Categoria: Cultura

  • O professor caído em desgraça

    O professor caído em desgraça

    Na década de 1950, juiz algum queria assumir a Comarca de Cascavel devido ao clima tenso e à criminalidade reinante. Quando foi cogitado para vir a Cascavel, o juiz Aurélio Feijó disse que só viria se houvesse uma escola de grau médio para seus filhos. 

    Um dos principais líderes cascavelenses, Alceu Barroso, criador do Banco Agrícola Vale do Rio Piquiri (Banquiri), decidiu atender à exigência do juiz. O Banquiri tinha muito interesse em que as questões legais começassem a se resolver na lei e não na bala, por meio de jagunços. 

    Assim, Barroso entrou em contato com um professor que ele conheceu no interior paulista. Antônio Cid, na época, lecionava em Santo Antônio da Platina. Sem conhecer a cidade, Cid concordou em vir a Cascavel para criar a escola, convencido por Barroso de que a região tinha grande potencial.

    Cid nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) em 28 de janeiro de 1924, e veio para Cascavel em 27 de abril de 1954, aos 30 anos.

    “Quando cheguei, notava-se, além dos poucos moradores que aqui existiam, um aglomerado de 80 a 100 casas, ali por volta da atual Praça Getúlio Vargas, que era considerada o centro da cidade”, recordou Cid.

    “O que mais se via por aqui era gente mal-encarada. Em consequência da procura das terras e da defesa dessas terras é que se via por aqui muito jagunço, muita gente armada”.

    Como uma escola não surge automaticamente, o juiz Aurélio Feijó veio em junho para assumir o Fórum da Comarca, mas devido à inexistência de uma escola já funcionando ficou apenas um mês em Cascavel e pediu remoção.  

    Sua contribuição foi ter motivado o interesse por uma escola de grau médio. Cid de imediato se entrosou com a comunidade, mas a escola não viria tão cedo.

    Obra particular em área pública 

    Com o compromisso de construir a escola, Cid ganhou uma ampla área no Patrimônio Novo de Cascavel – a parte da cidade que segue da atual Rua Sete de Setembro em direção ao Leste. 

    Eram terras do Estado reservadas para edificações públicas. O fato de a área ser pública e a escola de Cid ser particular era uma situação a ser resolvida assim que ela viesse a funcionar.

    Cid não tinha recursos para fazer a escola nas condições que o Ministério da Educação exigia. O governador Moysés Lupion o aconselhou a vender a área excedente para financiar a obra: “Você tem aquela área grande lá, vende um pedaço dela […] pega o dinheiro e joga aí” (depoimento a Paulo Roberto Krüger, https://x.gd/mmmeJ) 

    Em meio às tratativas para viabilizar a escola, Cid sofreu um drama familiar. No final de 1954 seu filho José Augusto apresentou um quadro de retardamento mental acompanhado de traumatismo nos membros inferiores. Sem condições de tratar o menino em Cascavel, correu para São Paulo, mas nem lá conseguiu reverter o quadro. 

    Só em 1956 o professor conseguiu completar as obras da escola. Em madeira, na atual Rua Paraná, esquina com a Travessa Padre Champagnat, tinha quatro salas de aula. 

    Tentativa de regularizar

    O estabelecimento abrigava o Ginásio Rio Branco e a Escola Técnica de Comércio, oficialmente reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura em 12 de março de 1957.

    Chegava a hora de regularizar a posse da área junto ao Departamento de Geografia, Terras e Cartografia do Estado (DGTC), que cedeu as terras para a formação do Patrimônio Novo da cidade de Cascavel.   

    O requerimento nesse sentido deu entrada no DGTC em maio. Declarava o uso da área de 25.106m² na Reserva II, originalmente destinada à construção de um grupo escolar, tendo ali construído sua Escola Técnica de Comércio Rio Branco investindo um milhão de cruzeiros (moeda extinta em 1967).

    Além do professor Cid, lecionaram naquela escola os professores Celso Formighieri Sperança, primeiro secretário municipal da Educação, e o advogado José Bernardo Bertoli, proprietário da Rádio Colmeia. 

    Quando a Comarca foi “despejada” de seu prédio alugado, o professor Cid acolheu o Fórum em sua modesta escola: “Como não havia outro lugar para se colocar, na minha escola eu tinha duas salas disponíveis, cada uma com 48 metros quadrados”.

    Escola passa à Prefeitura 

    A Prefeitura, então localizada diante de sua escola, sofreu um incêndio criminoso em dezembro de 1960 e Cid também ofereceu parte das instalações para atender às necessidades do Município até a construção de um novo prédio.   

    Por conta disso, em 1961 a Escola Rio Branco foi declarada de utilidade pública pelo Município de Cascavel e passou a receber uma “subvenção anual”. Era o início do processo de absorção do educandário, então particular, pelo Município.

    Os Irmãos Maristas planejavam vir para Cascavel desde 1956, quando rejeitaram uma área oferecida pela Prefeitura. Com a absorção do Rio Branco pelo Município, em janeiro de 1962 o irmão marista Carlos Leone recebeu da Prefeitura a proposta de instalar ali o seu colégio.

    O Colégio Marista recebeu o patrimônio das escolas do professor Cid em troca da área doada em 1956 à congregação pelo prefeito José Neves Formighieri. Assim, os Irmãos Maristas passaram a lecionar no antigo Rio Branco e o Município construiu na antiga área dos padres o Estádio Municipal Ruy Gândara (depois Ciro Nardi).

    Sucessão de golpes

    Em março de 1964, um golpe civil-militar depôs o governo de João Goulart, amplamente apoiado em Cascavel, de históricas raízes getulistas. A Prefeitura, que havia conduzido a transferência do Colégio Rio Branco ao Colégio Marista na base de entendimentos entre as partes, viu-se na necessidade de formalizar o ato.

    Em setembro, a lei 292/64 autorizava oficialmente a transferência à Associação Brasileira de Educação e Cultura de todos os direitos relativos ao Ginásio Rio Branco, “independentemente de qualquer indenização”.

    Aparentemente a situação estava esclarecida: Cid criou sua escola em área pública cedida pelo Estado, teve autorização do governo Lupion para vender parte da área para financiar as obras do colégio e entregou a escola à Prefeitura, que por sua vez a repassou aos Irmãos Maristas. 

    Na cena nacional, o propósito dos golpistas ao derrubar João Goulart em 1964 era sanear o país e normalizar a vida pública brasileira. No entanto, houve uma guerra interna entre os militares no poder e em dezembro de 1968 se deu um golpe dentro do golpe (https://x.gd/lxykF), com o qual a ditadura se escancarou de vez no país e se arrastaria por duas décadas.

    Uma onda de perseguições, prisões e mortes se deu na sequência desse novo golpe, marcado pela imposição do AI-5. Vários líderes cascavelenses foram presos e alguns conseguiram fugir para outras regiões e países. Dos que ficaram, o mais prejudicado foi o professor Antônio Cid. 

    O golpe sofrido por Cid se deu em 15 de setembro de 1969, quando um decreto dos ministros militares, que governavam o Brasil na ausência de um presidente eleito, anulou as vendas de bens feitas pelo professor e os confiscou.

    Completamente arruinado

    A anulação também prejudicou as pessoas que haviam adquirido bens transferidos por Cid, dentre os quais o arquiteto Gustavo Gama Monteiro, que idealizou a Avenida Brasil e finalizou o projeto da Catedral, e o ex-vereador cascavelense e primeiro prefeito de Corbélia, Julio Tozzo. 

    A situação pessoal de Cid então chegou ao estado de penúria. Ser perseguido pela ditadura equivalia a um atestado de banditismo. Tentando crédito para comprar alimentos para a família, o professor ouviu de um supermercadista que só levaria as compras pagando à vista.   

    “Eu tinha ele como um dos grandes amigos meus, me respondeu assim”, lamentou Cid em depoimento a Paulo Roberto Krüger. Proibido de lecionar e com o crédito cortado, Cid ficou magoado com pessoas amigas que evitavam até conversar com ele.

    Com a redemocratização do país, já plenamente reabilitado das injustiças e perseguições sofridas, Antônio Cid também foi chefe de gabinete do prefeito Salazar Barreiros, nomeado em 1990. Casado com Lycinia Augusta Domingues Cid, teve com ela cinco filhos. Morreu em 24 de janeiro de 2020.

     

    100 anos da revolução: 300 vieram desarmados

    Entre os dias 25 e 31 de janeiro de 1925 a coluna guerrilheira gaúcha atravessou o Rio Uruguai em Porto Feliz, entrando em Santa Catarina.  

    “As matas dos rios Uruguai e Iguaçu são talvez as mais densas do Brasil, não se podendo marchar a não ser através de picadas abertas a facão”, testemunharia Luiz Carlos Prestes. “Era difícil fazer com que os homens andassem pela mata mais de três ou quatro quilômetros por dia”.

    No dia 27 de janeiro os tenentes Carlos Abreu dos Santos Paiva e Mário Portela Fagundes morreram ao combater o 6º Corpo Auxiliar do Rio Grande do Sul. Atravessando o Rio Iguaçu, alcançaram Barracão em 7 de fevereiro.

    “Infelizmente, não pude aqui chegar com os 1500 homens que saí de São Luiz”, lamentou Prestes. “Alguns chefes retiraram-se, levando consigo, criminosamente, homens, armas e munição”. Mais de 200 homens desanimaram, após nove léguas de picada, e igualmente abandonaram a coluna, passando para a Argentina.

    “Tivemos que lutar mais com a fraqueza e desânimos de certos companheiros do que com o próprio inimigo, pois este, com a rapidez dos nossos movimentos, ficou impossibilitado de fazer a mais insignificante das perseguições.”

    “Enfim, apoiado no valor, dedicação e abnegação de quatro amigos e companheiros, somos aqui chegados. São eles Siqueira Campos, João Alberto, Cordeiro de Farias e Portela Fagundes. Estamos com 800 homens, dos quais menos de 500 armados e, tendo ao todo cerca de 10 mil tiros; possuímos 10 fuzis metralhadoras” (relatório ao marechal Isidoro Dias Lopes).

