ingleses e norte-americanos”, disse o líder nazista, que horas depois matou a própria família e se suicidou com cianeto.
Juca Pato seguindo Getúlio Vargas para a guerra. No destaque, o cartunista Belmonte
A primeira lei de Toledo, depois das medidas protocolares de instalação do Município, tratou de posturas sobre o comércio de carne verde. A de Cascavel foi a criação do primeiro quadro do perímetro urbano da sede do Município, pois as ruas distritais não tinham nomes, com exceção da Avenida Brasil, que era dividida em duas partes e tinha dois nomes diferentes.
As primeiras leis eram iniciativas necessárias por parte dos prefeitos e exigiam pouco debate político. Focados apenas em aspectos técnicos e administrativos. De resto, sem maioria na Câmara, os prefeitos eleitos em novembro de 1952 não poderiam administrar apenas com as próprias forças.
O prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, sabia que se não negociasse com a maioria ligada ao governador Bento Munhoz ficaria ofuscado pelo presidente da Câmara, vereador Dimas Pires Bastos, que em caso de empate nas votações daria o voto de minerva.
Por sua vez, o prefeito de Toledo, médico Ernesto Dall’Oglio, sem os mesmos cuidados diplomáticos de Formighieri, foi afastado do cargo logo no início do mandato e só retornou ao final de uma longa batalha judicial.
Isso permitiu ao presidente da Câmara, Guerino Antônio Viccari, passar à história como chefe do Executivo e como o artífice da criação da Comarca de Toledo, que parecia impossível antes que ele e o vereador Rubens Stresser articulassem a conquista em Curitiba.
Acima do partidarismo
Com os prefeitos dependentes dos vereadores, além de Viccari e Stresser em Toledo, ambos do majoritário Partido Libertador, em Cascavel outros dois vereadores se destacaram além de Dimas Bastos, o presidente da Câmara: Adelar Bertolucci e Adelino André Cattani – os três do Partido Republicano.
Em Toledo, tanto os vereadores quanto o prefeito eram ligados de alguma forma à colonizadora e madeireira Maripá. Dall’Oglio veio do Sul para prestar assistência médica ao pessoal da Maripá e colonos que chegavam.
Viccari era o encarregado pelas estradas e Stresser, engenheiro agrônomo, foi designado para abrir uma estação experimental de cereais e horto florestal em Quatro Pontes, distrito de Toledo e depois de Marechal Cândido Rondon que se tornou Município em 1990.
Em 11 de agosto de 1953 o prefeito José Neves Formighieri sancionou a lei 26, matéria facilmente aprovada que dava os nomes oficiais às ruas então existentes na cidade, compreendendo os dois patrimônios.
Ao contrário do que seria lógico, ou seja, o prefeito encaminhar o projeto de lei nesse sentido à Câmara, os dois vereadores mais ativos dentre os eleitos em novembro do ano anterior, Adelar Bertolucci e Adelino Cattani, pegaram o mapa da cidade e escolheram nele os nomes das ruas com a concordância do prefeito.
As regras para as ruas
O leito antigo rodovia federal, hoje canteiros e estacionamentos da Avenida Brasil, durante a vigência do Território Federal do Iguaçu teve dois nomes: Avenida Iguaçu (nome do Território) e Avenida Frederico Trotta (nome do governador).
Foi com a Lei 26 que passou a ter definitivamente um nome só: Avenida Brasil. O artigo 19 da lei definia os nomes:
a) – Avenida Brasil – o trecho da Estrada de Rodagem Federal em todo o seu percurso dentro dos Patrimônios;
b) – Rua Paraná – a rua que partindo das proximidades do campo de aviação local, defronte a casa onde atualmente reside o sr. Eurides Formighieri passa defronte a sede do Tuiuti Esporte Clube e segue rumo ao Patrimônio Novo, paralela à Avenida Brasil;
c) – Rua Pernambuco – a rua que partindo das proximidades da estrada que vai para Toledo, passa defronte a casa onde atualmente reside o sr. Joel Sanwais, seguindo rumo ao Patrimônio Novo, paralela à Rua Paraná;
d) – Rua Minas Gerais – rua que sendo paralela à Rua Pernambuco passa nas proximidades da casa onde atualmente reside o Sr. Sandálio dos Santos seguindo rumo ao Patrimônio Novo;
e) – Rua Rio Grande do Sul – a rua que partindo do aeroporto local passa defronte a residência dos srs. Florêncio Galafassi, João Miotto e segue rumo ao Patrimônio Novo paralela à Avenida Brasil;
f) – Rua São Paulo – a rua que partindo defronte o portão da 5ª secção de Estradas de Rodagem segue paralela à Rua Rio Grande do Sul rumo ao Patrimônio Novo;
g) – Rua Santa Catarina – a rua que passando ao lado da casa onde atualmente reside o sr. Vitorino Sartori segue paralela à Rua São Paulo rumo ao Patrimônio Novo;
h) – Rua Rio de Janeiro – a rua paralela à Rua Santa Catarina passa nas proximidades da casa onde atualmente reside o sr. Servino Campagnolo e segue rumo ao Patrimônio Novo;
i) – Avenida Moysés Lupion – a rua que passa defronte ao Hospital Nossa Senhora Aparecida dividindo os dois patrimônios;
j) – Rua Othon Mäder – a rua que passa defronte a casa onde atualmente reside, digo, está instalada a Coletoria Estadual, paralela à Avenida Moysés Lupion;
k) – Rua Ademar de Barros – a rua que passa defronte a casa onde atualmente reside o sr. Emiliano, passando defronte a casa onde atualmente também reside o sr. António Saks e paralela à Rua Othon Mäder;
l) – Rua do Governador Bento Munhoz – a rua paralela à Rua Ademar de Barros, passa defronte a atual Delegacia de Polícia;
m) – Rua Manoel Ribas – a rua que paralela à Rua Governador Bento Munhoz, passa defronte ao portão da 5ª secção de Estradas de Rodagem passando o bar do sr. Pedro Zandoná e seguindo em frente;
Art. 2°) – Fica estabelecido que para o futuro todas as ruas que forem abertas paralelas à Avenida Brasil, tomarão nomes de Estados e quando não mais houverem nomes de Estados, tomarão então nomes de Territórios Nacionais (…)
Ruas varridas do mapa
No futuro, algumas ruas teriam alteração nos nomes. A Rua do Governador Bento Munhoz, por exemplo, era indigesta para uma cidade dominada por Moysés Lupion, que disputava o controle do Estado com as famílias Munhoz e Camargo.
