Categoria: Cultura

  • Van Gogh & Impressionistas chega a Cascavel com experiência imersiva inédita

    Van Gogh & Impressionistas chega a Cascavel com experiência imersiva inédita

    O Catuaí Shopping Cascavel será palco de uma das mais impactantes experiências culturais do momento. A exposição imersiva Van Gogh & Impressionistas, que já encantou 800 mil visitantes pelo Brasil, chega à cidade no dia 25 de janeiro de 2025, prometendo levar ao público uma viagem sensorial e visual pelo universo de grandes mestres da arte.

    Instalada em um espaço especialmente preparado no shopping, a exposição combina tecnologia e emoção para recriar de forma única algumas das obras mais icônicas de Vincent van Gogh, como A Noite Estrelada , Girassóis e Quarto em Arles . A experiência não para por aí: os visitantes também terão acesso a uma jornada visual pela obra de outros grandes nomes do impressionismo e pós-impressionismo, como Monet, Renoir, Gauguin e Cézanne.

    Tecnologia e emoção

    Com projeções de alta definição em 360º que cobrem paredes, piso e cubo, a exposição oferece uma tradição completa. As releituras das obras utilizam videografismo de última geração, trazendo movimento e efeitos que potencializam a conexão do visitante com os quadros. Uma trilha sonora especialmente criada, com grandes clássicos musicais, embala a experiência e torna a visita ainda mais atraente.

    Atrações adicionais

    Além das projeções, o evento conta com um labirinto instagramável, instalações interativas sobre a vida e a obra dos artistas, uma loja de souvenirs e um atelier criativo. Cada detalhe foi pensado para proporcionar momentos únicos de contemplação e diversão.

    O que dizem os organizadores

    “É uma honra trazer Van Gogh & Impressionistas para Cascavel. Estamos apresentando algo extraordinário para que todos possam vivenciar a arte de forma inovadora”, declarou Davi Telles, CEO da produtora Lightland, responsável pelo evento.

    Cláudia Michiura, superintendente do Catuaí Shopping, destacou: “Essa exposição reafirma nosso compromisso de oferecer eventos de padrão internacional ao público local, criando memórias afetivas e inesquecíveis.”

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Oeste, um fazendão inglês

    Oeste, um fazendão inglês

    Quando o tenente José Joaquim Firmino (1864–1927) chegou à fronteira que supunha desabitada, em 1889, encontrou uma vila povoada por patrões argentinos e empregados paraguaios – a futura Foz do Iguaçu. 

    O domínio real da região, entretanto, era britânico. A região Oeste paranaense era um feudo inglês não somente devido à Fazenda Britânia, explicitamente sob controle dos interesses ingleses desde 1905, mas pela submissão geral do país à coroa britânica por séculos.

    Os brasileiros que visitavam a região ficavam horrorizados ao saber que as Cataratas do Iguaçu eram uma propriedade argentina, mas não lhes parecia antinatural que toda a região entre os rios Paraná, Piquiri e Iguaçu fosse um imenso fazendão inglês.

    Esta situação perdurou até a revolução de 1924, quando os rebeldes encontraram o Oeste entregue a interesses estrangeiros, sob as ordens das milícias de obrageros, os proprietários anglo-argentinos que exploravam a extração e comércio de erva-mate.

    A última lembrança do domínio estrangeiro se arquivou em 8 de setembro de 1954, quando a Comarca de Toledo recebeu a escritura da Fazenda Britânia, adquirida em 1946 pela colonizadora Maripá junto à companhia Maderas del Alto Paraná, sediada em Buenos Aires.

    Nosso ouro financiou o império inglês

    O domínio inglês começa no reinado de D. João V (1707–1750), período no qual o ouro produzido no Brasil Colônia financiou a Revolução Industrial na Inglaterra e a transformou em potência mundial.João V fez alianças paralelas com França e Inglaterra, ma

    s depois da morte do soberano luso a Convenção Secreta de Londres, assinada em 1806 pelo plenipotenciário português Domingos de Sousa Coutinho e o secretário de Estado inglês, George Canning, sacramentou o domínio britânico. 

    Esse acordo mudará o destino do mundo, definindo o futuro do Brasil e instituindo sua longa dependência à Inglaterra.

    Os termos então sigilosos do acordo previam o deslocamento do príncipe João (VI) ao Brasil e a abertura de seus portos à Inglaterra. Impunham ainda tratados comerciais “que atentavam contra a soberania do império, pois, no fundo, os ingleses se comprometiam com a preservação da dinastia dos Braganças no trono português, recebendo como moeda de troca a supremacia sobre a desejada colônia brasileira” (José Jobson de Andrade Arruda, O novo imperialismo britânico e o fenômeno Brasil).

    Ingleses quiseram invadir o Brasil 

    O algodão brasileiro passou a ser uma obsessão para o interesse britânico, a ponto de George Canning sugerir a ocupação militar da América do Sul. Aliás, chegou a ocupar de fato Buenos Aires e Montevidéu.

    A imprensa inglesa festejou “um dos acontecimentos mais importantes da guerra ora em andamento”: “Buenos Aires passa a fazer parte do Império Britânico” (The Times, 13 de setembro de 1806).

    No entanto, a diplomacia inglesa considerou melhor a dominação econômica que a militar. O nacionalismo se levantaria contra esta, enquanto a economia se desenrolava na diplomacia e nas leis do mercado.

    O controle britânico sobre a América do Sul ficou incontestável após a coroação da rainha Vitória, em 1837. Com ela, abria-se um largo período de domínio inglês sobre o mundo – a Era Vitoriana.

    O cônsul no Prata, Woodbine Parish (https://x.gd/1S4lS), dava conta à rainha do grau de controle que a Inglaterra já havia estabelecido sobre a América do Sul, ao descrever um gaúcho dos Pampas:

    – Tomem-se todas as peças de sua roupa, examine-se o que o rodeia e, excetuando-se o que seja de couro, que coisa haverá que não seja inglesa? Se sua mulher tem uma saia, há dez possibilidades contra uma que seja manufatura de Manchester. O caldeirão ou panela em que cozinha, a peça de louça ordinária em que come, sua faca, suas esporas, o freio, o poncho que o cobre, todos são levados da Inglaterra (Eduardo Galeano, Veias Abertas da América Latina). 

    A origem da Fazenda Britânia

    A Argentina, que recebia da Inglaterra até as pedras das calçadas, já estava dominada. Mas os ingleses queriam mais: iriam estender sua influência também pelo Paraguai tão mansamente quanto sobre o Brasil, estabelecido por meio dos Rothschilds (https://x.gd/o8KQn).

    Esses banqueiros emitiram para o Brasil, na década de 1850, cinco empréstimos que iam de meio milhão a dois milhões de libras. A seguir, mais dois empréstimos em 1863, que totalizavam 3,8 milhões de libras, e um de sete milhões de libras em 1865. 

    Muitos desses recursos foram torrados na Guerra do Paraguai, fazendo o Brasil cair em longo endividamento. Até a Independência do Brasil entrou na conta dos prejuízos: pagou 2 milhões de libras esterlinas pelo “reconhecimento” dela.

    Não é de estranhar, assim, que tenha sido em negociações com interesses ingleses que o coronel Jorge Henrique Schimmelpfeng (1876−1929) iniciou a formação da Fazenda Britânia, no Oeste, em 1905. 

    A essa altura ele já havia feito muita história. Cadete na Escola Militar da Praia Vermelha, florianista, Jorge combateu a Revolta da Armada e em março de 1895, por solidarizar-se com colegas na vaia contra o general Jacques Ouriques (1848−1932), foi expulso da academia militar.

    Missão na fronteira 

    Então com 19 anos, em 1895, apadrinhado pelo pai comerciante, Jorge assumiu a função de subcomissário de Polícia em Curitiba, de onde se credenciou para uma vaga na Câmara Municipal (https://x.gd/fFZVq).

    Assim, apesar de ter a vida bem organizada em Curitiba, em 1905 ele perdeu a esposa e para ocupar a mente aceitou a incumbência de instalar uma comissão fiscal na então minúscula e desprestigiada Colônia Militar do Iguaçu, na qual as autoridades estaduais pretendiam aplicar um plano regional de desenvolvimento.

    Chegando ao destino, Jorge se desligou do Estado e adquiriu 250 mil hectares de terras devolutas, onde formou a Fazenda São Francisco. Estando ou não a serviço dos ingleses, Schimmelpfeng de imediato passou a propriedade à The Alto Paraná Development Company (ou Maderas del Alto Paraná), empresa constituída em Buenos Aires com capital inglês. 

    O representante dos interesses ingleses, Hilary Howard Lang, ficou encarregado de levar o projeto adiante, estruturando a Fazenda Britânia, um vasto latifúndio que abarcava boa parte do Médio-Oeste paranaense, entre o Rio Paraná e a região de Toledo.

