Os artistas interessados em participar do 3º Festival Brescianini da Canção têm até esta terça-feira, dia 6 de maio, para realizar suas inscrições. O evento musical, de participação popular, tem como objetivo valorizar os artistas locais e regionais, além de promover a difusão das músicas brasileira e alemã.
Aberto a rondonenses e candidatos de outros municípios, o festival também busca selecionar intérpretes locais para o XX FERMOP (Festival Regional dos Municípios do Oeste do Paraná).A organização é da prefeitura de Marechal Cândido Rondon, por meio da Secretaria de Cultura, em parceria com a PROEM (Fundação Promotora de Eventos).
O Festival Brescianini abrange as categorias alemã (a partir de 10 anos), infantojuvenil livre (de 10 a 15 anos completos até a data do evento), e adulto (a partir de 16 anos completos até a data do evento) nos estilos gospel, popular e sertanejo.O formulário de inscrição e o regulamento completo do festival estão disponíveis no endereço:https://marechalcandidorondon.atende.net/…/festival….
O Festival Brescianini da Canção acontecerá nos dias 23 e 24 de maio, a partir das 19h30, no pavilhão alemão, no parque de exposições. No primeiro dia estarão se apresentando os candidatos inscritos nas categorias infanto-juvenil, alemã e gospel; e no segundo dia, os inscritos nas categorias popular e sertaneja.
Haverá um total de R$ 34,1 mil em premiação. Nas categorias infanto-juvenil, gospel, popular e sertaneja, a premiação será da seguinte forma: 1º lugar, R$ 2 mil; 2º lugar, 1,5 mil; 3º lugar, R$ 1 mil; 4º lugar, R$ 350,00; 5º lugar, 350,00.
Os candidatos rondonenses, além de concorrerem aos prêmios gerais, ainda poderão ser premiados como rondonense melhor colocado (podendo acumular prêmios). Nessas categorias, o 1º lugar de Marechal Cândido Rondon também receberá R$ 1 mil; 2º lugar R$ 700,00; e o 3º lugar R$ 500,00. Já na categoria alemã, haverá premiação somente para os três primeiros colocados, seguindo a ordem: R$ 2 mil, R$ 1,5 mil e R$ 1 mil.
Como novidade, o rondonense melhor classificado em cada categoria (gospel, sertanejo, popular, infantojuvenil e alemã) terá a oportunidade de se apresentar nas festividades da Expo Rondon 2025.
Nas eleições de 1952, Cascavel e Toledo elegeram prefeitos ligados ao mesmo PTB (respectivamente José Neves Formighieri e Ernesto Dall’Oglio), mas Toledo elegeu vereadores com ligações fortes em Curitiba, enquanto os vereadores de Cascavel eram todos ligados ou à sede urbana ou ao seu grande interior.
Esse quadro favoreceu o projeto toledano de se impor como polo do Médio Oeste, cujo traço mais visível foi o plano de ação estabelecido em 1955 pelo contabilista Ondy Hélio Niederauer, oficialmente intitulado “Plano de Colonização da Maripá”, que ia além dos interesses empresariais e se confundia com a própria comunidade e o Município de Toledo.
Nesse caso, a questão suscitada entre os historiadores é por que o plano de projeção regional para Toledo foi divulgado apenas sete anos após o início da colonização, que já começou grande, incorporando a vasta Fazenda Britânia?
Em “Religião, Nomos e Utopia” (https://x.gd/L7P15), o pesquisador Frank Antonio Mezzomo, ao entrevistar Niederauer, soube por ele que o plano foi feito para ser apresentado em Londrina “num concurso promovido pelo Estado do Paraná a fim de apurar o desenvolvimento sócio-econômico empreendido pelas colonizadoras particulares”.
O contorcionismo de Neves
A comunidade definida para ser o polo regional oestino pelo governo estadual era a Cidade Munhoz da Rocha porque Toledo era o domínio de uma empresa madeireira e Cascavel vivia à sombra de conflitos sangrentos, que lhe deram má fama na época.
No livro “Histórias Venenosas” (https://x.gd/cd4Ti), Rubens Nascimento conta que o prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, teve muito espírito de luta e “jogo de cintura política” para impedir que o polo regional fosse mantido em Cidade Munhoz da Rocha ou desviado para Toledo.
Neves conseguiu que o Serviço Geográfico do Exército organizasse o primeiro cadastro urbano da cidade, trabalho desenvolvido a seguir pelos engenheiros Syllas e Paulo Ermel e Paulo Trauczinski, com a participação na equipe de terraplanagem do engenheiro Jorge Moniz “com os seus tratores italianos”, segundo Nascimento.
Quando a Cidade Munhoz da Rocha foi descontinuada pelo governador Adolfo de Oliveira Franco, justamente em 1955, o prefeito de Cascavel trouxe de lá, no interior do atual Município de Braganey, “os postes, transformadores e a usina termoelétrica, fazendo que assim a cidade se visse iluminada”.
O autor menciona também que o prefeito não mediu esforços para defender Cascavel, “inclusive uma vez mandando prender tratores do próprio Estado que pretendiam locar uma estrada de ligação a Toledo, mas que marginalizaria a cidade de Cascavel e o seu progresso”.
Tudo deu certo
Como atestam os passos seguintes, a Cidade Munhoz morreu, mas Cascavel e Toledo se consolidaram ambas como polos do Médio Oeste, além da recuperação da importância de Guaíra como polo do Noroeste. Foz do Iguaçu deixava de ser a única referência no extremo-Oeste paranaense.
Entre 1953 e 1955 a Companhia Byington Colonização S/C Ltda abriu uma estrada ligando Xambrê a Guaíra pelo Porto Byington, onde fixou uma balsa para a travessia do Rio Piquiri, favorecendo assim a expansão dos novos projetos de colonização.
Destaca-se a importância do trabalho de João Macário ao promover o início das ações estruturais que dariam origem à cidade de Altônia.“O que assustava um pouco a gente era a presença de jagunços, que estavam principalmente perto do Rio Piquiri e na linha entre Palotina e Terra Roxa. Assim, ainda em 1955, quando eu tive de ir a Guaíra para obter uns documentos, topei com uma turma de jagunços armados de mosquetão e metralhadora, intimaram a mim e meu companheiro Helmuth que parássemos. Fomos revistados e interrogados” (Severino Gênero, pioneiro de Palotina).
Essas novas frentes de colonização se deram no governo de Bento Munhoz da Rocha Neto, mas ele não deu sequência às iniciativas porque tentou iniciar uma carreira política nacional depois do sucesso à frente do Paraná, que, dentre outros, criou os municípios de Cascavel e Toledo.
Sabotado pelo clima
Renunciando em fevereiro de 1955 na intenção de concorrer à vice-Presidência da República, as turbulências políticas nacional da época frustraram o projeto de Bento. Sem seu mentor, a Cidade Munhoz foi abandonada.
Bento conseguiu ser chamado ao Ministério da Agricultura pelo presidente Café Filho e a expectativa era de que o setor rural recebesse um forte impulso com a presença do paranaense no Ministério.
As condições climáticas, porém, sabotaram o anseio de Bento pela projeção nacional por conta de perdas graves decorrentes de fortes geadas, mas descontado o fracasso da Cidade Munhoz, as consequências positivas de seu governo no Paraná se multiplicaram.
Em março, a Companhia Mate Laranjeiras fez publicar no jornal “Imprensa Paulista” notícia-anúncio intitulado “Guaíra: Porta aberta do Eldorado Paranaense!” A cidade portuária foi apresentada como “metrópole em marcha” em nova publicação, em abril.
Ao mesmo tempo, apesar dos planos estadual e particular de colonização, perduram os conflitos de terras, que depois da Guerra de Porecatu, na região Norte, apresentam-se em estado latente nas regiões Oeste e Sudoeste. Mas se a agricultura padece e os conflitos agrários estão longe de acabar, a eletrificação e o planejamento estratégico avançam.
A Comissão de Planejamento Econômico do Estado (Pladep) surge para passar a limpo os projetos truncados e encaminhar soluções concretas aos problemas existentes. A chave do planejamento que vai nortear o lustro final da década de 1950 é o aproveitamento do potencial econômico e os recursos naturais do Estado.
O General Inverno
Até a metade dos anos 1950 a propaganda sobre a região jamais mencionava a eventualidade de fortes geadas. O “general inverno”, que derrotou tantos exércitos poderosos, também abalaria o café oestino, mas nem com a forte geada de 1955 os cafeicultores desistiram.
“Veio uma geada que matou todas as mudas dentro das covas mesmo. Foi tal o frio daquele ano que gelou água na chaleira que deixamos em cima do fogão, de noite” (Bernardino Borin Filho, entrevista a padre Pedro Reginato).
O agricultor Miguel Silvino dos Santos, depois de ver sua plantação de café totalmente destruída pela geada, tentou uma saída plantando feijão.