    Prestes, ao centro de barba, no Paraná em 1925

     

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • O juiz condenado à morte

    O juiz condenado à morte

    Após o sangrento levante de Três Barras, então distrito de Catanduvas, entre 6 e 8 de agosto de 1964, houve dezenas de prisões. Desde os primeiros interrogatórios o promotor João Batista Cobbe decidiu não poupar ninguém com envolvimento no episódio.

    Centrou as acusações nos cabeças do movimento, nos executores das mortes e torturas apuradas e nos supostos inspiradores do levante, que ele identificou como sendo o médico Walter Pecoits (1917–2004) e o empresário Augusto Gomes de Oliveira Jr, prefeito de Catanduvas.Pecoits foi um dos principais líderes do vitorioso levante dos colonos e posseiros do Sudoeste, em 1957. 

    Em 1960, Pecoits foi eleito prefeito de Francisco Beltrão, pelo PTB, cargo que exerceu gratuitamente, adotando um código tributário que penalizava os ricos e isentava os pobres. Em 1962 se elegeu deputado estadual, renunciando ao cargo de prefeito, após a regularização das glebas Missões e Chopim.

    Vice-líder da bancada do PTB, o médico não perdia ocasião para criticar acidamente o governo do Estado. Apontado como o melhor deputado do ano em 1963, Pecoits foi cassado com a eclosão da ditadura militar, em 14 de abril do ano seguinte. 

    Gomes, família histórica

    No início de agosto de 1964, Pecoits voltara com a esposa de uma viagem ao Uruguai e, vindo a Cascavel no dia 9, foi almoçar na casa do amigo José Neves Formighieri, que o avisou sobre a denúncia de que teria sido um dos organizadores do levante de Três Barras.

    O outro acusado, o prefeito Augusto Gomes de Oliveira Jr, era membro da família que construiu a Grande Estrada da Erva-Mate no fim do século XIX, formando a Encruzilhada dos Gomes. O local é assinalado pelo obelisco da Praça Getúlio Vargas. Ali, em março de 1930, José Silvério de Oliveira iniciou a cidade de Cascavel.

    Desde os anos 1950, os juízes designados pelo Tribunal de Justiça para Cascavel não paravam na cidade. Relutavam em trazer a família para uma cidade sem estrutura e mantida no medo pelos conflitos sangrentos entre jagunços, posseiros e a polícia.

    Com a derrubada do governo João Goulart por um golpe civil-militar em março de 1964, o juiz Alvim Messias foi afastado de suas funções em junho, e seu substituto, Alceu Martins Ricci, veio às pressas para o Fórum de Cascavel no dia 10 de agosto, assim como o promotor João Batista Cobbe, que estava em férias e retornou ao tomar conhecimento do levante.

    A trajetória de Eli

    Na ausência do juiz titular da Comarca, a administração corriqueira da Justiça ficava a cargo do juiz de paz, cidadão escolhido por sua respeitabilidade para cumprir certas tarefas reservadas ao Judiciário.

    Com isso, no ínterim entre o afastamento do juiz Messias e a vinda de Ricci, as questões de Justiça eram passadas ao juiz de paz, Eli do Espírito Santo.

    Nascido em 1930, em Tibagi (PR), Eli ainda menino perdeu o pai, Alencar Dias Siqueira. Sua mãe, Oneida, mudou-se para Curitiba, onde conheceu e se casou com Osvaldo Gomes de Araújo, filho de Augusto Gomes de Oliveira. também pai do prefeito Augusto Gomes Jr, acusado de ser um dos mentores do levante de Três Barras.

    Eli só veio para Cascavel a 20 de novembro de 1958, também de Curitiba, quase às vésperas de completar 28 anos. Era uma virada definitiva em sua vida, que nos últimos anos havia sido mais dedicada a jogar tênis de mesa que a outra coisa. 

    Em 1959, já estabelecido em Cascavel, foi para Catanduvas, onde assumiu o controle da produção madeireira na serraria do padrasto. Só em 1960 montou sua gráfica, na rua Rio Grande do Sul, onde sofreu horrores, pois a energia era fraquíssima, obrigando-o a comprar motores próprios para tocar a gráfica. 

    Em 1962, a pedido do jornalista Celso Formighieri Sperança, prestou assistência gráfica ao primeiro número do jornal Diário d’Oeste, de Wilson Joffre.

    Policiais irritados

    A essa altura, Eli era uma das pessoas mais populares de Cascavel, confiança que o levou a ser designado como juiz de paz.Avisado pelo ex-prefeito José Neves Formighieri que seu nome foi citado entre os responsáveis pelo levante de Três Barras, o médico Pecoits foi visto ao chegar à cidade e ser recebido por amigos ligados a seu partido, o PTB.

    O delegado especial da polícia local, coronel João Rodrigues da Silva Lapa (1911–1987) decidiu prendê-lo, mas para legalizar a prisão precisava de um mandado judicial. Pediu ao escrivão Ivan Possamai que redigisse o documento, mas o juiz nomeado ainda não havia chegado e o promotor estava em férias, não havendo quem pudesse assinar. 

    Por exigência do coronel Lapa, Possamai não teve outra opção a não ser procurar o juiz de paz, pressionado a assinar o pedido de prisão do médico. 

    Os policiais estavam especialmente irritados porque um dos mortos no levante era o inspetor de quarteirão João Matias Ribeiro, morto a tiros atrás hotel de Três Barras pelo colono João Arruda.

    Atitude precipitada

    O caso de Três Barras é mais complexo do que aponta o esquema simplista jagunços x posseiros com a polícia de permeio. Embora tenha origem no conflito entre Estado e União, as ações de Três Barras foram incomuns, pois os colonos atacaram técnicos encarregados de medições de terras como se fossem jagunços.   

    O juiz de paz hesitou em atender ao pedido do chefe da Polícia porque o médico Pecoits era amigo do ex-prefeito José Neves Formighieri e, mais ainda, porque Augusto Gomes de Oliveira Jr era da família de seu padrasto.

    Sob pressão, entretanto, Eli assinou a ordem de prisão para Walter Pecoits, sem imaginar que a polícia cometeria o excesso de torturar o médico.

    Ao relembrar aquele difícil dia 10 de agosto de 1964, Pecoits disse que foi preso por um destacamento da Polícia Militar comandado pelo coronel João Lapa, levado para uma cela e espancado brutalmente, sob a acusação de chefiar a revolta dos posseiros de Três Barras, embora estivesse no exterior. 

    Lesão irreversível

    Atingido pela coronha de um rifle, o médico ficou cego da vista esquerda. Foi operado no dia 12 de agosto pelo professor Francisco de Paula Soares (1927–2022), que constatou a irreversibilidade da lesão.

    Pecoits só foi solto na véspera do Natal, beneficiado por habeas-corpus concedido pelo Superior Tribunal Militar, retornando a Francisco Beltrão, onde dirigia um hospital de sua propriedade. Depois foi obrigado a se deslocar até Curitiba periodicamente, para responder a um inquérito na auditoria da Justiça Militar, onde foi defendido pelo advogado René Dotti (1934–2021).

    Entrou com uma ação contra o Estado, exigindo indenização pelas lesões sofridas, que resultaram na perda total da visão do olho esquerdo e no comprometimento do olho direito. 

    O caso se arrastou por catorze anos e só foi solucionado definitivamente no dia 29 de novembro de 1978, pela Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça, que, por unanimidade, condenou o Estado a pagar doze milhões de cruzeiros, além de uma pensão vitalícia, na época fixada em 73 mil cruzeiros.

    Pecoits só foi plenamente reabilitado ao assumir a chefia da Casa Civil e a Secretaria Especial da Reforma Agrária durante o governo de José Richa (1983–1986).

    No fim, absolvido

    Quando o coronel João Lapa o pôs na difícil situação de assinar o documento preparado pelo escrivão Ivan Possamai, Eli do Espírito Santo disse que assinou sem questionar a ordem dada pelo chefe policial.

    Logo se arrependeu amargamente de não ter argumentado que seria mais adequado esperar a vinda do juiz Alceu Ricci ou do promotor João Cobbe para tomar uma decisão tão grave contra um deputado presente em Cascavel a convite do ex-prefeito Neves Formighieri.

    As principais lideranças de Cascavel foram reunidas por Formighieri para exigir a libertação do médico. Até adversários do PTB, como o vereador Moacir Bordignon, ficaram indignados com a prisão de Pecoits, privado até do direito de ser assistido por um advogado.

    Eli foi ameaçado de morte por assinar a autorização para prender o parlamentar e teve que se esconder. “O Neves e o PTB quase me arrancaram o pelo”, disse, ao recordar o episódio. 

    Deixando as funções de juiz de paz, Eli foi “absolvido” pelos amigos no Caso Pecoits por conta da pressão que sofreu na época, deixando uma trajetória marcada pela divulgação da doutrina espírita e pela escolha como presidente vitalício da Boca Maldita de Cascavel, onde se manteve até sua morte, aos 71 anos, em 1º de fevereiro de 2002.   

    100 anos da revolução: Rondon, salvo por um enguiço

    Na madrugada do 21 de janeiro de 1925 João Cabanas completou a abertura da picada estratégica idealizada por ele para atacar a posição governista em Formiga.

    Choveu muito. Com as linhas telefônicas e telegráficas já cortadas entre Formiga e Guarapuava, Cabanas montou quatro grupos de 50 homens, com ordens de atirar todos ao mesmo tempo.

    Surpreendida, a guarnição governista não pode fazer valer o peso de sua superioridade numérica. A joia da coroa, porém, não foi localizada: o general Rondon, que por muito pouco não foi capturado pela coluna do major Cabanas.  

    “O primeiro prisioneiro que fiz deu-me a informação que o general Rondon, devido ao desconcerto de sua limusine, retardou a chegada a Formiga, onde já deveria estar”, lamentou Cabanas.

