Categoria: Cultura

  • Boi cascavelense evita deserção em massa

    Boi cascavelense evita deserção em massa

    Como quase todos os soldados do 1º Batalhão de Fronteira, Júlio Bruczcnitski trabalhava com os pais na lavoura quando foi chamado a cumprir serviço militar em tempos ainda tensos de pós-guerra. 

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    Filho de pai polonês e mãe ucraniana, Júlio nasceu em Irati (PR) em 1925. A família trabalhou em Laranjeiras do Sul na época em que essa cidade recebeu o nome de “Iguaçu” e toda a região formava o Território Federal, somada ao Sudoeste do Paraná e Oeste de Santa Catarina.

    Em 1946, Júlio foi apanhado em pleno trabalho na roça pela convocação para se apresentar ao serviço militar. Foz do Iguaçu foi o destino escolhido pelo grupo de jovens de Laranjeiras do Sul em idade de servir ao Exército, por conta da propaganda Paraná Maior, com a qual o Estado assegurava progresso para quem escolhesse viver na região. 

    “Era desejo meu e de um grupo de amigos que íamos prestar o serviço militar e queríamos vir para a fronteira. Nosso desejo foi satisfeito pelos militares e, em fevereiro de 1946 embarcamos num comboio de quatro caminhões e viemos para cá” (depoimento a Juvêncio Mazzarollo, Gazeta do Iguaçu, 23/6/93).

    Vindos de toda a região do centro paranaense, os caminhões foram alugados pelo exército porque na época não havia linhas regulares de ônibus entre Laranjeiras e Foz do Iguaçu.

    Canhões e jipe anfíbio

    Ao todo, eram 140 os novos recrutas a ser entregues ao 1º Batalhão. Foram oito dias de viagem, iniciada aos gritos felizes e algazarras até alcançar o primeiro dos inúmeros atoladouros encontrados pela expedição.

    “Choveu muito na viagem, tivemos que tirar os caminhões dos atoladouros no braço. Já no caminho havia recrutas querendo voltar para casa, desertar” lembrou Júlio. “Mas chegando a Cascavel recobramos o ânimo: o comandante conseguiu um boi e nos serviu uma churrascada. Mais adiante carneamos um porco”. 

    Ao chegar à fronteira, alcançado o ponto final, na Sanga Funda, Júlio contou que dormiu em pé, encostado a um caminhão, tamanho era o cansaço que sentia. “Tomamos banho e ganhamos farda nova para vestir. A roupa que tínhamos no corpo jogamos fora, pois estava toda rasgada e suja devido às peripécias da viagem”.

    A Segunda Guerra havia acabado em 1945, mas o regime no quartel permaneceu o mesmo dos tempos em que os militares viviam diante da possibilidade permanente de ser chamados para a guerra. 

    Além dos tradicionais fuzis, o Batalhão de Fronteira contava com metralhadoras, morteiros “e uns pequenos canhões puxados por burros – só mais tarde passaram a ser puxados por Jeep”, detalhou Júlio. “Tínhamos inclusive um Jeep anfíbio”.

    Das armas às obras

    “Frequentemente o comandante determinava uma prontidão, para exercício”, recorda Júlio. “Soldados e ex-soldados tinham que se apresentar, e ai de quem não atendesse à convocação. Do quartel saíamos em marchas pela cidade. Quase todos os sábados desfilávamos pela cidade. Eu era do serviço de comunicações e tinha que carregar nos braços aqueles rádios e amplificadores pesados e enormes, que funcionavam com baterias”.

    Depois de três anos no quartel, Júlio se viu promovido a cabo e foi encarregado de comandar o pessoal que aterrava o banhado existente no local onde foi construído o primeiro prédio, à entrada do Batalhão.

    Então, ou Júlio esperava a promoção a sargento ou embarcava no surto de desenvolvimento do Oeste paranaense dos anos 1950. A vanguarda, agora, era a construção civil: as casas se multiplicavam na face urbana de Foz do Iguaçu. 

    Cinco dias depois de dar baixa, já metido em obras, Júlio foi chamado de volta pelo comandante do Batalhão com a promessa de imediata promoção a sargento.

    Mas não quis voltar à vida militar, a não ser por uma satisfatória participação nas obras de um barracão para o quartel instalado em Guaíra, origem da 15ª Companhia de Infantaria Motorizada, que em 1949 se limitava a uns poucos galpões cobertos de capim.

    Em 1950, além de construir novas casas na fronteira o agora construtor Júlio Bruczcnitski passou a fazer a instalação da rede elétrica nos novos espaços urbanos. A energia provinha da Usina São João, instalada no Parque Nacional.  

    Depois passou a também fazer a entrega das contas de luz nas casas e trabalhou na construção da Usina de Ocoí, que futuramente seria inundada pelo lago de Itaipu.  

    Telefone, arma contra o crime 

    As moradias de Foz do Iguaçu já contavam com energia domiciliar, mas o telefone ainda era um luxo inalcançável. A instalação do primeiro aparelho foi motivada por uma situação tensa.

    Ao contrário do sogro, Mário Câmara Canto, primeiro diretor do Parque Nacional do Iguaçu, o fiscal Francisco Guaraná de Menezes não gostava de usar armas sequer para a proteção do lar. Gostava de cavalos e das carreiras, preferindo morar na chácara e não na cidade. 

    No entanto, segundo a esposa Ana Alda, que se casara com Menezes em 1946, ele tinha a casa de campo sempre vigiada por contrabandistas que acompanhavam as movimentações do fiscal. 

    Em 1949, porém, o marido sofreu um forte abalo emocional que o levou a se preocupar com a segurança da família ao se deparar na vizinhança com um assalto seguido de morte.

    A mulher assaltada, segundo Ana Alda, clamou pelo socorro do desarmado Menezes aos berros antes de ser executada com vários tiros. A partir desse episódio infeliz, o fiscal decidiu instalar um telefone na residência da família, para segurança da esposa e dos filhos, contou Ana Alda (depoimento a Adriana Alencar, revista Cabeza nº 11, julho de 2003).

    O despreocupado fiscal que gostava de cavalos de raça passou a ser um cidadão vigilante e dois anos depois daquele angustiante episódio ele seria eleito para a Prefeitura de Foz do Iguaçu.

    O curioso caso da Rua “Osvaldo” Cruz

    Tendo recebido a oficialização de seu distrito policial logo em 1934, a polícia de Cascavel estava instalada desde 1947 na quadra delimitada pelas atuais ruas Pio XII, Osvaldo Cruz e Rio Grande do Sul.

    Sobre a Rua Osvaldo Cruz, com essa grafia errada (o nome correto do célebre sanitarista é Oswaldo Gonçalves Cruz), deu-se um curioso episódio. 

    Desde os anos 1950 era de conhecimento geral que a grafia estava errada e a Câmara se dispôs a corrigi-la, mas não agiu. Assim, em 31 de dezembro de 1966, com a morte de Jeca Silvério, iniciador da cidade de Cascavel, o prefeito Odilon Reinhardt se adiantou e decidiu trocar o nome errado “Osvaldo” pelo nome de José Silvério.

    Não se sabe porque, mas a lei 480/67, que fez a correção, jamais foi cumprida. As disposições em contrário não foram revogadas e até hoje a rua continua com o mesmo nome e a grafia errada, depois de meia dúzia de prefeitos e centenas de vereadores indiferentes.

    Quanto à polícia, a instalação da delegacia na quadra citada, próxima à então Praça da Matriz (hoje, Praça Getúlio Vargas), reunia desde a escrivania até a detenção. Sendo na época o coração da cidade, foi também nessa quadra que o governador Moysés Lupion determinou em 1947 a construção do novo e amplo grupo escolar da cidade, cumprindo promessa de campanha eleitoral. 

