Categoria: Cultura

  • A dança dos cunhados

    A dança dos cunhados

    A eleição do vice-prefeito Eduardo Pimentel para a Prefeitura de Curitiba representa a continuidade das velhas oligarquias paranaenses no poder, como já havia sido com o prefeito Rafael Greca de Macedo em 1992, 2016 e 2020. 

    Pimentel é herdeiro da oligarquia Pimentel-Lunardelli, que teve como expressão maior o ex-governador Paulo Pimentel, avô de Eduardo. Greca vem de uma das mais antigas oligarquias, iniciada com Diogo Pinto de Azevedo Portugal (https://x.gd/oAKmH). 

    Em seu tempo, o governador Bento Munhoz da Rocha Neto era o herdeiro da oligarquia formada por Affonso Alves de Camargo e Caetano Munhoz da Rocha. Quando Bento iniciou sua projeção nacional, em 1954, deixou como herdeiro político o cunhado Ney Braga. 

    Ney era casado com Maria José Munhoz da Rocha, filha de Caetano e irmã de Bento. Filho de um padeiro da Lapa, Ney começou sua carreira ao se associar à família Munhoz, historicamente ligada a conquistas administrativas importantes. 

    Caetano Munhoz foi um gestor competente e o filho Bento se projetou na cena brasileira com iniciativas que impulsionavam francamente a economia estadual.

    Em 1954, por exemplo, surgia a Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica), culminando lei estadual do ano anterior que criou a Taxa de Eletrificação, destinando recursos à expansão do plano energético do Estado. 

    Da polícia à Prefeitura 

    A Copel tinha a missão de assumir gradativamente a responsabilidade pelos serviços de fornecimento de energia elétrica, até então a cargo do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), prefeituras e concessionárias particulares.  

    O DAEE ainda permaneceu em atividade, em paralelo ao desenvolvimento da Copel, participando da construção das usinas de Ocoí (Foz do Iguaçu), Cavernoso (Laranjeiras do Sul) e Melissa (Cascavel). 

    Na trilha do sucesso administrativo de Bento, o cunhado Ney Braga deixou em 1954 a função de Chefe de Polícia (equivalente a secretário de Estado da Segurança Pública), que exercia desde 1952, nomeado por Bento, para disputar a sucessão de Ernani Santiago na Prefeitura de Curitiba. 

    Ney Braga teve como adversário o ex-prefeito Wallace Thadeu de Mello e Silva, pai de um adolescente que será no futuro deputado estadual, senador e igualmente prefeito de Curitiba, além de governador – Roberto Requião. 

    A projeção de Bento como excelente administrador o levou a ser chamado pelo presidente Café Filho para assumir o Ministério da Agricultura.

    Seria o primeiro passo do dirigente araucariano para se tornar uma liderança nacional, abrindo campo à ascensão de Ney Braga no Estado.

    O projeto nacional de Bento acabará sucumbindo aos dramáticos acontecimentos da época: a tentativa de golpe para depor o presidente Getúlio Vargas, seu suicídio em agosto de 1954 e a frustrada transição do presidencialismo para o parlamentarismo.

    Cascavel, a nova “capital do Oeste” 

    Esses fatos dos cenários nacional e estadual terão consequências decisivas para o Oeste do Paraná, a começar pelo desmantelamento da Cidade Munhoz da Rocha, que minguou por falta de recursos.

    Sem Bento no governo, a planejada metrópole do Oeste se arruinou pelo desinteresse do adversário Moysés Lupion, que de volta ao governo do Estado em 1956 fechou as torneiras de recursos à cidade-modelo.

    Em situação inversamente proporcional à do cunhado, Ney Braga iniciava uma trajetória brilhante como novo líder do Estado com todos os ventos soprando a favor.

    A causa dos dissabores de Bento seria, ironicamente, a razão do fortalecimento de Braga: a vinculação de Ney com os líderes da Cruzada Democrática, militares conspiradores que falharam na tentativa de depor o governo em 1954, calados pelo suicídio de Vargas.

    Dentre esses militares estavam os futuros presidentes Humberto de Alencar Castelo Branco e Ernesto Geisel e o artífice da conspiração, Golbery do Couto e Silva, o “Bruxo”. Dez anos depois eles seriam vencedores, derrubando o presidente João Goulart. 

    A Cidade Munhoz da Rocha foi projetada para ser a capital do Oeste, mas seu desaparecimento não chegou a causar tristeza na região.

     Quando o projeto acabou, o prefeito de Cascavel, José Neves Formighieri, “invadiu” o lugar e trouxe máquinas, postes, fios de luz e tudo que conseguiu carregar para sua cidade, que a partir daí inicia uma rivalidade com Toledo para determinar em qual cidade ficará a maior força política.

    União, a força inicial de Cascavel 

    Toledo estava solidamente unida ao comando da colonizadora Maripá e em Cascavel havia um acordo entre a Prefeitura e a Câmara para atuar juntas, sem melindres político-eleitorais. 

    Essa união de propósitos permitiu ao vereador Helberto Schwarz, que se elegeu pelo PTB, mas logo criou o PSD no Município, tornar-se o vereador com maior número de propostas aprovadas pela maioria da Câmara e sancionadas pelo prefeito José Neves Formighieri.

    Algumas leis importantes desse período, negociadas entre a Prefeitura e a Câmara, foram o incentivo às indústrias que decidissem se fixar em Cascavel, a definição do quadro urbano em quatro zonas, facilidades para a aquisição de lotes no Patrimônio Novo e a construção de ponte sobre o Rio Cascavel. 

    Toledo se manteve unida por longo tempo, mas em Cascavel, nas eleições municipais de 1956, o PSD e o PTB se confrontaram fortemente e a comunidade ficou dividida em dois grupos rivais, que sustentaram brigas intensas até culminar no incêndio da Prefeitura, em 1960.

    Melhor prefeito do Brasil 

    Para se fortalecer, Cascavel, que abriu fogo contra o governador Bento Munhoz por pretender esvaziar a cidade e lhe tirar a função de polo regional, apoiou-se inicialmente no governador Moysés Lupion, que tinha propriedades na cidade, e a partir de 1960 na estrela ascendente de Ney Braga.

    Até a rua de Cascavel que tinha o nome de Bento Munhoz mudou de nome – virou Rua Pio XII. Os restos da antiga Cidade Munhoz da Rocha foram apagados pelo segundo governo Lupion e o entorno rural virou parte da futura Braganey, homenagem óbvia a Ney Braga.  

    Na dança de poder entre os cunhados Bento e Ney, a queda do primeiro começou quando se viu obrigado a sair do Ministério da Agricultura, em 1958. Bento ainda teve prestígio suficiente para se reeleger à Câmara Federal, mas Ney Braga já se afirmava como nova liderança estadual.

    Despontando como o melhor prefeito do Brasil, Ney obteve em 1957 o primeiro lugar no prêmio “Os dez municípios brasileiros de maior progresso”, concedido pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam). 

    Por isso, mesmo orientado por Bento a concorrer ao cargo de deputado estadual nas eleições de 1958, Ney Braga enfrentou o cunhado e ex-chefe e também concorreu à Câmara Federal. Bento então rompe com Ney e o chama de traidor. Os dois se elegem, mas seus projetos de poder já não coincidiam mais. 

    O confronto final

    Dois anos depois do rompimento, em 1960, deu-se o embate final entre Ney Braga e Bento Munhoz, precipitado pela morte súbita do senador Souza Naves, o líder de maior prestígio no Estado. A campanha de Naves se desenhava como vitoriosa na disputa pelo governo estadual. Interrompida, o cenário se abriu.

    Nelson Maculan, que assumiu o cargo de senador em lugar de Naves, foi lançado ao governo do Estado. Sem o prestígio do falecido, tinha pela frente um já embalado Ney Braga, apoiado por líderes religiosos, empresariais e ruralistas.

    Na tentativa de derrotar o cunhado, Bento apoiou Maculan e tentou fortalecê-lo em outras regiões além do entorno de Londrina. A recepção de Braga em Cascavel foi excelente, absorvendo a dissidência do PSD, que havia rachado, mas Maculan só foi saudado com algum entusiasmo em Toledo.

    Em eleição equilibrada, Braga venceu com 37,69% dos votos, contra 33,53% de Maculan e 28,78% de Plínio Costa, do PSD. 

    Eleito, sabendo da perturbação causada no Oeste pelos atritos entre jagunços e posseiros, após o incêndio da Prefeitura de Cascavel, em dezembro de 1960, Ney prometeu enviar forças especiais para combater o crime na região e ajudou a Prefeitura a se recuperar.

    A essa altura, Bento Munhoz, por não cumprir promessas feitas ao interior, como combater os jagunços e privilegiar os posseiros, já não era sequer lembrado como o governante que criou o Município de Cascavel. Até hoje não há sequer um beco periférico levando seu nome na cidade. 