Por isso, a rua com seu nome virou Rua Pio XII. Da mesma forma, a Rua Moysés Lupion era inaceitável para os seus adversários e foi mudada para “Rua Sete de Setembro”. As mudanças foram feitas em atenção à nova norma de não dar nomes de pessoas vivas a ruas e instalações públicas.
A Câmara de Cascavel ficava em uma pequena sala junto à Prefeitura, onde não havia espaço para o público. Como não havia rádio, alto-falantes espalhados pelas esquinas faziam transmissões, tocavam música e veiculavam anúncios de utilidade pública.
Criado em 1951 pelo sargento Oswaldo Hercílio de Oliveira, da equipe militar que construía a futura BR-277, o serviço de alto-falantes intitulado “A Voz do Comércio e do Povo de Cascavel” transmitia as sessões legislativas à população presente em algum ponto da Avenida Brasil no Patrimônio Velho.
“Nas reuniões da época havia grandes debates”, recordou José Neves Formighieri. “E tanto eu como o Dimas Pires Bastos, presidente do Legislativo, fazíamos questão que o povo fosse lá e soubesse o que estava acontecendo”.
Sem polarização
Havia debates sobre aspectos técnicos, mas não polarização nem guerra entre os políticos. O entendimento e a diplomacia garantiam decisões corretas e viáveis. “Nenhuma mensagem minha, como prefeito, foi rejeitada pela Câmara, porque os problemas de interesse do Município eram discutidos com todos os integrantes do Legislativo”, contou Neves Formighieri. “Eu não interferia em nada”.
O prefeito nunca vetou as matérias aprovadas pela Câmara porque havia acordo entre as bancadas da situação e da oposição majoritária.
“Só numa ocasião vetei uma palavra contida num projeto de regulamentação de venda de terras do município. Vetei a expressão à vista, por entender que as vendas de terrenos por parte do município não poderiam ocorrer dentro dessa modalidade e sim a prazo, de acordo com a própria lei estadual mediante a qual tais áreas foram doadas ao município”.
Nem mesmo com as mortes a tiros de dois vereadores da oposição – Adelino Cattani e Donato Matheus Antônio, do Partido Republicano – houve polarização aguerrida entre grupos divergentes. Isso, entretanto, mudou depois do suicídio de Getúlio Vargas, em 1954.
100 anos da revolução: Governo sabia do golpe
A espionagem do governo Bernardes era implacável e em março de 1924 ficou ainda mais ativa por conta de um informe reservado avisando que haveria uma tentativa de revolução em São Paulo no dia 29 desse mês.
O major Bertholdo Klinger (1884–1969) era apontado como o provável líder do golpe militar a ser desfechado nessa data. Gaúcho, filho de imigrantes, ser indicado pela espionagem do governo como o líder da revolução iminente lhe valeu depois a detenção pelas forças governistas.
Os informes dos agentes secretos explicaram que a revolução não começou em março porque “a munição de que dispunham em São Paulo era insuficiente e só daria para dois meses de luta, e eles precisavam ter munição para lutar seis meses”.
Relataram que havia uma disputa entre Klinger e Isidoro Dias Lopes pela chefia da rebelião. Os espiões não perceberam que Klinger, na verdade, estava a serviço do governo. Ele foi um dos mais ferozes combatentes contra os revolucionários, segundo Juarez Távora, um dos principais líderes rebeldes.
Era uma espionagem ainda sem tecnologia, mais baseada nos ódios dos delatores e em fofocas que em critérios bem definidos.
O mistério de Bertholdo Klinger: combateu ferozmente a revolução, mas foi preso acusado de ser revolucionário
O programa será voltado ao Réquiem, a última obra de Mozart, apresentado por artistas que integram o Membra Vocal e a Orquestra de Cãmara de Cascavel, promotores do evento.
Segundo um dos idealizadores do Noite de Gala, o chanceler Jocimar Silva, os espetáculos terão ainda a participação de cantores, músicos e instrumentistas de diferentes orquestras sinfônicas, artistas do Paraguai, de onde virá o coro Espiritu Santu sob a regência do maestro César Azamendiade com 20 vozes que se integrará ao Membra Vocal, artistas argentinos, solistas reconhecidos e que percorrem o mundo levando música, como Michele Coelho, mestre em canto em Veneza, Matheus Bressan que já se apresentou em oito países, o bacharel em Música e cantor lírico Thiago Stopa e a professora Camila Santiago, de Maringá.
Noite de Gala: um espetáculo para democratizar a cultura
O Noite de Gala nasceu com a missão de levar música erudita acessível a todos a partir da criação do coro Membra Vocal no ano de 2013. Quem montou o coro foi Jocimar Silva, referência musical no cenário paranaense e brasileiro, que almejava espaços para que estes artistas participassem de grandes eventos em oportunidades de estarem em teatros em uma noite somente deles. O primeiro Noite de Gala reuniu 287 pessoas no anfiteatro do Centro Cultural Gilberto Mayer em Cascavel. O espetáculo contou com vozes e um piano. A segunda Noite de Gala reuniu 680 pessoas e a partir da terceira edição as vozes passaram a ser acompanhadas por uma orquestra. De lá para cá só cresceu.
“O Noite de Gala conta com um programa todo voltado à música erudita e nesta sétima edição será o Réquiem de Mozart que é a obra mais importante dele, sua última obra, então o nível para apresentação precisa ir além do técnico, de uma boa técnica e uma boa leitura. É uma obra muito difícil tanto para os cantores do coro, quanto para os solistas e aos instrumentistas. Está imperdível, as pessoas vão se emocionar”, reforçou.
Acesso gratuito, mas com doação de alimentos e produtos de higiene
O evento terá acesso gratuito e se pede aos expectadores a doação de alimentos ou produtos de higiene pessoal, principalmente para higiene feminina como absorventes íntimos. As doações serão destinadas a entidades assistenciais de Cascavel.
