Categoria: Internacional

  • Incidente aéreo entre Rússia e EUA pode levar a uma Terceira Guerra Mundial?

    Incidente aéreo entre Rússia e EUA pode levar a uma Terceira Guerra Mundial?

    A queda de um drone MQ-9 dos Estados Unidos, supostamente provocada por dois caças da Rússia SU-27 Flanker, adicionou na última terça-feira (14) mais um episódio problemático à difícil relação entre Washington e Moscou, agravada desde o início da guerra na Ucrânia.

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    Enquanto norte-americanos afirmam que drone foi derrubado, russos se defendem e dizem que veículo não tripulado dos EUA caiu sozinho no mar Negro.

    O incidente entre as duas maiores potências militares do mundo suscitou o temor de um grande conflito armado, uma espécie de Terceira Guerra Mundial. Entretanto, para os especialistas entrevistados pelo R7, Washington e Moscou estão muito longe de um confronto deste tipo.

    O professor de relações internacionais da ESPM Gunther Rudzit desacredita que os Estados Unidos devam utilizar armas para lidar com este episódio dos caças russos.

    “Não acredito que o governo americano vai responder militarmente, que é justamente evitar essa escalada. [Washington] não quer o enfrentamento entre as duas forças [armadas] porque isso levaria a uma guerra termonuclear que acabaria com a vida na Terra como a gente conhece”, explica Rudzit.

    Pelo drone norte-americano não ser tripulado, o professor de relações internacionais da Facamp James Onnig acredita que as futuras ações dos Estados Unidos serão mais brandas.

    “Como não houve nenhuma baixa humana, como não houve sacrifício humano nessa história, talvez isso amenize um pouco a reação, mas afirmo: os EUA vão engrossar a voz”, ressalta Onnig.

    E a Otan?
    Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg

    Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg

    Foto: Jonas Ekstromer/EFE/EPA 

    Em novembro de 2022, um suposto míssil russo atingiu a Polônia. Naquele dia, a especulação da agressão russa se tornar um pretexto para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) entrar na guerra da Ucrânia ganhou força.

    Cinco meses depois, o incidente ficou para trás e a Aliança Atlântica continua apoiando financeiramente o combate, mas não colocou soldados dos países-membros em solo ucraniano ou russo.

    Desta mesma forma, Onnig pensa que o caso do drone americano e dos caças russos não deve servir de pretexto para inserir a Otan em qualquer tipo de conflito.

    “Os EUA vão considerar sim uma agressão, vão considerar como sendo um incidente agressivo”, conta o professor da Facamp. “Mas acho que a Otan não vai interferir nesse tipo de situação.”

    Apesar da temida Aliança Atlântica ficar de fora desse empasse entre Washington e Moscou, Rudzit vê que a manobra russa mostra que o governo de Vladimir Putin não teme uma escalada de tensões com o democrata Joe Biden.

    “Este incidente do abate […] é uma resposta russa a esse envolvimento quase que direto americano na guerra na Ucrânia, e que mostra que efetivamente o Kremlin está disposto a tomar medidas que possam vir a ter uma escalada.”

    Fonte: R7

  • Explosão no Afeganistão causa uma morte e deixa ao menos oito feridos

    Explosão no Afeganistão causa uma morte e deixa ao menos oito feridos

    Ao menos uma pessoa morreu e oito ficaram feridas devido a uma explosão ocorrida na manhã deste sábado (11), em um centro cultural de Mazar-i-Sharif, cidade da província de Balkh, no norte do Afeganistão.

    As vítimas participavam de um evento alusivo ao Dia Nacional do Jornalista, que, no país, é celebrado neste dia. Segundo a polícia local, a explosão aconteceu após um representante do grupo Talibã discursar e no exato momento em que um coro de crianças começava a cantar o hino nacional afegão.

    A vítima fatal é um agente que fazia a segurança do evento. Os feridos são cinco jornalistas e três crianças afegãs. Até o momento, nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque.

    A explosão acontece apenas dois dias após o governador de Balkh, Mohammad Dawood Muzammil, ter sido assassinado, vítima de um ataque suicida organizado pelo grupo terrorista Estado Islâmico, que assumiu a autoria do atentado.

    Muzammil é um dos mais importantes líderes talibãs a ser assassinado desde que o grupo retomou o poder do Afeganistão, em agosto de 2021, quando as tropas militares norte-americanas deixaram o país.

     

    * Com informações da RTP

    Fonte: Agência Brasil

  • Brasileiro é preso em Portugal com carne humana dentro de mala

    Brasileiro é preso em Portugal com carne humana dentro de mala

    O brasileiro Begoleã Mendes Fernandes foi preso no aeroporto de Lisboa, na terça-feira (28), quando tentava voltar para Belo Horizonte (MG), sua cidade natal. Os funcionários de embarque suspeitaram do homem, que portava documentos italianos falsos e um passaporte holandês vencido.

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    Após apuração, os funcionários do aeroporto descobriram que Begoleã estava sob investigação criminal na Holanda, país em que o jovem residia. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) encontrou um mandado de captura e extradição para Fernandes sob a suspeita de matar um homem de 21 anos, em Amsterdã.

    A vítima do assassinato, que aconteceu em 26 de fevereiro, se chamava Alan Lopes e residia na capital holandesa havia sete anos com a mãe e a irmã. O suspeito do crime era amigo de Alan e frequentava sua casa havia mais de um ano.

    Nesse contexto, os funcionários decidiram fazer uma revista na mala do brasileiro e encontraram roupas com vestigíos de sangue, uma corda, um telefone e pedaços de carne embalados em plástico.

    O material foi enviado para análise e, segundo o jornal português Correio da Manhã, o Instituto de Medicina Legal de Lisboa confirmou que a amostra analisada é de carne humana, mas que não pertence a Alan Lopes.

    Em entrevista ao jornal holandês Parool, os amigos em comum dos envolvidos contaram que Begoleã estava tendo problemas com drogas. O jovem, que trabalhava como entregador, estava sendo ajudado por Alan.

    O grupo também afirmou que Fernandes pensava que Alan queria comê-lo, e, antes do crime, recebeu mensagens sucintas de Begoleã, nas quais o homem dizia que precisou se defender de Alan, que era um canibal, e por isso o matou. Em seguida, ele sumiu, e os amigos acionaram a polícia.

    A família da vítima afirmou que Alan sempre teve bom coração e tentava ajudar todos. A mãe e o padrasto lamentaram o fim trágico do filho. 

    No momento, o suspeito está no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para verificar uma lesão na mão direita. Depois da avaliação, ele será encaminhado ao Tribunal da Relação de Lisboa para o primeiro interrogatório judicial. 

    Fonte: R7

  • Naufrágio de embarcação com migrantes na Itália deixa pelo menos 45 mortos

    Naufrágio de embarcação com migrantes na Itália deixa pelo menos 45 mortos

    Neste domingo (26), uma tragédia ocorreu nas proximidades da cidade de Crotone, na Itália. Uma embarcação com migrantes naufragou, deixando pelo menos 45 pessoas mortas, incluindo um bebê, de acordo com informações da imprensa italiana. Mais de 80 pessoas foram resgatadas com vida.

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    A embarcação transportava de 150 a 250 pessoas, principalmente do Afeganistão, Irã, Paquistão e Síria. A agência italiana AGI relatou que o barco tinha excesso de peso e partiu ao meio após ser atingido por uma onda.

    Infelizmente, algumas pessoas continuam desaparecidas após o naufrágio. 

    A primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos da Itália, expressou sua “profunda tristeza” pela tragédia e prometeu intensificar os esforços para coibir a migração irregular. O ministro do Interior, Matteo Piantedosi, também se pronunciou, destacando a “necessidade absoluta de agir com firmeza contra os canais irregulares de migração”.

    A tragédia não é um caso isolado. Desde 2014, mais de 20 mil pessoas morreram ou desapareceram no Mediterrâneo central, de acordo com o Projeto de Migrantes Desaparecidos da Organização Internacional para as Migrações.

    Fonte: Folha

  • Embaixada da Ucrânia vê fracasso na estratégia militar russa

    Embaixada da Ucrânia vê fracasso na estratégia militar russa

    Há um ano, milhões de ucranianos começaram a deixar seu país, fugindo das bombas disparadas pela Rússia. Mulheres e crianças, em sua maioria, foram morar em outros países da Europa ou até mais longe, como no Brasil, enquanto os homens ficaram para lutar. Mas, apesar do cenário de destruição mostrado ao mundo ao longo dos últimos 12 meses, o chefe da Embaixada da Ucrânia, Anatoliy Tkach, avalia que a estratégia militar russa em território ucraniano fracassou.

    Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, ele conta que os territórios ocupados pelos russos vêm sendo recuperados pelas tropas ucranianas. Segundo Tkach, a Rússia passou a enviar criminosos condenados para o front, o que ele classifica como uma evidência desse fracasso. E acrescentou que seu país prepara uma contraofensiva para liberar mais territórios ucranianos do domínio do país vizinho.