    100 anos da revolução: O manifesto de Prestes 

    Há historiadores que datam o início da Coluna Prestes no fim de outubro de 1924, assinalado pelo manifesto à Nação assinado pelo capitão Luiz Carlos Prestes:

    Hoje, 29 de Outubro, por ordem do General Isidoro Dias Lopes, levantam-se todas as tropas do Exército das guarnições de Santo Ângelo, São Luiz, São Borja, Itaqui, Uruguaiana, Sant’Anna, Alegrete, Don Pedrito, Jaguarão e Bagé, hoje irmanados pela mesma causa e pelos mesmos ideais levantam-se as forças revolucionárias gaúchas da Palmeira, de Nova Wutemberg, Ijuí, São Nicolau, São Luiz, São Borja, Santiago e de toda a fronteira até Pelotas e, hoje entram no nosso Estado os chefes revolucionários Honório Lemes e Zeca Netto, tudo de acordo com o grande plano já organizado.

    E, desta mescla, desta comunhão do Exército e do Povo, com nacionais e estrangeiros, resultará a rápida terminação da luta armada no Brasil, para honra nossa e glória dos nossos ideais e de nossos foros de povo civilizado e altivo.

    De acordo com o plano geral, as tropas de Santo Ângelo talvez pouco demorem aqui, mas durante este tempo a ordem, o respeito a propriedade e a família serão mantidos rigorosamente e para isso o governo revolucionário provisório conta com o auxílio da própria população.

    Não queremos perturbar a vida da população, porque amamos e queremos a ordem com base do progresso. Podem pois estar todos calmos que nada acontecerá de anormal.

     Capitão Luiz Carlos Prestes

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Gabriela Queiroz abre exposição individual no MAC no sábado

    Gabriela Queiroz abre exposição individual no MAC no sábado

    No próximo sábado, 09, às 15h30, a artista cascavelense Gabriela Queiroz abre sua exposição individual ‘Margens de Si’, no Museu de Arte de Cascavel. As obras podem ser vistas até janeiro de 2025 e visitas guiadas para grupos e estudantes podem ser agendadas. 

    ‘Margens de Si’ é a primeira individual da artista cascavelense e vai percorrer o Paraná em 2024 e 2025 passando pelas cidades de Maringá, Cascavel e Curitiba. As obras selecionadas promovem diálogos entre a linguagem gráfica tradicional e contemporânea, tendo como instrumentos a litografia, a calcografia e videoarte e têm a curadoria de Antonio C. Machado.

    Serão expostas 45 obras com 78 peças produzidas pela artista entre os anos de 2005 e 2024. “O autorretrato como criação de um corpo-espelho, um corpo de resistência formado por muitas faces. A repetição até a exaustão, a combustão, e um novo nascimento. Quantas vezes é necessário repetir para se reinventar? O quanto de si é silenciado para sustentar a sobrevivência cotidiana?”, questiona a artista.

    O projeto também conta com importantes contrapartidas sociais. Serão oferecidas três oficinas de iniciação à gravura contemporânea que serão ministradas pela artista em escolas públicas e três palestras com a professora da UDESC, Sandra Favero, em cada uma das cidades contempladas pelo projeto.

    No dia 12/11, às 19h30, será ministrada a palestra ‘Do percurso artístico na gravura contemporânea ao encontro com o autorretrato e as escritas de si’, com a professora doutora da Universidade de Santa Catarina (UDESC), Sandra Favero. A palestra será online pelo zoom e as inscrições podem ser feitas através do link disponível no perfil @margensdesi. 

    A proposta foi selecionada pelo Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura (PROFICE da Secretaria de Estado da Cultura), Governo do Estado do Paraná e conta com o importante patrocínio da Copel. Em Cascavel, a exposição recebe ainda o apoio  da Secretaria de Cultura do município. 

    Serviço: 

    09/11 às 15h30 Abertura da exposição ‘Margens de Si’ no Museu de Arte de Cascavel. Rua Mato Grosso, 2909 – Centro.

    12/11, às 19h30 Palestra: “Do percurso artístico na gravura contemporânea ao encontro com o autorretrato e as escritas de si”. Palestra online pelo zoom. 

    Visitação: Aberta e gratuita de 11 de novembro até janeiro de 2025, das 08h às 17h30

    Agendamentos para visita guiada: Pelo email [email protected]

    Conheça a artista

    Gabriela Queiroz é natural de Cascavel-PR, graduou-se em Artes Visuais na Udesc (2011). Sua produção artística é voltada para o exercício do autorretrato, o espelhamento da imagem e os aspectos simbólicos que derivam dessa dinâmica. Desenvolve sua pesquisa através de múltiplas técnicas, fazendo do autorretrato uma trajetória de autoconhecimento. Exposições: Visibilidade – Florianópolis. 2006; Contiguidades – Museu Hassis – Florianópolis. 2006 e Galeria Municipal de Arte de Itajaí SC. 2007; 1o Encontro de Ateliês e Espaços de Arte em Cascavel. 2017; Panorama de Artes Visuais de Cascavel – Edições 2018, 2019, 2020, 2021, 2022, 2023. 

    O curador

    Antonio C. Machado é artista, fundador e articulador do Museu de Arte Cascavel e da Associação dos Artistas Plásticos de Cascavel (AAPLAC). É Coordenador do MON. Cascavel – Plataforma avançada do Museu Oscar Niemeyer de Curitiba em Cascavel/PR. 

    Membro do Conselho de Políticas Culturais de Cascavel desde 2017 até o presente momento – pelo Governo representante da Setorial de Artes Visuais. Coordenou a realização da 20ª e 21ª Mostra Cascavelense de Artes Plásticas 2017/2019.

    Conheça a palestrante:

    A palestrante é natural de Curitiba e mora atualmente em Florianópolis. Tem doutorado em Poéticas Visuais pela USP e é professora de gravura nos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Artes Visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina. Integrou exposições nacionais e internacionais desde 1978.

    Fonte: Assessoria

  • Modernizar, a palavra-chave da democracia

    Modernizar, a palavra-chave da democracia

    A passagem dos distritos de Cascavel, Guaíra e Toledo à condição de municípios, completada em 1953, quando as câmaras locais começaram as atividades, teve um impacto significativo em cada município em particular e no conjunto da região na forma de atividades combinadas entre vizinhos, inicialmente sob a liderança da Prefeitura de Foz do Iguaçu.

    A democracia conquistada em 1946, superando a estagnação dos tempos ditatoriais, teve o verbo modernizar como palavra-chave para a região. Modernidade seriam boas estradas, aeroportos e telefonia, conquistas vitais para escoar a produção, trazer interessados para conhecer as terras férteis da região e ter boa comunicação sem depender de ir a um posto telegráfico e esperar longamente até ser atendido.

    Foz do Iguaçu, que pela imensidão de sua área municipal anterior a 1953 pouco atendia às demandas do interior, livre de dois terços de sua área original, pôde concentrar melhor seus recursos nas necessidades da Rota Oeste, especialmente no trecho entre os futuros municípios de Santa Terezinha de Itaipu e São Miguel do Iguaçu.

    Dos novos municípios, o de Cascavel era o de maior extensão, entre os rios Iguaçu e Piquiri, “cujas águas fertilizam as terras do Município, proporcionando férteis colheitas”, como ainda hoje consta na bordadura de seu escudo. 

    Gesto de apoio ao desenvolvimento rural

    Nas eleições de dezembro de 1952 só os ex-distritos escolheram prefeitos. Foz do Iguaçu prosseguiu sob a direção do ex-presidente da Câmara, Francisco Guaraná de Menezes, eleito excepcionalmente para a Prefeitura iguaçuense em 1951. 

    O prefeito de Foz do Iguaçu ajudou extraordinariamente a gestão dos novos municípios durante o ano de 1953, quando nas áreas emancipadas ainda havia obras em andamento e equipamentos em serviço pertencentes ao Município de origem.

    Em julho de 1954, quando o prefeito Menezes assinou a lei 137, chamou a atenção dos novos prefeitos para a necessidade de apoiar as atividades dos munícipes, com incentivos atraentes para os produtores rurais nessa época em que só se falava na indústria madeireira.

    A lei 137 autorizava a Prefeitura a importar máquinas e veículos “para serem cedidos a preço de custo aos agricultores, criadores e colonizadores estabelecidos neste Município”. Era uma forma de evitar as barreiras e obstáculos que dificultavam as importações na época.Atendendo ao propósito de modernização, a medida puxou uma série de novas leis, em toda a região, para focar na diversificação agrícola. O comandante da colonização do novo Município de Toledo, Willy Barth, ficou horrorizado com os relatórios que indicavam o interesse maciço dos agricultores que se estabeleciam na antiga Fazenda Britânia pela produção de café.

