Categoria: Cultura

  • Conquistar o Oeste para não perder o Norte

    Conquistar o Oeste para não perder o Norte

    No Norte já pacificado após a Guerra de Porecatu, esboça-se em outubro de 1952 um movimento que “começava a tomar forma e cores”, segundo o jornal Folha de Londrina, pretendendo criar um Estado independente do Paraná, sob a inspiração do movimento separatista do Triângulo Mineiro.

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    Desde que o Paraná se emancipou de São Paulo, um século antes, em 1853, os interesses paulistas no Norte do Paraná continuaram considerando a região como seu território. 

    As batalhas entre jagunços de latifundiários paulistas expulsando posseiros do interior do Paraná, como em Porecatu, continuaram também por todo o século XX, tendo como focos o café, a madeira e a posse da terra.  

    As lideranças paranaenses ficaram traumatizadas em 1916, com a derrota de seu advogado, o baiano Ruy Barbosa, na questão do Contestado. O desfecho foi o Paraná perder seu Sudoeste para Santa Catarina, deixando assim de ter limites com o Rio Grande do Sul. 

    Aliás, o interior gaúcho foi colonizado por sertanistas do Paraná, cujas famílias de descendentes ficaram lá, conhecidas como “birivas”, mas em geral os historiadores os mencionam sobretudo como paulistas, porque o Paraná até 1953 foi a Quinta Comarca de São Paulo.

    O trauma da perda de 1916 aumentou em 1943, com a criação do Território Federal do Iguaçu. Mesmo vencendo o TFI na Constituinte de 1946, até meados da década de 1950 havia poderosos interesses paulistas no Norte do Paraná pregando a anexação da região a São Paulo ou a criação de um novo Estado, separado do Sul.

    Tentativas de separação

    Os fazendeiros do Sudoeste, desde a formação de Palmas, tinham interesse no fortalecimento do Paraná e a conquista do Oeste sempre foi apoiada pelas lideranças curitibanas. 

    A ideia de abandono por parte de Curitiba foi sempre alimentada por interesses separatistas que pretendiam na primeira metade do século XX a anexação do Norte e Noroeste do Paraná a São Paulo e na segunda metade a criação do Estado do Iguaçu.  

    No início da década de 1950, nesse caso, cresceu a campanha pela separação do Norte do Paraná, especialmente em lugares do Norte Novo dominados por interesses paulistas determinados a exportar por meio do Porto de Santos.

    Seria o “Estado Paraná do Norte” ou “Estado do Paranapanema”. A primeira proposta foi logo esvaziada pela ação do governo Munhoz da Rocha, mas a segunda ganha eco toda vez que Londrina ou Maringá tem alguma reivindicação não atendida pelo governo do Estado.

    Em Maringá, o grande defensor do Paranapanema era o bispo Jaime Luiz Coelho, dono do jornal Folha do Norte do Paraná, mas não foi convincente. Já as principais lideranças londrinenses nunca se deixaram contaminar pelo separatismo. 

    Confiavam no governo estadual, novamente empalmado pelo grupo Camargo-Rocha, que controlou o Paraná antes da Revolução de 1930 e voltou a reinar nas eleições de 1950. 

    O sucesso de seus empreendimentos não se devia a inexistentes benefícios vindos de São Paulo, mas aos negócios com as comunidades da própria região e pelo avanço da integração entre os três Paranás: o antigo, entre os Campos Gerais e o litoral, o Norte Novo e o Oeste/Sudoeste. 

    Foco em Paranaguá

    Na vitoriosa campanha eleitoral de 1950 e após a posse, o governador Bento Munhoz da Rocha garantiu a melhora das vias de transporte para que a produção agrícola do Norte fosse prioritariamente escoada pelo Porto de Paranaguá. 

    “É justo que queiramos que o café paranaense se escoe pelo porto de Paranaguá”, defende Munhoz da Rocha em artigo intitulado O café é o nosso sangue. “O governo do Paraná tem trabalhado e agido dentro dessa diretriz” (em Revista do Café, Londrina).

    De um lado, o pai de Bento, o ex-governador Caetano Munhoz, foi um dos artífices do Porto de Paranaguá. De outro, desde 1935 já estava esboçado o plano de integrar os três Paranás. A expressão concreta desse projeto foi a Rodovia do Cerne.  

    “O engenheiro Luiz Carlos Pereira Tourinho, então secretário de Obras Públicas, elaborou um novo projeto, semelhante ao do governo anterior, visando a capitanear a produção agrícola das regiões interioranas para o Porto de Paranaguá” (Elzio dos Reis Marson, No Limiar do Horizonte: Manifestações e Discursos Divisionistas Norte/Sul e Política Integracionista no Paraná).

    A grande produção esperada pelo governador Bento Munhoz também contemplava apoio ao Oeste e do Sudoeste, em ativa construção, onde a madeira já recebia prognósticos de rápido esgotamento do ciclo, cabendo ao planejamento do Estado projetar um futuro agropecuário a partir do café.

    O êxodo ao Oeste

    O Paraná ainda produzia pouca soja: em 1952, a safra do feijão oriental se limitava a escassas 43 toneladas. Já crescia a olhos vistos, porém, o êxodo de colonos que migravam do Rio Grande do Sul e Santa Catarina à região. 

    “São 30 a 40 mudanças por dia entre 1952 e 1955”, avaliou o médico gaúcho Walter Alberto Pecoits (1917–2004), instalado em Francisco Beltrão desde 1947. Era de fato um êxodo, mas nunca espontâneo, como alguns consideram erroneamente.

    Hylo Bresolin (1932–2016), que presidiu a Acic e fundou a Caciopar, testemunhou o interesse de sua família pelo Oeste do Paraná pela propaganda feita pelos corretores das colonizadoras. Eles contavam maravilhas que diziam haver no Oeste paranaense: terra plana e extensa era música nos ouvidos de famílias minifundiárias.

    Ainda antes da colonização da Santa Helena Velha, no início do século XX, o menino Sandálio dos Santos disse que decidiu vir ao Alto Paraná justamente por ouvir histórias sobre as riquezas que corriam na região, na época ainda controlada pelos obrageros argentinos.   

    As políticas do Estado do Paraná de oferta das terras devolutas aos posseiros e a propaganda das colonizadoras para atrair colonos com ótimas ofertas de trocar produção e trabalho por terras deram origem do fenômeno.

    Os colonos vinham do Sul previamente motivados e com noções bem claras das áreas nas quais seria melhor se instalar.

    O migrante catarinense Otávio Borges, ao decidir partir rumo ao Oeste paranaense, já estava ciente de que poderia custear uma bela chácara com produção e serviços. Veio com paradeiro certo e financiou o transporte da mudança para a casa que construiu com uma lata de banha. 

    “O pagamento de trabalhos com produtos ou a simples troca para atender as necessidades eram comuns, já que o dinheiro era muito raro” (Helio Pomorski e Neusa Benatti, São Miguel do Iguaçu, Estórias e História). 

    Dificuldades e jagunços

    Borges chegou sozinho à área da Colonizadora Gaúcha, mas já estava com 32 anos, casado com Virgínia Moro, filha de italianos de Padova. Hospedado pelo compadre Josué Fabris, preparou a casa para a qual iria trazer a família enquanto cultivava a primeira safra de arroz.

    Enfrentou os perigos da mata viagem desbravada e as ameaças dos jagunços, até conseguir se impor também no núcleo urbano da futura São Miguel do Iguaçu no ofício de barbeiro. 

    Desde a partida de sua cidade natal, Meleiro, no Sudeste catarinense, até o período em que trabalhou formando lavoura, construindo casa e preparando a vinda da família, ele tinha cada passo planejado. 

    Muitas famílias sulinas, igualmente sugestionadas a migrar, só destinaram as economias de uma vida inteira adquirindo terras no Paraná com informações confiáveis de que teriam apoio. Assim, as colonizadoras faziam rapidamente ótimos negócios. 

    Algumas, garantidas pelo poder político e cartorial, lucravam também expulsando posseiros e comercializando suas terras com os que chegavam. Borges também viu isso, mas não desistiu, ao contrário de colonos que tentaram a vida na futura Santa Terezinha de Itaipu.

    “Havia 60 posseiros. A (colonizadora) Criciúma botou para fora da terra 59. Só sobrou eu. O Bernardino Velho, um ex-sargento do Exército que trabalhou na abertura da Estrada Estratégica e que tinha aqui uma posse com autorização do chefe da Colônia Militar, acabou sendo expulso daqui. (…) Botaram ele pra fora e queimaram a casa onde morava” (Leonardo Wychosky, depoimento ao jornal Nosso Tempo, de Foz do Iguaçu).

    A estratégia de criar municípios  

    Novos projetos de colonização no Oeste começam a se desenvolver em 1952, como o de Palotina, que iria trazer muito conflito, desta vez entre os compradores sulistas e o governo do Paraná.

    A caravana pioneira que vem para iniciar Palotina sai de Concórdia (SC) formada por uma camioneta, um automóvel e um caminhão Chevrolet Tigre. A iniciativa é do ousado farmacêutico Abud Dequech que, dentre outras proezas, já havia fundado a cidade paranaense de Assaí e a catarinense Ipumirim.

    O ponto-chave da estratégia de Bento Munhoz de integrar o Paraná foi repetir a criação de dezenas de municípios ao mesmo tempo, já encetada com sucesso por Moysés Lupion. Foi a que Lupion, nome apenas conhecido no Estado, projetou-se nacionalmente, atuando ao Congresso Nacional.  

    A instalação dos novos municípios se deu no fim de 1952, dentre os quais meras vilas cujas populações, ainda que somadas, não superavam na época qualquer bairro de Maringá ou Londrina.

    No Oeste e Sudoeste foram criados os municípios de Cascavel, Toledo, Guaraniaçu, Guaíra, Barracão, Capanema, Francisco Beltrão, Pato Branco e Santo Antônio, cada qual com distritos a ser preparados para também se tornar novos municípios.

    Mesmo com um perímetro urbano composto por apenas 27 casas, Cascavel era um município muito amplo, limitado ao Norte pelo Rio Piquiri e ao Sul pelo Iguaçu. A Oeste, Foz do Iguaçu. A Leste, Campo Mourão e Guaraniaçu.

    Monteiro, evidência do planejamento   

    A pequena vila com nome de serpente, depois de já ter sido também cogitada para capital do Território Federal do Iguaçu, em 1943, vai receber logo em seus primeiros dias de existência municipal um hóspede que dentro de alguns anos terá criado as belezas estampadas em seus melhores cartões postais: a Avenida Brasil e a Catedral.