    O chefe da embaixada da Ucrânia no Brasil também explica que a atual guerra poderia ter sido evitada caso o ocidente tivesse reagido, em 2014, durante a anexação da Crimeia pela Rússia, da forma como reagiu em 2022, quando os russos avançaram em território ucraniano.

    Anatoliy Tkach estima que os bombardeios na Ucrânia resultaram em pelo menos US$ 46 bilhões em prejuízos, uma vez que “um terço do território está contaminado com objetos explosivos”. A queda no PIB foi superior a 30% e, em meio a esse cenário, pelo menos 6 milhões de pessoas deixaram o país.

    A guerra e a troca de acusações provocou uma tensão grande o suficiente para separar Ucrânia e Rússia até mesmo nas páginas de uma entrevista. Ao receber a Agência Brasil e ser informado que o outro lado da história também seria ouvido, Tkach fez uma exigência: “não quero estar na mesma matéria [que a Rússia] porque não há relações diplomáticas entre nossos países”.

    Na semana em que a guerra na Ucrânia completa um ano, a Agência Brasil entrevistou os embaixadores dos protagonistas do conflito. Confira também a entrevista com o embaixador da Rússia ,

    A TV Brasil veiculará, no programa Repórter Brasil deste sábado, às 19h, trechos da entrevista, que será também disponibilizada no site do programa .

     

    Agência Brasil:Dia 24 completou um ano da guerra entre Rússia e Ucrânia. Qual o balanço que já se pode fazer? O cenário atual era o imaginado há um ano?

    Anatoliy Tkach:Esta guerra se iniciou em 2014 [quando a Rússia anexou a Crimeia]. Em 2022, começou uma invasão em grande escala do exército russo na Ucrânia. Nossas forças armadas estão, desde o primeiro ataque, defendendo o país, parando as forças russas. Liberamos quase a metade dos territórios que foram ocupados no primeiro momento, e chegamos ao final do ano com as nossas terras liberadas. Neste momento, estamos mostrando que a estratégia militar russa fracassou e vem tendo grandes perdas. Estão tentando encobrir isso com uma mobilização em massa das pessoas na Rússia. Entre eles, criminosos condenados com altas penas. Enviam esse tipo de pessoas em grande quantidade para a Ucrânia.

    Neste momento, com equipamentos pesados não podendo passar, estamos observando o início de uma nova ofensiva. A estratégia russa agora é mandar muito pessoal, mesmo mal preparado e sem equipamento. Essa grande quantidade de pessoas está fazendo muita pressão sobre as forças armadas ucranianas, mas nosso exército está protegendo a Ucrânia, segurando suas posições. As tropas russas não têm obtido maiores avanços, e estamos nos preparando para fazer uma nova contraofensiva para liberar territórios da Ucrânia.

     

    Agência Brasil:Quais são as expectativas para os próximos meses na Ucrânia?

    Tkach:Estamos esperando que, no próximo mês, tenha início uma nova escalada. Estamos nos preparando para isso. Nossos parceiros estão avaliando esse perigo e enviando equipamentos para a proteção do nosso país. É muito importante esse ponto porque a Ucrânia não está conduzindo uma guerra. Está se protegendo contra uma invasão estrangeira.

    Além disso, estamos preparando ações diplomáticas para o fim desta guerra iniciada pela Rússia, como a resolução aprovada na Assembleia Geral da ONU sobre a paz duradoura e justa na Ucrânia. Há também um plano de ações para que essa guerra termine. No dia 15 de novembro de 2022, nosso presidente, Volodymyr Zelensky, ofereceu o plano chamado “A Fórmula da Paz”. Ele inclui dez passos para o estabelecimento de uma paz duradoura e justa na Ucrânia. É uma fórmula bem abrangente que prevê todos os assuntos importantes para que a paz volte a nosso país. Aborda segurança alimentar, segurança energética e segurança nuclear.

     

    Agência Brasil:Qual é a proposta efetiva da Ucrânia para uma solução pacífica? Fale mais desse plano de paz.

    Tkach:É um plano de paz bem abrangente. Além de mencionar essas questões, trata da libertação de presos e deportados; do respeito à carta das Nações Unidas; da restauração da integridade territorial da Ucrânia e da segurança de meio ambiente. E também da retirada das tropas russas do território da Ucrânia e de garantias para que a agressão não volte, fixando o fim da guerra.

    Com relação à proteção do meio ambiente, por exemplo, estima que os danos causados chegam a US$ 46 bilhões de dólares até esse momento, porque um terço do território da Ucrânia está contaminado com objetos explosivos. Até agora, foram desativados aproximadamente 500 mil desses objetos. Isso é um ponto importante do plano de paz.

     

    Agência Brasil:Como está a economia ucraniana? Quais setores outros setores foram afetados?

    Tkach:Evidentemente que a guerra está provocando uma crise econômica no país. No ano passado, calcularam perdas de 30,4% do nosso PIB [Produto Interno Bruto]. Para este ano está previsto um deficit de US$ 38 bilhões. Muitas empresas sofreram, muitas foram realocadas dos territórios onde ocorrem ofensivas.

    A economia foi danificada pelo bloqueio da Rússia aos portos da Ucrânia no Mar Negro. Se, dentro da iniciativa do “Corredor Verde” [corredores humanitários para facilitar a fuga de civis da Ucrânia], fossem desbloqueados os envios de grãos, ficaria facilitado o escoamento de alimentos e grãos produzidos na Ucrânia para outros países. A Ucrânia também teve uma iniciativa, que consiste em que os países comprem nossos grãos e os enviem para os países que mais precisam de alimentos. O governo da Ucrânia, ao lado de 30 países da União Europeia, participou dessa iniciativa pagando o envio desses grãos.

     

    Agência Brasil:O senhor citou a segurança energética entre os passos essenciais do plano apresentado pela Ucrânia. Como está o fornecimento de gás no país?

    Tkach:Na verdade, o maior problema que temos na área de energia decorre de a Rússia ter adotado a estratégia de bombardear nossa infraestrutura energética. Esses bombardeios começaram antes do inverno mas, felizmente, este ano não está tão frio. Aproximadamente 50% da infraestrutura energética está destruída. Isso provoca apagões em todos os territórios da Ucrânia.

     

    Agência Brasil:Os russos dizem que Ucrânia, Crimeia e Rússia são um mesmo povo. Qual é o nível de proximidade entre esses três grupos? São, de fato, irmãos?

    Tkach:Aqui estamos falando sobre a propaganda russa. É o pretexto que o governo russo usou para começar a guerra. E continua usando para dar continuidade a ela. Explicaram isso, em um primeiro momento, a seu próprio povo. No último pronunciamento do presidente Vladimir Putin, ele repetiu essa propaganda russa, questionando a legitimidade do Estado ucraniano, bem como do apoio do povo para com o governo ucraniano.

    O presidente Putin fala que o povo não está apoiando o governo da Ucrânia, mas vimos, nas últimas pesquisas de opinião, que os ucranianos apoiam o atual governo. O apoio ao presidente da Ucrânia cresceu, nesse tempo de guerra, quase 90%. Ou seja, o povo ucraniano está unido e está se protegendo.

     

    Agência Brasil:Mas como o povo ucraniano enxerga o povo russo? São povos irmãos ou não são?

    Tkach:Neste momento, segundo as pesquisas, o povo russo está apoiando as ações do seu governo. Está apoiando não só o governo, mas todo o país. Então é uma responsabilidade compartilhada pela guerra que a Rússia está conduzindo contra a Ucrânia.

     

    Agência Brasil:Retomando a questão econômica. Qual é a relevância histórica que o porto de Sebastopol?

    Tkach:O porto de Sebastopol tem uma importância histórica, mas não comercial para a Ucrânia. Ele foi uma base militar russa e é o lugar onde toda a agressão da guerra começou, em meio à ocupação da península da Crimeia pela força naval russa. Nossos principais portos comerciais são principalmente os de Odessa e de Mikolay.

     

    Agência Brasil:Como está a situação em Odessa?

    Tkach:O porto de Odessa e todos os portos do Mar Negro ucraniano estão bloqueados, mas segundo os compromissos entre a ONU, Turquia e Ucrânia – e também entre ONU, Turquia e a Rússia –, eles estão admitindo a passagem dos navios que carregam grãos ucranianos. Nesse momento, temos um atraso. Precisamos restaurar os envios porque a Ucrânia é o quinto maior produtor de produtos agrícolas do mundo. Milhões de pessoas dependem dessa produção, o que torna ainda mais necessária a volta à normalidade, com os navios saindo dos portos. Buscamos também incluir na iniciativa do Corredor Verde o outro porto da Ucrânia, que é o de Mikolay, também muito importante para as exportações agrícolas.