Apesar do acesso gratuito, os ingressos, por serem limitados diante da capacidade do teatro, devem ser retirados com antecipação a partir da segunda quinzena de abril.
Serão duas apresentações, uma no dia 1º e outra no dia 2 de maio, sempre às 20h e cada uma delas deverá reunir até 620 expectadores em espetáculo com cerca de uma hora de duração.
“A quem nunca participou de um espetáculo com música clássica, erudita, indico que é imperdível. Quem participou terá a oportunidade de ver, mais uma vez, um espetáculo de altíssima qualidade. As pessoas sairão de lá emocionadas diante do nível técnico e do comprometimento dos artistas. É um programa imperdível para a família”, destacou Jocimar Silva ao reforçar que a classificação é livre.
A regência será de um dos maestros de maior relevância no cenário nacional: Israel Menezes. Menezes já regeu orquestras em mais de uma dezena de países com vasta experiência e conhecimento técnico.
A literatura é um instrumento de comunicação e interação social que recria a realidade pela visão do autor. O uso da palavra é o que diferencia essa manifestação artística das demais formas de arte e expressão.
Seja qual for o tema da escrita [os mais comuns envolvem poder, família, identidade, solidão, amizade, livre arbítrio, amor, guerra, infância, autoconhecimento, poesia], os vocábulos adquirem conotações por vezes nem sempre compreendidas de imediato, como quando Olavo Bilac [1865-1918] escreveu o soneto número XIII “Ora (direis) ouvir estrelas”, da coletânea Via Láctea, inserida em seu livro de estreia e que foi publicado em 1888.
Os versos de Bilac são um típico exemplar da lírica parnasiana e atribui-se o tema do amor, pelo qual o contista e cronista brasileiro teria pela poetisa Amélia de Oliveira [1868-1945]. Já no livro de romance A culpa é das estrelas, do americano John Green, lançado em 2012, a comovente história aborda temas como a vida, a morte, a esperança e o amor em meio ao sofrimento.
Despretensiosamente, todos esses enredos estão reunidos no livro A delegada de Deus e o mistério da Luz – Uma mente sem limites (Editora Albatroz, 324 págs., R$ 84), que é a primeira incursão literária da teóloga paranaense Joaquina Donato, que nasceu em Cascavel. A obra de não-ficção e com traços biográficos acaba de chegar ao mercado editorial.
Ouvir e falar com as estrelas
O enredo começa com aquilo que parece ser ficção, mas segundo a autora é a mais pura realidade: ela consegue conversar com as estrelas!
Com mais de meio século dedicado à espiritualidade, Joaquina teve sua primeira experiência aos cinco anos de idade, quando observava o céu à noite e uma chuva de estrelas caiu sobre si. Tempos depois, foi surpreendida por um raio de luz que se acendeu no ar e flutuou em sua direção.
Tais fenômenos aguçaram a curiosidade da jovem que – após muitos anos de estudos de forma autodidata e, posteriormente, com uma graduação em Teologia pela PUC-PR – conseguiu desenvolver um jeito próprio de se conectar com o universo por meio do silêncio, da oração, da meditação e da contemplação.
“Não existem registros históricos de alguém recebendo respostas de uma estrela quase que instantaneamente, como vivenciei. Considero-me privilegiada por me comunicar de maneira consciente e de olhos abertos com uma imensidão de seres espirituais”, conta Joaquina.
Fenômenos místicos na vida de uma pessoa comum
Ao longo dos anos, as comunicações com o mundo invisível se tornaram mais frequentes na vida da teóloga a ponto de ela receber mais de dez contatos espirituais em uma única noite. Ao relatar os fatos à Igreja Católica e pedir orientações, levou algumas “portas na cara”.
Apesar de alguns repúdios, suas habilidades de interagir com o universo e com figuras históricas continuam em plena atividade; como nas três vezes em que foi agraciada com as aparições da Virgem Maria (duas vezes no dia 18 de novembro de 2002 e uma em 7 de novembro de 2006). Mesmo assim, a autora se considera uma pessoa comum.
“Sou uma mulher normal, agraciada por dons infusos [que se tem de forma natural, e não adquiridos]. O intuito de receber mensagens divinas é transmiti-las às pessoas e pedir que retornem à essência, ao amor puro. E foi isso que a Virgem Maria pediu: que a humanidade busque uma reconexão com o sagrado, com o amor puro e com Deus”, ressalta a teóloga.
Sinceridade x recusas
Para o filósofo, escritor e teólogo Clodovis Boff, Joaquina Donato “prende o leitor pela sinceridade das experiências, por sua elevação e, sobretudo, por sua fidelidade à fé católica e amor à Igreja, apesar das reservas e até recusas dolorosas”.
Mesmo ciente de que sua missão é alertar as pessoas e promover esse despertar sobre a importância da reconexão com Deus – numa sociedade que vive marcada pelo individualismo e pela falta de cuidado com o planeta e com o outro – Joaquina enfrenta, por vezes, descréditos. “A caminhada não é fácil, pois o contato com o divino, o espiritual nem sempre é aceito ou compreendido pelos demais”.
Assim como a pureza de sentimentos – tantas vezes retratadas na literatura – torna-se rara na atualidade, o livro A delegada de Deus e o mistério da Luz – Uma mente sem limites convida o leitor para rever a própria trajetória e compreender que por meio das mensagens divinas é possível expandir a consciência, criar novos hábitos e viver uma existência mais plena em conexão com os outros e com o universo.
Sobre a autora
Joaquina Donato nasceu em Cascavel (PR) em 1963, vive em Curitiba e se dedica à espiritualidade há mais de 50 anos. É graduada em Teologia pela PUC-PR.
Municípios criados e instalados nas mesmas datas, Cascavel e Toledo só a partir delas desenvolveram paralelismo histórico. As duas cidades (construções sociais) e seus municípios (subdivisões administrativas) têm épocas e origens diferentes.
A cidade de Cascavel tem origem no ciclo ervateiro e começou a se formar em 1930, enquanto Toledo já surge depois, no contexto madeireiro, em 1946. No empório da vila de Cascavel, ao chegar, os primeiros toledanos compravam tudo, de suínos a combustíveis.