    Além de Lang, constavam como proprietários dessa empresa Henry Bell, Walter C. Davis e Manuel Rodrigues. Entre a aquisição e transferência, aliás, a propriedade engordou cerca de 24 mil hectares e recebeu autorização oficial para desenvolver suas atividades em julho de 1907, embora o Porto Britânia já estivesse em atividades desde o ano anterior. 

    Domínio “esquecido”

    Nas narrativas históricas, o domínio inglês quase desaparece e é até negado. Vários livros fazem ginásticas documentais para afastar a ideia de que a coroa britânica teria interesse na Guerra do Paraguai, embora os fatos sejam inquestionáveis quanto ao amplo controle inglês do Paraguai antes dela, inclusive sob a ditadura de Solano López.

    O revisionista Francisco Doratioto (Maldita Guerra, https://x.gd/GlxeS) reconhece que o Paraguai, antes da Guerra, “contratou uma empresa inglesa para representar os interesses paraguaios junto às grandes potências” e Solano López “também contratou técnicos ingleses para fazer obras pontuais de infraestrutura em seu território”.

    A América do Sul respirava pelos poros britânicos. No caso do Oeste, a Fazenda Britânia foi determinada como a cabeça de ponte para inciativas estruturais favoráveis aos interesses ingleses. 

    O cerne do projeto era a construção de uma estrada de ferro, interrompida pela eclosão da I Guerra Mundial – “O material importado da Inglaterra para o início das construções já estava à disposição” (Alan Júnior dos Santos, https://x.gd/rCpny).  

    A Fazenda Britânia a partir daí se eclipsou, deixando o protagonismo com as demais obrages em atividade na região. Em 1945, quando empresários gaúchos decidiram comprar a área, encontraram o Porto Britânia abandonado, só restando “algumas cabeças de gado e ovelhas cuidadas pelo Valério Lambaré, idoso e fiel paraguaio” (Ondy Niederauer, Toledo no Paraná).

    O que vem a seguir é a ação da Companhia Maripá, que dá início às histórias de sucesso de Toledo, Marechal Cândido Rondon e demais municípios originados desses municípios primordiais. 

    100 anos da revolução: O pior Natal do mundo

    A inércia e a longa espera dos soldados do governo e dos rebeldes são suavizadas pela aproximação do Natal. Nos dois lados, todos são militares e cumprem deveres. São também humanos, permeáveis às emoções e lembranças evocadas pela véspera do Natal e proximidade de um novo ano.

    “Dia 24 surgem um novo dia radiante de sol e a natureza parece exalar uma alegria festiva. A passarada silvestre anuncia o alvorecer, trinando alegremente.

    “Os soldados resolvem comemorar esse dia, erguendo o tradicional pinheirinho que nos nossos lares alegra o coração meigo das crianças. […] A simbolizar a neve, o serviço de saúde nos forneceu o algodão necessário. Depois vimos soldados contemplarem ingenuamente a pitoresca e exótica árvore de Natal” (João Alves da Rosa Filho, Diário de Campanha).

    Mas os chefes militares querem aproveitar o relaxamento da véspera do Natal para decidir de vez o fim da revolução. Dois batalhões da Polícia de São Paulo, recém-chegados, são enviados para atacar a retaguarda rebelde, na Rocinha, arredores da atual Guaraniaçu.

    “A resistência foi comandada por Estillac Leal. Neste dia, Belarmino poderia ter caído, não fosse a entrada do reforço de uma companhia revolucionária” (Ruy C. Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).

    A resistência de Estillac Leal salvou sua vida a prolongou a revolução

     

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Aconteceu há 70 anos

    Aconteceu há 70 anos

    Fazer um balanço do ano de 2024 para a região Oeste, o Estado e o país é um exercício de memória que só se completa com avaliações sobre como, no curso da história, a região chegou ao brilhante estágio atual. Mantendo evocações históricas em 70 anos no passado, remontar a 1954 lembra ameaças de golpe de Estado e tragédias, como atualmente, mas em contrapartida apresentou consolidação do Paraná como Estado. 

    Para o Brasil, 1954 foi um ano terrível. Tramada dentro do próprio palácio do governo, a tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda tinha a intenção de enfraquecer a oposição ao governo federal, mas apresentou um imprevisto: a morte do major Rubens Vaz, da Força Aérea Brasileira (FAB). 

    O mandante do crime, que visava tirar de cena um dos principais opositores civis ao governo mas só conseguiu irritar os militares, foi Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas. Os militares exigiram a renúncia de Vargas, que se negou a deixar o poder, matando-se com um tiro em 24 de agosto. 

    Em Cascavel, a tragédia foi a morte do vereador Adelino Cattani em duelo com João Miotto (https://x.gd/PTjq1). 

    De modo geral, o ano foi de estiagem e dificuldades econômicas. Para a região Oeste, especialmente para Cascavel, entretanto, a economia exibia um progresso invejável, só obscurecido pela a morte de Vargas, o líder que desde a década de 1930 sempre resolvia seus problemas.  

    A ousadia de Pompeu

    A região vivia o pleno desenvolvimento decorrente do comércio de madeira para a reconstrução da Europa no pós-II Guerra. A riqueza das exportações resultou em um anel de propriedades rurais ao redor de cidades como Cascavel e Toledo, que por ter a mesma terra-roxa do Norte pensava-se que poderiam apresentar safras de café igualmente portentosas.

    O rápido progresso e o interesse despertado por muitas famílias no Sul, devido à minifundiarização que avançava no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, levou um importante líder regional ligado ao getulismo, Manoel Ludgero Pompeu, a ousar uma aventura que raros teriam condições (e coragem) para promover.

    Utilizando exclusivamente recursos próprios, Pompeu partiu do prolongamento da atual Avenida Carlos Gomes em direção ao Sul, abrindo picadas no sertão, encontrando a antiga linha telegráfica (levantada no início do século pela turma de Cândido Rondon) e chegou às margens do Rio Iguaçu, no ponto em que hoje se localiza a sede de Capitão Leônidas Marques.

    Era a primeira tentativa de ligar Cascavel diretamente ao Sul do país, colada no conjunto de atividades estruturais visando à expansão das frentes colonizadoras. 

    Terror na luta pela terra

    Nesse mesmo sentido surgiu em janeiro de 1954, de imediato regulamentado em maio, o Instituto Nacional de Imigração e Colonização (Inic), no âmbito do Ministério da Agricultura, para organizar a migração interna e a alocação de imigrantes. 

    Tinha a finalidade de “traçar e executar, direta e indiretamente, o programa nacional de colonização, tendo em vista a fixação de imigrantes e o maior acesso aos nacionais da pequena propriedade agrícola”. Claramente seu objetivo era disciplinar a ação das companhias colonizadoras, que contratavam homens armados para expulsar os posseiros.

    Havia titulações superpostas de terras, confusão cartorial resultante dos conflitos dominiais existentes entre o Paraná e a União, às quais vinha se somar a iniciativa das colonizadoras particulares, com seus jagunços.

    “Em duas oportunidades eu fui obrigado a fugir”, lembrava Octacílio Mion, cartorário ligado à família Formighieri que foi prefeito de Cascavel em dois mandatos. “A jagunçada estava armada até os dentes e havia muito crime aqui”, disse ele ao jornal Hoje-Cascavel. “Na época, a vida da gente não valia muito”.

    Atraindo moradores

    Os migrantes internos não vinham para viver em cidades, mas para ocupar boas terras por meio de posse ou comprá-las de quem veio antes. A família de Carlos Neppel chegou de Canoinhas (SC) ao interior de Cascavel em 1939, em carroça, mas só em 1954 passou a residir na cidade.  

    Sapateiro, Neppel foi também o primeiro juiz de paz de Cascavel, função na qual oficializa casamentos, entre os quais os enlaces de Agenor Miotto com Laura Zandoná e de sua irmã Élia Zandoná com Rubens Lopes.

    O interesse dos colonos em instalar as famílias na cidade se deu pela facilidade em adquirir os terrenos do Patrimônio Novo e pela necessidade dos filhos, crescendo, de frequentar as escolas, que se estruturavam para receber as crianças e jovens recém-chegados.

    Nesse sentido, foi especialmente importante a atuação do vereador Adelar Bertolucci (1928–2012) ao propor na Câmara Municipal várias medidas para facilitar a aquisição de imóveis urbanos. Começou com a lei 45/54, dispondo sobre a divisão por zonas do quadro urbano da cidade de Cascavel e estabelecendo regras para os preços dos lotes.

    Era muito para uma só lei, o que levou à lei 46, dividindo a cidade em quatro zonas. Em seguida, à lei 48, estabelecendo condições para a venda dos lotes.

    Biblioteca e imprensa 

    Desde quando o Município de Cascavel se instalou, em dezembro de 1952, as autoridades municipais, a começar pelo prefeito José Neves Formighieri e seu sucessor, Helberto Schwarz, passaram a distribuir escolas pelo interior e a sonhar com educandários de nível médio, para que os jovens não ficassem sem perspectivas de aprendizado.