    O arquiteto Gustavo Gama Monteiro (1925–2005), enviado pelo presidente da Fundação Paranaense de Colonização e Imigração, Djalma Rocha Al Chuery, chega para comunicar às autoridades locais sua missão: iniciar um ambicioso plano de colonização dirigido pelo poder público na “Colônia A”, cujas terras fertilíssimas são banhadas pelos rios Tourinho, Melissa e Piquiri.

    A primeira parte do projeto consiste em promover a locação das glebas, “levantando-se os espigões e os rios, para se parcelar a terra em lotes de 200 ha ou 80 alqueires, visando desenvolver nesses locais fazendas de café” (Rubens Nascimento, Histórias Venenosas).

    A segunda parte seria criar uma metrópole planejada no sertão: a Cidade Munhoz da Rocha. A presença de Monteiro, pelo conjunto de suas atividades, comprovou a ação objetiva do governo do Paraná no Oeste. 

    Havia dificuldades e carências, além da crise nacional, mas o “abandono” por parte do Estado que os separatistas do Estado de Paranapanema propagavam foi exagerado pelos interesses em jogo.

    Fonte: Alceu Sperança

  • A Prefeitura-imobiliária da Cascavel nova

    A Prefeitura-imobiliária da Cascavel nova

    Há uma grande confusão em narrativas sobre a história de Cascavel. O erro maior está na ideia sem fundamento real de que a cidade começou a se formar no Cascavel Velho, um antigo pouso tropeiro/ervateiro do século XIX desativado nos primeiros anos do século XX.

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    Em 1889, com a criação da Colônia Militar de Foz do Iguaçu, começou o abrasileiramento da região, que ainda continuou controlada por ervateiros argentinos, caso do francês Domingo Barthe, que vivia na Argentina e em 1901 comprou dez mil hectares de ervais no Médio-Oeste. 

    Às margens do Rio Cascavel, em um antigo pouso tropeiro – o “Cascavel Velho” – Barthe instalou um potreiro e invernada para seus cavalos de montar e atrelar a carroças.

    O interesse na madeira levou Barthe a se apossar de 60 mil hectares e para facilitar as exportações abriu estradas, portos e um serviço de navegação no Rio Paraná.

    Barthe e outros obrageros que operaram na região ficaram ricos e poderosos, a região continuava pouco brasileira e em 1905 o governo do Paraná mandou o engenheiro Arthur Franco inspecionar os latifúndios estrangeiros.

    Franco mapeou a região e exigiu que as empresas também colonizassem a área além de só extrair suas riquezas. Como só queriam erva-mate e madeira, continuaram sem colonizar e depois da 1ª Guerra Mundial o potreiro do Pouso Cascavel foi desativado.

    O bônus geográfico 

    A região foi posta à venda pela colonizadora Braviaco em 1920. No ano seguinte, o catarinense Antônio José Elias comprou o pouso desativado, já conhecido na época como o “velho pouso Cascavel” ou Cascavel Velho.

    Ele também requisitou terras devolutas ao redor para seus familiares, que começaram a chegar ao Cascavel Velho em 1922, quando seu cunhado Ernesto Schiels e esposa Laurentina Lopes começaram a formar sua propriedade rural.

    Elias só chegou para morar no início de 1923. Em novembro, recebeu a visita de um viajante – José Silvério de Oliveira, o Jeca –, que manifestou interesse em arrendar a Encruzilhada dos Gomes e os arredores, que era um banhado.

    Os Gomes foram o pai Augusto e dois filhos que construíram em 1895 uma estrada para transportar erva-mate de Catanduvas ao Rio Paraná.

    A estrada dos Gomes cortou a segunda trilha militar, aberta seguindo o divisor de águas, formando a Encruzilhada, o Marco Zero de Cascavel.Importante destacar que a primeira trilha militar ficava ao Sul, mais próxima de Boa Vista da Aparecida, aberta para a conquista do Oeste em 1889. Ela cortava os afluentes do Rio Iguaçu, ficando inviável para a passagem das carroças dos colonos.

    A segunda trilha, no divisor de águas, foi o bônus geográfico que permitiu o aparecimento da cidade de Cascavel. 

    O banhado ficava nas áreas mais baixas entre as atuais praças Getúlio Vargas e Wilson Joffre. Na parte alta, uma tapera da família negociava com os viajantes desde 1928, quando Silvério formalizou o arrendamento da área.

    Nesse ínterim houve a revolução de 1924, que trouxe problemas para a família Elias/Schiels.

    O verdadeiro começo da cidade 

    Jeca Silvério só veio em definitivo para a região com a derrota de Getúlio Vargas nas eleições de 3 de março de 1930. Partidário de Vargas, derrotado e perseguido pelos adversários, ele fugiu do interior de Guarapuava, onde morava.

    Decidiu ir para a Encruzilhada dos Gomes, junto ao banhado que ele arrendou anos antes para plantar milho e criar suínos. Veio em 28 de março de 1930, seguido pelos amigos e parentes que o acompanhavam pelas áreas de safrismo, combinação de plantio de milho com criação de suínos. 

    O início da cidade de Cascavel é assinalado pelo obelisco do Marco Zero, na Praça Getúlio Vargas, cercado pelo Patrimônio Velho, a parte mais antiga da cidade. 

    A falsa ideia de que a cidade começou no Cascavel Velho tem origem no Pouso Cascavel, que na verdade permaneceu área rural até a década de 1960, quando passou a fazer parte do perímetro urbano da cidade.

    Como surgiu o Patrimônio Velho

    Em 1° de setembro de 1931, o prefeito de Foz do Iguaçu, Othon Mäder, pediu ao governo do Estado uma área de 500 hectares para dividir em lotes urbanos e suburbanos.

    Só em 1936, entretanto, a Prefeitura de Foz criou oficialmente a vila, junto ao Estado, com o nome de “Patrimônio de Aparecida dos Portos de Cascavel”. Aparecida dos Portos foi o nome dado à vila pelo prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Thiletzek, mas não pegou.

    Surgia assim o Patrimônio Velho, o primeiro perímetro urbano da cidade, com 1.001 hectares, na área em que Jeca Silvério começou a formar a cidade, junto à Encruzilhada dos Gomes.

    O Patrimônio Velho se estendia entre o antigo aeroporto, cuja área no futuro seria ocupada parcialmente pelo Terminal Rodoviário Helenise Tolentino, somente até a Rua Sete de Setembro. Toda a área do futuro Calçadão já seria parte do Patrimônio Novo. 

    Cascavel, portanto, começou de fato em 28 de março de 1930, mas Jeca Silvério só pensou em cidade para o local depois da revolução de outubro desse ano, quando Vargas derrubou o governo Washington Luiz e a família Camargo, que mandava no Paraná e vendeu as terras a Elias, perdeu os direitos sobre as propriedades.

    Restaram para Elias e o cunhado, Ernesto Schiels, só as pequenas parcelas em que moravam e tinham lavouras e criação. A Revolução, portanto, tirou Cascavel das mãos de Antônio Elias e a entregou a José Silvério.

    Terras que ninguém queria

    Beneficiado pelo golpe que derrubou o governo, Silvério passou de arrendatário a dono da região. Agora possuía terras, mas ninguém queria comprá-las. Os viajantes só passavam. Seu destino eram os portos do Rio Paraná. 

    De acordo com o prefeito-interventor de Foz do Iguaçu, Othon Mader, Silvério decidiu expandir a vila, então com apenas cinco casas.Elaborou um plano para atrair moradores e ter mais clientes na bodega, a primeira casa que construiu na Encruzilhada, oferecendo terras de graça aos viajantes que quisessem se estabelecer em Cascavel, mas só poucos quiseram ficar.

    Jeca oferecia terras bem localizadas, com aguadas e terras planas, a quem ficasse na vila. Distribuiu terras a parentes e amigos e chamou para se estabelecer no lugar colonos que viviam precariamente em Santa Catarina.

    O interesse maior de quem chegava não era ter um pequeno lote em uma cidade sem nada, mas requerer ao governo terras devolutas para tirar árvores, plantar e criar animais.

    Mesmo assim, Jeca Silvério atraiu algumas famílias para as terras que conquistou ao apoiar a revolução de Vargas. A vila cresceu e em quatro anos já contava até com delegacia de polícia.

    Homem de iniciativa  

    O que define Silvério como o fundador de Cascavel não foi só sua vinda para se fixar no lugar, em 28 de março de 1930. Além de construir as primeiras cinco casas da vila, ele criou equipamentos urbanos como escola, capela religiosa, distrito policial, praça e correio.

    Quando Cascavel se tornou Município, instalado em dezembro de 1952, ganhou o Patrimônio Novo, que partia da Rua Sete de Setembro rumo ao Leste. Doar o Patrimônio Novo a Cascavel, com áreas reservadas para futuras repartições públicas, jardins e parques, foi uma compensação do Estado do Paraná por não mandar recursos à instalação do Município.

    O Município obteria renda futura com a indústria madeireira, a prestação de serviços e o comércio crescente, mas de imediato precisava vender o maior número de lotes para custear as atividades do Município, a ser instalado em 14 de dezembro de 1952. 

    Um terreno de esquina na Avenida Brasil custava seis mil cruzeiros e os mais baratos, mil cruzeiros, mas os colonos preferiam morar nas posses do interior, em terras devolutas liberadas à colonização.

    Dobrando o tamanho da cidade

    O Cascavel Velho, portanto, nada tem a ver com o Patrimônio Velho, que é a parte antiga da cidade (iniciada em 1930). A “cidade nova”, expressão do padre Luiz Luíse, seria o Patrimônio Novo, que veio com a instalação do Município (1952), quando a Prefeitura ganhou do Estado do Paraná imóveis que dobraram seu perímetro urbano.

    Para começar bem e se sustentar a partir de dezembro de 1952, quando o Município seria instalado, a Prefeitura precisava vender os terrenos do Patrimônio Novo. 

    Sem vendê-los, a Prefeitura teria dificuldades para criar escolas e abrir longas estradas entre a sede e os rios Piquiri e Iguaçu. Assim, a prioridade em 1952 era vender os terrenos do Patrimônio Novo – as quadras situadas entre a Rua Moysés Lupion (atual Sete de Setembro) e o Posto Brasil – e arrecadar o suficiente para pagar os serviços da Prefeitura.

    Mas ninguém pretendia comprar lotes no Patrimônio Novo desabitado e sem serviços. Era preferível comprar imóveis perto da igreja, Correio, comércio e Prefeitura, no Patrimônio Velho.