    “Embora espetacular, a investida não surtiu o efeito desejado. Nas imediações do acampamento, o comando governista já havia concentrado forças de efetivo muito superior ao esperado pelos revolucionários. “Em pouco tempo, 600 homens do 2º Batalhão de Caçadores e 1.200 do coronel [Vasco da Silva] Varella convergem sobre ele” (Sérgio Rubens De Araújo Torres, Nas Barrancas do Rio Paraná). 

    Durante toda a tarde, Cabanas resistiu ao assédio. À noite conseguiu escoar suas forças para a mata. Nem o general Rondon foi aprisionado, nem Cabanas pôde atacar as linhas do coronel Mariante.

     

    General Rondon em Catanduvas

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Iniciado o período de rematrículas para as atividades da Escola de Artes rondonense

    Iniciado o período de rematrículas para as atividades da Escola de Artes rondonense

    A Secretaria de Cultura de Marechal Cândido Rondon informa que o período de rematrículas para as atividades da Escola de Artes começa hoje, dia 27, e segue até sexta-feira, dia 31. Neste momento, as inscrições estão disponíveis apenas para alunos que já fazem parte do programa.

    Para efetuar a rematrícula, os interessados devem comparecer à secretaria da Escola de Artes, localizada no parque de exposições, de segunda a sexta-feira, das 7h45 às 11h45 e das 13h15 às 17h15. É necessário apresentar uma cópia recente do comprovante de residência. No caso de alunos menores de idade, a presença dos pais ou responsáveis é obrigatória.

    As matrículas para novos interessados terão início no dia 3 de fevereiro, no mesmo local e horários mencionados. Para realizar a inscrição, é necessário apresentar cópias do RG do aluno e do responsável (no caso de menores de idade), além de uma cópia recente do comprovante de residência.

    Atividades

    São ofertadas atividades para todos os gostos, sendo na área da musicalização: acordeão (gaita), contrabaixo, guitarra, saxofone, trombone, trompete, ukulele, além de violão clássico e popular, bateria, flauta-doce e teclado; na área de artes cênicas: o coral, circo e teatro; na área de dança: dança folclórica alemã.

    As aulas serão realizadas no parque de exposições e na Biblioteca Cidadã, com início previsto para o dia 3 de fevereiro.

    Todas as vagas são gratuitas e limitadas, tanto para rematrículas quanto para novas matrículas. A Escola de Artes é uma iniciativa da Secretaria de Cultura para promover o acesso à cultura e ao aprendizado artístico no município.

    Mais informações podem ser obtidas pelo telefone/WhatsApp (45) 3254-3289.

    Fonte: Assessoria

  • O médico e os monstros

    O médico e os monstros

    Em meados da década de 1960, Cascavel explodia com as vendas de madeira e a população aumentava rapidamente. As instalações públicas estavam defasadas, algumas já em obras de ampliação. 

    Quando eclodiu um levante camponês em Três Barras, distrito de Catanduvas, de 6 a 8 de agosto de 1964, os conflitos agrários estavam em geral mitigados pela presença maior da polícia do Estado nas áreas mais críticas e pela atuação mais rápida da Justiça.

    Justamente nesses dias o Instituto Médico Legal estava sem instalações e o médico-legista, Moacir Jorge, viu-se obrigado a trabalhar em sua própria casa, na Rua Paraná, esquina com Sete de Setembro.

    Naquele 8 de agosto, Nelso Olívio Buselatto passeava com amigos pelo centro da cidade e ao chegar à esquina em que o médico-legista morava, de longe viu “duas gaiolas feitas de madeira, como para prender galinhas”. Curioso, decidiu parar e ver o que estava fechado nas gaiolas.

    Aproximou-se e questionou o médico sobre os bichos que poderiam estar engaiolados ali. Moacir Jorge explicou que se tratava de “bichos-homens”: segundo as primeiras informações, seriam jagunços mortos por posseiros de Três Barras, distrito de Catanduvas, depois de um confronto.

    Cenas de horror

    Buselatto, gaúcho de Getúlio Vargas, que por longo tempo chefiou o Departamento de Compras da Prefeitura e hoje é nome de rua no bairro Morumbi, ficou horrorizado ao ver os mortos confinados naquelas gaiolas toscas.

    Dois anos antes, integrando o corpo de jurados da Comarca, ele já havia se horrorizado com um caso que chegou às raias do vampirismo.

    Depois de uma violenta briga com um desafeto em Corbélia, o réu “S.” prometeu que ia matar o inimigo e beberia seu sangue, episódio contado em Cascavel, a Justiça, de Alceu e Regina Sperança (https://x.gd/Vvkr7).

    “S.” não se limitou à ameaça: de fato, matou o desafeto e bebeu publicamente seu sangue, ganhando 25 anos de prisão. 

    A primeira versão era de que os homens nas gaiolas eram jagunços mortos pelos posseiros em confronto. A história, entretanto, era ainda mais complexa, reveladora dos loucos extremos a que chegou a luta pela terra na região.

    Técnicos tidos por jagunços

    O levante de posseiros entre os dias 6 e 8 de agosto de 1964, na vila de Três Barras, mobilizou cerca de 400 posseiros e colonos. A localidade ficava na colônia Timburi, de 103 mil hectares, titulada pelo Estado do Paraná em 1959 à empresa Bellé & Simioni. 

    A colônia era objeto de disputa judicial entre o Estado e a União. O título original de propriedade (“Imóvel Andrada”) foi expedido pelo Estado do Paraná à Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande. 

    Como estava na faixa de fronteira, a titulação caberia à União. A Timburi, com a passagem das décadas, recebeu muitos posseiros, que ao produzir se tornaram colonos. Eles estavam convencidos de que a documentação em poder da empresa B&S não tinha validade. 

    Para desembaraçar logo as terras, a B&S contratou os topógrafos Carlos Pernichelli e Vicente Samúdio, os agrimensores Adauto da Silva Rocha, Orlando Joaquim Rogério e Nacor Rodrigues Morais, o auxiliar de topógrafo Atílio Comby e os picadeiros Orlando Bueno da Rocha e Sebastião Soares para fazer a medição e demarcação da colônia Timburi para encaminhar acertos com os posseiros.

    Os técnicos jamais poderiam imaginar que seriam considerados jagunços e sofreriam violências para além de qualquer pesadelo.

    Presos em cárcere privado

    O agrimensor Adauto da Silva Rocha foi preso na rua, em Três Barras, com Clemente Luiz Boaretto, proprietário de uma serraria, e o inspetor de quarteirão João Matias Ribeiro.

    O também agrimensor Nacor Rodrigues de Morais estava na manhã de 6 de agosto com picadeiros em Santo Izidoro, onde iriam medir dois lotes da gleba 1 da Timburi, mas logo foi cercado por homens que desceram de um jipe e o prenderam por ordem do colono Durval Martins, para quem a ação era necessária para forçar o Exército a mediar a disputa 

    Os prisioneiros foram reunidos no quarto de um hotel em Três Barras. Lá estavam também o topógrafo Vicente Gomidio, o picadeiro Orlando Bueno da Rocha, o comerciante Adão Alves Ferreira, o agrimensor Adauto da Silva Rocha, o motorista Luiz Pereira e os irmãos Roque, Egídio e Octacílio Boaretto, sócios de Clemente Boaretto.

    O topógrafo Carlos Pernichelli não chegou ser preso: foi morto em 7 de agosto no escritório de trabalho, onde foi torturado, segundo o laudo assinado pelos médicos legistas Moacir Jorge e João Baptista de Oliveira.

    Detalhes monstruosos

    Um dos “bichos” nas gaiolas, Pernichelli, segurava um lenço ensanguentado entre os dedos da mão esquerda, teve a orelha direita decepada, um dente arrancado a alicate e tinha ferimentos na palma da mão, jugular e coxa esquerdas.

    Os responsáveis pelos atos monstruosos teriam sido os posseiros Dorival Martins, Domingos Frederico Wilke, Rodolfo e João Antonio Farias. 

    Eles haviam convencido posseiros e pequenos agricultores de Três Barras e Santo Izidoro a pegar em armas para formar barreiras nas estradas até que o levante fosse divulgado nacionalmente e as autoridades federais precisassem pacificar o movimento enviando tropas. 

    Ainda na manhã de 7 de agosto, os posseiros Geneci Antunes Rodrigues, Darci Antunes Rodrigues e Laurindo Rill, acompanhados de outros colonos, foram até a localidade de Santo Izidoro, onde apanharam os lavradores João Albino Martendal, Adílio dos Passos e Joaquim Rotille, transportando-os para o local do levante na carroceria de um caminhão.

    No percurso, à altura da “Serra do Facão”, houve um desentendimento com Rotille, que morreu com seis tiros de revólver calibre 38 e foi deixado à margem da estrada. 

    Médico também foi torturado

    Por volta das 4h da madrugada de 8 de agosto, outra execução: João Antonio Farias mandou Laureano José de Souza e João Arruda levar para fora o inspetor de quarteirão João Matias Ribeiro, morto a tiros atrás hotel por Arruda.

    O homem da segunda gaiola, o corpo de Ribeiro apresentava feridas de disparos a queima roupa, um dos quais lhe vazou o olho direito.

    O promotor público João Batista Cobbe (1925–2010) denunciou os colonos Domingos Pizza, Luiz e João Alves Martins como os mentores do levante. 

    Acusou o médico Walter Alberto Pecoits, líder do movimento de colonos no Sudoeste, em 1957, de instigar os posseiros de Três Barras a atacar os supostos jagunços da B&S para forçar a intervenção do Exército Nacional.

    Pecoits negou, mas foi preso apesar da ausência do juiz da Comarca porque o gráfico Eli do Espírito Santo, juiz de paz em Cascavel, foi pressionado pelo coronel João Lapa a assinar o mandado de prisão para o médico.