    A criação de vagas escolares no centro urbano de Cascavel viria se constituir, assim, em um poderoso atrativo para as famílias dos colonos. É exemplar, nesse caso, o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, que sequer contava com um terreno para a construção do prédio, mas foi dado como certo aos católicos pelo padre Guilherme Maria Heyer (1906–1997).

    Enquanto as famílias planejavam adquirir os terrenos facilitados, a escola ia se viabilizando porque o grupo escolar não tinha vagas pata todos e os raros professores com formação em escolas normais tinham a dupla tarefa de ensinar os alunos e os colegas ainda em formação.

    Sentindo as dificuldades dos alunos e dos próprios professores pela falta de uma biblioteca pública no jovem Município, a diretora do grupo escolar, Aracy Lopes, promoveu um festival estudantil para motivar a criação da biblioteca da escola, concretizada em seguida.

    Só dez anos depois, em 1964, seria criada a Biblioteca Municipal. Aracy, filha do professor Aníbal Lopes da Silva, casou-se com Amadeu Rodrigues Pompeu, filho de Manoel Ludgero Pompeu, com quem teve quatro filhos. Eles depois iriam se destacar em Barreiras, como parte da comunidade sulista que desenvolveu o Oeste da Bahia.

    Incentivo à industrialização 

    Na política, em março de 1954 o secretário municipal Celso Formighieri Sperança entrou em atrito com os vereadores da bancada majoritária na Câmara, o Partido Republicano, e foi exonerado pelo prefeito José Neves Formighieri.

    Depois os mesmos vereadores iriam apoiar Sperança na criação do primeiro jornal da cidade, o Correio d’Oeste, dando assim início à indústria gráfica da região. Sua tipografia foi instalada na então Rua das Palmeiras (atual Rua Souza Naves), perto da esquina com a Rua Paraná.

    É assim que surge a primeira lei de incentivo à industrialização em Cascavel, proposta pelo vereador Helberto Edwino Schwarz, mais tarde prefeito. Concedia a isenção de tributos até 1958 para as indústrias que se instalassem em Cascavel em 1954.

    A lei era ambiciosa e procurava atrair todos os segmentos industriais: 

    “1 – Indústria Alimentícia – Fábricas de produtos e conservas alimentícias; II – Indústria de Eletricidade – Produção e distribuição de eletricidade, instalações hidroelétricas, termoelétrico e atividades correlatas; III – Indústria Extrativa Vegetal – Fabrico de papel, papelão e artefatos de papel;

    IV – Indústria Têxtil – Fabrico de tecidos, de vestuário e artigos congêneres; V – Indústrias urbanas – Exploração do serviço de água e esgotos e telefones urbanos; VI – Indústrias Gráficas, Tipografias com circulação de órgãos de divulgação; VII – Indústria Cerâmica – Indústria de louças de barro em geral”.

    A primeira beneficiada, portanto, foi a indústria gráfica pioneira do ex-secretário Celso Sperança. 

    Uma resenha de 1954 seria incompleta sem destacar um episódio marcante ocorrido no dia 9 de junho: o governador Bento Munhoz da Rocha Neto, lembrando as ágoras gregas, convocou a população de Cascavel para resolver, em praça pública, qual deveria ser o nome definitivo da cidade: “Cascavel”, “Aparecida dos Portos” ou “Aparecida do Oeste”. Venceu a primeira por aclamação.

    100 anos da revolução: O tormento da espera 

    Em dezembro de 1924, no Paraná, os revolucionários aguardam ansiosamente a vinda dos soldados gaúchos, ignorando que estão seriamente embaraçados no Sul. Por sua vez, os governistas aguardam os resultados do cerco empreendido por seus chefes. 

    Legalistas e rebeldes sabem estar muito próximos, mas houve muitas baixas nos últimos confrontos e é hora de aguardar.

    “Durante esses longos dias de inatividade enervante, passamos matando o tempo nos serviços obrigatórios de patrulha, reconhecimentos, guardas e sentinelas diárias. A vigilância á tanto mais necessária porque cada estreita passagem das florestas pode trazer-nos uma bala do inimigo, oculto em emboscada” (Floriano Napoleão do Brasil Miranda, Revolta!).

    A Coluna Gaúcha estará em marcha rumo ao Paraná em 17 de dezembro, data em que Cândido Rondon é efetivado como general de divisão. 

    Ao contrário, parados, rebeldes e legalistas se espreitam nos arredores de Catanduvas, em ações de manutenção contidas e defensivas.

    Capa do livro de Floriano Napoleão do Brasil Miranda

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Curta-metragem “Entropia” estreia em Cascavel com exibição presencial e transmissão on-line

    Curta-metragem “Entropia” estreia em Cascavel com exibição presencial e transmissão on-line

    No próximo dia 12 de dezembro, às 20h, o Teatro CoolHall, em Cascavel (PR), ocorrerá a estreia de “Entropia”, um curta-metragem que transcende os limites da narrativa tradicional para explorar, de maneira visual e poética, a condição humana e os desafios da sociedade moderna. Inspirado pelo conceito físico de entropia, que descreve a crescente desordem no universo, o filme convida o espectador a uma jornada filosófica sobre a vida, o tempo e o significado da existência.

    Uma obra que conecta arte, ciência e emoção

    Com duração aproximada de 15 minutos, “Entropia” utiliza linguagem cinematográfica única, repleta de simbolismos e marcada pela ausência de diálogos diretos. A trilha sonora e os visuais ganham protagonismo, conduzindo o público a um estado de introspecção e empatia. Mais do que um filme, “Entropia” é uma provocação artística que busca despertar reflexões sobre o papel do ser humano em um mundo cada vez mais fragmentado e sobre a importância de preservar o planeta.

    Diálogo com a comunidade: bate-papo com a equipe

    Após a exibição presencial, o público terá a oportunidade de participar de um bate-papo exclusivo com o diretor e a equipe de produção. Este momento será uma chance de aprofundar o entendimento sobre o processo criativo, as inspirações e os desafios que moldaram o curta-metragem. Para ampliar o acesso, o evento será transmitido ao vivo pelo YouTube (neste link), garantindo que espectadores de qualquer lugar possam interagir e prestigiar a obra.

    Acessibilidade e legado cultural

    Após o lançamento, “Entropia” estará disponível gratuitamente no YouTube, reforçando o compromisso da produção com a democratização da arte e o diálogo com a comunidade. Realizado integralmente em Cascavel, o projeto reflete a identidade local ao mesmo tempo em que aborda temas universais, consolidando a cidade como um polo de expressão artística e reflexão social.

    O trabalho é desenvolvido com a participação dos governos municipal e federal, por meio de projeto aprovado pela Secretaria Municipal de Cultura de Cascavel, com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Ministério da Cultura.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Embaixada Solidária estreia no cinema com documentário que promete emoção e provoca debate sobre migração

    Embaixada Solidária estreia no cinema com documentário que promete emoção e provoca debate sobre migração

    No próximo dia 22 de dezembro, domingo, a cidade de Toledo será palco de uma emocionante celebração da resiliência e da solidariedade. Às 13 horas, no Cine Panambi, localizado no Shopping Panambi, será exibido o documentário “CHEGADAS”, uma produção da Embaixada Solidária em parceria com a Gavião Filmes, com o apoio da Secretaria de Cultura de Toledo e a realização do Ministério da Cultura por meio da Lei Paulo Gustavo.

    A exibição será gratuita, mas os convites são limitados. Os interessados devem retirar seus ingressos uma hora antes na bilheteria do cinema.

    A Embaixada Solidária: uma década de acolhimento e transformação

    Fundada há uma década, a Embaixada Solidária nasceu com o objetivo de acolher pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente migrantes e refugiados que buscam reconstruir suas vidas no Brasil. Desde então, a organização tornou-se um pilar de apoio, promovendo iniciativas como cursos de capacitação, suporte jurídico e eventos culturais que integram essas comunidades à sociedade brasileira.

    Para Edna Nunes, jornalista e ativista humanitária que assina o roteiro e a direção do documentário, a missão da Embaixada vai além do acolhimento. “Queremos contar as histórias dessas pessoas, suas dores, suas esperanças e, acima de tudo, sua força para recomeçar”, afirma.

    “CHEGADAS”: um mosaico de histórias globais

    O documentário “CHEGADAS” foi concebido ao longo de quase um ano, com relatos de migrantes e refugiados vindos de mais de 40 países. Durante as gravações e edições, a equipe não conteve as lágrimas diante das narrativas de superação e coragem.

    Uma parte significativa do roteiro foi inspirada na visita de Edna Nunes à Venezuela em julho do ano passado. Durante sua passagem pelo país, a jornalista testemunhou de perto as dificuldades enfrentadas pelos migrantes e refugiados venezuelanos, que lutam contra a crise humanitária e econômica.

    “A Venezuela foi um divisor de águas para mim, pessoal e profissionalmente. Vi de perto a força e a resiliência dessas pessoas que não desistem de buscar um futuro melhor, mesmo diante de tanta adversidade”, relembra Edna.