    A solução começou a surgir em maio de 1952, quando chegou o padre Luiz Luíse para comandar a Paroquia local. Ele percebeu que a comunidade vivia um vácuo de gestão, sem mais pertencer a Foz do Iguaçu nem ter um prefeito eleito.

    A fórmula salvadora

    Faltando seis meses para a eleição do primeiro prefeito, o religioso passou o inverno de 1952 estudando como apressar a venda dos 2.500 lotes do Patrimônio Novo. 

    O padre, empurrado para a posição de um quase prefeito, sentiu, assim, que precisaria arquitetar um plano para o Município começar bem. Como os interessados preferiam lotes no Patrimônio Velho, próximos à igreja, Prefeitura e comércio, a solução achada pelo padre para estimular a compra foi construir de imediato uma igreja no Patrimônio Novo e projetar a Prefeitura para lá em breve.

    Enquanto os candidatos a prefeito e vereadores faziam suas campanhas, Luíse e voluntários desmatavam a quadra onde hoje está a Catedral, pois a certeza sobre a igreja nova iria valorizar os imóveis.

    Para servir de “lançamento imobiliário” e estimular a venda dos terrenos, o padre convocou uma procissão para levar a imagem de Nossa Senhora Aparecida até o Patrimônio Novo. A data da procissão seria 10 de outubro, um mês antes da eleição do primeiro prefeito.

    Destino imobiliário

    Com o anúncio de uma nova grande igreja e a transferência da Prefeitura ao Patrimônio Novo, os donos de imóveis no Patrimônio Velho passaram a ver na compra de lotes ainda baratos da cidade nova uma oportunidade de investimentos.

    De resto, interessava à indústria madeireira em franco desenvolvimento e ao florescente comércio uma onda de construções e atração de mais famílias para habitar os 2.500 lotes cedidos à Prefeitura pelo Estado para vender e formar o Patrimônio Novo.

    A venda dos lotes para sustentar a Prefeitura instalava um forte mercado imobiliário a partir da sugestão de que os compradores teriam grande valorização futura ocupando os imóveis mais próximos das áreas reservadas à igreja, Correio, Prefeitura e escola. 

    A procissão marcada pelo padre Luiz para o dia 10 de outubro de 1952 com o objetivo religioso de declarar a posse simbólica do Patrimônio Novo por Nossa Senhora Aparecida foi, assim, também o lançamento da campanha de vendas de terrenos da “cidade nova”.

    Como se marchassem rumo à Terra Prometida, o padre e os fiéis partiriam em comitiva com a imagem da santa desde a Encruzilhada até a quadra onde hoje está a Catedral. 

    Com a eleição do prefeito em 9 de novembro e a instalação do Município em 14 de dezembro de 1952 a missão do padre estava cumprida. O papel de imobiliária passava à Prefeitura.

    Fonte: Alceu Sperança

  • Cascavel terá edição extra da Feira do Teatro na noite de sábado

    Cascavel terá edição extra da Feira do Teatro na noite de sábado

    Atenção, cascavelenses, pois tem novidade na área. A Feira do Teatro de Cascavel chega à época do Natal com duas edições extras noturnas. E esse presente para quem é fã da feirinha já começa neste sábado (9). 

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    Os feirantes vão atender em frente à Catedral Nossa Senhora Aparecida, das 18h às 22h. Assim, além você já fazer as compras, ainda poderá curtir a decoração da Vila de Natal. É um convite para desfrutar da nossa cidade. A ação faz parte da programação de Natal de Cascavel, da Secretaria de Cultura. Confira as cerca de 100 atrações previstas: http://bit.ly/ProgramacaoNatal2023Cascavel

    Os feirantes também prepararam uma promoção especial para o Natal. A cada R$ 25 em compras nas bancas sinalizadas, o participante recebe um cupom para concorrer ao sorteio de diversos prêmios de artesãos da feira. O sorteio será no dia 17 de dezembro, aliás, dia que será a última edição da Feira neste ano de 2023. 

    As bancas também já estão produzindo e comercializando itens de Natal, que vão desde bolachas caseiras natalinas, jogos de mesa especiais até bonequinhos de neve para a decoração.

    Mesmo com as edições extras, a Feira do Teatro seguirá sendo realizada normalmente aos domingos, sempre das 8h às 13h, no estacionamento do Teatro Municipal Sefrin Filho, sempre com atrações culturais para animar os visitantes. 

    A Feira do Teatro conta com os mais diversos produtos, artesanatos, além das opções gastronômicas dos food trucks.

    Fonte: Assessoria

  • Aclamado espetáculo “O Quebra-Nozes” traz experiência inesquecível para público

    Aclamado espetáculo “O Quebra-Nozes” traz experiência inesquecível para público

    Cascave l, por meio da Secretaria de Cultura em parceria com a já aclamada Curitiba Cia de Dança, será palco de um espetáculo encantador que pro mete transportar o público para um universo de magia e tradição natalina. Nos dias 19 e 20 de dezembro, às 19h, o Teatro Municipal Sefrin F ilho abrirá suas portas para apresentar o balé clássico “O Quebra-Nozes”, uma produção que vem conquistando corações por onde passa. 

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    A entrada é gratuita.  Para garantir seu ingresso, é preciso se cadastrar por meio do site www.parallela.art.br. 

    A fundadora e direto ra da Curitiba Cia de Dança, Nicole Vanoni, destaca a importância de revisitar esse clássico natalino: ” O Quebra Nozes é um balé de repertór io, ou seja, um clássico de Natal que a Curitiba Cia. de Dança revisitou, respeitando o enredo, concepção cênica e música da versão original.  É um balé que merece ser assistido e conhecido, principalmente gratuitamente, no teatro.”

    O secretário de Cu ltura e Comunicação, Jefferson Lobo, pontua que é uma oportunidade de apreciar a arte de excelência do renomado espetáculo. “É um a chance imperdível de poder desfrutar dessa bela apresentação, que é um marco das histórias de Natal, executado com maestria pela acl amada Curitiba Cia. de Dança. É a prova que Cascavel está na rota das grandes apresentações culturais do Estado e do Brasil”, observa.  

    Uma Viagem mágica  pela tradição natalina

    A trama do Quebra- Nozes nos transporta para a época natalina, onde a família Stahlbaum celebra uma festividade inesquecível. Clara e Fritz, filhos do prefeito Ja ns Stahlbaum, aguardam ansiosos pelos presentes. O padrinho da menina, Drosselmeyer, presenteia Clara com um quebra-nozes, des encadeando uma jornada encantadora.

    A diretora Nicole V anoni destaca a singularidade desta versão: “Preservamos a música e o enredo original, apresentando uma versão um pouco mais curta,  mas igualmente emocionante. Nas apresentações em Cascavel, os solistas serão os talentosos bailarinos Luiza Falcão e Edson Machado”.  

    A narrativa leva o p úblico por uma jornada que vai desde a batalha contra ratos terríveis até a mágica Terra dos Doces, com personagens encantadores com o a Fada Açucarada e seus companheiros. Ao final, Clara desperta, percebendo que viveu uma noite de Natal extraordinária, mesmo que apen as em sua imaginação.

    Sobre a Curitiba Cia de Dança

    Fundada em 20 13 por Nicole Vanoni, a Curitiba Cia de Dança é reconhecida por sua abordagem inovadora na dança contemporânea. Ao longo dos anos, a co mpanhia apresentou espetáculos aclamados, como A Lenda das Cataratas, Memória de Brinquedo e Relações, mantendo um olhar atento e  criterioso da diretora artística.

    Em 2023, a c ompanhia apresentou Dom Quixote como parte das comemorações dos 330 anos de Curitiba e uma parte desta apresentação juntamente c om o espetáculo Memória de Brinquedo no Festival de Dança deste ano em Cascavel. Seu compromisso com a arte e a cultura se estende a di versas cidades, proporcionando experiências únicas por meio de apresentações, circulações e eventos especiais.

    Fonte: Assessoria

  • A conquista da aviação

    A conquista da aviação

    Em setembro de 1952, uma ocorrência iria se tornar histórica, por suas implicações. Tratava-se, quem sabe, da primeira perseguição policial motorizada pela BR-35, então em obras, ocorrida na região.

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    Um grupo de contrabandistas foragidos de Foz do Iguaçu dirigia-se apressadamente para Cascavel, caçado pela Polícia Militar. O caminhão em que fugiam tombou, resultando em graves ferimentos para os fugitivos.

    O único médico da cidade, Wilson Joffre Soares dos Santos, ganhou o apoio de um enfermeiro improvisado, mas decisivo para organizar o atendimento: o padre Luiz Luíse, que havia chegado à cidade em maio.

    Quando se deu esse dramático episódio ocorria o intervalo entre a criação do Município e a posse do primeiro prefeito, com as eleições marcadas para o dia 9 de novembro e instalação do Município em 14 de dezembro.

    Desde novembro de 1951, quando a lei 790/51 criou o Município, o Distrito de Cascavel deixou de receber assistência de Foz do Iguaçu. Já sem Cascavel, Toledo e Guaíra, Foz criou os distritos de Matelândia, Medianeira e São Miguel do Iguaçu, consolidando, assim, a chamada Rota Oeste.

    Os novos distritos precisavam tudo da Prefeitura e os distritos perdidos não podiam mais contar com qualquer préstimo de Foz do Iguaçu. Aliás, antes de 1951 pouco recebiam, devido à ampla extensão do Município, que abrangia todo o Oeste.

    Aeroporto: o primeiro elo da união

    Em plena campanha eleitoral, não havia polarização: embora o farmacêutico Tarquínio Joslin dos Santos (Partido Republicano), apoiado pelo governador Bento Munhoz, pertencesse ao clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB), todos propunham organizar o Município com união.

    Sob o impacto do acidente na rodovia, o padre Luiz Luíse e o médico Wilson Joffre, apoiados pela Industrial Madeireira do Paraná (Imapar), a grande empresa da época, uniram a comunidade cascavelense no propósito de conquistar imediatamente um aeroporto em condições de receber tráfego aéreo.

    Além dos candidatos à Prefeitura e à Câmara e da Imapar, a iniciativa também recebeu o apoio da diretoria do Tuiuti Esporte Clube e dos comerciantes. Não havia oposição nem divergências.

    A aviação não era coisa nova na região. Desde 1931, quando surgiu o Correio Aéreo Militar, já havia a previsão de pousos na pequena vila de Encruzilhada, que despontava no centro de uma área de terras devolutas.

    O chefe do lugar, Jeca Silvério, mandou limpar uma área para servir como campo de pouso, mas o serviço ainda tardaria alguns anos até ser efetivamente iniciado.

