Categoria: Cultura

  • A alma de Cascavel é o rio

    A alma de Cascavel é o rio

    Um gigantesco vazamento de óleo diesel atingiu o Rio Cascavel em 11 de março de 2001. Cerca de 8 mil litros do combustível da companhia Ipiranga armazenados no Auto Posto Pegoraro desceram para o leito do curso d’água que dá nome à cidade e ao Município de Cascavel. 

    As providências imediatas para conter os danos foram tomadas e um debate sobre como evitar futuras ocorrências prejudiciais às nascentes e ao Rio Cascavel resultou em maio na criação do Conselho Municipal do Meio Ambiente. 

    Interessante lembrar que em 2010 o World Plumbing Council, organização que incentiva soluções para o abastecimento de água, instituiu esse mesmo dia 11 de março como Dia Mundial do Encanamento.

    A solução proposta para prevenir desastres ambientais no lago foi um megaprojeto que previa a desapropriação de 163.769,11 hectares, inclusive a área hoje ocupada pelo Shopping Catuaí.  

    Engolido pelas festas de final de ano, o decreto 5.734, de 21 de dezembro de 2002, assinado pelo prefeito Edgar Bueno, secretário Roberto Aoki (Planejamento) e Kennedy Machado (procurador jurídico), determinava a desapropriação de áreas de interesse ambiental pertencentes à Construtora Dino Vitti, ProOeste, Comisa e famílias tradicionais de Cascavel. 

    Ação preparatória em 1992

    O projeto foi abandonado sob a alegação de faltar dinheiro para as indenizações. Nada convincente, considerando futuras “revitalizações” caras e sem grande benefício ambiental.

    Os desastres, entretanto, não ocorreram por falta de aviso. Em janeiro de 1990, aproveitando a redemocratização trazida pela Carta Magna de 1988, o prefeito em exercício Hostílio Lustosa sancionou a lei 2.108/90, estipulando regras rigorosas para a proteção dos fundos de vale entre as normas de zoneamento e uso do solo urbano. 

    Nessa época, o secretário do Planejamento era o arquiteto Nelson Nastás, que depois também participaria da solução central que foi a criação do lago municipal.

    Decorrente do rigor imposto pela lei 2.108, o prefeito Salazar Barreiros, o secretário da Administração, Gilberto Gonzaga, o da Agricultura e Meio Ambiente, Gernot Stalke, e do Planejamento e Desenvolvimento Urbano, Ricardo Mion, decretaram medidas urgentes para proteger o Rio Cascavel contidas no decreto 3.415, de 12 de junho de 1992, que criou a Área de Proteção Ambiental (APA) Rio Cascavel.  

    Preocupação constante

    A Prefeitura tinha em perspectiva a necessidade de proteger as nascentes do Rio Cascavel pelo menos desde 1963, quando o prefeito Octacílio Mion integrou o Município ao Fundo de Água e Esgoto do Estado. 

    Mion assumiu o Município em cima das cinzas da Prefeitura, em 1961, e de imediato o rápido crescimento da cidade, por conta da riqueza trazida pela madeira levada à construção de Brasília, multiplicou as exigências pela ampliação da rede de água.

    Desde que a cidade passou a crescer rapidamente nos anos 1960, portanto, já havia preocupação quanto à proteção da bacia do Rio Cascavel devido à sua localização na área urbana e a presença da rodovia federal BR-277 que “em caso de acidentes com cargas perigosas, pode comprometer o abastecimento de água de Cascavel” (Gladis Aparecida Sandi Tosin, https://x.gd/yRjJb).

    Em 1966, já na gestão do prefeito Odilon Reinhardt, foi criado o Serviço de Água e Esgoto, de caráter autônomo, que agiria em conjunto com a Sanepar. Decorreu daí a criação do reservatório elevado junto ao Colégio Eleodoro Ébano Pereira. Foi importante, mas Cascavel explodiu. A população saltou de 5.274 habitantes na zona urbana em 1960 para 34.961 moradores uma década depois.

    A intervenção de Jaime Lerner   

    A solução para esse problema já crônico estava presente desde que a primeira família – Elias/Schiels – veio se fixar nas duas margens do Rio Cascavel, em setembro de 1922. A solução era o rio. Represá-lo permitiria criar o reservatório ideal: o lago artificial que forneceria dois terços da água a ser consumida pela população. 

    O primeiro movimento concreto nesse rumo foi o Projeto CURA (Comunidade Urbana de Recuperação Acelerada), programa do extinto BNH. Em agosto de 1974, na gestão Pedro Muffato, a Prefeitura firmou convênio com o BNH mirando a formação do lago para ser um reservatório para o futuro abastecimento d’água da metrópole que se projetava em decorrência do boom agrícola.

    As desapropriações necessárias começaram em 1975 e terminaram em 1980. Importante observar que até essa altura não havia exigências ambientais, como relatórios EIA ou RIMA. O planejamento, embora tecnicamente adequado, não chegava a compreender a necessidade de proteger não só o Rio Cascavel como também suas dezenas de afluentes, dos quais alguns dos mais conhecidos pela população cascavelense são o Rio da Paz e o arroio Coati Chico. 

    Quando assumiu, em 1977, o prefeito Jacy Scanagatta contratou a elaboração de um Plano Diretor junto ao escritório do arquiteto Jaime Lerner, executado pelo engenheiro Cássio Taniguchi.  Lerner, ex-prefeito de Curitiba, depois seria governador, e Taniguchi, prefeito de Curitiba. Além do aspecto utilitário de reservatório de água, Lerner remodelou o projeto com os itens de preservação ambiental e lazer

    Vencendo a Década Perdida

    Em 1978 a equipe técnica da Secretaria Municipal de Planejamento montou o projeto geral que resultaria na barragem, a ser executada de forma a servir de suporte para ligação entre os bairros sul, com a previsão de inundar uma área de 41,12 hectares.

    É obrigatório lembrar a lucidez dos técnicos que bolaram o reservatório de água: o economista Moacir Pereira Borges, secretário municipal do Planejamento, a arquiteta Solange Smolarek e seu colega Nelson Nabih Nastás.

    Nas margens do lago foi preservada uma área de amenização que veio a formar o Parque Danilo Galafassi. Acreditava-se que todos os cuidados para a proteção do Rio Cascavel estavam tomados, mas entre as leis e os projetos está a dura realidade da situação difícil do país na época.

    Veio a Década Perdida da ditadura – basicamente os anos 1980 –, mas o desenvolvimento acelerado de Cascavel e o planejamento cuidadoso garantiram a sequência das obras do lago, que se completaram em 1984. Tinha a profundidade de cerca de 10m e o reservatório contendo mais de 450 milhões de metros cúbicos de água.

    O desastre de 2001 e o árduo trabalho de recuperação resultou na imposição de mapear todas as nascentes do Rio Cascavel, segundo o ambientalista Adelar Valdameri situadas nos bairros Pacaembu, São Cristóvão, Cascavel Velho e Maria Luiza, trabalho concluído em 2003.

    Nascentes identificadas

    Foram identificadas por GPS e determinadas com precisão no mapa da cidade os locais de 355 nascentes localizadas no perímetro urbano. 

    “Do total de minas e nascentes cadastradas na região, 269 estão localizadas na bacia do Rio Cascavel, principal manancial de abastecimento da cidade. Deste total, 47 nascem em área militar e apresentam melhores condições de conservação” (Mariana Guerin, Folha de Londrina, 9/11/2003).

    Todos os avisos de que novos desastres ambientais poderiam ocorrer a qualquer momento se perderam no passado quando, dez anos depois do acidente de 2001, em 19 de fevereiro de 2011, ocorre o segundo megadesastre ambiental no lago, atingido por três mil litros de óleo após a colisão entre dois caminhões, deixando 150 mil pessoas sem água.

    Como se não bastasse, na tarde de 16 de maio um vazamento aparentemente acidental de emulsão asfáltica desceu de um caminhão tanque no quilômetro 591, poluindo o arroio Coati Chico, sem alcançar o Rio Cascavel e, portanto, sem afetar a captação de água.

    Curiosamente, Paulo Gustavo Gorski, político de destaque regional e estadual, foi identificado como um dos donos da empresa que por acidente deixou escapar material poluente para a bacia do Rio Cascavel.

    Ele é filho o patriarca Paulo Gorski, nome do Parque Ecológico que compreende as nascentes do Rio Cascavel, o Zoológico e o Lago Municipal. 

    Sem os cuidados necessários será fácil a qualquer um pôr em risco áreas tão sensíveis quanto ameaçadas. Os avisos foram muitos, mas as soluções vieram a conta-gotas.       

    100 anos da revolução: A tragédia governista 

    Em Barracão, sabendo da aproximação por dois caminhos diferentes dos contingentes legalistas de Claudino Nunes Pereira e de Firmino Paim Filho, o comandante Luiz Carlos Prestes ordena a retirada dos revolucionários de Barracão rumo ao Norte, para atravessar o Rio Iguaçu.