     

    Agência Brasil:Na avaliação de vocês, essas sanções impostas à Rússia têm obtido o efeito desejado?

    Tkach:Desde o início da guerra, nós tínhamos três pilares para terminar a guerra. O primeiro é relativo aos equipamentos militares que a Ucrânia recebe para poder se proteger. O segundo, relativo à ajuda a econômica, porque a situação é complicada e precisamos do apoio de outros países. O terceiro pilar são as sanções.

    A ideia era que, com as sanções, a Rússia não conseguisse dinheiro para continuar a guerra. Muitos países adotaram essas sanções. Com isso, estamos vendo que a Rússia está tendo dificuldades para a produção de equipamentos inteligentes militares, algo bastante importante para que, em um futuro próximo, se estabeleça a paz.

     

    Agência Brasil:Há lições ou aprendizados a serem extraídos dessa guerra? Algo poderia ter sido feito diferente para amenizar a situação atual?

    Tkach:O maior problema foi que, em 2014, quando tudo começou, o mundo não reagiu do mesmo jeito como reagiu em 2022. Se tivesse agido do mesmo jeito, não haveria uma nova guerra, uma continuação, uma nova ofensiva russa em 2022.

     

    Agência Brasil:Houve interesse da Ucrânia em integrar a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte]? Chegou a haver algum tipo de sondagem visando esse ingresso?

    Tkach:Os países vizinhos da Rússia estão vendo a OTAN como um mecanismo de segurança contra uma invasão. Agora já estamos vendo que, infelizmente, isso não é sem fundamento. Países estão expressando o seu desejo de ingressar na OTAN. Estamos vendo que muitos dos países que saíram da União Soviética, entendem os perigos e riscos de terem um vizinho como a Rússia.

    Com a invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia em 2022, a Suécia e a Finlândia decidiram ingressar na OTAN, vendo nisso uma garantia de segurança. A Ucrânia, em 1994, assinou o “Memorando de Budapeste”, entregando o terceiro maior arsenal nuclear do mundo em troca das garantias da sua segurança. Agora estamos vendo que essas garantias dadas pela Rússia foram violadas. Por isso, a única alternativa, neste momento, é a OTAN.

    A Ucrânia, desde a sua independência, começou tratativas com a OTAN, mas nunca tinha uma definição sobre o ingresso. Há o apoio da população, conforme pesquisas de opinião. Se, em 2014, 34% dos ucranianos apoiavam o ingresso do país na OTAN, passados agora nove anos, este percentual subiu para 86% em 2023.

    O país, no ano passado, apresentou uma solicitação formal de ingresso. Assim como outros vizinhos, estamos vendo isso como a única alternativa, com o propósito de termos a segurança de que ninguém vai invadir o nosso país e matar os nossos cidadãos.

     

    Agência Brasil:Qual o retorno que vocês têm recebido da OTAN?

    Tkach:Até esse momento ainda não temos a perspectiva de ingresso.

     

    Agência Brasil:Como o senhor avalia o risco de uso de armas nucleares? Ele é real? Aumentou após a suspensão de acordos nucleares pelos envolvidos?

    Tkach:Nesse momento não estamos vendo a prontidão da Rússia para iniciar uma guerra nuclear porque, acredito, vai virar uma guerra global. A Rússia voltar a desenvolver armas nucleares é um sinal de continuação da chantagem nuclear. Repito, não é a partir de 2022, mas é a partir de 2014 que a Rússia está chantageando o mundo com as suas armas nucleares.

     

    Agência Brasil:O senhor está dizendo que a Rússia está fazendo uma ameaça, mas não acredita que ela venha a usar esse tipo de armamento? É uma espécie de blefe?

    Tkach:Exatamente.

     

    Agência Brasil:A guerra levou muitos ucranianos a se mudarem para o Brasil? Quais foram os principais destinos?

    Tkach: O governo do Brasil criou as condições para que os ucranianos viessem para o país. No entanto, não foram muitos os que decidiram ir para tão longe porque a maioria dos que saíram, ficaram nos países europeus mais próximos para, na primeira oportunidade, voltarem.

    É isso o que estamos observando no Brasil. Os ucranianos que chegaram aqui, nesse momento, já estão voltando para a Ucrânia. Em primeiro lugar, porque os territórios onde ficam as casas deles foram liberados, o que dá a eles a possibilidade de voltar para casa tendo relativa segurança.

    Em sua maioria, as pessoas que saíram foram as mulheres com as crianças, enquanto os homens ficaram na Ucrânia defendendo o país. Essas mulheres com crianças já querem voltar para ser unir a seus esposos.

     

    Agência Brasil:Há algum número oficial de ucranianos que vieram para o Brasil?

    Tkach:Não posso dizer que vieram apenas os que fugiram da guerra, porque há também outros motivos, mas foram entre 1 mil e 1,5 mil pessoas.

     

    Agência Brasil:E os que deixaram o país para outros destinos? Tem uma ideia de quantos foram e os principais destinos?

    Tkach:Falam em aproximadamente 6 milhões de pessoas. Os principais destinos foram na Europa. Muitos, para países vizinhos como a Polônia, que consideramos uma nação irmã pela ajuda aos nossos cidadãos, recebendo e acolhendo, bem como pela ajuda que nos foi dada nesse difícil momento.

     

    Agência Brasil:E na direção da Rússia? Vocês têm alguma noção de quantos foram para lá?

    Tkach:A Rússia realizou uma deportação forçada dos ucranianos dos territórios ocupados. Nesse momento, estamos falando de 16 mil crianças que foram deportadas e realocadas para lá.

     

    Agência Brasil:Sobre a relação Brasil-Ucrânia, o que a eleição do presidente Lula mudou no que se refere à relação entre os dois países?

    Tkach:O presidente Lula está condenando abertamente essa guerra que a Rússia iniciou. Estamos esperando uma ativação da nossa cooperação. Já ocorreram vários contatos. Nossa primeira vice-ministra visitou o Brasil para participar da cerimônia de posse do presidente Lula, com quem se reuniu. Houve também reunião de chanceleres, que estão mantendo contatos. O diálogo continua.

     

    Agência Brasil:O presidente Lula declarou que trabalhará para construir um caminho para a pacificação, propondo, inclusive, a criação de um grupo para mediação da paz. Ele poderá colaborar para que os dois países encontrem um ponto comum?

    Tkach:Oferecemos nossa “Fórmula da Paz”, o plano de ações que mencionei. Ele é abrangente e prevê todos os temas para resolver e terminar com essa guerra. Nosso plano está aberto para a participação de todos os países. Lembro que a Rússia continua tendo os seus militares na usina nuclear da Ucrânia, que é maior usina nuclear da Europa, com um depósito de munições em seu interior. É muito importante resolver essa questão.

    Com relação à segurança alimentar, defendemos ações como a do “Corredor Verde” para escoamento dos grãos da Ucrânia. Sobre a segurança energética, há um déficit da energia por causa das ações da Rússia, com seus bombardeios via mísseis e drones iranianos.

    Queremos também punição dos responsáveis pelos crimes que foram cometidos na Ucrânia, a restauração da integridade territorial da Ucrânia, a proteção do meio ambiente. Isso é muito importante porque vai demorar anos para desativarmos as minas colocadas em território ucraniano. Outras reivindicações são a retirada das tropas russas do nosso território, o cessar fogo e, por fim, a garantia de que a agressão não vai voltar a acontecer.

     

    Agência Brasil:Qual mensagem a Ucrânia gostaria de enviar, não para o governo, mas para os brasileiros interessados em entender o que, de fato, está por trás desse conflito?

    Tkach:O mais importante é um pensamento crítico e a avaliação das informações e das fontes. Por exemplo, as mídias oficiais da Rússia estão banidas em muitos países por causa da propaganda e a desinformação. O governo russo não é de confiança. Em 2013, o presidente Putin disse que não tinha nenhuma intenção de invadir a Ucrânia, e que respeitaria a soberania do nosso país.

    Em 2014, as tropas russas estavam na Crimeia. O presidente russo dizia que nossas tropas não estavam, o que não era verdade. Em 2015, ele disse o mesmo, e a gente reiterava que as nossas forças armadas também estavam lá. Como que dá para acreditar nessa fonte, quando ela diz que o principal propósito é a expansão da Otan? Ele é uma fonte da qual devemos desconfiar. Por isso que o mais importante é pegar informações de várias fontes, analisar e chegar a uma conclusão.

     

    Agência Brasil:O senhor falou muito da preocupação da Ucrânia com relação a um eventual ataque russo. Peço-lhe um exercício de se colocar no lugar do outro. No caso, do Putin. O senhor ficaria preocupado em ter um país vizinho com armas nucleares apontadas para o seu povo?