Com a criação dos dois municípios, em 1951, e a instalação, em dezembro de 1952, começou o paralelismo de atividades entre Cascavel e Toledo, que agiram de formas diferentes, mas chegaram juntos, em 18 de agosto de 1953, no encaminhamento às autoridades judiciárias do Estado da proposta de criação de suas Comarcas.
Desde 1937 os cascavelenses já pretendiam ter um fórum para a resolução dos problemas locais, que precisavam ser encaminhados a Foz do Iguaçu.
Surgia nessa época o Cartório Civil, dirigido por Sandálio dos Santos, que dependia da criação do Distrito Judiciário, autorizado em 18 de janeiro de 1938, com a Lei 6.244.
A terra roxa e as matas cobertas de madeira de lei e pinheirais lastrearam a motivação principal da mediação judicial: os conflitos de terras, que tiveram origem na multiplicidade de títulos de propriedade.
Influências importantes
Tudo continuaria a ser resolvido só em Foz do Iguaçu se a ambiciosa colonizadora Maripá não quisesse dar o máximo de estrutura à sua Toledo, por ação do vereador e prefeito em exercício, Guerino Antônio Viccari.
Com várias ideias na mala, Viccari chegou à capital do Estado em 29 de julho de 1953, acompanhado pelo vereador Rubens Stresser. Filho de tradicional família curitibana, engenheiro agrônomo responsável pela Estação Experimental da Maripá em Quatro Pontes, Stresser estudava a adaptação de variedades de sementes à região.
Na época, Toledo não era de forma alguma cogitado para sede de Comarca, já que se tratava de Município criado recentemente.
“Entretanto, o vereador Rubens Stresser, numa das tantas viagens que fazia à capital, onde sempre mantinha contato com o governador Bento Munhoz da Rocha Neto, políticos e amigos ligados ao mesmo, soube, através de seu tio, o jornalista Adherbal G. Stresser, que então ocupava a chefia do Cerimonial do Palácio do Governo, que a Assembleia Legislativa do Estado discutia o projeto da nova Divisão Judiciária do Paraná.
De regresso a Toledo, levou imediatamente o assunto à Câmara Municipal, à Prefeitura e à diretoria da Maripá” (Oscar Silva, Rubens
Bragagnolo e Clori Fernandes Maciel, Toledo e sua História).
O plano de Toledo
Prefeitura e Câmara de Toledo dirigiram-se ao presidente da Assembleia Legislativa, deputado Laertes Munhoz, conseguindo com ele uma emenda no projeto de estruturação judiciária mediado pelo advogado Dátero Alves de Oliveira, que estruturou o pedido com argumentos e dados jurídicos.
Havia incerteza, no entanto, sobre as chances de aprovação da emenda substitutiva, que recebeu o número 49, apresentada pelo deputado José Hoffmann. Guerino Viccari deu sequência ao plano entrando em contato com o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador José Munhoz de Mello, a quem levou um mapa mostrando a distância das outras Comarcas.
Mello não via condições financeiras para o avanço da proposta, mas Viccari tratou de garantir casa e móveis para o funcionamento do Fórum da Comarca, restando ao tribunal exclusivamente o pagamento do juiz e do promotor.
Como já havia ocorrido com a criação do Município, em 1951, em cujo contexto Toledo seria a sede e Cascavel apenas Distrito, as lideranças de Cascavel também se mobilizaram para evitar que a Comarca de Toledo subordinasse Cascavel.
O plano de Cascavel
Cascavel havia se tornado Município na mesma data que Toledo e possuía – como entroncamento rodoviário – ótimas condições estratégicas. Mas a Maripá era forte. No dia seguinte ao contato de Viccari com Munhoz de Mello a emenda n˚ 49 foi aprovada em primeira votação.
Atendendo a uma orientação de Mello, os municípios que não ofereceram instalações foram desqualificados e caberia somente a Toledo sediar sua Comarca. Cascavel, então, pôs em ação seu próprio plano.
O advogado curitibano Antônio Gabardo, amigo de Munhoz de Mello, pareceu a José Neves Formighieri o elo forte para articular a criação da Comarca de Cascavel.
Neves pediu a Gabardo acesso ao presidente do Tribunal de Justiça para lhe comunicar diretamente o pedido. Para Neves, mandar ofício não daria em nada: o papel seria jogado numa gaveta até receber um educado “não” como resposta em alguns meses.
Gabardo disse que aceitava intermediar o contato, mas fez uma exigência: “Você paga uma janta para mim?” Neves nem hesitou:
– Pago!
– Então vamos lá conversar com o presidente!
Gabardo levou Formighieri até a residência de Munhoz de Mello. “Ele estava jantando. A relação entre os dois era de intimidade absoluta”. O advogado fez as apresentações:
– O Neves é meu amigo e prefeito de Cascavel e quer uma coisa do senhor.
– O que é que ele quer?
– A Comarca de Cascavel.
A janta decisiva
Munhoz de Mello explicou que o projeto da nova divisão judiciária já estava em votação, só dependendo de um pleno do Tribunal de Justiça para confirmar a aprovação.
Mello não escondeu que seria difícil atender ao pedido de Cascavel. Gabardo retrucou:
– Não tem difícil. Eu estou ganhando uma janta para resolver esse problema!
Aí a esposa do desembargador, d. Ondina, uma pessoa simpaticíssima, segundo Neves Formighieri, entrou na conversa:
– Dá-se um jeito. Meu pai sempre dizia que quando uma pessoa procura a gente em casa, nunca se pode dizer não.
Neves pensou consigo mesmo: “Já arranjei mais um voto!”.
Munhoz de Mello, frente a três pares de olhos que lhe cobravam uma decisão, bateu o martelo:
– Amanhã às 9 e 30 você vai lá no Tribunal. Daí nós vamos ver como é que vamos fazer esse negócio.
Pela manhã, o madrugador e ansioso Neves já estava no Tribunal de Justiça.
– Cadê o Gabardo? – perguntou Munhoz de Mello.
– Eu o perdi ontem à noite. Depois que jantou não vi mais.
O desembargador abriu o mapa do Estado e perguntou a Neves:
– Como vamos criar essa Comarca?