    Pátio da escola, a “TV” dos presos  

    Lupion anunciou em 1949 que havia aberto 500 escolas no Estado – e a de Cascavel foi uma das primeiras do rol. Seriam escolas rurais, apenas com a primeira série e uma cartilha bem simples para facilitar aos professores sem grande preparo a aplicação do método rápido.

    O responsável pela educação do Estado, professor Erasmo Pilotto, tomou diretamente para si a tarefa de instruir os professores rurais, com a “oferta de cursos de aperfeiçoamento para professoras, geralmente leigas, que trabalhavam em escolas rurais” (Jehnny Zélia Kalb Facchi, História da formação de professores em Cascavel entre 1951 e 1971: a trajetória das escolas normais Carola Moreira e Irene Rickli).

    Assim se formava o Oeste do Paraná entre o fim dos anos 1940 e o início da década de 1950: roceiros que se tornam bravos soldados, militares construtores e meninas pobres levadas aos cursos de formação propiciados pelo secretário Erasmo Pilotto.

    O grande Grupo Escolar de Cascavel, obra-símbolo do governo Lupion, tinha o pátio de recreio vizinho à carceragem da polícia, mas eram tempos em que as obras importavam mais que nuances e moralismos.

    “Construíram a cadeia muito próxima, de fundos com a escola. Na hora do recreio os presos se distraíam assistindo, agarrados às grades, o futebol dos meninos e as cantigas de roda das meninas” (Maria Tereza Samways Lazari, aluna da escola na época).  

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Inédito festival de música instrumental encerra temporada no PR com apresentação gratuita em Cascavel

    Inédito festival de música instrumental encerra temporada no PR com apresentação gratuita em Cascavel

    Em sua primeira edição, o “Circuito Terra Instrumental”, festival inédito para celebrar a produção da música instrumental no Brasil, irá reunir quatro atrações de diferentes cidades do Paraná para o show de encerramento da temporada 2023. A apresentação musical será no próximo dia 1º de julho, a partir das 19h, no Teatro Municipal Sefrin Filho, em Cascavel. A entrada é gratuita e aberta a toda a família. O evento conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura. 

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    Entre as atrações da noite, estará a Orquestra Paranaense de Viola Caipira, de Cascavel; a banda Hoovaranas de Ponta Grossa; e da capital Curitiba, haverá a participação da Bananeira Brass Band e da pianista Lilian Nakahodo. Além das apresentações musicais, compõem o eixo principal das ações do programa uma residência artística, a gravação de um videoclipe e oficinas educativas de audiovisual e do universo da música instrumental, bem como um mapeamento cultural de cada cidade. Todas as atividades são disponibilizadas de forma gratuita, no site www.circuitoterra.com.br e nas redes sociais oficiais do projeto, pelo facebook e instagram @cirucitoterra. 

    Vários estilos em uma noite 

    As atrações do show de encerramento vão mostrar a versatilidade da música instrumental brasileira. A banda Hoovaranas vem cativando a cena independente e alternativa brasileira com suas canções instrumentais que mesclam post-rock, jazz, rock progressivo, shoegaze, rock psicodélico e música popular brasileira. Indicado ao Grammy Latino 2022 na categoria Melhor Projeto Gráfico de um Álbum, a Bananeira Brass Band, é uma fanfarra popular dançante brasileira, com um repertório do grupo mistura gêneros musicais que vão do funk ao baião, explorando ritmos dançantes de todas as regiões do Brasil. 

    Outra atração é Lilian Nakahodo. Pianista, compositora, produtora e editora de áudio, ela transita entre o instrumental e o experimental com influências do jazz brasil e artes sonoras contemporâneas. 

    A Orquestra Paranaense de Viola Caipira (OPVC), que é um grupo da própria Cascavel, é referência nacional e considerada uma das maiores orquestras do gênero musical no Brasil, dedicada à viola caipira e a música raíz, tendo os mais variados profissionais e diferenciados níveis sociais dentro dela. 

    Circuito Terra Instrumental no Paraná 

    Em sua primeira edição, o Circuito Terra Instrumental percorre cinco cidades paranaenses:  Londrina, Cascavel, Ponta Grossa, Curitiba e Cornélio Procópio com diversas atividades culturais. O Circuito Terra Instrumental é viabilizado via Lei de Incentivo à Cultura, com patrocínio da Syngenta Proteção de Cultivos e realização do Ministério da Cultura. Governo Federal e da Brahmi Cultural.  

    Serviço

    Pocket Show Circuito Terra Instrumental

    Quando: Sábado, 01/07/2023 

    Horário: 19h

    Local: Teatro Municipal Sefrin Filho

    Artistas: Hoovaranas (Ponta Grossa), Orquestra Paranaense de Viola Caipira (Cascavel) Bananeira Brass Band (Curitiba) e Lilian Nakahodo (Curitiba)

    Entrada Gratuita 

    Classificação Etária: Livre

    Fonte: Assessoria

  • Narrativas de tragédias e famílias enriquecendo

    Narrativas de tragédias e famílias enriquecendo

    Em outubro de 1949, quando, para surpresa do Ocidente, os comunistas tomaram o poder na China por meio de uma aliança revolucionária entre operários, camponeses e militares, a imprensa brasileira trombeteou a versão de que o Paraná estava entregue à revolta no campo.

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    Eram realidades completamente diferentes, mas a insistência em uma rebelião generalizada no Paraná fazia parte da antipropaganda articulada para tentar impedir o retorno de Getúlio Vargas ao poder.

    Puxada pelo jornal fluminense O Globo, em 20 de outubro de 1949 a campanha alcançou o clímax com uma extensa reportagem que não ocultava a intenção de desprestigiar o governo federal, desenhando um cenário caótico:

    “O que observamos nessa visita ao Oeste paranaense não foram planos de invasões argentinas, nem as balelas* que se espalhavam na Capital da República. Foi, sim, o abandono a que o Governo Federal sempre relegou o Estado do Paraná, num descuido tal que pode ser considerado uma espécie de desprezo pelos homens que mourejavam nas cidades e nos campos daquela unidade da federação. O que verificamos na região do Iguaçu, em 1949, denunciamos à Nação pelas colunas de O Globo: fronteiras abandonadas e uma população esquecida”. 

    *A propaganda lupionista apresentava o Paraná como um milagre de progresso e paz em um país agitado.

    O cofre era uma urna

    Era só o começo de uma série de relatos assustadores. A reportagem prosseguia, no mesmo tom caótico:

    – O próprio batalhão, sediado em Foz do Iguaçu, para alimentar a sua soldadesca, era forçado a contrabandear gado do Paraguai. As cartas hidrográficas, de que se servia a navegação brasileira, no Rio Paraná, eram argentinas. O cofre da capitania dos portos de Foz do Iguaçu era uma velha urna eleitoral. Os práticos brasileiros, para navegarem no Rio Paraná, faziam sua aprendizagem em navios de bandeira Argentina. 

    – O pinho, cujas reservas florestais são ali consideráveis não tinha forma de ser exportado naquela região em certa época do ano. E pilhas de tábuas, que apodreciam, eram queimadas. A construção do Hotel do Parque das Cataratas do Iguaçu estava paralisada e os argentinos, do outro lado do rio, das varandas do seu Hotel de Las Cataratas, ridicularizavam o Brasil, mostrando aos turistas aquela construção interrompida e a denominando “las ruínas de los incas”. 

    – Os pobres brasileiros daquela região, que recorriam aos armazéns argentinos da fronteira, em busca de gêneros alimentícios mais baratos, eram apelidados de “las hormigas”*. A estrada de rodagem, ligando Foz do Iguaçu ao resto do Brasil – estrada federal – encontrava-se também paralisada, em virtude de falta de pagamento aos empreiteiros. O brasileiro adoçava o seu café com açúcar de beterraba, produzido na Argentina. Hordas de paraguaios invadiam e saqueavam constantemente a região.