Colheu 40 sacas: “Um comprador de cereais me contratou de ir buscar. No dia seguinte, fui combinar o preço e ele disse: ‘Miguel, eu não vou mais comprar feijão. Ninguém quer, nem de graça. Agora mesmo vou buscar um caminhão de feijão que ganhei de presente’” (Cascavel, A Justiça, https://x.gd/vNt04).
Enquanto os produtores que investiram tudo na cafeicultura lamentavam as grandes perdas, aqueles que antes deixaram a monocultura cafeeira para investir em cereais alcançaram o auge no mesmo ano.
É período conhecido como Enchente de Arroz, que traz riqueza aos produtores rurais do Norte paranaense, reportou David Arioch: “Os fazendeiros colhiam pelo menos seis mil sacas de arroz” (https://x.gd/9ViX1).
Novas comunidades florescem
Em torno dessas circunstâncias nascia Terra Roxa, que em 1955 recebeu a primeira família de colonos, chefiada por Nilo Benigno Faya Corte, seguida por Pedro Kanerath e Sebastião Leitão.
O povoamento da região foi iniciativa da Companhia de Colonização e Desenvolvimento Rural (Codal), sob a coordenação de Lucílio de Held, que adquiriu junto ao governo do Estado extensa área de terras da Fundação Paranaense de Colonização e Imigração (https://x.gd/w8L2I).
Bento Munhoz da Rocha, portanto, perdeu a cidade com seu nome, mas diversas outras comunidades promissoras surgiram como consequência da estrutura que iniciou no interior do Estado, como quando a Colonizadora Bento Gonçalves preparou, também em 1955, o perímetro urbano de Flor da Serra. Muitas outras iniciativas logo viriam para pontilhar o Oeste com novas cidades.
100 anos da revolução: Derrota não admitida
O coronel Álvaro Guilherme Mariante, aproximando-se da posição rebelde em Salto, mandou a Miguel Costa recado avisando que Catanduvas havia se rendido e pedia que ele também se entregasse.
“Foi nesse momento de angustiosa expectativa, conhecendo a verdadeira situação em que se encontrava falto de recursos bélicos e rodeado por apenas alguns homens de coragem, Miguel Costa não se perturbou com a fanfarronada legalista” (Reis Perdigão, Folha da Manhã, 30/03/1925).
O general rebelde enviou a resposta por escrito: “Venham! Enquanto ao meu lado palpitar o coração de um brasileiro livre e me sobrar um cartucho, não deporei as armas da revolução!”
Admirado, o coronel Mariante não atacou. Se atacasse, talvez tivesse matado no ninho o advento da lendária Coluna Prestes.
Fortemente fustigados pela artilharia governista, as forças revolucionárias, famintas e exaustas, só se renderam depois de garantir a fuga de seus chefes.
“Cabanas consumira a noite de 30 março cuidando de 100 feridos, espalhados por vários galpões de madeira, transformados em enfermaria, na localidade conhecida como Depósito Central, nas imediações de Foz do Iguaçu, longe dos horrores do front. A maioria dos doentes, deitada em padiolas improvisadas, com partes consideráveis do corpo expostas, em carne viva, queixava-se mais da sarna do que dos ferimentos adquiridos em combate” (Domingos Meireles, As Noites das Grandes Fogueiras).
Os que escaparam ilesos de Catanduvas, passaram pelo Depósito Central da Companhia Barthe e chegaram a Foz do Iguaçu iriam empreender o mais importante movimento militar de todos os tempos: a Coluna Prestes, inspiração para a Grande Marcha chinesa.
Em 16 de junho de 1958, quando o primeiro grande acidente aéreo do Paraná vitimou o então senador e ministro da Justiça Nereu de Oliveira Ramos e o governador de Santa Catarina, Jorge Lacerda, um ousado repórter foi acusado de sequestrar um dos seis sobreviventes da tragédia para assim obter matéria exclusiva – um furo nacional, pelo nível das autoridades envolvidas.
Nereu Ramos desenvolvia uma carreira brilhante e não faltava quem apostasse nele para ser o próximo presidente da República ou primeiro-ministro, no parlamentarismo. Aliás, havia assumido a Presidência interinamente, entre novembro de 1955 e janeiro de 1956, dando posse a Juscelino Kubitschek, que acabara de vencer uma tentativa de golpe de Estado.
O repórter, Osmar “Xiquinho” Zimmermann, foi comunicado do acidente e rapidamente se dirigiu ao local, sendo o primeiro a entrar em contato com um sobrevivente dos 24 relacionados entre tripulantes e passageiros.
Controle do aeroporto não autorizou
O avião em que Ramos viajava, o Convair 440, da Cruzeiro do Sul, prefixo PP-CEP, partiu de Porto Alegre com destino ao Rio de Janeiro e fez escala em Florianópolis antes de cair no Capão do Cerrado, perto da Colônia Muricy, na região de São José dos Pinhais (PR), a 30 km de Curitiba.
Os ventos e a forte chuva daquela tarde atingiram o avião. Já quase noite, às 17h55, o comandante Licínio Correia Dias requereu pouso de emergência ao Aeroporto Affonso Pena, mas não foi autorizado. Conseguiu se manter no ar até as 18h55, quando despencou.
No dia seguinte o jornal O Estado do Paraná noticiou:
“Curitiba, na tarde de ontem, viveu a dolorosa sensação de uma tremenda catástrofe aérea, pois, pela primeira vez, um grande avião de passageiros aqui encontrou o seu trágico fim”.
Naquela noite, assim que a notícia da queda do avião chegou à redação, comunicada pelo sobrevivente Orestes José de Souza, de Curitibanos (SC), o repórter Osmar Zimmermann correu para encontrá-lo e o levou para o jornal.
Os jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná deram, em manchetes: “Em nossa redação um dos sobreviventes!”
“Senti um choque”
A façanha, contou Dante Mendonça em 2008 no próprio jornal O Estado do Paraná, foi considerada como o sequestro do sobrevivente Orestes de Souza, que narrou a tragédia ao repórter Osmar Zimmermann.
“Poucos minutos antes do acidente, o deputado Leoberto Leal passou por mim e disse que estranhava a demora”, contou Orestes. “Em seguida, foi sentar-se junto ao senador Nereu Ramos, que viajava na frente, próximo ao governador Lacerda”.
“Tinha muita cerração, nenhuma visibilidade. Senti um choque. Deu a impressão que o avião se encolhia. Ouvi muito gritos de desespero, pedidos de socorro, na escuridão alguém dizia para não acender fósforos para não provocar explosão. Cinco saíram antes de mim, fui o último a sair dos destroços”.
Orestes perdeu o relógio e andou um quilômetro e meio, sob chuva e ventania, até encontrar uma casa de onde telefonou para informar a tragédia. Um táxi foi apanhá-lo e nele estava o repórter Xiquinho Zimmermann.
Enquanto isso as emissoras de rádio e os jornais incluíam Orestes entre os mortos, erro que se chama na imprensa de “barriga”. A vingança dos concorrentes foi acusar Xiquinho de sequestrar o sobrevivente para o esconder da imprensa nacional.
“Depois de garantido o furo de reportagem”, contou Dante Mendonça, “a vítima foi hospedada no Hotel Ferroviário, na Avenida Barão do Rio Branco, próximo ao jornal”.
Desafiando as mulheres
Nascido em Curitiba a 17 de abril de 1929, em uma família de gráficos, Osmar Zimmermann começou a trabalhar na Editora O Estado do Paraná como linotipista, passando a diagramador e depois repórter.
Em 1967, promovido a chefe da sucursal Oeste do jornal, Osmar, que recebeu o apelido de “Xiquinho”, veio para Cascavel. Na verdade, trabalharia sobretudo como relações públicas do Grupo Paulo Pimentel.
Administrando e sem perder o faro de repórter, empregou vários “focas”, jornalistas que iniciavam carreira. Xiquinho logo se integrou às atividades da cidade, sobretudo na área esportiva, colaborando ativamente com a Liga Regional de Futebol e com as equipes que representavam Cascavel nas divisões classificatória e principal do Campeonato Paranaense de Futebol.
Apoiou também o automobilismo. Por brincadeira, desafiou as mulheres cascavelenses, tão críticas dos homens ao volante, a participar de uma prova automobilística exclusivamente para mulheres.
Múltiplas atuações
Luiz Picoli agarrou a ideia no ar e tratou de programar a corrida feminina. Para organizá-la, contrariou todas as normas de segurança e outros impedimentos de ordem legal. O que lhe interessava é que uma corrida de mulheres atraía as atenções.
A prova foi o que o próprio Xiquinho imaginava de uma corrida feminina: muitas emoções e acidentes (https://x.gd/ZQRIe).