    Só em 1934 a cidade-sede, Foz do Iguaçu, foi autorizada a ter seu próprio aeroporto, sendo providenciada área para abrir o campo de aviação requerido para permitir uma linha do Correio Aéreo Militar para fazer a ligação com Guaíra.

    No céu, o avião vermelho

    Pelas condições topográficas, a escolha recaiu sobre as terras que abrangiam a chácara de Fulgêncio Pereira, que foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu.

    “Aconteceu a 23 de março de 1935 quando, num momento inesperado, ouviu-se um estranho ruído no ar despertando a atenção de todos que, saindo à rua viam extasiados, um aviãozinho militar evolucionando o céu, qual uma ave desconhecida num voo de reconhecimento migratório” (Otília Schimmelpfeng, revista Cabeza, nº 11).

    Era um avião vermelho, de treinamento, vindo da 5ª Base Aérea, de Curitiba pelas mãos do tenente Aroldo Domingues, um dos ases da aeronáutica brasileira, que gostava de dar rasantes sobre as casas à espera da festa que sua chegada motivava.

    Pelo ar, as viagens de Foz do Iguaçu a Curitiba encurtavam de 4 a 8 dias, dependendo do clima, para 4 horas. A inauguração oficial do aeroporto se daria em 1º de abril. Desde cedo a população inteira se aglomerou às margens da pista gramada à espera do biplano, que só à tarde chegou de Campo Grande (MT).

    Nas asas da Panair

    Em 1937, finalmente, começaram os voos do Correio Aéreo Militar à vila de Encruzilhada de Aparecida dos Portos (Cascavel). 

    A linha comercial em Foz do Iguaçu só veio em 1938, pela Panair do Brasil, o ramo nacional da Pan American, com a linha internacional Rio de Janeiro–Assunção–Bueno Aires, ida e volta, com pouso em Foz do Iguaçu, uma vez por semana.

    Em 1941, com a fusão da antiga arma da Aviação Militar do Exército com a da Aviação Naval da Marinha para formar o Ministério da Aeronáutica, o serviço passou a ter o nome de Correio Aéreo Nacional.

    O percurso do avião do CAN começava saindo de Curitiba e seguindo por Prudentópolis, Cascavel, Foz do Iguaçu e Guaíra, penetrando no Mato Grosso.

    “Nas tardes de quarta-feira, a preocupação de toda a pequena população do povoado é presenciar o pouso do monomotor da Aeronáutica. (…)

    Esse campo de aviação – na verdade, uma clareira aberta nas proximidades da atual praça Getúlio Vargas – é apenas o primeiro de quatro aeroportos que ocuparão a mesma área mediante sucessivas reformas sendo o solo então coberto de grama” (Carlos e Alceu A. Sperança, Pequena História de Cascavel e do Oeste).

    A partir de 1941, com a inauguração da Estação Aeroviária de Foz do Iguaçu, o posto da Aeronáutica em Cascavel foi desativado e o aeroporto virou pasto.

    Só obstáculos

    Sem linhas regulares, era lá que os líderes políticos, madeireiros e comerciantes de Cascavel tomavam o avião quando não queriam se aventurar a Curitiba de ônibus ou automóvel, torcendo para não chover.

    Assim, só dez anos depois, em setembro de 1952, a ocorrência trágica da primeira perseguição policial motorizada pela BR-35, futura BR-277, com graves ferimentos para os contrabandistas fugitivos, sacudiu a comunidade cascavelense e priorizou o aeroporto. 

    Foi em razão do sofrimento dos feridos, sobrecarregando o médico Wilson Joffre, que ele e o padre Luiz Luíse decidiram: Cascavel não podia mais ficar sem um aeroporto com linhas comerciais.

    “Naquela noite, não dormi, mas fiquei pensando sobre o caso e como formular um plano para conseguir o serviço aéreo civil”, relatou o padre.

    Estudando o assunto, foi informado de que precisaria autorização militar para mexer no aeroporto, situado na faixa de fronteira. Teria de início que limpar e nivelar o campo. Como executar esse trabalho se em Cascavel não havia nenhuma motoniveladora?

    Os obstáculos cresciam: era indispensável um rolo-compressor pesado para firmar e socar bem o terreno, também ausente, e homologar o campo, mediante licença da Diretoria do Serviço Aéreo Civil.

    “Finalmente devia convencer uma companhia de serviço aéreo a aceitar abrir linha aérea em Cascavel. Isto não seria fácil, pois Cascavel não era conhecida e era um centro ou uma vila que não tinha nem 50 famílias. Para realizar esse plano de trabalho eu devia ter um outro padre que me substituísse e me deixasse livre de minhas obrigações pastorais ao menos por 30 ou 40 dias. Para viajar precisava de dinheiro. Como fazer? Expus meu plano ao meu provincial, padre Alberto Agostini. Ele me animou, aprovando-o. Imediatamente mandou a Cascavel o padre Silvano Sabattini para me ajudar. Resolvi o problema do dinheiro viajando com os aviões da FAB e nas cidades hospedando-me em casas de nossa Congregação ou de padres diocesanos” (Luiz Luíse, depoimento ao livro Pequena História de Cascavel e do Oeste, de Carlos e Alceu A. Sperança).

    Obcecado pelo propósito de incluir Cascavel no roteiro da aviação comercial, Luíse ganhou o apoio do madeireiro Florêncio Galafassi, que franqueou os serviços da Industrial Madeireira do Paraná ao objetivo, cedendo uma patrola para a limpeza e ampliação da pista.

    “Para limpar e nivelar o campo, os senhores Renato Festugato, proprietário da Madeireira, e Florêncio Galafassi, diretor da mesma, encarregaram-se de fazer este trabalho com a motoniveladora da firma e de socar a pista com os caminhões carregados com quinze mil quilos de madeira”, detalhou Luiz Luíse.

    “(…) Com a Diretoria de Tráfego Aéreo da Real estudei o plano de voos que ligassem Cascavel a São Paulo. Foi determinado que Cascavel fosse servida com quatro voos por semana: um voo sairia de São Paulo, via Londrina—Maringá—Campo Mourão—Cascavel—Vacaria—Porto Alegre. Outro sairia de São Paulo—Curitiba—Ponta Grossa—Palmas—Cascavel. Os dois voos fariam ida e volta no dia seguinte” (padre Luiz Luíse).

    No pasto verde, laçando avião

    Em 2 de janeiro de 1953 se deu a inauguração do Aeroporto Coronel Adalberto Mendes da Silva. No dia 11 houve o voo regular inaugural, por um avião Douglas DC-3, da companhia Real Aerovias, “com seus dois motores radiais que expeliam fogo e fumaça quando eram acionados” (Elcio Zanato, Cascavel, A Grande Conquista).

    O agente da Real Aerovias em Cascavel era Lyrio Bertoli, futuro deputado federal. Em Toledo, Luiz Henry Perin.

    “A Real não vencia satisfazer a todos e obrigou-se a aumentar os voos. Em meio ano o tráfego de Cascavel aumentou tanto que entre as 250 localidades brasileiras servidas pela aviação civil Cascavel colocou-se em 50º lugar. Em breve Cascavel tornou-se famosa pelas suas terras e conhecida, atraindo gente de todas as partes do Brasil” (Luiz Luise).

    Um ano depois, Toledo, que também já iniciara o movimento aéreo, inaugurou seu aeroporto, em cuja pista ocorreu um episódio digno de filme de ação: um avião embicou na pista, teve as hélices destruídas e o agente aéreo Luiz Henry Perin decidiu puxá-lo a laço para voltar à posição normal.

    Perin, aliás, também laçou em favor de Toledo o frigorífico Sadia, poderosa empresa que a empresa estava cogitando instalar em Cascavel. Amigo da família Fontana, foi ele quem convidou Omar, filho do patriarca Attilio, a montar um frigorífico “no maior produtor de suínos do País”.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Cascavel recebe oficinas gratuitas de arte e cidadania

    Cascavel recebe oficinas gratuitas de arte e cidadania

    A cidade de Cascavel recebe as ações do projeto Fazendo Arte, Tecendo a Vida. As atividades começaram ontem (27) e serão realizadas com estudantes do Colégio Estadual Wilson Joffre até esta terça-feira (28). Os alunos irão participar de oficina de pintura com a artista plástica Janete Mehl, oficina sobre a importância da cultura da preservação do patrimônio com a restauradora Tatiana Zanelatto e oficina de improviso com os atores da Trupe da Saúde. Os estudantes ainda terão a oportunidade de participar da confecção de uma arte com a artista e ilustradora Mônica Ishiba .

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    Em sua quarta edição, o Fazendo Arte também contará com a ação afetiva da Trupe da Saúde com familiares e pacientes em um hospital público da cidade. Ao final do projeto, o Município ganhará uma obra de arte da artista Janete Mehl, que será instalada em espaço público definido pela Prefeitura de Cascavel e um mural de Mônica Ishiba.

    O projeto é realizada pela ONG Unicultura e a Trento Edições Culturais. A iniciativa pretende despertar nos alunos de escolas públicas dos municípios a importância da consciência histórica e com ela prevenir a propagação da depredação e o vandalismo de bens culturais tombados. 

    Para isso, o projeto realiza oficinas de arte com sensibilização estética e educação patrimonial. As atividades de conservação e restauro e artes plásticas são ministradas pela artista plástica Janete Mehl e pela especialista em conservação e restauração de monumentos históricos arquitetônicos, Tatiana Zanelatto Domingues. Com curadoria de Élisson Silva, o projeto também prevê a criação de murais em escolas públicas com a participação de artistas plásticos e a comunidade de alunos locais.

    O Fazendo Arte, Tecendo a Vida é viabilizado por meio da Lei Rouanet, Ministério da Cultura, Governo Federal – União e Reconstrução com patrocínio da Greca Asfalto, Worker, Fertipar, LAR, Berneck, BR Fértil, Random – Rodoparaná, Timber, Saporiti, Yticon, Frimesa, Sysmex e Itambé.

    Oficinas na escola: Hoje (28)

    12h50 – Chegada da equipe na escola 

    13h10 – AULA 01

    Oficina Trupe (T-01)

    Oficina Tati (T-02)

    14h – AULA 02

    Oficina Trupe (T-02) 

    Oficina Tati (T-01)

    Oficina Janete (T-03)

    14h50 – AULA 03

    Oficina Trupe (T-03) 

    Oficina Janete (T-01)

    Oficina Monica (T-02)

    15h40 às 15h55 INTERVALO

    15h55 – AULA 04

    Oficina Tati (T-03)

    Oficina Janete (T-02)

    Oficina Monica (T-01)

    16h45 – AULA 05

    Oficina Monica (T-03)

    Fonte: Assessoria

  • Obsessão com o Paraguai causou atrasos

    Obsessão com o Paraguai causou atrasos

    Com a posse do governador Bento Munhoz da Rocha Neto, em janeiro de 1951, que representou a volta da família ao poder no Paraná, ocorre também o pleno resgate político do clã Camargo, com a ascensão do presidente da Câmara de Curitiba, o médico Mário Afonso Alves de Camargo, ao comando da Prefeitura da capital, no ano seguinte.