    Até coisas irrelevantes eram alinhadas como “provas” do abandono do Oeste paranaense por parte do governo federal, mas ao ser apresentadas em bloco também arranhavam os planos de Lupion.

    *O comércio dito “formiguinha” se tornou tradição, de fato 

    Tragédias familiares confirmavam

    Havia, certamente, casos dramáticos. As tragédias familiares formavam notícias com potencial para se espalhar bem mais que os relatos de eventuais e insuficientes melhorias prestadas pelo Estado. 

    As narrativas antigetulistas e os sacrifícios, dificuldades e dramas da população da fronteira justificavam a certeza de que o Oeste do Paraná era uma fronteira sem lei.

    Não só na região. nem sobretudo na fronteira, familiares assassinados deixavam as famílias em difícil situação, entre a orfandade e a indigência, mas a realidade complexa da tríplice fronteira sempre foi multiplicadora de problemas.

    Uma das professoras pioneiras de Foz do Iguaçu, Maria Odete Rolon, sofreu na família uma dessas tragédias. Seu pai, Erasto Rolon, foi um dos paraguaios que fugiram do país escapando das tensões políticas.

    Vivendo no Brasil e trabalhando na coleta de erva-mate na Argentina, dois de seus filhos foram encarregados de fazer o pagamento de mensus em um obrage e sofreram uma emboscada.

    A armadilha foi montada por um compadre que sabia do deslocamento dos irmãos para fazer o pagamento. Os irmãos de Maria Odete reagiram ao ataque, mas um deles morreu nessa ocasião.

    Alfabetizando os soldados

    Como outros fronteiriços, a história de Maria Odete, apesar de marcada por essa tragédia, foi também uma história de trabalho e ação comunitária. 

    Ao contrário de professores que vinham formados, ela fez o curso primário na Escola Bartolomeu Mitre, a primeira da cidade, fundada em 1928.

    “Terminado o primário, eu não sabia se ia a Curitiba estudar ou se ficava por aqui fazendo crochê. Minha mãe não queria que fosse. Queria que fizesse curso de datilografia para trabalhar em escritório. Nessa época as Irmãs Vicentinas construíram o Instituto São José, inaugurado em 1949. Lá fiz o ginásio. E depois cursei o normal regional” (Maria Odete Rolon, Gazeta do Iguaçu, 26/2/ 1994).

    Em meio ao curso normal regional ela já lecionava aos sábados para os soldados analfabetos no quartel do Exército, mas a faculdade teria que ser feita em Guarapuava.

    As dificuldades em geral, na educação e outros setores, teriam que ser vencidas pela ação comunitária.  Prestando serviços, trabalhando na lavoura, na erva-mate e na indústria madeireira, os pioneiros ao acumular capital e ver os filhos crescendo contavam já com ações recreativas, de lazer e esportes, proporcionadas pelo Oeste Paraná Clube.

    Criado em 1928, foi a primeira agremiação social-recreativa que se instituída em Foz do Iguaçu. Idealizado pelo engenheiro Lydio de Albuquerque e apoiado por Heleno Schimmelpfeng, filho do prefeito, o Oeste Paraná Clube teve o nome sugerido por Rômulo Trevisani, secretário da Prefeitura. Ali já se notava a emergência de uma elite oestina. 

    O hipismo deu base ao automobilismo

    Em Cascavel, havia o Tuiuti Esporte Clube desde 1949, época em que também foram plantadas as bases do gosto pelas corridas, nas quais o poder econômico aparecia.

    Eram competições só com cavalos, pois possuir um automóvel era praticamente impossível para os peões das serrarias e até para os prestadores de serviços e comerciantes de Cascavel.

    As famílias que progrediam se destacavam pela qualidade dos cavalos que punham a disputar carreiras nas raias existentes em diversas vilas, sendo uma das atividades de lazer e esportes prediletas na década de 1950.

    Apreciado pela nobreza britânica, o turfe tinha no Oeste do Paraná sua faceta toda própria, uma espécie de classificatória e testes para a seleção de animais que poderiam se aventurar a uma boa posição no “Grande Prêmio Brasil”, com prestígio crescente desde sua criação, em 1933.

    Em Campo Mourão, as corridas de cavalo eram feitas em raia na praça central e eram grande atração em Cascavel desde 1949, quando ganhou fama Pitoco, um cavalo notável do plantel do futuro prefeito José Neves Formighieri, desde 1946 estabelecido na Colônia Centenário. 

    O cavalo campeão

    A exemplo dos craques do futebol, os cavalos eram celebrados como, depois, seriam idolatrados os pilotos de Fórmula 1. O cavalo Secretariat foi o astro de um filme de grande bilheteria do Estúdio Disney.

    Famoso por ganhar todas as carreiras de que participava, em competições por duplas de cavalos correndo em raias em torno de 500 metros, Pitoco era temido em toda a região. “Não tinha pra ninguém”, lembrou Alberto Rodrigues Pompeu, o filho caçula de Manoel Ludgero e Idalina Rodrigues Pompeu.

    “Eu era criança ainda, tinha uns 12 anos. Conheci o Pitoco nas carreiras –corridas de cavalo – muito populares na época. O ex-prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, trouxe o Pitoco de um jóquei clube de Ponta Grossa para competir por aqui. Como era de raça, ganhava todas as corridas” (Newsletter Pitoco, n⁰ 1.000).

    As apostas eram feitas em dinheiro, mas envolviam também objetos como carroças, sanfonas, outros animais. As dúvidas eram resolvidas por juízes e fotochart. 

    “Para a corrida principal era feito um contrato que estabelecia as normas, porém as apostas pequenas eram acertadas na hora. (…) Meses antes das carreiras, os apostadores e preparadores já se instalavam no local e por lá ficavam jogando baralho, comendo churrasco e bebendo” (Alberto Pompeu).

    Saúde, foco da colonização 

    A carreira de cavalos era um happening social, como foram depois da construção do Autódromo as competições automobilísticas. Agenor Miotto, por exemplo, fez sucesso com a égua Jardineira. 

    Além das atividades recreativas e de lazer, as maiores exigências dos novos moradores das cidades do Oeste do Paraná durante a atração de colonos ampliada pela campanha Paraná Maior de Moysés Lupion eram capelas religiosas e assistência médica. 

    Foi por fortes exigências na estruturação de seu projeto colonizador que a Companhia Maripá conseguiu o quase milagre de interessar um jovem médico a trocar a perspectiva de uma bela carreira em cidade já estruturada no Sul para vir ao desconhecido sertão paranaense apresentado na imprensa em 1949 como a antecâmara do inferno.

    Ernesto Dall’Oglio não conhecia o Oeste, mas o Oeste conhecia os Dall’Oglio desde que representantes dessa família deram início ao projeto da Rota Oeste, completada pela influência de Celeste Dall’Oglio entre Medianeira e Santa Helena. 

    Gente jovem e forte

    Nascido em Veranópolis (RS), Ernesto estudou em Passo Fundo e Porto Alegre, onde em 1847 se formou em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trabalhou em Carazinho e Sarandi, onde conheceu a italiana Vanda Mariani, com quem se casou. 

    Ao ser convencido em outubro de 1949 a vir a Toledo, Ernesto estava com 29 anos, a dois meses de completar os 30, sem jamais imaginar que três anos depois seria o primeiro prefeito dessa cidade.

    Ele atribuiu tudo à sorte, pois seria terrível chegar a uma terra que se dizia palco de mortes sem fim e não dar conta de garantir bons índices de saúde. 

