Categoria: Opinião

  • A origem dos gaúchos e o “cacique general”

    A origem dos gaúchos e o “cacique general”

    A rigor, os gaúchos só aparecem como designação de nativos do Rio Grande do Sul com a Guerra do Paraguai (1864–1870). Bem antes, são os sertanistas do Paraná, ao marchar rumo ao Planalto Médio do Rio Grande do Sul, que dão forma à imagem futura do gaúcho tradicional, cristalizada em seu contato com o Uruguai.

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    Pelos campos do Sul paulista (o atual Paraná), alastravam-se as criações de animais e os líderes locais eram principalmente descendentes dos tropeiros, atividade já com um século de atividade. 

    Duas décadas antes do início da Guerra do Paraguai, em Palmas, cuja exploração havia sido recentemente iniciada, já estavam constituídas cerca de 40 fazendas de criação de animais. 

    Havia percalços, mas a conquista do Oeste avançava por ali, pela ação dos gaúchos de Guarapuava e Palmas. 

    Paranaenses na história do RS 

    O remoto interior rio-grandense foi integrado ao Brasil pelos paranaenses Bernardo Castanho da Rocha e Atanagildo Pinto Martins. 

    O primeiro se estabelece em 1811 no Pinheiro Torto. Martins parte em 1815 e se fixa em Cruz Alta, origem de Passo Fundo, Santa Maria e Santo Ângelo.

    A etapa final desse processo tem início em 16 de agosto de 1844, quando portaria do governo da Província de São Paulo incumbe o alferes Francisco Ferreira da Rocha Loures (1808–1871), nascido em São José dos Pinhais, de abrir uma picada para possibilitar a passagem pelos Campos de Nonoai até Cruz Alta e a partir dessa localidade rumo às Missões. 

    Ligaria assim em definitivo o interior do futuro Paraná à Província do Rio Grande do Sul.

    Importante assinalar que até 1853 a região nunca foi chamada como “Paraná”, nome que só veio para homenagear o maior líder político da época – Honório Carneiro Leão, o Marquês do Paraná.

    Ligação pelo Oeste 

    Francisco da Rocha Loures, o segundo dos sete filhos do comandante militar de Guarapuava, Antônio da Rocha Loures, e de Joana Maria de Jesus, irmã do padre Francisco das Chagas Lima, herdou o prenome do tio, o grande artífice da cidade de Guarapuava e defensor de tratamento humano para os índios. Francisco seguiu, porém, os passos do pai, militar.

    A estrada começará a se formar a partir de Palmas e passará pelos campos de Nonoai até atingir as Missões. 

    “Começa nessa data o fluxo de tropas de muares pelo caminho das Missões, em demanda de Sorocaba, e começa também o uso dos campos de Guarapuava e Palmas para a invernagem das mesmas, como o maior negócio de que dispunham os fazendeiros” (Edilane Lacheski, Guarapuava no Paraná: Discurso, Memória e Identidade [1950-2000]).

    A convocação a Francisco da Rocha Loures pelo governo paulista para construir a integração entre São Paulo e o Rio Grande do Sul logo vai se relacionar com o conflito entre as duas correntes empresariais-militares que disputam a hegemonia sobre a colonização no interior do Paraná.

    Poder militar indígena incomodava

    Ofício expedido por Domingos Ignácio de Araújo (1783–1851) ao governo de São Paulo, datado de 22 de maio de 1844, sustenta a versão de que o cacique Vitorino Condá e os índios de Palmas seriam responsáveis por assassinatos, ataques a áreas de colonização, raptos e saques.

    Os relatórios enviados ao governo se dividiam entre elogios ao papel bem-sucedido de algodão entre cristais desempenhado por Condá, pacificando a região, e as denúncias de crimes escassamente descritos e documentados. 

    A intenção dos adversários era impedir a formação de uma força militar indígena ao comando de Condá. As acusações, porém, não funcionaram por conta da parceria entre Condá e o comandante Hermógenes Carneiro Lobo Ferreira.

    A solução encontrada foi deslocar Vitorino Condá ao projeto de abrir a estrada rumo ao interior rio-grandense. 