    Tkach:A Ucrânia entregou suas armas nucleares, o terceiro arsenal de armas nucleares no mundo, para o país produtor, a própria Rússia, como previsto no “Memorando de Budapeste” de 1994. Tudo em troca das garantias de segurança. A Ucrânia cumpriu com aquilo que prometeu. A Rússia não.

     

    Agência Brasil:Há muitas informações controversas sobre essa guerra. Alguns especialistas, e até mesmo parlamentares norte-americanos, dizem que, em 2014, houve na Ucrânia um golpe que resultou na destituição de um presidente contrário ao ingresso na OTAN [Viktor Yanukovych], e que isso teria sido feito com apoio financeiro dos Estados Unidos. Há também quem afirme que isso resultou em apoio armado a grupos neofacistas na Ucrânia. Qual resposta que o governo ucraniano dá àqueles que fazem tais acusações?

    Tkach:Nesse momento estamos falando sobre grupos marginalizados e muito polarizados. Não é a maioria e não são fontes de respeito. Se existem essas acusações, elas são mantidas e sustentadas pela Rússia e pela sua máquina de propaganda, que investe bilhões de dólares anualmente para essas acusações.

    O que aconteceu na Ucrânia foi: o presidente ucraniano [Viktor Yanukovych] fugiu para a Rússia, onde ele permanece até agora. Os ucranianos elegeram um presidente. Passou um tempo, elegeram um segundo presidente. O que significa que o processo democrático continua na Ucrânia, que compartilha valores democráticos. Temos o apoio do ocidente, em particular o compromisso da União Europeia, no sentido de uma integração futura nossa com o bloco. Isso, para mim, é a maior avaliação de que o processo é verdadeiramente democrático.

    Compartilhamos dos mesmos valores europeus, que não têm nenhum espaço para o nazismo ou neonazismo. Como pode haver neonazismo em um país onde o líder, o presidente, é de origem judaica?

     

    Fonte: Agência Brasil

  • Embaixador da Rússia descarta um novo conflito nuclear

    Embaixador da Rússia descarta um novo conflito nuclear

    Há um ano, tropas russas invadiram a Ucrânia sob a afirmação de libertar o povo daquele país. Em meio a milhares de mortes e destruição de cidades inteiras, o discurso dos russos se mantém inabalável: é necessário libertar a Ucrânia de um processo de “desnazificação”. E mesmo atribuindo aos Estados Unidos muita responsabilidade pela guerra – que os russos chamam de “operação especial” –, o embaixador da Rússia no Brasil, Alexey Labetskiy, descartou o começo de um conflito nuclear.

    Para Labetskiy, os políticos dos Estados Unidos sabem que “o início de qualquer guerra nuclear significa o fim da civilização humana”. E, por isso, mesmo uma escalada ainda maior no confronto não levaria uma consequência dessa gravidade.

    A visão de um conflito entre Estados Unidos e Europa contra a Rússia é largamente explorado por Alexey Labetskiy nesta entrevista exclusiva concedida à Agência Brasil. Segundo ele, a guerra “está matando a indústria europeia”, e enriquecendo o líder da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que, explica, passou a dominar o mercado de gás líquido na Europa. “A Europa se tornou um jogador secundário em relação aos Estados Unidos”.

    Labetskiy também rebateu as acusações de violação de direitos humanos na Crimeia como no leste da Ucrânia. “Por que ninguém reagiu às violações dos direitos humanos dos ucranianos-russos que habitam Lugansk e Donetsk, que durante oito anos viviam na guerra?”.

    O embaixador russo citou ainda o interesse de seu país na posição do Brasil diante da guerra e destacou o respeito da Rússia às posições brasileiras diante de questões internacionais. “Seguimos com muita atenção todas as iniciativas avançadas pela parte brasileira”.

    Na semana em que a guerra na Ucrânia completa um ano, a Agência Brasil entrevistou os embaixadores dos protagonistas do conflito. Confira também a entrevista com o chefe da Embaixada da Ucrânia .

    A TV Brasil veiculará, no programa Repórter Brasil deste sábado, às 19h, trechos da entrevista, que será também disponibilizada no site do programa .

     

    Agência Brasil:Dia 24 completou um ano da guerra Rússia-Ucrânia. Explique o objetivo inicial da Rússia nesse conflito. Há como comparar as expectativas iniciais com as constatações, após um ano de confrontos? Algo mudou ou está tudo conforme planejado?

    Alexey Labetskiy:O senhor fala de guerra. Nós falamos operação especial. Não falamos guerra porque guerra é entre povos, e, para mim, não há diferença entre o povo russo e o povo ucraniano. Compreendemos que a separação artificial lá implantada, por oligarcas e herdeiros do fascismo e do nacionalismo, foi subsidiada diretamente pelo ocidente. Pelos Estados Unidos e pela maioria dos países europeus. Trata-se de uma tentativa de romper nossa história comum que sempre existiu nesse espaço povoado pelos russos-ucranianos. Povos que falam a mesma língua. O início da operação foi para, primeiro, garantir a segurança da Rússia. Segundo, para “desnazificar” a Ucrânia, país que glorificou institucionalmente, tornando heróis nacionais, os que combateram ao lado de Hitler na Segunda Guerra Mundial, contra os aliados.

    O ocidente tentou criar, da Ucrânia, um ponto de ataque contra a Rússia. E agora, já depois do início da operação especial, ex-grandes políticos da Alemanha, da França e da Ucrânia reconhecer que a assinatura dos acordos de Minsk [visando dar fim a conflitos armados no leste da Ucrânia], em 2014 e 2015, foi feita com um único objetivo, de rearmar a Ucrânia contra a Rússia. Já nosso objetivo foi mais simples: criar as condições de unificação do território, onde uns aceitaram o golpe de estado de fevereiro de 2014 [que depôs o então presidente Victor Yanukóvich] e outros não aceitaram. Em vez de diálogo, tivemos, por oito anos, mentiras e combates que custaram mais do que 12 mil vidas humanas, na maioria civis.

    A operação especial visa defender a identidade do povo que não aceitou o fascismo, o nacionalismo e o oligarquismo que floresce na Ucrânia graças a apoios bilionários de americanos e europeus. É estranho que eles tenham esquecido da identidade fascista dos círculos dirigentes da Ucrânia hoje, e que apoiem os que promovem essa ideologia ajuizada pelo Processo de Nuremberg [que julgou crimes cometidos por nazistas durante a Segunda Guerra]. Isso mostra que esta política nada tem a ver com política de segurança.

    É importante lembrar que, nos anos 90, os ocidentais prometeram não alargar a OTAN. E o que vimos foi a OTAN se aproximar das fronteiras com a Rússia. Eles dizem que não estão contra a Rússia, mas a OTAN é um bloco militarista. Isso é bem claro para todos e a História mostrará.

    Se olharmos as atividades militares dos Estados Unidos nos anos 1990 e 2000, vemos que essas políticas irresponsáveis de ingerência custaram quase 1 milhão de vidas no Oriente Médio, Iraque, Afeganistão, Líbano. Sem falar dos exemplos claros da América Latina.

     

    Agência Brasil:O mundo está mais próximo de uma guerra nuclear, após a recente suspensão do acordo com os EUA?

    Labetskiy:Estou convicto de que o mundo não está mais próximo de um conflito nuclear. Os jogos políticos dos ocidentais estão especulando isso, mas a realidade concreta é que eles querem conservar sua supremacia, o que não vamos permitir. Quem rompeu a estabilidade estratégica mundial foram os EUA, que saíram do acordo dos mísseis de pequeno e médio alcances.

    Agora, os EUA forneceram para a Ucrânia dezenas de bilhões de dólares em armamento. Ao mesmo tempo, dizem que vão manter a estabilidade estratégica e o programa de verificação de objetos russos. Isso é uma tolice completa. Como vamos deixar os americanos acessarem os objetos estratégicos russos, quando eles fornecem, para os ucranianos, informações sobre o deslocamento das nossas forças, obtidas do cosmo [satélites]? Com as sanções, eles não nos permitem verificar seus objetos estratégicos. Isso é dois pesos, duas medidas. Foi por isso que suspendemos nossa participação no acordo. Sem falar que há dois países europeus com armamentos nucleares: França e Inglaterra. Eles também devem prestar contas.

     

    Agência Brasil:O senhor está falando de um aumento de escalada e, ao mesmo tempo, fala que o risco de guerra nuclear não está maior. Como isso é possível?

    Labetskiy:Simplesmente porque estou convencido de que os políticos americanos compreendem que o início de qualquer guerra nuclear significa o fim da civilização humana. Eu estudei na universidade nos finais dos anos 70 e no início dos 80, quando os enormes arsenais nucleares da Rússia e dos Estados Unidos permitiriam aniquilar mais de 10 vezes a vida no planeta.