    Essa experiência trouxe profundidade e autenticidade ao documentário, que mistura entrevistas, registros documentais e momentos poéticos. Segundo Edna, o filme não apenas sensibiliza, mas também amplia o debate sobre a importância do acolhimento humanitário.

    “’CHEGADAS’ não é só uma obra de arte; é uma declaração contra a invisibilidade dessas histórias. Queremos que o público enxergue, sinta e reflita sobre a realidade dos migrantes e refugiados. Este é um chamado à empatia e à ação,” enfatiza Edna.

    Uma jornada de empatia

    Produzir “CHEGADAS” foi um desafio que demandou dedicação e sensibilidade. A parceria entre a Embaixada Solidária e a Gavião Filmes trouxe um olhar artístico e humano ao projeto, resultando em uma obra que promete não apenas emocionar o público, mas também dar visibilidade a uma causa frequentemente esquecida.

    “A cada nova história, sentíamos a profundidade das experiências dessas pessoas. Não era apenas uma produção audiovisual; era um encontro de almas”, compartilha Edna, emocionada ao relembrar momentos das gravações e edições.

    Para Edna, o objetivo do documentário é construir pontes: “O que esperamos é que o público veja essas histórias com o coração aberto. Somos todos migrantes em algum momento da vida, e nossa humanidade nos conecta.”

     

    Fonte: Assessoria

  • A penosa construção da Justiça

    A penosa construção da Justiça

    Antigas cisões nas Forças Armadas liquidaram o Estado de direito e instauraram ditaduras que se anunciavam como salvadoras, mas ao se perder em privilégios produziram novos ciclos de instabilidades, mantendo o cenário nacional sempre em clima de guerra civil.

    Ainda um pequeno povoado em 1937, Cascavel tirou proveito das turbulências nacionais que no fim desse ano resultaram na ditadura do Estado Novo. 

    Fruto da revolução de 1930, Cascavel, isolada no Médio Oeste de estradas muito precárias, ganhou nas instabilidades nacionais condições extraordinárias para reivindicações que nos períodos estáveis ficavam em banho-maria.

    Coube justamente a um revolucionário de 1930, Sandálio dos Santos, conseguir ainda em 1937 a criação do Cartório Civil para Cascavel. Faltava, entretanto, um “pequeno” detalhe: cartórios são instalados em cidades com o status de Distrito Judiciário. 

    Até 1938, apesar de já ter sua primeira escolinha e o Distrito Policial, Cascavel não passava de um vilarejo que desapareceria do mapa se meia dúzia de famílias resolvessem abandoná-lo. Mas, às pressas, o Distrito Judiciário de Cascavel foi criado em 18 de janeiro desse ano com a Lei 6.244, vinculado à Comarca de Foz do Iguaçu.

    Promessas não cumpridas 

    Descuidado pelas autoridades, que julgavam poder estancar os conflitos de terras por medidas policiais, o problema agrário se intensificou nos anos 1940.

    Em comício no interior do Estado, o futuro governador Bento Munhoz da Rocha Neto, em 1950, prometia aos colonos ameaçados pelos jagunços: “Vós que ocupais as glebas e que as desbravastes, sois os que tendes direito a ficar nas terras”.

    Estimulados pelo ex-governador Manoel Ribas e Munhoz, os posseiros fizeram amplas ocupações e já começavam a produzir quando receberam visitas intimidatórias de jagunços de colonizadoras paulistas. 

    A redemocratização do pós-guerra ainda alimentava entre os posseiros a esperança de legalizar logo as terras, sobretudo com Getúlio Vargas empossado pela segunda vez na Presidência da República em 31 de janeiro de 1951.

    Com os getulistas fortes, o Município de Cascavel evitou ser um mero distrito de Toledo ao ser criado por Bento Munhoz em 14 de novembro desse mesmo ano, com a Lei 790/51. 

    As eleições para prefeito e vereadores foram marcadas para novembro de 1952 e com a eleição do prefeito José Neves Formighieri o Município foi instalado em 14 de dezembro.

    Jagunços tomam conta do interior

    No governo, Bento não fez valer o direito dos posseiros. Os conflitos aumentaram pela falta de medidas legais e jurídicas destinadas a impedir que sua multiplicação transformasse o Paraná em barril de pólvora prestes a explodir

    “As origens dos conflitos de terras em todo o Oeste devem-se à má colonização das terras públicas, por sinal as melhores do Brasil, incentivando a vinda de grileiros profissionais que para conseguirem apoderar-se de vastas áreas contratavam elementos que se diziam pistoleiros”, resumiu o advogado Ezuel Portes, sempre ameaçado de morte pelos jagunços. 

    “Na realidade, alguns, muito poucos, eram sanguinários e cruéis, matando quase sempre à traição” (Ezuel Portes, https://x.gd/xAspv).Na região, a primeira evidência de conflito de terras se deu nesse mesmo ano em Criciúma (Santa Terezinha de Itaipu). O envolvimento de um militar que resistiu aos jagunços estimulou o anseio, em toda a região, por assistência judiciária descentralizada.

    Era forçoso dirigir-se à sede da Comarca de Foz do Iguaçu para registrar os filhos e escriturar propriedades. O deslocamento, em estradas sempre em estado precário, principalmente nas épocas chuvosas, acrescentava aos gastos com registros e viagens dias de tempo tomados ao trabalho cotidiano.

    Viccari e Stresser

    Na época, Toledo não era de forma alguma cogitado para sede de Comarca, já que se tratava de Município criado recentemente. Mas em julho de 1953 o prefeito Güerino Antônio Viccari foi a Curitiba, acompanhado pelo vereador Rubens Stresser e a pediu ao presidente da Assembleia Legislativa, deputado Laertes Munhoz.

    A proposta teve a participação do advogado Dátero Alves de Oliveira, que estruturou o pedido com argumentos e dados jurídicos. Emenda nesse sentido foi apresentada pelo deputado José Hoffmann.

    O Poder Judiciário reagiu negativamente à proposta. Viccari imediatamente entrou em contato com o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, desembargador José Munhoz de Mello, a quem apresentou um mapa mostrando a distância de Toledo das demais Comarcas.

    O Tribunal de Justiça argumentou que Toledo não tinha condições financeiras para sustentar a conquista, mas Viccari tratou de garantir casa e móveis para o funcionamento do Fórum, restando ao Tribunal exclusivamente o pagamento do juiz e do promotor.

    A reação de Cascavel

    Atendendo às orientações de Munhoz de Mello, outros municípios foram desqualificados, cabendo somente a Toledo sediar uma Comarca. Feito o acordo, a emenda n° 49 foi aprovada em primeira votação. Cascavel, porém, permanecia vinculada à Comarca de Foz do Iguaçu, para irritação geral da comunidade.

    O prefeito José Neves Formighieri, reagiu:

    “Fui a Curitiba e fiz uma baita briga com Munhoz de Mello, presidente do Tribunal, explicando que não era possível um juiz em Foz resolver problemas em Cascavel. Ele me fez prometer que eu daria uma casa para o juiz, outra para o promotor e construiria as instalações do fórum”.

    Assim, com o projeto reformulado, a Lei Estadual 1.542, de 14 de dezembro de 1953, criou as Comarcas de Toledo e Cascavel, de segunda entrância, na data do primeiro aniversário de instalação dos dois municípios.

    Vindo a Cascavel em 18 de março de 1954, proveniente de Curitiba, onde nasceu, o contabilista Algacyr Arilton Biazetto chegou para assumir a Secretaria Geral da Prefeitura em substituição a Celso Formighieri Sperança já sabendo que não havia recursos para construir um fórum.

    O barracão de Richen

    A primeira tarefa de Biazetto foi conseguir um local para instalar a Justiça. Um casarão construído por Guilherme Richen em 1951 na Avenida Brasil, quase esquina com a Rua Carlos de Carvalho, surgiu como escolha ideal. Frente ao compromisso de que a Prefeitura pagaria o aluguel, o prédio foi cedido.

    Catarinense de Urussanga, Guilherme Mathias Richen nasceu em 24 de março de 1907. Chegou a Cascavel em 1949, aos 42 anos. Guilherme a esposa Elmosa Rodrigues tiveram Maria Madalena, casada com Pedro Leopoldo Schuster, e Sedeni, casado com Nelci Rottava, todos com estreita interação com a comunidade local.

    Como o barracão precisava ser adaptado para as tarefas judiciais, Biazetto contratou o pioneiro Afonso De Prá para fazer os móveis, “a facão, com madeira de pinho, à base de martelo e serrote, pois não existiam outros materiais”, lembrou Algacyr Biazetto. “Foram feitos lá mesmo, no salão do Fórum”.

    As cortinas foram preparadas pela esposa do pioneiro Júlio Gomes, Amélia, sogra do ex-vereador Dercio Galafassi, e por Aracy Tanaka Biazetto, por sua vez encarregada pelo Cartório do Distribuidor.