    “Ao anoitecer do dia 24 de março, simula um avanço do 1º Destacamento, sobre a coluna que vinha do Sul, obrigando-a a fixar-se à espera do ataque, na localidade denominada Maria Preta. Em seguida retira-se, sem permitir que a manobra seja detectada. Na escuridão da noite, as duas colunas governistas acabaram por se chocar, passando a trocar tiros entre si. Só na madrugada puderam verificar que o fogo amigo provocara 200 baixas” (Sérgio Rubens de Araújo Torres, Nas Barrancas do Rio Paraná). 

    “Durante a madrugada, os rebeldes atraem as forças inimigas para um lugarejo conhecido como Maria Preta, às margens do Rio Santo Antônio, na fronteira com a Argentina. Assim que as tropas legalistas estão bem próximas, eles se afastam sem ser percebidos; os dois batalhões ficam frente a frente. 

    “Os homens do coronel Claudino e de Firmino Paim, perdidos na escuridão, começam a atirar, passam a madrugada inteira trocando tiros. Só ao amanhecer, quando os rebeldes já estão longe, eles percebem que combatiam entre si. 

    “O número de baixas, em pouco mais de quatro horas de encarniçados combates, é surpreendente: cerca de 200 homens abatidos dos dois lados”.

    Maria Preta, local em que Prestes habilidosamente jogou duas tropas do governo para combater entre si 

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • O fenômeno Ozíres Santos

    O fenômeno Ozíres Santos

    O pai, o farmacêutico Tarquínio Joslin Santos, era dono de um terço da atual cidade de Cascavel. Vindo em 1938, quando o governo do Estado doava terras na região para estimular o desenvolvimento agrícola, Santos encontrou a vila de Cascavel limitada a algumas poucas quadras.Tomou posse de chácaras ao redor e quando a cidade avançou por suas propriedades ele doou áreas ao Município. Tarquínio, aliás, deixou de ser prefeito de Cascavel por apenas um voto nas eleições de 1952 – ele não pôde votar por estar isolado no interior pela chuva. 

    Ozíres nasceu em 3 de março de 1936 em União da Vitória (PR). Veio no colo da mãe, Altiva Diva Ribeiro dos Santos, em 1938, quando os pais se deslocavam para Foz do Iguaçu em penosa viagem de carroça. 

    Na passagem pela vila de Cascavel, Tarquínio foi convencido pelo patriarca Jeca Silvério a abrir uma farmácia no local, hoje esquina da Avenida Brasil com Rua Sete de Setembro, mas só veio para morar a partir de 1947.

    Em Cascavel, Ozíres cumpriu os primeiros estudos e cresceu fazendo amigos por toda a região. Também com farmácia em Foz do Iguaçu, Tarquínio aplicava lá os ganhos do comércio em imóveis. “Meu pai foi pioneiro em loteamentos em Foz do Iguaçu. O primeiro que abriu e urbanizou foi a Vila Yolanda”.

    O vereador Ozíres

    Por motivo de saúde, Tarquínio logo teve que voltar a Foz do Iguaçu, mas Ozíres ficou e concorreu à Câmara de Cascavel nas eleições de 1960, pelo PDC, ficando na primeira suplência. Assumiu a cadeira depois em substituição ao vereador Itasyr Luchesa, que renunciou ao mandato.

    Ozíres participou ativamente da elaboração da Lei Orgânica da época e dos debates em torno do planejamento urbano. O centro de Cascavel teria que ficar fora da rota da BR-277 e os comerciantes temiam que a cidade ficasse esvaziada de clientes sem a estrada federal. 

    O vereador propôs que a rodovia continuasse ainda por algum tempo cruzando a cidade. A proposta foi aceita, mas para se enquadrar no desenho urbano do arquiteto Gustavo Gama Monteiro seria preciso recuar a Rua Paraná.

    Ozíres argumentou que a imposição prejudicava os proprietários de imóveis atingidos e defendeu um ressarcimento justo para o recuo da via pública, afinal executado com mínimas queixas.

    Em 1963, por influência do pai, Ozíres abriu mão da vereança em Cascavel e foi concorrer à Prefeitura de Foz do Iguaçu. A proposta apresentada pela equipe que ele levou de Cascavel, chefiada por Celso Formighieri Sperança, “girava em torno do turismo e da eletrificação da cidade, que não tinha luz” (Gazeta do Iguaçu, 12/01/94). 

    Traído pelo partido

    No entanto, o partido pelo qual Ozíres era vereador em Cascavel, o PDC, não quis que ele fosse o candidato à Prefeitura sob a alegação de ser muito jovem. Tinha 27 anos.

    A salvação veio do presidente local da UDN (União Democrática Nacional), advogado Ney Wadson dos Santos, irmão do médico Wilson Joffre, de Cascavel, que lhe ofereceu a legenda. Ney morava em Foz do Iguaçu, onde hoje é nome de rua, mas tinha escritório de advocacia em Cascavel, no qual defendia posseiros contra jagunços. 

    Mesmo com legenda, o páreo era difícil. Ozíres enfrentava os principais líderes da cidade, como Írio Manganelli (PTB), herói da II Guerra, e o igualmente respeitado capitão Jacob Beck (PSD), indicados pelos partidos mais poderosos do país.

    Apesar de bombardeado pela propaganda adversária que o depreciava como “jovem e inexperiente para ser prefeito”, além de ser filho de um comunista, Ozíres se elegeu com mais votos que Manganelli e Beck somados. 

    Resultados imediatos

    Assumindo a Prefeitura já em dezembro de 1963, Ozíres logo conseguiu acionar um motor termoelétrico para depois concluir a Usina de Ocoí. A partir daí, apesar de alguns eventuais obstáculos, Foz nunca mais se preocupou com energia e hoje é campeã na geração de eletricidade.

    Em sua gestão houve incentivo à expansão da hotelaria e ênfase no asfaltamento. “Não havia um metro de calçamento, e eu consegui asfaltar a Avenida Brasil e várias ruas do centro da cidade”.

    No passado, seu pai, Tarquínio, abriu a Estrada das Cataratas no trecho entre o bairro M’Boicy até próximo ao atual Hotel Bourbon, que no governo Vargas virou avenida calçada com pedras, “mas tinha virado uma buraqueira”: “Os turistas vinham de avião e seguiam até as Cataratas de carro ou ônibus, e nós ficávamos com vergonha da estrada”.

    Asfaltar a via dependia do governo federal, que atendeu ao pedido. Tudo ia bem, mas ao completar três meses de gestão ocorreu o golpe de Estado de 1º de abril de 1964, que depôs o presidente João Goulart.   

    Ozires não temia incômodos, pois foi eleito pela UDN, partido que conspirou para deflagrar o golpe, e governou os quatro anos. Mesmo sofrendo agitações promovidas por adversários ansiosos para desestabilizá-lo, sua gestão teve um caráter histórico excepcional. 

    Emendando ponte e aeroporto

    Em 1965 foi inaugurada a Ponte da Amizade, com as presenças dos presidentes do Brasil e Paraguai, generais Humberto Castelo Branco e Alfredo Stroessner. Ozíres aproveitou a presença do presidente para pedir a construção do novo aeroporto de Foz do Iguaçu. 

    “Mostrei a ele a necessidade de construir em Foz do Iguaçu um moderno aeroporto, com o argumento de que assim o turismo deslancharia aqui na fronteira. O presidente concordou, prometeu fazer e fez”.

    Ao fim do mandato, em 1968, por ser área de fronteira o novo regime descartou eleições em Foz do Iguaçu. Ozíres recebeu então um ano extra de mandato, mas seu período extra de prefeito nomeado não foi fácil. 

    “Qualquer fofoca contra um político diante dos militares podia levar à ruína”, recordou Ozíres. “E eu, jovem e idealista, tinha forte oposição dos que controlavam o poder econômico da cidade – os madeireiros e exportadores ou contrabandistas de café, a elite da época aqui”. 

    “Tramaram de todas as formas contra mim. Dos nove vereadores, fiquei com o apoio de apenas um. Queriam me cassar. Era taxado de comunista, acusado de cometer irregularidades. Mas, como eram covardes, foram me denunciar aos militares e pedir que me cassassem”. 

    Coronel aceitou o desafio

    Atendendo às pressões, o governador do Estado, Paulo Pimentel, chamou Ozíres ao Palácio Iguaçu e lhe pediu para renunciar. “Eu recusei terminantemente e Pimentel me expulsou do Palácio”.

    “Certo dia, o coronel Pérsio Ferreira chegou com a missão de interditar a Prefeitura. Disse-me: ‘Já interditamos o IBC (Instituto Brasileiro do Café) e a Receita Federal. Vamos interditar a Prefeitura também, porque as denúncias contra o senhor são graves’”.

    Ozíres perguntou quem o estava denunciando e o militar disse que não podia revelar. “Muito bem, então, antes de me cassar, o senhor vai verificar se de fato eu errei e vai me dar o direito de me defender”.

    A prestação de contas dos atos da Prefeitura não encontrou irregularidades. “Ao invés de ser cassado, quando terminou meu mandato fui convidado a permanecer no cargo como prefeito nomeado”.

    De volta às atividades empresariais, Ozíres e o pai expandiram seus negócios imobiliários, mas, já em tempos do famigerado AI-5, que escancarou a ditadura abertamente no país, em novembro de 1969 a Polícia Federal recebeu uma volumosa delação segundo a qual nas margens do Rio Iguaçu agiam “grupos subversivos” que contrabandeavam armas pela fronteira. 