    A trama contra Condá

    Condá deixaria de ser o comandante da força militar indígena, posição em que recuperaria a imagem de Guairacá (Lobo dos Campos e das Águas), cacique Guarani que confederou “dez povos poderosos” (Romário Martins) para defender as terras do Paraná dos invasores ibéricos.

    O exército de índios de Condá, ao contrário, iria se diluir nas forças regulares. Apesar de atacado pela segunda corrente de controladores de Palmas, sob as ordens de Pedro de Siqueira Côrtes e João da Silva Machado, o cacique manteria a marca do herói ao participar com sucesso da conquista pacífica do Sul.

    “A partir da documentação enviada, em maio [de 1844], para o presidente da Província de São Paulo, as condições de permanência de Condá na região de Palmas ficaram quase que insustentáveis” (Almir Antonio de Souza, A Invasão das Terras Kaingang nos Campos de Palmas). 

    Explica-se porque o cacique aceitou o convite de Rocha Loures para a tarefa de viabilizar o caminho Palmas-Cruz Alta-Missões.

    Para a história do Sul

    Foi assim que Vitorino Condá saiu da história do Paraná, onde não lhe permitiram ser o herói comandante de um exército de índios, para ter seu nome consagrado no processo de ocupação do Sul.

    Guiou com segurança os irmãos Francisco e João Cipriano da Rocha Loures desde a partida, ainda em Guarapuava, em 1845, para a longa jornada em que efetivamente alcançaram os Campos de Nonoai, atravessando o Rio Uruguai pelo passo de Goio-En, abrindo o desejado novo caminho para as Missões.

    No futuro, Francisco retornaria para se estabelecer na mesma Guarapuava iniciada por sua família. João Cipriano, já nascido em Guarapuava, optou por fixar residência no Rio Grande do Sul. 

    Condá, em 1847, será contratado pelo governo do Rio Grande do Sul para atuar nos aldeamentos da região. Jamais seria o “cacique general” que foi no Paraná, voltando à sua condição de guia e mateiro. 

    Política falha, crença se impõe

    Todo o Sudoeste (entre Palmas e os limites com o Rio Grande do Sul) tinha 37 fazendas de gado e uma população de 2 mil pessoas, menos ainda que a atual população de Iguatu. 

    Ansiosos para se livrar do controle paulista, os líderes políticos da região eram coagidos a não enfrentar São Paulo e se voltarem só ao fortalecimento de seus próprios negócios.

    Com o Império em crise e a elite paranaense silenciada, o povo desamparado se apegava a crenças religiosas que prometiam um futuro melhor. 

    O desapego material e a bondade dos chamados “monges”, que palmilhavam o interior mendigando em troca de serviços espirituais e socorro aos doentes, garantiram para os pregadores religiosos do sertão o carinho e aceitação do povo sofrido e abandonado pelas autoridades.

    Em meados do século XIX, quando o descontentamento dos paranaenses crescia, vindo do interior de São Paulo, passa pela primeira vez na região o monge italiano Giovanni Maria de Agostini (conhecido no Brasil como João Maria de Agostini e João Maria de Jesus).

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    Tropeiros em Cruz Alta, de onde se originaram as cidades gaúchas de Passo Fundo, Santa Maria e Santo Ângelo

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Segmentação de mercado: nichos para empreender

    Segmentação de mercado: nichos para empreender

    A partir da capacidade de criar, ou simplesmente de ter uma sacada de atender um nicho de mercado, é que surgem negócios especializados que eu costumo chamar de segmentação da segmentação.

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    Em geral, a segmentação responde à pergunta: quem é o seu cliente? 

    A resposta deve apontar características, preferências, necessidades e interesses comuns de determinados grupos de pessoas, que serão o público-consumidor de seus produtos ou serviços.

    Já quando se pretende afunilar o segmento é preciso ir além da pergunta inicial, indagar-se: de que ele (público) precisa e que talvez não esteja sendo completamente atendido?

    É nessa reflexão que mora o “pulo do gato”. Com mais uma pitada de visão sobre tendências de consumo, ousadia e criatividade, surgem negócios extremamente especializados.