    Mello recusou a bajulação

    Vindos de Prudentópolis e morando na Gleba Centenário, Olímpio Gomes da Silva, o primeiro oficial de justiça da Comarca, e Pedrolina Maria do Pilar, a primeira serventuária da Justiça, vieram para Cascavel chamados pelo prefeito Neves Formighieri, que mandou um caminhão trazer a mudança da família.

    Tudo arrumado, em maio de 1954 o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, desembargador José Munhoz de Mello, determinava, em portaria, o dia 9 de julho de 1954 para, às 14h, realizar-se o ato solene de instalação da Comarca de Segunda Entrância de Cascavel.

    Toda essa história, em detalhes, é contada em quatro livros (Cascavel, A Justiça https://x.gd/Vvkr7).

    Às vésperas da instalação o Fórum de Cascavel recebeu o nome de “Desembargador José Munhoz de Mello”, na prática bajulatória vigente na época de batizar próprios públicos com nomes de personalidades vivas.

    Surpreso, Mello rejeitou a bajulação e não aceitou terrenos presenteados a ele pela Prefeitura, mas o nome do fórum não foi alterado.Dias depois Cascavel perderia seu maior protetor, Getúlio Vargas, sem o qual não teria conseguido suas principais vitórias. A crise política nacional se aprofundou a 14 de agosto de 1954, com o suicídio do presidente.

    100 anos da revolução: O horror dos combates

    As forças rebeldes que no futuro dariam origem à Coluna Prestes começam a marchar rumo ao Paraná em 5 de dezembro de 1924. Eram mil cavaleiros com dois mil cavalos de remonta.

    Já estava pronto o aeroporto que o general Cândido Rondon mandou construir para dispor dos aviões Spad e Breguet, que em 6 de dezembro entraram em cena, despejando na mata folhetos com a finalidade de abater o moral dos já cansados revolucionários.

    O diário de campanha do 1º Batalhão de Infantaria da Polícia Militar, do segundo-sargento Floriano Napoleão do Brasil Miranda, anota, em 9 de dezembro:

    “A marcha continua mais para o interior da mata. Nesse dia, atingimos Lajeado Liso de São Roque. Foi aí que o sargento Higino e o cabo Malan foram atacados em uma emboscada preparada pelos rebeldes.

    “No dia seguinte [10], conseguimos descobrir o corpo do sargento, enterrado, nos fundos de um paiol, ao lado de um chiqueiro de porcos. Procedemos à exumação e vimos, horrorizados, o corpo mutilado a facão e quase nu.

    “O Batalhão se deslocou para o lugar denominado Campo Novo, hoje Quedas do Iguaçu, onde deveríamos permanecer por 3 longas semanas. Provavelmente, ficaríamos como guardas vigilantes do flanco esquerdo das tropas em operações ao longo do eixo da estrada a caminho a foz do Iguaçu”.

    mapa: O batalhão do sargento Floriano Miranda se fixou em Campo Novo (atual Quedas do Iguaçu) no fim de 1924
    O batalhão do sargento Floriano Miranda se fixou em Campo Novo (atual Quedas do Iguaçu) no fim de 1924

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Tesouros: a loteria dos pioneiros

    Tesouros: a loteria dos pioneiros

    Todo fim de ano a Mega da Virada motiva sonhos de fabulosa riqueza, mas no passado a promessa de acerto na loteria estava em localizar supostos tesouros deixados por padres e tropeiros (https://x.gd/HWsct).

    Segundo velha lenda, os jesuítas, antes de fugir para o Sul, onde formariam suas famosas Missões, deixaram enterrados no Oeste paranaense fabulosos tesouros, moedas e pedras preciosas, em grandes panelas ou caldeirões.

    No livro “Na Trilha dos Pioneiros” (Gráfica Elza, 1995), Sebastião Francisco da Silva narra uma dessas lendas, segundo a qual três jesuítas, perseguidos pelos bandeirantes teriam enterraram um tesouro na região de Itaipu:

    “Já houve gente boa daqui que perdeu tudo em busca desse ouro, outros passaram noites cavoucando igual tatu e danificando propriedade alheia atrás disso. Principalmente, quando cai uma sexta-feira dia 13, não estranhe se amanhecer com o quintal de sua casa todo esburacado”.

    Acharam e foram embora

    Famílias que abandonaram a região no êxodo causado pela mecanização no campo e pelo desespero da Década Perdida (anos 1980) teriam achado tesouros ao destocar propriedades, mas nada mais se sabe a respeito além de uma base de canhão descoberta em Ubiratã. 

    A advogada Maria Antonia de Castilho, em crônica antológica, abordou memórias sobre tesouros baseadas na ideia de que o descobridor de riquezas desaparece de repente do lugar e vai usufruir a fortuna longe dali.

    No final da década de 1960, contou ela, havia na Rua Carlos Gomes, próximo ao viaduto da BR-277 (sentido centro), um enorme e belo pinheiro.

     “Estava lá, imponente. A rua humildemente o desviava. Bem em frente, morava um pobre carpinteiro, rodeado de generosa prole. O Ibama não existia e, se havia outro órgão controlador, não era atuante na região, só sei que referido homem e um ajudante derrubaram a bela araucária”.Deu-se que depois de aproveitar a madeira o destruidor do pinheiro foi embora da região sem explicações. “Comentou-se por bom tempo, que ele havia achado um pote com valioso tesouro junto ao pé do pinheiro”.

    Locais de tesouros guardados por fantasmas assustadores são os mais cobiçados. Dois cascavelenses, que Maria Antonia descreve como bravos homens, “sabedores de um lugar assim, resolveram ir encarar o fantasma e ficarem donos da fortuna”.

    Decidiram comprar um aparelho para detectar metais, com o qual pretendiam tapear o fantasma e localizar rapidamente o tesouro. “Assim, munidos de um bom lanche e do aparelho, foram para a região de Catanduvas localizar um rio onde uma enorme pedra dividia o curso das águas e marcava o lugar do tesouro”.

    Expulsos pelo fantasma do padre

    Prossegue a narrativa de Maria Antonia:

    Saíram bem cedo para fazer toda a operação durante o dia, pois sempre ouviram falar que fantasmas só aparecem à noite.

    Lá chegando, estacionaram o carro e se embrenharam no mato, percorrendo a margem do rio a procura da tal pedra.

    Caminha que caminha, começaram a perceber imenso silêncio, nenhum pio de passarinho, estranha sensação de estarem sozinhos no mundo.

    Logo a mata foi ficando num tom verde amarelado, os raios de sol também eram dessa cor e rajadas de vento surgiram simplesmente do nada, como antecedendo violento temporal.

    Um calafrio percorreu seus corpos e vacilantes prosseguiram.

    Nisto, num agito de ramagens, visualizaram a tal pedra.

    O coração disparou, os olhos quase saltaram das órbitas!

    Quem estava em pé sobre a pedra guardando o tesouro? Um padre! Estava com os braços cruzados e os olhava com severidade!

    Os dois caçadores de tesouro debandaram, tentando lembrar a direção onde estava o carro. – Cadê o aparelho compadre? – Não estava com você?

    Tesouros macabros

    De volta à cidade, os caçadores de tesouro esqueceram o assunto e agradeceram por conseguir voltar, mas na verdade nunca houve padres jesuítas na região de Catanduvas. 

    A povoação começou a se formar com a extensão do telégrafo, a partir de 1889. Ponto intermediário nas linhas telegráficas entre Guarapuava e Foz do Iguaçu, o lugar era conhecido como Barro Preto.

    Ali se instalaram inicialmente as famílias Lacerda, Krammer e Pureza. O impulso à formação do núcleo urbano, já com o nome de Catanduvas, deu-se em 1907, com a vinda da família Rodrigues da Cunha, ligada à família Pompeu (https://x.gd/Rahsk).

    Nessa região, com a agricultura mecanizada, foram encontrados ossos de soldados rebeldes enterrados a esmo ao tombar nos embates com as forças do general Cândido Rondon, em 1925. Os mortos governistas eram enterrados em cemitérios específicos.

    Reza a lenda do tesouro revolucionário que com a perseguição empreendida pelas numerosas forças governistas aos rebeldes vencidos em Catanduvas sua fuga ficou difícil pelo peso do material bélico já inútil. 

    “Assim, parte do armamento – metralhadoras, fuzis, lanças, espadas e munição – foram ocultos em lugar apropriado, fora das visitas do inimigo.

    Segundo a lenda, esse material foi sepultado em profunda caverna, sendo protegidas as armas que desde Catanduvas eram um peso morto” (Westmann, revista Mosaicos, 6).  

    O cacique empreendedor

    A caverna que seria o depósito do tesouro revolucionário, jamais localizada, ficaria no interior de Matelândia. Entre Cascavel e Santa Tereza havia um depósito de armas, munições e mantimentos estabelecido pelos soldados rebeldes, mas tudo foi incendiado em 1925, pondo fim ao lugar que poderia ter sido o início da cidade de Cascavel (Central Barthe).

    Pelo menos uma próspera cidade surgiu graças ao fabuloso tesouro dos jesuítas: Campo Mourão (https://x.gd/NzpvL). A crença na existência do dito tesouro foi alimentada pela esperteza do cacique Índio Bandeira.