    A lista dos delatados

    A concentração de tais grupos seria a localidade de Aparecida do Oeste, futura cidade de Capitão Leônidas Marques. Alguns dos acusados eram o coronel Aroldo Cruz, da Polícia Militar, o vereador José de Oliveira, de Cascavel, o coletor estadual José Pacheco, membros da família Dalcanale, a colonizadora Sinop (Formosa do Oeste), a companhia Pinho e Terras e o juiz Sydney Zappa (https://x.gd/DkRJf).  

    O ex-prefeito Ozíres Santos fazia parte da lista e vários denunciados foram presos, mas as investigações esclareceram que se tratava de uma das peças caluniosas tão comuns na época, sem informações concretas nem provas sobre as supostas ações dos delatados.

    O pai Tarquínio morreu em 1979 e em 1984, já com o país vivendo os momentos finais da ditadura, Ozíres ingressou na construção naval e na navegação, dividindo suas atividades empresariais entre Cascavel e Foz do Iguaçu. Casado com Luzia Rosa Santos, teve um filho: Tibério Fabian Santos. Morreu em Curitiba, em 24 de junho de 2013.

    100 anos da revolução: Quando nasce a Coluna 

    Esta revelação põe fim às controvérsias entre historiadores a respeito da Coluna Prestes. Para alguns, ela só se forma a partir de abril de 1925, quando os rebeldes gaúchos se unem às forças paulistas e partem de Foz do Iguaçu para sua jornada invicta pelo país.

    Bem antes, em 7 de março de 1925, o general Cândido Rondon, comandante das forças governistas que combatiam os militares rebeldes, enviou telegrama de Guarapuava ao governador gaúcho Borges de Medeiros no qual já qualifica de “Coluna Prestes” a resistência militar ao governo conservador de Artur Bernardes:

    “Cumpre-me informar a V.Ex. que o destacamento do deputado [Firmino] Paim continua em pertinaz perseguição da coluna Prestes, cuja vanguarda engajou fogo com a coluna gaúcha nas proximidades de Clevelândia, de onde vem sendo levada de roldão para Barracão” (Jornal A Noite, 20/3/1925).

    No telegrama ao governador gaúcho, Rondon também informa que no dia 5, a cerca de 90 quilômetros de Clevelândia, a vanguarda de Paim travou luta com a retaguarda das forças comandadas por Siqueira Campos: “A luta durou 40 minutos. Os rebeldes foram desalojados das trincheiras por uma carga de baioneta, do 32º corpo”.      

    Firmino Paim Filho não conseguiu derrotar a Coluna Prestes

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Grupo de Taiko de Cascavel inicia contagem regressiva para embarque ao Japão

    Grupo de Taiko de Cascavel inicia contagem regressiva para embarque ao Japão

    A  expectativa chegou ao ápice. No domingo (16), os integrantes do Zenshin Daiko embarcam para o Japão com a missão de representar o Brasil no Campeonato Mundial de Taiko. O 27º Nippon Taiko Junior Competition será realizado no dia 23 de março, na cidade de Oita. Os jovens percussionistas, com idades entre 14 e 19 anos, enfrentarão as melhores equipes do mundo em uma experiência que une cultura, superação e a realização de um grande sonho.

    “Estamos indo com o objetivo muito forte de ficar entre as melhores equipes”, afirma Adriano Tomio Hoshi, vice-presidente da Associação Cultural e Esportiva de Cascavel (ACEC) e coordenador do grupo. Segundo ele, o desafio é grande, pois o Brasil é um dos únicos países estrangeiros a competir junto com as 43 melhores equipes do Japão, selecionadas em cada estado, além de representantes de Taiwan (China).

    Ritmo intenso

    Taiko, em japonês, significa “tambor”, uma forma de percussão que expressa emoções intensas e conecta o espírito dos praticantes aos seus ancestrais. Para a equipe de Cascavel, cada apresentação ecoa como um símbolo do legado da imigração japonesa no Brasil, especialmente no Oeste do Paraná, onde essa tradição é valorizada e honrada pela cidade e sua população.

    Na última semana antes do embarque, os ensaios ganharam ainda mais intensidade. O grupo treina todas as noites, das 19h às 21h30, focado na precisão dos movimentos, na resistência física e no fortalecimento emocional.

    “Cada batida do tambor carrega nossa história, nosso esforço e a força da comunidade que nos apoia. Temos o compromisso de dar o nosso melhor para representar bem Cascavel e o Brasil”, destaca Adriano.

    Desafios pela frente

    O grupo sai de Cascavel no domingo (16), às 11h25, e segue para Amsterdã, depois Xangai e, por fim, Fukuoka, a cidade mais próxima de Oita, província onde será realizada a competição.

    Em solo japonês, os integrantes terão a oportunidade de treinar com taikôs locais, emprestados por um fabricante. Essa adaptação será essencial, já que levar os próprios instrumentos do Brasil seria inviável. Na sexta-feira (21), os músicos testarão os tambores para escolher os melhores.

    Para o sábado (22) está agendada a passagem de palco, ao lado das outras 44 equipes. No domingo (23), começa a competição, com abertura às 10h30 no horário local (22h30 de sábado no Brasil). O Zenshin Daiko será a 44ª equipe a se apresentar, por volta das 5h da madrugada de sábado para domingo no horário de Brasília.

    Sonho antigo

    O caminho até o mundial foi longo. Desde 2014, todas as formações do Zenshin Daiko buscavam essa conquista, que veio em julho do ano passado, quando o grupo garantiu o título de campeão brasileiro na categoria Júnior no XVIII Campeonato Brasileiro de Taiko, realizado em Serra Negra (SP).

    Desde então, os esforços foram redobrados, tanto na preparação quanto na arrecadação de recursos para viabilizar a viagem. Graças ao apoio da comunidade, dos pais e de patrocinadores, a concretização deste sonho está se tornando realidade.

    Foram muitos jantares e almoços promocionais, campanhas para arrecadar recursos e a busca por patrocínios. “Apesar da alta no valor das passagens, conseguimos atingir nosso objetivo”, conta Adriano.

    Além dos voos, a equipe precisou cobrir os custos de hospedagem, uniformes e outros itens essenciais e padronizados para os nove dias no Japão. O grupo também contou com apoio da Lei de Incentivo à Cultura, permitindo que empresas e pessoas físicas destinassem parte do Imposto de Renda ao projeto.

    Emoção e expectativa

    Para muitos integrantes, esta será a primeira viagem internacional. Mais do que uma competição, o evento representa uma imersão cultural única, conectando os jovens às suas raízes e à arte milenar do taiko.

    A ida ao Japão também tem um significado profundo. Muitos dos percussionistas são descendentes de japoneses que deixaram o país em busca de uma nova vida no Brasil.

    “Como coordenador e para os tocadores, essa viagem é muito emocionante. Estamos retornando ao Japão não para trabalhar, como muitos já fizeram, mas para conhecer a origem de nossos avós e bisavós. E com o principal objetivo de representar nossa cidade, nosso país e a comunidade japonesa do Brasil, que tanto contribuiu para o desenvolvimento de nossa região”, reflete Adriano.

    A comunidade pode acompanhar cada passo desta conquista pelo Instagram @zenshindaiko, onde serão compartilhados momentos da viagem, bastidores da competição e toda a emoção dos jovens talentos. As apresentações também serão transmitidas on-line, pela Nippon Taiko Foundation. O link para acesso será divulgado posteriormente, também no Instagram do grupo Zenshin Daiko.

    Fonte: Assessoria

  • Uruguaio era dono do Parque Nacional

    Uruguaio era dono do Parque Nacional

    Dezembro de 1542. A caminho de Assunção, onde iria assumir o governo regional, o espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca descreveu o Oeste paranaense como “terras muito alegres de muitas águas e florestas”.

    Cabeza de Vaca decidiu dividir a expedição três partes. Duas seguiriam pela margem, a pé e a cavalo, e a terceira, com o governador e 80 besteiros e espingardeiros, iriam por água, em canoas fornecidas pelos índios.

    As canoas se dirigiam pelo Rio Iguaçu em velocidade crescente até ser advertido pelos índios guias de que mais adiante havia um grande perigo. Eram as Cataratas do Iguaçu, da qual ele foi considerado o descobridor, pois as mencionou em seus escritos futuros.

    Iniciando uma penosa marcha à margem do rio, matando a fome com vermes de taquara fritos, o deslocamento de 250 homens armados, 36 cavalos e alguns índios vaqueanos era lentíssimo.

    Cabeza de Vaca jamais teria descrito sua viagem e a “descoberta” das Cataratas, porque o roteiro de viagem contemplava a travessia do Rio Paraná mais ao Norte.

    Avisado de que por lá havia índios poderosos, capazes de massacrar os europeus que lhes aparecessem pela frente, preferiu seguir pela margem Norte do Iguaçu acompanhado de índios amigos, aos quais distribuiu muitos presentes.  