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    As famílias Munhoz e Camargo, cujas ligações começam remotamente nos tempos imperiais, é um fio condutor que percorre ininterruptamente dois séculos de história política no Paraná.

    A formação do clã começa na primeira metade do século XIX, quando o adolescente Antônio de Sá Camargo (1808−1896), futuro Visconde de Guarapuava, filho de Antônio Joaquim de Camargo, povoador dos Campos Gerais, é enviado pela família ao interior ainda dominado pelos índios para iniciar uma fazenda.

    “Ainda muito jovem, seu pai lhe confiou a administração do estabelecimento pastoril fundado em Guarapuava. Em 1827, com apenas 19 anos” (Luiz Romaguera Netto, Gertrudes e o padre Camargo).

    Lá ele viria se consagrar como o grande comandante da construção do centro do Paraná. Os Camargo a partir daí construíram fortuna e poder, associados aos Munhoz, tendo assumido o controle do Paraná em 1916 e o mantendo até a revolução de 1930.

    Foco na futura BR-277

    Duas décadas depois, retomavam seu fio de poder com Bento e de várias formas se manteriam sempre no centro das decisões durante todo o século XX.

    Antes de ser destituído em 5 de outubro de 1930, o governador Affonso Alves de Camargo se empenhou em complementar a ligação rodoviária entre o litoral e a fronteira com o Paraguai.

    Em 1919, quando a considerou concluída, foi um dos três primeiros a percorrê-la de automóvel de ponta a ponta.

    “O empresário Miguel Matte fez todo o percurso com seu automóvel, ao longo de 72 horas. O prefeito de Foz, coronel Jorge Schimmelpfeng, também percorreu a Estratégica em toda a sua extensão, viajando com seu automóvel Ford desde Santa Helena até Curitiba” (Alceu A. Sperança, 150 Anos de Governança Paranaense).

    Logo em seguida, o governador Affonso Alves de Camargo cumpriu o percurso em uma histórica visita de inspeção aos portos do Rio Paraná, em companhia do prefeito iguaçuense.

    Como se viu em “O enredo da BR-277 na trama geopolítica” (https://x.gd/5Z1EY), no período da II Guerra Mundial a espionagem brasileira em Buenos Aires informou que a Argentina estava inclinada para o nazismo e pretendia dominar o Brasil quando/se Hitler dominasse o mundo.

    O projeto geopolítico

    Como o Paraguai sonhava com o acesso ao mar, oferecer essa conquista ao país vizinho poderia garantir o apoio do governo guarani em caso de um conflito com a Argentina de Juan Domingo Perón.

    Não são isoladas, portanto, as histórias da futura BR-277, da colonização da Rota Oeste (projetos de empresários gaúchos iniciados entre Cascavel e Foz do Iguaçu) e da Estrada de Rodagem Coronel Oviedo e Porto Presidente Franco, no Paraguai.

    Plenamente interligadas e parte do projeto geopolítico brasileiro de tirar o Paraguai do controle argentino, havia dois inimigos ainda piores que Perón embaraçando o projeto brasileiro: aqui, as chuvas que arruinavam os trechos mais problemáticos da Rodovia Estratégica; no Paraguai, a instabilidade política, com pertinazes ameaças de golpes militares.

    A Prefeitura de Foz do Iguaçu tentava fazer a sua parte, apesar dos recursos escassos. Com a obrigação de administrar todo o Oeste paranaense até 1952, procurava melhorar as estradas contando com o apoio – e o interesse direto – das equipes de mateiros das empresas de colonização.

    Era fundamental para o enraizamento dos sulistas no Oeste organizar o poder político nas sedes dos projetos de colonização. Nesse sentido, em julho de 1952 o prefeito Francisco Guaraná de Menezes, já sem as responsabilidades sobre os distritos de Cascavel (Toledo incluso) e Guaíra, que haviam se tornado municípios, sancionou lei criando três novos distritos, com sedes nas vilas de Gaúcha, Medianeira e Matelândia.

    Estimular a colonização 

    Gaúcha era o nome da colonizadora. Negativizado pelas violências cometidas contra posseiros, a denominação foi depois santificada: passou a ser São Miguel do Iguaçu, com base em uma lenda.

    A lei determinava que as delimitações de cada distrito estariam “de acordo com as linhas limítrofes de cada companhia colonizadora”, com instalação prevista para 1º de janeiro de 1953.

    A criação dos distritos estimulava as colonizadoras, animava os corretores, ampliava a propaganda de suas terras junto às clientelas do Rio Grande do Sul, às voltas com a minifundiarização decorrente do parcelamento de terras por herança entre famílias de imigrantes com muitos filhos, e de Santa Catarina, além das proles numerosas também pressionadas pelas restrições produtivas da topografia acidentada.

    Mais famílias chegando representavam mais gente trabalhando na conservação dos troncos principais de estradas, dentre os quais a futura BR-277, até porque os colonos com menos posses se comprometiam a trabalhar para as colonizadoras em serviços como a abertura e manutenção de caminhos.

    Duas eleições em Cascavel 

    Cascavel, com o Município já criado e a comunidade envolvida na campanha dos partidos pela conquista da Prefeitura, com eleições marcadas para 9 de novembro, animou-se em agosto com uma eleição prévia que teria influência posterior sobre o pleito municipal.

    Foi a eleição da quarta diretoria do Tuiuti Esporte Clube, que tomaria posse no dia 25, nos festejos do 3° aniversário do clube, e dela participaram algumas das principais lideranças políticas da época.

    Quatro dos eleitos em 10 de agosto no Tuiuti também seriam vitoriosos em 9 de novembro para a Câmara Municipal: o presidente, Adelino André Cattani, o vice-presidente Adelar Bertolucci, o segundo-tesoureiro, Antônio Massaneiro, o subdiretor de esportes, Helberto Schwarz, e o treinador do time de futebol – Dimas Pires Bastos, que seria o primeiro presidente da Câmara.

    Os demais dirigentes eleitos em agosto também eram figuras públicas influentes, a começar pelo orador, Sandálio dos Santos: o primeiro-secretário Paulo Rodrigues Dodô Pompeu; o segundo-secretário, Agenor Miotto; e o primeiro-tesoureiro, Joel Samways. 

    Também os membros da Comissão de Esportes eram personalidades destacadas na política e na comunidade: Horácio Reis, Álvaro Jorge de Oliveira Lemos, Aurélio Borges, José Piaia e Clary Boaretto.

    O coronel foi contra

    Foi também em agosto de 1952 que o presidente Getúlio Vargas nomeou o coronel José Rodrigues da Silva para integrar a Comissão Mista Brasileiro-Paraguaia que iria projetar a construção da Estrada de Rodagem Coronel Oviedo – Porto Presidente Franco.

    Benquisto em Cascavel, primeiro chefe da Comissão Construtora de Estradas de Rodagem para o Paraná e Santa Catarina, instalada em julho de 1941 para construir a rodovia federal de primeira classe Ponta Grossa–Foz do Iguaçu, o coronel José Rodrigues da Silva sempre esteve ligado ao projeto geopolítico, embora não visse utilidade nele.

    Em 1944, ainda como chefe da CER-1, ele já rejeitava torrar no Paraguai recursos da Comissão PR-SC que poderiam apressar o cumprimento da missão de construir a rodovia de primeira classe. 

    Em relatório secreto enviado à Diretoria de Engenharia do Ministério da Guerra, estimou que a obra não teria utilidade para o Brasil do ponto de vista econômico porque “uma rodovia ligando Assunção ao Rio Paraná em Porto Franco favoreceria a Argentina, tanto mais que no Rio Paraná há vários portos argentinos (Aguirre, Posadas, Corrientes etc)”.

    A seu ver, “não se justificaria que o Brasil pagasse as despesas de construção de uma estrada que, longe de lhe ser útil, favoreceria apenas um concorrente estrangeiro”. A rodovia seria importante para o Paraguai, em todos os sentidos, mas para o Brasil não haveria vantagens.

    General paraguaio avisou

    Do ponto de vista militar, para Rodrigues, a rodovia paga pelo Brasil no interior do Paraguai só ajudaria a Argentina a ter acesso mais rápido e qualificado ao território brasileiro.

    O projeto, para o coronel brasileiro, teria uma única vantagem: a espionagem. Para ele, não haveria nenhum inconveniente “em proceder aos estudos, tanto mais que será uma ocasião de obtermos conhecimento possivelmente úteis sobre uma região estrangeira fronteiriça”.

    O embaixador brasileiro no Paraguai, Francisco Negrão de Lima, informou a Rodrigues que “o próprio presidente atual do Paraguai, general Higino Morínigo, lhe declarou que não podia fazer uma política inteiramente brasileira porque, se assim fizesse, a Argentina o deporia”.

    O governo brasileiro, portanto, estava informado sobre o temor do líder paraguaio de ser deposto caso o Brasil insistisse em sua geopolítica de absorção do Paraguai, substituindo a Argentina como sua controladora.

    De fato, em 1947 houve a Revolução Colorada e o temor do general Morínigo se confirmou, com sua deposição em 1948.

    Também deposto (1946) e de volta à Presidência em janeiro de 1951, Getúlio Vargas retomou a geopolítica para o Paraguai nomeando em agosto de 1952 o coronel José Rodrigues da Silva para fazer estudos sobre a viabilidade da rodovia dentro do Paraguai.

    Ponte, só com colonização e civilização

    Nessa época também estava em discussão um antigo projeto de Bento Munhoz (1949) quando foi deputado federal: a construção de uma ponte internacional em Foz do Iguaçu.

    Retomado pelo deputado paranaense Ostoja Roguski (1913–1972), o projeto pretendia a ligação com a Argentina pelo Rio Iguaçu, mas recebeu propostas de alterações para que a opção, nos termos da geopolítica planejada, fosse o Paraguai.

    Informe reservado do Estado Maior das Forças Armadas observava que a ligação pelo Rio Paraná com o Paraguai seria “mais lógica” no sentido de “trazer o Paraguai para a influência brasileira”.