Mello pretendia incluir na Comarca de Cascavel também os municípios de Guaraniaçu e Catanduvas, que seriam desmembrados da Comarca de Laranjeiras do Sul.
Neves Formighieri pediu-lhe que não criasse uma Comarca ampla demais:
– O senhor desmembra de Toledo e só cria a Comarca no Município de Cascavel.
Mello fez o prefeito de Cascavel prometer que daria uma casa para o juiz, outra para o promotor e construiria as instalações do fórum.
Nesse momento, para se livrar de Neves, Munhoz de Mello chamou Edmundo Mercer, seu assistente-adjunto, e determinou:
– Inclui aí a Comarca de Cascavel, de segunda entrância!
O toque final
Mello perguntou a Neves se iria assistir à votação. Na verdade, o propósito do prefeito era retornar imediatamente a Cascavel, o que seria um erro. Felizmente, foi aconselhado por Munhoz de Mello a esperar:
– Venha amanhã outra vez, às 9 e 30 aqui. Venha tomar um cafezinho, acompanhar a votação e já leva a notícia e o Diário Oficial.
“Fui lá”, rememorou Neves. “Ele me colocou com destaque, ao lado da Tribuna de Honra. Havia gente que estava contra a criação”.
A presença do prefeito claramente indicado como personalidade pelo desembargador Munhoz de Mello garantiu que em 14 de dezembro de 1953, com a lei estadual 1.942, entre as diversas Comarcas criadas figurasse a de Cascavel.
Valeu pagar a janta a Gabardo e, mais ainda, foram valiosas e imprescindíveis as visitas feitas ao desembargador José Munhoz de Mello.
Neves estimou que as ações só se desequilibraram em favor de Cascavel porque foi colocado por Munhoz junto à Tribuna de Honra.
A história de juízes, promotores, advogados e réus em Cascavel é abordada pelo Projeto Livrai-Nos! em quatro livros: Quando a Justiça Vale uma Janta, Quando a Justiça Chega a uma Terra sem Lei, Quando a Justiça Tem Graça e Quando há Risco de Injustiça (https://x.gd/nGhwX).
100 anos da revolução: Quem ganhava não levava
Em janeiro de 1924, após as eleições para o governo da Bahia, governistas e oposição se declararam vencedores. Arlindo Leoni, da situação, impetrou habeas-corpus no STF para se empossar, enquanto a assembleia oposicionista pedia a intervenção federal.
Com base nesse pedido, o presidente Artur Bernardes decretou o estado de sítio na Bahia por 30 dias, em março de 1924, e o comandante da região militar empossou como governador o bernardista Francisco de Góis Calmon, banqueiro e barão do açúcar.
No Rio de Janeiro, então o Distrito Federal, nas eleições para senador, Irineu Machado, adversário do presidente Bernardes, derrotou por larga margem o bernardista José Mendes Tavares.
A derrota de Tavares foi gigantesca. Mesmo assim foi declarado vencedor: Bernardes mandou anular as urnas em que Machado venceu, validando só as seções em que seu candidato teve a maioria dos votos.
Foi um roubo eleitoral descarado e um dos fatores que pesaram na agitação militar tenentista.
Francisco de Góis Calmon: vencedor pelo “voto” armado do presidente Bernardes
Na próxima terça-feira, dia 5 de março, a Sala Verde da Biblioteca Pública Municipal Sandálio dos Santos inaugurará a temporada de exposições promovidas pela Secretaria de Cultura (Secult) para o ano de 2024. A primeira mostra a ocupar o espaço será “Poéticas do Feminino”, uma coleção de obras da talentosa artista Andressa Rodrigues. As obras estarão disponíveis para apreciação do público até o dia 29 de março, com horário de visitação das 8h às 18h, de segunda-feira a sexta-feira.
Mesmo com as obras de melhorias na biblioteca, o espaço estará aberto ao público para receber essa inspiradora exposição, conforme anunciado por Antonio Carlos Machado, coordenador de Artes Visuais da Secretaria de Cultura.
Logo em seguida, no dia 10 de março, às 10h30, será a vez da abertura da exposição “Terra Brasileira”, no MAC sede Sefrin Filho, no 1º andar do Teatro Municipal. Essa exposição permanecerá em exibição até o dia 14 de abril.
Para os amantes da fotografia, uma exposição do renomado fotógrafo Arivonil Policarpo está agendada para acontecer no MAC Prefeitura, no 3º andar, de 13 de março a 30 de abril.
O Centro Cultural Gilberto Mayer (CCGM) receberá a exposição “Planeta Água”, da artista curitibana Elizabeth Serafim Prosser, no Espaço MAC Gilberto Mayer, de 17 de março a 28 de abril.
Além disso, está programada a exposição coletiva “Sexo, Gênero e Raça”, promovida pelo Centro de Arte Contemporânea Edilson Viriato, da cidade de Curitiba. A exposição será realizada no MAC Paço das Artes, de 16 de março a 26 de maio.
“É uma interessante exposição que nos faz questionar e abrir a visão sobre temas atuais, buscando não chocar, mas mostrar as possibilidades de ver e perceber as diversidades humanas”, ressalta Antônio Carlos sobre a exposição coletiva.
Essas exposições prometem enriquecer o cenário cultural da cidade e oferecer experiências significativas para todos os amantes das exposições artes visuais.
Passando a ter autonomia em dezembro de 1952, os municípios de Cascavel e Toledo tiveram suas próprias leis em março de 1953. As primeiras foram exigências impostas aos novos municípios: adotar uma legislação tributária, adaptando as normas já vigentes para o Município do qual faziam parte – Foz do Iguaçu –, a composição dos órgãos da administração local e criação do quadro próprio do pessoal fixo da Prefeitura.
Coincidentemente, o primeiro problema que entrou em debate nos dois municípios foi a precariedade dos cemitérios. Em junho de 1953 o prefeito em exercício de Toledo, vereador Guerino Viccari, recebeu da colonizadora Maripá uma área para a formação do cemitério municipal.
O terreno recebia sepultamentos desde 1949, com a morte do pioneiro José Drago. Antes os corpos eram enterrados nos arredores da vila.