    Eli assinou a contragosto, porque sua mãe era ligada à família do ex-prefeito de Catanduvas, Augusto Gomes de Oliveira, também acusado por Cobbe de ser organizador do levante.

    Preso pelo coronel Lapa em 9 de agosto de 1964, o médico foi torturado na prisão, onde teve um olho vazado, como o inspetor João Matias. 

    Sem direito a rua

    Na época desses tensos acontecimentos, o médico Moacir Jorge, nascido em Curitiba, estava com 36 anos. Formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1952, especializou-se no Rio de Janeiro, onde conheceu Anete, esposa com quem teria seis filhos. 

    Tesoureiro da Associação Médica de Cascavel em 1972, em 2003 recebeu o Diploma de Mérito Ético-Profissional do Conselho Regional de Medicina do Paraná por 50 anos de profissão sem sofrer nenhuma sanção ética.

    Moacir Jorge desvendou um surto misterioso de mortes que nenhum especialista conseguia explicar. Ele estudou a ocorrência e identificou a causa como febre amarela, por ter registros de um paciente que tivera a doença. 

    Cascavel lhe deu uma grande decepção, causada por necessidades urbanísticas: em 1987 a Prefeitura desapropriou sua valiosa propriedade no centro da cidade para retificação de rua. 

    Moacir Jorge morreu em 8 de novembro de 2008, aos 80 anos. Provavelmente por seu atrito com a Prefeitura, nenhuma rua recebeu seu nome.

    100 anos da revolução: Legalistas viram o jogo

    A situação dos revolucionários começa a ficar precária no Oeste paranaense em meados de janeiro de 1925: eram 600 rebeldes atacados por 2.200 homens chefiados pelo coronel Álvaro Mariante.

    Os rebeldes pretendiam atacar simultaneamente as linhas do coronel Mariante em Formiga e Catanduvas. A joia da coroa seria a captura do próprio general Rondon, que acompanhava de perto suas forças.

    Queriam explorar o elemento surpresa, mas não foi possível. Nos arredores de Catanduvas, a força legalista já ouvia ao longe, desde 9 de janeiro, “o ruído ritmado das armas automáticas e o som grave, solene, dos canhões atirando sem cessar”, que iria se prolongar por quatro dias.

    Ao anoitecer do dia 11, os legalistas alcançaram uma pequena clareira numa encosta em declive, de onde avistaram os revolucionários no lado oposto. “Subitamente, a gargalhada tétrica das metralhadoras quebra o silêncio e, em consecutivas rajadas, vai ceifando do lado oposto”.

    Findo o combate, os dois lados voltam a se observar à distância. Os legalistas aguardam a hora de fechar o cerco, que dependia de conter o avanço das forças gaúchas, com Luiz Carlos Prestes à frente.

    As notícias de um feroz combate em Catanduvas já correm o Brasil, passadas pelo ervateiro argentino Alfonso Arrachea ao general Rondon. Ele as recebeu do consulado argentino em Foz do Iguaçu.

    Segundo as informações, o combate foi iniciado pelos legalistas, que teriam imposto grandes baixas aos revolucionários – em torno de 150.

    Coronel Álvaro Mariante

     

     

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Pela primeira vez em Cascavel, a exposição imersiva estreia amanhã no Catuaí

    Pela primeira vez em Cascavel, a exposição imersiva estreia amanhã no Catuaí

    O Catuaí Shopping Cascavel preparou um espaço especial para receber a aclamada exposição imersiva Van Gogh & Impressionistas. Recheado de arte e tecnologia, o espetáculo traz ao público cascavelense uma emocionante viagem pelo genial universo do pintor holandês, com direito a célebres obras, como autorretratos, A Noite Estrelada, Quarto em Arles, Girassóis, Amendoeira em Flor, dentre outras. Como bônus, a exposição oferece, ainda, uma incursão na obra de quatro artistas impressionistas e pós-impressionistas: Monet, Renoir, Gauguin e Cézanne.

    A exposição será instalada no Catuaí Shopping Cascavel (Av. Brasil, 3545 – Região do Lago, Cascavel – PR) e conta com labirinto instagramável, instalações artísticas retratando curiosidades sobre a vida dos artistas e loja de souvenirs, além do atelier imersivo de superprojeções de alta definição 360º em paredes, piso e cubo.

    Com 800 mil ingressos vendidos em grandes cidades nas 5 regiões do Brasil, a exposição imersiva arrebata multidões apresentando obras com releituras que misturam efeitos e movimentos a partir de recursos de videografismo de última geração. Além disso, a exibição conta com trilha sonora especial, baseada em grandes clássicos da música universal, que busca privilegiar o envolvimento e a emoção.

    Na tendência das grandes exposições imersivas que têm ganhado o mundo nos últimos anos – como o celebrado Atelier des Lumières, em Paris, e o Museu de Arte Digital de Tóquio -, Van Gogh & Impressionistas oferece ao visitante a sensação de estar dentro das obras de arte de Van Gogh e outros grandes artistas. Por isso, é um espaço ideal para contemplação e para fazer fotos e vídeos.

    “Poder trazer Van Gogh & Impressionistas pela primeira vez a Cascavel é uma grande felicidade para nós. Estamos preparando um espetáculo muito especial!”, diz o idealizador do evento e CEO da produtora Lightland, Davi Telles.

    “Será uma experiência única e isso reafirma nosso compromisso em trazer para Cascavel e região eventos e atrações inovadoras, que acontecem nos grandes centros e claro, criar memórias afetivas e inesquecíveis a todos nossos clientes”, afirma a superintendente do Catuaí Shopping Cascavel, Cláudia Michiura. 

    O evento estreia amanhã, 25 de janeiro, no Catuaí Shopping Cascavel em curta temporada. Os ingressos estão disponíveis para venda online no site do evento: www.vangogheimpressionistas.com.br

    SERVIÇO:

    Van Gogh & Impressionistas: pela primeira vez em Cascavel, a exposição imersiva aclamada por 800 mil pessoas no Brasil estreia no Shopping Cascavel amanhã, 25 de janeiro

    Data: a partir de 25 de janeiro de 2025, em curta temporada

    Dias de funcionamento: diariamente, exceto segunda-feira

    Horário:

    Terça a sábado: das 10h às 22h (último horário de entrada às 21h)

    Domingos e feriados: das 11h às 22h (último horário de entrada às 21h)

    Local: Catuaí Shopping Cascavel no Piso Brasil (superior), próximo à Praça de Alimentação

    Quanto custa:

    Terça a sexta – diurno: R$60 inteira / R$30 meia-entrada;

    Terça a sexta – noturno: R$70 inteira / R$ 35 meia-entrada;

    Final de semana e feriados: R$90 inteira / R$45 meia-entrada;

    Meia-entrada: Para segmentos previstos em lei, mediante apresentação de comprovação na entrada: estudantes; jovens com idade entre 15 e 29 anos que possuam Carteira de Identidade Jovem; professores das redes pública e privada; pessoa com deficiência e seu acompanhante, se necessário; pessoa com 60 anos ou mais, ou outras hipóteses previstas em legislação local.

    Gratuito para crianças até 4 anos.

    Pacote para grupos escolares: consulte preços especiais no e-mail [email protected]

    Fonte: Assessoria

  • “Ainda estou aqui’ é o primeiro longa brasileiro indicado ao Oscar de melhor filme

    “Ainda estou aqui’ é o primeiro longa brasileiro indicado ao Oscar de melhor filme

    Aguardado na lista dos indicados ao Oscar em categorias como filme internacional, atriz (pela qual Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro) ou mesmo roteiro adaptado, “Ainda estou aqui” surpreendeu e foi indicado entre os longas que concorrem a melhor filme, o principal prêmio da noite.

    Além disso, foram confirmadas as indicações a melhor filme internacional e a melhor atriz, para Fernanda Torres.

    A lista foi anunciada na manhã desta quinta-feira (23), em cerimônia apresentada por Rachel Sennott e Bowen Yang, realizada do Samuel Goldwyn Theatre, em Beverly Hills. O Oscar acontece no dia 2 de março, em Los Angeles.

    Foi a primeira vez na História que uma produção brasileira foi indicada na categoria. Antes, “O pagador de promessas”, em 1963; “O quatrilho”, em 1996; “O que é isso, companheiro?’” em 1998, e “Central do Brasil”, em 1999, concorreram a melhor filme internacional (neste último, Fernanda Montenegro também disputou o troféu de atriz).

    De todos os nomes da equipe de “Ainda estou aqui”, um já estava acostumado a acordar cedo e ouvir o título de seu filme entre as produções indicadas ao Oscar: Walter Salles. O diretor carioca, de 68 anos, chega ao seu terceiro trabalho a receber indicações na premiação mais importante da sétima arte.

    Antes de 2025, Walter Salles já esteve na cerimônia com “Central do Brasil” e “Diários de motocicleta”.

    Fonte: O Gloo

  • Licença para matar e uma espingarda emprestada

    Licença para matar e uma espingarda emprestada

    Em Foz do Iguaçu, a aplicação da lei saiu do comando da antiga Colônia Militar do Iguaçu para a polícia do Estado em 1912, então com responsabilidades equivalentes na atualidade às da Polícia Federal.

    Nos primeiros tempos de Cascavel, em 1931, a polícia estava entregue pelas autoridades revolucionárias aos parentes e amigos do líder da comunidade, José Silvério de Oliveira, o Tio Jeca.

    Mesmo depois da instalação do Município, em 1952, durante longo tempo a autoridade policial seguia os ditames da autoridade local de maior projeção, que poderia ser o prefeito ou o diretor de algum organismo do Estado.

    O primeiro prefeito, José Neves Formighieri, designou o irmão Eurides Cezário para ocupar a função de delegado de polícia porque a autoridade nomeada pelo Estado estava ausente e o jaguncismo tomava conta.

    Até a instalação da Justiça, a partir de 1954, o papel do delegado de polícia era mais compatível com a função de um secretário municipal às ordens do prefeito que o exercício de uma representação estadual.