Também presidiu por vários anos a Liga Regional de Futebol de Salão. Em sua gestão, o futsal alcançou um grau de altíssima qualidade técnica e organizativa.
Um de seus feitos foi incentivar a promoção da primeira Festa do Porco Assado no Rolete, realizada em 28 de julho de 1974 em Toledo. Ele, aliás, fez parte da comissão julgadora, ao lado de personalidades como o vice-prefeito Lamartine Braga Cortes e Egydio Munaretto (Frigobrás/Sadia).
Outra contribuição de Osmar Xiquinho Zimmermann foi patrocinar o primeiro livro sobre a história de Cascavel – um enorme volume comemorativo com o tamanho de um jornal tabloide, com capa dura, impresso na Gráfica Requião, em Curitiba, com textos de Celso Formighieri Sperança, seu grande amigo das peladas de futebol em Curitiba na tenra juventude.
Política: diplomacia e “melancia”
A participação comunitária de Xiquinho era tão intensa que ele não teve como fugir ao convite para concorrer à Câmara Municipal nas eleições de 1976.
Integrado à Arena, foi eleito com 974 votos. A legislatura 1977-82 foi muito polêmica e agressiva, a exemplo do embate recente entre bolsonaristas e lulistas. Atualmente o Centrão domina totalmente a Câmara de Cascavel, mas na época havia uma feroz divisão da sociedade e intensa disputa entre a Arena ditatorial e o MDB, ajuntamento de todas as oposições à ditadura.
Xiquinho foi eleito pela Arena, mas votava com o MDB em projetos de interesse geral. Como um político “melancia” (verde por fora e vermelho por dentro), ele sempre tratava de pôr panos quentes nos atritos entre vereadores dos dois partidos, com diplomacia, diálogo e colocando seu corpanzil à frente dos antagonistas para que não brigassem.
Como legislador, seus projetos abrangeram desde a área esportiva até o meio ambiente e a educação. Aliás, não houve setor da vida municipal com a qual Xiquinho não se envolvesse nem se empenhasse em resolver problemas, inclusive advertindo para a necessidade de proteger a mata original, recomendando uma política de reflorestamento.
Com a morte do jornalista Celso Formighieri Sperança, em 1977, Xiquinho, ao lado dos vereadores Marcos Formighieri e José de Oliveira, fez aprovar imediatamente, já em abril, a concessão de seu nome para o Museu Histórico.
Estratégia de campeão
Xiquinho Zimmermann também foi um dos combatentes mais aguerridos nos bastidores na campanha vitoriosa do Cascavel Esporte Clube, que obteve em 1980 o título inédito de campeão paranaense de futebol da Primeira Divisão.
Na época, em Curitiba, ele chegou a ser acusado de “comprar” alguns resultados para o clube cascavelense junto aos árbitros da Federação Paranaense de Futebol. Sem confirmar nem negar, sua versão foi que apenas conversava com os árbitros tentando impedir o sucesso das manobras habitualmente feitas pelos clubes da capital contra as agremiações do interior.
Casado com Julinha Zimmermann, tiveram quatro filhos: Jucelem, Juceli, Mazzo e Percival. Osmar Xiquinho Zimmermann morreu em 10 de outubro de 1991, depois de ter deixado uma vasta contribuição a Cascavel e região, especialmente nos meios esportivos, políticos e sociais.
Julinha também nasceu em Curitiba, em 24 de março de 1932. Morreu em 16 de junho de 2014. O Município de Cascavel homenageou o jornalista curitibano com o nome do ginásio de esportes do jardim Floresta, além de instituir a Medalha do Mérito Esportivo Osmar Xiquinho
Zimmermann, honraria concedida pelo Município por meio da iniciativa dos vereadores, contemplando os maiores destaques locais de todas as modalidades esportivas.
100 anos da revolução: Medo no Cascavel Velho
Recebendo a notícia da queda de Catanduvas, o gaúcho Prestes orientou a coluna a se dirigir para a localidade de Benjamin, onde finalmente iria se encontrar com os rebeldes paulistas.
João Alberto ficou inconformado com a derrota em Catanduvas, supondo que a queda se deveu ao abandono do Estado Maior, posicionado em Foz do Iguaçu.
“Não houve nem preocupação de se preparar a junção das tropas paulistas, com a coluna que veio do Rio Grande do Sul. Nem picadas, nem jangadas, nem balsas, para ajudá-los a atravessar o Iguaçu” (Ruy C. Wachowicz).
Prestes redefiniu a missão dos gaúchos: garantir sua própria retirada para as margens do Rio Paraná e proteger quem conseguiu escapar de Catanduvas.
Assustados com a alternância da passagem de soldados rebeldes e legalistas, os familiares do patriarca Antônio José Elias, que possuía uma propriedade rural no antigo pouso ervateiro conhecido como Cascavel Velho, optaram por se esconder no mato, fora das trilhas batidas, ocultando o que podiam dos soldados famintos.
Enquanto a família se escondia no mato, os mantimentos estocados nos ranchos foram levados pelos soldados governistas.
Acampamento militar governista no Cascavel Velho, em 1925
“No crepúsculo do milênio/ seus filhos e herdeiros /ao tocar os sinos virão / eis a Saga / sonho sem fim”. A letra em Portunhol da canção de Artur de Carvalho, parte da trilha sonora do filme “A Saga”, remonta à obsessão do diretor Manaoos Aristides de criar um filme épico sobre a história do Oeste do Paraná.
Com esforço, desafiando todos os obstáculos, o projeto começou no fim do século XX, em 1999, atravessou a passagem do milênio, parecia não ter fim e só se completou ao cabo de treze anos, em uma minissérie com 16 capítulos repletos de história e romance, cada qual com cerca de uma hora de duração.
Ao longo desse tempo a maioria dos projetos se dispersa, mas A Saga persistiu, estendendo-se por dezenas de cidades e mobilizando cerca de cinco mil pessoas – equivalentes à população de Lindoeste.
Manter a equipe unida na aventura de adaptar histórias, adequar personagens e manter atores por período superior ao de uma novela foi uma façanha sem igual, resultando em uma experiência rara na dramaturgia nacional. “Uma saga dentro da Saga”, como a descreveu o diretor e roteirista Manaoos Aristides.
De fato, ela não teria sido possível sem sua própria saga pessoal, iniciada no curso de Artes Cênicas da Universidade Federal do Amazonas, em 1970.
Apresentado ao Oeste
Concluindo a formação em 1974, Aristides começa seu preparo na TV e cinema com cursos de iluminação, produção e direção. Em 1977, faz o curso de criatividade da Universidade Búfalo (EUA) pela Rede Globo. Fez vários cursos de cinema e televisão, passando pela TV Cultura de São Paulo.
Além de experiências no jornalismo no Jornal do Commercio e TV Cultura do Amazonas, seu contato com a história é de longa data, pois foi professor dessa matéria. Em São Paulo, foi diretor de produção na TV Globo e diretor na mesma emissora no início dos anos 1980.
O primeiro contato com o Oeste do Paraná se deu em 1984, como diretor de criação e produção da TV Tarobá. Depois fez documentários e até videoclipes com vários artistas para o Fantástico, da Globo, e em 1997 foi chamado para ser o diretor de programa do Festival de Parintins, um dos mais importantes do país.
Experiência não faltava, de Norte a Sul do país, para saber que produzir “A Saga” fora do eixo Rio-São Paulo seria uma aventura atrevida, mas a longa trajetória de Manaoos Aristides lhe garantiu amigos que aceitaram o desafio de apresentar ao Brasil o extraordinário manancial de emoções da história do Oeste paranaense.
Amigos como Jorge Fernandes Guirado, que depois de obter êxito na programação da TV Tarobá, passou a liderar o Grupo Catve e participou desde o início do projeto.
Está claro: não é documentário
O que Aristides imaginou, porém, excedia o filme de longa metragem iniciado em 1999, tornado a base para a minissérie com 16 capítulos transmitidos pela TV Brasil entre 2014 e 2017 (https://x.gd/598y4).
Apesar da profusão de fatos, datas e caracterizações de personagens históricos, A Saga não é um documentário. A história é o veículo pelo qual transitam as aventuras e paixões dramatizadas de um personagem fictício – Audálio dos Anjos.
Inspirado em uma personalidade real, Sandálio dos Santos (https://x.gd/U9jzS), que dá nome à biblioteca pública de Cascavel, Audálio, na idade adulta, vai se distanciar da biografia de Santos e aprofundar a ficção.
Só os atores que interpretam Audálio na infância e juventude, respectivamente Daniel Lange e Adilson Girardi, viveram no filme episódios reais vividos por Santos. O adulto Audálio é interpretado pelo ator global João Vitti (https://x.gd/n9BR5).
A imagem heroica de Audálio é construída a partir da realidade, como se vê no segundo e terceiro capítulo de A Saga, mas a partir daí história vai se adequar ao romance.