    Falando em gatos… Podemos citar como exemplo as especialidades médico-veterinárias como ortopedia, odontologia, dermatologia, cardiologia, fisioterapia. Hoje os bichinhos de estimação podem fazer acupuntura, ofurô e até mesmo se tornar doadores de sangue e ajudar a salvar vidas. (Que fofos!)

    Uma novidade recente aqui em Cascavel é a Academia para Bebês. Claro que eles não puxam ferro, gente! Mas vejam que ideia bacana: é um centro de psicomotricidade e atividades multissensoriais para crianças entre 2 meses e 5 anos. As aulas servem para aprimorar o potencial cognitivo, sensorial, afetivo, psicomotor e social dos alunos, usando atividades lúdicas.

    Já no setor do agronegócio, por exemplo, existem empresas de marketing especializado no assunto e há também aulas de inglês exclusivamente agro, em que você aprende vocabulário e expressões sobre manejos agrícolas, pragas e doenças, etc. Tais como adubação a lanço, helicoverpa armígera, espaçamento entrelinhas e muitos outros termos específicos do mundo agro. Achei essa ideia incrível!

    Você acessaria um blog ou site que aborda notícias, pesquisas e artigos somente sobre fertilizantes? Pois é, existe. É a segmentação da segmentação.

    O mundo dos negócios e do empreendedorismo não deve ser subestimado, pois muitas vezes ele pode nos surpreender. 

    A marca de adubos orgânicos para hortas e jardins chamada “Bosta em lata” hoje é vendida em grandes e-commerces do país, como no Magazine Luiza. Parecia um negócio improvável, mas que deu certo.

    Quantos brechós de roupas você conhece? Uma empresa que começou simplesmente como um blog de brechó virtual se chama “Enjoei”. Hoje ela é uma empresa de capital aberto na Bolsa de Valores brasileira, atuando como comércio eletrônico colaborativo. Essa empresa arrecadou R$ 1,13 bilhão quando realizou a sua Oferta Pública Inicial de ações (IPO, em inglês). Surpreendente, não?

    Portanto, a capacidade de observação, feeling, ter insights e, além disso, iniciativa, pode levar longe qualquer ideia que surja para atender um público que tem necessidades específicas. Viu a necessidade, atenda! Então não duvide, ouse!

    Sucesso a todos!

    *Carina Walker é jornalista e investidora

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Joaquim Torres, o “pai” do Oeste

    Joaquim Torres, o “pai” do Oeste

    A Revolução Liberal começa em Sorocaba (SP) em 17 de maio de 1842 e em 10 de julho triunfa em Barbacena (MG). Se os liberais radicais do Sul cruzassem o Paraná, logo tomariam conta do Brasil. 

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    Sob o comando seguro do Barão de Caxias, as tropas imperiais derrotaram os liberais em 20 de agosto na Batalha de Santa Luzia (MG). Eles ainda resistiram por algum tempo em São Paulo, mas o apoio que poderia vir do Sul jamais chegou.

    O eixo da ofensiva conservadora nos momentos que antecederam à revolução liberal foi “dificultar a aquisição de terras […] pois a proliferação das doações de terra tem contribuído, mais que outras causas, na dificuldade que hoje se sente para obter trabalhadores livres”.

    Era o que afirmavam em 8 de agosto de 1842 os lobistas conservadores Bernardo de Vasconcelos e José Cesário de Miranda Ribeiro em diagnóstico sobre a escassez de mão de obra.

    Vasconcelos, um ex-liberal, virou um ardente defensor da escravidão. Miranda Ribeiro, jurista e parlamentar, chegou a governar São Paulo.

    Regra cruel

    A manobra de não distribuir terras definiu o princípio vencedor nos embates políticos até 1850: para garantir mão de obra aos fazendeiros nobres ligados ao governo, as terras não poderiam mais ser ocupadas pelos necessitados (índios e ex-escravos) e requerentes (imigrantes) – o acesso deveria se dar somente pela compra, sem exceção, a preços inflados.