    As fortes geadas do inverno ensinaram que produzir café ao Sul do Rio Piquiri era extremamente arriscado, devido às condições climáticas mais desfavoráveis que ao Norte. 

    Conquista da união comunitária 

    Modernizar, para Cascavel e Toledo, que não tinham a comunicação fluvial de Foz do Iguaçu e Guaíra, era motivar companhias aéreas a promover voos regulares ao Médio-Oeste. Para isso era preciso ter aeroportos.

    A democracia havia trazido eleições livres, mas ainda não havia o clima rancoroso da polarização em que os grupos políticos se insultam e se agridem, causando inimizades. As comunidades se uniam na hora de resolver problemas. 

    Foi com a união da comunidade que Cascavel inaugurou seu aeroporto em janeiro de 1953 e no mês seguinte Toledo também providenciou o seu.

    Em Cascavel, foram alguns dias de trabalho coletivo, mas em Toledo foram horas. Assim que a equipe de topografia definiu o traçado do aeroporto, de imediato foram deslocados ao local três tratores e uma motoniveladora, com seus operadores e tambores de óleo.

    “Montaram barracas de lona sob as quais improvisaram fogões, algumas mesas, bancos”, contou o historiador Ondy Niederauer. “Era quase como um restaurante de campanha. Diversas senhoras passaram a revezar-se nessa cozinha. Os homens, deixaram seus serviços na cidade e vieram ao local, ajustando-se cada um no que podia ajudar”.

    O motor zero km

    Quando começou a escurecer, o eletricista Otto Clajus pediu emprestado ao agricultor Friedrich Isenberg um motor Volkswagen ainda zero km, trazido da Alemanha. “Otto montou este motor na carroceria do seu jipe, juntou-lhe um gerador, e tinha assim uma pequena usina portátil” (Ondy Niederauer).

    O trabalho começou na manhã de sexta-feira, 20 de fevereiro de 1953, e acabou ao meio-dia de domingo, dia 22. 

    “Tinham sido dois dias e meio e duas noites, num total de 52 horas, e lá estava uma pista de 70 por 1.200 metros, novinha em folha, sendo admirada carinhosamente pelos orgulhosos toledanos de então”, escreveu Niederauer.     

    A tarefa que vinha depois não era braçal, mas cerebral: convencer empresas aéreas a iniciar uma rotina de voos, pois os aeroportos construídos com tanto empenho só eram usados eventualmente por táxis-aéreos.

    Só em 17 de agosto de 1954 a mágica toledana voltou a acontecer. O avião Douglas DC-3, dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, sobrevoou a cidade e aterrissou no aeroporto, como também ocorreu em Cascavel 

    “Toda a cidade acorreu para ver o avião pousado no solo toledano”, narrou o historiador Niederauer. “Era um voo inaugural, que ligava Toledo a Curitiba e tinha como passageiros, diretores da empresa e, até algumas pessoas de nossa cidade, inclusive membros da Diretoria e do Conselho Fiscal da colonizadora Maripá”.

    Origens do golpe: salário e ferro

    O exemplo de união que se verificava em Toledo e Cascavel estava na contramão da absurda Guerra Fria, que dividiu o país e manteve o Brasil no atraso.

    As tensões chegaram ao ponto culminante em janeiro de 1954, quando o ministro do Trabalho, João Goulart, anunciou estudos para dar bom poder de compra ao salário mínimo. Os trabalhadores mobilizados exigiam 100% de reajuste, mas os empresários só aceitavam 42% e igualmente se mobilizaram, tentando evitar o salário dobrado.

    A ofensiva contra o governo começou, abertamente, em 8 de fevereiro de 1954, quando 81 oficiais do Exército enviaram ao ministro da Guerra o Manifesto dos Coronéis, escrito por Golbery do Couto e Silva (1911–1987), que dez anos depois iria derrubar o presidente João Goulart.

    Um polêmico acordo militar firmado entre Brasil e EUA no início da década proibia a venda de matérias-primas de valor estratégico aos chamados “países socialistas”, liderados pela antiga URSS. 

    Getúlio Vargas não cumpriu a imposição, “vendendo ferro à Polônia e Tchecoslováquia, em 1953 e 1954, a preços muito mais altos do que os que pagavam os Estados Unidos” (Eduardo Galeano, Veias Abertas da América Latina). A iniciativa lhe valeu a inimizade agressiva dos EUA. 

    Jagunços viraram agricultores 

    Se no país aumentava a tensão entre civis e militares, abalando a democracia recentemente conquistada, no Oeste as tensões corriam por conta dos choques entre jagunços e posseiros.

    A Gleba Rio Verde, adquirida em 1954 pela Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop) junto ao governo do Paraná, foi, em si mesma, uma aquisição legal e legítima. Isso não impediu a empresa de enfrentar dissabores devido a ocupações anteriores em algumas áreas, promovidas por posseiros. 

    A Sinop considerou então legítimo recorrer aos “homens-segurança”, os chamados jagunços. Para fazer a proteção do local, montou um acampamento principal nos Três Olhos (Estrada Olinda), onde seus homens armados interceptavam todos os veículos e transeuntes que tentavam entrar no local.

    Teriam que se identificar e dizer de onde vinham, para onde iam, fazer o quê, especificar o local exato de suas visitas e declarar o dia exato do regresso.

    “Se não voltassem no dia previsto, os jagunços iam atrás. Os forasteiros vinham para tomar posse de terras, daí a razão de serem interceptados na estrada trancada pelos jagunços” (Selene de Carvalho, Alceu e Regina Sperança, Ubiratã, História e Memória).

    Logo os jagunços envolvidos em crimes fugiam para não ser presos, mas os demais viram vantagem em requerer terras para a família trabalhar nas atividades agropecuárias que viam prosperando à sua volta.  

    100 anos da revolução: A surra de espada 

    Na propriedade de Allica, ao Norte do futuro Município de Cascavel, cerca de mil mensus viviam em regime de escravidão.Cabanas os libertou depois aplicar uma “surra de espada” no capataz Santa Cruz, cunhado de Allica. O capataz e seus jagunços foram expulsos do local e cerca de 200 mensus se juntaram ao 6º Batalhão de Caçadores. 

    Os revolucionários também conquistaram a adesão do pessoal da companhia Mate Laranjeira, concorrente de Allica, que operava portos na região.

    No Sul, a preparação para o levante se acelerava. Prestes e os rebeldes gaúchos o marcaram para 29 de outubro, quando os governistas já enfrentavam os rebeldes paulistas no Oeste do Paraná. 

    O revolucionário gaúcho Eduardo Agostini, que decidiu ficar na região do Depósito Central, onde seria um dos fundadores da cidade de Santa Tereza do Oeste, contou (https://x.gd/z4Xgc) que o primeiro combate do qual participou foi na Rocinha, perto de Catanduvas. 

    – As forças legalistas de São Paulo atacaram a Rocinha, mas não deixamos eles entrar (…) Ali foi baleado um soldado da Polícia de São Paulo e aí alguém disse: “Olha, vem um batalhão para cortar a retaguarda de vocês, comandado pelo capitão [Joaquim] Sarmento”. Newton Estillac Leal ordenou o recuo a Catanduvas, para não sermos sitiados na Rocinha.

    Cápsula e bala de canhão achadas na Rocinha

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • Edital Cultura Viva abre nova chamada para premiação de pontos e pontões de cultura em Cascavel

    Edital Cultura Viva abre nova chamada para premiação de pontos e pontões de cultura em Cascavel

    A Secretaria de Cultura de Cascavel anuncia a abertura do Chamamento Público 028/2024, parte do Edital Cultura Viva, com o objetivo de premiar iniciativas culturais desenvolvidas por Pontos e Pontões de Cultura no município.

    O edital visa distribuir os recursos remanescentes do Edital 023/2024, que registrou uma baixa adesão com apenas três projetos selecionados entre 15 vagas, resultando na necessidade de realocar o montante de R$ 458.819,29 para apoiar a diversidade cultural e fortalecer a presença da cultura em regiões de vulnerabilidade econômica e social em Cascavel. O recurso é financiado pelo Ministério da Cultura, por meio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), e representa um esforço significativo para incentivar o desenvolvimento cultural em diferentes comunidades da cidade.

    Premiação: categorias e valores destinados

    Para garantir um uso efetivo dos recursos, o novo edital divide a premiação em duas categorias principais:

    1.    Categoria Livre: Reservada para entidades e coletivos com mais de dois anos de atuação cultural, que receberão uma parcela do valor total em seis premiações, somando R$ 137.645,76.