    Não aceitamos que uma parte desse processo queira garantir supremacia para impor a sua vontade por interesses puramente econômicos, e não simplesmente políticos. O conflito ucraniano é muito vantajoso para a indústria militar dos Estados Unidos, bem como para a indústria de extração de gás do petróleo. Os EUA participaram da explosão do Nord Stream 2 [gasoduto que liga Rússia e Europa], e agora dominam o mercado de gás líquido na Europa, fornecendo seu gás que é duas vezes mais caro do que o russo.

    Além disso, o conflito militar vai exigir o rearmamento da Europa. A Europa oriental, por exemplo, forneceu armamentos de produção soviética para a Ucrânia. Esses armamentos serão substituídos por quais? Pelos produtos americanos e europeus. Essa guerra está matando a indústria europeia, impondo, ao continente, desequilíbrio econômico e energético. A Europa se tornou um jogador secundário em relação aos Estados Unidos.

    Eu, pessoalmente, acredito que a agressividade da política externa e econômica americana aumentou muito depois de eles obterem êxito na exploração do gás de xisto, garantindo autossuficiência em hidrocarbonetos. Depois disso, o que vemos são guerras quase inacabáveis no Oriente Médio, no Golfo Pérsico, no Iraque, e o aumento de pressão sobre o Irã. Esta é uma sequência direta da agressividade do capital que quer dominar tudo.

    E como podemos falar de liberdade dos estados europeus? Eles têm 60 mil americanos que lá garantem, como eles dizem, a defesa. Para nós, este é um novo tipo de colonialismo moderno, a partir de todas regiões onde ficam as bases militares norte-americanas.

    O Ramstein [a maior base militar dos EUA na Europa, localizada na Alemanha, de onde partem missões com drones] se tornou um ‘símbolo’ de assistência à Ucrânia, e do neocolonialismo moderno porque, sem ele, a Alemanha seria outra. Isso é uma opinião pessoal.

     

    Agência Brasil:Qual a proposta efetiva da Rússia para resolver a situação?

    Labetskiy:A nossa proposta foi bem clara e declarada várias vezes: desnazificação e desmilitarização do Estado ucraniano.

     

    Agência Brasil:Como está a economia russa em meio a todo esse contexto de sanções? A Rússia estava preparada para aguentar esse impacto econômico?

    Labetskiy:Para entender como a Rússia reagiu ao impacto econômico das sanções ilegítimas empreendidas por Washington e pela Europa, devemos dar uma olhada para a nossa história. A Rússia, infelizmente, não teve apenas experiências positivas na Europa. Tivemos também duas invasões destrutivas. Uma, no século XIX, foi a de Napoleão. A outra, no século XX, foi a invasão alemã, hitleriana, fascista. Elas nos ensinaram muito. E a história conturbada da Rússia no século passado, quando havia guerras civis, nos ensinou que, para garantir a sobrevivência, nós devemos ser capazes de garantir três coisas: as exigências e necessidades básicas da população; a economia; e, o principal, a defesa.

    Apesar de todos os problemas, temos indústrias capazes. Temos também nossa identidade. A invasão napoleônica não foi apenas dos franceses. Foi de todas nações europeias que estavam no exército de Napoleão. Essa invasão está simbolizada na consciência coletiva dos russos como o ‘grande incêndio de Moscou de 1812’, que queimou quase totalmente a cidade.

    Nunca vamos esquecer de que o Napoleão queria explodir o Kremilin, e não o fez por causa das condições climáticas. E nunca vamos esquecer que quando entramos em Paris, em 1815, nós não queimamos nada. Nunca vamos esquecer que jamais um general russo que combateu contra os franceses recebeu título de príncipe de Paris, a exemplo do que aconteceu na França, que consagrou um de seus marechais como príncipe de Moscou.

     

    Agência Brasil:Nesse contexto de garantir necessidades básicas e defesa em situações de conflito, qual é o peso do Porto de Sebastopol e da Crimeia?

    Labetskiy:O porto tem importância simbólica para os povos do meu país. Primeiro, do ponto de vista de identidade russa. A primeira guerra da Crimeia, no século XIX, foi contra britânicos, franceses, turcos e o Reino de Sardenha. Nós perdemos a guerra, mas fizemos uma defesa heroica, conforme descrita pelo posteriormente muito conhecido escritor russo Liev Tolstói, que nessa guerra foi tenente de artilharia.

    Já o Porto de Sebastopol sempre foi um porto central da base naval da frota imperial, da frota soviética e da frota russa. A Crimeia, em si, foi povoada pelos russos depois da entrada para o império, mas ela é multinacional, com tártaros, russos e ucranianos. Mas teve o referendo, que votou pela volta desse território para a composição da Federação da Rússia.

    Este território tem importância do ponto de vista histórico, cultural e de identidade. E também da agricultura e da diversidade, porque a única zona subtropical da federação é a Crimeia. Não temos outros territórios desses.

     

    Agência Brasil:E o lado oposto das sanções? O que os senhores têm de informações sobre a situação da Europa por não ter à disposição o gás Russo?

    Labetskiy:A quantidade de energia no mundo moderno é uma constante. Se hoje alguém não compra gás da Europa, mas dos EUA, outros deixam de comprar a gás dos EUA e começam a comprar gás da Rússia, porque toda produção depende de capacidade, disponibilidade e investimento. Nosso gás é bom. Não se pode dividir gás entre democrático e não democrático. Gás é gás. É necessidade diária.

    Então, se a Europa quer pagar o dobro ou o triplo pelo gás norte-americano, o problema é dos europeus. Nós vamos vender o nosso para os países asiáticos, africanos e latino-americanos. O que nos preocupa é que, para garantir a venda de gás para a Europa, os americanos atuaram para a explosão do gasoduto de Nord Stream.

     

    Agência Brasil:Retomando o tema economia, como a questão da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentável influenciarão a Rússia daqui para frente?

    Labetskiy: Efetivamente, a questão da ecologia é muito importante para a Rússia. Somos um dos maiores países em território e estamos interessados em manter o equilíbrio ecológico porque temos problemas ligados a isso na parte europeia. Quando falamos do potencial e da necessidade de conservação das florestas tropicais, nós também estamos dizendo que outras grandes florestas, como as do território russo, também constituem uma parte importante dos pulmões do nosso planeta.

    Estamos abertos a colaborar neste caminho. O que nós não podemos aceitar são situações em que tecnologias ecológicas são impostas pela vontade alheia. Os europeus estão preocupados com as florestas hoje por uma única razão: a única floresta existente na Europa é a Floresta Negra [localizada na Alemanha]. Todas as outras foram cortadas. Como as nações que cortaram suas florestas poderiam ensinar comportamento às outras nações que continuam com as suas?

     

    Agência Brasil:Nesse sentido, já dá para antever algumas parcerias com Brasil, com relação a economia sustentável e energia verde?

    Labetskiy:Penso que estamos no início deste trabalho, e os problemas que enfrentamos genericamente são os mesmos. Mas em termos tecnológicos somos muito diferentes. Não temos, na Rússia, florestas tropicais por definição, porque não temos trópicos. Os problemas que enfrentamos é tratamento de lixos, resíduos e florestas. É o mesmo, mas tecnologicamente, é um pouco diferente.

     

    Agência Brasil:Ampliando um pouco mais esse leque, o que a eleição do presidente Lula mudou, no que se refere às relações entre Brasil e Rússia?

    Labetskiy:Eu gostaria de dizer que, nos últimos anos, nossas relações com o Brasil sempre foram de parcerias estratégicas. Estamos interessados em manter isso e respeitamos a vontade e a escolha do povo brasileiro porque não tentamos ensinar ou impor nossas ideias a países com quem mantemos esse tipo de parcerias.

    Tivemos muito boas relações com os primeiros governos do presidente Lula. Lembro bem porque comecei a trabalhar no Brasil em 2003, e isso foi até 2010, quando terminou minha primeira missão no país. Efetivamente, estamos compreendendo os objetivos postos pelo atual governo perante o país. Oxalá que seja com brios de desenvolvimento. O Brasil está evoluindo.

    Confesso que na minha segunda missão, que começou em 2021, encontrei um país um pouco diferente. Esse país é uma superpotência agrícola e agroindustrial que conseguiu investir na agroindústria. Conseguiu aproveitar terras; criar tecnologias, novas culturas genéticas. Tudo foi criado pelo povo, pelos especialistas e pelos capitais brasileiros.

    O Brasil é o país do presente. E países do presente que se movimentam como o Brasil sempre têm perspectivas brilhantes para o futuro. Todos países têm futuro, se levam políticas social e econômica responsáveis.

     

    Agência Brasil:O presidente Lula declarou que trabalhará para construir um caminho para pacificação do atual cenário. Ele inclusive propôs a criação de um grupo para mediar a paz entre Rússia e Ucrânia. O senhor acredita que, de fato, o presidente Lula poderá contribuir para o restabelecimento da paz na Europa?