    “Ao aumentar assim o valor das terras e dificultar em consequência sua aquisição, é de se esperar que o imigrante pobre alugue seu trabalho efetivamente por algum tempo antes de ganhar meios de se fazer proprietário”, sugeriam Vasconcelos e José Cesário.  

    Assim, para que o interessado em possuir terras pudesse ter recursos para a aquisição, teria que trabalhar vários anos para os grandes latifundiários beneficiados pelo Reino de Portugal e pelo Império. 

    Para os índios, tarefa impossível. Para os ex-escravos, muito difícil. Essa crueldade está na raiz do atraso brasileiro.

    Com Leão, Torres

    Ao nomear Honório Hermeto Carneiro Leão em 20 de janeiro de 1843 para chefiar o novo gabinete ministerial do Império, Pedro II começava a definir o nome do futuro Paraná.

    O mais bem-sucedido governante do Brasil, o conservador Carneiro Leão dissolveu o cerco paulista que impedia esta região de ter autonomia. Ele próprio passou à história como o Marquês de Paraná.

    Ao selecionar pessoalmente os membros do Ministério, Leão se tornou de fato o primeiro primeiro-ministro da história brasileira.

    É quando entra em cena o fluminense Joaquim José Rodrigues Torres, o Visconde de Itaboraí. Geralmente ignorado pela historiografia do Paraná e do Oeste, foi deputado geral e ministro da Marinha, função na qual foi a primeira autoridade a propor a formação de uma colônia militar na foz do Rio Iguaçu, em 1843. Era o primeiro esboço da futura Foz do Iguaçu.

    Razões de geopolítica

    Joaquim Torres, mais um liberal convertido ao conservadorismo, enquanto parlamentar fez ainda mais: apoiou a proposta da região de se desmembrar da Província de São Paulo, apresentada em projeto de lei pelo deputado baiano Carlos Carneiro de Campos.

    Campos, municiado pelos líderes paranaenses, apresentou dados sobre a população, produção, renda fiscal e despesas, concluindo pela viabilidade da nova Província. 

    Joaquim Torres de imediato veio em apoio, defendendo a conveniência de emancipar a Comarca, “que limita com a república do Paraguai e de Entre-Rios*”, porque atender ao reclamo dos locais iria contribuir também para “sufocar movimentos revolucionários”.

    * Entre-Rios: República formada pelas atuais províncias argentinas de Entre Ríos e Corrientes, fundada em 1820 pelo general Francisco Ramírez

    Meio século depois

    Para o território fronteiriço despovoado, estendendo a proposta de Carneiro de Campos, Torres recomendou então “criar uma administração que se ocupe de colonizá-lo e fortificá-lo, evitando sua ocupação por colonos estrangeiros e criando para o futuro conflitos e contestações de limites”. 

    Pela primeira vez alguém ligado diretamente ao governo brasileiro projetava a futura política de formação de colônias militares, que daria origem a Foz do Iguaçu. 

    A ideia teve longa maturação por meio século e só se concretizou em fins de 1889, nos primeiros dias da República.

    Machado consolida seu poder

    Na década de 1840, a frente de ocupação do interior, localizada nos Campos de Palmas, era disputada por dois grupos empresariais-militares. 

    Nos arranjos de poder que disputavam a hegemonia da colonização na época, despontaram como operadores principais de cada grupo o ex-comandante do destacamento militar de Palmas, Hermógenes Carneiro Lobo, partidário de oferecer presentes aos índios para garantir o apoio deles frente aos índios arredios, e seu sucessor, Pedro de Siqueira Côrtes, partidário de expulsar os índios pela força militar.

    Manobrando com os dois, foi combinando política, ação militar e ocupação pioneira de áreas economicamente promissoras que João da Silva Machado estruturou uma grande fortuna e estendeu seu poder sobre amplas áreas do futuro Paraná. 

    Para avançar na extensão de domínios, o futuro Barão de Antonina se associou no início de 1844 ao sertanista mineiro Joaquim Francisco Lopes (1805–1884), cuja equipe passou a estudar a navegação dos afluentes do Rio Paraná e avaliar a exploração econômica de suas margens.