    “A sorte é que só tinha gente nova, na faixa dos 20 ou 30 anos que veio para cá para trabalhar. Era uma gente forte que dificilmente adoecia”, disse, em depoimento ao Jornal do Oeste. 

    Foi exatamente por ter pioneiros bem jovens que Cascavel passou a ter um médico atendendo na cidade só em 1951. 

    O dia a dia do médico na área da Maripá também incluía feridos com armas de fogo, mas ficava preocupado mais frequentemente com quedas de toras sobre operários, que podiam causar fortes sangramentos e requeriam atenção imediata.

    Mas a juventude facilitava a cura. No caso mais grave que Dall’Oglio atendeu, comentou, “limpei tudo aquilo, apliquei a penicilina para não infectar e 3 dias depois o sujeito já estava jogando bola de novo”.

    A Anja da Selva

    Pouco antes de Ernesto Dall’Oglio chegar a Toledo a fronteira ganhara a forte personalidade da argentina Martha Teodora Schwarz.

    Puerto Iguazú já contava com um hospital, mas estava sem médicos. Nascida em Buenos Aires, formada em Medicina e especialista em pediatria, ela aceita em se deslocar a Puerto Iguazú por conta de uma desilusão amorosa.

    Chegando, assustou-se com a constância das mordidas de cobras e a alta incidência da malária, geralmente fatal para os peões acometidos.

    Martha passou a atender enfermos também de localidades do interior do Paraguai e do Brasil. Quando os doentes brasileiros não podiam ir a Puerto Iguazú, ela atravessava o Rio Paraná de bote e corajosamente seguia a cavalo pela mata cheia de animais selvagens até chegar aos que sofriam.

    Premiada pela ONU em consideração ao conjunto de sua obra, a residência onde ela morava foi transformada na Casa Museu “A Anja da Selva”. 

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Morre o fundador da banda RPM e tecladista Luiz Schiavon, aos 64 anos

    Morre o fundador da banda RPM e tecladista Luiz Schiavon, aos 64 anos

    Morreu na madrugada desta quinta-feira (15), aos 64 anos, o tecladista e fundador do RPM, Luiz Schiavon.

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    Ele vinha tratando uma doença autoimune há quatro anos. A informação foi confirmada pela família do músico nas redes sociais.

    De acordo com a nota, o artista teve complicações durante uma cirurgia em decorrência e não resistiu. Schiavon estava internado no Hospital São Luiz, em Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo.

    A cerimônia de despedida será reservada apenas para pessoas próximas. “Luiz era, na sua figura pública, maestro, compositor, fundador e tecladista do RPM, mas acima de tudo isso, um bom filho, sobrinho, marido, pai e amigo”, diz a mensagem da família. Antes de voltar ao hospital este ano, ele chegou a passar 18 meses internado.

    Fonte: O Gloo

  • 33º Festival de Música de Cascavel abre inscrições para oficinas gratuitas

    33º Festival de Música de Cascavel abre inscrições para oficinas gratuitas

    A música está prestes a tomar conta da cidade de Cascavel mais uma vez, com a abertura das inscrições para as oficinas do 33º Festival de Música. O evento, promovido pela Prefeitura de Cascavel, por meio da Secretaria de Cultura, é reconhecido como um dos festivais mais tradicionais da região e atrai músicos e amantes da música de todas as idades.

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    O Festival, que acontecerá entre os dias 09 e 16 de julho, promete proporcionar uma experiência enriquecedora e imersiva para os participantes das oficinas. As inscrições estão abertas até o dia 30 de junho. Os interessados em aprimorar suas habilidades musicais e mergulhar no universo sonoro poderão se inscrever acessando o site www.linktr.ee/culturacascavel e preenchendo o formulário disponível.

    As 27 oficinas de música, oferecidas gratuitamente, serão realizadas em diversos espaços da cidade, incluindo o Teatro Municipal, o Colégio Marista de Cascavel, a Cia da Música e o Liceu Musical Palestrina. Desde iniciantes até músicos experientes, há opções para todos os níveis e preferências musicais.

    O objetivo do Festival de Música de Cascavel é proporcionar um ambiente propício para o aprendizado, troca de experiências e aperfeiçoamento técnico. Com uma ampla variedade de oficinas, que abrangem instrumentos de cordas, piano, metais, sopro e técnica vocal, os participantes terão a oportunidade de expandir seus conhecimentos e demonstrar seu talento durante as apresentações comerciais.

    Entre as oficinas disponíveis estão opções como Clarinete e Madeiras, Contrabaixo Elétrico, Flauta Transversal, Guitarra Elétrica, História da Música, Metais (Trompete, Tuba, Eufônio e Trombone), Música Inclusiva Para Deficientes Visuais, Musicalização Para Professores de Educação Básica, Piano Erudito I e II, Piano Popular, Prática de Cordas, Prática de Coro Adulto e Infantojuvenil, Prática de Fanfarra e Banda de Marcha, Prática de Orquestra Sinfônica, Regência (Banda, Coro e Orquestra), Rítmica e Percussão Popular, Saxofone e Palhetas, Técnica Vocal Lírico e Popular, Teoria Musical e Harmonia, Viola Erudita, Violão Popular e Erudito, Violino, Violino Suzuki – Para Crianças e Violoncelo e Contrabaixo Erudito.

    O Festival de Música de Cascavel tem se destacado ao longo dos seus 33 anos de história, e a cada edição, ele se consolida como um espaço de união e celebração da música. Além das oficinas, o festival também contará com apresentações de renomados artistas locais e convidados especiais, que em breve serão anunciados, proporcionando momentos únicos de apreciação musical para toda a comunidade.

    Portanto, não perca tempo! Inscreva-se agora mesmo e faça parte desse evento memorável. As vagas são limitadas, então garanta seu lugar o quanto antes. Prepare-se para mergulhar em um universo de melodias, acordes e ritmos, onde a paixão pela música se torna a trilha sonora de uma experiência inesquecível.

    Para mais informações sobre o 33º Festival de Música de Cascavel e as inscrições nas oficinas, acesse o linktr.ee/culturacascavel ou entre em contato com a Secretaria de Cultura de Cascavel.

    Fonte: Assessoria

  • Os filós dos aeronautas e das Cataratas

    Os filós dos aeronautas e das Cataratas

    O filó, desde a antiguidade, era o fio de linho, que resulta em um tecido forte, bonito e confiável. A palavra, com o tempo, veio a designar outros tecidos igualmente apreciados, até obter seu sentido figurado mais brilhante: a força, a beleza e a confiabilidade da união entre amigos.

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    Foi assim que na tradição dos imigrantes o termo filó veio designar a reunião de vizinhos para combinar ações, celebrar ou simplesmente conviver em tempos nos quais ainda não havia clubes sociais.

    “A informalidade do filó era uma iniciativa das famílias para atividades conjuntas, mas os jovens queriam mais. Esportes, por exemplo, que exigem uma organização mais específica e complexa que as simples reuniões caseiras. Por sua vez, os recém-chegados jovens militares, com saudades de suas regiões de origem e das capitais nas quais foram preparados para cumprir missões no vasto interior brasileiro, ansiavam por mais atividades sociais, como bailes e teatro. Como nem tudo poderia vir do Estado, no final da década de 1940 havia chegado a hora de unir a comunidade em torno de algo maior que o filó: um clube social” (Regina e Alceu A. Sperança, Tuiuti, a Presença Azul).  

    Ele surgiu em Cascavel no dia 25 de agosto de 1949, confirmando que uma das grandes contribuições dos imigrantes e seus descendentes foi multiplicar pelo País afora as associações recreativas e cívicas.

    O aviso de que haveria uma reunião das lideranças da comunidade cascavelense no Hotel Pompeu dos Reis para organizar uma nova sociedade naquele 25 de agosto de 1949, Dia do Soldado, gerou um clima de ansiosa expectativa.

