Categoria: Cultura

  • Aviação e imprensa conectam o Oeste

    Aviação e imprensa conectam o Oeste

    O primeiro “aeroporto” do Oeste paranaense, na verdade uma grande clareira, veio como resposta à revolução de 1924, quando os rebeldes paulistas ocuparam posições na região de Catanduvas. 

    Por ordem do general Cândido Mariano da Silva Rondon, foi aberto em Colônia Mallet, futura Laranjeiras do Sul. O motivo não foi elogiável: para abater o ânimo dos rebeldes, os aviões do governo espalhavam panfletos mentindo que os revolucionários estavam se rendendo ou desertando.

    Nos anos 1930, porém, o Correio Aéreo Militar faria voos humanitários para o extremo-Oeste. A aventura começa pelo chão, em 30 de junho de 1932, quando o capitão Edgard Buxbaun, à frente de um impressionante pelotão de 200 homens, dentre os quais oito oficiais e diversos sargentos e cabos, parte de Curitiba rumo à fronteira. 

    Iriam formar a Companhia Isolada de Foz do Iguaçu, com as missões iniciais de combater o contrabando, instalar uma estação radiotelegráfica e construir o aeroporto na fronteira. 

    Chegaram em 7 de julho de 1932, dois dias antes de forças militares sediadas em São Paulo se rebelarem contra o “governo provisório” de Getúlio Vargas, iniciando a Revolução Constitucionalista (https://x.gd/RrxyR). 

    Mello Maluco, o astro dos ares

    Já avisado de que Cascavel estava no roteiro, o líder da comunidade, Jeca Silvério, destinou para a aviação militar uma área entre a futura Praça do Migrante e o Terminal Rodoviário. 

    Em Foz do Iguaçu, “pelas condições topográficas, a escolha recaiu sobre as terras que abrangiam a chácara de Fulgêncio Pereira, recanto onde ele viveu por longos anos e constituíra sua numerosa família” (Otília Schimmelpfeng, revista Cabeza, edição nº 11).

    Professora, Otília narrou sua impressão do primeiro voo que alcançou Foz do Iguaçu, em 23 de março de 1935: “Ouviu-se um estranho ruído no ar despertando a atenção de todos que, saindo à rua, viam extasiados um aviãozinho militar evolucionando o céu, qual uma ave desconhecida num voo de reconhecimento migratório”.

    Era um aeroplano vermelho que vinha da 5ª Base Aérea. Na lembrança dela, o piloto era o tenente Haroldo Domingues, que também voava para Foz do Iguaçu, mas segundo a FAB o voo inaugural foi feito pelo capitão Orsini de Araújo Coriolano, conhecido por presidir o Clube de Regatas do Flamengo, do Rio de Janeiro, e pelo tenente Manoel de Oliveira.

    O aeroporto foi concluído em 1º de abril de 1935 e a partir daí os voos passaram a ter calendário. Não se sabia a hora que o avião chegaria, mas no dia marcado desde cedo a população se aglomerava às margens da pista gramada esperando o tenente Domingues fazer voos rasantes sobre os telhados.

    Com normas relaxadas, os pilotos “se apresentavam com sua folha seca ou um looping sobre o campo” (Otilia Schimmelpfeng). O mais ousado e criativo era Francisco Correia Mello, não sem motivo apelidado de “Mello Maluco”, que chegou a brigadeiro e foi ministro da Aeronáutica.

    A festa da semana

    Os voos do Correio Aéreo Nacional à vila de Cascavel, que os viajantes conheciam como “Encruzilhada dos Gomes”, eram ansiosamente esperados pela população nas tardes de quarta-feira.

    Presenciar o pouso do monomotor e saber as novidades em primeira mão era programa geral na vila, ainda sem grande movimento comercial. “O CAN realiza no Paraná um percurso que se inicia em Curitiba e seguindo por Prudentópolis, Cascavel, Foz do Iguaçu e Guaíra, penetrando no Mato Grosso. (…) Esse campo de aviação – na verdade, uma clareira aberta nas proximidades da atual praça Getúlio Vargas – é apenas o primeiro de quatro aeroportos que ocuparão a mesma área mediante sucessivas reformas sendo o solo então coberto de grama” (Carlos e Alceu A. Sperança, Pequena História de Cascavel e do Oeste).  

    A primeira linha aérea internacional chegou para Foz do Iguaçu já em 1938, pela companhia Pan American (Rio-Assunção-Bueno Aires), ida e volta, com pouso em Foz do Iguaçu, uma vez por semana.

    Apesar de ter um posto da Aeronáutica, a primeira linha comercial só viria para Cascavel em 1952, depois de um episódio de perseguição policial a criminosos foragidos da fronteira (https://x.gd/E7t9N). 

    Em 2 de janeiro de 1953 foi inaugurado o aeroporto de Cascavel, resultante da mobilização da comunidade puxada pelo padre Luiz Luíse e pelo médico Wilson Joffre, com o apoio do madeireiro Florêncio Galafassi e comerciantes da cidade.  

    Por iniciativa do vereador Jacob Munhak o campo recebeu o nome oficial de Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva. Grande benfeitor de Cascavel, Mendes da Silva foi promovido a general. 

    O voo inaugural da empresa Real Aerovias se deu em 11 de janeiro de 1953. A linha era feita por um avião Douglas DC-3, “com seus dois motores radiais que expeliam fogo e fumaça quando eram acionados” (Elcio Zanato, Cascavel, A Grande Conquista). 

    Terras e pinhais

    “A Real não vencia satisfazer a todos e obrigou-se a aumentar os voos. Em meio ano o tráfego de Cascavel aumentou tanto que entre as 250 localidades brasileiras servidas pela aviação civil Cascavel colocou-se em 50º lugar. Em breve Cascavel tornou-se famosa pelas suas terras e conhecida, atraindo gente de todas as partes do Brasil” (padre Luiz Luise). 

    Em maio do mesmo ano a empresa Cruzeiro do Sul fez seu primeiro voo comercial a Cascavel. O movimento aéreo cascavelense já se equiparava ao de Curitiba, pela procura de investidores em busca de terras, pinhais e perspectivas de negócios.

    Já em tratativas para conseguir voos comerciais, a população de Toledo era saudada por aviadores que sobrevoavam a vila e atiravam exemplares de jornais do dia. Civis ou militares, aliás, os aviadores sempre traziam impressos para atualizar os líderes e comerciantes das localidades por onde passavam.

    Esse hábito motivou o interesse das comunidades locais em ter seus próprios jornais para que chegassem às autoridades em Curitiba com as reivindicações do interior.

    Ainda em maio de 1953 começa a circular o primeiro jornal de Cascavel: o Correio d’Oeste, de Celso Formighieri Sperança. Seu principal colaborador era Lyrio Bertoli, agente da Real Aerovias em Cascavel.

    Ele coletava os jornais trazidos pelos aviadores no Aeroporto e lhes passava publicações locais para levarem a autoridades em Curitiba e locais em que faziam escala.

    Letra por letra

    Com o Correio d’Oeste circulando em Cascavel desde maio, em Toledo a ideia de abrir um jornal ocorreu a Clécio Zenni, funcionário da Maripá que com apoio da empresa iniciou uma gráfica em 1950.

    O número 1 do jornal O Oeste circula em 6 de setembro de 1953 tendo Willy Carlos Trentini como redator-chefe e os meninos Olívio Sarturi e Waldir Formighieri nos serviços gráficos. “Não existiam máquinas de compor os textos. Assim, o jornal todo era composto manualmente, tipo por tipo, letra por letra” (Ondy Niederauer, Toledo no Paraná).

    Em 1954, já com seu aeroporto municipal, Toledo também passa a registrar intenso movimento aéreo. Nesse ano começa a circular em Foz do Iguaçu o jornal A Notícia, de João Lobato Machado, major Acelino de Castro e Inácio Sotto Maior, impresso no equipamento do jornal Correio d’Oeste, de Cascavel. 

    “Era uma maquinazinha que chegou a Guarapuava em lombo de burro em 1898, cedida pelo jornalista Antônio Lustosa de Oliveira, que foi deputado e prefeito de Guarapuava” (Celso Sperança).

    Experiência interessante foi a do advogado José Bernardo Bertoli, irmão do agente da Real, Lyrio. Zé Bertoli era um dos astros do time de futebol do Tuiuti Esporte Clube e teve a ideia de imprimir na gráfica do Correio d’Oeste indicações de serviços e classificados de empresas locais em uma grande folha aberta de jornal, para distribuir como toalha para os hotéis, bares e restaurantes que recebiam viajantes.Vereador e líder cooperativista, Zé Bertoli também foi proprietário da Rádio Colmeia de Cascavel.