    Monarca da coxilha

    Lopes e Machado, com financiamento deste, já haviam feito uma bem-sucedida exploração no Sul mato-grossense em 1829.

    Antes dessas iniciativas, apesar da existência das frentes de ocupação de Guarapuava e Palmas, o interior do Paraná bem conhecido era só a região dos Campos Gerais, onde a população se dedicava à criação de animais “e é muito dada aos jogos de cartas e às corridas de cavalos” (Salvador José Correa Coelho, Passeio à minha terra).

    A descrição de Coelho sobre o homem paranaense do interior, nessa época, é a mesma a ser futuramente atribuída aos nascidos no Rio Grande do Sul: 

    “O indivíduo que faz o serviço no campo o faz sempre a cavalo e é conhecido como monarca da coxilha. Traz na cabeça um chapéu de copa rasa e abas um tanto largas, preso na testa por uma fita de tecido colorido. Por cima da camisa usa o poncho listrado de lã que é chamado de pala. Na cintura usa a guaiaca que serve ao mesmo tempo de bolsa e cinta”.

    O sertanista paranaense, portanto, é o primeiro gaúcho.

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    Joaquim Torres, o Visconde de Itaboraí: um esquecido “pai” do Paraná

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Sobre a covid: quem devemos ouvir?

    Sobre a covid: quem devemos ouvir?

    Quando em 1995 surgiu a Classmates, uma despretensiosa rede social conectando estudantes universitários americanos e canadenses, o mundo não tinha ideia do que estava por vir. Como uma instantânea dose de morfina, dezenas de novas redes acalentaram viciosamente as dores humanas causadas por lembranças, saudade e pelo irônico distanciamento social.

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    Era pra curtir, amar, compartilhar. Reaproximamo-nos ou conhecemos pessoas novas. Criamos comunidades, dividimos recortes das nossas vidas e até nos apaixonamos sem importar a distância. Dentre os mais conhecidos, superamos o ICQ, Orkut, mIRC, Myspace e Fotolog, porém, não há conexão afetiva que escape à crise.

    Não é preciso mais do que política e religião para findar uma relação. Essas deveriam solucionar nossos problemas, mas ideologia e fé nunca nos colocaram do mesmo lado desde que surgimos da costela de Adão ou da biogênese; isso se uma nave não nos descartou aqui.

    Ainda que nos últimos 100 anos tenhamos avançado exponencialmente em soluções tecnológicas, a frivolidade humana sabota todos os dias nossa evolução. O twitter, a partir de 2006, traçou as primeiras linhas da universalização da política de forma instantânea e, dois anos depois com o “Yes We Can” de Obama à eleição americana, nunca mais curtimos, amamos ou compartilhamos da mesma forma.

    Manifestar sempre foi um ato das ruas, porém a televisão, rádio e impresso ocuparam as redes sociais e nós abdicamos a audiência passiva para, de forma célere e relevante, formatar uma nova interlocução. A disposição é ir muito além do que apenas participar das pautas, multiplicar ou discordar. Da condição de especialistas em qualquer coisa, nos tornamos doutos em tudo. Todo jornalista, ora preso a alguma linha editorial se vê “livre” e todos os envolvidos nesse esquema neural, se travestem de jornalistas.

    Distorcer os fatos, nada tem a ver com liberdade de expressão. A obsessão pelo imediatismo descredibilizou muitos veículos de comunicação tradicionais, mas milhões de vozes comuns pelas redes sociais – apropriadas das vestes de comunicadores e influenciadores – trataram de alimentar vertentes narrativas  sobre, em quem acreditar. Vivemos um estado de violação ética, ódio, idolatria, platonismo, aniquilação de reputações e entre fatos ou fakes, temos dúvidas sobre quem devemos ouvir.

    A pandemia da covid-19 foi a combustão para nossa Guerra Moderna. Municiados com verdades ou mentiras, com crenças ou desapego, com coragem ou medo, com a dor ou egoísmo nos entrincheiramos atrás dos dispositivos  mobiles em nossas batalhas psicológicas. Tornamo-nos impiedosos ou apenas externamos aquilo que sempre fomos?