Com a urbanização e as obras que a caracterizam, exigindo escavações, houve casos de ossos humanos aparecendo, inclusive as peças mais assustadoras da caveira: os crânios.
A população toledana, entretanto, jamais associou o Cemitério Cristo Rei a maldições capazes de arruinar a vida das autoridades locais. Em Cascavel foi diferente. Em 3 de agosto de 1953, quando o prefeito José Neves Formighieri determinou o fechamento do cemitério distrital, que bloqueava o caminho para o Patrimônio Novo, fatos estranhos passaram a acontecer, transcorrendo pelas décadas futuras.
“Não sou supersticioso, mas depois desse trabalho aconteceram alguns fatos desagradáveis comigo, com o [prefeito] Neves e outros envolvidos”, contou Mário Thomasi (1928–1996). Um dos primeiros servidores municipais, ele foi o encarregado de fechar o antigo cemitério distrital e abrir um novo campo santo, na futura Avenida Carlos Gomes.
Temor ao sobrenatural
Thomasi não conseguiu completar a tarefa, mas depois nem tudo foi dificuldade. Teve sucesso como dirigente do Tuiuti Esporte Clube, que sob seu comando se recuperou de complicados problemas financeiros e estruturais.
Um dos primeiros astros do automobilismo cascavelense, chegou a ser delegado de polícia e vereador na década de 1950. No entanto, também sofreu uma série de infortúnios, que atribuiu a mexer com as ossadas do cemitério.
Quando o Município surgiu, em 1952, a cidade começou a crescer para o lado do Patrimônio Novo e o velho cemitério, encravado entre os patrimônios Velho e Novo, na altura da esquina das atuais ruas Rio Grande do Sul e Voluntários da Pátria, tornou-se um entrave ao desenvolvimento urbano.
Em agosto de 1953 o prefeito José Neves Formighieri (1916–2002) se viu obrigado a determinar o fechamento. Thomasi acreditava que foi essa a razão de Neves nunca mais ter conseguido voltar a ser candidato a prefeito ou a deputado, pois uma urucubaca se abateu sobre sua carreira política. Depois de preso e torturado pela ditadura, Neves abandonou de vez a política.
Por medo, os servidores da Prefeitura não queriam, em hipótese alguma, trabalhar na remoção do velho cemitério. O tratorista, mesmo habituado a trabalhar à noite, apavorou-se com a perspectiva de aparecerem fantasmas.
Foi assim que Mário Thomasi, primo do prefeito e diretor do Serviço Rodoviário do Município, viu-se deslocado para a tarefa. Não pôde recusar, mas se arrependeu, atribuindo as dificuldades pessoais e políticas de quem lidou com cemitérios a uma espécie de “maldição” por perturbar os mortos.
Desastres políticos
No velho cemitério estavam enterrados os verdadeiros pioneiros de Cascavel, posseiros assassinados pelos jagunços e também jagunços mortos em emboscadas de represália armadas pelos posseiros, gente que, segundo a crença popular, não conseguiu morrer em paz. Neves Formighieri condenou a área e decidiu fazer a remoção dos corpos, mas como ninguém mais morreu, a área do novo cemitério ficou sem inauguração, como na comédia O Bem Amado, de Dias Gomes.
Cidade com população muito jovem, ambiente saudável e doentes graves transportados a centros com melhor estrutura médica, o novo cemitério só foi inaugurado, na rua Carlos Gomes, em plena mata, pelo prefeito seguinte – Helberto Schwarz.
Vereador na gestão anterior, Helberto havia aprovado a lei do novo cemitério e precisava cumpri-la, mas os novos vereadores não gostavam da ideia de abrir o novo cemitério na Rua Carlos Gomes, então era um enorme matagal, longe do centro urbano, a caminho para o Cascavel Velho.
Na década de 1960, já esgotado o prazo para a transferência dos corpos ao novo cemitério, o Departamento Autônomo de Águas e Esgotos da Prefeitura (hoje, Sanepar) começou a abrir valetas para a canalização de água e na altura do futuro Moinho Corbélia, construído na quadra do velho cemitério, foram encontrados ossos humanos. Alguns moleques foram advertidos por jogar futebol com um crânio.
O Moinho Corbélia também historiou um destino inglório: sofreu incêndio, a estrutura ficou comprometida e esteve no centro de uma longa batalha judicial.
Azares confirmam medos
Mário Thomasi tinha um brilhante futuro pela frente, sendo um dos principais líderes da comunidade, mas se viu obrigado a ir embora de Cascavel a contragosto, levando-o a crer na imaginária maldição. “Acho que esse negócio de mexer com cemitério não é bom”, disse.Como para confirmar o temor de Thomasi, depois de fazer a transferência do cemitério do centro da cidade para a Rua Carlos Gomes o prefeito Helberto Schwarz teve a Prefeitura criminosamente incendiada em seu último dia de administração.
Por um triz Schwarz não foi linchado e mesmo tendo escapado espetacularmente, via aérea, jamais conseguiu retomar sua até então bem-sucedida carreira política.
Três vereadores signatários de projetos que redundariam na criação da Administração dos Cemitérios e Serviços Funerários (Acesc), em 1989, enfrentaram problemas das mais diversas origens, em suas vidas pessoais e na carreira política.
“Escolhas determinam o futuro”
Hostílio Lustosa, que foi vereador, secretário municipal e vice-prefeito, depois de apresentar projeto referente aos cemitérios jamais voltou a se destacar na cena principal do mundo político local. Segundo ele, apenas fez escolhas de acordo com a conjuntura política. Sempre foi vitorioso e não se deixava perturbar por tais histórias.
O vereador Reinaldo Rodrigues, que também demonstrou preocupação com os serviços funerários – foi o primeiro a propor o sistema de gavetas para o cemitério –, elegeu-se apenas uma vez, em 1992.
Quando concorreu à reeleição, em 1996, obteve menos da metade dos votos recebidos quando se elegeu, fato que se deveu a problemas internos do PMDB, mas a “maldição” levou a culpa.
A maldição do cemitério teria alcançado com maior força o ex-vereador Celso Demoliner. Autor do projeto que criou a Acesc, ele foi o justamente o primeiro administrador da autarquia, mas sua carreira política se arruinou e chegou a enfrentar sérios problemas com a Justiça.