    A imprensa do interior tinha como objetivo dar eco às necessidades das comunidades, projetos e obras esquecidas ou prejudicadas pelos remanejamentos de verbas.

    100 anos da revolução: Os líderes divididos 

    O regime elitista dos anos 1920 evitava reformas. No papel, os três poderes eram independentes e as eleições limpas, mas não na prática.Com a proximidade das eleições de 17 de fevereiro de 1924, o governo Bernardes precisava entregar mudanças concretas e a principal poderia ser a justiça tributária. 

    Ao encaminhar sugestões para o Imposto de Renda ao ministro da Fazenda, Sampaio Vidal, o especialista Francisco Tito Reis advertiu que a tributação mais justa iria contrariar “os censuráveis costumes políticos” existentes.Contra tais costumes crescia a revolta no país, mas uma revolução operária estava fora de questão por conta de acirrada batalha entre bolcheviques e anarquistas. 

    Os primeiros defendiam um Estado proletário e os anarquistas retrucavam que não deveria haver Estado: “Onde existe governo há escravidão e miséria”.

    Por isso os militares que preparavam um golpe para depor o presidente Bernardes ficaram relutantes em incorporar ao movimento os líderes divididos do movimento operário.

    No Paraná, anarquistas criaram a Colônia Cecília (1890)

     

     

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Cultura oferece oficina da Lei Paulo Gustavo para que contemplados aprendam a executar projetos culturais

    Cultura oferece oficina da Lei Paulo Gustavo para que contemplados aprendam a executar projetos culturais

    Os proponentes que tiveram seus projetos culturais aprovados pela Lei Paulo Gustavo em Cascavel terão a oportunidade de participar de uma oficina gratuita sobre execução de projetos, que será realizada no dia 20 de fevereiro, no Centro Cultural Gilberto Mayer. A oficina tem como objetivo auxiliar os proponentes na gestão administrativa e financeira dos projetos, que foram contemplados pela Lei Paulo Gustavo em janeiro.

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    A Lei Paulo Gustavo é uma homenagem ao ator e humorista que faleceu em maio de 2021, vítima da Covid-19, e que tinha uma forte ligação com a cultura brasileira. A lei destina R$ 3 bilhões para o setor cultural de todo o país, sendo R$ 1,5 bilhão para estados e Distrito Federal e R$ 1,5 bilhão para municípios. Em Cascavel, foram selecionados 136 projetos culturais, que receberão um total de R$ 2,4 milhões.

    A oficina sobre execução de projetos será ministrada por especialistas da área cultural, que irão abordar temas como prestação de contas, contratação de pessoal, divulgação, acessibilidade, entre outros. A oficina terá duração de três horas, das 19h às 22h.

    As inscrições para a oficina são gratuitas e devem ser realizadas por meio de envio de mensagem para o e-mail [email protected], informando os seguintes dados: nome do projeto, nome do proponente, fone/whatsapp e área cultural.

    Para mais informações sobre a oficina e a Lei Paulo Gustavo em Cascavel, acesse o site www.lpgcascavel.com.br 

    Fonte: Assessoria

  • A Associação Rural e a primeira saca de soja

    A Associação Rural e a primeira saca de soja

    No cenário nacional, o ex-ditador Getúlio Vargas tentou driblar as crescentes pressões do operariado em ascensão atendendo em outubro de 1952 a uma de suas demandas: o salário adicional para o trabalho perigoso ou insalubre.

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    O presidente, entretanto, não conseguiu conter o ímpeto reivindicativo dos sindicatos. No início de 1953 os trabalhadores põem fim à lua-de-mel com o governo e exigem a recomposição dos salários, corroídos pelo alto custo de vida.

    Das capitais se transmite ao interior a ânsia de aproveitar a democracia para obter melhorias sociais. A classe média havia feito sua revolução em 1930 e o operariado considerava ser a hora de fazer a sua. A pedra no caminho foi a Guerra Fria, acordo de divisão do mundo entre os EUA e a União Soviética.

    O espírito de rebeldia com o governo que descumpria promessas chegou também muito forte ao Paraná, principalmente porque o interior precisava de tudo e o governador Munhoz decidiu tirar recursos de todos os setores, inclusive dos municípios necessitados, para construir obras gigantescas e caras para celebrar o centenário do Estado.

    Os novos municípios não receberam a ajuda de custo prometida e a oposição criticava acidamente o governador por pretender construir “elefantes brancos” para festejar o centenário.

    O prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, procurou sem sucesso o governador para receber a verba prometida ao Município no primeiro ano:

    – Na audiência, ele me disse: “Os municípios têm uma verba de instalação, 100 contos. Mas tem uma coisa: este ano e o ano que vem, vocês não vão receber esta verba”. Era porque ele estava construindo o Centro Cívico. “Eu tenho que segurar o dinheiro e vocês vão cooperar comigo”.   

    A obsessão do governador pelas obras comemorativas do centenário criou no interior uma forte sensação de abandono. Os governos federal e estadual perdiam, assim, suas bases populares.

    A entidade que faltava

    Além de ver os prefeitos em dificuldades, inspirados pela organização das classes produtoras nas capitais, os produtores rurais se ressentiam de uma organização capaz de defender seus interesses perante o poder público.

    Em Cascavel, na manhã de 3 de janeiro de 1953, um sábado, o farmacêutico e proprietário rural Tarquínio Joslin dos Santos, que em novembro do ano anterior perdeu a eleição municipal para Formighieri por apenas um voto, recebia em sua residência 41 outros ruralistas.

    Segundo o anfitrião, o encontro pretendia “discutir a organização e fundação de uma associação rural, entidade de classe que congregasse todos os proprietários, posseiros, arrendatários ou parceiros rurais, técnicos da agricultura e da pecuária, e industriais dessas atividades”.

     Criar a Associação Rural de Cascavel, base do atual Sindicato Rural Patronal, foi sugerida pelo jornalista gaúcho João Saldanha, que no futuro iria se distinguir como radialista e treinador da Seleção Brasileira de futebol.

    Ao abrir a reunião, Tarquínio explicou que o mesmo procedimento de criar Associações Rurais no interior estava sendo feito em todo o Estado e no País.

    Aclamado para presidir a reunião, declarou-a com poderes de assembleia geral e chamou para secretariar os trabalhos o fundador José Alves dos Santos (1917–1958), que se manteve na função até seu falecimento, substituído em seguida pelo jornalista Celso Sperança.

    Os fundadores da ARC

    Vários fundadores da Associação Rural de Cascavel foram vítimas de perseguições, sobretudo no auge da ditadura, entre 1964 e 1975, e desapareceram, mas alguns deixaram biografias inspiradoras.

    Frederico Blum (1882–1964), o mais velho dentre os fundadores da ARC, além de agropecuarista foi eletricista, ferreiro e carpinteiro, trabalhando na construção em geral e montagem de serrarias e moinhos.

    Antônio Rodrigues de Almeida foi delegado de polícia e vereador em Cascavel e Foz do Iguaçu, além de fundador do Tuiuti Esporte Clube. Adelino André Cattani, comerciante, e Adelar Bertolucci, madeireiro, foram vereadores e também fundadores do Tuiuti.

    Félix José Weiber, além de agricultor, foi também professor. Jorge Pereira do Valle foi enfermeiro e farmacêutico. As famílias Hanchuk e Zdebski figuram como fundadoras.

    Ramiro de Siqueira foi um dos primeiros moradores de Cascavel. Donato Matheus Antônio também foi vereador. Sandálio dos Santos era um dos esteios da comunidade cascavelense e hoje dá nome à biblioteca pública.

    Luiz Sganzerla foi construtor de igrejas. Antônio Dolla (1893–1968), o segundo mais antigo fundador da ARC, era muito procurado por conta de seu moinho de pedra. João Turrok (1917–1995) trabalhou na limpeza pública municipal.

    Muitos são nomes de ruas em Cascavel, casos de Francisco Bartnik, Leão Jankoski e Ernesto Farina. José Henrique Teixeira é nome de uma escola municipal, seu genro Manoel Bento Coelho se destacou na comunidade de Cafelândia e Alfredo Vicenti deu nome ao Centro de Atendimento Especializado à Criança (Ceacri).

    Mudando a mentalidade negativa

    Em sua primeira gestão, a Associação Rural de Cascavel teve Antônio Rodrigues de Almeida na presidência e Adelino Cattani como vice-presidente.