Bomtempo, desempenho marcante
Nome consagrado no circuito cinema/TV, o ator Raymundo de Souza (https://x.gd/84DZh) viveu o fundador da cidade de Cascavel, Jeca Silvério. No primeiro capítulo de A Saga ele aparece na velhice contando os primórdios da história do Oeste ao menino Gabriel, que se interessa pela história.
Em A Saga, o personagem Nhô Jeca é o coadjuvante de Audálio dos Santos, licença tomada por Manaoos Aristides para que a ficção pudesse fluir entre o heroísmo de Audálio e o romance que no capítulo 5 se desenvolve com seu casamento com Laura (Suzana Pilon), distanciando-se definitivamente da biografia real de Sandálio dos Santos.
As cenas iniciais com a presença do carismático ator Roberto Bomtempo (https://x.gd/7q9jR) interpretando o espanhol Cabeza de Vaca na descoberta das Cataratas do Iguaçu e na premonição sobre Itaipu foram decisivas para dissipar qualquer impressão errônea de que se tratava de um documentário.
Valdir Fernandes (https://x.gd/LNmlF), que interpretou Padre Germano, veio precedido pela força de seus papéis nas novelas mais marcantes da TV Bandeirantes – Meu Pé de Laranja Lima (1980) e Os Imigrantes (1981).
Seu papel em A Saga foi relevante para o conjunto da história. No capítulo 11, por exemplo, ele, Nhô Jeca e Audálio dos Santos ajudam uma família cuja filha foi raptada por um índio, dramático episódio realmente acontecido. O raptor real foi preso pelo verdadeiro Sandálio dos Santos.
Antes do Country Clube
Alguns personagens marcantes foram desempenhados por gente da comunicação e da sociedade cascavelense não exatamente ligados à TV ou ao cinema. Olga Bongiovanni, ex-vereadora e renomada apresentadora de rádio e TV, faz o papel de Madame Hortência, a dona de um bordel.
Aliás, a casa de tolerância, nos tempos pioneiros, não era necessariamente um antro de imoralidade. Era um precursor do Country Clube, ponto de encontro onde muitas decisões eram tomadas. A ficção de Aristides deixa isso bem claro, como no capítulo 7 da minissérie, na qual aparece o líder revolucionário Luiz Carlos Prestes (Danilo Faro).
Outros comunicadores de sucesso também atuaram em A Saga, casos de Amir Kali (Giovani) e Ivan Luiz (juiz eleitoral). O animador Ivan Taborda representou facilmente o Gaudério Antunes. Hoje presidente da Academia Cascavelense de Letras (ACL), o músico e ator Cleiton Costa representou o Índio Miguel. O advogado Leocádio Lustosa fez o revolucionário Siqueira Campos e o artista plástico Nelson Josefi representou Gaudêncio.
No capítulo 6, Aristides destaca sedutoras personagens inspiradas na peça teatral As Vivandeiras, de Alceu A. Sperança, premiada pela Funarte em 2004.
Manaoos Aristides procura contemplar todos os personagens mais relevantes da história, mesmo distantes do tempo ficcional de seu romance. Seguindo a orientação de distanciar a ficção da história real, para que ninguém a tome como documentário, no capítulo 8 o governista Dilermando de Assis (Igor Rickli) consegue prender centenas de rebeldes comandados por João Cabanas, coisa que nunca aconteceu.
A minissérie capta, assim, um sonho de Assis, que pretendia de fato prender os revolucionários, mas fugiu de Foz do Iguaçu antes que eles chegassem ao Oeste.
Ficção x história
No capítulo 12, o diretor encontra uma forma de contar a aventura do tenente Firmino (Eddy Silva, que também se destaca na montagem dos efeitos especiais), importante personagem real, recorrendo às memórias históricas do narrador Terêncio Goulart, personagem fictício que representa o pioneiro vindo para a região na Marcha para Oeste.
Os capítulos finais permitem à ficção se afastar ainda mais da história real para dar um panorama geral da marcha dos colonos ao Oeste. No episódio 16 a peça de resistência é a equilibrada eleição de 1952, em que o prefeito José Neves Formighieri venceu Tarquínio Santos por um voto.
O episódio foi romanceado na minissérie como a derrota de Audálio dos Anjos por um voto para o fictício Samuel Bernardes, vivido por Francimar Alves Müller (https://x.gd/9ZPIK).
Nenhum historiador poderá se queixar de um documentário que não houve e o espectador pôde se deliciar com a ficção sem correr o risco de confundi-la com a história real. De qualquer forma, as “narrativas” costumam sobreviver aos fatos, tornando-se um “sonho sem fim”, como canta a música-tema de A Saga (https://x.gd/u2O3h).
100 anos da revolução: A sina de quem se rendeu
Apesar da promessa de serem tratados como dignos soldados do Exército Brasileiro, os rebeldes que se renderam em Catanduvas tiveram um destino cruel. Foram levados para Clevelândia do Norte, no Oiapoque do Amapá, extremo Norte do Brasil, onde foi criada uma colônia penal para isolar os “agitadores” e “subversivos”, geralmente militares revolucionários pequeno-burgueses, anarquistas e comunistas.
Os primeiros navios-prisão lotados de prisioneiros começam a chegar a Clevelândia do Norte, levando pessoas que o governo considerasse perturbadores da ordem. Foram submetidos a duras condições de sobrevivência, sendo vítimas de violência policial, epidemias, trabalhos forçados e fome.
Após a rendição em Catanduvas, os revoltosos paulistas que escaparam ao cerco trataram de retardar o avanço governista sobre o eixo Catanduvas–Cascavel–Benjamin–Foz do Iguaçu, a fim de permitir a junção com a coluna gaúcha que tendo transposto o Rio Iguaçu marchava para o entroncamento de Benjamin.
A missão impunha a organização de resistências sucessivas. Comandava a força de cobertura o capitão Juarez Távora. A primeira dessas resistências foi organizada na região de Rio do Salto, a fim de garantir o escoamento dos elementos que se retiravam de Centenário.
A Prisioneiros chegando em 1925 ao campo de concentração em Clevelândia do Norte (AP), o “inferno verde”
Olhos atentos para não perder uma cena sequer. Esse foi o cenário de hoje (16) na Biblioteca Pública Municipal de Cascavel. Em alusão ao Dia Nacional do Livro Infantil, a Secretaria de Cultura realizou duas sessões gratuitas do teatro musical “A Arca de Noé”, escrita por Vincíus de Moraes, que encantaram a criançada.
Na aventura, os versos musicais do poeta se transformam em uma grande celebração da infância e da natureza. Com canções inesquecíveis, personagens cativantes, como a abelha, o leão e o pato, e um universo repleto de brincadeiras rimadas, o espetáculo transporta o público para um mundo de bichos falantes, música e emoção. Uma experiência encantadora que une literatura, teatro e música.
O teatro musical inspira os pequenos e motiva o hábito da leitura. “Traz o despertar da criatividade e da imaginação. Quem nunca pegou um livro e começou a ler e imaginar a história? Essa é a função da contação, de materializar aquilo que está no livro, de trazer para a criança algo visual. Há interação com os personagens e isso é importante, pois as crianças se sentem parte dessa história”, explica a bibliotecária Thayse Alérico.
Flávia Oliveira levou o filho, Miguel, para acompanhar a atividade. “Acho muito importante pra eles aprenderem a usar cada vez mais a imaginação. Isso incentiva tanto na resolução de problemas, na aprendizagem. É importante não perder esse hábito de leitura, de ouvir histórias, não é?”, comenta.
Valentin Labastia, de 6 anos, não poupou elogios. “Eu amei. Gostei dos bichinhos miúdos. Eu amo ler, eu tenho até o livro da Arca de Noé”, conta.
A coleguinha Clara Lemos, também de 6 anos, aprovou a peça. “Eu adorei a história. Dou nota 100”.
Para o pequeno Murilo Choles, de seis anos, o teatro foi pura diversão. “Gostei de todas as partes. Foi tudo legal. Eu amo essas histórias”.
BIBLIOTECA
E que se aventurar pelo mundo dos livros? A Biblioteca tem 60 anos de atuação e é um dos espaços querido pelos cascavelenses. O local funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
A Biblioteca recebeu só em 2024 cerca de 14 mil leitores, que utilizaram o espaço diariamente para ouvir a contação de histórias, realizar pesquisas científicas, estudar, ler seus livros preferidos e entre outras atividades. Somente no ano passado, a unidade emprestou 7.458 livros aos cascavelenses.
Com um acervo riquíssimo, com cerca de 85 mil exemplares, entre livros, revistas, artigos, jornais e outros, a procura por empréstimos é intensa.
CARTEIRINHA
Ficou interessado em emprestar os livros da Biblioteca? Para fazer o cadastro, é necessário um documento de identidade com foto, número de CPF, três números de telefone para referência, comprovante de residência e R$ 1 para plastificação.