Se a maldição fosse real, seria maior
O ex-prefeito Fidelcino Tolentino pareceu ter superado a “maldição”, pois em sua primeira administração (1987) criou o cemitério do Jardim Guarujá e isso não o impediu de se eleger para a Prefeitura em 1992, embora depois disso sua carreira política também tenha sofrido reveses. Os ex-prefeitos Salazar Barreiros e Edgar Bueno fizeram várias melhorias em cemitérios da cidade e dos distritos e só gente muito impressionável pode acreditar que as derrotas sofridas por eles respectivamente nas eleições legislativa de 2002 e municipal de 2004 tenha algo a ver com espíritos perturbados.
Para o cabeleireiro Sebastião Bastroco Miranda, se houvesse maldição ela afetaria mais gente. Várias partes da cidade serviram eventualmente de túmulos clandestinos para jagunços que executavam “serviços” de matança de posseiros.
“Os caras encomendavam e os jagunços matavam mesmo”, contou Bastroco. “Aqui em Cascavel tem gente com mansão de uma quadra que não sabe que está morando em cima de um cemitério. E fica bem aqui no centro da cidade. Se cavar um pouquinho, vai tirar caveira debaixo da terra”.
100 anos da revolução: A milícia dos ervais
Por que soldados chegando de longe, com fardas esfarrapadas, barbudos e armados, recebiam apoio popular ao ocupar o Oeste do Paraná? A explicação está nas condições de miséria do povo. Os rebeldes prometiam que a revolução traria um tratamento melhor a todos e educação para as crianças.
As comissiones eram grupos paramilitares mantidos pelos latifundiários estrangeiros no Oeste paranaense. Seu papel era punir quem se recusasse ao regime de quase escravidão vigente.
Com o Estado ausente, formavam a polícia do sertão. Sádicos, eram “criaturas desumanas, cruéis, sedentas de sangue […] feras fiéis no cumprimento da incumbência desapiedada” (Hélio Serejo, Vida de erval).
A milicia ervateira semeava o terror. “Surras terríveis, castigos dolorosos e, não raro, a morte. […] A população apresenta um ar de submissão e tristeza confrangentes. A situação servil a que estão condenados lança-os numa espécie de apatia moral” (João de Talma, Das Fornalhas de Nabucodonosor).
Os revolucionários de 1924, portanto, abriram os olhos da nação para o sofrimento que era trabalhar no interior do Paraná.
Em 8 de março de 1953, dez meses depois de chegar a Cascavel, o pároco Luiz Luíse pediu ao padre Francisco Schlüter que atendesse a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida em sua ausência. Com as malas feitas, Luíse viajou imediatamente, deixando para trás interrogações que só seriam respondidas quase trinta anos depois.
O mistério do desaparecimento do padre Luíse aparentemente durou pouco, já que alguns dias depois pessoas procedentes de Erechim (RS) informaram que o religioso foi visto por lá, ativamente empenhado em convencer as autoridades gaúchas a aceitar seus planos, aperfeiçoados durante a permanência em Cascavel.
No entanto, ele jamais informou por que foi embora, já que era amado pela população cascavelense. No vácuo entre a criação do Município e a posse do prefeito José Neves Formighieri, padre Luiz Luíse foi um prefeito em regra, mobilizando a comunidade em conquistas históricas: apoiou a Prefeitura na venda de terrenos do Patrimônio Novo e com o médico Wilson Joffre trouxe a aviação comercial para a região. Ao deixar Cascavel em 1953 para retornar ao Sul, Luíse estava com 40 anos e já definitivamente inscrito na história local, sem imaginar que sua importância tanto para o Norte gaúcho quanto para o Médio-Oeste do Paraná viria de feitos ainda mais espetaculares no futuro.
Vocação para o progresso
Nascido em Martellago (Veneza, Itália) em 2 de maio de 1913, esse filho de agricultores foi levado aos 14 anos para o Seminário de Pederoba, em 1927. Durante os estudos, definiu-se pela vida religiosa, recebendo o diaconato em 16 de março de 1938, em Turim, onde foi ordenado padre em junho do mesmo ano.
Permaneceu ainda alguns anos em missões pastorais na terra natal antes de ser enviado para atender às regiões pioneiras colonizadas por imigrantes do Norte italiano e seus descendentes no Brasil.
Luíse chega a São Paulo em 1º de dezembro de 1946, iniciando tarefas pastorais no ano seguinte na Paróquia Aparecida, na cidade paulista de São Manoel.
Em 1949, transferido de São Paulo para o Norte do Rio Grande do Sul, passou a oferecer assistência religiosa à comunidade de Erechim, mas em breve ele viria para o Oeste, onde começou a fazer história.
A família Biazus, que colonizava Matelândia, era procedente de Erechim e pediu ao padre Domingos Fiorina, superior geral dos padres missionários de Nossa Senhora Consoladora, que enviasse um padre para assistir espiritualmente aos colonos no Paraná.
Estavam longe de saber que prestavam um inestimável auxílio, na verdade, a Cascavel. No início de 1952, Fiorina efetivamente enviou o padre Luiz Luíse para que fosse conhecer Matelândia e em seguida se apresentar ao prelado de Laranjeiras do Sul, d. Manoel Könner.
“Dom Manoel aceitou a presença do missionário de Nossa Senhora Consoladora na sua prelazia, mas determinou que padre Luiz fosse trabalhar em Cascavel, atendendo a insistentes pedidos da comunidade local. No dia 4 de maio padre Luiz Luíse chegava pela segunda vez a Foz do Iguaçu, onde o aguardava Florêncio Galafassi. O diretor da Industrial Madeireira conduziu o religioso a Cascavel, hospedando-o em sua residência” (Alceu A. Sperança, Cascavel, A História).
A conquista do aeroporto
Em Cascavel foi então construída a nova igreja, a casa do pastor e em 10 de junho de 1952 era criada por padre Luíse a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida. Entre maio de 1952 e a posse do prefeito José Neves Formighieri, em dezembro, padre Luiz assumiu por sua própria conta a liderança política da comunidade.