    Os 35 líderes comunitários – entre os quais uma única mulher, Maria Maceno – acomodaram-se para ouvir a palavra do sargento José Rufino Teixeira, escolhido para presidir a reunião que resultaria na fundação do Tuiuti Esporte Clube. 

    Ninguém ainda pensara neste nome: só a data comemorativa ao Dia do Soldado havia sido determinada previamente pelos militares da Aeronáutica para ser o encontro de fundação da sociedade. 

    Era natural que o primeiro presidente fosse o sargento Teixeira. Mas, por humildade, não concordou em presidir a sociedade, indicando o nome de seu superior hierárquico no posto do Correio Aéreo e também entusiasta das atividades clubísticas: o primeiro-sargento João Arquelau Soares. 

    Tudo aconteceu na vida de Teixeira com muita rapidez. Nascido em Balsa Nova, próxima a Campo Largo e Araucária, ele servia à Aeronáutica em Curitiba como segundo-sargento radiotelegrafista quando foi designado para compor o efetivo do posto da Força Aérea Brasileira criado em Cascavel.

    No final dos anos 1940, sede de um importante distrito de Foz do Iguaçu, Cascavel já despontava como cidade importante na região do Médio-Oeste por conta da indústria madeireira, a qualidade da prestação de serviços e seu comércio dinâmico. 

    Teixeira aporta nessa ainda pequena cidade com entusiasmo, lamentando, entretanto, aos muitos amigos jovens que rapidamente fez nos filós cascavelenses, que não havia uma sociedade esportiva e recreativa para o lazer da juventude depois de um dia árduo de trabalho.    

    Tuiuti, preparação para o Município 

    Jovens como Paulo Rodrigues Pompeu, o Dodô, os filhos e genros do madeireiro Florêncio Galafassi pensavam o mesmo e convenceram os pais e demais lideranças da comunidade a concretizar a ideia de criar uma associação nos moldes idealizados pelo sargento Teixeira.

    Assim, em 29 de gosto de 1949, presidindo a criação do Tuiuti Esporte Clube, em cujo salão logo germinaria a proposta de criar o Município de Cascavel, Teixeira propôs a composição da primeira diretoria da sociedade: 

    Presidente: João Arquelau Soares 

    Vice-Presidente: Helberto Schwarz, genro de Florêncio Galafassi 

    Primeiro Secretário: Watzlaf Nieradka, chefe do escritório da Comissão de Estradas de Rodagem (CER-1) 

    Segundo Secretário: Paulo Rodrigues Pompeu, o Dodô, filho de Manoel Ludgero Pompeu  

    Primeiro Tesoureiros: Horácio Ribeiro dos Reis, genro de Manoel Pompeu 

    Segundo Tesoureiro: José Bartnik, comerciante  

    Departamento de Esportes: Arci Labourdette (contador da Comercial Oeste Paraná Ltda, Copal, ligado à família Dalcanale), Antônio Alves Massaneiro (enfermeiro e farmacêutico) e João Alves dos Santos (professor) 

    Orador Oficial: Gabriel Fialho Gurgel (dentista cearense, futuro prefeito de Terra Roxa)

    Conselho Deliberativo: Anibal Lopes da Silva (comerciante, professor), João Miotto (comerciante e delegado de polícia) e Emiliano Afonso da Silva (sargento do Exército, doou tereno para a construção do Hospital Nossa Senhora Aparecida, de Wilson Joffre)

    Comissão de Festas: Clary Boaretto (carpinteiro ligado à Copal) e Osvaldo Zandoná (representante da família que iniciou a migração de colonos italianos a Cascavel)

    Todos pioneiros oestinos com variadas contribuições comunitárias que no futuro valeriam a muitos deles nomes a ruas em várias cidades e a outros ligações permanentes com famílias locais.

    João Arquelau Soares, por exemplo, casou-se com a professora Theonília Pompeu, filha de Manoel Ludgero e Idalina Rodrigues Pompeu.

    Nascido em Guarapuava, Soares tinha 31 anos quando foi transferido para Cascavel em 1942, designado para chefiar o destacamento da Força Aérea. 

    Na condição de militar, contribuía para com o transporte de enfermos para centros médicos. Na qualidade de cidadão, apoiava e se juntava aos esforços comunitários nas rodas de chimarrão, os filós.

    Pouco depois, Teixeira é designado para nova missão em Curitiba, onde morreu prematuramente em 1964, antes de completar 42 anos.  

    Domingo nas Cataratas

    O filó em Foz do Iguaçu rapidamente saiu dos sítios para um destino muito natural. Quando Agnese Betio Giovenardi chegou à fronteira, naquele mesmo ano de 1949, trazia uma vida de muito trabalho e sofrimento.

    Sua família fornecia carnes no interior de Santa Catarina, mas o negócio foi arruinado pela disseminação da febre aftosa no gado. Tentavam a vida em Irati, sem sucesso, quando foram alcançados pela propaganda do Paraná Maior, cujo foco era a ocupação do remoto Oeste, prejudicado pela inércia do Território Federal do Iguaçu.

    Agnese, descendente de italianos e gaúcha de Nova Bassano, o marido Antônio Giovenardi e sete dos dez filhos chegaram a Foz do Iguaçu de carona em um caminhão. Os outros três filhos estudavam em seminário, no RS.

    Enquanto se alojavam, Antônio já saía atrás de carnes para servir em seu açougue, que também vendia roupas e outros artigos trazidos por camelôs. A “geladeira” para guardar as carnes era o estômago dos clientes, pois não havia recursos frigoríficos.

    “Só podíamos abater os animais cuja carne fosse vendida no mesmo dia, ou então para fazer linguiça, salame. A primeira geladeira para o açougue compramos em 1954” (Entrevista a Juvêncio Mazzarollo, jornal Gazeta do Iguaçu).

    A família Giovenardi adotou logo ao chegar o hábito de aos domingos reunir-se com os amigos em piqueniques junto às Cataratas. O filó junto aos Saltos de Santa Maria rendeu muitos negócios, decisões para o futuro da região e consolidou a utilização brasileira das Cataratas, já explorada com sucesso pela Argentina.  

    Antônio Giovenardi morreu em 1964 e foi um dos formadores da Frimesa (Frigorífico de Medianeira). Um dos filhos de Antônio e Agnese participou da construção da Ponte da Amizade, a serviço da empresa Sotege. 

    China, posseiros e Medianeira

    Em outubro de 1949 os camponeses comunistas apoiados por militares tomaram o poder na China. A imprensa sensacionalista trombeteava que o Paraná estava entregue à revolta camponesa, tomado pelo banditismo e logo iria virar “uma China”.

    Na maior parte da região Oeste, porém, as colonizadoras trabalharam com terras sem contestação camponesa, a não ser por algumas posses que os jagunços das colonizadoras desfaziam expulsando os colonos.

    As mortes ocorridas nesse período se deviam à reação dos posseiros aos ataques dos jagunços, escorados pela polícia do Estado. Via de regra, a matança de posseiros era ignorada. 

    Na versão oficial, era culpa de quem reagiu à lei e à ordem. Já a reação violenta dos posseiros era anunciada como “banditismo”. 

    Foi ainda em terras sem contestação que em 20 de outubro de 1949 começou a colonização de Medianeira, a partir de projeto da Companhia Industrial e Agrícola Bento Gonçalves, sob o comando de Pedro Soccol e José Callegari.

    Medianeira brotou da atração de colonos sobretudo de Bento Gonçalves e Guaporé (RS). Em pelo menos dois fatos explosivos no futuro a cidade seria notícia em todo o mundo: com a revolta de posseiros na Gleba Silva Jardim, na atual Serranópolis do Iguaçu, em 1961, e na reabertura à força da Estrada do Colono, em 1997.  