    Medo de vir para o Oeste

    Servidor municipal, o sargento Emiliano Afonso da Silva assumiu a delegacia de polícia de Cascavel enquanto aguardava a nomeação de um delegado efetivo.

    Tentou aplicar métodos profissionais e legais ao efetivo policial, mas os costumes e a realidade difícil do interior conspiravam contra suas boas intenções. 

    Sendo funcionário da Prefeitura, suas ordens não vinham de Curitiba, mas do secretário Algacyr Biazetto, que fazia o elo entre o Município de Cascavel e o governo do Estado.

    Biazetto, aliás, não queria ter vindo para a desconhecida e assustadora Cascavel depois de ouvir dizer que os bandidos matavam até dentro da igreja. Uma conspiração política, porém, forçou sua transferência ao Oeste paranaense.

    Quando o presidente da Câmara, Dimas Pires Bastos, exigiu do prefeito José Neves Formighieri a demissão do secretário Celso Sperança, acusado de manipular os vereadores da oposição majoritária em favor do prefeito, o próprio Celso preparou sua sucessão.

    Recomendou para ocupar seu lugar um homem bem relacionado tanto com o PTB do prefeito quanto com a administração do governador Bento Munhoz da Rocha Netto: o contabilista Algacyr Arilton Biazetto.

    Mão direita do prefeito

    Os vereadores da oposição eram ligados ao PR, o partido do governador. Logo, quando o sucessor de Celso chegou a Cascavel, apoiado pelo governo, toda a Câmara se uniu em favor do prefeito, que pôde levar a gestão até o fim, sem mais crises.

    Foi assim, portanto, para dar fim a uma crise, que chegou a Cascavel o contabilista Biazetto, em 20 de março de 1954, passando a ser a mão direita da Prefeitura, encarregado de resolver os mais diversos problemas da administração, que não eram poucos no Município ainda em primeira gestão.

    Certo dia, para sua surpresa, o sargento-delegado Emiliano recebeu de Biazetto uma incumbência inusitada: fornecer uma espingarda a um velho agricultor com autorização de atirar para matar caso a vaca de um arrogante vizinho continuasse a pisotear suas plantações.

    Biazetto contou que na região da Cruz Grande, onde a família Lupion possuiu uma serraria, transferida à Industrial Madeireira do Paraná, deu-se um impasse entre vizinhos. O criador de gado soltava a vaca na plantação do vizinho agricultor e ela devorava a plantação.

    Entendimento impossível

    O secretário até então não os conhecia, mas à medida que o episódio se desenrolou ficou amigo dos dois e preferiu não revelar seus nomes para não constranger as famílias.

    Decidido a resolver rapidamente o atrito, Biazetto chamou à Prefeitura o dono da vaca. Com fama de bandido, o pecuarista sustentou o “direito” da vaca de comer o que lhe aparecesse pela frente. “Não vou mudar só porque o senhor está pedindo”, disse a Biazetto.

    Sem conseguir convencer o teimoso pecuarista, Biazetto ordenou ao sargento Emiliano que emprestasse uma espingarda ao velho agricultor lesado pelos ataques famintos da vaca. Emiliano forneceu a arma, recomendando que a usasse apenas no caso de persistência da vaca em sua lavoura.

    A dissuasão baseada na capacidade de retaliação é estratégia comum nas artes militares, mas desta vez não funcionou: o colono efetivamente matou a vaca invasora e levou a morta em sua carrocinha até a frente da Prefeitura, perto da Praça Getúlio Vargas.

    O “assassino” da vaca

    O dono da vaca foi de imediato chamado e ficou surpreso ao saber da licença para matar concedida ao agricultor. Mesmo tendo fama de bandido perigoso, soltando imprecações contra o “assassino” da vaca, o sargento Emiliano e a Prefeitura, o pecuarista reconheceu que errou e levou a vaca para aproveitar a carne.

    No fim, o agricultor e o criador ficaram amigos e contavam o episódio entre gargalhadas. Naquele mesmo ano, 1954, a Justiça foi instalada em Cascavel e as soluções nunca mais foram assim tão fáceis quanto emprestar espingarda e dar licença para matar.

    O improvisado delegado Emiliano Afonso da Silva teve nesse episódio o momento mais tenso de sua vida. Ele havia encerrado a carreira militar como sargento do Exército, no início dos anos 1950, atuando junto ao escritório da 5ª Seção da Comissão de Estradas de Rodagem (CER-1) como supervisor de obras.

    Naquela época, sem prefeito nem autoridades estaduais na localidade, os militares do Exército e da Aeronáutica eram anjos da guarda que resolviam problemas, desde remeter apelos às autoridades, pelo telégrafo, a transportar doentes para receber atendimento qualificado.

    Benfeitor da comunidade

    Foi nesse clima de congraçamento entre civis e militares, no Dia do Soldado (25 de agosto) de 1949, que o sargento Emiliano participou da fundação do Tuiuti Esporte Clube, chamado pelos jovens das famílias de destaque em Cascavel.

    Também participou da campanha de emancipação do Município e quando o prefeito José Neves Formighieri se elegeu, de imediato se prontificou a auxiliá-lo na cobrança de impostos municipais.

    Emiliano fez muito mais: além de fiscal de rendas, função que exerceu até 1960, quando pediu exoneração, já com 58 anos, substituiu o delegado de polícia por longo tempo, até a nomeação de um efetivo pelo Estado, que demorou por conta do esmero com que cuidava dos assuntos policiais.

    Como se estas contribuições do sargento Emiliano já não bastassem, em 1953 o médico Wilson Joffre propôs em reunião no Tuiuti a construção de um hospital, do qual as famílias seriam acionistas.

    Emiliano foi mais que um acionista: ele doou uma quadra inteira, entre as atuais ruas Sete de Setembro e Castro Alves, atrás da futura praça que levou o nome do médico, para a construção do Hospital Nossa Senhora da Aparecida.

    Foi nessa época que se deu o episódio da licença para matar a vaca invasora, no qual, primeiramente, Emiliano e Biazetto tentaram a conciliação entre o agricultor e o pecuarista, que não quis conversa.

    De volta ao crime

    O famigerado bandido, depois de cumprir pena, havia retornado ao seu ofício de criador em uma propriedade localizada ao Sudoeste da cidade, mas se orgulhava de ser temido por todos como extremamente perigoso.

    Foi uma surpresa ele engolir sem retaliações a perda da vaca, reconhecendo que errou, mas logo depois “esse mesmo bandidão”, contou Biazetto, “matou na Zona do Meretrício uma mulher com um punhal enorme, que atravessou a mulher e ficou grudado no assoalho”.

    Quando se deu o julgamento, Biazetto era um dos jurados. Condenado, o réu recebeu uma sentença pesada, superior a trinta anos de cadeia. O bandido se levantou, olhou para Biazetto e reclamou: “Isso é perseguição política!”

    Alegava que, nessa “perseguição”, primeiro havia perdido a vaca e, agora, perdia a liberdade… (Cascavel, A Justiça https://x.gd/Vvkr7).

    Cercado pela admiração geral dos cascavelenses, o sargento Emiliano, casado com Elvira Mendes, também de família tradicional, em junho de 1956 participou, com José Remi Pietsch e outros pioneiros, da fundação da Sociedade Doutrinária Espírita Paz, Amor e Luz, da qual também participavam Ramiro de Siqueira, Durval Hoff, Francisco Vaz de Lima e Ítelo Webber.

    Onde havia uma boa causa, lá estava presente o sargento Emiliano. Há uma rua com seu nome próxima ao Parque Ecológico Paulo Gorski.

    100 anos da revolução: Mentir, arma de guerra

    Em 6 de janeiro de 2015, já certos da aproximação da coluna de Prestes, os oficiais que respondem pela defesa de Catanduvas, para onde o front rebelde havia recuado, reúnem-se por iniciativa de Miguel Costa com a presença do major João Cabanas.

    A presença de Cabanas tinha um caráter especial: era sua prova de vida. Os folhetos mentirosos lançados pelo general Rondon para abalar o moral dos rebeldes comunicavam que Cabanas estava morto, a Coluna da Morte vencida e o general Isidoro havia fugido para a Argentina.

    “Os boletins diziam para os rebeldes abandonarem a luta, que estavam sendo ludibriados pelos seus chefes, os soldados que se rendessem, teriam sua vida garantida e que seriam tratados como irmãos”, escreveu o historiador Ruy Wachowicz:

    “O estratagema de Rondon funcionou. Quarenta e dois rebeldes entregaram-se às tropas legalistas. O moral dos revolucionários começou a cair, desde que espalhou-se a notícia de que o major Arlindo de Oliveira se havia rendido no Rio Paraná, com 220 homens, 5 metralhadoras, 4 fuzis metralhadoras, 256 carabinas Mauser e grande quantidade de munição”.

     

    João Cabanas: o criador da Coluna da Morte voltou à vida depois que o general Rondon mentiu que ele estava morto

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • A escola sem nome e o nome sem escola

    A escola sem nome e o nome sem escola

    O sonho dos meninos nas colônias na região Oeste nos anos 1940 e 1950 era conseguir uma vaga no Colégio Agrícola de Foz do Iguaçu. As meninas se mantinham na expectativa da criação de escolas de instituições religiosas ligadas ao catolicismo. 

    Não eram regras gerais. Alguns pais preferiam ver os filhos na carreira militar a labutar arduamente no campo. Já as filhas dos camponeses menos abastados não conseguiam as poucas vagas das escolas de freiras, rapidamente ocupadas pelas famílias urbanas, exigindo a criação de escolas públicas.

    As famílias tradicionais educavam as crianças em casa. Os meninos aprendiam ofícios auxiliando os profissionais. As meninas teriam que esperar pela Prefeitura abrir sala em alguma vila ou pela obsessão dos católicos em semear colégios de freiras nas cidades-polo.

    O empenho pela criação do primeiro grupo escolar de Foz do Iguaçu veio de um religioso católico, monsenhor Guilherme Maria Thiletzek (1877–1937).