    2.    Categoria Democratização do Acesso: Destinada a apoiar projetos que desenvolvam atividades em áreas de vulnerabilidade social e econômica, com um montante de R$ 321.173,44 a ser distribuído em 14 prêmios.

    Cada premiado terá a oportunidade de receber aproximadamente R$ 22.940,96. A seleção das propostas será conduzida por uma Comissão de Seleção composta por representantes do poder público e da sociedade civil, observando critérios de impacto e relevância cultural, com uma política de cotas que contempla pessoas negras, indígenas e com deficiência, assegurando 30% das vagas para projetos ligados às culturas populares e tradicionais.

    O período de inscrição vai de 1º a 11 de novembro. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas por meio do site oficial do PNAB em Cascavel (https://pnabcascavel.com.br) ou pessoalmente, mediante entrega de documentação em envelope lacrado, no setor de Fomento e Incentivo à Cultura, localizado no Teatro Municipal Sefrin Filho, em horário comercial. No ato de inscrição, é necessário fornecer um portfólio das atividades desenvolvidas e demais documentos comprobatórios, demonstrando a atuação cultural mínima de dois anos da entidade ou coletivo.

    Podem participar do edital:

    •    Entidades e coletivos já certificados como Pontos e Pontões de Cultura;•    Organizações da sociedade civil sem fins lucrativos e coletivos informais, que, mesmo sem certificação prévia, demonstrem atuação cultural consolidada e tenham interesse em se tornar Pontos de Cultura.

    As inscrições poderão ser realizadas por grupos que ainda não são certificados, mas que possuam características de Pontos de Cultura, sendo pré-certificados caso cumpram os requisitos do edital. Coletivos informais e grupos não formalizados, representados por pessoa física, também têm direito a participar, desde que respeitadas as exigências documentais e de comprovação da atuação.

    Critérios de seleção e cotas

    A análise das candidaturas será realizada em duas etapas: a Etapa de Seleção, que avalia a pontuação das entidades, e a Etapa de Habilitação, onde é verificada a documentação final dos candidatos selecionados. Serão priorizados projetos em áreas periféricas e regiões com menor acesso a atividades culturais. A premiação ocorre em forma de doação, sem encargos ou obrigações de contrapartida, e destina-se exclusivamente a entidades e coletivos culturais.

    As inscrições das candidaturas que atingirem 50 pontos ou mais nos critérios de avaliação definidos no Anexo 2 do edital serão classificadas para as vagas disponíveis, com uma política de cotas que garante 25% das vagas para pessoas negras, 10% para pessoas indígenas e 5% para pessoas com deficiência. Em caso de desistência de algum projeto aprovado, as vagas de cotas serão redistribuídas para as próximas candidaturas aptas que se enquadrem nos critérios estabelecidos.

    Calendário do edital e etapas finais

    O resultado preliminar da seleção será publicado em 18 de novembro nos sites oficiais da Secretaria de Cultura e do PNAB. A partir daí, os candidatos terão até 22 de novembro para recorrer ao resultado, caso desejem. Os selecionados, após esta etapa, deverão enviar a documentação complementar de habilitação até 3 de dezembro, e o resultado final será divulgado em 13 de dezembro. A previsão para pagamento dos prêmios é até o final de dezembro, com uma única parcela diretamente depositada na conta bancária dos contemplados.

    Este edital representa uma chance de continuidade e valorização dos esforços culturais na cidade, reafirmando o compromisso da Secretaria de Cultura de Cascavel com o fomento à diversidade e à democratização do acesso à cultura. Em um momento de desafios para o setor, a iniciativa destaca o valor da cultura na formação cidadã e no fortalecimento das identidades locais, criando condições para que novos projetos culturais floresçam.

    Para mais informações e esclarecimento de dúvidas, os interessados podem contatar a Equipe PNAB pelo WhatsApp wa.me/554588059400, ou pelo e-mail [email protected].

    Fonte: Assessoria

  • Oportunidade única de celebrar o melhor da música clássica em um tributo a Cascavel

    Oportunidade única de celebrar o melhor da música clássica em um tributo a Cascavel

    Prepare-se para um evento inesquecível em Cascavel. No dia 19 de novembro de 2024, o Teatro Municipal Sefrin Filho será o cenário de um concerto emocionante em comemoração ao aniversário da cidade, que é celebrado em 14 de novembro. Os três tenores do oeste do Paraná, o I Tre Amici, formado por Jocimar Silva, Matheus Bressan e Thiago Stopa, promete encantar o público em um espetáculo único, digno dos grandes centros mundiais de música clássica, mas os ingressos estão no último lote. “A aceitação está sendo incrível. Tem sido gratificante observar que as pessoas querem saber mais e ouvir mais música clássica”, reforça Jocimar Silva.

    Com a participação especial do maestro paraguaio Juan Ramón Vera, que comandará uma orquestra com 20 músicos e um coro de 12 vozes, este evento é imperdível para todos os amantes da boa música. O repertório será uma verdadeira viagem pelos clássicos, incluindo árias de óperas como Toreador de Carmen, Viva il Vino, de Cavalleria Rusticana, Nessun Dorma de Turandot, Brindisi de La Traviata e o imponente Va, Pensiero de Nabucco. “Além disso, haverá espaço para canções italianas, napolitanas, internacionais, espanholas e clássicos da MPB, proporcionando uma experiência musical rica e diversificada”, reforça Matheus Bressan.

    Thiago Stopa reforça que os ingressos estão quase esgotados. “Eles são vendidos a apenas R$ 60 para cobrir custos operacionais do evento. O objetivo é proporcionar um evento acessível e altíssimo nível”, destaca.

    Segundo Jocimar Silva, a procura está intensa: “Com um espetáculo deste porte, é fundamental adquirir um ingresso o quanto antes. Tenho certeza que o público não vai se arrepender”.

    O concerto também terá momentos de reflexão e homenagem. Em um ano desafiador, marcado pela tragédia do voo da Voepass em agosto passado, que vitimou 62 pessoas, o trio apresentará a canção Lágrimas do Céu, uma homenagem às vítimas e suas famílias. “Será um momento para nos unirmos e levar um pouco de conforto aos corações dos cascavelenses”, destaca Matheus Bressan.

    “Não perca a chance de participar desta celebração única, que promete emocionar e encantar pessoas de todas as idades. Os ingressos podem ser adquiridos nos pontos físicos indicados na bio do Instagram do I Tre Amici, @i_tre_amici”.

    Fonte: Assessoria

  • Fronteiras: incompetência e má governança

    Fronteiras: incompetência e má governança

    Especificamente sobre a história do Oeste se considera como primeira ditadura o regime do Estado Novo (1937–1945) e como segunda o regime civil-militar imposto ao país entre 1964 e 1985, por uma ligação direta entre elas que afeta o desenvolvimento da região. 

    O Estado Novo começa em 10 de novembro de 1937, quando, sob falso pretexto – o inexistente Plano Cohen (documento forjado para qualificar os opositores ao governo como “comunistas”) – o presidente Getúlio Vargas suspendeu a Constituição e ordenou às tropas o fechamento do Senado e da Câmara dos Deputados.

    Mesmo depois da farsa revelada, Vargas se impôs como ditador e manteve o regime de força prometendo, sem sucesso, resolver os problemas do país. Uma das consequências da primeira ditadura para o Oeste paranaense foi a Comissão Especial da Faixa de Fronteiras.

    A largura da faixa começou a ser definida na Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, que tratava das terras devolutas do Império. Assinada por Pedro II, a Lei de Terras fazia referência a “dez léguas”, confirmada na regulamentação estabelecida pelo decreto 1.318, de 30 de janeiro de 1854, calculada na época em 66 quilômetros.

    Extensão de dez léguas

    A ampliação para 150 quilômetros foi armada por Francisco Campos, o elemento de ligação e continuidade entre a primeira e a segunda ditadura.

    Mineiro, famoso por sua argúcia, Francisco Luís da Silva Campos (1891–1968) era descendente de bandeirantes e tinha o apelido de Chico Ciência. Defensor do autoritarismo, propunha “reprimir os excessos da democracia pelo desenvolvimento da autoridade”.

    Isso veio com a “Constituição” de 1937, manobra de Chico Ciência para determinar o poder absoluto do ditador Vargas sobre a Nação. A chamada Constituição Outorgada pelo regime do Estado Novo recebeu de juristas o apelido de “Polaca”, por ser uma adaptação da carta de inspiração fascista adotada pela Polônia.

    Estender a faixa de fronteira de 66 para 150 quilômetros de largura diminuía significativamente o alcance da autoridade estadual na região Oeste, embora o governante nomeado pela ditadura para dirigir o Paraná fosse um líder de confiança de Vargas – Manoel Ribas (1873–1946). 