    Fonte: Fonte não encontrada

  • João Bosco e Coral Sanepar fazem show em Cascavel

    João Bosco e Coral Sanepar fazem show em Cascavel

    O Coral Sanepar e o cantor, violonista e compositor brasileiro João Bosco se unem para uma turnê especial de seis shows em cidades do Paraná, em celebração aos 60 anos da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). Em Cascavel, o show “Bordando o Som” será no dia 16 de junho, no Teatro Municipal Sefrin Filho, às 20h.

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    O evento conta com o apoio do Município de Cascavel, por meio da Secretaria de Cultura (Secult). A parceria entre o Coral Sanepar, composto por 22 cantores, e João Bosco, acompanhado por oito músicos instrumentistas, promete encantar o público com uma mescla única de bossa nova, samba, jazz e ritmos africanos.

    No repertório, além da inconfundível voz de João Bosco, o show contará com a presença marcante do violão característico do artista. A banda base será composta por bateria, percussão, baixo elétrico e acústico, piano, guitarra e cavaquinho, além de uma rica seção de saxofone, flauta, trombone e trompete.

    O projeto é realizado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura e conta com o patrocínio da Sanepar.

    Os ingressos para o espetáculo serão totalmente gratuitos. Eles poderão ser retirados na segunda-feira (12) na bilheteria do teatro, das 9h às 12h, e das 14h às 17h. Serão disponibilizados dois ingressos por pessoa. O atendimento na bilheteria será encerrado quando os ingressos se esgotarem.

    Coral Sanepar  

    O conceito musical do Coral Sanepar está na fusão entre a música popular brasileira e as questões ambientais concernentes à missão da Sanepar. O Coral Sanepar imprime em suas performances a linguagem rítmica e melódica da música pátria para cantar a beleza e diversidade de nossos ambientes e pessoas.

    Criado em setembro de 1983, o Coral Sanepar apresenta um repertório focado no cancioneiro popular, com ênfase nos temas que remetem ao meio ambiente e, em especial, à valorização da água.

    Fonte: Assessoria

  • Entre o legal e o ilegal, trabalho e sacrifícios

    Entre o legal e o ilegal, trabalho e sacrifícios

    Carroça, carroção, burro cargueiro, cavalo, raros automóveis e vários caminhões eram os meios de transporte dos pioneiros, mas os aventureiros vinham a pé. Silvino Bell’Aver contrariou o preocupado pai aos quinze anos de idade, partindo da região serrana do Rio Grande do Sul para enfrentar o desconhecido sertão oestino cercado por lendas de tesouros e riquezas. 

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    Como tantos outros, também veio a pé o mineiro José Araújo Prates, com uma história muito similar à de Bell’Aver. Nascido em 1936, partiu de Minas Gerais escondido dos pais até parar em um lugar paranaense com um sugestivo nome: Terra Rica. 

    Lá, Prates foi recrutado pela colonizadora Sinop* para meter os pés no mato e dar início a uma novo projeto da empresa, no local que depois de muito trabalho veio a se chamar Ubiratã. 

    Para chegar às terras escolhidas para a formação de uma futura cidade, não havia outro meio senão caminhar com os pés calçados apenas com uma precata** (chinelo). 

    O calçado era conhecido como “chega-já”, onomatopeia para o ruído que fazia ao caminhar quando estava molhado. 

    Era 1949 e Prates estava com apenas 13 anos. Para não passar fome, ia comendo o que achava no mato. Depois de abertas as primeiras clareiras, na completa ausência de estradas, a alimentação dos trabalhadores da Sinop vinha por avião. As estradas em condições para o deslocamento por automóveis ainda eram só um sonho.

    *Sinop – Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná. 

    **Variação cabocla de alparcata (do árabe al-pargat, calçado com sola de corda ou borracha ajustada ao pé com tiras de couro ou pano).

    Primeiras estradas

    Por essa mesma época, um fiscal geral da Fundação Paranaense de Colonização e Imigração, Aldino Formighieri, primo do futuro prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, chegava à região de Corbélia para mais tarde abrir caminho aos primeiros colonos: as famílias de João Fridolino Dillemburg, Homero Baú e Francisco Mânica.  

    Ali abriram as primeiras estradas a partir das margens dos córregos Rancho Mundo e Arroio dos Porcos e do Rio Sapucaia. Formighieri tinha a missão de promover acordos com os posseiros e impedir a ação de intrusos que invadiam as terras pertencentes à Fundação de Colonização, trabalho desenvolvido com amplitude por Armando Zanato, originário de Carazinho (RS), que idealizou a cidade de Corbélia.

    Formighieri tinha então vinte anos de idade e trazia a missão de promover acordos com os posseiros e impedir a ação de intrusos que invadiam as terras pertencentes à Fundação de Colonização. 

    Teve tão bom desempenho na expulsão de intrusos que o governador Moysés Lupion o convidou para dirigir o setor de segurança da Fundação como delegado e comandante de polícia na região.

    300 famílias arruinadas

    No entanto, o estrago já estava feito. As instituições do Estado foram permeabilizadas por ingerências de interesses externos, de acordo com o experiente ex-agente de terras do Estado, Alir Silva, que no Norte do Estado havia lidado até com denúncias de ataques de vampiros.

    Para Silva, as tragédias de Campo Bonito começaram quando a Fundação de Colonização vendeu indiscriminadamente glebas inteiras a um só indivíduo, deixando ao desabrigo e completamente espoliados nada menos de 300 famílias. 

    “Muito embora a Fundação se apresente com a finalidade de praticar o minifúndio, isto é, coadjuvar a colonização através da venda de pequenas propriedades, cujas terras lhe foram cedidas pelo Governo do Estado para este fim específico, o que vem praticamente é uma verdadeira aberração, usurpando de posseiros todos os seus bens, arrancando bruscamente esses elementos que já estavam fixados à terra e, não raro, muito antes da cessão que lhes foi feita pelo Estado em 1949” (Depoimento ao jornal O Estado do Paraná,  26 de julho de 1959).

    A movimentação de posseiros na área de Diamante do Sul começou em 1929, com a chegada de uma família de origem gaúcha que não suportou ficar sozinha no mato, daí porque só a partir de 1949 a região começou a ser povoada efetivamente, por imigrantes de origem italiana, vindos do Norte de Santa Catarina em um espécie de êxodo ao Paraná. 

    A solidão dos pioneiros 

    Em minucioso relato sobre a estruturação da Rota Oeste, Arlindo Mosé Cavalca contou que as ações conclusivas nesse objetivo começaram no Rio Grande do Sul com várias reuniões na residência de Celeste Dall’Oglio, seu futuro sogro.

    Ali se fez a montagem de um consórcio com a finalidade de formar o grupo que constituiria futuramente a Industrial e Agrícola Bento Gonçalves Ltda, fundadora da cidade de Medianeira.

    Formou-se nesse ano de 1949 uma nova caravana de associados, composta por Alfredo Ruaro, Dacir Dall’Oglio, José e Davi de Calegari e Cavalca, que já vinha para ficar em Gaúcha, origem de São Miguel do Iguaçu.

    “Quando saí de Bento Gonçalves, já estava convencido que o sr. Benvenuto Verona se encontrava em Gaúcha, mas qual foi a minha surpresa, quando cheguei e soube que havia viajado para passar alguns dias no Rio Grande do Sul… Os companheiros insistiram para que eu voltasse com eles para Bento Gonçalves e não ficasse sozinho naquela selva, mas eu já havia decidido que iria enfrentar as dificuldades que aparecessem” (depoimento ao Projeto Memória de São Miguel do Iguaçu).

    Aos 28 anos, Cavalca não temia nenhum desafio. Com pena de deixar Cavalca sozinho no meio do mato, Dacir Dall’Oglio o presenteou com um par de botas, “apavorado com tantos mosquitos”.

