Helberto Edwino Schwarz gostaria de ser lembrado pela criação da primeira lei de incentivo à industrialização em Cascavel, mas sua trajetória política foi obscurecida pelo incêndio da Prefeitura, em 1960.
Vindo para Cascavel justamente para tocar uma indústria, chamado pelo sogro Florêncio Galafassi para ajudá-lo na administração da Industrial Madeireira do Paraná, o vereador Helberto não teve dificuldades para ter aprovada na Câmara a lei de incentivo, sancionada pelo prefeito José Naves Formighieri em 16 de agosto de 1954.
A lei foi previamente discutida com o prefeito e redigida em seus termos finais pelo secretário municipal Celso Sperança. Concedia isenção de tributos até 1958 para as indústrias que se instalassem em Cascavel naquele ano nas seguintes áreas:
“1 – Indústria Alimentícia – Fábricas de produtos e conservas alimentícias; II – Indústria de Eletricidade – Produção e distribuição de eletricidade, instalações hidroelétricas, termoelétrico e atividades correlatas; III – Indústria Extrativa Vegetal – Fabrico de papel, papelão e artefatos de papel; IV – Indústria Têxtil – Fabrico de tecidos, de vestuário e artigos congêneres; V – Indústrias urbanas – Exploração do serviço de água e esgotos e telefones urbanos; VI – Indústrias Gráficas, Tipografias com circulação de órgãos de divulgação; VII – Indústria Cerâmica – Indústria de louças de barro em geral”.
Gentileza adversária
Nada mal para um vereador que sequer poderia ter concorrido à Câmara Municipal nas eleições de 1952. Galafassi e a Imapar tinham estreitas relações com ex-governador Moysés Lupion, o líder estadual do antigo PSD, mas, atarefados com o movimento madeireiro da época ainda de reconstrução do pós-guerra, perderam o prazo para criar o diretório local do partido.
Na conta desse descuido, o PSD não pôde apresentar candidato à Prefeitura de Cascavel nem eleger um só vereador nas primeiras eleições municipais. A Imapar não pretendia ficar sem um dos nove vereadores e Helberto, o escolhido para representar a empresa e a família Galafassi, foi aconselhado a se filiar ao PTB, adversário do PSD.
Se fosse eleito, depois, com a criação do diretório do PSD, ele naturalmente mudaria de partido sem constrangimento, porque interessava ao PTB ter mais vereadores que o partido do governador Bento Munhoz, o Partido Republicano.
Entendimento, a receita
Depois desse acordo mutuamente vantajoso, Helberto se convenceu de que a melhor política não é a grosseria de agredir adversários, mas buscar o entendimento com eles para conquistas de interesse geral.
Gaúcho de Campo Vicente, no Município de Taquara (RS), Helberto veio para Cascavel procedente de Canela (RS) em 1949, aos 31 anos, já casado com Inês Matilde Galafassi, com quem teria quatro filhos: Sérgio Clóvis, Sauro Cláudio, Carlos Alberto e Maria Emília.
Chegar a essa nova etapa de sua vida, bem recebido pela comunidade cascavelense e ser aceito pelos adversários para concorrer à vereança, era uma situação nova e surpreendente, mas foi só o começo de uma trajetória maior.
Foi ótimo para o PTB contar com Schwarz na chapa. O mais votado do partido, sem ele o PR ganharia dois terços da Câmara e iria controlar sozinho o Município impondo sua maioria.
Entretanto, no curso da primeira administração, o prefeito José Neves Formighieri e a Câmara deliberaram que não haveria política partidária na gestão pública. Os projetos seriam previamente acertados para evitar longas brigas e acelerar o desenvolvimento do Município iniciante.
Vitória surpreendente
Assim, livre para organizar o PSD, quando Moysés Lupion veio à cidade acompanhar seus negócios locais viu a eficiência de Schwarz na Câmara Municipal e decretou: “É você o prefeito”.
De fato, no pleito do dia 18 de novembro de 1956, Helberto Schwarz, concorrendo apenas pelo PSD, venceu a corrida para a Prefeitura de Cascavel com 1.533 votos contra 1.308 do fortíssimo candidato da situação, o médico Wilson Joffre, que concorria pelo PTB coligado com a UDN, o PR e o PSP.
Schwarz priorizou a construção da usina hidrelétrica do Rio Melissa, com verbas que obteve do Departamento da Faixa de Fronteira, vindo para compensar o desastre do Território Federal do Iguaçu.
Octacílio Mion, seu sucessor, completou a usina e a inaugurou. Schwarz também iniciou o primeiro projeto de telefonia de Cascavel, abriu as ruas do chamado Patrimônio Velho (entre a Rua Sete de Setembro e proximidades do Terminal Rodoviário) e organizou a primeira planta do perímetro urbano.
Helberto via dois pontos de estrangulamento da cidade: o aeroporto (situado onde hoje está o Terminal Rodoviário) e o cemitério, entre as atuais ruas Castro Alves, Visconde de Guarapuava, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Obras retardadas
Inicialmente foi ao Rio de Janeiro, então sede do governo federal, para propor a criação do Aeroporto Internacional de Cascavel ao Ministério da Aeronáutica. Na então capital federal, o prefeito “vendeu” sua ideia ao ministro Francisco de Assis Corrêa de Mello, o Mello Maluco, que desde a juventude voava pelos céus do Oeste paranaense.