    Paranaense desde 1891

    O Oeste do Paraná só foi oficialmente “descoberto” pelos luso-brasileiros em 1889, quando missão militar tendo à frente o tenente José Joaquim Firmino encontrou um povoado já constituído na área que no futuro será a cidade brasileira de Foz do Iguaçu.

    Entende-se que a Constituição de 1891 passou a região das Cataratas ao Estado do Paraná, ao resguardar para a União apenas os sítios considerados indispensáveis à defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais.

    O uruguaio de nascimento Jesús Val e residente no Chaco Argentino ali se estabeleceu em 1897. Ou as Cataratas não tinham importância para as autoridades da época ou havia o interesse, jamais declarado oficialmente, em que o uruguaio Val mantivesse a propriedade do local.

    Em 1900, o presidente argentino de Julio Argentino Roca (1843–1914), que passou à história por promover horrendos massacres com a etnia Mapuche, positivou parcialmente sua história propondo a primeira lei para proteger as Cataratas do Iguaçu.

    Nessa época o governo brasileiro só estava centrado em resolver questões limítrofes ao Norte. Foi exatamente em 1900 que se resolveu, depois de quase dois séculos, a questão entre o Brasil e a França sobre a demarcação da fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, que tinha invadido e anexado cerca de 260 mil km² do território brasileiro

    Foi a Questão do Amapá, com a qual a fronteira entre os dois territórios foi determinada pelo Rio Oiapoque.

    Sem problemas, Jesús Val confirmou sua propriedade sobre a região das Cataratas em 1905, quando o comando da Colônia Militar do Iguaçu, por orientação do já republicano governo brasileiro deu instruções para providenciar o registro dos colonos que viviam na região da fronteira.

    A misteriosa ordem de cima

    Jesús Val então aparece na primeira página do Livro para Matrícula de Colonos da Colônia Militar, cujo comando recebeu depois ordens de cima, diretamente do Ministério da Guerra, por telegrama, para não causar embaraços ao registro feito por Val.

    O telegrama teria sido enviado pelo general Vespasiano de Albuquerque (1852–1924). A causa da orientação é um mistério. No terreno das hipóteses, é possível que a intenção fosse proteger os interesses do coronel Jorge Schimmelpfeng, que tinha uma empresa comercial localizada junto aos saltos do Rio Iguaçu, segundo Sebastião Paraná (https://x.gd/qxOcM).

    Mais adiante haverá sinais que reforçam essa hipótese. No registro da Colônia Militar, Val consta como sendo um espanhol de 47 anos, autorizado a dispor de um lote de 1.008 hectares à margem do Rio Iguaçu, junto aos Saltos de Santa Maria, para fins agrícolas.

    Não há escritos explicando a orientação de manter as Cataratas como propriedade de um uruguaio com negócios no Paraguai, pessoa sobre a qual, aliás, há reduzidos elementos biográficos conhecidos.

    A não ser que haja relação com interesses do coronel Jorge Schimmelpfeng, futuramente prefeito de Foz do Iguaçu, o telegrama de Albuquerque seguirá misterioso.

    Quando a Colônia Militar do Iguaçu foi extinta, em 1913, Schimmelpfeng já era o homem forte de Foz do Iguaçu, mas o Estado passou a tomar decisões sobre a área, considerando que não havia normas federais sobre o local.

    O papel de Santos-Dumont

    No sábado, 22 de abril de 1916, Alberto Santos-Dumont, vindo de encontros internacionais no Chile e Argentina, aloja-se no Gran Hotel, de Leandro Arrechea, na barranca do Rio Iguaçu.

    Sabendo da visita do inventor do avião, Frederico Engel, dono de um hotel em Foz do Iguaçu, convenceu o prefeito Jorge Schimmelpfeng a convidá-lo para ver as Cataratas do Iguaçu também do lado brasileiro.

    Dois dias depois, Santos-Dumont atravessou o Rio Iguaçu para se hospedar no Hotel Brasil, de Engel. Ao saber que as Cataratas eram propriedade particular de Jesús Val, reclama: “Essas maravilhas não podem pertencer a um particular”.

    “Prepare uns cavalos porque amanhã mesmo parto para Guarapuava”, ordenou, decidido a procurar o presidente (governador) Affonso Camargo para nacionalizar as Cataratas do Iguaçu.

    Viajando a cavalo durante seis dias, de Guarapuava seguiu a Ponta Grossa, onde tomou o trem para ir a Curitiba. Recebido pelo secretário de Interior e Justiça, advogado Enéas Marques, foi levado ao gabinete do governador em 8 de maio, data em que pediu a Camargo a criação de um parque para proteger as Cataratas e promover o turismo regional.

    Em consequência, em 28 de junho de 1916 Affonso Camargo declarou pelo decreto 653 a área das Cataratas de utilidade pública para “nela se estabelecerem uma povoação e um parque”.

    O cunhado do prefeito

    No entendimento do Estado, quem concedeu a área para Jesus Val foi o Ministério da Guerra em movimento incomum por envolver um recurso tão exuberante quanto as Cataratas.

    Jesús Val de imediato se insurgiu contra a desapropriação e abriu litígio judicial. Passou boa parte da vida se queixando que não foi ressarcido pela perda da região concedida pelo Exército nos tempos da Colônia Militar.

    De acordo com as informações contidas na documentação, a essa altura já era viúvo e se estabelecia em Puerto Colón, no Paraguai, localidade próxima a Ponta Porã (atual MS).

    Para acompanhar o processo, Val designou o engenheiro civil e rábula (advogado prático) Antonio Joaquim Alves de Farias, a quem caberia promover ação contra o Governo do Paraná pedindo a “indenização dos prejuízos que lhe causa o Decreto 653”.

    Farias continuou procurador de Jesús Val até 13 de março de 1919, quando passou a procuração para Leopoldo Frederico Pereira, telegrafista-chefe em Curitiba, casado com Adelina Schimmelpfeng, irmã do coronel Jorge Schimmelpfeng, prefeito de Foz do Iguaçu desde 10 de junho de 1914. Esse fato reforça a tese de que o coronel ao defender Val queria proteger seus interesses naquela área. 

    O desfecho

    Em 10 de julho de 1919, Jesús Val desistiu do processo por um acordo pelo qual ele vendia ao Estado do Paraná por escritura pública de compra e venda os 1.008 hectares de sua propriedade por 298,7 contos de réis, sendo 297,9 mil réis em apólices do governo, e 816,3 mil réis em moeda corrente. A propriedade foi registrada pelo Estado em 11 de outubro daquele ano.

    Com a Revolução de 1930, o Estado baixou o decreto 2.153/1930, ampliando para cerca de 3.300 hectares a área já desapropriada na região das Cataratas, visando a “estabelecer uma futura povoação e um parque”.

    Em 1939, também por decreto, desta vez federal (1.035), a área se tornou o Parque Nacional do Iguaçu.

    Recentemente, em 5 de fevereiro de 2025, o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) decidiu que o trecho brasileiro das Cataratas do Iguaçu pertence ao Paraná, com base na documentação de 1919, quando Jesús Val vendeu a propriedade ao Estado.

    É possível que esse fato novo encerre o assunto, iniciado há mais de um século, quando, sem explicações, o ministro da Guerra mandou manter as Cataratas como propriedade do uruguaio Val.

    100 anos da revolução: 400 rebeldes contra 4 mil

    Em 20 de março de 1925, 400 rebeldes estavam cercados por mais de quatro mil soldados sob o comando de 17 generais.

    Não há mais futuro para o contingente revolucionário paulista em Catanduvas a não ser tentar romper o cerco, que se completou pelo inteligente uso do posteamento da rede do telégrafo, que fornecia uma segura orientação geográfica naquela mata fechada.

    Ao se estender em linha praticamente reta por um amplo território do Paraná, o posteamento telegráfico evitou que o destacamento encarregado de fechar o cerco se perdesse no matagal cerrado, deixando furos que permitissem a fuga dos rebeldes.

    Seguindo os postes da rede telegráfica, o contingente legalista “atravessou o Rio Guarani, seguindo até Catanduvas, onde se encontrava um posto de comunicação telegráfico (…) esta estratégia usada pelos militares deu condições para derrotar os revoltosos” (Antônio Moreira da Silva, Nas Barrancas do Rio Paraná).

    Na manhã do dia 23 de março começa o ataque final à posição rebelde em Catanduvas. Até as 13h haviam sido lançadas 1.200 granadas sobre os rebeldes. A cada 20 segundos uma granada de artilharia explode nas trincheiras revolucionárias.

    O Rio Guarani, parte da geografia da Revolução de 1924/25, deságua no Rio Iguaçu

     

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • ‘Ainda estou aqui’ vence o Oscar 2025 de melhor filme internacional

    ‘Ainda estou aqui’ vence o Oscar 2025 de melhor filme internacional

    Pela primeira vez na História, o país venceu um Oscar. “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Torres, foi escolhido melhor filme internacional na 97ª cerimônia de entrega dos Academy Awards, que aconteceu neste domingo de carnaval (2). O longa-metragem bateu “Emilia Pérez” (França), “Flow” (Letônia), “A semente do fruto sagrado” (Alemanha) e “A garota da agulha” (Dinamarca).