    A solução de Lupion

    Já sendo governador antes da ditadura, Ribas não alterou drasticamente seus métodos de ação, mas teve seus poderes reduzidos pela arte de Chico Ciência, que criou, via Código dos Interventores, um Conselho Consultivo Estadual. 

    O CCE amarrava o governador nomeado a ter suas decisões analisadas por esses conselheiros, igualmente da confiança do poder central.

    Com o fim da ditadura, decorrente da vitória das democracias sobre o nazifascismo na II Guerra, a nova constituição (1946) não alterou a faixa de fronteira, mantida em 150 quilômetros, dificultando as ações do governo estadual no Oeste.

    Por sua vez, Chico Ciência viu ruir a estrutura de poder que montou ao sair do governo, pois adoeceu em 1941. Oportunista, ao voltar à ativa sentiu os ventos da democracia soprando. Negou a inspiração fascista da Carta de 1937, ajudou a derrubar Vargas e voltou a conspirar novamente contra a democracia em 1964, chamado a elaborar os dois primeiros Atos Institucionais da segunda ditadura (AI-1 e AI-2).       

    Para driblar a reduzida autonomia do governo estadual na faixa de fronteira, descuidada pela União durante a vigência do Território Federal do Iguaçu (1943–1946), o governador eleito Moysés Lupion criou o Departamento Administrativo do Oeste do Paraná com a Lei nº 4, em 25 de outubro de 1947.

    Suspensão da posse causou o caos

    Com sede em Laranjeiras do Sul e jurisdição nos municípios de Laranjeiras do Sul, Foz do Iguaçu, Clevelândia e Mangueirinha, competia a este órgão elaborar e executar o plano de desenvolvimento geral da região.

    Na época, Foz do Iguaçu abrangia todo o Oeste, inclusive o distrito de Cascavel e a vila de Toledo. O Departamento do Oeste, de acordo com a lei, seria administrado por um diretor de livre nomeação do governador e por um Conselho Técnico, composto de um representante de cada uma das secretarias de Estado, e de um representante da Fundação Paranaense de Imigração e Colonização.

    O DO não funcionou como devia porque nenhum dos representantes indicados pelas secretarias tinha relações com a região. Um relatório de seu melhor ano – 1951 –, assinado pelo diretor Estevam Ribeiro de Souza Netto, não escondeu as dificuldades encontradas.

    Ele foi designado para suspender todos os requerimentos de posses de terra, medida que não evitou as grilagens nem impediu os posseiros de avançar sobre as áreas ociosas, estimulados pelas promessas do ex-governador Manoel Ribas e do próprio Bento Munhoz da Rocha durante a campanha eleitoral. A suspensão foi uma das causas do agravamento dos conflitos agrários.

    DO acabou esvaziado 

    Souza Netto relatou “muitíssimas irregularidades” nas inspetorias de terras que atuavam na região. Não escondeu a decepção por todo o controle de terras devolutas do Estado passar para a competência do Departamento de Geografia, Terras e Colonização, vinculado à Secretaria da Agricultura.

    Foi uma fila de queixas: falta de técnicos preparados, veículos avariados, contas atrasadas. A satisfação corria por conta da descoberta de que as melhores terras do mundo estavam “na região de Cruzeiro, à margem esquerda do Rio Tapiracuí, distrito de Guaíra, Município de Foz do Iguaçu”.

    Bento Munhoz, portanto, não se interessou em fazer o DO, criado por Lupion, desenvolver o seu melhor pela região. Já empenhado em se destacar na cena nacional, Munhoz põe fim em maio de 1954 ao Departamento do Oeste.

    Em seu lugar surgia o Departamento de Fronteiras, com a Lei 1.894, diretamente subordinado ao governador, responsável principalmente por prestar assistência técnica aos municípios de fronteira com os países estrangeiros, fiscalizar a reserva e demarcação, em favor da União, da porção de terras devolutas, além de prestar informações e cumprir diligências solicitadas pela União em relação à segurança das fronteiras. 

    Munhoz governador x Munhoz ministro

    Em todos os termos, Bento Munhoz apenas dava fim ao Departamento do Oeste, pois o DF nada mais era que um apêndice federal. A assinatura de Munhoz, aliás, já na condição de ministro da Agricultura, enfeita a lei 2.597, de 12 de setembro de 1955, dispondo sobre “zonas indispensáveis à defesa do país” e reafirmando a extensão de 150 quilômetros de largura para a faixa de fronteira.

    Essa lei determinava que até construções de prédios para escolas, hospitais e maternidades, redes de água e esgotos, usinas elétricas e rodovias nas regiões limítrofes deveriam passar pela Comissão Especial da Faixa de Fronteiras, esvaziando completamente o DF criado por Munhoz quando governador. 

    Por inutilidade, em 7 de abril de 1961 a Lei n° 4, já no segundo governo de Moysés Lupion, pôs fim ao Departamento de Fronteiras sem, entretanto, resgatar o extinto Departamento do Oeste.

    A essa altura, a região já não era mais um Município só (Foz do Iguaçu), com as prefeituras de Cascavel, Toledo e Guaíra em plena atividade e apresentando projetos à Comissão da Faixa de Fronteira.

    Ditadores municipais 

    Com a segunda ditadura, instaurada em 1º de abril de 1964, havia a promessa de breve retorno à normalidade institucional, mas em 1968 o regime se agravou, resvalando para a opressão explícita e violenta, com a prática de torturas e cassação de mandatos legítimos.

    Os municípios paranaenses de fronteira – Barracão, Capanema, Foz do Iguaçu, Guaíra, Medianeira, Marechal Cândido Rondon, Pérola D’Oeste, Planalto, Santo Antônio do Sudoeste e São Miguel do Iguaçu – perderam o direito de eleger seus prefeitos por força da absurda lei 5.449, de 4 de junho de 1968, que o regime alegava ser medida de segurança nacional.

    Os prefeitos nomeados eram chamados de “biônicos” e “donatários”, os antigos representantes da coroa portuguesa nas regiões coloniais.

    Antes de se eleger prefeito de Medianeira, com a volta da democracia eleitoral, em 1985, o advogado e escritor Adolpho Mariano da Costa fustigou os prefeitos nomeados com seu livro O Donatário, contos que no conjunto narram a história de um lugar denominado “Barbaquá do Sul”, microcosmo ficcional das cidades submetidas a ditadores municipais sem voto.     

    100 anos da revolução: O plano de bombardeio 

    As notícias de confrontos no Sul já se espalhavam pelo país quando um levante foi ensaiado no Rio de Janeiro, para ser deflagrado em 21 de outubro de 1924. O capitão de mar e guerra Protógenes Guimarães assumiria o comando do encouraçado São Paulo, dando início à rebelião, que se alastraria pelos outros navios de guerra fundeados na baía de Guanabara. 

    A revolta seria anunciada com salvas de artilharia para mobilizar os revolucionários civis comprometidos com o levante espalhados pela cidade. 

    Em seguida, seriam dinamitados os prédios da Polícia Central e da Polícia Militar e dos Ministérios da Guerra e da Marinha. O Palácio do Catete, dede do governo federal, seria bombardeado pelo encouraçado São Paulo.

    Como tinha grande apoio popular, se tivesse sucesso faria o levante crescer em todo o país e conseguiria depor o governo. A prisão de Guimarães e outros envolvidos esfriou o movimento no Rio de Janeiro, mas animou ainda mais os revolucionários gaúchos.

    A festa no governo com o desmantelamento da preparação rebelde no Distrito Federal foi obscurecida pela notícia de um manifesto dirigido “ao povo da fronteira do Sul” pelo general João Francisco, assinalando que o objetivo da revolução é “livrar a nação do abismo da corrupção, do vício e da desordem”. 

    Protógenes Guimarães: preso em 1924, ministro da Marinha em 1931

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • I Tre Amici: vem aí um encontro musical imperdível no oeste do Paraná

    I Tre Amici: vem aí um encontro musical imperdível no oeste do Paraná

    No próximo dia 19 de novembro, em celebração ao mês de aniversário de Cascavel em um tributo à cidade, o Teatro Municipal Sefrim Filho se transformará em um verdadeiro templo da música ao receber o espetáculo dos I Tre Amici, os renomados três tenores do oeste do Paraná: Jocimar Silva, Matheus Bressan e Thiago Stopa. A apresentação, que terá início às 20h, promete ser uma experiência memorável, repleta de emoção e talento.

    Os I Tre Amici são conhecidos por suas impressionantes performances, que combinam a paixão pela música clássica com arranjos contemporâneos. Com um repertório que abrange desde clássicos da ópera até canções populares. “O público pode esperar uma noite eclética, que agrada a todos os gostos. A harmonia das vozes, acompanhada por uma orquestra e uma banda de alta qualidade, promete criar momentos de grande intensidade musical”, lembra Jocimar.