Em setembro de 1952, após um acidente com vários feridos em uma perseguição policial, ele e o médico Wilson Joffre decidiram trazer a aviação comercial para Cascavel (https://x.gd/CGkYy).
Depois de muitas tratativas para desembaraçar o tráfego aéreo, em janeiro de 1953 a empresa Real Aerovias, agenciada pelo futuro deputado federal Lyrio Bertoli, decidiu servir Cascavel com quatro voos por semana, ligando Cascavel a São Paulo, Curitiba, Londrina, Maringá, Campo Mourão, Ponta Grossa, Palmas, Vacaria (RS) e Porto Alegre.
Partindo para Erechim em março de 1953, desta vez permaneceria no Norte gaúcho por uma década. Lá, criou o Patronato São José, que acolhia órfãos e os profissionalizava em atividades agropecuárias.
Educar para maior renda
No Patronato, Luíse começou a pensar que não bastava transformar órfãos em profissionais do campo se os agricultores eram explorados quase como escravos.
A ideia do cooperativismo começou a fermentar em seu espírito ao ser eleito presidente da Associação Agropecuária de Erechim, na qual se aprofundou em estudar as dificuldades dos pequenos agricultores.
Já com a experiência de obter o tráfego aéreo para Cascavel, padre Luiz Luíse tentou o mesmo para Erechim. Lá, entretanto, a tarefa lhe tomou quatro anos por conta das crônicas adversidades das empresas aéreas brasileiras. Como resultado desse esforço, padre Luíse ligou o Norte gaúcho com o Oeste do Paraná e Porto Alegre.
O retorno de Luiz Luíse a Cascavel se deu em 1º de junho de 1963. Embora recebido com grandes efusões de apreço e saudade, desta vez seu destino era reger a Paróquia do Distrito de Cafelândia d’Oeste.
A primeira cooperativa do Médio-Oeste
Luíse voltou com muitas ideias e um acúmulo importante de experiências, sabendo que teria uma intensa luta para salvar os agricultores da exploração dos atravessadores, reunindo-os em uma cooperativa.
“A situação dos pobres agricultores era dura e precária. A terra de Cafelândia do Oeste em geral era muito generosa com os colonos, mas os atravessadores abusavam dos agricultores até lográ-los, sangrá-los e matá-los. Os cereais em geral e também os suínos valiam bem pouco”.
Em julho de 1963 criou a Associação Agropecuária Cafelândia, extensão da Associação Rural de Cascavel, atacada implacavelmente por defender o cooperativismo, que radicais conservadores diziam ser “coisa de comunista”.
“Não sabendo o que fazer para salvar os colonos, escrevi um relatório ao deputado Lyrio Bertoli. Ele levou ao conhecimento do presidente do Brasil, João Goulart, os problemas dos agricultores. Foi assim que o presidente encarregou o próprio Lyrio Bertoli de chefiar e acompanhar uma missão composta do próprio chefe da Casa Civil da Presidência, um coronel e mais dois técnicos em cooperativismo do Ministério da Agricultura, para vir a Cafelândia e verificar a situação crítica dos colonos. Isto deu-se no mês de agosto de 1963”.
Em outubro o padre reuniu no pequeno cinema distrital 32 colonos interessados em fundar a cooperativa em Cafelândia. Para elaborar os estatutos sociais de acordo com a legislação então em vigor, o Ministério da Agricultura enviou o técnico Atílio Saran.
A área de abrangência da cooperativa incluía também os municípios de Toledo, Marechal Cândido Rondon, Formosa d’Oeste, Assis Chateaubriand, Corbélia e Capitão Leônidas Marques, afora Cascavel, dedicando-se também à eletrificação rural.
Finalmente, a Catedral
Padre Luiz permaneceu em Cafelândia por mais dez anos, até setembro de 1973, quando passou a dirigir a Paróquia de São Paulo, novamente em Cascavel, empenhando-se pela construção da igreja do Parque São Paulo e publicando dois livros (A Bíblia e Você, Ed. Paulinas, 1975, e Você é o que Pensa, Igol, 1978).
O mistério sobre a volta repentina de Luíse a Erechim em 1953 só foi desfeito completamente em 1979, quando ouviu a pergunta que os cascavelenses faziam desde 1953: por que deixou Cascavel naquele dia 8 de março?
Cautelosamente, o religioso disse que não foi embora da cidade por qualquer desavença com os fiéis católicos, mas por divergências com alguns líderes da comunidade, a seu ver mais teimosos que ele mesmo, um turrão confesso.
Luíse pretendia construir de imediato a Catedral na parte nova da cidade, ainda praticamente desabitada, contra a vontade dos pioneiros, que a pretendiam na parte mais densamente habitada, o Patrimônio Velho.
O acelerado desenvolvimento de Cascavel tornou sua tese vitoriosa, embora com algum atraso: a Catedral foi inaugurada em 1974, um ano depois de seu retorno definitivo a Cascavel. Luiz Luíse morreu no dia 2 de novembro de 1988 em acidente automobilístico. Ele gostava de dirigir.
100 anos da revolução: Um país de analfabetos
Nas eleições em 17 de fevereiro de 1924 um dos assuntos mais vibrantes em debate foi o contraste entre o ensino elitizado e o analfabetismo geral da população.
A Academia Brasileira de Letras desde 1922 promovia uma campanha pelo ensino básico no país, lançando um concurso para premiar ideias nesse sentido. Vendeu a monografia “Difusão do ensino primário no Brasil”, de Júlio Nogueira, que propunha a obrigatoriedade.
O Senado decidiu publicar e distribuir a monografia a todas as cidades do país. O senador mato-grossense José Murtinho, que era médico e professor, defendeu a medida:
“Da leitura de trabalhos como o do Sr. Julio Nogueira ressalta nítida uma impressão que, por amarga, não devemos esconder: se somos um país de analfabetos, devemos essa desgraça, em grande parte, aos dirigentes”.
Entre julho de 1924 e fevereiro de 1925, o ensino obrigatório foi um dos itens exigidos pelos revolucionários para depor as armas, mas o governo ignorou: preferiu o banho de sangue.
A Lei Geral da Educação, de 1827, obrigava todas as cidades a ter escolas primárias, mas um século depois elas só tinham poucos alunos