    A ARC viria a ser a precursora das demais entidades ruralistas da região, como o Sindicato dos Produtores Autônomos de Cascavel (futuro Sindicato dos Trabalhadores Rurais), o Sindicato Patronal Rural de Cascavel e a Sociedade Rural do Oeste.

    Em seu meio também brotou a semente do cooperativismo cascavelense. Os atravessadores, como eram chamados os intermediários infiltrados no Banco do Brasil que se aproveitavam da desorganização dos agricultores para obter lucros fáceis explorando sua ingenuidade, difamavam os integrantes da ARC que propunham a cooperação como forma de defesa da classe rural.

    Para os atravessadores, cooperativismo era o mesmo que “comunismo”, palavra que por conta do estalinismo no bloco soviético deixou de representar a evolução do capitalismo para significar falta de liberdade até que a URSS se extinguiu por conta própria, em 1991.

    Com muita dificuldade, ao longo dos anos 1950 a ARC promoveu o esclarecimento de que o cooperativismo era uma associação voluntária. A virada veio com a criação da primeira cooperativa, em 1963: a Copacol, no então distrito cascavelense de Cafelândia.

    Em seguida, por denúncias do padre Luiz Luíse, mentor da Copacol, e do deputado federal Lyrio Bertoli, cuja família iniciou a colonização de Cafelândia, agentes dos atravessadores infiltrados no Banco do Brasil foram presos e a imagem do cooperativismo se positivou. 

    A primeira soja 

    A Prefeitura de Cascavel desenvolveu logo de início um projeto de apoio aos agropecuaristas, melhorando estradas, criando escolas próximas a serrarias e incentivando a diversificação de culturas.

    Como fruto das ações da ARC e da Prefeitura, a primeira saca de soja para plantio oferecida pelo programa de incentivo foi repassada pelo secretário geral da Prefeitura e integrante da ARC, Celso Formighieri Sperança, ao agricultor Getúlio Fernandes.

    Começava assim, com o início do Município e a criação da Associação Rural de Cascavel, toda a longa trajetória que levou a região ao rol das principais áreas produtoras do mundo.

    No curso de 1953, o governo do Paraná incorporou programas como o de Cascavel e continuou estimulando as iniciativas particulares de colonização, além de levar adiante projetos próprios, agora já refreados pela realidade difícil.

    O governador começou a sentir o peso dos problemas ao perceber que muitas famílias chegavam e nem todas as áreas do Estado eram tão favoráveis ao café quanto o Norte. Mesmo com a terra roxa altamente produtiva, o clima logo abaixo do Norte apresentava predisposição a geadas fortes.

    “A avalanche da onda cafeeira traz riquezas, mas é acompanhada também por multidões de desajustados e de doentes”, afirmou o governador Bento Munhoz. “Percebe-se a miséria que acompanha o progresso”.

    O aviso de Maack

    A essa altura, as grandes motivações econômicas são a expansão das lavouras de café e a extração da madeira. Com elas, na lei ou fora dela, a corrida entre as empresas colonizadoras e os posseiros pelo registro legal das melhores terras se intensifica e cria novos focos de tensões.

    A Companhia Byington inicia a abertura e colonização de novas glebas, abrindo uma estrada ligando Xambrê a Guaíra pelo Porto Byington, onde constrói uma balsa para a travessia do Rio Piquiri.

    Com essa iniciativa, juntando as silabas “Al” de Alberto, “ton” de Byington e finalizando com “ia” de Companhia, forma-se a cidade de Altônia. Empreendimento modelar, casa a abertura de estradas com amplas derrubadas e queimadas.

    O processo, chamado na fase inicial de desbravamento e nas seguintes etapas de progresso, festeja a derrubada de árvores e o desmatamento de amplas áreas.

    O engenheiro alemão Reinhard Maack, já um conhecedor profundo da terra paranaense, faz nesse mesmo 1953 um alerta sobre as consequências futuras do intenso desmatamento no interior do Estado, como as modificações prejudiciais no ciclo hídrico e a erosão do solo.

    100 anos da revolução: intelectuais se revoltam

    Batalhões de estrangeiros agiram ao lado das tropas rebeladas, radicalizando a xenofobia do governo. Os revolucionários não se importavam com a origem das pessoas, desde que amassem a nova pátria e lutassem pelo voto secreto, combate à corrupção administrativa e à fraude eleitoral.

    Em 2 de fevereiro de 1924, o poeta suíço Blaise Cendrars foi impedido de entrar no país sob a alegação de que era “um mutilado”.

    Ferido na I Guerra Mundial, Cendrars perdeu o antebraço direito. Herói de guerra e intelectual brilhante, foi convidado a visitar ao Brasil por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.

    Ao ter sua entrada no país barrada, foi defendido com entusiasmo por Mário de Andrade. A insatisfação geral reinante no início de 1924, portanto, era evidente.

    Operários, intelectuais e classe média exigiam liberdade de imprensa, equilíbrio entre os três poderes e moralização do Poder Legislativo. Um século depois, nem tudo já foi plenamente conquistado.

    O poeta herói Blaise Cendrars, fator de atrito entre os intelectuais e o governo Bernardes

     

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Obras produzidas por idosos vão compor exposição de arte em Cascavel

    Obras produzidas por idosos vão compor exposição de arte em Cascavel

    A arte tem um poder transformador em todas as faixas etárias. Para idosos, de modo especial, o trabalho artístico traz inúmeros benefícios, inclusive rompendo com preconceitos e estigmas que muitas vezes são presentes nesta fase da vida. Em Cascavel, uma exposição de artes irá coroar, nesta sexta-feira (02), o trabalho desenvolvido por idosos moradores de um residencial sênior.

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    Os residentes possuem aula de artes periodicamente dentro da programação multidisciplinar do residencial. Eles têm a oportunidade de realizar diversos trabalhos inspirados por datas comemorativas específicas e por artistas ou linhas artísticas. As pinturas vão sendo reservadas para que possam compor a exposição visitada por familiares dos idosos num evento preparado com muito carinho.

    De acordo com a Especialista em Gerontologia Hayde Grazieli Fernandes, esse trabalho multidisciplinar estratégico é ancorado em estudos, com resultados significativos. “Existe um resultado relevante no desenvolvimento cognitivo e motor e no desenvolvimento social dos idosos, sobretudo dentro de uma metodologia referência como a que temos. É muito relevante para a autoestima e para a interação social”, comenta Hayde. 

    A exposição já foi realizada outras vezes e, nesta edição, terá 40 obras expostas. Outro destaque será a presença da artista Margarethe Boesing, que conferirá de perto todos os trabalhos desenvolvidos. “Esperamos uma exposição muito bacana valorizando a arte produzida pelos idosos e mostrando que é equivocada a ideia de que o envelhecimento é ruim ou significa a tristeza. Pelo contrário, aqui no residencial, nas mais diversas atividades e trabalhos, proporcionamos a felicidade, potencializando os residentes a estarem ativos e com bem-estar”, destaca Hayde.

    A mostra de arte acontecerá a partir das 15h no Residencial Balsamo de Gileade. O acesso não é aberto ao público em geral por protocolos de saúde e segurança dos moradores. 

    Conheça mais sobre o residencial acessando: https://residencialbalsamogileade.com.br/

    Fonte: Assessoria

  • Prefeito tinha funções de xerife e juiz

    Prefeito tinha funções de xerife e juiz

    Com prefeitos eleitos pela legenda do PTB, Cascavel (José Neves Formighieri) e Toledo (Ernesto Dall’Oglio) tiveram um desenvolvimento muito diferente após a instalação dos dois municípios, em 14 de dezembro de 1952. 

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    Toledo tinha a gestão centralizada pela colonizadora e madeireira Maripá, tanto que o prefeito Dall’Oglio foi cassado logo no início do mandato por se ausentar do Município sem licença e a Prefeitura continuou funcionando sem descontinuidade com a posse do presidente da Câmara, Guerino Viccari.

    O governo do Estado viu que os prefeitos dos novos municípios sofriam pressões para intervir nas questões de terras, o que poderia levar a favorecimentos preocupantes.

    Dada a ausência do Estado, cabia ao prefeito e vereadores da área ir aos focos de conflito para apaziguar as situações, já que Cascavel e Toledo não contavam com fóruns ou juízes. A diferença é que Toledo não tinha conflitos fundiários.

    Sem autoridades designadas pelo Estado para as funções de chefe de polícia e administração da Justiça, os prefeitos recorreriam a parentes e amigos para exercer a liderança política em situações complexas para os juízes de paz, habitualmente limitados a nascimentos, casamentos e óbitos. 