    Se é que vale qualquer incursão a esse respeito, precisamos mudar o status quo. Não se trata agora de quem devemos ouvir, considerando que essa nossa capacidade sensorial está comprometida. Diante do que evoluímos em tantas coisas, é contundente a constatação de que somos primitivos ao ouvir e racionalizar.

    Empatia não é para ser uma palavra da moda, é a afeição que nos falta.  A guerra que precisamos vencer não é contra o outro. Nossas batalhas exigem a coerência em fazer o mínimo para proteger a nós e aos nossos. Nossas forças devem estar focadas em nos reinventar. Na ausência de certezas e diante das crendices, neste compasso de espera devemos confiar na ciência. Antes de nos matarmos para defender qual douto ouvir, precisamos simplesmente sobreviver.

    *Jefferson Lobo é tradutor e intérprete, jornalista, MBA em Comunicação e Marketing, especialista em Marketing Digital, e Secretário de Comunicação Social de Cascavel (PR).

    Fonte: Fonte não encontrada

  • BBB, Gilmar, a Vacina e o Voto

    BBB, Gilmar, a Vacina e o Voto

    Mergulhamos num equinócio turbulento com pouco oxigênio no tubo. Vivemos dias eletrizantes, aterrorizadores, capazes de gerar descontrole emocional nos brasileiros mais equilibrados. A superposição dos fatos nos colocou no vagão 1.001 do Expresso do Amanhã. Fomos às urnas em 2018, passamos voando por um inexplicável 2020, o Ano Novo chegou, mas quem já está aí é 2022, atropelando a Ciência e trazendo na pauta o futuro da nossa Democracia.

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    Ano que vem vamos votar em cinco candidatos. Presidente, Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual. Brasília – aquela que parece um cartão-postal urbanístico, mas que manda de verdade em todos nós – está de olho em apenas um grande projeto: a eleição das bancadas federais, os deputados e senadores do povo, que vão representar a divisão dos bilionários fundos Partidário e Eleitoral.

    Empatia ainda é palavra nova no vocabulário da nossa gente. Os meios de comunicação vivem crise aguda de credibilidade. No panelaço durante o pronunciamento de Bolsonaro, no dia que Sérgio Moro foi transformado em suspeito, também se ouviu muitos “fora Globo lixo!”

    O que então o BBB, Gilmar Mendes e a Vacina têm a ver com o Voto?

    Os paredões do reality show de maior audiência do país mostram que ser influencer com milhares de seguidores não é garantia pra nada! O eleitor cancela, deleta, troca de ídolo em segundos. Volatilidade total.

    E o Ministro Gilmar Mendes, usando todos os algoritmos da Lei, conduziu sua turma no STF a tornar Moro “criminoso”.

    Qual a estratégia de reposicionamento de Moro? Imagina a cabeça do eleitor ao receber a notícia. Batman agora é da turma do Coringa.

    Enquanto isso, o “PIB Brasileiro” escreve uma carta aberta à nação dando um pito histórico no presidente da República. A reação de Bolsonaro, em rede nacional, foi surpreendente: defendeu a Vacina, com a boca torta de tanta contradição. Agora não vamos virar jacarés.

    Atônitos, os eleitores já não sabem que rumo seguir. O radicalismo e o extremismo explodindo em todos os grupos de WhatsApp pelo País, onde a diversão e o humor estão perdendo terreno pro embate político.

    Pra piorar, todo mundo agora  quer comprar Vacina: vereadores, prefeitos, deputados, governadores, empresários… mas não tem Vacina à venda! Puro ilusionismo, pois nem as mais ricas economias globais estão conseguindo equacionar esse problema.

    Esse tsunami diário sobre as nossas cabeças mostra que as fortalezas de quem vai buscar o voto ano que vem precisam convergir para uma narrativa inovadora: Propósito, História, Esperança e Felicidade.

    Vamos ter outros equinócios, mais notícias de Brasília, mais mortos pela Covid, mais cancelados, mais gente saindo do grupo da Família. Pra saber mesmo o que virá depois, primeiro a democracia vai ter que superar o implacável paredão de 2022.  A parte boa é que só depende de nós, brasileiros, fazer com que o sol cruze o equador celeste com tranquilidade.