    O prêmio foi entregue pela atriz Penélope Cruz e recebido pelo diretor Walter Salles.

    “Obrigado, primeiramente, em nome do cinema brasileiro. Eu estou muito honrado em receber isso nesse grupo extraordinário de cineastas”, disse Walter Salles, que dedicou o prêmio a Eunice Paiva, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.

    “Isso vai para uma mulher que depois de uma perda, sofrida por causa de um regime autoritário, decidiu não se curvar e resistir. Esse prêmio vai para ela, o nome dela era Eunice Paiva. E vai para duas mulheres extraordinárias que deram vida a ela: Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”.

    Walter Salles e Fernanda Torres na cerimônia do Oscar

     

    A história das telas

    O filme conta a trajetória de Eunice Paiva, mulher do ex-deputado Rubens Paiva, que é sequestrado, torturado e morto por oficiais do Exército durante a ditadura civil-militar em 1971. Sem o marido e ela também vítima da brutalidade do Estado, Eunice passa a ser o esteio de uma família de cinco filhos. O roteiro é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, um dos filhos de Eunice e Rubens.

    Além dos elogios da crítica internacinal, “Ainda estou aqui” é um fenômeno nas salas do Brasil, onde já vendeu mais de 5,2 milhões de ingressos e arrecadou R$ 105 milhões nas bilheterias, o maior sucesso comercial nacional desde a pandemia de Covid-19.

    Fonte: O Gloo

  • O juiz “subversivo”

    O juiz “subversivo”

    O golpe de Estado de 1º de abril de 1964 foi justificado à população como ação civil-militar necessária para “limpar” o Brasil e logo devolver o poder em novas eleições presidenciais. A deposição do presidente João Goulart foi apresentada como decisão do Congresso Nacional.  

    A ditadura se cristalizou com uma disputa interna entre duas facções militares: os “pombos”, que pretendiam normalizar em breve a vida institucional do país, e os “falcões”, que tinham apoio dos EUA para instalar uma ditadura militar explícita.

    Nesse período de intensos embates internos do regime, as delações não eram feitas à Justiça para apuração criteriosa. As chamadas “deduragens” eram consideradas provas produzidas por oportunistas que se fingindo de “patriotas” vingavam-se de concorrentes ou adversários entregando-os à repressão ditatorial.

    Nessa época de caça às bruxas era fácil delatar os desafetos e vê-los reprimidos pela ditadura, como percebeu o juiz Sydney Dittrich Zappa ao ser enviado para Cascavel. 

    Chamado a resolver problemas 

    Nascido na Lapa em 16 de fevereiro de 1933, Zappa se formou pela Faculdade de Direito de Juiz de Fora (MG) em 1956, advogou na terra natal até 1957 e foi promotor de Justiça em Guarapuava e Siqueira Campos entre 1958 e 1959, quando iniciou carreira na magistratura. 

    Juiz substituto de 1959 a 1962 em Sertanópolis, São Jerônimo da Serra, Cambé, Rolândia, Ibiporã, Uraí, Assaí e Londrina, Zappa foi o primeiro juiz da Comarca de Cruzeiro do Oeste, em 1962, e nesse mesmo ano foi enviado a Teixeira Soares e Bandeirantes.

    Era um solucionador de problemas, habilidade que também o levou em 1963 a Porecatu e no ano seguinte a Mandaguari, lá permanecendo até 1967, ano em que se deslocou a Rolândia e daí à conturbada Comarca de Cascavel. 

    Ao chegar, Zappa se deparou com a dramática situação dos posseiros acossados por jagunços desde o Rio Piquiri até o Rio Iguaçu, por vezes apoiados pela polícia. 

    Em Aparecida do Oeste, mais conhecida como Aparecidinha, os posseiros da antiga e conturbada “Gleba Andrada” não conseguiam registrar as terras por conta de disputas não resolvidas entre o Estado, a União e empresas colonizadoras.

    Eram tidos por elas como “foragidos da justiça e aventureiros que sobreviviam da caça, pesca e extração de palmito na então exuberante mata, junto à foz do Rio Andrada” (https://x.gd/O7jCD).

    Não conseguiam titular

    A história é mais complexa. Com a revolução de 1930, os interventores designados por Getúlio Vargas nos estados tentaram aplicar os mesmos poderes ditatoriais do presidente em suas regiões, caso do general Mário Tourinho, que estadualizou áreas na faixa de fronteira.

    Depois da ditadura Vargas, quando companhias colonizadoras vendiam terras no interior, os compradores encontraram áreas ocupadas por posseiros. Eles haviam sido estimulados pelo interventor Manoel Ribas, mas não conseguiam titular as terras devido aos conflitos dominiais.

    Assim se deu com Aparecida do Oeste, localidade então pertencente ao Município de Cascavel que em 1964 se tornou Município com o nome de Capitão Leônidas Marques.

    O primeiro posseiro conhecido dessa área foi Maximino Farrapo, policial da equipe do coronel João Lapa, delegado especial de Cascavel, que em 1957 começou ali um empreendimento safrista (combinação do cultivo de milho com a criação de suínos). Antes, Farrapo também teve posse em Ampere, de onde trouxe mais colonos.

    “Elementos comunistas”

    Na sequência de Farrapo, o catarinense João Ruth Schmidt (1920–1972) veio, gostou do lugar e chamou irmãos e amigos das famílias Lara, Borba e outras, que vieram para praticar a agricultura.

    Diante dos problemas fundiários não resolvidos, uma comissão de moradores se dirigiu à Assembleia Legislativa e lá ganhou apoio para criar o Município de Capitão Leônidas Marques, desmembrado de Cascavel em 1964. 

    Quando o juiz Zappa decidiu intervir nos conflitos, foi acusado de patrocinar “elementos comunistas” em Aparecidinha, como a população ainda chamava o novo Município de Capitão Leônidas Marques. 

    Nessa onda de delações, além de Zappa até o coronel Aroldo Cruz e o capitão Aírton Rolim de Moura, sobrinho do governador Moysés Lupion, foram denunciados por importar “armas com facilidade, pela fronteira da Argentina e do Paraguai, inclusive arrecadando fundos para fins subversivos” (delegado Bolivar Steinmetz, Polícia Federal de Foz do Iguaçu).

    Venceu todas as acusações

    Assim, na base da delação maliciosa, os políticos mal-intencionados exploravam a paranoia ditatorial, que via inimigos em todos os cantos. Isso não impediu que Zappa viesse a ser nomeado em 1984, já na abertura democrática do general João Figueiredo, para o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, que veio a presidir no biênio 1999/2000.

    Os apuros de Zappa começaram logo ao chegar a Cascavel, quando os ativistas do Estado do Iguaçu, liderados pelo advogado Edi Siliprandi, promoveram uma grande manifestação em 14 de novembro de 1967, aniversário da criação do Município.

    A cidade em festa recebeu o governador Paulo Pimentel e a população em peso para a inauguração do asfaltamento na Avenida Brasil.

    Sendo tempo de ditadura, as manifestações populares eram consideradas uma afronta ao regime. Os ativistas do Estado do Iguaçu estenderam bandeiras em fachadas de prédios e saíram pela avenida com seus estandartes e faixas, mas polícia logo apareceu para reprimir os manifestantes.

    Expulsando a polícia

    Ao ser avisado, o juiz Sydney Zappa abordou os policiais e lhes disse que não poderiam reprimir a manifestação, pois do contrário eles é que seriam expulsos do local. 

    A manifestação pró-Iguaçu foi concluída pacificamente, mas Zappa não imaginava o desastre que viria em 1968, ano de eleições municipais no Brasil e de protestos por liberdade em todo o mundo. 

    No curso da campanha eleitoral em Cascavel, na cidade o favorito era o ex-prefeito Octacílio Mion, que concorria a mais um mandato. 

    No campo, onde moravam a maioria dos eleitores, havia certeza de que o vencedor seria Tio Zaca, sobrinho do fundador da cidade, José Silvério de Oliveira.

    Com as eleições marcadas para 15 de novembro, deu-se que em setembro um incêndio destruiu o Fórum Desembargador José Munhoz de Mello, situado na antiga Travessa Willy Barth, hoje Travessa Jarlindo Grando, destruindo os registros eleitorais.

    Quem perde se queixa de fraude

    Com o Fórum queimado, o solucionador de problemas Zappa não se deu por vencido: pediu aos políticos que incentivassem os eleitores a providenciar o recadastramento urgente de seus títulos e fez a divulgação pela Rádio Colmeia, escolas e igrejas.

    A campanha teve resultados exitosos na cidade, mas no interior a motivação dos eleitores para deixar de lado os afazeres da roça para se deslocar ao Fórum à cidade apenas para refazer os títulos não foi a mesma. 

    Estimava-se um eleitorado de pelo menos 45 mil eleitores, mas menos de vinte mil se recadastraram e apenas 15 mil foram votar, com o que o favorito do interior, Tio Zaca, foi derrotado pelo ex-prefeito Octacílio Mion.

    Mion efetivamente venceu o pleito entre os que foram votar, mas como quem perde sempre acusa o adversário e a Justiça, houve protestos e alegações de fraude no voto impresso.