    Além da performance dos três tenores, o espetáculo também será enriquecido por uma orquestra e um maestro que trarão um toque profissional e sofisticado à apresentação. Essa combinação de talentos transformará o Sefrin Filho em um espaço de celebração da música, onde cada nota ecoará com profundidade e emoção.

    “Além disso, um coro especial se juntará a nós, elevando ainda mais o nível da performance. Esta inclusão é especialmente significativa, pois coincide com o Dia Mundial do Coralista, celebrado em outubro. Esta data é um tributo à importância da música coral e à dedicação de coristas ao redor do mundo”, completa Matheus Bressan. 

    A presença do coro não só homenageia essa data, mas também traz um aspecto comunitário e colaborativo à apresentação, ressaltando o poder da música em unir as pessoas e celebrar os 73 anos de Cascavel.

    Ingressos esgotando

    Os ingressos para o evento estão sendo vendidos em lotes, ainda existem alguns do primeiro lote custando R$ 50. “No entanto, a procura está intensa e os ingressos estão se esgotando rapidamente. Para aqueles que desejam garantir seu lugar nesta celebração musical, a recomendação é agir rapidamente. Busque nossa rede oficial no Instagram e temos informações na bio de como comprar”, completa.

    A aquisição antecipada não apenas assegura a presença no evento, mas também é uma forma de apoiar os artistas locais e a cultura da região. “A cobrança de ingressos é apenas para cobertura dos custos operacionais. O grande objetivo é tornar a música clássica cada vez mais acessível e conhecida”, completa Thiago Stopa.

    Jocimar Silva, Matheus Bressan e Thiago Stopa são nomes que têm se destacado no cenário musical paranaense. Com trajetórias marcadas por performances emocionantes e internacionais nos principais palcos da música clássica do muno, promovem um compromisso genuíno com a arte, eles têm conquistado o coração do público. “E em um espetáculo para todas as díades, com classificação livre”, completou.

    Cada um deles traz uma bagagem única, com experiências que vão desde a música clássica até estilos contemporâneos, enriquecendo ainda mais a proposta do espetáculo.

    O show dos I Tre Amici no Teatro Municipal Sefrin Filho em Cascavel promete ser mais do que uma apresentação musical; será uma celebração da arte, da cultura e da comunidade. “Não perca a oportunidade de vivenciar essa experiência única, que reunirá talento, emoção e uma atmosfera inesquecível. Adquira seu ingresso e prepare-se para uma noite de música que ficará gravada na memória de todos os presentes”, concluiu Jocimar Silva.

    Fonte: Assessoria

  • Única saída: a intervenção do Exército

    Única saída: a intervenção do Exército

    Muitas histórias começam e terminam com um revólver. No caso de Antônio Bordin, lembrado como o “Velho Bordin” para distingui-lo de outra personalidade dos tempos da colonização – Vilder Bordin –, várias páginas admiráveis da formação do Oeste começaram com o revólver que ele penhorou para custear sua vinda definitiva à região.

    No início de 1952, em Curitiba, Bordin estava decidido a iniciar a missão mais importante de sua vida de 40 anos: superar o fracasso recente de tentar abrir uma estação rodoviária em Foz do Iguaçu, dois anos antes.

    Foi derrubado pela dura realidade: ninguém iria comprar passagens para viajar em ônibus encalhados na estrada sempre inviável. Além disso, as pessoas viajavam levando mercadorias, animais e mudanças, necessidade preenchidas por boas carroças montadas por hábeis ferreiros poloneses, as versões da época do “carro do ano”.

    Bordin percebeu que o Oeste ainda precisava ser feito e isso requeria trabalho, estrutura e muita política. Agora queria voltar à fronteira e precisava de dinheiro para as despesas da longa viagem. 

    Passou a mão no revólver e partiu resoluto para um encontro com o colonizador Alberto Dalcanale, a quem propôs deixar a arma penhorada em troca de recursos para viajar. 

    O nascimento de Palotina

    Ao chegar à fronteira em 11 de fevereiro, Bordin foi mandado a trabalhar na mata desconhecida, ao redor dos portos São José e São Pedro do Rio Paraná. 

    Como a família Dalcanale também desenvolvia projetos coloniais nessa área, Bordin decidiu se pôr a serviço deles em troca das terras que desejava. 

    De nova reunião com Alberto Dalcanale ele saiu com um caminhão Ford 51 e a missão de abrir um picadão ligando uma serraria à barra do Rio São Camilo com o Piquiri.

    Pelo serviço ele receberia 500 alqueires de férteis terras ao Sul do Rio Piquiri, negociadas com o colonizador Alfredo Paschoal Ruaro, um dos pioneiros de Toledo e da Rota Oeste, que administrava a antiga Fazenda Britânia (https://x.gd/1IRo9).

    Assim começava a história de Palotina, entremeada ainda com as histórias de Guaíra e Céu Azul, além de Foz do Iguaçu, da qual Bordin não desistiu depois do fracasso inicial de tentar sem sucesso criar uma estação rodoviária, 

    Passagem pelo Exército

    Após a frustração de 1950, Antônio Bordin, gaúcho de Casca, já com 38 anos em uma região na qual poucos chegavam aos 50, passou a limpo sua história, iniciada na lavoura dos pais David e Eugênia Bordin.

    Aos 19 anos, partiu para servir ao Exército Nacional em Uruguaiana (RS). Era uma época de revoluções e foi promovido a cabo, mas em 1932, com 20 anos, saiu para se casar com Pierina Sabadin, que conheceu em Casca e com quem teria os filhos Hélio, Sady, Luciano, Félix, Davina, Adolar e Lívio.

    Duas décadas depois, já com 40 anos e a amargura do fracasso inicial, ele voltava ao Oeste do Paraná, agora nas funções de inspetor de vendas da colonizadora Pinho e Terra Ltda, que em 1952 iniciava a formação de Céu Azul.

    No ano seguinte, nas terras que recebeu com o trabalho, Bordin plantou as sementes de Palotina, região na época pertencente ao Município de Guaíra. 

    Resolvendo com empenho os problemas de quem chegava, nas eleições de 1956 ele foi o vereador mais votado no Município pelo PSD, partido do prefeito eleito, Celino de Araujo, que emplacou oito dos nove vereadores.

    O PTB elegeu apenas um vereador – Paulo Gorski, que no futuro daria nome ao Parque Ecológico de Cascavel. 

    Correndo risco de vida 

    O fim da década de 1950 foi marcado pela violência dos grileiros e seus jagunços contra posseiros esbulhados. Um dos casos mais complicados aconteceu justamente com Palotina, onde havia mais proprietários de fato que posseiros.

    O antagonismo jurídico entre o governo do Estado e o empresário Ruy Castro em Palotina reproduzia as tensões de Porecatu em 1950 e do Sudoeste, poucos meses antes.

    Os agricultores palotinenses não se conformaram em ter contestado seu direito à propriedade das terras que haviam adquirido de boa-fé, com a garantia da empresa colonizadora de que as áreas eram regulares.

    A colonizadora, porém, não era a proprietária das terras. Só estava autorizada a negociá-las. O Estado do Paraná, por sua vez, negava legitimidade às terras, alegando desapropriações feitas em 1940 e 1950.

    Com isso, as famílias que compraram as terras de Ruy Castro se viram ameaçadas de perder as áreas em que já viviam e produziam.Culminando um crescendo de intimidações de jagunços e resistência dos agricultores, em 4 de junho de 1958 o governador Moysés Lupion mandou a polícia cercar Palotina.  

    Antônio Bordin se revoltou com os atos truculentos do governador e sua equipe (https://x.gd/r3mhT). Mesmo pertencendo ao partido do governador, o PSD, não aceitou a situação. 

    Exército entra em cena 

    Bordin abriu fogo de imediato contra a intimidação patrocinada pelo Estado, denunciando o caso ao governo federal e à imprensa. Acusou os policiais de Lupion de promover arruaças e reclamou a intervenção do Exército. 

    Em 5 de junho os militares ocuparam Palotina, impondo uma proteção que estendeu por três anos. “Não fosse isso ia ter muita morte e desordem”, disse o pioneiro Severino em depoimento ao padre Pedro Reginato para o livro História de Palotina:

    “Na noite do dia 4 eles tinham pintado o sete, à noite inteira. Gritavam, riam, davam tiros a esmo, pareciam bêbados; por sorte que o responsável da firma (Pinho & Terra) Antônio Bordin, conseguiu a vinda do Exército e acabou com aquela baderna”.

     Quando o Município de Palotina foi criado, emancipando-se de Guaíra em 1960, Antônio Bordin foi eleito vereador, sendo novamente o mais votado e assumindo a Presidência da Câmara de Vereadores, deixando como legado um hospital e maternidade beneficente.