Atenção, artistas: o 36° Festival de Teatro de Cascavel está chegando. O evento será realizado de 23 de maio a 1° de junho, movimentando o cenário cultural no Município. E para fazer parte dessa história de quase 40 anos, os artistas já podem inscrever seus espetáculos para a mostra. Atores, diretores, produtores e demais profissionais da cidade já podem participar do chamamento artístico. O edital n° 013/2025 foi publicado no Diário Oficial de sábado (11).
Para fazer a inscrição, basta ir na Sede da Secretaria Municipal de Cultura, que fica dentro do Teatro Municipal, localizado na Rua Rio de Janeiro, 905 – Centro, sempre de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h, até o dia 22 de abril. Os profissionais devem apresentar toda a documentação exigida no edital. A inscrição também pode ser feita de forma online, através do envio de toda a documentação pelo no e-mail [email protected] até às 23h59 do dia 22 de abril.
Serão definidos 17 espetáculos. Do total, 14 são para o público adulto, sendo oito no palco do Teatro Municipal ou do Centro cultural Gilberto Mayer e seis descentralizados, em espaços públicos abertos ou fechados, levando a arte para todos os cascavelenses. Já para o público infantil, serão 3 espetáculos de palco. Os profissionais receberão cachê.
A participação no Festival tem como exigência que pelo menos um integrante do elenco tenha Registro Profissional, documento emitido pela Delegacia Regional do Trabalho (DRT).
Poloneses, Ladislaw Boiarski e Watislava Gadonski se conheceram no navio que trouxe suas famílias ao Brasil. Ao descer em terra firme logo se casaram para ter uma prole de cinco filhos brasileiros. Genoveva era a terceira, nascida em 13 de abril de 1919, em Irati (PR). Ela estava destinada a ser a primeira professora de Cascavel.
Ladislaw se deu bem em Irati, onde tinha um depósito de madeiras, mas a mãe havia herdado terras na Polônia e insistiu em voltar. Vendendo o que tinha no Brasil em 1924 para retornar à Europa, a família Boiarski embarcou tendo como destino o povoado de Bertos, nos arredores da capital polonesa, Varsóvia.
Em precioso depoimento a Levi Soares, no qual narrou o início da história urbana de Cascavel, Genoveva contou que na ida à Europa estava com cinco anos e a jornada foi decepcionante: a herança que os pais esperavam foi roubada.Construtor habilidoso, Ladislaw passou a construir casas e vender para recomeçar seu patrimônio, além de trabalhar em uma fábrica de bondes no estofamento dos bancos.
Doença e retorno
Na capital polonesa, a pequena Genoveva recebeu a primeira formação educacional em um bom colégio de freiras, mas todos queriam voltar para o Brasil.
Depois de sete anos na Polônia, Ladislaw já conseguia acumular um razoável patrimônio quando foi acometido de maleita. “Aquela doença foi um suplício, ele urrava e queria sair da cama”, lembrou Genoveva.
Quando melhorou, em 1931, o cunhado João propôs que a família fosse trabalhar na fazenda dele, em Catanduvas. A viagem de volta, em um navio italiano bem abastecido, foram onze dias de festa para as crianças.
Os Boiarski de fato foram para a fazenda do tio João, em Catanduvas, mas um fator novo mudou os planos: a Marcha para o Oeste. Hábil carpinteiro e marceneiro, Ladislaw foi chamado a construir uma casa em uma vila próxima. Era Cascavel.
Ganhando clientes no lugar, para onde várias famílias eslavas se dirigiam pela facilidade de obter terras, Ladislaw foi construindo casas em troca de uma vaca ou cavalo a cada obra.
Do rural ao urbano
Cascavel logo passou a render bom dinheiro aos cascavelenses, o que levou o pai de Genoveva a pensar em se estabelecer no espaço urbano. “Vamos embora para Cascavel, porque aqui em Catanduvas não está dando muito certo, quero ir embora pra lá”, dizia à família.
“Naquele tempo não se chamava Cascavel, era Aparecida dos Portos. Foi papai quem construiu a casa de Jeca Silvério, que morava numa cabana”.
Ao rezar missa na pequena Cascavel, o prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Thiletzek, que era polonês, visitou a família.
“Ele ia sempre lá em casa e viu que eu e a minha irmã estávamos abandonadas, porque em Cascavel não tinha condições de estudar e foi assim que ele se ofereceu para levar-nos para o colégio em Guarapuava”.
Genoveva, já com 13 anos, foi matriculada no Colégio Nossa Senhora de Belém, mantido por freiras alemãs em regime de internato. “Os primeiros poloneses de Cascavel só falavam polonês, então quando fomos estudar não falávamos bem o Português, mas aprendemos rápido. Eu fiquei lá até fazer o Curso Normal Regional”.
“A gente ia e voltava a Guarapuava de carroça. Uma carroça enorme puxada por oito cavalos. Às vezes levávamos de cinco a sete dias para chegar”.
“Tudo era feito a mão”
“Cascavel era uma vilazinha quase perdida no meio da mata virgem, com luz só de lampião a querosene. Quando chegamos a Cascavel só existia a venda [armazém] do Aníbal [Lopes da Silva] e depois abriram a outra, do Chico [Francisco] Bartnik”.
O transporte era todo em carroças. A maior parte das mercadorias vinha de Guarapuava e de Laranjeiras do Sul. Ladislaw levava produtos da região para Guarapuava e lá fazia as compras para a casa.
“A vida era difícil. Tinha que lutar, trabalhar bastante porque não tinha quem fizesse as coisas. Era tudo mato natural. Pra fazer as casas, tinham que derrubar os pinheiros, partir, fazer as tábuas, tanto para as paredes como para o telhado. Era o papai e o meu irmão Wadeco quem fazia.
Eles tinham todas as espécies de ferramentas manuais e serrotes etc. Tudo era feito a mão”.
Com 16 anos, em 1935, chamada pelo líder da vila, Jeca Silvério, Genoveva passou a lecionar. Improvisada desde 1931 em um pequeno rancho de pinho lascado, a escolinha recebeu o primeiro professor, Inácio Ramos, que veio de Foz do Iguaçu. Genoveva, portanto, foi a primeira professora de Cascavel.
Jeca Silvério, líder inconteste
“Comecei a lecionar num cubículo de uma casinha onde um senhor [Inácio Ramos] entregou em minhas mãos umas folhinhas, aí então tomei conta. Depois fomos para a capela de Nossa Senhora Aparecida e dei aulas naquela pequena capelinha até construírem o novo grupo”.Lecionava para todas as séries, da 1ª até a 4ª. “Os livros, os cadernos, tudo era com o Jeca. Era ele quem providenciava tudo. Ele era o manda-chuva. Tudo dependia dele, tanto é que era ele quem me pagava”.
Enquanto Genoveva repartia as turmas com outro professor, Orozendo Cordeiro de Jesus, o grupo escolar estadual era construído na esquina da Avenida Brasil com a futura Rua Pio XII.
Então o Correio Aéreo Nacional criou um posto em Cascavel. Ladislaw construiu a casa da estação radiotelegráfica e a moradia do primeiro militar a servir em Cascavel, o jovem radiotelegrafista José Severino da Silva.
“Ele trabalhava na estação de rádio da aviação. Foi assim que nós nos conhecemos. A primeira vez que o vi ele desceu de um avião. Todo mundo foi ver o primeiro avião que desceu lá no campo de aviação e eu também fui. Nessa época descia um avião uma ou duas vezes por mês.
O interessante foi que assim que ele desceu do avião, ele me notou e eu o notei”.
Namoro e grupo escolar
Severino coordenava os pousos dos aviões do Correio Aéreo. “Ele avisava se podia pousar, se tinha algum impedimento no campo de aviação. Ali passavam cavalos, carroças, passava de tudo. Havia o guarda-campo que cuidava da área”.
“Ele ficou morando e trabalhando em Cascavel e eu dando aulas. Quando eu ia pra casa, tinha que passar perto da casa dele. A primeira vez ele ficou me olhando e fui embora. Dali uns dias ele desceu, ficou sentadinho na beira da estrada debaixo de uma árvore lendo umas revistas”.
Conversaram e o aviador se queixou da falta de livros e revistas. As que estava lendo foram trazidas pelos aviadores. “Então todos os dias eu passava em frente e ele sempre estava por ali. Um dia ele deu uns passos pra frente e foi me acompanhando pelo caminho e aí o namoro firmou”.
Quase ao mesmo tempo as obras do grupo escolar foram terminadas e Genoveva organizou a festa de inauguração com a ajuda do namorado José Severino, já plenamente integrado à comunidade.