    O roubo impedido

    Era mais um episódio acumulado ao rol de denúncias encaminhadas às autoridades de Curitiba contra o juiz Sydney Zappa. Mas ao contrário de outros juízes que depois foram esquecidos, ele passou em definitivo à história de Cascavel de forma positiva por um episódio casual.

    Um grande roubo de pinheiros foi planejado para ter execução quando o juiz se ausentasse da cidade em férias forenses, mas Zappa acabou não viajando porque uma filha adoeceu.

    Por causa desse infortúnio ele permaneceu na cidade e apanhou os ladrões de pinheiros com a mão na massa. Com isso, preservou o grosso da vegetação que hoje integra o Parque Ecológico Paulo Gorski.

    Depois dos trepidantes acontecimentos vividos em Cascavel, Sydney Zappa foi removido em 1970 para Curitiba, onde brilhou no comando do Tribunal de Justiça do Estado, aposentou-se em fevereiro de 2003 e morreu em 27 de novembro de 2020.

    100 anos da revolução: Voto secreto foi recusado

    Em 5 de março de 1925 os revolucionários completaram sete meses ocupando o Oeste do Paraná. 

    “Apesar do longo assédio dos governistas a posição, bombardeada constantemente pela artilharia, resistia a todas as investidas, desde novembro de 1924. Vivia-se já o mês de março de 1925. Ao Oeste paranaense continuamente chegavam tropas governistas agora sob o

    Comando do general Rondon. O ardor combativo dos rebeldes perdia ímpeto” (Ney Salles, Dias de Luta no Oeste do Paraná).

    No dia 6, em Paso de los Libres (Argentina), terminavam sem acordo as negociações entre os revolucionários e representantes do governo Bernardes.

    Os rebeldes só entregariam as armas se o governo revogasse a Lei de Imprensa, aceitasse o voto secreto e desse início ao ensino público obrigatório. Se Bernardes aceitasse uma só dessas condições e deixasse as demais para debates posteriores teria evitado que a revolução continuasse, agigantando-se com a Coluna Prestes e aprendendo a conhecer o interior do Brasil até ser vitoriosa em 1930.

    Agora, a Rondon só restava esmagar a revolução por imensa superioridade numérica nas posições legalistas sobre as reduzidas forças rebeldes em torno de Catanduvas. Aos revolucionários, as opções eram se render ou resistir até obter uma brecha no cerco para fugir e se juntar a Prestes e ao contingente estacionado em Foz do Iguaçu. 

    Parte da Coluna Prestes se deslocando em 1925

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • A Coopavel à beira da morte

    A Coopavel à beira da morte

    Parte dos eventos traumáticos da Década Perdida da ditadura (anos 1980), a chocante maxidesvalorização do cruzeiro, então a moeda em vigor no Brasil, foi imposta em 19 de fevereiro de 1983. 

    Depois de falharem os truques usados para maquiar a realidade nacional nas eleições de 1982, quando o governo sofreu uma desmoralizante derrota nas urnas, a maxi parecia uma vingança. A medida abalou o país e caiu sobre a Coopavel como um meteoro, pondo a cooperativa à beira da extinção.

    Era o pior momento da empresa depois de superada a oposição ao cooperativismo, que nos anos 1950 e 1960 era acusado de ser “coisa de comunista”. 

    O assunto foi alvo de muitas discussões desde 1953, quando Tarquínio Joslin dos Santos criou a Associação Rural de Cascavel. Tarquínio, de fato, era comunista, mas nem a ARC nem a proposta de criar uma cooperativa tinham algo a ver com marxismo ou com política: vinham da tradição associativa das comunidades de imigrantes: os “filós” (https://x.gd/La1sk).

    Banco e padre

    Na trilha da ARC, em 1954 o cooperativismo ganhou positividade com a criação do Banco Agrícola Vale do Rio Piquiri Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Ltda (Banquiri), por iniciativa de Alceu Barroso e Alceu Barroso Filho, sob a presidência de Djalma Rocha AlChueyr. 

    A aceitação do cooperativismo pelos colonos se completou quando o padre Luiz Luíse denunciou que a desunião dos colonos favorecia piratas agrícolas – os atravessadores. Em 1963 o presidente João Goulart encarregou o deputado federal Lyrio Bertoli, ligado à ARC, de chefiar missão especial do governo à região para verificar a situação dos colonos.

    O Banquiri foi extinto após a instalação da ditadura, mas a ideia do cooperativismo permaneceu na ARC, que em dezembro de 1966 aprovou em assembleia a decisão de criar uma cooperativa agrícola.

    Com a remoção dos obstáculos “ideológicos”, a Cooperativa Agropecuária Cascavel, hoje Cooperativa Agroindustrial de Cascavel, foi criada em 15 de dezembro de 1970 pela união das principais famílias de agricultores.

    Foi um sucesso. Dez anos depois, em franco desenvolvimento, a Coopavel iniciou a construção de sua fábrica de rações, laticínios e indústria de beneficiamento do milho, partindo para a agroindustrialização.

    Indústria, aposta no melhor

    A fábrica entrou em operação em 22 de maio de 1982, com o país já em sérias dificuldades desde o fim da década anterior. Os líderes locais apoiavam o governo confiando que as dificuldades logo se resolveriam. 

    Com as queixas dos colonos batendo na mesa do presidente da Coopavel, Luiz Boschirolli, ele reclamou que a política econômica do governo para 1983, traçada pelo Conselho Monetário Nacional, levaria a agricultura à falência. 

    O CMN atendia às exigências corretivas do FMI, mas as medidas não funcionaram. Os bancos reagiram negativamente e o Brasil enfrentou uma grave crise de liquidez de divisas. A importação de matérias-primas e equipamentos essenciais ficou difícil para o setor produtivo nacional. 

    O fracasso da ditadura favoreceu o crescimento da oposição política e na cooperativa aumentavam as pressões sobre Boschirolli, cuja diretoria se desdobrava tentando resolver assuntos administrativos complexos entre escolhas difíceis. 

    Golpe de misericórdia 

    Com o país em polvorosa, em junho de 1983 sobreveio um novo pacote na área econômica. A redução dos subsídios à agricultura, aos combustíveis e ao trigo se chocavam com as necessidades da população devido à significativa elevação do custo financeiro da produção, penalizando sobretudo os mini e pequenos produtores. 

    “A maxidesvalorização do cruzeiro pegou a Coopavel de surpresa. Foi de certa maneira o golpe de misericórdia para a entidade que amargurara prejuízos de vulto no ano anterior e que naquele exato momento de desventura devia nada mais, nada menos, do que 9,5 milhões de dólares a bancos particulares, fruto de empréstimos para cobrir as operações Coopersabadi e insumos. Aos rombos anteriores veio somar-se, pois, da noite para o dia, mais um prejuízo de 1,8 bilhão de cruzeiros por obra e graça da máxi decretada pelo sr. Delfim Neto” (revista Oeste, nº 2, setembro de 1985).  

    “O quadro das nossas cooperativas, em particular da agropecuária, como um todo, é sombrio, sem querermos ser pessimistas. Basta que sejam mantidas as atuais taxas de juros”, dizia o presidente Boschirolli.

    Na reunião do Sindicato Rural em 30 de setembro de 1983 o presidente Wilson Carlos Kuhn criticava severamente a “geada” dos juros agrícolas, que se agravavam cada vez mais: “Nossos agricultores estão entregando as máquinas e equipamentos para pagarem os financiamentos”.

    Anos tormentosos

    As pressões políticas não funcionaram porque a definição de um novo acordo com o FMI era a prioridade nacional. A corda apertou ainda mais o pescoço do produtor rural com ações trabalhistas e a cooperativa com problemas no equipamento de informática. A diretoria da Coopavel abriu de vez o jogo em 1º de fevereiro de 1985: estava asfixiada e sem saída à vista.

    Em meio a uma intensa boataria e luta acirrada entre grupos divergentes, em 22 de fevereiro de 1985 a diretoria da Coopavel foi destituída. Assumem Salazar Barreiros (presidente), Joaquim Felipe Laginski (vice-presidente) e Dilvo Grolli (secretário).

    Um ano depois, a ditadura já estava esgotada, mas a crise criada se arrastava entre pacotes do governo e a reação nervosa dos produtores. Em 15 de março de 1986 a Assembleia da Coopavel começava outra vez sob a ameaça de fechamento das portas da cooperativa.

    Manobras feitas para evitar a dissolução levaram à derrota da chapa única inscrita para as eleições, medida protelatória que manteve a diretoria anterior, impedindo a liquidação e ganhando tempo até que fosse possível vencer os problemas – uma perversa combinação de fim de feira para a ditadura, a persistência dos obstáculos financeiros para o sistema produtivo e as dificuldades de gestão da cooperativa.

    Para complicar, a desunião

    Intensas lutas dos produtores rurais unidos se estenderam por 1987, com cerca de 300 agricultores ocupando em 12 de fevereiro o centro de Cascavel com ceifadeiras, tratores e outras máquinas e implementos em protesto que também fechou a BR-277.