    O esforço por Céu Azul

    Também ligado desde o princípio à colonização de Céu Azul, Bordin apoiou em 1970 a vinda de nove freiras da Congregação das Irmãs Carmelitas da Caridade e criou outro hospital beneficente, além de um ginásio particular de 1ª e 2ª séries, para o qual depois conseguiu junto ao Ministério da Educação a transformação em escola estadual.

    Em 1965, aos 53 anos, volta a se casar, agora com Estelina Maria Biazus, de família tradicional na região, com quem teve o filho Vicente. Poderia ser o repouso do guerreiro, mas os desafios o perseguiam.

    Em 1973, a Santa Casa Monsenhor Guilherme, em Foz do Iguaçu, estava quebrada, com dívidas e obras paradas havia mais de ano e meio – um abacaxi que ninguém queria descascar. 

    Antônio Bordin decidiu assumir a direção do estabelecimento. A essa altura, já sexagenário, partiu para Curitiba, onde sua grande aventura começou, e só voltou quando obteve ajuda do governador Ney Braga para salvar a Santa Casa. 

    Enchendo-se de ânimo com o apoio recebido, Bordin conseguiu empréstimo e auxílios que possibilitaram o término das obras do hospital. 

    Hospital concluído e ponte

    Com cerca de 110 leitos equipados, não era um hospital quebra-galho: Bordin deixou o estabelecimento equipado com câmara fria de vários estágios, aparelhos de ar-condicionado central, além de UTI, CTI, berçário, centro cirúrgico e obstétrico, pediatria e complementos.

    Missão cumprida, partiu para outra: em 1974 entregou ao Ministro dos Transportes, Mário Andreazza, proposta para a construção da Ponte Brasil-Argentina, ligando Foz do Iguaçu e Puerto Iguazu. Era a Ponte da Fraternidade, finalmente denominada Ponte Tancredo Neves.

    Casando-se pela terceira vez, com a enfermeira aposentada Ivone Trum em 1993, nunca parou de colaborar com o desenvolvimento da fronteira. Em 1998 recebeu homenagem da Acifi (Associação Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu), da qual saiu, como fundador do Comitê de Fronteira Brasil-Paraguai, com a tarefa de ali representar a Acifi. 

    Em 28 de junho de 1999 ele recebia, em nome da Irmandade Santa Casa Monsenhor Guilherme, a medalha da Ordem do Rio Branco, por salvar e entregar equipada uma instituição que presta assistência a enfermos desvalidos do Brasil e da vizinhança paraguaia. 

    A medalha é em geral concedida a altos dirigentes de governos estrangeiros ou a pessoas e entidades que prestaram grandes serviços a brasileiros no exterior. O Velho Bordin a mereceu e só descansou aos 91 anos, em 18 de julho de 2004, consagrado como a mais longeva e produtiva personalidade oestina do século XX.

    100 anos da revolução: Rebeldes se desunem 

    Ignorado como chefe da revolução, pois João Francisco decidiu concentrar esforços na sublevação dos quartéis gaúchos, em 14 de outubro o general rebelde Isidoro Dias Lopes alcança Guaíra, um mês após a tomada desse porto pela vanguarda do major Octávio Garcia Feijó.

    A essa altura, o movimento revolucionário já estava em andamento no Sul. Em 15 de outubro, 800 homens já marchavam para a Estação de Remonta do Exército, em Saicã. 

    A reação legalista no Sul foi muito mais feroz que os escassos tiros trocados entre os revolucionários e os amedrontados defensores de Guaíra, mas o movimento rebelde no RS já era um caminho sem volta.

    No Paraná, em 20 de outubro os generais Isidoro e João Francisco se encontraram em Porto Mendes, pela primeira vez desde que se separaram, em Porto Tibiriçá.

    Em áspera discussão, João Francisco defendeu a necessidade de concentrar esforços na rebelião dos quartéis gaúchos enquanto Isidoro considerou absurdo o uso de três quartas partes dos recursos financeiros da revolução numa “aventura”, que seria rebelar o Sul.

    Só depois foi saber que o movimento já estava em marcha no Sul e que seu comando não seria mais necessário.

    Encontro em Porto Mendes, em outubro, rachou o movimento. O general Isidoro Dias Lopes percebeu que já não comandava mais a revolução

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • O jovem Bordin, lenda da colonização

    O jovem Bordin, lenda da colonização

    Confiar ao jovem topógrafo catarinense Vilder Bordin, de 20 anos, as vidas de 200 homens e a missão de construir uma cidade em plena mata fechada, em uma região desconhecida e de difícil acesso, na qual se dizia haver os posseiros mais agressivos do país, foi um ato quase irresponsável dos proprietários da colonizadora Sinop (Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná).

    O ciclo de aventuras da Sinop começou em 1948, quando a empresa foi criada por Ênio Pipino (1917–1995) e João Pedro Moreira de Carvalho (1910–1995), em Presidente Venceslau (SP). 

    O paulista Pipino, filho de agricultores italianos dedicados à cultura do café, foi telegrafista da Estrada de Ferro Sorocabana e com o pai montou um curtume, iniciando uma carreira política que o levou à presidência da Câmara Municipal e à Prefeitura de Presidente Venceslau antes de iniciar atividades como colonizador.   

    Também paulista, Moreira de Carvalho, por sua vez, ao se mudar para Maringá (PR), estendeu as atividades da Sinop para não só vender terras como também estimular projetos agropecuários e a formação de cidades. 

    Enquanto Vilder Bordin (1933–2016) ainda trabalhava na tarefa de abrir uma clareira compactada para servir de pista de pouso para aviões de pequeno porte que trariam os compradores de terra à futura cidade de Ubiratã, os donos da Sinop cometeram um ato ainda mais temerário que mandar o jovem topógrafo arriscar a vida: arriscaram as próprias vidas. 

    O avião inesperado 

    Bordin, que jamais temeu os desafios da mata, posseiros irritados interrompendo os serviços topográficos na mata e jagunços de gatilho fácil, confessou que naquele dia suou frio.

    Com as primeiras casas construídas e o escritório da Sinop aberto para atender aos clientes que viriam por avião, restava ainda concluir a pista de pouso quando um ronco crescente se aproximou e logo todos notaram que era um pequeno avião. 

    No teco-teco se via a assinatura do piloto: Zé da Pua. Pua é uma broca afiada para cortar material duro. A palavra se tornou conhecida quando os pilotos brasileiros na II Guerra Mundial, dentre eles Francisco de Assis Correa de Mello, o Mello Maluco (https://x.gd/Wgzae), participaram do serviço de patrulhamento do Atlântico Sul. O lema dos pilotos passou a ser: “Senta a pua!”, entoado a cada decolagem.

    Assustado com a repentina presença aérea, Bordin avisou pelo rádio que o pouso seria muito arriscado.

    “Como a pista ainda não estava pronta, se o avião pousasse naquela clareira insegura, repleta de valas nas quais os troncos retirados estavam enterrados, as rodas da aeronave poderiam afundar e decolar seria impossível. Mas a bordo estavam o ousado piloto Zé da Pua e os não menos ousados colonizadores Ênio Pipino e João Pedro Moreira de Carvalho” (Ubiratã História e Memória, https://x.gd/6GOd0).

    A proeza de Zé da Pua

    Bordin insistiu: “É bom avisar que o campo de pouso não está pronto. A terra não está compactada e se o avião ficar num buraco, depois não sai!” Zé da Pua começou a voar cada vez mais baixo, até fazer alguns rasantes para observar o terreno com o máximo de proximidade para avaliar as condições de pouso.

    A preocupação de Bordin só aumentava: “Não desce, porque depois você não sai!” Mas Zé da Pua teimou, dirigiu o teco-teco para a pista improvisada e pousou. Do avião saltaram o piloto, Pipino e Carvalho, cheios de histórias sobre negócios de terra e suas incursões também no Mato Grosso, assuntos que levaram para detalhar no escritório local da Sinop.

    Finda a palestra, era a hora de retornar. Bordin não perdoou a imprudência: “Agora quero ver vocês irem embora!”

    Zé da Pua acionou o avião e logo nos primeiros movimentos as rodas afundaram no solo. O piloto não se deu por achado e pediu que cinco homens de cada lado segurassem firmemente o avião até que ele apontasse o nariz para o alto, quando ele tentaria uma decolagem forçada. 

    Pipino e Carvalho sentiram o peso da situação e saltaram do avião, enquanto os dez homens aprumavam o teco-teco. Num arranque, o avião partiu para o céu, mas sem Pipino e Carvalho. 

    Eles já estavam tranquilamente aboletados num lento, mas seguro jipão que os conduziria de volta ao escritório central, em Maringá. 