    Sua taba de chefe de uma pequena tribo de indígenas Camés, na época chamados de Coroados, ficava entre os rios do Campo e o da Várzea.

    Por ali passava uma estradinha primitiva, supõe-se que um ramal do caminho do Peabiru, que seguia por Corumbataí do Sul até Fênix e pelo vale do Ivai/Piquiri afora, segundo o historiador Wille Bathke Jr.

    No trecho que cortava por frente o seu arranchamento o cacique enterrou dois grossos mourões de madeira de cerne da altura de uma pessoa, “um de cada lado do estreito trajeto e, dos viageiros que por ali passavam, cobrava pedágio em dinheiro ou espécie”.  

    Da ilusão à concretização 

    O local passou a ser ponto de referência e conhecido por Campo do Mourão. O nome da região se devia a Antônio José Botelho Mourão (1722–1798), o Morgado de Mateus, governador da Capitania de São Paulo que determinou a conquista dos campos inexplorados no interior do atual Paraná.

    Bandeira, que chegou a ser levado para uma entrevista com o imperador Pedro II, tornou-se uma espécie de herói da região, um raro nativo catequizado que absorveu os estratagemas dos brancos e os usava para seus interesses.

    Além de iniciar a cobrança de pedágio no interior paranaense, ao aplicar nos ambiciosos exploradores de origem europeia o “conto do tesouro dos jesuítas” passou à história como o desbravador dos Campos do Mourão, região entre as duas margens do Rio Piquiri e o Rio Paraná.

    A partir das informações do Índio Bandeira, Mendes Cordeiro vai procurar o “Campo do Abarrancamento” ou “Campinas Vitorianas”, de que os nativos diziam maravilhas. Era o início da exploração do Vale do Piquiri.

    Em breve, Mendes Cordeiro e seus sócios vão registrar ali a posse de 60 mil hectares como “Campos de Criar”, começando a desenhar no mapa a futura cidade de Campo Mourão. 

    O tesouro achado

    Em Missal, considerado território sagrado (a área pertencia à Cúria Diocesana do Paraná e por isso tem esse nome), a lenda corrente é que o tesouro antigo não pode ser revelado por ordem de “almas do outro mundo”. 

    Quando alguém de fora pergunta aos missalenses sobre tesouros, eles logo mudam de assunto, pois quem revelar o segredo perderá a chance de receber o mapa e o tesouro. 

    Lenda à parte, é um mistério que as terras de Missal tenham sido legalizadas em 1937, mas a colonização só começou de fato em 1964, pela Colonizadora Sipal. 

    Uma das comunidades mais jovens do Oeste, as estatísticas apontam que ali foi de fato achado um tesouro: Missal é o 186º município do Paraná em população, mas está entre os 35 maiores em valor bruto da produção.  

    Como no caso de Campo Mourão, não havia um tesouro jesuíta, mas terras consideradas entre as mais férteis do mundo, motivo da canção Terra Roxa (1962), de Teddy Vieira (https://x.gd/BRQy5).

    100 anos da revolução: A artilharia das chuvas 

    Em 28 de novembro a força legalista paranaense se punha em marcha na região do futuro Município de Quedas do Iguaçu, onde deveria permanecer por mais de uma semana vigiando o possível ataque dos revoltosos, enquanto alguns rebeldes aprisionados eram escoltados para Guarapuava.

    “A vida no acampamento permanece normal por muitos dias, a não serem as dificuldades do abastecimento de gêneros alimentícios em consequência das prolongadas chuvas dos últimos dias, que impediam a passagem dos cargueiros nos riachos transbordantes e caminhos alagados” (Relato de Antônio Monteiro da Silva).

    Em 30 de novembro os soldados legalistas estabeleceram próximo ao Rio Roncador um acampamento que iria perdurar até o fim das hostilidades.

    Permaneciam no local entre cinco e sete mil homens. “Possuíam naquele local 65 canhões, e um pinheiro tinha no seu tronco a seguinte inscrição codificada: Posição da 4. Bateria 5. Regimento do Roncador, de 30/11/1924 a 10/05/1925” (João Olivir Camargo, Nerje).

    Nessa mesma data, no Sul, o general Honório Lemes chegou a Uruguaiana, acompanhado de 550 cavaleiros gaúchos, agrupados em três corpos, em mais um lance preparatório para a futura Coluna Prestes.

    Na revolução, casamata camuflada, a “caverna” de armas e munições

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Achou um clube nos fundos de casa

    Achou um clube nos fundos de casa

    Saber as circunstâncias da vinda dos pioneiros facilita a compreensão dos historiadores e das novas gerações sobre a interação entre as experiências trazidas por eles dos locais de origem e as oportunidades existentes na nova terra. Os conhecimentos que traziam, combinados com a ampla disponibilidade de boas terras encontradas, produziriam a história futura.

    As memórias de Vitoldo Sobanski são bem representativas dessa adaptação. Chegando a Cascavel no dia de seu aniversário, em 9 de fevereiro de 1954, proveniente de Ponta Grossa, suas duas preocupações iniciais eram “se arranchar” (ajeitar a mobília na moradia) e organizar o equipamento da primeira oficina mecânica de Cascavel dotada de solda elétrica e torno.

    A moradia ficava no local de uma antiga estrebaria pertencente a Rafael Piccoli, perto do Posto Shell de Waldemar Bomm e do cinema de João Donin. A estrebaria era um símbolo do pioneirismo: os primeiros moradores de Cascavel montavam a cavalo e suas carroças precederam as viagens de caminhões e automóveis.

    A estrebaria era uma espécie de “estacionamento” para animais de montaria e transporte, local em que recebiam cuidados, alimentação e descansavam entre as jornadas. Com o transporte motorizado, a prestação de serviços por estrebarias desapareceu do espaço urbano.

    Quem foi Rafael Piccoli

    A vinda de Sobanski para montar uma oficina moderna para os padrões da época foi bem recebida pelos cascavelenses e sua lembrança resgata Rafael Piccoli, cuja história ficou desconhecida por conta de um descuido que a Prefeitura e a Câmara por vezes revelam ao homenagear pioneiros depois da morte.

    O nome Rafael Piccoli foi grafado erroneamente como “Picoli”, deslize aparentemente causado pela popularidade do vereador Luiz Picoli, amigo do prefeito Pedro Muffato, que em 1974 alterou o nome da antiga Rua André de Barros para “Rafael Picoli”.

    A rua, transversal à Avenida Brasil, é paralela às ruas Treze de Maio e Pedro Ivo, ligando as regiões do Lago e do Country Clube.

    O pioneiro Rafael Piccoli, ligado em Cascavel por parentesco à família Schapinski, nasceu em 15 de janeiro de 1905, em Muçum (RS), filho de Giovanni Piccoli e Giustina Mezzarobba detta Rangiot. Casado com Olivia Poletti, Piccoli morreu em 25 de novembro de 1973.

    Chegando numa terça-feira, a semana transcorreu atarefada para Sobanski e a esposa Nair França, a Nana. No primeiro sábado em Cascavel, 13 de fevereiro de 1954, terminavam de se ajeitar no novo lar quando ouviram música, vozes e animação vinda dos fundos da casa, para onde ainda não tinham ido.

    “Fui peruar para ver o que era, dei com o Tuiuti Esporte Clube, com músicos e diversos jovens, moços e moças, ensaiando músicas carnavalescas”, lembrou Sobanski. “Não resisti: entrei e me apresentei. Fui aceito na hora”.

    Começava ali, em clima de folia, seu longo e profundo envolvimento com os assuntos de Cascavel e região. Nascido em 1925 em Marechal Mallet (PR), Vitoldo já veio casado com Nair França, com quem teria seis filhas e um filho.

    Nessa época, o Tuiuti estava com apenas cinco anos de existência. Tinha uma sede precária construída entre 1952 e 1954 com materiais cedidos pelos associados sobre o terreno doado em 1949, na fundação do clube, por Maria Maceno.

    O clube era presidido com dificuldades por Itasyr Luchesa. Já estava construído, de forma geral, mas faltava ainda o acabamento: o prédio sequer contava com portas e janelas.

    O megatorneio de Rondon

    Luchesa optou por passar a presidência do Tuiuti a um jovem empolgado com o clube. Álvaro Valenti, catarinense de Campos Novos (SC), viera a Cascavel no ano anterior para se associar ao sogro, João Pagliosa, e ganhou a simpatia de todos.

    Casado com Norma Pagliosa, Valenti teve quatro filhos com ela. Jogava futebol e participava ativamente das atividades do clube. Vitoldo e Valenti deram sorte ao Tuiuti.

    Quando foi eleito o próximo presidente, Júlio Gomes Sobrinho, já em abril de 1954, o Tuiuti era um belo time de futebol e começava a trajetória de sucesso que o levou a ser conhecido como “Leão do Oeste”.