    Negociar e depois enterrar

    Em Cascavel, o prefeito José Neves Formighieri pôs seu irmão Eurides Formighieri e o primo Mário Thomasi, jovem tratorista da Prefeitura, para suprir as funções de suplentes do delegado de polícia ausente, Antônio Rodrigues de Almeida, eleito em 1951 para a Câmara Municipal de Foz do Iguaçu.

    Eurides e Mário precisavam dar tranquilidade ao prefeito para desenvolver suas tarefas e assim não tiveram outra saída a não ser lidar com espinhosos casos de brigas pela terra entre jagunços e posseiros. 

    “Na época, o delegado era nomeado em Curitiba e não ficava aqui. Sempre quem assumia era o suplente, o primeiro era o Eurides. Cheguei a assumir como segundo suplente. Em uma ocasião nós fomos até o Piquiri e trouxemos de lá 14 presos e depois vieram de lá dois cadáveres para serem enterrados aqui no cemitério antigo na Rua Rio Grande do Sul” (Mário Thomasi).

    Como também cuidava do cemitério, Thomasi se viu na situação de ter que enterrar pessoas com quem horas antes estava negociando uma solução para problemas que ao virar impasses acabavam em tiroteio. 

    O cemitério, aliás, era o mais preocupante problema administrativo do prefeito de Cascavel. Invadia a Rua Rio Grande do Sul e interrompia a Visconde de Guarapuava, enchendo-se de sepulcros desde o início da cidade, em 1930. 

    Enquanto não fosse definida uma nova área, cabia ao próprio Mário Thomasi abrir mais espaço entre os túmulos para evitar que o campo santo se estendesse até a atual Praça Wilson Joffre.

    A nona inspetoria

    Devido à premência dos assuntos agrários, ainda na véspera do Natal de 1952 o governador Bento Munhoz da Rocha Neto regulamentou por decreto as atividades do Departamento de Geografia, Terras e Colonização (DGTC).

    Criado por lei em julho desse ano, a montagem da autarquia foi pressionado de todos os lados: colonos já assentados, grileiros e migrantes sulinos convencidos pela propaganda das colonizadoras a adquirir terras em  regiões ainda conflitadas entre a União e o Estado, além dos posseiros que vinham em turmas crescentes, desde Manoel Ribas.  

    O decreto criou onze inspetorias de acompanhamento fundiário com a função de “zelar pelas terras devolutas de domínio do Estado, exercendo permanente fiscalização a fim de evitar que sejam elas invadidas e devastadas”. 

    A história dirá que algumas dessas inspetorias serão assaltadas por grileiros e facilitadores da ação dos jagunços, como a nona das onze inspetorias, instalada em Cascavel.

    Sendo o primeiro órgão estadual a se instalar no Município a providência foi saudada com entusiasmo, pois sobretudo no Norte do Município, na região do Rio Piquiri, a terra continuava disputada “na lei ou na marra”, no espírito da Guerra de Porecatu.

    O complexo caso do quadro urbano 

    Com o imbróglio do cemitério lotado para resolver, o prefeito José Neves Formighieri precisava reorganizar o quatro urbano de Cascavel e para isso precisava do apoio da Câmara, controlada pelo Partido Republicano, do governador Bento Munhoz da Rocha e do candidato derrotado na eleição de 9 de novembro, o farmacêutico Tarquínio Joslin dos Santos.  

    Neves recebeu da Prefeitura de Foz do Iguaçu ao se emancipar o arruamento organizado pelo engenheiro Hans Marth para a tarefa. Marth, austríaco, era o mais qualificado faz-tudo da fronteira. Engenheiro, foi agrimensor e gerenciava a energia elétrica em Foz. 

    Marth foi o responsável pelo traçado de praticamente todas as ruas situadas entre a Igreja de Santo Antônio e a atual Sete de Setembro, outrora avenida Moysés Lupion.

    “O prefeito [José] Neves [Formighieri], para poder bem administrar a sede do seu município, precisava de uma planta específica. Solicitou então providências ao Estado, através dos órgãos competentes. Já sabendo que a CER-1 locara o eixo da Estratégica, atravessando o povoado de Cascavel, munindo-se de cadernetas de campo e das normas do DNER, o Estado projetou a primeira planta da cidade de Cascavel, nela estabelecendo a faixa de domínio federal de 60 metros [30 metros para cada lado do eixo da BR-277]” (Oscar Ramos Pereira).

    Solução técnica requeria solução política 

    Com a instalação do município, em 1952, seria necessário um novo quadro urbano, corrigindo as mudanças feitas depois do quadro original, de Hans Marth, e já abrangendo a área doada pelo Estado para formar o Patrimônio Novo (quadras a Leste da Rua Moysés Lupion, atual Sete de Setembro. 

    Com habilidade, o prefeito de Cascavel abriu diálogo permanente com a Câmara, conquistou o apoio do governo e pediu inscrição na Associação Rural de Cascavel, entidade precursora do sindicalismo rural e do cooperativismo criada justamente por Tarquínio Santos em janeiro de 1953.  

    O novo quadro urbano foi traçado pelo engenheiro Leão Trauczynski. Na planta que estabelecia a faixa de domínio federal de 60 metros já estava o embrião da futura Avenida Brasil, segundo Pereira: 

    “Anos depois, quando a engenharia do Exército e o DNER resolveram retirar por meio de variantes de contorno a BR-277 dentro das cidades atravessadas por ela, é que se pensou, em Cascavel, em termos de uma grande avenida dentro daquela faixa abandonada”. 

    Prefeituras projetam estrutura médica

    Pode-se também considerar como embriões do polo médico de Cascavel a proposta de criar um posto de saúde do Estado em Cascavel, feita pelo vereador e enfermeiro Antônio Alves Massaneiro, e o Hospital Nossa Senhora Aparecida, do médico Wilson Joffre, que em 1953 também conquistou o apoio da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu.

    Desde 1936 Foz do Iguaçu cogitava criar um hospital municipal, mas só em 1952, dias antes da emancipação do distrito de Cascavel, a Prefeitura iniciou um movimento mais concreto nesse sentido. 

    A Câmara Municipal aprovou lei autorizando o prefeito Francisco Guaraná de Menezes a adquirir ações da Sociedade Hospital Nossa Senhora Aparecida de Cascavel, até o valor de 50 mil cruzeiros.

    Massaneiro propôs em Cascavel a criação de uma Taxa Hospitalar, a ser recolhida como auxílio do Município ao Hospital de Wilson Joffre “até que outros estabelecimentos congêneres venham a ser instalados”.

    Foz do Iguaçu também criaria uma taxa hospitalar, mas sem privilegiar uma casa de saúde específica, até porque a taxa foi criada por um prefeito que era médico: Dirceu Lopes. Bancar hospitais públicos sempre foi pesado para as prefeituras. 

     

    100 anos da revolução: Governo controlava eleições

    O presidente Artur Bernardes, eleito em 1922 depois de bombardeado por fake news – cartas falsas que ele teria escrito ofendendo o Exército –, começou mal o governo porque o presidente Epitácio Pessoa acabara de humilhar o Clube Militar. 

    As eleições de 1924, que renovariam a Câmara dos Deputados e um terço do Senado, foram convocadas em janeiro pelo Ministério da Justiça, que regulava o procedimento eleitoral. 

    Em 1916 o presidente Wenceslau Brás, para evitar fraudes nas eleições, entregou ao Poder Judiciário o alistamento eleitoral, mas em 1924 ainda era o governo que regulava as normas de votação. Não havia Justiça Eleitoral.

    As eleições foram marcadas para 17 de fevereiro em meio a dúvidas quanto ao sigilo do voto, à “degola” de candidaturas que desagradavam ao governo e o domínio do Executivo sobre o Legislativo.

    Havia insatisfação popular com a economia e os militares estavam ressentidos com o governo. Bernardes teve o mandato confirmado por uma investigação do Congresso que legitimou o pleito, mas isso não o protegeu de ser atacado pelo tenentismo, conspiração de jovens oficiais.

    Epitácio Pessoa venceu a queda de braço com os militares em 1922, mas em 1930 os apoiou

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • O horrendo Santa Cruz e a bela Mercedes

    O horrendo Santa Cruz e a bela Mercedes

    A revolução de 1924 completará um século em julho. Há muitas semelhanças entre o Brasil daquela época e a atualidade política, sobretudo quanto à polarização ideológica, mas o Oeste e o Paraná de hoje são radicalmente diferentes de um século atrás. Isso ocorre porque uma das mais importantes consequências do movimento tenentista foi abrasileirar a região.