    O nome da escola – Bartolomeu Mitre – despertou curiosidade: por que dar a um militar argentino o nome de uma escola pública brasileira? Presidente da Argentina entre 1861 e 1868, Mitre era um ídolo para os estrangeiros que vinham para a América Latina. 

    Polonês, Thiletzek admirava as posições de Mitre, jornalista que traduziu Machado de Assis para o espanhol e defendia direitos para os estrangeiros que vinham para a América do Sul.

    Militares homenageados

    Em 1927, quando o grupo escolar passou à gestão estadual, teve o nome alterado para “Grupo Escolar Caetano Munhoz da Rocha”, chefe da oligarquia Munhoz-Camargo. Com a revolução de 1930, que derrubou essa oligarquia do poder, foi retomado o nome histórico do estabelecimento.

    Por sua vez, o Colégio Agrícola de Foz do Iguaçu começou atividades em 1950, com o nome “Escola dos Trabalhadores Rurais”, na região do Porto Meira, homenagem ao general paraibano José Meira de Vasconcelos (1878–1958), que combateu os revolucionários em 1924,Nacionalista, Meira defendia a proibição do ensino dos idiomas italiano e alemão e educar os filhos de imigrantes exclusivamente no idioma português.

    O Agrícola foi oficializado em 1953 com o nome de “Escola dos Trabalhadores Rurais Dr. Ernesto Luiz de Oliveira”. Nascido na Lapa, Oliveira se notabilizou por condenar as queimadas e derrubadas florestais, exigindo sua proibição. Tenente na Revolução Federalista, dedicou-se à educação até ser nomeado secretário da Agricultura pelo governador Carlos Cavalcanti (https://x.gd/M22oI).       

    Em 1962 o colégio mudou de nome, passando a “Manoel Moreira Penna”, um militar, irmão do presidente Afonso Moreira Penna, que governou o Brasil entre 1906 e sua morte, em 1909.

    Promessa de sobrevivente  

    Em Cascavel, a primeira escola surge em 1931, logo após José Silvério de Oliveira, o Tio Jeca, passar de arrendatário a proprietário das terras em que hoje se expande o perímetro urbano da cidade. 

    Jeca fez construir um pequeno rancho de pinho lascado na Avenida Brasil, esquina com a atual Pio XII, para servir simultaneamente de capela religiosa, escola, delegacia de polícia e posto de saúde.

    O professor e diretor Aníbal Lopes da Silva era também delegado de polícia. A escolinha ganhou professores do Estado em 1932. 

    Quando o Município de Cascavel se instalou, em dezembro de 1952, as autoridades municipais, a começar pelo prefeito José Neves Formighieri e seu sucessor, Helberto Schwarz, passaram a distribuir escolas pelo interior e a sonhar com educandários de nível médio, para que os jovens não ficassem sem perspectivas de aprendizado. 

    Começa a circular entre as famílias católicas de Cascavel o nome do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, então apenas uma ideia. Pouco antes, o padre Guilherme Maria Heyer (1906–1997) sobreviveu a um acidente aéreo. Havia invocado a proteção de Nossa Senhora Auxiliadora e prometeu que se escapasse vivo da queda do avião criaria uma escola com o nome dela. 

    Obra grande e demorada

    Iniciando a vida religiosa em 1935, Heyer assumiu em julho de 1953 a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, substituindo o padre Francisco Schlüter. Para construir a escola, Heyer pediu à Prefeitura um terreno próximo à igreja católica, cedido pelo prefeito José Neves Formighieri.A escola dependia de doações dos católicos para ser construída e mesmo com ampla participação a obra era muito grande para uma cidade que ainda não deixava antever a metrópole que passaria a ser depois do boom agrícola dos anos 1970. 

    As obras demoravam e cada problema que surgia era atendido após chamado à comunidade para fazer doações. No ano seguinte, 1954, ao contrário das expectativas, era Toledo que instituía o Colégio La Salle, com a chegada dos irmãos lassalistas. A pequena vila de General Rondon, nesse mesmo ano, também já constituía a sua Sociedade Escolar e o Colégio Auxiliadora seguia como promessa a cumprir.

    Em casa alugada

    Em março de 1957 surgia o Colégio Rio Branco, do professor Antônio Cid, na Rua Paraná, esquina com a travessa Padre Champagnat, depois transferido ao controle dos Irmãos Maristas.

    Nesse mesmo ano surgiu a Escola Normal Regional, sob a direção da professora Irene Grimbor Rickli. As meninas de melhor escolaridade já tinham a perspectiva de se tornar professoras.

    Padre Guilherme sabia que logo seria chamado por seus superiores a outra missão paroquial e decidiu não esperar a conclusão das obras: alugou uma casa para receber quatro religiosas da Congregação de São Carlos Bartolomeu que partiram em 16 de março de 1957 de Caxias do Sul (RS) para vir instalar a escola em Cascavel.

    Coube à irmã Hermenegilda Bonafé a tarefa de levar a diante todo processo de coordenação e direção do colégio, inicialmente na casa improvisada, até que as primeiras salas de aula ficassem prontas.

    Considerado o mais moderno e completo da época, o prédio em madeira abrigava além de centenas de estudantes as juvenistas que ali moravam e se preparavam para a vida religiosa. 

    Como esperava, padre Guilherme em 1959 foi chamado a instalar a Paróquia Santa Terezinha, em Guarapuava, mas partiu com a promessa feita na hora da angústia plenamente cumprida. Ele morreu em 1997, na Alemanha.  

    O irmão da secretária

    Se o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora era um nome ainda sem escola, os primeiros colégios estaduais de Cascavel ficaram por longo tempo sem nome. O primeiro recebeu o nome de Eleodoro Ébano Pereira, figura sem qualquer relação com o Oeste do Paraná, a não ser porque “Heliodoro” era o nome do irmão da secretária da escola. 

    O segundo colégio estadual foi criado oficialmente em 21 de dezembro de 1959, sem terreno e só com o nome genérico “Ginásio Estadual de Cascavel”, sem sair do papel, como as promessas eleitorais esquecidas.

    A Câmara de Cascavel exigiu a construção, mas o Estado alegou que não havia terreno disponível para a obra. Como o deputado Aníbal Khury era o proprietário de uma vasta extensão de lotes urbanos na cidade, o vereador Marcos Formighieri o procurou para que doasse um terreno para a obra.   

    O deputado mágico

    Khury doou o imóvel, mas o governo alegou que a Assembleia Legislativa precisava autorizar a construção no orçamento do Estado. Sendo deputado estadual, Aníbal Khury apresentou emenda ao orçamento e destinou a verba para a obra.

    Com o orçamento pronto, não havia como a Assembleia destinar recursos, a não ser em caráter especial, o que dependeria necessariamente de entendimento com o governo do Estado. 

    Khury negociou pacientemente com o então governador Paulo Pimentel e conseguiu aprovar a emenda. Veio de episódios como esse a fama de “mágico” do parlamentar na condução da política paranaense.

    O prédio foi construído rapidamente, como prioridade da administração estadual, e o Ginásio Estadual de Cascavel foi autorizado a funcionar em 22 de dezembro de 1965, com aulas previstas para o ano letivo de 1966. 

    A autorização para o funcionamento da escola dada às vésperas do Natal foi também fruto de muita pressão, pois do contrário só em meados de 1966 haveria a liberação para o início das aulas, empurrando-as só para o ano letivo de 1967.

    As aulas começaram, efetivamente, em março de 1966, sob a direção do professor Luiz Antônio Bruscatto. A escola ganhou nome em dezembro desse ano, após a morte do médico pioneiro Wilson Joffre. 

    100 anos da revolução: Rês sem sal e derrota 

    Começa 1925. A tropa da Polícia Militar marcha para o alto na Serra da Esperança, onde o cansaço e o coração agitado recebem o incômodo de um inimigo invencível: “Os malditos mosquitos e abelhas nos perseguem num contínuo zumbido, impertinente, capaz de nos ensurdecer”, escreveu em seu diário o capitão Joaquim Antonio de Morais Sarmento.

    Situação mais difícil era a dos rebeldes sulistas que se deslocam em direção ao Paraná. Em 3 de janeiro, data em que Luiz Carlos Prestes completava 27 anos, o aniversário foi interrompido pelas forças perseguidoras de Claudino Nunes Pereira no Boqueirão de Ramada. 

    “O combate é feroz. As baixas nas fileiras revolucionárias são de 50 mortos e 100 feridos. Mas o adversário bate em retirada para Palmeiras” (Sérgio Rubens de Araújo Torres, Nas barrancas do Rio Paraná). 

    No Oeste do Paraná, quando a tropa da PM alcança a margem do Rio Medeiros constata que os víveres terminaram. “Uma rês abatida é devorada sem sal pelos soldados famintos”, anotou Sarmento.

    Mesmo assim, saborearam milho assado como sobremesa enquanto em São Paulo fracassava com muitas prisões o plano revolucionário para atacar o edifício da Imigração, transformado em cárcere político para os líderes rebeldes.

    Morro do Chapéu, na Serra da Esperança, onde a PM do Paraná aguardava os revolucionários do Sul

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Becker: pai de Margarida e nome de usina

    Becker: pai de Margarida e nome de usina

    Nascido em 1913 em Estrela (RS), comunidade colonizada por imigrantes alemães desde 1856, Carlos Mathias Aloysius Becker seria protagonista de um dos mais extraordinários projetos de desenvolvimento já aplicados no interior do Paraná. 

    Ainda no Sul, casado com Ida Giaretta, em 1936 nasceu em Erechim (RS) a filha única Diva Margarida Becker, que ainda menina daria nome a uma próspera comunidade no interior da antiga Fazenda Britânia, onde a Companhia Madeireira Rio Paraná (Maripá) desenvolvia um admirável plano de colonização, combinando urbanização, estímulo à agropecuária e exploração industrial da madeira.