    Com o Plano Cruzado já em operação (https://x.gd/bTBxn), um movimento ainda mais forte estava previsto para 10 de março, desta vez em demanda por novos valores para os preços mínimos, redução dos juros agrícolas e liberação da correção monetária para financiamentos de custeio e investimento.

    A proposta era promover um movimento pacífico, mas forte: fechariam os bancos com máquinas agrícolas e lançariam um manifesto em praça pública. Mas no início do ano seguinte o movimento ruralista ficaria irremediavelmente dividido: de um lado, a agressividade da UDR (https://x.gd/OgoWT). De outro, a intransigência do MST, criado em Cascavel.

    Em meados de junho de 1990 as cooperativas da região paralisaram a comercialização da soja em protesto contra os baixos preços. As indústrias de esmagamento cessaram a produção de óleo em solidariedade aos sojicultores e a BR-277 foi bloqueada no movimento que se chamou O Levante da Soja.

    A vitória dos agricultores 

    O protesto prosseguiu por toda a segunda quinzena do mês. A queima de uma colheitadeira na pista da rodovia federal irritou o governo paraguaio, que tinha direito de uso da BR-277. O Ministério da Justiça ameaçou com severas represálias os sojicultores que mantinham a estrada sob bloqueio.

    Os anos 1990 transcorreram entre novos protestos e medidas insuficientes, culminado em março de 1995, quando milhares de agricultores do Oeste novamente e uniram contra a política econômica elitista que levava a agricultura à falência.

    Em meio à marcha com tratores e colheitadeiras, o prefeito Fidelcino Tolentino ameaçou fechar as estradas se não houvesse uma resposta até o fim do mês. Fortalecidos por décadas de lutas, os agricultores finalmente venceram, conseguindo a renegociação da dívida de todos os produtores com 25 anos de prazo para pagar, com base no preço mínimo do milho. 

    “Isso foi a salvação da agricultura naquela oportunidade. Começa então a fase da tecnificar, investir na propriedade para obter maior produtividade” (Modesto Félix Daga, no livro Uma História de Paz, Produção e Progresso).

    100 anos da revolução: Emocionante Carnaval

     As ousadas tentativas dos comandados de Prestes de tentar um ataque resolutivo ao QG do general Rondon esbarraram na concatenação das forças governistas federais.

    No dia 19 de fevereiro, 400 provisórios do coronel Firmino Paim Filho forçaram o pequeno destacamento de vanguarda do rebelde João Alberto a recuar. No dia 22, o destacamento rebelde de Cordeiro de Farias, próximo a Clevelândia, era atacado por outro grupo gaúcho, comandando por Claudino Nunes Pereira.

    Revolucionários e rebeldes estão esgotados. Se dependesse deles, a paz seria celebrada em 24 de fevereiro, a terça-feira de Carnaval, quando os soldados legalistas deixam as armas de lado e buscam uma confraternização com os rebeldes. 

    Os 300 metros que separam as trincheiras inimigas são atravessados por soldados desarmados, de ambos os lados, dando início a uma grande confraternização que se prolonga por mais de quatorze horas (Sérgio Rubens Araújo Torres, Nas barrancas do rio Paraná). 

    Não foi sem dificuldade que os oficiais revolucionários e os governistas levaram seus comandados de volta às posições originais de combate. A alegria que sentiram naquelas horas logo seria desfeita pela morte de vários daqueles soldados nos combates que vieram. 

    Coronel Firmino Paim Filho

     

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Bailarina de Cascavel é aprovada em audições de escolas internacionais de dança

    Bailarina de Cascavel é aprovada em audições de escolas internacionais de dança

    15 anos, Heloísa Andriola Tchaika acaba de conquistar um feito inédito. A jovem foi aprovada em quatro audições para integrar as principais escolas de dança do mundo.

    Aluna de ballet da Escola de Dança Grazielle Viechnieski desde os três anos de idade, Heloísa já vinha se destacando com apresentações na cidade. No mês passado, ela participou do Mostra Dança, em São Paulo. O curso reúne meninas e meninos de todo o Brasil e, além de ter aulas com professores de renome internacional, também realiza testes para bolsas de estudo em escolas de dança espalhadas por vários países.

    A jovem bailarina de Cascavel foi avaliada por cerca de duas semanas e conseguiu ser aprovada, de uma vez só, em 4 das 5 maiores escolas do mundo. O resultado com o convite para ingressar nas escolas foi divulgado nesta semana. Esta é a primeira vez que uma bailarina de Cascavel consegue tantas aprovações simultaneamente. 

    “Fui muito preparada para tentar passar em alguma das audições, mas nunca imaginava que conseguiria ser aprovada nas 4. Fiquei muito feliz quando vi o meu nome nas listas. Não caiu a ficha ainda. Mas, sei que estou colhendo tudo o que construí nesses anos todos durante a minha trajetória”, explicou Tchaika.

    Agora, Heloísa terá que escolher em qual escola irá se matricular para iniciar as aulas previstas para o segundo semestre deste ano. A bailarina terá que decidir entre participar da Barcelona Dance Center, na Espanha; Oppus Ballet, na Itália; American Academy of Ballet, em Nova York, e Joffrey Ballet School, com sede em vários países.

    Para a professora que a acompanha desde os primeiros passos de ballet, a dedicação e força de vontade da aluna foram tão importantes quanto o talento dela para a dança. “A Helô sempre quis muito isso e se dedicou pra que acontecesse, com aulas particulares, cursos e muitas horas de dança. Já tive outros alunos que tiveram a chance de estudar no exterior, mas esse feito de ganhar bolsa para quatro escolas internacionais é incrível. Foi muito emocionante”, contou Grazielle Viechnieski.

    Filha de uma enfermeira e de um médico de Cascavel, Heloísa tem grandes sonhos. A adolescente conta que gostaria de fazer parte do corpo de dança da Ópera de Paris. Para chegar lá, as aprovações que conquistou e a experiência que terá nos próximos meses serão fundamentais para enriquecer ainda mais o seu currículo.

    “Quero aproveitar cada segundo dessa experiência para aprender e me aprimorar mais na dança, técnica e artístico. Tenho certeza que vou carregar isso para o resto da minha vida”, garantiu a bailarina.

    Fonte: Assessoria

  • A guerra dos nomes

    A guerra dos nomes

    Muitas cidades têm seus nomes definidos pela iniciativa de padres ou crentes católicos, como São Miguel do Iguaçu, que deixou de ser “Gaúcha” porque a colonizadora com esse nome se envolveu em conflitos de terras com antigos posseiros do lugar (https://x.gd/2d5KZ).

    A lenda em torno de um herói chamado Miguel e a crença católica o transformaram em um santo específico, só existente no Oeste paranaense.

    Quanto a Cascavel, se dependesse do prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Maria Thiletzek, a cidade teria o nome de “Aparecida dos Portos”, definido por ele em 1931, na primeira missa rezada no povoado.

    O livro “Cascavel: uma Santa na encruzilhada” (https://x.gd/62rMf) conta que os líderes da comunidade rejeitaram o batismo como Aparecida dos Portos por conta de três motivos.  

    Primeiro, o lugar já era conhecido pela comunidade e pelos viajantes de passagem como “Encruzilhada dos Gomes”. Segundo, a legislação recomendava dar aos lugares iniciantes os nomes dos acidentes geográficos mais característicos, que nesse caso seria o Rio Cascavel.

    O terceiro é que, já doente e pela primeira vez na até então desconhecida vila de Cascavel, o religioso supunha estar em um dos portos do Rio Paraná, locais que sempre visitava, cometendo um engano ao dar ao lugar o nome de “Aparecida dos Portos”. “Que portos?”, perguntavam. 

    Telégrafo vence a escola

    Mesmo com esses argumentos válidos, alguns religiosos preferiram manter o inexplicável nome Aparecida dos Portos. Na escolinha, os professores faziam as crianças encimar os cabeçalhos de seus escritos com o nome “Aparecida dos Portos” e data. 

    Essa prática deveria fixar em definitivo este como o nome da cidade, mas algo inesperado aconteceu.

    Em 20 de julho de 1931, com a absorção da Estação Telefônica, desde a Revolução Paulista (1924) instalada em Lopeí, os Correios e Telégrafos iniciaram atividades em Cascavel/Aparecida a pedido do principal líder do lugar, José Silvério de Oliveira, o Tio Jeca.

    A inauguração do telégrafo seria formalizada pelo envio do primeiro telegrama as autoridades do Estado. Como o telegrama precisava começar pelo nome do lugar de onde a mensagem partia, o Jeca Silvério determinou ao telegrafista Bento dos Santos Barreto que escrevesse “Cascavel” como o local de origem do primeiro telegrama.

    Essa providência foi crucial para determinar a oficialização de “Cascavel” como o nome da antiga Encruzilhada dos Gomes e pretendida Aparecida dos Portos. No entanto, as discussões entre Cascavel e Aparecida dos Portos se estenderam por mais duas décadas.

    Solução em praça pública 

    Em 1951, ao receber a demanda dos cascavelenses de criar o Município, outro Bento, o governador Bento Munhoz da Rocha, tomou conhecimento de que havia divergências quanto ao nome da cidade e futuro Município.