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    Nos cemitérios ao redor de Catanduvas repousam tristemente os restos de jovens militares brasileiros jogados a lutar uns contra os outros encarniçadamente. O pior efeito da polarização não é a infantil troca de ofensas, mas o horror do morticínio que o ódio desencadeia quando chega ao extremo.  

    Apesar dos sacrifícios desses jovens militares e dos civis que aderiram por força de hierarquia ou escolha aos dois lados da polarização, as lutas de 1924 tiveram o efeito positivo de libertar o Oeste do Paraná, na época entregue ao domínio estrangeiro.

    Não restaram, na economia ou na sociedade, traços do sistema de poder que vigorava na região antes de 1924, mas ainda sobraram ligações como o superado controle estrangeiro por nomes de cidades e acidentes geográficos.

    No geral, a maioria dos nomes que remontavam ao domínio de argentinos ou ingleses foram apagados da memória histórica e da geografia. Caixão, por exemplo, era o nome da localidade paraguaia existente onde hoje se expande a cidade de Cafelândia.

    Colonizar requer nome atraente

    Caixão, em português, vem de “Cajón”, em espanhol. No livro Recordações de Viagens ao Alto Paraná, o engenheiro Arthur Martins Franco narra o episódio em que pediu ao novo comandante da Colônia Militar do Iguaçu, coronel Navarro Drumond, para acabar com o mais vil instrumento de tortura praticado na prisão do quartel em Foz do Iguaçu: “El cajón”.

    “O [ex-comandante] tenente Pimenta de Araújo, para melhor castigar aqueles que caíam no seu desagrado, mandara colocar dentro de um dos quartos da casa que servia de cadeia, um grande caixão, onde cabia uma pessoa de cócoras ou mal sentada e dentro dele mandava prender a quem desejava castigar não somente as praças que estavam sob seu comando, mas também os civis que incorriam em suas iras”.

    Não foi o tenente Pimentel que inventou “el cajón”, prática que apenas copiou das comissiones, milicias das obrages que oprimiam os mensus, trabalhadores paraguaios das grandes ervateiras que dominavam o Oeste antes da revolução.

    Ao ocupar a região do Rio Piquiri, o tenente revolucionário João Cabanas prendeu Santa Cruz, o capataz da obrage Compañia de Maderas del Alto Paraná pela suposição de que estaria mancomunado com o governo para bloquear os rebeldes.

    Seria apenas uma detenção estratégica, sem maiores consequências. Mas a atitude de Cabanas, o criador da guerra psicológica no Brasil, mudou ao saber pelos explorados detalhes a respeito da escravidão que Santa Cruz impunha aos mensus e as torturas e assassinatos que praticava.

    Crueldades sem fim

    O professor guairense Miguel Ribeiro Camargo contou    que o capataz Santa Cruz tinha um cemitério particular na região de Cafelândia.“Santa Cruz, muitas vezes, segundo diziam, mandava o peão, quando estava condenado à morte, subir em árvores, depois ele a alvejava e matava como se fosse assim um passarinho e enterrava no tal cemitério” (depoimento ao historiador Ruy Christovam Wachowicz no livro Obrageros, Mensus e Colonos).

    O cajón, usado para torturar os trabalhadores do Oeste paranaense desde o século XIX, era uma variação do escafismo persa, que consistia em trancar o condenado em uma caixa de madeira com os membros expostos e besuntados com mel, para ser devorado por insetos.

    Santa Cruz tinha um instrumental sofisticado para julgar quanto os mensus deveriam receber pelo trabalho feito na coleta do mate, transporte de madeira e trabalhos portuários.

    Ele chamava o peão ao seu escritório e o colocava em uma cadeira sob a qual havia um alçapão. Se a empresa devia pouco ao mensu, pagava e ele voltava ao serviço. Mas se o mensu quisesse receber os atrasados e ir embora da obrage, Santa Cruz usava o alçapão para o infeliz desabar no porão, onde seria torturado e morto. 

    “No acerto de contas ele [o mensu] sentava lá e tinha um negócio que destravava e caía no fundo [de um buraco]. Este dispositivo era o sótano*” (Miguel Camargo).

    Tomando conhecimento dessas atrocidades, o tenente Cabanas lhe aplicou uma “surra de espada”, episódio que trouxe simpatia popular à revolução.

    *Sótano: porão, em espanhol.

    Dois mil escravos

    Santa Cruz reinava sobre dois mil mensus entre o Rio Paraná e a região da atual Cafelândia e seu nome permaneceu na sede da empresa: Central Santa Cruz.

    “Esse homem foi um verdadeiro algoz para os mensus de [Júlio Tomás] Allica. A população local conta até hoje os horrores praticados por esse gerente de produção” (Ruy C. Wachowicz, O Império de Allica no Oeste paranaense, jornal Nicolau).  

    El cajón, o odioso instrumento de tortura, foi mimetizado na literatura eufemista dos cronistas oficiais em objeto de piedade e humanismo: o caixão de defunto. 

    Costuma-se contar o início da história de Cafelândia com uma lenda improvável: ao chegar para se estabelecer no local, ainda nos tempos do ciclo da erva-mate, os colonos encontram à beira de “um riacho” uma urna mortuária abandonada pelos ervateiros paraguaios.

    Na verdade, o lugar era conhecido como Cajón (Caixão) desde antes da colonização. Mas nem o caixão da piedade substituindo o amaldiçoado caixote da tortura atendia aos interesses dos colonizadores, ávidos por atrair compradores de terras. 

    Foi assim que se deu ao lugar batizado pelos paraguaios como Cajón o nome de “Cafelândia”. Era uma tentativa de valorizar as qualidades produtivas da terra, ignorando que por diferenças de clima a cultura do café não teria na região tanto sucesso como no vizinho Norte. 

    “Caixão” foi maquiado como “Cafelândia”, mas o nome da Central Santa Cruz permaneceu inalterado. Em todo caso, a humanidade foi vingada via justiça poética pela morte violenta sofrida pelo hediondo capataz: ele foi executado a golpes de ferramenta veicular por mensus que o apanharam na estrada após um desarranjo no automóvel que o transportava em Quatro Pontes. 

    “Mercedes mora aqui”!

    Não foi só o nome de Santa Cruz que permaneceu intocado depois da vinda dos projetos de colonização. O mais interessante é o caso de Mercedes.

    Conta-se que no dia 11 de novembro de 1952 o fiscal Pedro Dalprá, da Industrial Madeireira e Colonizadora Rio Paraná 5/A (Maripá), colocou um marco de madeira no cruzamento de duas picadas – futura Avenida João XXIII, esquina com Rua Mário Tota. Nele estava escrito, em vermelho: “Aqui é Mercedes”. 

    O primeiro morador do local, o colono Afonso Zanelatto, vindo de vindo de Arroio Trinta (SC), narrou que esse era o nome da bela filha da família Salvim, que fazia a extração de madeiras na região. “Era muito bonita, morena de olhos grandes e cabelos volumosos, andava sempre bem-vestida e perfumada”.

    A Vila Mercedes foi distrito administrativo de Toledo em 1958, passou a integrar o território municipal de Marechal Cândido Rondon em 1962 e é Município desde 1993. 

    Quanto a Pedro Dalprá, ele foi um dos primeiros moradores italianos de Cascavel, chegando em 1946. Sua bela esposa morreu logo depois da chegada. Seis anos depois, a também bela paraguaia Mercedes, nome escrito por ele com tinta vermelha numa placa de madeira, dava nome a uma cidade.

    1924: 100 anos da revolução 

    Um ano depois de denunciar fraude nas eleições de 17 de janeiro de 1923, que deram vitória ao caudilho Borges de Medeiros, as oposições gaúchas se uniram formando a Aliança Libertadora.

    Sob a liderança de Assis Brasil, a AL tinha como objetivo a luta pela liberdade política frente aos desmandos e perseguições de Medeiros. Esse movimento é a origem, no Sul, da agitação tenentista que resultaria na chamada Revolução Esquecida de 1924, a tentativa de derrubar pelas armas o presidente Artur Bernardes.  

    Assis Brasil logo seria nomeado pelos tenentes como o “chefe civil” da revolução. Em carta, durante a organização do levante armado, o general rebelde Isidoro Dias Lopes comunicará ao capitão Luiz Carlos Prestes que Assis foi encarregado da “direção política, administrativa, financeira e mesmo militar” da revolução.