“Fui eu que recebi e inaugurei a escola com os meus alunos e fiquei trabalhando lá até me casar. A inauguração da escola foi muito bonita. Eu era solteira e o meu namorado me ajudou. Ele tocava violão, as meninas cantavam muito bem, a minha irmã Stacha tinha a voz muito bonita.
Então nós fizemos assim uma espécie de teatro, com palco e tudo”.
Guaíra e Nordeste
Inaugurando o grupo escolar aos 17 anos, Genoveva distribuía tarefas. “Eu quase que não dava conta com aquilo. Terminava as aulas, eu pedia para os meus alunos varrerem a classe e deixá-la pronta para o dia seguinte, porque naquele tempo não tinha zeladora. Eu escolhia os maiores, um dia um, um dia outro, e eles limpavam o salão”.
Genoveva e José Severino decidiram se casar em 3 de novembro de 1938. “A gente teve que ir a Foz do Iguaçu buscar o padre monsenhor Guilherme Maria [Thiletzek] a cavalo pra vir a Cascavel realizar meu casamento. Então o meu esposo José Severino da Silva não queria mais que eu lecionasse e aí deixei a escola”.
Mais dois fatos novos viriam para Genoveva: a primeira gravidez e a transferência de Silva para Guaíra, onde ele abriu a agência radiotelegráfica para a Aeronáutica, tal como havia feito em Cascavel.
“Os aviões desciam e ele tinha muito trabalho com isso. Em Guaíra não tinha restaurante, nada, e a gente dava o almoço e janta aos pilotos, que dormiam lá em casa. Às vezes os pilotos traziam um baralho e a noite transcorria alegre”.
O casal teve duas filhas, Neide e Neusa. Genoveva morreu em 3 de julho de 2020, com 101 anos, em Curitiba, depois de viver longo tempo em Pernambuco, terra natal de Severino.
100 anos da revolução: Rendição pela metade
“Estillac Leal e mais alguns oficiais e praças, conseguiram fugir de noite, através das linhas inimigas. Após a queda de Catanduvas, Juarez Távora recebeu ordens do general Miguel Costa para cobrir, juntamente com o Batalhão Cabanas, a retirada dos revolucionários no eixo Catanduvas-Cascavel-Benjamin-Foz do Iguaçu” ( Ruy C. Wachowicz).
Escaparam apenas o QG e os elementos que se encontravam na região de Rio do Salto e no flanco Norte em Campanário.
“[…] Foi aí que eu tirei Estillac Leal, Filinto Müller, Nelson de Mello e o Távora e levei para o Paraguai. […] As forças do Governo estavam na Fazenda dos Gomes e no Rio Tormenta brigando com a tropa de João Cabanas e numa noite eu e o tenente Domingos viemos de Catanduvas a pé, até o Rio Tormentinha, para ver se havia inimigos ali. Não tinha ninguém.
“Paralelamente ao Rio Tormentinha havia uma picada que saía na Linha Velha. Quando constatamos que não havia ninguém voltamos ligeiro e avisamos o pessoal: ‘Vamos embora, que dá pra gente sair’. E foi isso que aconteceu: quando clareou o dia, nós saímos na Linha Velha. De lá varamos até Foz do Iguaçu” (Eduardo Agostini, depoimento ao jornal Hoje/Cascavel).
Eduardo Agostini, pioneiro de Santa Tereza, guiou rebeldes derrotados em Catanduvas até Foz do Iguaçu
Foz do Iguaçu se prepara para receber um dos maiores eventos culturais do Brasil voltados aos empregados da Caixa: o Talentos Fenae/Apcefs 2024/2025. De 9 a 12 de abril, a cidade será palco do encontro promovido pela Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa) em parceria com as Apcefs (Associações do Pessoal da Caixa), reunindo cerca de 450 pessoas entre participantes, acompanhantes, torcida e organização, no Rafain Palace Hotel & Convention.
Mais do que celebrar a cultura e a arte, o evento promete impactar positivamente a economia local, movimentando diversos setores, como hotelaria, gastronomia e turismo. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) Turismo 2023, divulgada pelo IBGE no final de 2024, o gasto médio de um turista nacional foi de R$ 1.639 por viagem, com um gasto diário de R$ 243 por pessoa. Considerando esses números, a presença dos participantes e acompanhantes pode gerar uma movimentação econômica significativa para Foz do Iguaçu e região.
A programação inclui passeios turísticos, incentivando os visitantes a conhecerem as belezas naturais e culturais do destino, como as Cataratas do Iguaçu, a Itaipu Binacional, o Parque das Aves, Museu de Cera e Vale dos Dinossauros. Além disso, os participantes poderão conhecer destinos próximos, como Argentina e Paraguai.
“Eventos como o Talentos Fenae/Apcefs ampliam a visibilidade da cidade e incentivam o turismo, beneficiando toda a cadeia produtiva local. Além disso, o evento, que é voltado exclusivamente para empregadas e empregados da Caixa de todo país, é uma oportunidade de interação e integração entre os colegas”, destaca o presidente da Fenae, Sergio Takemoto.
Música e cultura em destaque
O evento contará com apresentações musicais de grandes artistas, como a banda paranaense Denorex 80, que encerra o festival no dia 12 de abril. Conhecida por reviver os hits dos anos 1980, a banda é um símbolo da valorização da cultura local.
Além disso, marcarão presença o cantor e compositor Marcelo Jeneci; a escritora e compositora curitibana Estrela Ruiz Leminski, filha dos icônicos poetas Paulo Leminski e Alice Ruiz; Bia Cyrino, pianista, pesquisadora, doutora em Música pela UNICAMP; Marcelo Mariano, baixista, produtor musical, compositor, arranjador e um dos mais renomados, experientes e requisitados músicos e produtor musical do país. Ele já gravou e acompanhou shows de vários artistas, como Djavan, Ed Motta, Flávio Venturini, Gal Costa, Ivete Sangalo, Jorge Aragão, Leila Pinheiro, Lobão, Lenine, Pedro Mariano, dentre outros nomes.
A condução do evento ficará a cargo de Diana Soares, comunicóloga e terapeuta especializada em saúde mental e liderança.
Exposição de talentos
A reta final do Talentos 2024/2025 acontece depois das etapas estaduais, já realizadas por todas as Apcefs. As obras selecionadas para a fase nacional estão sendo avaliadas por especialistas em cada categoria, que são: Artes Visuais (Foto e Filme), Artes Plásticas (Desenho e Pintura/Desenho Infantil) e Literatura (Contos e Crônicas/Poesia). No caso da Música (Composição e Interpretação), os vencedores serão anunciados ao vivo, durante as seleções nos dias 9, 10 e 11 de abril. A grande final do concurso cultural será realizada no dia 12.
Durante todo o evento, os presentes também poderão conferir exposições de obras dos artistas, empregados da Caixa e seus dependentes.
Não era o que o jovem médico Sandino Erasmo de Amorim havia programado aos 25 anos, decidido a se mudar de Curitiba para Foz do Iguaçu, onde o aguardava uma ótima oportunidade de trabalho no início de 1958.
No caminho para a fronteira, ouviu no ônibus relatos pavorosos sobre um lugar por onde logo teria que passar: Cascavel, sobre o qual se dizia haver crimes sangrentos até dentro da igreja. Os crimes de fato aconteciam, mas na região do Rio Piquiri, onde havia conflitos de terras.
O crime dentro da igreja era um exagero. Na verdade, ocorreu um assassinato ao final de missa dominical diante da antiga igreja de madeira de Santo Antônio, na mesma localização da atual. Em raro crime passional, uma adolescente foi morta por um rapaz com quem ela se recusou a namorar.
Em todo o caso, o plano de Amorim era chegar de imediato a Foz do Iguaçu e lá se estabelecer. Aí teve o grande “azar”: o ônibus quebrou justamente naquela pequena cidade de nome assustador – Cascavel – e o médico se viu na contingência de procurar um hotel para pernoitar.
Abrigou-se no Hotel Americano, construído para receber os aviadores do Correio Aéreo Nacional. Ali, a noite começou desastrada, mas acabaria calma para aquele jovem goiano de Jaraguá.
Encontro providencial
No início da década de 1950, Sandino foi cursar Medicina na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, enquanto trabalhava no Hospital São Vicente, que pertencia ao tio Benedito Amorim, irmão de seu pai.
Formado em 1957, tudo havia sido uma existência bafejada pela sorte. Só em Cascavel ele iria amargar o primeiro imprevisto sério: o ônibus avariado. Mas sua má impressão se desfez naquela noite ao ser apresentado no hotel ao farmacêutico Jorge Pereira do Vale.
Com farmácia na atual Rua Sete de Setembro, atualmente loja Bigolin, na esquina com a Rua Rio Grande do Sul, Jorge morava no Hotel Americano.
Pertencente ao gaúcho Fabrício Vieira de Mello, alcunhado de “Americano”, o hotel ficava na esquina da Avenida Brasil com a atual Rua Antônio Alves Massaneiro, onde futuramente se instalaria uma agência do Banco do Brasil.