    * Marcelo Cattani, jornalista e publicitário, foi secretário de Comunicação do Estado do Paraná. Fundador da Yari – Estratégia e Inovação em Marketing.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Revés farroupilha favorece avanço da colonização

    Revés farroupilha favorece avanço da colonização

    O castigo pela ousadia dos farroupilhas, que ainda em novembro de 1839 preparavam um ataque à Ilha do Desterro (Florianópolis), foi um contra-ataque fulminante das forças imperiais. 

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    Mais de três mil homens por terra e por mar uma frota de 13 navios retomaram Laguna em 15 de novembro, expulsando os rebeldes e pondo fim à República Juliana.

    Mas a possibilidade de um avanço consistente dos farroupilhas ao Paraná, na virada para 1840, abriu os olhos do governo imperial para a importância estratégica desta região, seja para conter a rebeldia fortemente organizada no Sul, como para conter o expansionismo argentino.

    Desenha-se a marcha para o Oeste

    Nomeado em 20 de novembro de 1839 pelo governo paulista para a espinhosa tarefa de dissuadir conflitos na frente de ocupação dos Campos de Palmas, o comandante da força de Municipais Permanentes, capitão-mor Hermógenes Carneiro Lobo Ferreira, chegou em 20 de abril de 1840, não sem dificuldades, aos Campos de Palmas.

    Ali “implanta seu abarracamento dentro de uma região de campo, nos lajeados chamados de Caldeira e Cachoeira, lugar que deveria se estabelecer a povoação” (Joaquim José Pinto Bandeira, Notícia da descoberta do Campo de Palmas). 

    O interior do Paraná estabelece agora sua nova frente de ocupação – o Sudoeste. A conquista do Oeste se desenha: avançará acompanhando o Rio Iguaçu.

    Presentes e militarização indígena

    A missão pacificadora de Hermógenes Ferreira em Palmas era dupla: conter os índios e mediar os conflitos de interesses empresariais dos dois grupos rivais de colonos brancos. 

    Para acalmar de vez os índios a tática adotada foi reprisar a fórmula consagrada de oferecer presentes e estimular os nativos a obedecer para ganhar utensílios e bens dos quais não dispunham na mata. 

    Ferreira foi além: decidiu conceder postos de chefia militar aos caciques da região para enquadrá-los aos propósitos do projeto paulista de colonização.

    Com isso, a região passou a contar com um cacique indígena na plenitude de seu poder sobre a área: Vitorino Condá. 

    O habilidoso comandante Hermógenes combinava ações militares e entendimentos com os líderes indígenas ao mesmo tempo em que impunha a presença da autoridade militar do Império e do governo paulista na região.

    Golpe da Maioridade

    Em 23 de julho de 1840, o adolescente Pedro II tem sua maioridade declarada, embora esteja ainda com apenas 14 anos, sete meses e 22 dias. 

    O Golpe da Maioridade tinha o objetivo de preparar a imediata coroação do imperador e transformar qualquer rebeldia frente ao governo regencial em ato de lesa-majestade.

    Nas Eleições do Cacete, como ficou célebre o pleito de 1840, os liberais venceram com violência e artimanhas, o que não impediu os conservadores de reagir para em breve regressar ao controle do Império.

    No interior, a tática do comandante Hermógenes funcionou e manteve meses de boa convivência com os índios, mas em maio de 1841 tudo também mudou.

    O capitão Domingos Ignácio de Araújo, um dos árbitros das pendengas no interior, indicou outro notório desbravador do interior paranaense – Pedro de Siqueira Côrtes – para assumir o comando da Companhia de Permanentes da Polícia em Palmas, substituindo o capitão Hermógenes Ferreira. 

    Coroação conservadora

    Côrtes, líder de um dos grupos empresariais que disputavam a exploração econômica da região, teria como segundo comandante José Joaquim d’Almeida, furriel da Guarda Nacional.

    Os dois tinham interesse na povoação e já estavam acampados no local. Seus nomes foram avalizados pelo comandante superior das Legiões da Guarda Nacional do Sul da Província, coronel João da Silva Machado. 