    O reconhecimento veio ao vencer um megatorneio realizado em duas etapas: primeiramente em Marechal Cândido Rondon e em seguida, dois meses depois, em Guaíra, cidade que também possuía uma fantástica equipe de futebol – o Clube 7 de Setembro.

    Marechal Cândido Rondon, neste ano, realizava a sua primeira exposição-feira agropecuária e para a festa esportiva paralela previa a participação de 30 equipes.

    Craques pagavam para jogar

    Por essa época, os jogadores só competiam por amor ao futebol. Não havia salários nem prêmios. Cada centavo obtido era direcionado às obras da sede do Tuiuti.

    “Quando das excursões futebolísticas se colocava ônibus à disposição da torcida, dirigentes, namoradas e noivas dos atletas, que pagavam passagem normal”, contou Vitoldo. “Os atletas pagavam 50%. Assim, a cota que se cobrava para jogar fora era recolhida ao clube integralmente”.

    Logo o próprio Vitoldo Sobanski foi eleito presidente do Tuiuti, para o biênio 1958/59. Sempre animado e alegre, fazia rir até nas dificuldades. Dentre as atividades que desenvolveu, tinha uma loja de representação das máquinas de costura Singer na Avenida Brasil, que se alagava em dias de chuvas prolongadas.

    Francisco Smarczewski, o Chico, lembrou que ao contrário de se amargurar frente ao obstáculo para os negócios, ele se postava em uma cadeira à margem da lagoa formada e divertia os transeuntes com caniço a anzol simulando uma descontraída pesca, para irritação do pessoal da Prefeitura. 

    Os líderes da época

    Em 1959, Vitoldo aceitou mais uma tarefa: secretariar a Associação Rural de Cascavel, que desde 1953, fundada por Tarquínio Joslin dos Santos, era uma espécie de precursora Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel).

    Os colegas de Vitoldo na ARC eram o presidente Antônio Alves Massaneiro e o vice-presidente Hilário Zardo. O espírito associativo era muito forte na época e os líderes da comunidade sentiram também a necessidade de criar uma entidade cultural, com o apoio de Vitoldo Sobanski.

    O Clube Cultural Crotalus não durou muito, mas no futuro teria continuidade com a Academia Cascavelense de Letras e o Projeto Livrai-Nos! Nele, além de Sobanski, o tesoureiro, estavam Dimer Webber, Plínio Alano, Luiz Carlos Biazetto, Ivo Fagundes, Zé do Torno (José Smarczewski), Guido Girelli, José Bertoli e Teodocyro Furtado, entre outros.    

    Vitoldo Sobanski também figurou entre os 37 fundadores do Automóvel Clube de Cascavel, ao lado de líderes como Algacyr Biazetto, Remy Pagnoncelli, Zilmar Beux, José Juca Baldo, Valdeci Sartori, Adolpho Cortese, Nézio Cunha, Ciro Bucaneve, Luiz Cumella, Waldemar Bobato, João Baptista Cobbe, Deoclides Carpenedo, Gilberto Mayer, Nélson Menegatti, Valdir Farina e Pedro Muffato.

    Além da oficina pioneira e da loja de máquinas de costura, Sobanski foi corretor de imóveis e agente de seguros. Entretanto, na grave crise da ditadura dos anos 1980, a chamada Década Perdida, a empresa de seguros na qual Sobanski trabalhava fechou as portas em Cascavel. A agropecuária era asfixiada pelo governo e o comércio perdia clientes.

    Vida nova, mesma alegria

    A família, em meio a tantas outras que protagonizaram um grande êxodo no período, também sentiu a necessidade de migrar para outras regiões. Com sete filhos, o casal Vitoldo e Nana optou pelo retorno a Ponta Grossa.

    Embora já próximos dos 60 anos, ambos mantinham o espírito jovem e animado com que conquistaram Cascavel. Nair se dedicava ao artesanato da tradição hippie dos anos 1960, baseada na técnica “tie-dye” (amarrar e tingir), as meninas ajudavam e Vitoldo se encarregava do comércio das peças originais produzidas.

    Participando do circuito de eventos e feiras de artesanato pelo Paraná, a família concentrou as atividades no litoral, para onde a família optou por se transferir para participar de mais uma atividade associativa: a Associação Guaratubana de Artesãos.

    Nair morreu em 2004 e Vitoldo em 2009, aos 84 anos, mas as seis filhas do casal deram continuidade às atividades artesanais da família (https://x.gd/00iDS).

    100 anos da revolução: Começa o confronto direto

    Em 15 de novembro de 1924 os rebeldes haviam passado sem resistência pela estratégica vila de Catanduvas e se instalado em Belarmino, localidade que homenageava o marechal Belarmino Augusto de Mendonça Lobo, mas os oficiais governistas confiavam que as forças mobilizadas pelo general Cândido Rondon seriam suficientes para enfrentar a ousadia revolucionária.

    “Foram atacadas as tropas governistas na Serra do Medeiros. As informações de que os revolucionários dispunham, eram sobre a existência ali, somente de tropas de mercenárias do coronel Pais Leme. Entretanto, Rondon já havia reforçado a posição com metralhadoras, canhões de montanha e baterias” (Neill Macaulay, A Coluna Prestes).

    O governo repeliu ataques e devolveu a ofensiva com energia nas posições estabelecidas na Serra do Medeiros, cujo desfecho poderia ser o controle final sobre Catanduvas.

    Uma companhia da Polícia Militar do Paraná, aproximando-se das posições revolucionárias, iniciou lentamente a progressão pela picada telegráfica por volta das 7 horas da manhã do dia 15 de novembro.

    Foi quando se deu o contato com os rebeldes, escondidos no mato. As vanguardas fizeram os primeiros disparos. Depois, uma intensa troca de tiros de fuzis e metralhadoras produziu baixas dos dois lados.

    A força rebelde estava dividida em duas, com parte em Foz do Iguaçu e a outra entre os sertões do Médio-Oeste e do Sudoeste, distanciamento que favoreceu o governo.

    Marechal Belarmino Augusto de Mendonça Lobo

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Cascavel: do velho pouso à nova metrópole

    Cascavel: do velho pouso à nova metrópole

    Política e história se confundem. Derrotado por seus inimigos na Argentina em 1900, o francês Domingo Barthe comprou no ano seguinte dez mil hectares de ervais no Médio-Oeste. O interesse pela madeira levou Barthe a se apossar de 60 mil hectares e para facilitar as exportações abriu estradas, portos e um serviço de navegação no Rio Paraná.

    Fazia parte de sua propriedade ampliada um antigo pouso ervateiro às margens do Rio Cascavel. No lugar, conhecido como Cascavel Velho, a Companhia Barthe instalou um potreiro e invernada para seus cavalos de montar e atrelar a carroças.

    Também era parte da propriedade de Barthe um entroncamento de caminhos formado em 1895 por Augusto Gomes de Oliveira e assinalado pelo Marco Zero, o monumento da Praça Getúlio Vargas, criado em 1958.

    Conhecido como Encruzilhada dos Gomes, o local era usado para acampamento de passagem por Augusto e seus filhos. Os Gomes faziam o transporte de erva-mate por esse caminho, que ao se unir com a trilha para Lopeí e atravessar a estrada militar que ligava Catanduvas e Foz do Iguaçu formava o cruzamento.  

    O potreiro desativado

    Diante da amplitude das propriedades sob controle estrangeiro no Oeste paranaense, em 1905 o governo estadual mandou o engenheiro Arthur Franco inspecionar os latifúndios da região.

    O governo exigiu que as empresas também colonizassem a área além de só extrair suas riquezas. Como só queriam erva-mate e madeira, continuaram sem colonizar e na época da 1ª Guerra Mundial o potreiro do Pouso Cascavel já estava abandonado.

    Com a região já sob controle brasileiro, partes do Médio Oeste ao Sul da antiga Fazenda Britânia, futuramente área de domínio da colonizadora Maripá, foram postas à venda em 1920 pela colonizadora Braviaco.

    A Empresa Brasileira de Viação e Comércio era herdeira da Brazil Railway Company, empresa ligada ao grupo Farquhar. Criada em 1906 para construção de uma estrada de ferro, entrou em regime de concordata e passou ao controle do Estado em 1917.

    Em 1921, o catarinense Antônio José Elias, conhecido como Antônio Diogo, comprou da Braviaco a parte na qual estava localizado o velho pouso do Rio Cascavel (Cascavel Velho).

    A iniciativa de Antônio Elias

    Filho de lavradores, Elias nasceu em Canoinhas (SC), em outubro de 1881. Recebendo a oferta de terras pela Braviaco em 1920, no ano seguinte Elias adquiriu a propriedade, mas só após o inverno de 1922, decidido a aproveitar a área em agricultura e criação, mandou o cunhado, Ernesto de Oliveira Schiels.

    Ernesto partiu da vila de Cantagalo com a família, parentes, amigos e uma carroça carregada de mudanças. 

    Vieram com ele a esposa Laurentina, dois filhos ainda de colo – Joaquim e Maria Francisca –, um irmão de Ernesto, acompanhado pela esposa, e “dois camaradas contratados para ajudar nos serviços”, um deles João Maria Diogo, irmão de Antônio José Elias.