Ali Amorim foi arrancado da boataria que trouxe na cabeça a respeito de Cascavel e se rendeu ao apaixonado otimismo de Jorge, que vivia na cidade desde 1946, quando prestava serviços de enfermagem aos operários que construíam a futura BR-277.
A noite de preocupação que Amorim considerou o pior azar de sua vida foi dissolvida pelo ânimo conquistado ao conhecer o farmacêutico Jorge. De resto, ainda sem a Ponte Internacional, Foz do Iguaçu era tida como um fim de mundo, até porque o pior trecho da viagem era justamente entre Cascavel e a fronteira.
A sorte: bem localizado
O médico, depois desse excelente contato e ao se inteirar das estatísticas surpreendentes de Cascavel, logo reconheceu o potencial de progresso da cidade e resolveu nela se instalar.
Foi um golpe de sorte conseguir seu primeiro consultório, nos altos da Farmácia São Roque, na Avenida Brasil, na época também sua moradia, pois ainda era solteiro. Mais tarde casou-se com a professora Dione Zeni, com quem não chegou a ter filhos, e morou na Rua Barão do Serro Azul.
Segundo médico a se instalar na cidade, depois de Wilson Joffre, Sandino se notabilizou por fazer o que na China se chama de “médico-de-pés-descalços”, ou seja, o tradicional médico da família.
Seguia às casas dos pacientes de bicicleta, como um operário indo para o trabalho. A diferença é que no lugar da marmita levava a maletinha com o estetoscópio.
O primeiro médico, Wilson Joffre, atendia no Hospital Nossa Senhora Aparecida, de sua propriedade, enquanto Sandino visitava os pacientes em suas casas, muitas de difícil acesso, devido à precariedade ou inexistência de ruas.
A casa desocupada
Desde março de 1958 já instalado em Cascavel, os casos em que o internamento era necessário o médico Amorim inicialmente levava ao Hospital Nossa Senhora Aparecida, de Wilson Joffre.
Mais tarde, operava no Hospital Nossa Senhora da Salete, do médico Edo Peixoto. Depois instalou seu próprio hospital, o Santa Catarina, na Rua São Paulo, em sociedade com Luiz Carlos de Lima.
A negociação para obter a área foi mais um golpe de sorte para Sandino, mas um grande azar para o ex-inspetor estadual de Terras e vereador, José de Oliveira, que morava próximo ao Colégio Auxiliadora, em excelente localização.
Lima e Amorim se aproveitaram que nos primeiros dias da ditadura 1964–1982 (https://x.gd/UisuA), o inspetor estava foragido, acusado de participar da oposição ao governo, e sua casa estava livre.
Oliveira autorizou o uso do imóvel, um casarão de madeira que Amorim considerou funcional para o Hospital Santa Catarina, mas pretendia em breve construir um vasto hospital, à altura das necessidades da região.
Em seus planos estava trazer o irmão Adarcino Adolpho de Amorim, formado em Clínica Geral pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, em 1970. Ele efetivamente veio e se tornou de imediato outra grande referência na medicina local, mesmo também tendo seus azares.
O Fusca de Edi Siliprandi
Sandino, concentrado na medicina, demorou a perceber que seu maior azar se deu uma década depois de chegar: não imaginar que Cascavel cresceria muito mais do que ele supunha.
Era o dono de 55 milhões de alqueires, terras sem grande valor na época. O advogado Edi Siliprandi chegou a Cascavel em 1966 e ao fazer a barba com Teodoro Nardi soube daquelas terras maravilhosas com valor bem abaixo do mercado em Pato Branco, onde morava e tinha imobiliária.
Siliprandi, vindo com a missão de propagar o Estado do Iguaçu, sentiu para onde o vento da prosperidade soprava. “Fiz um contrato com o Amorim. Ele me dava a concessão de venda, eu loteava”.
Surgiu assim o loteamento Esmeralda. Quando Edi começou a ganhar dinheiro vendendo os terrenos, com a explosão imobiliária que veio com a soja, Amorim quis desfazer o negócio.
“A documentação dessa venda em cartório desapareceu como que por encanto”, disse Edi, que se sentiu prejudicado e recorreu à Justiça. Por fim o médico e o advogado se entenderam: Siliprandi acrescentou mais um valor razoável em dinheiro e completou o negócio com um Fusca – automóvel Volkswagen lançado em 1958.
Azar nas alturas
O projeto de Sandino Amorim de construir um grande hospital não pôde ser concretizado porque a morte lhe sobreveio repentinamente, no dia seguinte ao Natal de 1975, em acidente aéreo, aos 43 anos.
Foi também a cota de azar do irmão Adarcino, que se viu na contingência de assumir a direção do Hospital Santa Catarina e tentar dar forma ao sonho do irmão falecido. As dificuldades conjunturais da época – a crise mundial do petróleo e a Década Perdida da ditadura (anos 1980) – inviabilizaram o projeto e a casa de saúde foi vendida a médicos estabelecidos em Nova Aurora, que mantiveram por logo tempo a denominação tradicional.
O irmão médico Adarcino Adolpho Amorim também nasceu em Jaraguá (GO), em 12 de fevereiro de 1941. Formou-se clínico geral pela Universidade Federal do Paraná, com especialização em Pediatria, e ao chegar ao Oeste se assustou com a desnutrição, a verminose e o peso das superstições e crendices nos costumes das famílias, tratadas só a orações, benzimentos e ervas catadas no mato.
Casado com Janete Maria Lunardi, três filhos, Adarcino foi secretário Municipal da Saúde na primeira administração Tolentino (1983–1988). Vereador em 1992, defendeu a adoção do programa de planejamento familiar que desenvolveu na Prefeitura e o tornou conhecido em todo o país, que tinha como item a laqueadura de trompas para mulheres pobres. Morreu em 10 de setembro de 2012.
Providencialmente, um ano após a morte de Sandino começava a se realizar ao lado de sua antiga propriedade, no bairro Esmeralda, o grande sonho que a fatalidade não lhe permitiu concretizar: surgia o Hospital Regional, atual Universitário.
100 anos da revolução: Nereu Guerra, o herói
Sem confessar o vexame do combate entre suas próprias forças, o caudilho gaúcho Borges de Medeiros mentiu ao presidente Bernardes por telegrama:
“Capitão Prestes com 180 homens, quando descia em canoas o Rio Uruguai, foi descoberto destacamentos legais e obrigado também internar-se na Argentina com alguns oficiais”.
Na verdade, Prestes atravessou o Rio Iguaçu na altura da foz do Rio Floriano, mas já era tarde para socorrer os rebeldes paulistas no Paraná. Em 28 de março de 1925, na vã esperança de receber os soldados gaúchos em Catanduvas, a resistência rebelde não tinha mais salvação.
No dia 29, às 19h, a rendição foi definida. Seria formalizada na manhã seguinte. Entretanto, às 21h, com os governistas a 200 metros de sua retaguarda, os rebeldes receberam um bilhete do capitão Nereu Guerra: entregar-se já, porque o assalto às posições de Catanduvas seria no alvorecer do dia 30 e não lhe era possível sustar a ordem, vinda de cima.
“Não havia razões para deixarmos de atender àquele apelo. Não era só a nossa vida que estava em jogo; era a de quatrocentos companheiros dedicados que se sacrificaram durante muitos meses, combatendo com fome, com sede sob a chuva, maltrapilhos e friorentos.
“Eram duas horas do dia 30 quando chegamos às posições governistas, de cabeça erguida, sem sentir humilhação de espécie alguma, não tendo havido lágrimas, nem outros pieguismos semelhantes. Estava encerrada, apenas, uma fase da campanha” (Tenente Castro Afilhado, citado por Hélio Silva em A Grande Marcha).
A Aviso de Nereu Guerra aos rebeldes para se render poupou muitas vidas. Em 1931 ele foi assassinado
O Ipardes desenvolve atualmente uma pesquisa para identificar o perfil socioeconômico dos paranaenses que tornará mais fácil planejar o futuro.
A falta de planejamento sobre o Oeste do Paraná nos anos de chumbo da ditadura se abateu de forma chocante sobre as famílias da região, levando ao êxodo rural e ao inchaço das cidades.
No período 1964–1970, segundo a Federação da Agricultura do Paraná, foram erradicados 526 milhões de cafeeiros, liberando 723 mil hectares de terras antes ocupados com o café. O elevado desemprego no campo multiplicou o número de boias-frias (trabalhadores volantes).
A incapacidade do governo para responder ao fenômeno previsível do êxodo rural gerou violência no campo e insegurança urbana. A criminalidade disparou nas cidades, sem estrutura para atender à população concentrada nas periferias e formando favelas.