    Lógica, mas não aconselhável: obras como essa, afirmava o Estado Maior em informe ultrassecreto de fevereiro de 1953, “só devem ser encaradas em regiões onde já tenhamos podido levar os benefícios de uma civilização nitidamente brasileira, por meio de uma adequada colonização e ligações rodo, ou ferroviárias, para o interior do País”.

    A região de Foz do Iguaçu, afirmava, “não atende a esse desiderato, por isso que, afora a ausência de uma colonização adequada e de outros índices de civilização, não dispõe, ainda, das necessárias comunicações rodo, ou ferroviárias, com o interior, o que só se verificará dentro de algum tempo, quando a rodovia Ponta Grossa – Guarapuava – Foz do Iguaçu chegar a bom termo”.

    Portanto, apressar a colonização era o caminho certo, mas a teimosia em construir uma rodovia no Paraguai descuidando das obras no interior do Brasil atrasou a ponte internacional em dez anos e até hoje a ferrovia ainda não alcançou Foz do Iguaçu e Guaíra.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Grilo de Santa Cruz: tragédia e progresso

    Grilo de Santa Cruz: tragédia e progresso

    Em julho de 1952, cumprindo promessa feita aos posseiros, o governador Bento Munhoz promoveu a transferência do Departamento de Geografia, Terras e Colonização (DGTC) da Secretaria da Agricultura ao seu gabinete, para agilizar a regularização fundiária.

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    Ao mandar mais agentes e policiais para a região de conflito agrário, a intenção era animar os ocupantes da terra a ficar nela para resistir a qualquer tentativa de expulsão até que a Justiça se pronunciasse em definitivo, mas o resultado foi estimular as colonizadoras irregulares a se livrar o quanto antes dos posseiros. Um barril de pólvora que inevitavelmente iria explodir.

    Na verdade, o barril estava se enchendo de pólvora havia décadas, por falta de soluções adequadas, com os atritos entre os governos estadual e federal, a ação armada de jagunços municiados por empresas colonizadoras e a resistência camponesa. 

    Nesse caso, pólvora de longa acumulação já estava à beira da explosão em 15 de setembro de 1952, quando a Sociedade Colonizadora União d’Oeste Ltda, com sede em Apucarana, comprou, por 600 mil cruzeiros, 90 mil alqueires paulistas que viriam a formar a glebas São Silvestre, Rio Jong Kong, Rio dos Jesuítas e Rio Azul.

    As glebas faziam parte de um antigo latifúndio denominado “Santa Cruz”, também conhecido por “Cachoeira” ou “Rio dos Patos”. Com a intenção de promover um amplo projeto de colonização, a União d’Oeste comprou a ampla propriedade que em vários pontos estavam ocupadas por posseiros autorizados pelas políticas estaduais de incentivo à ocupação de terras devolutas.

    O carrasco Santa Cruz

    Até essa ocasião, a área acumulava uma longa história. “Santa Cruz” era o nome do cunhado e administrador da obrage de Julio Tomas Allica, que se estendia desde Porto Mendes a imprecisos limites a Oeste.

    “Santa Cruz carregava a violência no sangue. Tinha a função de administrador, capitão do mato e capataz. Homem de confiança de Allica. De sua sede, batizada com o seu nome, percorria a imensa obrage montado num cavalo zanho, sempre se fazendo acompanhar por quatro ou seis capangas bem armados e escolhidos a dedo” (José Augusto Colodel, Oeste sombrio: terra de Allica, terra de Santa Cruz).

    Mas não foram Allica e seu sádico administrador, cuja obrage só foi iniciada em 1902, que deram origem a essa história. Desde antes, ainda no Império, houve uma longa série de disputas judiciais.

    Muito antes, em 1843 teria* havido uma suposta disputa judicial entre dois pretensos proprietários da área: Francisco Antonio dos Santos e seu vizinho Salvador Correa da Silva, levada ao juiz de paz da Freguesia de Guarapuava, Joaquim José de Lacerda. 

    O juiz teria determinado que as terras disputadas fossem divididas entre os dois. Salvador ficou dono de parte do imóvel situado à margem direita do Rio Piquiri com o nome de Guavirova e Francisco manteve a parte do imóvel situado à margem esquerda, com o nome Cachoeira.* O emprego do verbo ter no futuro do pretérito se explicará na continuidade.

    “Fraude inominável”

    Em 1844,Francisco mudou o nome da propriedade – Cachoeira –, para “Santa Cruz” e o vendeu a Custódio Gonçalves, que por sua vez a transferiu a um certo José da Silva.

    Em 1850, em função da nova lei de terras, o imóvel foi registrado na Paróquia de Guarapuava e vendido em 1871 a Joaquina Maria Gertrudes. Novamente alvo de demanda judicial, pois a decisão de 1843 estava sob suspeita de fraude, o juiz municipal de Guarapuava garantiu o domínio a Gertrudes, depois de ouvir testemunhas e a Fazenda do Estado.

    Já na República, em 1892, ela transferiu a propriedade a um neto, Valêncio José de Camargo, que em 1929 vendeu a metade da já chamada fazenda Santa Cruz à firma curitibana Irmãos Mattana & Cia Ltda e a outra metade a Ernesto Ferreira Nunes.

    Se já estava complicada pelo tempo e pela passagem de mãos, a partir daí, as coisas começam a se complicar ainda mais: a Justiça apurou que a propriedade tinha como documentação apenas uma certidão forjada pelo escrivão Joaquim Maximiano da Silva, em 18 de maio de 1925.

    Nessa ocasião, a mando de Francisco Santa Maria, ele certificou a existência da suposta sentença de 1843 como primeiro documento de posse do imóvel. Em 1944, o juiz Lauro Fabrício de Melo Pinto, da Comarca de Guarapuava, anotou:

    “Toda a documentação dos réus, a começar pelo seu documento básico, o seu documento número um a certidão de folhas 182, tudo é fraude inominável, criminosamente tramada, com maior ou menor habilidade. O réu, Francisco de Santa Maria, ditou essa certidão a um funcionário interino, bisonho e inexperiente (Joaquim Maximiano da Silva)”.

    O tempo passa…

    Para o juiz, “a prova documental dessa fraude está na certidão de folhas 364, extraída do próprio protocolo de audiências do Juízo Distrital desta Freguesia, nos anos de 1842 a 1845. Para má sorte do falsário e dos seus sequazes, na empreitada fraudulenta, o próprio dia dez de julho transcorreu sem que houvesse requerimento algum na audiência do Juiz de Paz. Nem ninguém compareceu a essa audiência para requerer coisa alguma”.

    O tempo passava e a trama se adensava, porque em 1943 o governador Manoel Ribas ajuizou uma ação contra Francisco Santa Maria e a Companhia Nacional de Papel e Celulose, donos da fazenda Guavirova, para anular suas transcrições e reverter ao patrimônio do Estado as terras dessa fazenda.

    A Fazenda Santa Cruz, para o Estado, era resultante de uma grilagem*: terras públicas tomadas do Estado com base em um documento recente, mas envelhecido em datas e aparência.* Grilagem – Engavetar grilos mortos com documentos novos para que as toxinas da decomposição do inseto deem ao papel a aparência antiga. Monteiro Lobato conta a origem da expressão no livro A Onda Verde (https://x.gd/C9wtv)

    Passou por muitas mãos

    Um século depois do grilo, a Justiça dava ganho de causa ao Estado do Paraná, revertendo ao seu patrimônio as terras do imóvel situadas à margem direita do rio Piquiri.

    Mas não fazia sentido cancelar o registro do Guavirova e manter o do imóvel Santa Cruz, na margem esquerda do rio, “uma vez que ambas as propriedades tinham origem na mesma sentença de conciliação de 1843 que para a Justiça do Estado nunca existiu” (Ação Ordinária de Anulação de Escrituras).

    Antes que isso viesse à tona, Ernesto Ferreira Nunes vendeu todas as suas terras a um grupo de compradores integrado por Guerino Rebelatto, Mário de Déa, Joele Ezequiel Zibetti, Benjamim Furlan e Aldo Crema, ainda em 1929.

    Por sua vez, a família Mattana venceu 51% das terras a um grupo formado por Oreste Floriano e Iolanda Bonato, Amadeu e Eunice Bordin, Mário e Júlia Gewer, Antônio Fidélis Zibetti e Ciro de Marco, venda transcrita no Registro de Imóveis de Laranjeiras do Sul.

    O restante das terras, os Mattana transferiram a Moacir Índio do Brasil Campos, Humberto Puglielli e Luiz Mattos, entre 1950 e 1951. Na sequência, Aldo Crema vendeu a Luiz Mattos a parte que comprou de Ernesto Nunes. Mattos, em 1951, também comprou de Moacir Campos e Humberto Puglielli as terras que estes adquiriram dos Mattana.

    A União d’Oeste

    Mesmo com o grilo já exposto, em 1951, o colonizador cearense Adízio Figueiredo dos Santos considerou a área como devidamente registrada e adquiriu a propriedade das famílias Bonato, Bordin, Gewer, Zibetti, Marco, Furlan, Déa e Rebelatto.

    Em nova transferência, ainda em 1951, Luiz Mattos e esposa cederam parte de suas terras a Paulo e Antônio Menegazzo. Eram 52 mil alqueires. “Mattos também vendeu parte das terras a Marinho Tavares da Silva (Laércio Souto Maior, História do Município de Assis Chateaubriand).

    Luiz Mattos, Adizio Figueiredo dos Santos e Constancio R. Silveira Filho fundaram a Sociedade Colonizadora União d’Oeste Ltda., com sede em Apucarana, para lotear e vender as terras adquiridas.

    A ação do Estado para anular o título obtido pela União d’Oeste sobre as terras da fazenda Santa Cruz, segundo Adizio Figueiredo, “criou uma polêmica infernal, uma vez que o nosso título já era definitivo” (citado por Carlos Valmor Bazanella em Nova Aurora – Sua História, Sua Gente).

    O “inferno” se deu em ação iniciada em 20 de janeiro de 1953: “o Estado do Paraná alegou que, por força do Decreto nº 300 de 03/11/1930, o imóvel lhe pertence. Acrescentou que era precário o título de aquisição detido pela Sociedade Colonizadora União D’Oeste Ltda”.

    Demandas judiciais à parte, a história de Nova Aurora não começou com a colonizadora União. A vila já existia, embora sem esse nome. Em depoimento ao historiador Maurilio Rompatto (https://x.gd/C9nLt), o pioneiro Clary Boaretto, fundador em Cascavel do Tuiuti Esporte Clube, disse que “[…] quando o Adízio veio (com a colonizadora) pra cá, já existia uma igreja, já tinha escola, já tinha tudo”.