    Toledo nascia e Becker foi um de seus primeiros organizadores, desde 1946 integrado ao ambicioso plano da Maripá de aproveitar todos os recursos da antiga Fazenda Britânia. Essa iniciativa lhe valeu ser um dos candidatos da Maripá à Câmara Municipal de Foz do Iguaçu nas eleições de 1951. 

    Se ele e Domingos Zardo, outro líder da colonização do Médio Oeste, não fossem eleitos em 27 de julho desse ano, é possível que Toledo não se tornasse Município logo em novembro. Ambos requeriam da Prefeitura medidas estruturais e se destacaram como personalidades de proa na formação do Oeste paranaense em seu conjunto.

    Becker foi o terceiro vereador mais votado do Município de Foz do Iguaçu, obtendo mais votos que o prefeito Júlio Pasa, que sem poder concorrer à reeleição concorria à Câmara Municipal.

    O plano da Maripá

    Assim como Zardo, Becker entremeava as presenças mensais na Câmara a de Foz do Iguaçu com intensas atividades para a formação das diversas colônias previstas no plano da Maripá. Uma delas foi Margarida, nome de sua filha. 

    Segundo Oscar Silva (Toledo e sua História), o plano de colonização da Maripá se desenvolveu criando uma série de núcleos urbanos iniciados pela Vila Toledo e três portos no Rio Paraná. Vila Margarida surge em 1951, ano em que também foram iniciadas as vilas de Quatro Pontes e Novo Sobradinho.

    “Seriam construídas com intervalos de 10, 15 ou no máximo 20 kms entre si, e serviriam de centro de subsistência aos moradores as região ou perímetro” (Osdy Niederauer, Toledo no Paraná).

    Cada vila se formou com quadras de oito a dez lotes urbanos. As ruas seriam retas e largas, preferencialmente com traçado Norte-Sul e Leste-Oeste, tendo ao centro uma quadra reservada para a praça.   

    O conjunto de quadras de cada vila foi cercado por um ou dois anéis de chácaras que mediriam cerca de dois e meio hectares, destinados a famílias de menor poder aquisitivo ou a investidores com interesse em praticar a horticultura. 

    Colonizada inicialmente por descendentes de poloneses, a formação da Vila Margarida coube a uma empresa subsidiária da Maripá, a Agro-Industrial do Prata.

    De alemães para eslavos 

    Um daqueles poloneses foi Wenceslau Pietrowsky, motorista e corretor da empresa, orientado a vender terras para famílias vizinhas com a mesma origem étnica, predominando assim os eslavos provenientes das cercanias de Irati (PR).

    A Agro-Industrial do Prata fazia parte de um departamento criado pela Maripá para repartir tarefas setoriais de colonização e exploração da madeira. 

    Segundo Adolfo Seganfredo, o grupo era formado, além da Prata, inicialmente gerida por Domingos Zardo, pela matriz Maripá, administrada por Willy Barth, Industrial Agrícola Britânia, a cargo de Becker, Agro-Industrial Boi Caé com Paulino Mânica e a Agro-Industrial Guaçu com Carlos Sbaraini. 

    Cada empresa era encarregada de alcançar a cota mínima para a exportação. Fazendo a contabilidade geral, cabia a Seganfredo registrar o movimento de cargas, despachar a madeira e fazer os relatórios. 

    Becker foi o sucessor de Domingos Zardo na gerência da Industrial do Prata e da Industrial Agrícola Britânia. O próximo administrador da Prata foi Clécio Zenni (1930–1995), gaúcho de Santa Rosa que veio a se casar com Margarida Becker e foi um dos primeiros vereadores de Toledo, eleito em dezembro de 1952 pelo Partido Libertador.

    Em 1953, destacando-se entre as demais colônias, Margarida passa a ser distrito de Toledo. Quando o Município de Marechal Cândido Rondon se emancipou de Toledo, em julho de 1960, levou o Distrito de Margarida para ser parte de seu território.  

    Morreu vereador de Foz do Iguaçu    

    O mandato do vereador Carlos Becker na Câmara de Foz do Iguaçu se estenderia até o fim de 1955, mas findou com sua morte, prematuramente, em 12 de março desse mesmo ano, com apenas 41 anos. 

    Na época em que a maioria das mortes se dava por ferimento a bala ou picada de animal peçonhento, não há mais registro sobre a causa da morte de Becker além da menção de que mesmo enfermo ele prosseguia nos esforços para dotar a região de infraestrutura.

    A última luta de Becker era a prioridade máxima da comunidade toledana: construir uma usina hidrelétrica aproveitando os promissores saltos do Rio São Francisco. 

    Pelos cálculos da Prefeitura de Toledo seriam necessários 3 milhões de cruzeiros para a obra (valores da época impossíveis de converter em real), mas nenhum centavo viria do governo do Estado, como os dirigentes da Maripá concluíram depois de longas tratativas. 

    Ainda sem recursos para a obra, a energia era fornecida inicialmente por um gerador com motor diesel, das 6h30 até as 22h. Depois, pelo motor de um velho trator acoplado a um segundo gerador, produzindo juntos, cerca de 150 KW, segundo Ondy Niederauer. 

    A ágora de Barth e Dall’Oglio   

    Restou a possibilidade de contratar empréstimos bancários, mas não se tratava apenas de dispor dos recursos. Era necessária uma autorização do governo federal, via Ministério da Marinha, por seu Departamento de Hidrografia e Navegação.   

    Carlos Becker supôs que seria possível reunir os recursos por meio da Caixa Econômica Federal e partiu de Toledo para uma exaustiva peregrinação na qual bateu em todas as portas possíveis na tentativa de conseguir a verba e as autorizações técnicas e legais necessárias. 

    A CEF inicialmente acenou com a possibilidade de liberar os recursos, mas sem as licenças necessárias o sinal positivo se transformou em negativo. Durante meses Becker negociou as condições necessárias para a obra, mas quando ele voltou a Toledo desanimado, sem recursos nem liberações, a pressão por energia elétrica aumentou. 

    Willy Barth e o prefeito Ernesto Dall’Oglio decidiram promover uma espécie de ágora – a reunião geral do povo em praça pública feita pelos antigos líderes gregos. Coube à Câmara Municipal convocar empresas, autoridades locais dos três poderes e cidadãos influentes para decidir o assunto de uma vez por todas.

    O encontro, no início de 1954, lotou o Clube do Comércio, criado alguns meses antes. Willy Barth expôs o plano: a Prefeitura se encarregaria de construir a usina, que teria dois conjuntos geradores, um de 600 KVA e o outro de 300. 

    Decisão em minutos 

    O financiamento viria da própria população, por meio de títulos da dívida pública emitidos pela Prefeitura, no valor de mil cruzeiros cada, resgatáveis em sorteios periódicos quando a obra estivesse em operação.

    Sob aclamação geral, em minutos a Câmara aprovou a lei, o prefeito a sancionou e ali mesmo começou a subscrição dos títulos. A Maripá e empresas coligadas deram o exemplo, fechando a metade do valor.   

    Já no dia seguinte o chefe dos escritórios de medições e topografia da Maripá, Arthur Mazzaferro (1911–1994), técnicos da Maripá e o vereador Antônio Güerino Viccari, presidente da Câmara e futuro prefeito, estavam pondo mãos à obra, a 7 km da cidade, começando a construir o reservatório, obra básica para a hidrelétrica. As obras ainda tardaram três anos até a inauguração da usina, em 2 de julho de 1956.

    Sua poderosa energia foi comparada ao dinamismo de Carlos Becker, que dedicou a vida ao desenvolvimento das comunidades do Médio-Oeste e morreu em meio ao esforço pela construção da usina. Ela forneceu energia para Toledo até a década de 1970, quando a Copel passou a controlar a distribuição de eletricidade.

    100 anos da revolução: Garrafas misteriosas 

    Já esgotados e sentindo o aperto de um lento e implacável torniquete aplicado pelo estrategista Rondon na difícil posição revolucionária mantida entre o Oeste e o Sudoeste do Paraná, a trégua natalina não bastou para recuperar o moral dos paulistas distantes do lar.

    “No dia 26, o fratricídio estava de volta, para chegar ao máximo da crueldade. Zarpava do Rio de Janeiro o primeiro navio, lotado com 250 presos (oficiais, soldados e trabalhadores), com destino ao campo de concentração de Clevelândia (AP), extremo-Norte do País. Nessa viagem, 43% dos embarcados vão morrer” (Alceu A. Sperança, Militares e civis em luta no Paraná https://x.gd/WU25T). 

    Enquanto no Paraná os governistas se deslocam sob a vigilância dos rebeldes, no Sul o comandante Luiz Carlos Prestes habilmente escapava ao assédio das tropas legalistas.

    Na marcha rumo ao Paraná, além de João Alberto, Prestes tem a companhia de Cordeiro de Farias e Siqueira Campos.

    Em 31 de dezembro, a força policial do Paraná ainda permanece acampada junto a uma aldeia indígena. 

    “O comandante Sarmento anuncia que, em regozijo à passagem do ano, mandará servir, à meia noite, um café com bolacha à tropa. Isso constitui uma concessão especial, dada a circunstância da extrema exiguidade de víveres [de que] dispõe a coluna.

    “À meia noite, recebemos o café prometido. Os oficiais brindam-se mutuamente, e como por encanto surgem não se sabe de onde, umas misteriosas garrafas que têm a importante faculdade de alegrar o estado-maior da coluna” (João Alves da Rosa Filho, op.cit.

     

    Acossados pelas tropas governistas, rebeldes gaúchos demoraram a chegar ao Paraná 

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • O primeiro líder depois de Vargas

    O primeiro líder depois de Vargas

    Um dos acontecimentos mais importantes para a história do Brasil se deu no Oeste paranaense em 1954. Em outubro desse ano o então governador mineiro Juscelino Kubitschek lançou ao público a intenção de concorrer à Presidência da República nas eleições do ano seguinte.