    Labetskiy:Nós respeitamos as posições brasileiras em todas as questões ligadas a situação internacional e à governança global. Nós vemos que o interesse do Brasil é de dar solução aos problemas que foram criados no mundo unipolar. Por isso nós seguimos com muita atenção todas as iniciativas avançadas pela parte brasileira.

     

    Agência Brasil:Sobre a proposta de criação desse grupo, quais seriam as condições ou sugestões da Rússia para ele?

    Labetskiy:Primeiro nós devemos trabalhar. Depois vamos ver. A diplomacia é uma atividade que nem sempre é aberta ao público. Ela necessita de falas e compreensões muito específicas, mas também muito concretas.

     

    Agência Brasil:Qual mensagem a Rússia gostaria de enviar, não a governos, mas às pessoas que buscam entender o que, de fato, está por trás do atual conflito na Europa?

    Labetskiy:A mensagem para o brasileiro é muito simples: tentem compreender as coisas de ponto de vista da sua vida; dos seus valores; da necessidade de defender a sua identidade, o seu modo de viver e o seu modo de pensar. Tentem entender isso, baseando-se no princípio de que a tarefa principal é garantir o presente e o futuro das gerações. Tentem entender que nós gostaríamos de ter diálogo com todos que nos respeitam e que levem em consideração as nossas preocupações. Nunca devemos ser subjugados ou desprezados por aqueles que querem ganhar a sua vida a nosso custo.

    Para os que querem compreender o que acontece na Ucrânia e qual pode ser a solução desta situação, eu aconselho ler uma obra histórica da literatura russo-ucraniana que é Tarás Bulba, de Nikolai Gógol. Ele descreveu o conflito na Ucrânia há dois séculos. Para mim, a solução está descrita nesse livro.

     

    Agência Brasil:O que o livro descreve?

    Labetskiy:Para mim a frase central de todo o livro [que aborda o conflito dentro de uma família que vivia nas terras ucranianas em meio a combates que resultam nas mortes de pai e de filho] é: “veja, meu filho, ajudaram a ti esses estrangeiros? Para dar a solução, é necessário ter o caminho próprio”.

     

    Agência Brasil:Sobre as acusações feitas com relação a supostas violações de direitos humanos tanto na Crimeia como no leste da Ucrânia, o que o governo russo tem a dizer para os brasileiros?

    Labetskiy:Por que ninguém reagiu às violações dos direitos humanos dos ucranianos-russos que habitam Lugansk e Donetsk, que durante oito anos viviam na guerra? Que tipo de violações de direitos pode ser apontada quando quase 3 milhões de ucranianos tiveram de se abrigar no território da Federação Russa [na busca por proteção]? Isso pode ser verificado pelas estatísticas da ONU [Organização das Nações Unidas]. Quais são esses direitos que foram violados indica? Eu vou responder ponto a ponto.

     

    Agência Brasil:Os pontos foram largamente apresentados pela mídia.

    Labetskiy:Com todo respeito a seu trabalho, eu vejo que uma grande parte da mídia chamada ocidental emite notícias em função das encomendas políticas. É uma coisa simples como a história. Os que pagam mandam na melodia. Esse problema [da manipulação de notícias] é global e deve ser resolvido por cada um, fazendo a sua escolha na vida. Uns se subordinam, e outros começam a pensar. Para começar a pensar é necessário estudar. Há bilhões de fontes que podem ser usadas para se ter a opinião própria sobre os assuntos.

    Fake newspodem ser criadas até mesmo pelo próprio fato de não se mencionar alguma coisa. É o que estamos vendo no conflito ucraniano. Todos dizem “olha a Ucrânia”, mas ninguém está dizendo que os batalhões de Aidar [destacamento voluntário de defesa territorial da Ucrânia, subordinado ao Ministério da Defesa] e Azov [milicia paramilitar] utilizam símbolos nazistas. Ninguém está dizendo que, para criar essa geração de nacionalistas e fascista, foram oito anos de investimentos.

    Ninguém está lembrado de quantas vidas humanas foram ceifadas durante a invasão norte-americana no Iraque, que foi baseada em uma mentira pública. Foram 400 mil ou mais vidas ceifadas. E o país foi queimado.

     

    Agência Brasil:Do ponto de vista da Rússia, quais são os próximos desafios e prioridades do Brics? É possível fortalecer o bloco em um contexto como atual?

    Labetskiy:Eu estou mais do que convencido de que o Brics é mais do que uma entidade. É uma estrutura; uma fórmula que mostrou a sua validade durante todos seus anos de existência. Nós reconhecemos que o papel do Brasil e de seus dirigentes na formação do Brics foi muito grande, incluindo o papel do presidente Lula. E reconhecemos que os cinco países têm agora seu peso econômico e civilizacional no mundo atual, porque cada um deles tem identidade fortíssima. Essa fórmula, o Brics, é um instrumento válido de governança global. Isso é inegável porque conseguimos encontrar as soluções, apesar das diferenças, e andar para frente.

    Alargamos cooperações para todas as áreas. Na área econômica, temos o banco de desenvolvimento; na área política, os encontros dos chefes do Estado, dos ministros estrangeiros, e das equipes. Também na área econômica tem a ativação de contatos empresariais. As cooperações abrangem todos os domínios: medicina, desenvolvimento, cultura.

     

    Agência Brasil:Houve oposição de instituições similares à criação, pelo Brics, de um banco de desenvolvimento concorrente?

    Labetskiy:O Banco do Brics foi inicialmente criado para financiar projetos dos países do Brics. Agora há um processo de alargamento e de aumento da composição dos acionistas do banco. Estamos observando uma movimentação de países não membros que querem entrar no grupo, em várias modalidades. Isso deve ser estudado, acordado e promovido com o consenso dos membros atuais.

     

    Agência Brasil:O fato de os próprios países integrantes do Brics terem essa alternativa não representa ameaça de diminuição de lucro de outras entidades financeiras?

    Labetskiy:É difícil de compreender isso, de defenderem apenas um banco para não sei o quê. Imagina o Brasil com um banco apenas, o que seria do país? Na minha opinião, a economia válida se baseia na concorrência. Quem trabalha melhor; quem compreender melhor; ou tem os melhores quadros sobrevive e ganha bem. Na história da União Soviética houve um período quando a concorrência não existia. Foi a economia dirigida, e o efeito não foi bom. O Estado tem papel importantíssimo em todos os aspetos da vida. Mas o Estado é incapaz de determinar quantas agulhas de costura devem ser produzidos no país.

     

    Agência Brasil:Qual a posição da Rússia sobre a ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff assumir a presidência do banco do Brics?

    Labetskiy:Nós ouvimos e trabalhamos nesta iniciativa que foi avançada pelo Brasil e conhecemos muito bem a presidente Dilma. Conhecemos muito bem e trabalhamos muito com ela durante seu governo. Mas a decisão é da parte brasileira. E a presidência do banco agora é brasileira. Tudo dependerá de como esse processo vai andar.

     

    Agência Brasil:Mas o nome dela agrada?

    Labetskiy:Eu sou contra esses termos de ‘agrada ou não agrada’. Isso não é carnaval, e sim um trabalho diário. Nós conhecemos muito bem e, como eu disse, de maneira positiva a ex-presidente. A decisão da parte brasileira será estudada de maneira muito positiva.

     

     

    Fonte: Agência Brasil

  • Lula reforça sugestão de grupo para negociar fim da guerra na Ucrânia

    Lula reforça sugestão de grupo para negociar fim da guerra na Ucrânia

    Na data em que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia completa um ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se posicionou nas redes sociais, na manhã desta sexta-feira (24). Por meio de sua conta no Twitter, o presidente voltou a defender a negociação para cessar o conflito, que já matou milhares de pessoas, destruiu cidades ucranianas, desalojou milhões de cidadãos do país invadido e tem causado preocupação mundial pelos efeitos sócio-econômicos.

    No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz.

    — Lula (@LulaOficial) February 24, 2023

    Desde o início do governo, Lula adotou a posição de condenação à guerra e defende a criação de um grupo, formado por países não envolvidos no confronto, para mediar uma saída pacífica para o conflito.

    Na véspera da guerra completar um ano, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, declarou à agência de notícias russa Tass  que o governo russo analisa as propostas brasileiras para pôr fim à guerra. O vice-chanceler russo ainda ressaltou o fato de o Brasil não fornecer armas e munições à Ucrânia, o que teria colocado o Brasil na posição de mediador em potencial da questão.

    Nessa quinta-feira (23), o Brasil votou na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) a favor de pedido de retirada russa do solo ucraniano. O Brasil acompanhou outros 140 países pela aprovação desta nova resolução que pede o fim da guerra na Ucrânia . O texto foi rejeitado por outros 32 países e sete se abstiveram. O Brasil foi o único país dos Brics – bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – a votar favoravelmente na resolução pelo fim do conflito.