    De repente, paraguaios armados

    Alojado em um rancho coberto de capim, Cavalca decidiu esperar a volta de Verona enquanto ouvia a caravana seguindo rumo à futura Medianeira, cantando as habituais canções italianas obrigatórias nas reuniões de imigrantes e seus filhos.

    “As vozes foram diminuindo na imensidão da floresta, o dia perdendo a intensidade, o sol mandando seus últimos raios entre a galhada verde da floresta. Na mata escurece mais depressa”.

    Na solidão, sobrava tempo para lembrar os pais Alcides e a mãe Eulália Umiltá, já idosos, participantes da colonização de Bento Goncalves, a irmã Olívia e a namorada Addy, que lembrava em lágrimas na despedida.

    “Mas era preciso ser forte, passar por cima das emoções. Saí para ver o céu estrelado e ouvi as vozes dos companheiros, acampados a uns três quilômetros. Eles esperavam o dia amanhecer para continuar a viagem a Medianeira porque não havia condição de andar por aquela picada a noite. As vozes dos companheiros foram aos poucos sendo abafadas pelos ruídos da mata. Foi uma noite difícil”.

    Até porque, narrou, chegaram também paraguaios, armados com metralhadoras, pedindo para trabalhar como torradeiros*: “Eram fugitivos políticos que se escondiam na imensa floresta fronteiriça”.

    Assim se incorporaram à colonização do Oeste guerrilheiros paraguaios que não puderam mais voltar para seu país, vivendo em 1949 as grandes agitações político-militares que deram início ao longo predomínio do Partido Colorado. 

    *Torradeiros: operários que derrubavam árvores para transformar em toras. 

    Perigos e sofrimentos

    As agitações guaranis também tiveram o Oeste do Paraná como palco, como contou Amanda Fritzen a respeito da tragédia que vitimou seu marido, o alemão João Holler, na mercearia da família na Estrada das Cataratas.

    Era o dia 4 de agosto de 1949. Ao entardecer, o casal tomava chimarrão na companhia dos filhos quando apareceu um cliente e João para atendê-lo abriu o bar, na frente da casa. 

    “Logo chegaram dois paraguaios pedindo cachaça. Percebi que estavam nervosos. Não fazia calor, mas eles suavam. Desconfiada, eu pedia em alemão ao meu marido que os mandasse embora e fechasse o bar. Ele não deu importância. De repente entrou outro paraguaio e começaram a atirar contra meu marido, que correu para fora, mas morreu em seguida. Eu corri com as crianças para o mato. Os bandidos entraram na casa, reviraram tudo e roubaram o que puderam carregar” (Gazeta do Iguaçu, 18/7/1993).

    Um dos assassinos foi preso, mas Amanda ficou viúva com três filhos. Casou-se mais tarde com o sargento Bernardino Etelvino Velho, revolucionário brasileiro supostamente ligado ao MR-8 e iniciador de Santa Terezinha de Itaipu, com quem teve o filho advogado Domingos Jorge Velho.

    Enquanto cuidava dos filhos, um dos quais Írio Holler, que seria diretor do Planejamento Urbano e secretário de Obras de Foz do Iguaçu, Amanda atendia aos eventuais clientes no balcão da mercearia da família e veio a fazer uma clientela ainda maior com sua habilidade na arte da costura. 

    “Fazia vestidos de noiva, bombacha (artigo que não se encontrava aqui e quem quisesse tinha que mandar vir do Rio Grande do Sul). A máquina de costura ficava atrás do balcão da loja. Quando não havia freguês para atender eu costurava. Muitas vezes, costurando, vi o dia amanhecer”.

    O final da década de 1940, portanto, foi um período de intenso trabalho e muito perigos. 

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Orquestra Sinfônica de Cascavel apresenta concertos inspirados no mundo do circo

    Orquestra Sinfônica de Cascavel apresenta concertos inspirados no mundo do circo

    Atenção, respeitável público, porque tem grande espetáculo na agenda do Município. A Orquestra Sinfônica de Cascavel vai apresentar uma série de concertos que tem como inspiração o universo circense. Trata-se a “A volta ao mundo do circo”, que será apresentada de sexta (2) a domingo (4), sempre às 20h, no Teatro Municipal Sefrin Filho. 

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    Os ingressos já estão sendo vendidos pelo valor de R$ 20 a meia-entrada e R$ 30 o ingresso social, que tem a doação de um livro de literatura ou um kit básico de higiene/beleza. A arrecadação será integralmente doada doada para o Projeto de Extensão “Educar para o Futuro” da Unioeste e Conselho da Comunidade. Para adquirir os ingressos, acesse o o link: https://linktr.ee/orquestrasinfonicadecascavel 

    Serão três noites grandiosas de pura arte. Ao todo, 100 artistas estarão no palco, incluído os músicos da orquestra, do Grupo Vocal Canticum, bailarinos e cantores da Escola da Class e os alunos da Escola de Circo de Toledo. Na noite de abertura ainda haverá uma homenagem à “dama do circo brasileiro”, Marlene Querubin, e seu inspirador trabalho à frente do Circo Spacial. 

    O público pode esperar uma verdadeira viagem à milenar arte circense. “O  repertório é associado à história do Circo. Começa na China, passando por Roma, Grécia, Egito e acabando nos dias de hoje. Teremos desde a música mais tradicional de circo, usada no mundo todo, que se chama “Entrada dos gladiadores”, uma marcha militar composta em 1897 pelo compositor checo Julius Fučík, até música brasileira, com obras de Chico Buarque, dos Saltimbancos, Alegria, tema mais conhecido do Cirque Du Soleil, entre outras”, conta a maestrina da Orquestra, Giordana Galvan Lube. 

    Esta é a 8ª vez que a Orquestra Sinfônica de Cascavel apresenta esse formato de concerto multilinguagem, onde um tema é o fio-condutor de toda a história, já tiveram apresentações sobre os filmes, animes, desenhos, países do globo e entre outros.

    Fonte: Assessoria

  • A família Sbaraini e o aventureiro Bell’Aver

    A família Sbaraini e o aventureiro Bell’Aver

    A base da atualidade oestina se constrói com a progressiva chegada de corajosas famílias pioneiras nas décadas de 1930 a 1950, das quais são exemplares as famílias de Frederico Blum e Carlos Sbaraini, que pressionados pelas dificuldades conjunturais da época apostaram no Oeste e tiveram sucesso. 

    O ferreiro Blum, nascido em Lages (SC), trouxe a família para Cascavel em abril de 1949 seguindo a trilha de oportunidades aberta pela forte propaganda da colonização no Médio-Oeste.

    Já na altura dos 67 anos, com larga experiência como eletricista e carpinteiro, vinha de Guarapuava com a esposa Berta Rickli e os filhos Rosa, Alberto, Otto Paulo, Ernesto Paulo e Elza Blum. 

    Dedicou-se com os filhos, Alberto, de forma destacada, à construção e montagem de serrarias e moinhos. Alberto, nascido em Imbituva, já no Paraná, veio ao Oeste já com 38 anos e também trabalhou com moinhos, além de ser caminhoneiro e agricultor. 

    Os dois apoiaram Tarquínio Joslin dos Santos na montagem da Associação Rural de Cascavel. O pai foi o mais idoso entre os fundadores da entidade que daria origem aos atuais sindicatos Patronal Rural e dos Trabalhadores Rurais, também o berço do cooperativismo cascavelense.

    Por sua vez, a família Sbaraini veio de Sarandi (RS) por conta de uma relação antiga de Carlos com Willy Barth. Filho dos italianos Giovanni Baptista Sbaraini e Elisa Vicentini, provenientes de Brescia (Lombardia), que chegaram ao Brasil ainda crianças, Carlos transportava madeira embalsada para a Argentina pelo Rio Uruguai e nessa atividade conheceu Barth.