    Decidido a pôr um ponto final na pendenga, fez uma consulta aos líderes cascavelenses em praça pública, perguntando se os moradores gostariam de mudar o nome da cidade. Durante o Território Federal do Iguaçu a cidade teve um novo nome proposto: Guairacá, mas em 1946, por força constitucional, voltou a se chamar Cascavel. 

    Várias sugestões foram apresentadas ao governador: Aparecida dos Portos, nome dado nos anos 1930 pelo prelado Guilherme Thiletzek, de Foz do Iguaçu, era o preferido pelos católicos. 

    “Aparecida do Oeste” foi uma opção para evitar a gafe “dos Portos”. O major Oscar Ramos Pereira sugeriu “Cascavel do Sul”, adotado pelo jornal Correio d’Oeste, de Celso Formighieri Sperança, e ainda “Cascavel do Paraná”, por haver uma Cascavel mais antiga no Ceará.

    Acima dos demais, elevou-se o grito “Cascavel”, puxado por Dimas Pires Bastos, e assim ficou, embora ficasse o alerta de que a Cascavel de São Paulo teve que mudar o nome para Aguaí por ser mais nova que a cidade cearense. 

    Valeu a Constituição de 1946, que mandou dar o nome anterior e tradicional à rebatizada Guairacá, nome dado à cidade na vigência do Território Federal do Iguaçu. Com isso, ficaram consagrados os nomes de Cascavel (CE) e Cascavel (PR), mesmo homônimos. 

    “Uma nova aurora há de surgir”

    Com Nova Aurora, que os primeiros colonos chamavam de Encruzilhada Tapejara, deu-se que o nome foi aceito sem contestações por sua beleza. A controvérsia se deu em torno da paternidade do nome: ele teria sido criado por um benquisto padre ou por um controverso colonizador, respeitado por alguns e hostilizado por outros?        

    No livro “Nova Aurora – Sua História, Sua Gente” (1984) o jornalista Carlos Valmor Bazanella recolheu a versão passada por pioneiros entrevistados, começando por assinalar que havia divergências quanto ao nome do lugar.

    Os sofridos posseiros, ameaçados por jagunços das companhias colonizadoras, não aceitavam para o lugar a manutenção do nome “Encruzilhada Tapejara”, referência à Companhia Imobiliária Tapejara, fundada por Adízio Figueiredo dos Santos e Luíz de Mattos em 1949.  

    “As opiniões em torno de uma denominação adequada, divergiam-se. Porém, numa certa manhã de domingo, o padre Bernardo Lube, missionário da Ordem do Verbo Divino, que atendia as capelas […] da região que mais tarde veio a formar o município de Nova Aurora, celebrando uma missa campal, cujo altar estava instalado sob uma frondosa árvore (onde hoje está localizada a Praça dos Pioneiros) durante o sermão, comentando os problemas dos posseiros e tituladores das terras da região e olhando para o céu que se apresentava muito claro e radiante, disse: Uma nova aurora há de surgir na vida de todos vocês meus irmãos!”

    Lembranças do Ceará

    Nova Aurora de fato foi o nome escolhido, mas a versão de que seria uma poética imagem formulada pelo padre Lube foi contestada justamente por quem se julgava o verdadeiro pai da denominação “Nova Aurora”: Adízio Figueiredo dos Santos, um dos donos da Colonizadora Tapejara.

    Entrevistado por Bazanella, Adízio disse que ele mesmo dseu o nome ao lugar, em homenagem à sua cidade natal: Aurora (CE). De fato, a cidade natal de Adízio era chamada de “Aurora Nova” antes de ficar só “Aurora”.

    Quanto ao padre Bernardo Lube, que faleceu em Ponta Grossa um ano antes da publicação do livro, aos 75 anos, não pôde ser consultado para dar a sua versão. Os posseiros e colonos em atrito com a colonizadora tentaram impor a versão de que a proposta foi do padre, tentando excluir Adízio Figueiredo dos Santos da história do lugar.

    Embora ele não fosse o pioneiro que a maioria da população preferisse reverenciar, Adízio estava certo. “Quando entramos nessa região, fizemos mapas. Nos relatórios mandados ao governo contendo solicitação de auxílio para a colonização que pretendíamos fazer, também mandamos os mapas das cidades que pretendíamos levantar”.

    Desde 1952, quando já estava criado o Município de Cascavel incluindo a localidade e futuro distrito de Nova Aurora, Adízio declarou a Carlos Bazanella que estava de posse do mapa com escritura definitiva assinalando a cidade de Nova Aurora “nesta mesma situação geográfica em que se encontra hoje”.

    Nova Aurora só após a redemocratização 

    Não era uma simples disputa pela paternidade do nome de Nova Aurora: o caso era apenas a ponta do iceberg de uma complicada trama de fraudes cartoriais combinadas com disputas entre o Estado e a União, compradores de boa-fé e ocupação de posseiros.

    A esse conjunto de situações vieram se somar a ação policial nem sempre legítima e a contratação por parte das colonizadoras de jagunços para expulsar os posseiros, considerados invasores apesar de uma longa permanência na terra em prolongada demanda judicial.

    O historiador Maurílio Rompatto esmiuça passo a passo toda essa trama no livro “Piquiri, O Vale Esquecido” (https://x.gd/6ifc2). O esquecimento se refere ao fato de que os casos menos complexos do Levante dos Posseiros de Porecatu (1947-1951) e da Revolta dos Colonos do Sudoeste (1952-1957) terem ampla exposição na historiografia e na mídia devido a envolvimentos políticos, enquanto a situação do vale do Piquiri se revelou uma intrincada trama de interesses que ainda na década de 1990, após a redemocratização do país, apresentavam sangrentas ramificações. 

    A Nova Aurora, no fim das contas, tardou a estender sua luz acima da escuridão dos conflitos, mortes e sofrimento das famílias prejudicadas.  

    100 anos da revolução: Proposta humilhante

     Em Barracão, no início de 1925, Luiz Carlos Prestes se encontrou com o coronel Fidêncio de Mello (1886–1960), fazendeiro na região, que comandava 78 homens. A junção dessa força permitiu a Prestes planejar a tomada de Clevelândia e Palmas para em seguida pressionar Laranjeiras do Sul, de onde golpearia a retaguarda de Rondon.

    Para isso precisaria receber equipamentos, armas e munições suficientes para cumprir a tarefa. Como os recursos não vinham, Prestes deu rapidamente início uma guerra de emboscadas, mas foi atacado pelos provisórios de Firmino Paim Filho no Arroio São Francisco e em Pato Branco.

    Em 13 de fevereiro chega a Foz do Iguaçu um enviado da 3ª Região Militar (RS). Trazia uma proposta de conversações de paz a se realizarem na cidade argentina de Posadas.

    Lá, o general Isidoro Dias Lopes era aguardado pelo deputado João Simplício de Carvalho, representante dos legalistas. Os revolucionários não tinham mais condições materiais de manter o movimento e aceitaram discutir a cessação das hostilidades, mas os termos exigidos pelo governo eram humilhantes demais.

    A fracassada tentativa de acordo deu o tempo necessário a Rondon para fechar um cerco implacável sobre as forças rebeldes isoladas no Sudoeste do Paraná e distantes do contingente posicionado em Foz do Iguaçu.

    Coronel Fidêncio de Mello trouxe a coluna do Sul ao Paraná

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Iniciadas obras de revitalização da Biblioteca Pùblica de Cascavel

    Iniciadas obras de revitalização da Biblioteca Pùblica de Cascavel

    A Biblioteca Pública de Cascavel – Sandálio dos Santos é um espaço destinado à cultura e um verdadeiro patrimônio do conhecimento, localizada bem no Centro da cidade. O prédio, que abriga os sedentos pelo saber, também é histórico, já foi, inclusive, a casa da Prefeitura de Cascavel. 

    O edifício tem sofrido com as avarias do tempo. Por isso, a Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, inicia hoje (13), uma grande obra de revitalização do espaço. 

    O investimento é de cerca de R$ 230 mil, com recursos federais. A obra prevê a substituição total da cobertura, uma vez que o telhado está danificado, além da troca da caixa d’água. A previsão é que a obra dure dois meses. O funcionamento da biblioteca não será alterado neste primeiro momento. 

    BIBLIOTECA

    A Biblioteca, chamada carinhosamente por Bibis, recebeu só em 2024 cerca de 14 mil leitores, que utilizaram o espaço diariamente para ouvir a contação de histórias, realizar pesquisas científicas, estudar, ler seus livros preferidos e entre outras atividades. Somente no ano passado, a unidade emprestou 7.458 livros aos cascavelenses. 

    A Biblioteca tem 60 anos de atuação e é um dos espaços querido pelos cascavelenses. O local funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, na Rua Paraná, nº 2786.

    Com um acervo riquíssimo, com cerca de 85 mil exemplares, entre livros, revistas, artigos, jornais e outros, a procura por empréstimos é intensa. Além disso, a Biblioteca também faz um trabalho de incentivo à leitura, com ações descentralizadas pela cidade.

    CARTEIRINHA

    Para fazer o cadastro, é necessário um documento de identidade com foto, número de CPF, três números de telefone para referência, comprovante de residência e R$ 1 para plastificação.

    Fonte: Assessoria