    Para entender o contexto em que se iniciou a invasão russa e analisar o atual momento da guerra, acesse reportagem especial .

    Fonte: Agência Brasil

  • Com milhares de mortos e refugiados, guerra na Ucrânia completa um ano

    Com milhares de mortos e refugiados, guerra na Ucrânia completa um ano

    Rússia e Ucrânia completam nesta sexta-feira (24) um ano de conflito. Milhares de vidas foram ceifadas, milhões de pessoas tiveram de deixar suas casas para tentar a vida em outros países e milhões de crianças abandonaram as escolas. Verdades e mentiras são espalhadas não apenas pela internet, mas também por fontes oficiais.

    Para se ter uma ideia do desencontro de informações, o número de mortos varia, dependendo da fonte, de cerca de 7 mil, segundo a Organização das  Nações Unidas (ONU), a mais de 300 mil, de acordo com fontes militares consultadas por mídias europeias.

    Em meio a todo esse cenário de dúvidas e incertezas, aAgência Brasilbuscou com especialistas e intelectuais referências que possibilitem aos leitores entender o que está, de fato, por trás do conflito.

    Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Goulart Menezes explica que o embate vai muito além de duas nações, o que de certa forma lembra a antiga Guerra Fria, na qual os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética se enfrentavam indiretamente, na busca por ampliar áreas de influência em diferentes regiões do planeta.

    “Podemos denominar o conflito como uma guerra por procuração, após a Rússia ter violado a soberania territorial e o direito internacional, quando invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022”, diz o professor. Segundo ele, ao enfrentar a Ucrânia, a Rússia tem um embate “contra a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e contra a principal liderança do grupo: os Estados Unidos, embora não estejam diretamente atuando no conflito”.

    “O que está acontecendo, na realidade, não é guerra da Ucrânia. É guerra na Ucrânia. É uma guerra do Ocidente contra a Rússia”, afirma o diretor do Instituto de Politicas Públicas e Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), professor Hector Luis Saint-Pierre.

    Temores

    Para os especialistas, a situação atual se deve, entre outros fatores, ao temor de avanço da Otan nos países próximos à fronteira com a Rússia, bem como ao receio de avanço de tropas russas em territórios de países vizinhos.

    Foto: Reprodução/Agência Brasil
    Foto: Reprodução/Agência Brasil

    “O ponto inicial foi de expansão da Otan em direção às fronteiras da Rússia. Durante o governo de George Bush, entre 2001 e 2009, os EUA vinham desenvolvendo, por meio da Otan, uma espécie de escudo espacial para tentar neutralizar boa parte dos armamentos da Rússia que pudessem ser utilizados contra países europeus”, afirma Menezes.

    A hostilidade, lembra o professor, só cresceu nos últimos 20 anos. “A Rússia até chegou a ter uma parceria especial com a Otan”, mas a situação mudou, sobretudo a partir de 2014, quando invadiu e anexou a Crimeia.

    Menezes lembra ainda que o argumento reiteradamente utilizado pelo presidente russo, Vladimir Putin, foi de que, com a expansão da Otan em direção aos países do antigo Leste Europeu, a Ucrânia estava prestes a se tornar membro permanente do grupo liderado pelos EUA.

    “Só que a Rússia considera que a Ucrânia na Otan significa a Otan em fronteiras russas, o que inclui o temor de nuclearização do território ucraniano”, completou o professor da UnB.

    Para ele, o fato é que a Rússia invadiu a Ucrânia e não esperava a reação do país e o apoio da opinião pública que está recebendo, além do apoio militar. Desde então, as relações entre Otan/EUA e Rússia tem degringolado cada vez mais”, acrescentou ao classificar a Rússia como “agressora”.

    Presidente deposto

    Na avaliação do diretor da Unesp, Saint-Pierre, um fator relevante para a situação atual foi o fato de a Ucrânia ter sofrido um golpe de Estado em 2014, após a destituição do presidente eleito Viktor Yanukovych, em meio aos violentos protestos da chamada “Revolução da Dignidade”, iniciada na capital Kiev.

    O presidente deposto refugiou-se na Rússia, em meio à acusações de ser responsável pela morte de manifestantes. Foi então instalado um governo interino, com o apoio de grupos de direita. Nas eleições seguintes, em maio de 2014, foi eleito Petro Poroshenko, um político favorável à aproximação da Ucrânia com o Ocidente.

    Foto: Reprodução/Agência Brasil
    Foto: Reprodução/Agência Brasil

    “O golpe de 2014 foi contra um governante eleito que não pretendia entrar na Otan. Por isso, foi golpeado e destituído. A partir daí, foi montada uma estrutura de avanço contra toda cultura russa, na Ucrânia e a na Crimeia, onde está boa parte da base naval russa”, argumentou.

    Segundo Saint-Pierre, esse “golpe de Estado” teve o apoio financeiro dos Estados Unidos, “conforme declarado, inclusive, por parlamentares no próprio Congresso norte-americano”. O apoio financeiro acabou por “armar até grupos neofascistas, além de financiar laboratórios de guerra biológica”.

    De acordo com Menezes, há, de fato, desde a independência da Ucrânia, a atuação de grupos neonazistas no país. “O Regimento Azov [milicia paramilitar] sempre foi controverso, pois foi fundado por ultranacionalistas e neonazistas ucranianos e atua na Região Leste do país. Mas isso é diferente de afirmar que toda a Ucrânia é fascista ou neonazista, como às vezes dizem os que tentam justificar a agressão”.

    Risco nuclear

    “O fato é que com sua independência, em 1991, a Ucrânia era o terceiro país no mundo em número de ogivas nucleares, com cerca de 1,9 mil dessas armas. Um acordo em 1994, envolvendo países europeus e os EUA, acabou resultando na transferência das ogivas à Rússia, com a concordância da própria Ucrânia, temendo um acidente nuclear ou mesmo a utilização ilegal desses armamentos por parte de grupos que não fossem do Estado ucraniano”, acrescentou Menezes.

    O processo de negociação para a transferência das ogivas incluía garantias de que os limites fronteiriços seriam respeitados. Tratados foram assinados garantindo, de um lado, o respeito às fronteiras e, de outro, o não avanço da Otan nos países do Leste Europeu.

    “Naquele momento, o que Putin exigia era plausível, que era o reconhecimento dos pactos tratados. No entanto, a própria Angela Merkel [então chanceler da Alemanha] reconheceu que nunca pensaram em cumprir os pactos, e que eles eram para dar tempo de a Ucrânia se armar e se preparar para criar uma resistência”, detalha Saint-Pierre.

    O país então surpreendeu ao eleger presidente, em 2019, umoutsider do mundo político: Volodimir Zelensky, um comediante que usava os próprios personagens durante a campanha eleitoral.

    Foto: Reprodução/Agência Brasil
    Foto: Reprodução/Agência Brasil

    O então candidato adotou discursos antissistema, em uma campanha basicamente virtual, por meio de redes sociais. A liderança nas pesquisas de opinião e a eleição foram possíveis graças à rejeição da população a políticos tradicionais do país.

    Crimeia

    Tanto a Rússia quanto a Ucrânia reivindicavam a região da Crimeia, considerada estratégica pelo seu posicionamento geográfico. A disputa pelo território acentuou ainda mais a crise que já vinha crescendo entre os dois países.

    “Os dois países faziam parte da União Soviética, que foi dissolvida em 1991. Antes disso, em 1956, o então presidente da União Soviética era ucraniano: Nikita Krushev, que, na época, cedeu o território da Crimeia para a Ucrânia”, explica Menezes.

    Do ponto de vista russo, no entanto, a Crimeia teria muito mais vínculos históricos com a Rússia do que com a Ucrânia.

    Em março de 2014, o Parlamento da Crimeia aprovou a entrada do país na Federação Russa – decisão que posteriormente foi aprovada pela população local, em referendo cujo resultado sofreu contestações devido a uma suposta “falta de monitoramento por terceiros”. Mesmo diante de questionamentos, a Crimeia oficializou pedido de adesão à Rússia.

    Foto: Reprodução/Agência Brasil
    Foto: Reprodução/Agência Brasil

    Nesse contexto, o presidente deposto e exilado Yanukovych solicitou à Rússia que usasse forças militares para ajudar o povo ucraniano a “estabelecer a legitimidade, a paz, a lei e a ordem”. Putin, então, obteve, no Parlamento, autorização para assumir o controle da Crimeia.

    Sebastopol

    O interesse pela região envolve, em especial, o controle do Porto de Sebastopol, que além de valor histórico e turístico, tem localização estratégica, uma vez que é a principal base para a frota russa no Mar Negro, possibilitando acesso direto ao Mediterrâneo.

    O porto é bastante utilizado para o transporte de gás natural, bem como para o escoamento de produção, em especial de “recursos minerais metálicos, energéticos e grãos”, disse Menezes.