    Laurentina Esser foi além: “[…] ele desapropriou famílias, jogou para fora dos ranchos, botou fogo nos ranchos, para as famílias não voltar e fez sumir […] e, ainda tomou o que elas tinham plantado”.

    História longe de acabar

    O Estado não tinha a menor dúvida de que o Grilo Santa Cruz estava inteiramente comprovado. Por conta disso, o DGTC instalou a 9.ª Inspetoria Regional de Terras e Colonização em Cascavel “para organizar a distribuição da terra na região, legalizando a situação dos posseiros que se encontravam na área com morada habitual e cultura efetiva da terra” (Maurilio Rompatto, Conflitos agrários no oeste do Paraná – O caso do “Grilo Santa Cruz” na colonização de Nova Aurora [1952-1958]).

    Adízio Figueiredo depois saiu de cena ao não suportar as dificuldades para manter seu projeto de colonização, mas Oscar Martinez adquiriu o Grilo Santa Cruz e criou ali uma das mais prósperas cidades do Oeste paranaense: Assis Chateaubriand.  

    “Tão logo adquirem os títulos de propriedade, os colonizadores da União do Oeste começam os preparativos para lotear e vender as terras da fazenda Santa Cruz, Cachoeira ou Rio dos Patos. O primeiro passo nesse sentido foi começar pela limpeza da área expulsando os posseiros que a ocupavam. […]. Logo, os rumores de violência cometida pela colonizadora contra os posseiros começaram a chegar à capital do Estado (Maurilio Rompatto).

    As colonizadoras, efetivamente, trouxeram progresso para a região, plantando cidades prósperas, mas, com raras exceções, estão ligadas a práticas de violência e derramamento de sangue. 

    Uma história que ainda terá novos e surpreendentes desdobramentos – um dos quais a evidência de que o tempo e os desentendimentos entre governos e a Justiça conseguem tornar perfeito um crime comprovado. 

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • O policial e o jagunço

    O policial e o jagunço

    Se nos grandes centros urbanos do país as preocupações no início da década de 1950 se concentravam no aumento do custo de vida, que levou a fortes protestos dos trabalhadores, no interior do Paraná persistia a ânsia por melhorar a infraestrutura de transportes.

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    História iniciada quando os exploradores ibéricos aproveitaram o Caminho do Peabiru para se locomover, continuou com os tropeiros abrindo a Estrada de Laguna/Viamão, mais próxima ao litoral, e se interiorizou com a Ferrovia São Paulo–Rio Grande, que deu origem à Guerra do Contestado e aos conflitos de terras no Oeste paranaense. 

    Abrir estradas para escoar a crescente produção agrícola e colonizar o interior de onde os índios foram expulsos ou massacrados eram as tarefas da época no Paraná, mas no Rio de Janeiro estava em discussão o planejamento governamental e, com a contribuição dos geógrafos, a divisão regional do Brasil. 

    São Paulo pertencia ao Sul, mas em breve se destacará para compor a região Sudeste, evitando a pretensão de um novo e poderoso país reunindo SP, PR, SC e RS. 

    Vida ou morte

    O debate sobre a definição de regiões também empolgava os meios acadêmicos paranaenses. “A imprensa, por sua vez, criticava o governo do Paraná, que não encontrava meios de ligar a região Norte à Sul” (Elzio dos Reis Marson, No Limiar do Horizonte).

    Nesse ainda caótico Paraná, que em 1946 recuperou seu Oeste e Sudoeste aliviando o trauma de perder território a SC em 1916, o resgatado Sudoeste sofria a invasão de colonos gaúchos e o Norte araucariano pretendia acompanhar São Paulo como parte da Região Sudeste. 

    Mesmo calado pela pronta ação do governador Munhoz da Rocha em seus primeiros meses de gestão, ainda era forte o projeto de emancipar o Norte do Paraná como novo Estado, facilitando o atrelamento a São Paulo e assim deixar de pertencer à região Sul do Brasil.

    Longe dos meios acadêmicos, na dura realidade das frentes de colonização, obter e manter a posse da terra era uma questão de vida ou morte para os colonos do Centro e Sul do Paraná, filhos de imigrantes europeus, que tentavam vida nova nas frentes de colonização enfrentando as dificuldades da mata e os jagunços.

    Um estimado ex-governador do Paraná – Manoel Ribas – havia prometido terras para quem quisesse trabalhar e o novo governador, Bento Munhoz, reforçou o compromisso de garantir aos posseiros o direito à terra ocupada, mas a prática não seria tão simples.

    Expulsando posseiros e índios

    Atormentado pela pressão paulista e com dificuldades para atender às necessidades do vasto interior onde tudo era necessário, Bento tentou reforçar o apoio do Estado à colonização dando carta branca aos empreendimentos particulares e buscando retomar na Justiça o domínio das terras antes ocupadas pelo Território Federal do Iguaçu.

    No entanto, a Justiça enfrentava dificuldades pela complexidade de interesses envolvidos. Havia uma cascata de ações em curso para definir questões de domínio, titulação legal ou ilegal e posse comprovada ou usurpação. 

    Bento ficou alheio ao fato de que colonizadores gananciosos corrompiam agentes do Estado para apoiar suas milícias particulares – os jagunços, que a polícia qualificava como “guarda-costas” –, para servir ao objetivo de “limpar” as terras do interior de posseiros e índios.  

    Escrivão e eventualmente delegado de polícia em Cascavel no auge dos conflitos, Aparício Lara sintetizou a situação desta forma: “Na região do Piquiri havia muita invasão de terras e as companhias grandes tinham a sua equipe de guarda-costas – os jagunços”.

    Para o povo, jagunço era toda pessoa sem farda que portava armas ostensivamente. Para o governo, os milicianos das colonizadoras eram agentes particulares de segurança, os “guarda-costas”.

    Morte à espreita  

    Relatando os tempos em que foi policial, trabalho iniciado em sua terra natal, Foz do Iguaçu, Aparício Lara lamentou o morticínio pela posse da terra, que quase causou uma vítima inesperada: ele mesmo. 

    Na tentativa de mediar um conflito, ele teria sido assassinado por jagunços se não fosse a interferência de dois amigos, um dos quais o vereador Adelino Cattani, que depois viria a tombar atirado em plena Avenida Brasil em um confronto com o comerciante e ex-delegado de polícia João Miotto, em 1953.

     “Aqui todos conheciam a turma dos jagunços, que eram todos empregados dos fazendeiros e das companhias de terras. As grandes firmas vinham se instalar na região com documentação da terra fornecida pelo governo. Encontravam os pequenos fazendeiros, que usavam a terra e acontecia o conflito. Além disso tinha as titulações que eram dadas a mais de uma pessoa” (Aparício Lara, Prisma Cascavel, 5/8/1994).  

    Em geral os posseiros ameaçados se retiravam de imediato, levando o que podiam carregar, saindo da história tão anônimos quanto entraram, mas não foi o caso da família Lozovey. 

    A família ucraniana

    Ameaçados de perder as terras adquiridas por posse familiar, posteriormente tituladas em favor de terceiros com empresa, influência no governo e na polícia, Lara mencionou os três irmãos Lozovey como um exemplo raro de colonos oprimidos pelos jagunços que se recusaram a sair pacificamente das terras.

    Família paranaense de origem ucraniana, os Lovezoy vieram para o Brasil em 1913, estabelecendo-se como lavradores na região de Irati. Com o crescimento da família, alguns foram se estabelecer no interior de Cascavel.

    A área de posse dos Lozovey era reivindicada pela Companhia Brasileira de Imigração e Colonização (Cobrimco), que desde 1950 vendia propriedades a colonos no interior de Cascavel propagando a perspectiva de riqueza com o café. 

    Paulo Bittencourt, diretor da empresa, anunciava “o ganho de mais de um milhão de cruzeiros do sitiante que em 1951 possuía dez mil pés de café, para apregoar o enriquecimento, em curto prazo, de todos aqueles que se estabelecessem na região para cultivar o café” (Cássia Regina Soares Cardoso, O processo de ocupação do Noroeste paranaense nas décadas de 1950 e 1960).

    Na ponte do Rio dos Porcos

    A Cobrimco por várias vezes teve seu nome ligado a expulsões violentas de posseiros e de índios Xetás, contando com jagunços próprios e o apoio de agentes do governo do Estado.

    Foi esse o pano de fundo da ameaça de expulsão supostamente comunicada pelos jagunços da empresa à família Lozovey. 

    Entrincheirados em uma carroça no acesso à cidade de Corbélia, os Lozovey se prepararam para receber os jagunços, que chegaram em um jipe, reforçados com soldados da Polícia Militar. 

    “Um dos maiores e bárbaros crimes dessa época do domínio da terra, aconteceu no córrego denominado Rio dos Porcos em que uma família inteira foi dizimada […] Muitas histórias foram escritas pela violência das armas e a truculência de assassinos profissionais que recebiam somas em dinheiro para assassinar” (Elcio Zanato, Corbélia de minha Juventude).

    Confissões de João do Norte

    Junto ao Rio dos Porcos, nome que tem origem nas varas de porcos do mato encontradas no local, surgiria uma povoação que para suavizar o nome do lugar teve a denominação alterada para “Pingo de Ouro”, que não pegou. 

    Por imposição da colonizadora, o lugar foi finalmente denominado como Anahy, nome da filha de um gerente da empresa.

    Prometendo resistência, os três irmãos Lozovey, negando-se a entregar a terra, atacaram o jipe que trazia os jagunços. “O combate foi na ponte. Dois Lozovey e um guarda-costas morreram. Um dos irmãos escapou” (Aparício Lara).

    De certa forma, os jagunços, empregados pelas colonizadoras, foram os primeiros trabalhadores rurais, assim considerada a mão de obra assalariada no campo. Nessa época, todo o trabalho nas terras era realizado pelos posseiros e suas famílias. Empregados, de fato, só os “guarda-costas”.

    Os jagunços matavam, mas também eram emboscados e sofriam vinganças. Em raro depoimento, um jagunço que sobreviveu aos conflitos e chegou à velhice, coisa rara no meio em que a morte chegava antes dos 30 anos de idade, João Gonçalves de Oliveira, o João do Norte, funcionário da Colonizadora Norte do Paraná, tinha 69 anos quando contou como se deu sua transformação de simples camponês em jagunço.

    Corpos no Rio Piquiri

    Contratado para abrir estradas na mata por Alípio Lopes e José Nini, administradores da empresa, ao iniciar os trabalhos em campo se deparou com posseiros e voltou para comunicar o obstáculo.