    Depois da II Guerra Mundial o governo platino criou obstáculos que levaram Carlos a abrir estrategicamente uma empresa importadora de madeira naquele país.

    Sob a pressão de Juan Perón

    Ao lado de outros madeireiros da região de Passo Fundo e Sarandi, Carlos Sbaraini e vários sócios importavam por essa empresa criada na Argentina a própria madeira para distribuí-la no mercado interno, atendendo às exigências platinas.  

    Já com a participação do filho Benjamin, de seu casamento com Mathilde Fuga, as atividades de Carlos Sbaraini na Argentina se ampliaram até que o governo de Juan Domingo Perón nacionalizou a madeira e impediu as importações por firmas particulares.

    Com os negócios na Argentina sob pressão e os pinhais no Sul se esgotando, observou Benjamin, contador formado em Porto Alegre e administrador das várias empresas que o pai abriu para fazer os negócios madeireiros na Argentina e no Brasil, Carlos se viu em dificuldades. A exportadora fechou e em fevereiro de 1949 o pinhal disponível acabou de ser serrado em Sarandi.

    Brasília e JK, a salvação 

    Carlos e Benjamin aceitaram a proposta de Willy Barth de organizar o negócio da madeira em troca de um pinhal da Maripá. Mas não havia um pinhal com a amplitude prometida e a madeira produzida era barata.

    Para sorte dos Sbaraini, a construção de Brasília por iniciativa do presidente Juscelino Kubitschek abriu o caminho para o sucesso da atividade por meio de uma bonificação por dólar exportado.

    “Na época o Brasil estava tendo déficit na balança comercial e com a construção de Brasília, quando foi gasto muito dinheiro, Juscelino resolveu estabelecer uma bonificação às exportações em geral e a madeira pegou a primeira bonificação: 10 cruzeiros por dólar exportado” (Benjamin Sbaraini).

    “Essa bonificação foi aumentando, a cada dois, três meses aumentava. Então nós tivemos a sorte de pegar um preço final muito bom na exportação. Isso nos possibilitou comprar muitos pinhais aqui no Oeste do Paraná”. 

    Em 1955 a firma Carlos Sbaraini & Filho Ltda já se tornara um nome respeitado no setor madeireiro, contando até com porto no Rio Paraná.

    Terra plana, um sonho

    O típico aventureiro que veio para o Oeste com a cara e a coragem foi Segundo Silvino Bell’Aver. Frustrado com as limitações da criação de porcos do pai em Guaporé (RS), encantou-se com as histórias contadas pelo comprador de suínos Danilo Badotti sobre as maravilhosas terras planas do Paraná.

    Falar em terra plana para quem vive em região montanhosa é acenar com o paraíso, mas o pai o desaconselhou a partir para o Oeste paranaense. Um menino ainda, com 15 anos, aceitou o convite de Badotti e embarcou em um caminhão Chevrolet para cumprir 23 dias de viagem por estradas precárias.

    Trazia 500 mil réis, “uma muda de roupa para dia santo, duas para os dias de serviço e um par de botas”. 

    O destino final de Badotti era a Rocinha (Mato Queimado), mas Bell’Aver queria a terra prometida onde tudo acontecia. Só viu mato pela frente, sem ninguém disposto a contratar um jovem inexperiente. 

    Pegou uma carona até Cascavel, onde o mato parecia ainda mais fechado e misterioso, mas já sabendo que havia atividade colonizadora mais adiante.

    “De Cascavel para frente não tinha estrada, era uma picada, então o jeito foi vir a pé até o Rio Toledo. Andei até um local onde havia três casas, na época o povo chamava de Vila Cristo Rei e hoje é a sede dos Pioneiros. Cheguei e perguntei para as famílias que ali moravam se tinha serviço. Isso foi no dia 18 de julho de 1949” (Silvino Bell’Aver, depoimento ao Jornal do Oeste, Toledo).

    A única opção era trabalhar quase como escravo: “Lembro que aqui tinha um inspetor de polícia que mandava mais do que um delegado ou até mesmo um juiz. Ele colocava todo mundo para trabalhar. Quem trabalhava, comia. E quem não trabalhava, apanhava”. 

    Palácio coberto de taquaras

    Ao procurar o engenheiro Eugênio Gustavo Keller o jovem soube que a única condição para ser admitido era querer trabalhar. 

    “Naquela época, ninguém perguntava quanto ia receber pelo trabalho, se perguntasse era mandado embora na mesma hora. Era preciso trabalhar um dia para saber quanto merecia pelo serviço feito”. 

    Na tarefa de picadeiro, que era abrir picadas no mato para a turma da agrimensura registrar as condições das terras, “a jornada de trabalho começava na segunda-feira ao clarear do dia e só terminava no sábado à noite quando os picadeiros retornavam do meio da mata”.

    Sua recompensa imediata foi aprender a analisar mapas e localizar as melhores terras, que achou na Linha Tapuí. 

    “A Companhia Maripá dava as terras para quem quisesse realmente trabalhar e até cedia as ferramentas e tudo mais o que era preciso para iniciar o plantio. As pessoas pagavam depois, como e quando podiam”. 

    Começou sua dupla jornada, de trabalhar para a companhia e nas horas vagas cuidar de construir moradia na área escolhida. Agora reinaria isolado no mato, rei do sertão em seu palácio, um rancho de 10 m² coberto de taquaras.  

    “O começo não foi fácil. Comprei algumas panelas no empório da Maripá só mesmo para poder cozinhar. O fogo eu fazia no chão. Comecei a trabalhar nas minhas roças, era de onde eu tirava a minha comida, plantava e colhia para comer. Comprar só mesmo sal, pimenta e querosene”, recordou Bell’Aver. 

    Fica ou a onça come

    Depois de cinco anos trabalhando em Toledo, decidiu ir ao Sul encontrar uma companheira. A eleita foi Natalina Miotto, de família amiga dos Bell’Aver. A mudança para Toledo “coube perfeitamente em apenas uma mala” e a escolha pela viagem aérea pouparia Natalina dos dissabores do longo percurso.

    Enquanto estiveram no avião tudo foi bem, mas depois de sucumbir à noite ao cansaço da viagem no “palácio” perdido no mato, a rainha Natalina despertou e não viu um só traço de civilização por todo lado que olhasse. Aos prantos, pediu a Silvino para ir embora e voltar à família. 

    “Perguntei por que caminho ela iria, ela apontou para a direção que hoje nos leva a Pato Branco. Então disse que se ela fosse mil metros para dentro do mato ela seria comida por uma onça. Eu tinha contado como era a vida aqui, mas ela disse que não tinha acreditado” (Jornal do Oeste).

    A adaptação à nova terra veio com o trabalho intenso, pois havia tudo a fazer. A produção agrícola vinha robusta, mas não havia compradores. 

    “Em um ano, eu e a mulher plantamos e colhemos 114 sacas de arroz e não achamos comprador, seguramos a produção estocada por uns três anos até criar larvas, tivemos que jogar tudo fora. Feijão a gente também colhia e jogava fora porque não tinha para quem vender, não tinha comércio”. 

    A produção começou timidamente a sair com a chegada de um tropeiro chamado Joaquim Lino, que com seu burro de carga vendia banha e linguiça e levava diversos produtos aos clientes que encontrava no caminho.

    A exemplo de Frederico Blum, fundador da Associação Rural de Cascavel, Silvino Bell’Aver fundou o Sindicato Rural de Toledo. Por sua vez, Benjamin Sbaraini antes de se associar ao Sindicato Rural de Cascavel já participava da Coopavel. 

     

    Fonte: Fonte não encontrada