Nessa ocasião, Helberto pareceu ser o verdadeiro maluco, assustando o ministro com uma hipótese fantasiosa: “O senhor vê uma coisa”, disse Helberto. “Nós precisamos ter um aeroporto em Cascavel e não em Foz do Iguaçu. O inimigo, por exemplo, do Paraguai bombardeia nosso aeroporto em Foz. Precisa ser em Cascavel, que é um lugar mais central”.
Como Foz era uma atração turística e Cascavel tinha importância estratégica, o Ministério concordou em haver dois aeroportos na região. Ideia aprovada, o ministro mandou o chefe da Aeronáutica no Paraná, Rubens Nízio, cuidar do assunto.
Nízio veio a Cascavel acompanhado de um engenheiro, que escolheu o local onde se encontra o atual aeroporto. “Coloquei lá um trator do Departamento de Assistência Técnica aos Municípios”, conta Helberto, “mas depois que eu saí, parou tudo”.
O deputado Lyrio Bertoli, casado com sua cunhada Amália, era deputado federal e todo ano fazia aprovar recursos no orçamento para o aeroporto de Cascavel, mas as obras tardavam.
Cemitério enterrou futuro político
A construção do aeroporto começou, finalmente, mas em 1º de abril de 1964 um golpe civil-militar derrubou o presidente constitucional, João Goulart, dando fim ao projeto.
No caso do cemitério, Schwarz viveu bem antes o drama do personagem Odorico Paraguassu, o prefeito da novela O Bem Amado (1973), de Alfredo Dias Gomes. Paraguassu construiu um cemitério contra a vontade da oposição, que não via necessidade para a obra, e não conseguia inaugurá-lo, pois ninguém morria.
“O cemitério era aqui no centro”, conta Helberto. “Quando fui passar para a Carlos Gomes, foi uma bronca. Diziam que eu ia botar o cemitério no meio do mato”.
Cidade de população jovem, ninguém morria para viabilizar a inauguração. A “solução” veio quando a empregada de Florêncio e Emília Galafassi, sogros de Helberto, recusou-se a namorar um cabo da Polícia Militar. “O cabo correu atrás dela e, ali no portão da casa, ela disse que não queria nada com ele. Ele tirou o revólver e a matou. Logo em seguia atirou em si mesmo”.
Bom saldo administrativo
O policial ficou internado no hospital do dr. Wilson Joffre em estado grave. Helberto disse ao médico: “Se ele morrer, nós vamos inaugurar o cemitério”.
Joffre respondeu: “Então já pode fazer o programa. Esse vai morrer. Não tem jeito”. De fato, o cabo acabou morrendo e Helberto, enfim, pôde inaugurar o cemitério.
Depois de concluir o mandato, Schwarz não seguiu o caminho de outros prefeitos que tentaram vaga na Assembleia Legislativa ou Câmara Federal. Retirou-se de cena: “Vi que não servia para ser político”.
Seu secretário Mário Thomasi acreditava que todos os envolvidos na transferência, inclusive o médico Wilson Joffre, tiveram a vida arruinada por conta de uma suposta “maldição do cemitério” (https://x.gd/XZ1Ft).
Mas Helberto foi bom administrador: organizou o primeiro mapa do Município, reconstruiu a Praça Getúlio Vargas lhe acrescentando o obelisco do Marco Zero e abriu a pedreira municipal.
Mesmo inocentado no caso do incêndio da Prefeitura pelo respeitado advogado Epiphânio Figueiredo, sabia que os adversários sempre o iriam acusar de não garantir a segurança do prédio.
A família, no entanto, jamais deixou de participar das atividades políticas, por meio dos cunhados Danilo e Dercio Galafassi. Helberto morreu em 13 de fevereiro de 2009.
100 anos da revolução: A cidade abandonada
O general João Francisco planejou em Guaíra, no fim de setembro, a coordenação de esforços para promover um levante de grande envergadura no Rio Grande do Sul.
Ele sabia que as unidades do Exército situadas no Sul e Oeste gaúchos poderiam ser conquistadas para a revolução desde que contasse com a adesão dos generais maragatos, com os quais lutou na Revolução Federalista, a partir de 1893.
No Paraná, o início de outubro assistiu ao deslocamento rumo ao Sul dos soldados do 3º Batalhão de Caçadores, comandados por Juarez Távora, pelas picadas nas margens do Rio Paraná.
Eles cautelosamente alcançaram Foz do Iguaçu, onde seria lógico haver alguma resistência, mas em 5 de outubro tudo que encontraram de mais movimentado na cidade quase deserta e sem nenhuma autoridade foi um velório.
Ao saber que os revolucionários estavam para chegar, as autoridades de Foz do Iguaçu determinaram a evacuação da cidade, prevista para breve retorno até que as autoridades federais retomassem o controle da região.

Fonte: Alceu Sperança