    Foi quando recebeu a proposta de um certo Otaviano, que seria cunhado do colonizador Adízio Figueiredo, para matar os posseiros. “Receberia como pagamento, além do revólver e 10 contos de réis, uma área de 4 alqueires de terra” (Jornal Hoje, 25/8/91).  

    João disse à polícia que recusou a oferta, mas confessou que ajudou a enterrar 18 corpos na Fazenda São Silvestre (na época Fazenda Tapejara), ao lado de uma árvore de jequitibá.

    “Disse também que com esta proposta, deixou de trabalhar para a colonizadora, passando a trabalhar como autônomo para posseiros. Afirma que foi obrigado pelos jagunços da colonizadora a ajudar a enterrar os mortos. E que, mesmo depois de deixar a empresa, pescando no Rio Piquiri, várias vezes deparou com corpos boiando na água”.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • A Guerra das Oito Pontes

    A Guerra das Oito Pontes

    Novos projetos de ocupação no Oeste começam a se desenvolver em 1952, mas já sem a marca pacífica da experiência de colonização desenvolvida pela Companhia Maripá na antiga Fazenda Britânia. 

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    Sem conflitos sangrentos entre jagunços e posseiros, a posse tranquila e a titulação incontestável da propriedade adquirida pela Maripá vieram do código de ética pactuado pelas antigas obrages, dentre elas a anglo-argentina Companhia de Maderas Del Alto Paraná, proprietária da Britânia. 

    Iniciada em 1907, a empresa estabeleceu com as demais obrages que exploravam a erva-mate na região desde o século XIX uma regra que manteve o Médio-Oeste livre de povoados e cidades até a década de 1920.

    Só então a Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) passou a vender terras no Oeste, provenientes de contratos entre o governo e a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande.

    Filho de Pedro Nuñez, sócio de Lázaro Gibaja, o escritor Júlio Nuñez narra no livro Iviraretá que os governantes argentinos tinham o hábito de repartir as terras entre amigos e partidários sem providenciar a medição.

    Os problemas resultantes desse descuido levaram à proibição de “toda povoação permanente nos ervais, desalojando-se as estabelecidas anteriormente”. Em suma, era proibido ter propriedades particulares e formar povoações em toda a região Oeste.

    Promessas em xeque

    Ironicamente, as terras que não possuíam donos até a queda de braço entre a União e o Estado do Paraná sobre qual ente regularia a ocupação do território, quando passaram a ter até três andares de propriedade em diferentes cartórios: área de domínio da União, com títulos por ela emitidos, a mesma área com títulos autorizados pelo Paraná e posses feitas nos mesmos locais por incentivo do ex-governador Manoel Ribas ou espontaneamente.

    Além da administração dos conflitos entre posseiros vindos de todo o país e jagunços, estes sobretudo a serviço de empresas paulistas, o governo de Bento Munhoz foi atrapalhado pela chamada Guerra das Oito Pontes, com a qual os compromissos assumidos por Bento com o Oeste sofreram atrasos. 

    Sob pressão das lideranças pró-paulistas de Londrina, o governador se obrigou a prometer obras rodoviárias para melhorar os transportes no Norte do Paraná para assim integrar essa região rapidamente ao espírito paranista. 

    A reorientação se deu para reagir ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de São Paulo, que anunciou bombasticamente a construção de oito pontes, distantes 50 quilômetros uma da outra, sobre o rio Paranapanema. 

    O objetivo do governador paulista, o engenheiro Lucas Garcez, era facilitar o escoamento da produção paranaense de café pelo Porto de Santos. Bento as pretendia para o Porto de Paranaguá, projeto de vida de seu pai, o médico Caetano Munhoz da Rocha (1879–1944), que também governou o Paraná, entre 1920 e 1928.

    Solução federal 

    Nascido em Antonina, os negócios de Caetano Munhoz da Rocha sempre estiveram ligados ao litoral, sobretudo ao ser eleito para a Prefeitura de Paranaguá, que administrou entre 1908 e 1915, quando Bento era menino.

    Na Prefeitura de Paranaguá, Caetano se revelou um magnífico administrador. O historiador Romário Martins escreveu que Paranaguá deve a ele “todo o seu progresso urbanístico”. 

    Acabou com a dívida do Município, drenou e aterrou grande parte da zona baixa da cidade, instalou água encanada, fez a rede de esgotos e instalou a telefonia da cidade. Paranaguá perder para Santos a produção paranaense seria uma derrota para Bento. 

    “É justo que queiramos que o café paranaense se escoe pelo porto de Paranaguá”, afirmou o governador em artigo intitulado O café é o nosso sangue.

    “O engenheiro Luiz Carlos Pereira Tourinho, então secretário de Obras Públicas, elaborou um novo projeto […], visando a capitanear a produção agrícola das regiões interioranas para o Porto de Paranaguá” (Elzio dos Reis Marson, No Limiar do Horizonte).

    Herdando do pai sua refinada habilidade política, Bento manobrou para bloquear a iniciativa do governo paulista, defendendo a tese de que as obras de pontes no Rio Paranapanema deveriam ser de iniciativa federal, por envolver dois estados limítrofes.

    Regiões do Estado estavam desconexas

    Embora a Guerra das Oito Pontes desviasse recursos do Oeste para o Norte, o governador conseguiu um desfecho favorável: a federalização das obras as reduziu a cinco pontes, evitando que o grosso da produção do Norte paranaense fosse desviada para Santos.  

    Mas os problemas persistiam porque faltava tudo para o interior, principalmente para o Oeste. Se nos centros urbanos maiores as preocupações se concentravam no aumento do custo de vida, que levou a fortes protestos dos trabalhadores, no interior a luta era por melhor infraestrutura de transportes.

    As necessidades aumentavam. O sempre problemático acesso rodoviário a Foz do Iguaçu via Cascavel agora tinha também a concorrência do acesso a Guaíra e Santa Helena, via Toledo.  

    Também se discutia nos meios geográficos a divisão regional do Brasil. São Paulo, que ainda pertencia ao Sul, em breve se destacará para compor a região Sudeste.

    O Norte do Paraná continuava mantendo mais ligações com a capital paulista que com Curitiba. “A imprensa, por sua vez, criticava o governo do Paraná, que não encontrava meios de ligar a região Norte à Sul” (Elzio dos Reis Marson). 

    No Paraná, se o Oeste e o Sudoeste recebiam a invasão maciça de colonos gaúchos, que traziam do RS costumes e saudades, no Norte araucariano as lideranças eram paulistas e gostariam de acompanhar São Paulo como parte da Região Sudeste. 

    Mesmo calado pela pronta ação do governador Munhoz da Rocha em seus primeiros meses de gestão, ainda se mantinha o projeto de emancipar o Norte do Paraná como novo Estado, de modo a facilitar seu atrelamento a São Paulo e deixar de pertencer à região Sul do Brasil. 

    Obras caras na capital 

    As geadas do início da década de 1950 não abateram o ânimo dos produtores de café e a cultura deu peso ao Paraná na economia nacional, mas em 1953 a obsessão do governador pelas vultosas e caras obras comemorativas do centenário do Paraná criam no interior, especialmente no Oeste, com as prefeituras de Cascavel e Toledo dando seus primeiros passos, uma forte sensação de abandono. 

    Os novos municípios não receberam a ajuda de custo prometida na Lei 790/51 e a oposição criticava acidamente o governador por pretender construir o Palácio Iguaçu, o “elefante branco” central das obras previstas em seu plano para o centenário.  

    Mas o governo do Paraná continuava estimulando as iniciativas particulares de colonização e levou adiante os seus próprios projetos, embora em 1952 já estivessem longe da ampla reforma agrária idealizada por Manoel Ribas, também prometida pelo governador Bento Munhoz.

    O governador começou justamente em 1952 a sentir o peso das dificuldades para levar adiante o projeto inicial de distribuir terras a quem as requeresse, baseado na ilusão de que estar sobre a terra por si só já resolvesse todos os problemas sociais, estruturais e econômicos.

    “Miséria acompanha o progresso”

    Sem crédito para plantações nem estradas para escoar a produção, a terra no máximo propicia subsistência, que significa pobreza. O Estado precisava mais da área federal e não recebia. 

    “A avalanche da onda cafeeira traz riquezas, mas é acompanhada também por multidões de desajustados e de doentes”, afirmou Bento, em mensagem à Assembleia Legislativa. “Percebe-se a miséria que acompanha o progresso”. 

    Tornou-se imperioso ao governo do Paraná incentivar ainda mais a colonização do seu interior, especialmente a região que havia sido podada do Estado na ditadura Vargas: as regiões Oeste e Sudoeste separadas no Território Federal do Iguaçu. 

    A essa altura, as grandes motivações econômicas são a expansão das lavouras de café no Norte e a extração da madeira no Oeste. Com elas, aumentava a corrida entre as empresas colonizadoras e os posseiros pelo registro legal das terras anunciadas como as melhores do mundo. 

    O corretor imobiliário Guilherme Schmitt, representante da Maripá no interior gaúcho, anunciava o Oeste paranaense como “terra de cultura livre de morros, pedras, formigas e rica em águas, clima saudável, terra fértil e de fácil escoamento dos produtos”.

    O exemplo de Altônia

    “O fácil escoamento” era meia verdade: maior quanto à exportação via Rio Paraná, mas pequena em relação à malha viária do interior paranaense. De qualquer forma, os empreendedores que compraram a ideia de criar um interior paranaense forte e produtivo fizeram a sua parte com maestria.

    A Companhia Byington, por exemplo, não hesitou em se lançar à colonização de novas glebas abrindo uma estrada ligando Xambrê a Guaíra pelo Porto Byington, onde construiu uma balsa para a travessia do Rio Piquiri.

    O engenheiro Arthur Bruno Junges decidiu homenagear Alberto Jackson Byington, proprietário das glebas em colonização, e juntando as silabas “Al” de Alberto, “ton” de Byington e finalizando com “ia” de Companhia, deu início a formação da cidade de Altônia. 

    As safras de café produzidas em Altônia se destacaram de imediato pela excelente qualidade do produto, que fez a cidade ser chamada “Rainha do Café”. A Fazenda Ouro Verde, de Gordon Robert Mackinnon, tornou-se um modelo assegurado pelas boas técnicas empregadas no cultivo.

    Iniciativas concretas, com grande poder de convencimento, atraíam muitas famílias à região, casando a abertura de estradas com amplas derrubadas e queimadas. 

    Não sem motivos, o engenheiro alemão Reinhard Maack, conhecedor profundo da terra paranaense, faz um alerta sobre as consequências futuras do intenso desmatamento no interior do Estado, como as modificações no ciclo hídrico e a erosão do solo.

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