    De topógrafo a motorista

    O topógrafo Vilder Bordin, catarinense de Joaçaba (SC), desde agosto de 1954 uma das grandes figuras históricas da aventura colonizadora noroestina, além de iniciar Ubiratã deu forma à cidade e a acompanhou durante toda a vida.

    Iporã, localidade já formada pela Sinop, era o último lugar urbanizado antes de enfrentar a mata desconhecida. De lá, Bordin e equipe de engenharia e topografia, formada por Ulrich Grabert, Vicente Alexandrino e Samoel Holand, partiram para o trabalho de campo.

    Depois dos primeiros serviços de topografia, Vilder Bordin se juntou à equipe de vendas da Sinop e transportava no jipe da empresa colonos em busca de férteis terras vermelhas para comprar. Era o único veículo a transitar pelas estradas da região. 

    O guia turístico 

    Ao levar um grupo de clientes que o fizeram de guia turístico, sem interesse nas terras, o jovem Bordin os assustou dizendo que cobras andavam sobre as árvores e se camuflavam parecendo cipó. 

    “Fecharam as cortinas do jipe, horrorizados. Uns dois dias antes eu havia prendido uma caninana de mais ou menos um metro e meio de comprimento, e colocara na caixa de ferramentas do jipe, sob o banco do passageiro”, contou Bordin.

    “A minha intenção era mandar o réptil para o Instituto Butantan, mas diante das circunstâncias, me ocorreu dar um chega-pra-lá nos sujeitos. Um dispositivo que ao lado do meu banco, acionado, fez a tampa da caixa abrir-se”.

    A cobra canina é inofensiva, mas ao se libertar deslizou suavemente entre as pernas dos passageiros, provocando o pânico: – Olha a cobra! Olha a cobra!

    Os turistas ameaçaram pular do jipe, ainda em movimento, abrindo as portas, rasgando as cortinas, forçando a parada brusca, mas logo sossegaram e o jipe sofreu poucos danos.

    O pior viria depois, quando choveu em meio a um grande vendaval e uma árvore caiu sobre a pista.

    O rei da estrada

    Consciente, Bordin contornou a árvore caída lentamente, mas na volta, confiante, acelerou ao se aproximar da árvore para se exibir perante os ricos clientes e se jactar de ter bom braço no volante. 

    Irritados, eles se queixaram a Ênio Pipino e com isso Vilder foi proibido de dirigir para a empresa. Logo houve uma emergência: era preciso transportar uma caravana até a Comunidade São Francisco, pela estrada velha de Juranda. 

    Já havia também um caminhão Chevrolet circulando, mas Vilder não sabia. Achava que ainda era o rei da estrada. Então com seis passageiros, bateu no Chevrolet e inutilizou a viatura da Sinop. Fraturas nos homens e jipe no ferro-velho.

    A Sinop comprou um jipe novo e como um raio em teoria não cai duas vezes no mesmo lugar, Pipino autorizou Vilder a levar o carro a Maringá.

    O raio caiu: Vilder conseguiu bater em uma carroça e o jipe novo chegou pela metade aos olhos pasmos do colonizador. Vilder nunca mais voltaria a pegar no volante, reconhecendo ser o pior motorista do Oeste. 

    Não suportou o enterro do amigo

    Foram intensas atividades, entre episódios dramáticos e muitas brincadeiras, até 19 de fevereiro de 1956, quando foi lançada a pedra fundamental da Vila Ubiratã. 

    Se é admirável a coragem da equipe comandada por Bordin, faltam palavras para descrever o papel de Evanildes, a jovem esposa de Vilder, que o acompanhou nessa aventura até a morte dele, em 2016.

    Vilder Bordin, embora tenha falecido aos 83 anos, ficou historicamente lembrado como o “jovem Bordin” porque sua participação ativa e marcante na formação oestina começou muito cedo. 

    A qualificação vai distingui-lo de outra grande lenda oestina, Antônio Bordin, o “velho Bordin”, cuja participação destacada nas atividades regionais teve início quando já estava com 40 anos e será contada em breve.     

    As histórias divertidas em torno das atividades da Sinop cessaram quando Ênio Pipino foi chamado a Bebedouro (SP) em 16 de junho de 1995 para o sepultamento do amigo e sócio João Pedro Moreira de Carvalho. Pipino morreu nesse mesmo dia, fazendo dessa data o elo final das duas existências. 

    100 anos da revolução: Catanduvas sem defesa 

    Enquanto Juarez Távora ocupava Foz do Iguaçu, revolucionários a caminho de Catanduvas tomavam de assalto no início de outubro de 1924 o estabelecimento comercial de Theodorico Rodrigues da Cunha. 

    Durante os dias mais agitados das hostilidades, Cunha e outros pioneiros ocultaram-se inicialmente na Fazenda Cajati, na época ainda apenas mata virgem.

    “[Theodorico] era um comerciante forte em Catanduvas. Quando os revolucionários chegaram na região eles saíram atrás daquelas pessoas que tinham bens e dinheiro para saqueá-los, e esse meu tio, ao saber da iminente vinda das tropas da revolução – resolveu fugir” (Amadeu Pompeu, depoimento em Cascavel, A História, de Alceu A. Sperança).

    “Desceu o Rio Adelaide a pé, por dentro do leito, até chegar ao Iguaçu, e depois foi se esconder na região de Palmas, onde tinha parentes. Os revolucionários avançaram na casa de comércio dele e destruíram tudo. Meu pai [Manoel Ludgero Pompeu] contava que os revoltosos pegavam peças de tecido para fazer cordas, a fim de amarrar seus animais”. 

    João Francisco recebeu em Guaíra no dia 6 de outubro o tenente Siqueira Campos, herói do Forte Copacabana exilado na Argentina, os majores maragatos Alfredo Canabarro e Anacleto Firpo, representando os generais Honório Lemes, Zeca Neto e o dr. Assis Brasil. Logo, aguerridas forças gaúchas estariam marchando rumo ao Oeste paranaense.

    Siqueira Campos defendeu o imediato envio de tropas do Sul ao Paraná

     

    Fonte: Alceu Sperança

  • I Tre Amici em Concerto. Tributo a Cascavel no Teatro promete emoções em mês de aniversário da cidade

    I Tre Amici em Concerto. Tributo a Cascavel no Teatro promete emoções em mês de aniversário da cidade

    No dia 19 de novembro de 2024, Cascavel será palco de um evento inesquecível em comemoração ao aniversário da cidade, celebrado no dia 14 do mesmo mês. Os três tenores do oeste do Paraná, I Tre Amici – formado por Jocimar Silva, Matheus Bressan e Thiago Stopa – realizará um grandioso concerto no Teatro Municipal Sefrin Filho, às 20h.

    O tributo à cidade contará com a participação especial do maestro paraguaio Juan Ramón Vera, que conduzirá uma orquestra com 20 músicos e um coro de 12 vozes.

    O repertório do espetáculo é uma verdadeira viagem pela música clássica e popular, com árias de ópera, como Toreador da ópera Carmen, Viva il Vino da ópera Cavalleria Rusticana, Nessun Dorma da ópera Turandot, Brindisi da ópera La Traviata e o imponente Va, Pensiero da ópera Nabucco. Além disso, o público será presenteado com canções italianas, napolitanas, internacionais, espanholas e clássicos da MPB, criando uma experiência musical diversificada e emocionante.

    “Com ingressos a apenas R$ 50, este concerto é imperdível e promete encantar pessoas de todas as idades. O Teatro Municipal Sefrin Filho, conhecido por sua excelente acústica e localização central, é o cenário ideal para uma noite memorável em homenagem à cidade”, comenta o maestro Jocimar Silva.

    Matheus Bressan lembra que a demanda por ingressos está alta, e “com um espetáculo deste porte, é recomendável adquirir o seu o quanto antes”. “Não deixe para a última hora e garanta já seu lugar neste evento que promete ser um dos grandes destaques desta reta final de ano na cidade de Cascavel”.

    O espetáculo, destinado a todas as idades e com classificação livre, promete momentos de nostalgia, de celebração e também de emoções. “É um momento importante para celebrarmos juntos Cascavel em um ano difícil, marcado por uma tragédia difícil de ser superada por todos nós”, comenta Jocimar ao se referir à queda do voo da Voepass em agosto passado.

    A aeronave saiu de Cascavel e caiu em Valinhos (SP) deixando 62 mortos. O trio compôs uma música em homenagem às vítimas intitulada Lágrimas do Céu. “Também será um momento para, mais uma vez, homenagearmos essas vítimas e levarmos um pouco de paz ao coração das famílias, dos amigos e dos cascavelenses”.

    Para saber sobre os pontos físicos da venda de ingressos basta consular a bio do Instagram do I Ter Amici @i_tre_amici.

    Fonte: Assessoria