    Começava naquele momento, em meados de janeiro de 1924, o movimento revolucionário que ainda nesse mesmo ano passará a dominar o Oeste paranaense durante oito meses, dando origem em 1925 à Coluna Prestes.

    Assis Brasil: o chefe civil do tenentismo

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • O Município único se desdobra em quatro

    O Município único se desdobra em quatro

    Até as eleições municipais de 1952, o Oeste do Paraná era um só Município: Foz do Iguaçu. Havia então apenas dez autoridades locais em toda a região: o prefeito Alfredo Guaraná de Menezes (o vice-prefeito era o presidente da Câmara) e os vereadores Domingos Zardo, Carlos Mathias Becker, Sady Vidal, Antônio Almeida, Heleno Schimmelpfeng e Jacob Munhak (Partido Republicano); Moacyr Pereira e Júlio Pasa (UDN); e Emílio Henrique Gomez (Partido Social Progressista), todos eleitos nas eleições especiais de 1951.

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    Em 9 de novembro de 1952, os dois distritos de Foz do Iguaçu – Cascavel e Guaíra, já transformados em Municípios – tiveram suas primeiras eleições. Toledo, que sequer era oficialmente um distrito, também se emancipou, por conta da força política da Companhia Maripá, e se tornou Município independente.

    Em lugar dos distritos que perdia, Foz do Iguaçu criou três outros importantes distritos, configurando a chamada Rota Oeste: São Miguel do Iguaçu, Medianeira e Matelândia.

    Assim, após as eleições de 1952 o Oeste deixava de ter apenas dez autoridades locais, passando a contar com 40. Os distritos que viriam a ser criados a partir daí resultariam, por sua vez, em dezenas de novos municípios e centenas de novas autoridades locais.

    Quatro, mas quase nenhum

    Nas eleições em Cascavel (https://x.gd/2LV9L), o prefeito eleito, José Neves Formighieri, viu-se às voltas com um problema essencial: não contava com maioria na Câmara para impor suas iniciativas, e havia tudo por fazer. Seu partido, o PTB, elegeu 4 dos 9 vereadores e em consequência o presidente da Câmara seria da legenda majoritária, o Partido Republicano.

    Um dos vereadores eleitos pelo PTB, Helberto Schwarz, nem era petebista: concorreu pela sigla trabalhista porque seu partido, o PSD, atrapalhou-se no encaminhamento da documentação para criar o diretório local.

    Antônio Massaneiro, contrariado pelo desvirtuamento do PTB como defensor dos trabalhadores, logo se afastou para criar na região o Partido Social Trabalhista (PST).

    Jacob Munhak já havia sido eleito vereador pelo Município de Foz do Iguaçu nas eleições extraordinárias de 1951, representando mais a comunidade de São João que propriamente a sede Cascavel. Ao ter que decidir se seria vereador de Cascavel ou de Foz do Iguaçu optou pelo Município da fronteira, por conta de seus negócios por lá.

    Carroceiro, a exemplo de Munhak, o vereador Francisco Stocker demorava duas semanas para ir e voltar de Foz do Iguaçu, onde também foi vereador e vendia os produtos da região de Colônia Esperança.

    A estratégia de governabilidade adotada pelo prefeito de Cascavel foi designar seu secretário, Celso Formighieri Sperança, para fazer a ponte entre a Prefeitura e a Câmara dominada pelo Partido Republicano. O modus operandi do acordo entre o PTB e o PR era simples: só aprovar e sancionar matérias consensuais.

    Grandes desafios

    Neves tinha dois problemas adicionais: logo de início, a impossibilidade orçamentária de contratar os servidores que precisaria, no primeiro ano; segundo, a grande extensão do Município, com 5.864 km². Aliás, mesmo perdendo amplos territórios, Cascavel ainda é um dos municípios mais extensos do Estado.

    Na época fazia divisa com Guaíra e Campo Mourão ao Norte; Capanema ao Sul; Guaraniaçu ao Leste e Foz do Iguaçu e Toledo a Oeste. Com Guaíra, o limite seguia “do espigão divisor dos rios Paraná e Piquiri, na linha que liga as cabeceiras dos arroios Lopeí e Silvestre, seguindo até a cabeceira do rio Silvestre e por este abaixo até sua foz no Piquiri”.

    Seus limites ao Norte e ao Sul, portanto, eram os rios Piquiri e Iguaçu. Com uma população majoritariamente rural, a Prefeitura de Cascavel precisava contar com o apoio de lideranças da comunidade para se desdobrar em atender a todos os pedidos de providências.

    O secretário da Educação, Celso Sperança, convenceu um jovem ligado à família Galafassi, que depois iria criar o PSD, para trabalhar como voluntário para a Prefeitura.

    Era Lyrio Bertoli, que no futuro viria a ser o primeiro deputado federal pela região. As tarefas que ele deveria cumprir eram múltiplas: desde ajudar na construção de escolas até documentar as necessidades verificadas em toda a extensão do Município para repartir as reclamações com o governo do Estado

    Bertoli aceitou, fazendo uma exigência: “Eu vou, mas com uma condição. Eu trabalho de graça. Não trabalho o dia inteiro, mas trabalho de graça”. Quando Celso Sperança deixou a Prefeitura para criar o jornal Correio d’Oeste e chamou Lyrio para ser seu redator, Neves nomeou em seu lugar um burocrata com bom trânsito no governo estadual: Algacyr Biazetto.

    A briga dos churrascos

    Assim, com bom jogo de cintura e articulações inteligentes, Neves Formighieri levou os quatro anos de mandato sem brigas nem confusões, a não ser a festa promovida para festejar a vinda da aviação comercial – o Caso dos Dois Churrascos em Um.

    O severo e meticuloso vereador Victorino Sartori, substituto do assassinado titular Donato Matheus Antônio, do Partido Republicano, recusou-se a aprovar as contas do prefeito Neves Formighieri por supor que a Prefeitura iria pagar muito caro pelo churrasco encomendado para homenagear o governador Bento Munhoz, as autoridades e empresários do setor aéreo convidados.

    Neves se indignou com a suspeita de que teria cometido uma imoralidade e denunciou Sartori à polícia por divulgar uma fake news (ou inverdade, como se dizia na época). Com a mesma ira se indignou Sartori: queixou-se de que além de não ganhar nada para trabalhar pelo Município, teve que dar explicações à polícia por cumprir o dever de fiscalizar as contas da Prefeitura.

    Apurados os fatos, soube-se que houve um serviço de churrasco à parte para as autoridades convidadas, dentre as quais o governador Bento Munhoz da Rocha Neto, e outro para os populares presentes à inauguração do serviço aéreo, mas a conta paga se referia a apenas um churrasco.

    “Procurei o açougueiro, o único da época, o [Francisco] Gabana, e pedi a ele explicações. Ele me disse que realmente o valor era alto, mas que era referente a dois churrascos e não a um só, como constava na nota. Os dois foram embutidos em uma só nota”.

    No fim, considerando que foram dois churrascos e não só o serviço oferecido ao governador, a denúncia foi retirada e o delegado Sandálio dos Santos rasgou a ocorrência, mas depois desse atrito Sartori não quis mais voltar à Câmara.

    Médico logo foi cassado     

    A eleição em Toledo, com menos território e eleitores (1.032 inscritos) que Cascavel (1.239), foi facilmente resolvida porque a colonizadora e madeireira Maripá controlava também a política e havia trazido das tradições gaúchas uma agremiação política inexpressiva no Paraná, mas de grande influência no Sul.

    Era o Partido Libertador, cujo DNA vinha da tradição revolucionária de Joaquim Francisco de Assis Brasil (1857–1938) e da luta pró-parlamentarismo de Raul Pilla (1892–1973).

     Assim, com uma abstenção menor que a de Cascavel (19,9% contra 24,8%) o médico Ernesto Dall’Oglio, candidato único, concorrendo pelo PTB de Vargas e apoiado pelo PL, elegeu-se com 737 votos, cabendo ao PL eleger 8 dos 9 vereadores: Waldi Winter, Rubens Stresser, Clecio Zeni, Ondy Niederauer, Wilibaldo Finkler, Guerino Viccari, Leopoldo Schmidt e Alcebíades Formighieri (ver mais em https://x.gd/gICdc).

    Winter, representando a comunidade da futura Marechal Cândido Rondon, foi o mais votado e mostrava desde logo a importância que a colonização alemã conquistara no projeto da Maripá. O PTB, surpreendentemente, não conseguiu legenda para eleger sequer um vereador.