    Ao todo, a pequena caravana veio formada por oito pessoas, dez porcos, quatro cavalos e meia dúzia de vacas. 

    A primeira lembrança que Laurentina gravou da passagem pela Encruzilhada, ao chegar, em 8 de setembro de 1922, dia do 19º aniversário de João Maria, é que lá havia “acampamentos de índios paraguaios”. Eram mensus transportando erva-mate para o Rio Paraná. 

    O encontro Elias-Silvério

    Elias só veio residir na propriedade da família em 1923. Em novembro desse ano ele recebeu a visita de um viajante – José Silvério de Oliveira, o Jeca –, que manifestou interesse em arrendar a Encruzilhada dos Gomes e arredores.

    O ponto de interesse de Silvério, criador de suínos, era o banhado que ficava nas áreas mais baixas entre as atuais praças Getúlio Vargas e Wilson Joffre. 

    Na parte alta, uma tapera da família negociava com os viajantes desde 1928, quando Silvério formalizou o arrendamento da área.

    A família Elias/Schiels nunca teve planos para o banhado ou a Encruzilhada. A família Silvério prestava serviços aos viajantes no local, mas não passava pela cabeça de ninguém que um dia poderia surgir ali uma cidade.

    José Silvério só acampava no lugar e seguia em frente, entre o interior de Guarapuava e os portos do Rio Paraná. 

    Então novamente a política veio determinar a história: nas eleições de 3 de março de 1930, o candidato de José Silvério à presidência, Getúlio Vargas, foi derrotado pelo paulista Júlio Prestes. 

    Perseguido pelos adversários em Pouso Alegre, no interior de Guarapuava, onde morava, Silvério fugiu e decidiu se fixar na Encruzilhada dos Gomes, junto ao banhado que ele arrendou anos antes para plantar milho e criar suínos. 

    A aposentadoria de Silvério

    Silvério, o Tio Jeca, chegou em definitivo no dia 28 de março de 1930, seguido pelos amigos e parentes que o acompanhavam pelas áreas de safrismo, combinação de plantio de milho com criação de suínos.

    Jeca Silvério havia completado 58 anos no dia 21 de março e decidiu se acomodar na Encruzilhada com a família. Era sua aposentadoria.As primeiras quatro casas ali construídas nesse ano deram início à formação da vila, depois cidade e Município de Cascavel. 

    Mas para isso ainda seria necessário mais um episódio político de amplos desdobramentos históricos: o triunfo da revolução em outubro de 1930.

    Com ela, Antônio Elias perdeu a área arrendada por ter sido adversário dos revolucionários em 1924, para sorte de Silvério, que passou a ser proprietário da ampla área que arrendou em 1923, transferência formalizada cinco anos depois.

    É quando surge o projeto de iniciar uma cidade. Silvério passou a distribuir terrenos ao redor para parentes, empregados e amigos. Um deles demorou a decidir, mas veio: Sandálio dos Santos. 

    General caiu em desgraça

    Em setembro de 1931 já eram sete casas. O prefeito de Foz do Iguaçu, Othon Mäder, enviou este ofício ao general Mário Tourinho, interventor federal do Paraná, mantida a grafia da época:

    “Estando se constituindo por iniciativa desta Prefeitura Municipal de Foz do Iguassu um povoado que já conta com regular número de moradores no lugar denominado Cascavel, na encruzilhada da estrada de Lopeí, sobre terras de domínio do Estado, a mesma Prefeitura, por seu prefeito municipal abaixo assignado, requer a V.Ex. que seja cedida para seu Patrimônio, de acordo com as leis que autorizam cessão gratuita de terras públicas para formação de patrimônios dos municípios, uma área de quinhentos hectares no lugar acima indicado, afim de poder, dividindo-o em lotes urbanos, delinear os planos e prover as necessidades de uma futura cidade que está ali se formando”.

    Eram tempos dinâmicos e Tourinho, em meio a um tenso embate político, logo se afastou do governo estadual, substituído em dezembro de 1931 por João Perneta e logo por Manoel Ribas. O requerimento de Mäder ficou sem resposta. 

    Só em 1936, quando assumiu a Secretaria de Terras do governo Ribas, o ex-prefeito Othon Mäder resgatou o ofício e tomou a iniciativa de atender ao próprio requerimento de 1931, encaminhando o assunto ao governador.

    Cascavel x Aparecida dos Portos

    Ribas expediu o título de domínio pleno das terras do primeiro perímetro urbano de Cascavel em 16 de abril de 1936. Em favor de Foz do Iguaçu, o título abrangia uma área de 1.001 hectares. 

    Surgia o Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos de Cascavel, nome quilométrico pelo qual o governador tentava harmonizar os religiosos e os políticos do lugar, empenhados em queda de braço para definir o nome da cidade (https://x.gd/62rMf).

    As famílias tradicionais preferiam manter “Cascavel”, mas religiosos insistiam em banir o nome da cobra e impor “Aparecida dos Portos”, nome com o qual o prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor Guilherme Maria Thiletzek, batizou o lugar ao celebrar a primeira missa do povoado, em 1931. 

    Já abalado pela doença que em seguida o afastou da prelazia de Foz do Iguaçu (ele morreu em 1937), o religioso acreditava estar em um dos portos do Rio Paraná.

    A pendenga acabou em 20 de outubro de 1938, quando o decreto-lei 7.573 criou o Distrito de Cascavel, pertencente a Foz do Iguaçu, consagrado definitivamente em 14 de novembro de 1951 com a lei estadual 790/51, que criou dezenas de municípios paranaenses, dentre os quais Cascavel, Toledo e Guaíra.

    Essa história foi esquecida por motivos políticos. Othon Mäder foi varrido da memória de Cascavel por adversários: a rua que tinha seu nome é hoje a Rua Visconde de Guarapuava (https://x.gd/L6RBA). Não custaria muito aplicar uma homenagem a Mäder no Marco Zero.  

    100 anos da revolução: No Paraná, RS e RJ  

    De Artigas no Uruguai, Juarez Távora envia em 12 de novembro de 1924 uma carta a Luiz Carlos Prestes, para ser repassada aos oficiais rebeldes de Alegrete, Uruguaiana, Itaqui, São Borja, São Luís, Santo Ângelo e Cachoeira.

    Contou que a revolução controlava o interior do Paraná e sugeria aos rebeldes gaúchos considerar um encontro de forças em Ponta Grossa. 

    No Rio Grande do Sul, em 15 de novembro, depois de dominar a guarnição da Estação de Remonta do Exército, os 800 homens do general Honório Lemes armam uma embosca contra o reforço de 300 provisórios que se deslocara de Rosário para o local.

    No Rio de Janeiro, o dia foi de festa no palácio do governo, menos pelo aniversário da Proclamação da República que pela apreensão na residência do major Martins Gouveia de Feijó de grande número de bombas de 10 e 15 kg fabricadas com dinamite.

    No Paraná, começavam os combates entre rebeldes e governistas na Serra do Medeiros. Os dois lados se moviam com agressividade e ousadia.

    Honório Lemes, o Leão do Caverá

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Cascavel se prepara para concerto histórico com o I Tre Amici no Sefrin Filho

    Cascavel se prepara para concerto histórico com o I Tre Amici no Sefrin Filho

    A contagem regressiva começou! Faltam poucos dias para um evento imperdível em Cascavel, e os ingressos estão quase esgotados. No próximo 19 de novembro de 2024, o Teatro Municipal Sefrin Filho será palco de um concerto emocionante em homenagem ao aniversário da cidade, estrelado pelos renomados I Tre Amici — os tenores Jocimar Silva, Matheus Bressan e Thiago Stopa. Este espetáculo grandioso promete transportar o público a uma experiência única, celebrando a música clássica em grande estilo.

    Sob a batuta do maestro paraguaio Juan Ramón Vera, a orquestra de 20 músicos e o coro de 12 vozes conduzirão a plateia em uma verdadeira viagem musical. O repertório inclui clássicos imortais de óperas como Carmen, Turandot, La Traviata e Nabucco, além de canções italianas, napolitanas, internacionais e até MPB, trazendo uma diversidade musical que vai encantar a todos.

    Mas atenção: os ingressos estão no último lote e a procura está intensa. Não perca a chance de garantir seu lugar nesta noite histórica e celebrar a cultura de Cascavel com um espetáculo de altíssimo nível, por apenas R$ 70. 

    Além das incríveis apresentações, haverá um momento de homenagem especial, com a emocionante canção Lágrimas do Céu, em memória das vítimas do trágico acidente aéreo da Voepass, que marcou a cidade.

    Os ingressos estão quase acabando, então corra para garantir o seu! Eles estão disponíveis nos pontos de venda listados na bio do Instagram oficial do I Tre Amici:

    Não deixe essa oportunidade passar – reserve já o seu ingresso e prepare-se para uma noite inesquecível de música e emoção!

    Fonte: Assessoria