Com o desequilíbrio socioeconômico no campo, a criminalidade crescia e o crime organizado se introduzia nas polícias, retomando o que já havia ocorrido na cumplicidade com os jagunços nos anos 1950.
Imprevidência incentiva o crime
O padre João Corso observou que o aparecimento de um exército de crianças abandonadas nas cidades foi consequência do êxodo rural e do empobrecimento dos camponeses.
Diante dos fatos, o juiz Elio Enor Engelhardt propôs um esforço para tirar das ruas centenas de crianças abandonadas por retirantes e condenados à prisão, que cresciam e se tornavam adolescentes recrutados por quadrilhas para roubar e se prostituir.
Surgiu assim no final de 1971 a Fundação da Indústria Turística para Reclusos e Menores de Cascavel (Fiturmel), autorizada a construir um abrigo para menores, origem do Recanto da Criança.
A modificação do perfil regional de população majoritariamente rural para crescentemente urbana ficava bem clara: cerca de 100 mil propriedades rurais com menos de 20 hectares desapareceram no Paraná entre 1970 e 1980.
“Os pequenos proprietários passaram a arrendar suas terras aos grandes proprietários. (…) A pequena propriedade está atrelada à grande produção de soja, já que a cultura em grande escala utiliza tecnologia química e mecânica, que acaba por eliminá-la do processo produtivo” (Marionilde Brepohl, em Arrendantes e Arrendatários no Contexto da Soja 60–80).
Wilson avisa: situação grave
Em 1976, para enfrentar os efeitos da crise mundial do petróleo, o ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, impôs ao país o chamado Pacote de Abril, que deveria vencer a inflação e reduzir o déficit público, mas foi um fracasso.
Ao assumir a Prefeitura de Cascavel, em 1977, o empresário Jacy Scanagatta, ele próprio de origem rural, assombrou-se com a enorme expansão do perímetro urbano da cidade, com bairros novos que não atendiam às exigências legais.
Em 15 de novembro de 1980, o advogado Wilson Carlos Kuhn, líder ruralista e ex-prefeito de Toledo, alertava para a gravidade do êxodo rural e consequente esvaziamento do campo, que reclamavam solução imediata.
A solução não veio e no futuro os anos 1980s passariam à história como a Década Perdida. Com cerca de 16 mil famílias de agricultores sem terras se arrastando pelo Paraná, o número de boias-frias ultrapassava os 450 mil.
Só pedir não resolvia
Cascavel finalmente parou em julho de 1983 com um grande tratoraço de protesto. O governo havia sofrido uma grande derrota nas eleições do ano anterior, mas permanecia inoperante.
Em 1985 o Departamento de Economia Rural da Secretaria de Estado da Agricultura (Seag) anunciava que mais de sete mil propriedades rurais foram vendidas em pouco tempo nas regiões de Cascavel e Toledo, fruto da descapitalização e proletarização dos produtores rurais.
Quem se mantinha no campo sofria com escassez de mão de obra. O boom imobiliário decorrente do êxodo rural arrastava ainda mais trabalhadores do campo para a cidade. Transformavam-se em operários e comerciantes ou tinham a migração para as regiões Norte e Nordeste como alternativa.
As prefeituras tentavam a abertura de frentes de trabalho para ocupar a mão de obra dos desempregados – os boias-frias. Por incompetência e corrupção, a ditadura se esgota em 1985 sem criar regras democráticas, deixando o chamado “entulho autoritário”.
O cenário era desolador: a Coopavel em crise e no Sindicato Rural os dirigentes fazendo empréstimos em seus próprios nomes para custear compromissos da entidade.
Kuhn alertou que uma solução só viria “quando for implantada uma real política agrícola para o País, não sujeita a improvisações e imprevistos”, chamando sitiantes, fazendeiros e sem terras a formar um grande movimento de reivindicação.
A democracia a caminho
Em junho de 1985, já sem repressão ditatorial, começa o confronto aberto, que se arrastará pelos próximos dez anos. Já em agosto, quatro mil boias-frias, arrendatários, posseiros, meeiros, minifundiários e trabalhadores rurais expulsos da terra se reúnem diante da Catedral de Cascavel na Marcha da Panela Vazia, apoiada pela Pastoral da Terra da Igreja Católica.
Desta vez houve uma resposta do governo. Em fevereiro de 1986, o Plano Cruzado causou muito agito midiático e algum refresco, mas foi mais um dos costumeiros voos de galinha, nos quais a euforia é seguida de forte frustração.
Diante da persistência da crise, o Núcleo dos Sindicatos Rurais do Oeste propôs fechar o Banco do Brasil e as prefeituras em 3 de março caso o governo não atendesse às reivindicações dos agricultores.
Como a união deles crescia em força, para dividi-los no processo constituinte uma efêmera entidade chamada UDR (União Democrática Ruralista) veio isolar os pequenos dos grandes agricultores e diluiu sua força.
“O pequeno e o grande produtor eram um só, que é como sempre deveria ser. Juntaram-se em movimentos sociais, passeatas, porque todos os planos financeiros que o governo fez prejudicaram os agricultores. Nós estávamos todos falidos. Chegamos no Plano Bresser com todos os agricultores quase em situação de insolvência” (Sady Lazari, presidente da Sociedade Rural).
Os combates decisivos
Ainda unidos, em fevereiro de 1987 cerca de 300 agricultores ocuparam o centro de Cascavel com ceifadeiras, tratores e outras máquinas e implementos em protesto. A BR-277 foi fechada com máquinas agrícolas.
O movimento do campo, reunindo de fazendeiros a sem-terras, chega ao clímax em 10 de março, quando fecharam as agências bancárias exigindo a redução dos juros e a reordenação da política agrícola.
O desemprego no campo aumentara 600% em poucos meses, apresentando um quadro insuportável de mais êxodo rural, inchaço urbano e precarização das condições de vida na periferia, com o aumento da violência e da insegurança.
Wilson Kuhn estimou que a nova Constituição trazia liberdade e democracia, mas até entrar em vigor era preciso manter a luta diária, pois em 1989 ela ainda era só uma promessa.
Por isso, em 16 de junho, no conjunto de protestos conhecido como “o Levante da Soja”, os produtores paralisaram parcialmente a BR-277. Três dias depois, cerca de 500 sojicultores bloquearam totalmente a rodovia.
O movimento prosseguiu por toda a segunda quinzena do mês, inclusive com a queima de uma colheitadeira na pista da BR-277.
O Censo Demográfico de 1990 (IBGE) definiu claramente o esvaziamento da área rural: na região, o número de propriedades abaixo de 10 hectares caiu a menos da metade, 23.631, em relação a 1975. Por outro lado, as de cem a mil hectares subiram de 1.742 para 2.295.
O fim do pesadelo
Era uma situação irreversível, mas finalmente a democracia avançou e as pressões funcionaram. “Conseguimos uma grande conquista em 1994, que foi a renegociação da dívida de todos os produtores com 25 anos de prazo para pagar, com pagamento vinculado ao preço mínimo do milho e isso foi a salvação da agricultura naquela oportunidade”, observou Modesto Félix Daga, diretor do Sindicato Rural. Nascia o Plano Real, que com a nova Constituição deu estabilidade ao país.
“Profissionais liberais passaram a investir recursos na aquisição de propriedades rurais, conferindo aos agropecuaristas da região um novo e dinâmico perfil sociocultural. São engenheiros, médicos, dentistas e advogados, que diversificaram suas atividades e investiram capital na aquisição de terras” (Irene Spies Adamy, Entidades Rurais Patronais do Oeste do Paraná e o I PNRA).
Não era mais o Oeste do Paraná atormentado pela expulsão das famílias das décadas anteriores. O descuido com o planejamento no período anterior à Constituição de 1988 cedia espaço aos cuidados com a realidade rural e urbana.
100 anos da revolução: Combates intensificados
“No dia 25 de março de 1925, [padre] João Gualberto chegava ao lugar Tormenta Grande, local aberto e cercado de pinheiros, a duas léguas de Catanduvas, onde os rebeldes haviam acampado e escavado muitas trincheiras.
“Havia balas e cartuchos em abundância espalhados pelo solo. Naquele local, os rebeldes foram cercados por um contingente legalista composto em sua maioria por baianos. Houve luta por dois dias inteiros, quando outros legalistas vieram em socorro dos baianos, afugentando a maioria e prendendo alguns dos rebeldes.
“Foram registradas muitas baixas. Uma casa que havia no local estava esburacada pelos tiros. Uma granada atravessou a parede, mas não explodiu. A família que ocupava a casa teve tempo de fugir para o mato”.(João Olivir Camargo, Nerje)
Enquanto isso os legalistas tomaram mais posições estratégicas nas cercanias de Catanduvas, como a Fazenda Floresta e Cajati, localidade ocupada dia 27 de março no flanco direito dos revolucionários. Eram mil homens do governo contra 30 rebeldes.