    Stresser, engenheiro agrônomo graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, trabalhava para a Maripá, na qual Leopoldo Schmidt era motorista. Ondy Niederauer, também ligado à Maripá, escreveu o livro Toledo no Paraná, importante referência bibliográfica sobre a região da antiga Fazenda Britânia.

    Guerino Viccari, presidente da Câmara, assumiu a Prefeitura substituindo o prefeito Dall’Oglio, cassado por se ausentar por longo tempo do Município sem transmitir o cargo ao substituto legal.  Formighieri era primo do prefeito eleito de Cascavel.

    Décadas antes de Itaipu

    As eleições em Guaíra também apresentaram a vitória de um prefeito ligado ao PTB do presidente Getúlio Vargas, mas em situação bem diversa da bancada zero de Toledo e minoritária em Cascavel: o PTB guairense elegeu 8 dos 9 vereadores, restando apenas um ao Partido Republicano, do governador Bento Munhoz.

    Eram eles Vicente Augusto Brilhante, que trabalhou na ervateira Mate Laranjeira e no futuro seria também eleito para a Prefeitura, Virgílio Goes de Oliveira, Fernando Maciel Foster, Arnaldo Bachi, Sebastião Fenelon Costa, Joaquim Vargas Dorneles, Gody Werner e Osíris Soley (PTB). O Partido Republicano elegeu Otacílio Amaral dos Santos.

    Com uma abstenção de 47,5% dos escassos 318 eleitores inscritos, elegeu-se para a Prefeitura o dentista Gabriel Fialho Gurgel, que havia sido um dos fundadores e diretor do Tuiuti Esporte Clube, em Cascavel, onde residia desde 1949.

    Além de propor a criação de uma usina hidrelétrica em Guaíra duas décadas antes do início das obras de Itaipu, que seria construída no Rio Tatuí em sociedade entre o município, o governo do Estado e particulares, Gurgel marcou sua gestão pela criação dos distritos de Palotina, Maripá e Terra Roxa, futuros municípios da região.

    Fonte: Alceu Sperança

  • Última chance para artistas exporem nos espaços da Cultura em 2024

    Última chance para artistas exporem nos espaços da Cultura em 2024

    Os artistas que desejam expor seus trabalhos nos espaços da Secretaria Municipal de Cultura de Cascavel em 2024 têm até esta segunda-feira (15) para se inscrever no edital de Exposições Temporárias. O edital, que está aberto desde o dia 30 de novembro de 2023, visa à difusão e fomento à produção em Artes Visuais e de seus artistas, mediante envio de propostas de exposição de acordo com o regulamento.

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    São oferecidos diversos espaços de exposições temporários, como o Museu de Arte de Cascavel – Paço das Artes, a Sala Verde da Biblioteca Pública Sandálio dos Santos, as salas de exposições do MAC Sede Sefrin Filho e do MAC Gilberto Mayer, e o Salão de Embarque do Aeroporto de Cascavel. A duração das exposições varia entre 20 e 90 dias, dependendo do local e da disponibilidade da Secult, que reserva o direito de alterar o cronograma conforme necessidade.

    Podem participar do processo de seleção artistas, grupos de artistas (coletivos), curadores, colecionadores, instituições públicas e instituições privadas sem fins lucrativos. É vedada a participação de servidores públicos da Secretaria de Cultura de Cascavel, de qualquer categoria, natureza ou condição. Serão aceitos trabalhos nas diferentes linguagens das Artes Visuais, como pintura, escultura, gravura, desenho, instalações, performances, ilustrações, fotografia, videoarte e novas linguagens contemporâneas e seus híbridos. As propostas de caráter experimental ou novas Linguagens em Arte Contemporânea deverão respeitar a integridade física dos espaços de exposição e do edifício onde será realizada o evento, bem como será de responsabilidade do artista providenciar equipamentos ou materiais que não estejam disponíveis pela Cultura.

    As inscrições são gratuitas e devem ser feitas de forma online, com postagem até às 18h do dia 15 de janeiro, devendo o material de inscrição (conforme item 2.4 do edital), ser encaminhado no anexo do e-mail ou link do drive para o seguinte endereço eletrônico: [email protected].

    O material deve conter os dados pessoais do artista ou do grupo, o currículo artístico, o portfólio, a ficha técnica da obra, o projeto da exposição e a carta de anuência, se for o caso. A lista de selecionados será será divulgado no dia 31 de janeiro de 2024, no site da Secretaria de Cultura (https://cascavel.atende.net/cidadao/pagina/editais-da-cultura) e nas redes sociais da secretaria e o resultado da seleção será divulgado no dia 07 de fevereiro..

    Esta é uma oportunidade única para os artistas visuais mostrarem seus talentos e contribuírem para a cultura e a arte de Cascavel. Não perca tempo e faça já a sua inscrição!

    Fonte: Assessoria

  • Museus de Cascavel: Opções imperdíveis para as férias

    Museus de Cascavel: Opções imperdíveis para as férias

    Neste período de férias, os amantes da arte têm uma variedade de opções imperdíveis nos museus de Cascavel. O Museu de Arte de Cascavel (MAC) traz uma programação diversificada para atrair os interessados em artes visuais.

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    No MAC, está em destaque a 7ª edição do “Panorama de Artes Visuais de Cascavel”. Além disso, duas novas salas foram inauguradas: uma dedicada às “Coleções de Cerâmica Latino-Americana” e outra à “Arte Corporal Indígena Brasileira”. Uma oportunidade única para mergulhar na riqueza e diversidade das expressões artísticas.

    Ainda há exposições permanentes, como “Caminhos da Desmemória”, da artista Karina Amadori, na sede Sefrin Filho do MAC. Já na sede Gilberto Mayer, a exposição “Amalgame” traz o melhor da arte contemporânea internacional.

    Com um horário flexível, o Museu de Arte funciona de terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 17h30. Aos sábados e domingos, abre suas portas das 8h às 13h, proporcionando momentos culturais enriquecedores para todos os públicos.

    A extensão do Museu Oscar Niemeyer (MON) em Cascavel também se destaca com a exposição “Ásia: a Mão do Povo”. Este acervo oferece uma imersão nas riquezas artísticas e culturais do continente asiático. Vale a pena explorar essa mostra que encanta pela diversidade de expressões.

    Ambos os museus proporcionam momentos de contemplação, aprendizado e apreciação da arte em suas mais variadas formas. Com horários amplos de funcionamento, o MON abre de terça a sexta-feira das 9h às 18h, sem interrupção para o almoço. Aos sábados e domingos, recebe os visitantes das 8h às 13h.

    Seja para explorar as exposições temporárias ou para mergulhar nas coleções permanentes, os museus de Cascavel prometem ser uma excelente opção de lazer e cultura para estas férias.

    Fonte: Assessoria

  • Uma chuva, um voto, uma derrota

    Uma chuva, um voto, uma derrota

    O Município de Cascavel foi criado com a Lei 790, de 14 de novembro de 1951, que também instituiu dezenas de outros municípios paranaenses, mas dessa data até 14 de dezembro de 1952 continuou distrito de Foz do Iguaçu, embora já sem assistência do Município-sede.

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    Foi nesse interregno, em maio de 1952, que o padre Luiz Luíse chegou a Cascavel e logo sentiu que não havia a quem recorrer para tomar decisões além da esfera religiosa.

    Ele se viu, assim, na obrigação de tomar a frente das situações, tornando-se um “padre-prefeito” até a posse do primeiro chefe municipal eleito.

    As eleições estavam marcadas para 9 de novembro de 1952, com a posse do prefeito e vereadores prevista para o dia 14 de dezembro. A campanha eleitoral transcorreu mais no interior, onde morava a maioria da população.

    Concorriam à Prefeitura o farmacêutico Tarquínio, pelo Partido Republicano (PR), do governador Bento Munhoz da Rocha; José Neves Formighieri pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), pró-Vargas; e Ramiro de Siqueira pela União Democrática Nacional (UDN). 

    Os três candidatos

    Tarquínio Joslin dos Santos nasceu em Curitiba, em 13 de abril de 1900. O pai trabalhava no ramo madeireiro na capital paranaense. Casou-se com Altiva Diva Ribeiro (1905–1990), natural de Clevelândia.

    Já seguindo a profissão de farmacêutico, viveu na década de 1930 em União da Vitória (PR), mas pretendia conhecer uma região pioneira − o Oeste do Paraná. Quis se estabelecer inicialmente em Foz do Iguaçu, mas Jeca Silvério o segurou em Cascavel.