    O anúncio foi feito depois de celebrar aliança em Foz do Iguaçu com o PTB, já sob a liderança de João Goulart, que havia sido ministro de Getúlio Vargas, morto em agosto desse mesmo ano.

    É da aliança celebrada no Oeste paranaense entre os social-democratas de JK e os trabalhistas de Goulart que sai a chapa PSD-PTB para concorrer às eleições presidenciais de 1955.

    Antes de celebrar essa aliança, que iria unir suas vidas para sempre, em meio a insistentes rumores de golpes que resultariam futuramente na deposição de Goulart em 1964, os dois tiveram vidas bem separadas.

    Da revolução para o golpe

    Kubitschek nasceu em Diamantina (MG) em setembro de 1902. Médico da Polícia Militar de Minas Gerais desde 1931, sua atuação política tem início na Revolução Constitucionalista do ano seguinte, que tinha a intenção de derrubar Getúlio Vargas e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte.

    Após a vitória de Vargas, o líder mineiro Benedito Valadares (1892–1973) assumiu em 1933 a função de interventor do Estado e chamou JK para ser seu chefe de gabinete, função na qual o médico se saiu muito bem, eleito à Câmara Federal em 1934.

    Com o golpe do Estado Novo, desferido por Vargas em 1937, Juscelino perdeu o mandato, mas em 1940 foi nomeado prefeito de Belo Horizonte pelo amigo Valadares. Em 1945 volta a ser eleito deputado federal e em 1950 para o governo mineiro, tornando-se assim o grande líder nacional do PSD.

    Nada, entretanto, ainda ligava JK ao PTB nem sinalizava que o Paraná se tornaria o berço da aliança vencedora entre o PSD e os trabalhistas.

    Lupion, a ligação com o PR

    Empossado governador em 31 de janeiro de 1951, JK teve uma gestão de sucesso, desempenho que o talhou para ser a opção do partido a preencher o vácuo de liderança nacional deixado pelo suicídio de Getúlio Vargas.

    Essa posição de destaque o aproximou de Moysés Lupion, também do PSD, que deixou o governo do Paraná em janeiro de 1951. Lupion jamais retornaria ao poder estadual se não fosse “uma convocação pessoal do Juscelino Kubitschek de Oliveira, que disputava a Presidência da República”, como disse Lupion ao jornalista Aramis Millarch, em depoimento datado de 1990:

    – Ele foi objetivo e não me deixou alternativa: “Preciso de você novamente no governo do Paraná”. Disciplinado, atendi o pedido do meu correligionário mineiro.

    Mas a essa altura, se havia um herdeiro político de fato de Vargas era o gaúcho João Goulart, amplamente apoiado nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná pela tradição getulista encarnada pelos patriarcas Jeca Silvério e Manoel Ludgero Pompeu. 

    Nascido em 1919 na mesma São Borja de Getúlio Vargas, filho de estancieiros, a elite gaúcha, Jango, como era chamado, ligou-se à família Vargas por meio de seu pai, sócio de Protásio Vargas em um frigorífico.

    Jango era ótimo jogador de futebol, mas péssimo estudante e só se formou em Direito pelo interesse do pai em ter um filho com diploma superior. Medíocre, com uma sífilis mal curada e envergonhado das sequelas da doença, tinha tudo para não ser o grande líder que viria a se tornar.

    Carreira improvável

    A virada na vida de Jango se deu em uma festa de Carnaval, onde perdeu a vergonha. Convidado a se filiar ao PSD de Juscelino, foi impedido pelo próprio Getúlio Vargas, que o levou ao PTB e ao mandato de deputado estadual em 1947.

    Amigo e confidente de Vargas, fora da política nacional desde sua deposição, em 1945, Jango o lançou como candidato à Presidência da República pelo voto popular. 

    Eleito presidente em 1950, Vargas tardou a chamá-lo para administrar o espinhoso cargo de ministro do Trabalho, em um quadro de intensa luta entre a classe patronal e os aguerridos sindicatos laborais vinculados à esquerda comunista.

    Jango não era estimado pelas elites curitibanas, mas sua ligação com Vargas o fazia ser bem recebido no Oeste, especialmente em Cascavel, sendo compadre do prefeito José Neves Formighieri.

    As biografias de JK e de Jango os conduziram, assim, ao pacto selado em Foz do Iguaçu rumo às eleições de 1955, uma década depois dos dramáticos acontecimentos que levaram ao suicídio do presidente da República.

    Távora, o trunfo da oposição  

    No Paraná, Moysés Lupion tentava se desvencilhar das críticas por não ter no primeiro governo cumprido os acordos políticos feitos com o amplo leque de forças políticas que o elegeu e sobretudo por trair o legado de Manoel Ribas, que estimulou os posseiros a ocupar terras no interior do Paraná.

    No Rio de Janeiro, então o Distrito Federal, a candidatura de Juscelino a presidente e Jango a vice foi apresentada em fevereiro lastreada por uma coligação de seis partidos. 

    O adversário mais forte dos dois era Juarez Távora, que também conhecia bem o Paraná – foi um dos líderes da revolução de 1924.

    Nas eleições de 3 de outubro de 1955, JK se elegeu com 35,6% dos votos, contra 30,2% de Távora. Jango obteve mais votos para vice-presidente que Juscelino para o cargo principal. Na época as eleições para presidente e vice eram simultâneas, mas não vinculadas, sistema em que a oposição poderia eleger um dos dois.

    Os golpistas abriram uma campanha para impedir a posse, alegando que JK não havia obtido a maioria absoluta dos votos (no mínimo 50% mais um).

    A oposição promoveu três tentativas de golpe de Estado em poucos meses, entre 1955 e o início de 1956, até que a situação ficou insustentável e contragolpe, desfechado pelo general Henrique Lott, veio garantir a posse de Juscelino.

    Período favorável ao Oeste

    Assumindo em 31 de janeiro de 1956, JK tratou de cumprir sua plataforma de fazer 50 anos em 5, período para o qual foi eleito. Nesses cinco anos, sempre abaixo da pressão das forças golpistas, JK construiu Brasília, projeto secular sempre prometido, mas jamais ousado por seus antecessores.

    As obras de Brasília, que requeriam muito material de construção, enriqueceram os madeireiros oestinos. A cidade de Cascavel explodiu, logo dobrando sua população. Para Foz do Iguaçu, Juscelino só entregou o governo ao cabo dos cinco anos difíceis que enfrentou depois de lançar a pedra fundamental da Ponte Internacional Brasil-Paraguai.

    O principal ataque sofrido por JK em seu governo foi que gastou muito nas obras. Elas serviam para a propaganda do governo, mas não para melhorar a eficiência do governo. 

    A gastança endividou o país, aumentou a inflação, deixou os ricos ainda mais ricos e reprimiu os ganhos dos trabalhadores, que só conseguiam reajustes compatíveis com a inflação promovendo greves ruidosas.

    Durante os anos JK, Jango esteve muitas vezes no Oeste paranaense, visitando o compadre José Neves Formighieri e monitorando as queixas dos posseiros atacados tanto pelos grileiros de terras quanto pela polícia do Estado. 

    O fim para todos

    Nas eleições presidenciais de 1960, JK estava impedido de concorrer à reeleição, mas Jango, sem a proibição, foi reeleito vice-presidente. O novo presidente também era uma figura pública profundamente ligada ao Paraná: Jânio Quadros.

    Quando ele tentou um autogolpe, renunciando ao cargo na tentativa de ser chamado a continuar na presidência como ditador, foi boicotado pelos militares, que não confiavam nele por ter condecorado Che Guevara, e Jango foi empossado. 

    Na presidência, entretanto, ao tentar cumprir as promessas feitas aos trabalhadores, Jango foi finalmente golpeado com sucesso, por um bloco civil-militar, em 1º de abril de 1964. 

    Amigo do general Castelo Branco e do vice-presidente, o mineiro José Maria José Maria Alkmin, Juscelino apoiou o golpe, mas logo sofreu o duro castigo de ter seus direitos políticos cassados pela ditadura.

    JK morreu em circunstâncias suspeitas, em um acidente automobilístico, quando preparava seu retorno à vida pública, em 1976. O marechal Castelo Branco, morreu bem antes, em um também misterioso acidente aéreo, em 1967. 

    Jango morreu no exílio, no Uruguai, em 1976, supostamente assassinado por agentes da Operação Condor. Seu principal legado ao Oeste do Paraná foi iniciar as tratativas para uma ampla rede de cooperativas, que na época eram acusadas de ser “coisa de comunistas”, mito logo desmentido pelos militares.   

    100 anos da revolução: Natal nas trincheiras 

    Repelidos pela resistência de Estillac Leal, os governistas suspendem os ataques, mas o QG de Rondon já não estava mais em Ponta Grossa nem na Colônia Mallet: passo a passo já havia se deslocado para Formiga. 

    Na véspera do Natal, as hostilidades cessam. Ocorre um emocionante episódio: longe das vistas dos líderes políticos da Nação, os soldados legalistas e rebeldes trocam mensagens e concordam em celebrar o Natal juntos, para depois retornar às suas posições de combate. 

    No dia do Natal, em seu misto de poesia e crônica militar, João Alves da Rosa Filho narra:

    “Erigimos esse altar de fé cristã entre as duas peças de artilharia da coluna. Viam-se em derredor, espalhadas, peças de metralhadoras da nossa seção. Tudo isso forma um contraste chocante e inédito para nós.

    “Quando o crepúsculo vem descendo, cai um aguaceiro inoportuno que quase desfaz por completo o nosso pinheirinho.

    “À noite, sentado nos velhos pinheiros caídos, meditamos entristecidos e contemplamos o céu estrelado, angustiados de saudades” (Diário de Campanha).

    Ainda nessa noite, uma notícia vinda da frente informa que um grupo de rebeldes depôs as armas. Verdade ou não, foram espalhados relatos de derrotas e deserções entre os rebeldes.

    Canhão utilizado na Revolução de 1924

     

     

    Fonte: Alceu Sperança