    “Se somarmos a incorporação da Ucrânia aos territórios de Donetsk, Donbass [no Leste ucraniano] e de outras áreas coladas a essas províncias, já temos cerca de um quinto do território ucraniano tomado à força pela Rússia”, acrescenta o professor.

    Economia

    Professor de Relações Internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Ricardo Caichiolo explica que o conflito entre Rússia e Ucrânia resultou em “modificação significativa no cenário geopolítico mundial”, o que, segundo ele, acabou por se refletir, também de forma significativa, na economia mundial, “com aumento dos preços de forma generalizada”.

    “Praticamente o mundo inteiro passa por um processo inflacionário em suas economias internas, com aumentos nos preços de alimentos e do petróleo”, disse. “E a questão energética está muito sensível, principalmente na Europa, que ainda passa por um inverno, com problemas no fornecimento de gás que vinha da Rússia”, afirmou, referindo-se ao corte no fornecimento de gás russo para a Europa.

    Brasil

    O Brasil também sentiu os efeitos da guerra em sua economia. “Obviamente fomos e continuamos impactados pelo conflito”, diz Caichiolo.

    “Houve aumento da inflação e, então, medidas foram tomadas, comoo  aumento significativo da taxa de juros, o que causa impacto negativo no aumento da produção e no desenvolvimento das atividades econômicas dentro do país”.

    “Em termos geopolíticos, o Brasil, ao longo do governo anterior [o de Jair Bolsonaro], se manteve com discurso relativamente neutro e, em alguns momentos, sinalizando apoio à Rússia para a garantia de envio de fertilizantes”, acrescentou, referindo-se à movimentação do então presidente em favor do interesse do agronegócio brasileiro.

    Na opinião de Roberto Menezes, da UnB, “o Brasil não é neutro nesse conflito”. “O então presidente Jair Bolsonaro inclusive tomou o lado do mais forte, que é o da Rússia. Fomos muito comedidos quando era para condenar a invasão do território ucraniano. Tanto é que Bolsonaro não esteve na Ucrânia. Ele poderia ter saído da Rússia e ido à Ucrânia naquele momento em que a guerra não havia começado ainda. Mas preferiu sair de Moscou e foi direto à Hungria encontrar-se com seu aliado da extrema direita, Viktor Orbán”.

    Governo Lula

    Já o governo Lula, segundo Menezes, adotou posição de condenação do conflito, mas mantendo “equidistância, exatamente para defender [a instituição de] um clube da paz”. Lula tem defendido publicamente a criação de um grupo, formado por países não envolvidos na guerra, para mediar uma saída pacífica para o conflito.

    “O que ele está defendendo não é um voluntarismo do Brasil, mas que a diplomacia volte ao primeiro plano nesse conflito. E que, pela via diplomática, envolvendo países como Índia, Turquia, México, Indonésia e China, tenhamos pelo menos a possibilidade de abrir uma mesa de negociação entre Rússia e Ucrânia”, afirmou.

    Menezes diz acreditar que o Brasil possa, de fato, ter um papel que vá além de mediador, “podendo contribuir, enquanto potência média, para, pelo menos, tentar equalizar alguns pontos, tanto da Rússia quanto da Ucrânia”, com a ajuda do grupo.

    Ele lembrou que o Brasil optou por não enviar armamentos. “Isso mostra a posição do país, até este momento diplomático, de reiterar aquilo que fez em 1991 na Guerra do Golfo, quando o então presidente Fernando Collor manifestou posição contrária à guerra. Em 2003, na Guerra do Iraque, e agora, no atual conflito, Lula adotou a mesma posição”, complementou.

    *Colaborou Lucas Pordeus Leon – Repórter da Rádio Nacional

    Fonte: Agência Brasil

  • Assembleia Geral da ONU aprova nova resolução pelo fim da guerra

    Assembleia Geral da ONU aprova nova resolução pelo fim da guerra

    A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou hoje (23) uma nova resolução pedindo o fim da guerra na Ucrânia. O texto foi aprovado por 141 votos. Outros 32 países votaram contra a resolução e sete se abstiveram. O Brasil foi o único país dos Brics (bloco econômico composto também por Rússia, China, Índia e África do Sul) a votar favorável. A aprovação ocorreu na véspera do conflito completar um ano.

    A resolução, como um todo, pede o fim da guerra, o respeito à soberania ucraniana, à integridade física de civis e às convenções internacionais relativas ao tratamento de prisioneiros de guerra. O texto também conclama às duas partes e à comunidade internacional que busquem formas de mediar a paz. O documento ressalta que o fim da guerra fortaleceria a paz e segurança internacionais.

    O texto também aponta os efeitos da guerra na segurança alimentar, energética e nuclear, pedindo uma solução imediata em conformidade com os princípios previstos na Carta da ONU, o tratado que estabeleceu as Nações Unidas. Além disso, enfatizou a necessidade dos responsáveis por crimes de guerra enfrentarem processos internacionais.

    Antes da votação da resolução, na abertura da sessão, o secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou os efeitos da guerra. Ele afirmou que 40% dos ucranianos precisam de ajuda humanitária e que a disputa já deixou 8 mil mortos. O documento não tem força legal, apenas um peso político.

    A Rússia fez críticas à postura dos países ocidentais. Para os russos, a crise está sendo estimulada pelo ocidente que, na visão deles, tem conduzido uma “guerra híbrida” que desencadeou em uma crise alimentar. Na visão de Moscou, a resolução aprovada não ajudará a encerrar o conflito. Existe, segundo eles, uma “russofobia” crescente. A Rússia alega ainda que as sanções impostas ao país atingem mais duramente os países em desenvolvimento.

    The #UNGA 11th ESS (resumed) just adopted draft resolution A/ES-11/L.7 on Principles of the Charter of the #UN underlying a comprehensive, just & lasting peace in #Ukraine (by recorded vote: 141 in favour-7 against-32 abstentions)- FULL TEXT ???? https://t.co/cY7MpDcTt5 @UN_PGA pic.twitter.com/wCtq8719t5

    — UN Media Liaison (@UNMediaLiaison) February 23, 2023

    Brasil

    O Brasil tem procurado mostrar um posicionamento equilibrado diante do tema e evita tomar decisões que coloquem o país na guerra. A posição do governo brasileiro, por exemplo, é de não enviar munição para tanques do exército ucraniano. Na avaliação do presidente Lula, a medida seria entendida como uma participação do Brasil na guerra.

    O Brasil chegou a sugerir à ONU a inclusão de um parágrafo que pede o fim das hostilidades entre os dois países. O ministro das Relações Internacionais, Mauro Vieira, considerou essa postura importante no cenário internacional .

    A postura do Brasil está sendo bem vista pela Rússia, que vê o parceiro de Brics como um mediador em potencial . Para Moscou, a postura do Brasil é digna de respeito, por resistir aos apelos dos Estados Unidos para apoiar diretamente o exército ucraniano.

     

    Fonte: Agência Brasil

  • Governo russo analisa iniciativas do Brasil para o fim da guerra

    Governo russo analisa iniciativas do Brasil para o fim da guerra

    O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, afirmou que o país está analisando as iniciativas de paz do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a guerra na Ucrânia. O presidente brasileiro tem se movimentado no sentido de construir as bases de um acordo para o fim das hostilidades no Leste Europeu. O Brasil sugeriu à Organização das Nações Unidas (ONU) a inclusão de um trecho nesse sentido em uma resolução votada e aprovada hoje (23) na Assembleia Geral da entidade.

    “Nós tomamos nota das declarações do presidente do Brasil em relação a uma possível mediação para encontrar caminhos políticos para prevenir uma escalada de violência na Ucrânia, corrigindo erros de cálculo no campo da segurança internacional nas bases do multilateralismo e considerando os interesses de todos”, disse Galuzin à agência de notícias russa Tass. “Estamos examinando as iniciativas, principalmente do ponto de vista da política equilibrada do Brasil e, é claro, levando em consideração a situação ‘em campo’”, completou.

    Lula tem se posicionado contra tomar lado no conflito entre russos e ucranianos e, inclusive, se negou a enviar munição para tanques do exército ucraniano. Na avaliação do governo brasileiro, a medida seria entendida como uma participação do Brasil na guerra. Essa postura chamou a atenção da Rússia que passou a considerar o Brasil como um mediador em potencial.

    O vice-ministro russo destacou ainda a boa relação que tem com o país sul americano, com quem tem laços mais estreitos no G20 e no Brics, este último um bloco econômico composto, além dos dois países, apenas por China, Índia e África do Sul. Ao mesmo tempo, elogiou a postura considerada firme de Lula a não ceder aos apelos dos Estados Unidos para enviar munição aos ucranianos. “Estamos vendo como Washington está colocando pressão no Brasil. Tamanha postura de soberania merece respeito”.

    Fonte: Agência Brasil