    José Neves Formighieri nasceu em 5 de agosto de 1915, em Marcelino Ramos, então localidade pertencente a Passo Fundo (RS), filho de Virgílio Formighieri e Maria Chittó. Foi casado com Juraci Cissi de Almeida, nascida em Rio Negro (PR).

    A família se dedicava a construir estradas para o governo estadual. Sem meios de pagamento depois da II Guerra, ofereceu aos Formighieri terras no interior de Cascavel como ressarcimento pelos serviços não pagos.

    Ramiro de Siqueira nasceu em 18 de abril de 1899 em Clevelândia (PR). Casado com Maria Luísa Santelli, costureira, foi um dos pioneiros que acompanharam José Silvério de Oliveira na formação de Cascavel, a partir de 1930.

    Carroceiro, viajante, mais tarde comerciante e agricultor, ele se dispôs a concorrer à Prefeitura representando os primeiros pioneiros, uma vez que Jeca Silvério era contra criar o Município sem recursos e Alípio de Souza Leal desistiu de concorrer.

    Sem fake news

    Foi uma campanha sem maledicências. A acusação feita por alguns candidatos à Câmara Municipal de que o candidato a prefeito pelo PR (Partido Republicano), Tarquínio Santos, seria comunista não foi uma das habituais mentiras espalhadas pelos marqueteiros desonestos.

    O candidato apoiado pelo governador Bento Munhoz de fato pertencia ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). O partido foi declarado ilegal pelo governo Dutra e com isso os militantes do PCB tiveram que concorrer às eleições por outros partidos. No Paraná, a sigla escolhida foi o PR.

    No dia das eleições, 9 de novembro, chovia a cântaros e a abstenção foi elevada: um quarto dos eleitores deixaram de votar, inclusive um dos candidatos.

    Os três postulantes à Prefeitura eram figuras respeitadas na comunidade e inicialmente se recusaram a concorrer porque não havia recursos para manter a Prefeitura.

    A primeira tarefa – logo, o primeiro gasto – seria reformar a casinha da subprefeitura distrital para transformá-la em sede de dois poderes: a Prefeitura e a Câmara Municipal.

    Tarquínio Santos só assumiu a candidatura depois da promessa de que a comunidade estaria unida para a tarefa de arrecadar recursos, a começar pela oferta de terrenos doados pelo Estado ao Município recém-criado: o Patrimônio Novo.

    Comprar imóveis para quê?

    No entanto, não havia interesse por imóveis urbanos, por qualquer valor. A intenção de quem chegava era só achar boas terras no interior para tirar madeira, criar e plantar, além de morar no próprio local.

    O padre Luiz Luíse, na função informal de “padre-prefeito”, engendrou um plano para motivar o interesse dos compradores, anunciando que a futura catedral de Cascavel seria ali construída no futuro.

    Neves Formighieri rejeitou a candidatura pelo PTB até o último instante também por saber que não haveria recursos para tocar o Município.– O [Antônio Alves] Massaneiro e o Horácio Reis chegaram e disseram: “Você vai ser o prefeito!” Eu disse: “Larguem mão de folia. Eu não tenho tempo a perder!”

    Massaneiro e Reis chamaram outro pioneiro de peso, Manoel Ludgero Pompeu, historicamente ligado ao getulismo, para aumentar a pressão:

    – Você vai ser o nosso candidato –, impôs Pompeu.

    – Não tenho dinheiro –, retrucou Neves.

    – Você é a única pessoa do nosso grupo com bom relacionamento em Curitiba. E tem determinados recursos para fazer uma campanha.

    – Mas eu não vou ser candidato! –, descartou Neves, achando que era o ponto final dessa conversa.

    Ameaçado de prisão até decidir

    Quem pesou em favor da candidatura de Neves foi Maria Herondina Costa Massaneiro, a Doca, esposa de Antônio Massaneiro, irmão de criação, mas adversário político de Tarquínio e candidato à Câmara.

    Doca, amiga da família Formighieri desde o Sul, alvejou Neves com um ultimato:

    – Desta vez tu não escapas.

    – Não escapo do que, Doca?

    – Você vai ser candidato, ou nós vamos te prender aqui.

    – Largue mão de bobagem!

    Neves só se rendeu quando seu último argumento foi confrontado: as eleições se avizinhavam e não tinha recursos imediatos para providenciar a propaganda impressa.

    Cabia aos candidatos, aliás, providenciar até as cédulas de votação. A regra comercial de não vender fiado para candidatos é velha, pois os derrotados sempre inventam desculpas para a derrota e não pagam as dívidas.

    No mesmo instante os líderes do PTB partiram para Toledo, onde já havia gráfica, para imprimir o material. Voltaram já distribuindo a propaganda.

    A primeira gráfica de Cascavel só seria aberta pelo contabilista Celso Formighieri Sperança, primo de Neves, em 1953, para imprimir o jornal Correio d’Oeste.

    Apuração surpreendente

    Quando Tarquínio retornou à cidade na tarde de domingo, 9 de novembro de 1952, não só a votação já havia se encerrado como as urnas já seguiam para Foz do Iguaçu, onde os votos seriam apurados.

    As comissões de fiscais dos candidatos acompanharam as urnas, mas Tarquínio, ansioso para acompanhar as apurações, seguiu apressadamente para Foz, lá chegando quando a contagem dos votos estava começando.

    Os primeiros votos davam boa dianteira a Tarquínio. Nesse momento, como se sentia indisposto devido ao extremo calor, alguém o convidou a “tomar um ar lá fora”.

    Quando retornou, Neves Formighieri comemorava a vitória por um voto de diferença: 383 cédulas contra 382 de Tarquínio Santos e 128 para Ramiro de Siqueira.

    Imediatamente correu a versão de que o candidato do Partido Republicano, preocupado em reunir votos para vencer um pleito renhido, acabara se esquecendo de votar, permitindo-se a derrota por um voto.

    Se tivesse votado provocaria o empate e estaria eleito por ser mais velho que Formighieri. Entretanto, o próprio caráter renhido do pleito, em que cada voto seria extremamente necessário, desfez essa versão, que assumiu contornos de lenda em Cascavel.

    “A junta de apuração anulou, ou melhor, separou 35 votos meus que estavam duvidosos. Se precisasse, comprovaríamos que aqueles 35 votos foram para mim. Apenas estavam sujos de barro. Choveu naquele dia e as estradas estavam intransitáveis, e naturalmente os eleitores sujariam as cédulas” (José Neves Formighieri, depoimento à memória histórica de Cascavel).

    D. Diva, esposa de Tarquinio, não confirmou a lenda do esquecimento: “O Tarquínio não esqueceu de votar. Ele estava no interior, lá pelas bandas de São João, buscando eleitores e o carro, que era velho, quebrou. Ele chegou a Cascavel às 18h, quando a votação já estava encerrada. Foi isso que aconteceu”.

    No fim, o PR apoiou Formighieri

    Diva nunca se conformou com a diferença de um voto a mais em favor de Neves Formighieri. Para ela, houve erro na apuração, feita em Foz do Iguaçu, sede da Comarca, tanto que o PR ingressou com recurso na Justiça Eleitoral para reverter o resultado.

    Ela conta que em 1955 o TRE estava propenso a reconhecer a vitória de Tarquínio, mas o farmacêutico já havia comunicado oficialmente à Justiça que desistia da ação por estar contente com a administração de Formighieri.

    Havia motivo para isso: o prefeito José Neves Formighieri, conciliador e sabendo que precisava unir a comunidade, assumiu o compromisso de só sancionar leis e decretos que fossem apoiadas também pelo PR, que tinha maioria na Câmara. Para isso contou com a mediação do secretário municipal da Educação, Celso Formighieri Sperança.

    Por causa da situação do país, Tarquínio declarou estar desanimado da política, prometendo nunca mais retornar às lutas eleitorais. Não voltou, mas o filho Ozíres, uma década depois, foi vereador em Cascavel e prefeito em Foz do Iguaçu.

    Os vereadores eleitos para a Câmara Municipal de Cascavel em 1952 pelo PR foram Adelino André Cattani, Dimas Pires Bastos, Donato Matheus Antônio, Adelar Bertolucci e José Bartnik. Pelo PTB, Helberto Schwarz, Jacob Munhak, Francisco Stocker e Antônio Massaneiro (PTB).Cattani e Donato foram mortos a tiros, substituídos pelos suplentes Leão Jankoski e Victorino Sartori.

    Fonte: Alceu Sperança