    Tão ou mais importante que o grupo no comando, assinalava Machado, era a questão estratégica: o controle do território entre os rios Uruguai e Iguaçu e a fronteira com os “estados espanhóis [Argentina e Paraguai] com quem um dia deveremos estabelecer divisas certas e permanentes, visto que por ali não cruzaram as demarcações no tempo em que, entre as coroas de Portugal e Espanha, se fizeram naquela fronteira”.

    Machado mirava o quadro internacional, mas a polarização política nacional trazia tudo para o corpo a corpo interno. Nele, coroação do imperador adolescente Pedro II, em 18 de julho de 1841, fez o pêndulo do poder se inclinar novamente para os conservadores.

    O pêndulo paranaense

    Os liberais não se conformam com o retrocesso e ameaçam pôr abaixo a nova legislação, se preciso até com o recurso às armas. 

    O padre Diogo Feijó, um dos mais importantes líderes liberais, dirá: “Não é crime pegar em armas para restaurar a Constituição”.

    Diante do acúmulo de tensos acontecimentos, o ano de 1842 seria decisivo para o propósito paranaense de se emancipar de São Paulo. 

    A partir daí as lideranças do Paraná vão sair de uma posição subalterna e secundária para agir com desenvoltura também na cena principal do Império. 

    Se eles aderissem à Revolução Farroupilha e à iniciante Revolução Liberal paulista causariam uma nova e perigosa situação para o Império: o risco de perder São Paulo e o Sul talvez para sempre.

     Assim, de uma só penada as vilas de Curitiba e Paranaguá sobem à categoria de cidades com a lei provincial nº 5, de 5 de fevereiro de 1842. A agora Cidade de Curitiba possuía nessa época apenas 5.819 habitantes.

    Dois dias depois, em 23 de março de 1842, forma-se o Ministério Regressista, encabeçado pelo mineiro Honório Hermeto Carneiro Leão (1801–1856), futuro Marquês de Paraná. 

    Fora do poder, liberais se agitam

    O cenário nacional muda e a Província de São Paulo, ainda governada por liberais, agita-se. 

    Carneiro Leão, à frente do Conselho de Estado, governo político do Brasil sob o reinado de Pedro II, recomenda ao imperador dissolver a nova Câmara dos Deputados, eleita com maioria liberal em eleições fraudulentas. 

    Isso acontece em maio de 1842, acendendo o estopim da Revolução Liberal.

    O líder revolucionário, Tobias de Aguiar, não era nenhum estranho aos paranaenses. Tinha relações com os fazendeiros dos Campos Gerais e quando governou São Paulo criou a Prefeitura de Curitiba, depois extinta pelas manobras dos conservadores. 

    Foi ele quem levantou a necessidade de ocupar os Campos de Palmas para fazer frente aos interesses anglo-argentinos e paraguaios no Oeste e Sudoeste do Paraná de hoje.

    Agora Aguiar era um revolucionário. Para onde o Paraná penderia: para os conservadores que voltavam ao poder ou para os liberais de Aguiar e do padre Feijó?

     CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

    Na Arena Condá, em Chapecó, que fez parte do Paraná até 1916, homenagem ao cacique mais famoso dos Campos de Palmas

     

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  • Uma verdade sobre o ICMS dos combustíveis no Paraná

    Uma verdade sobre o ICMS dos combustíveis no Paraná

    Existe uma informação falsa circulando por aí. A verdade é que o Paraná não aumentou o ICMS sobre os combustíveis.

    A questão tributária no Brasil é bastante complexa, realmente, mas não precisa ser doutor em Economia para entender. Senão vejamos.

    O ICMS, principal tributo na sustentação das finanças dos estados, é cobrado na forma de alíquota — ou seja, um percentual sobre o preço de venda de um produto. De qualquer produto.

    Um exemplo: se um notebook custar mil reais e sua alíquota for de 10%, após a comercialização o vendedor recolhe R$ 100 a título de ICMS. Digamos que por conta da variação cambial o fabricante precisou aumentar o preço do item para R$ 1.800. Quando o mesmo notebook for vendido amanhã, o comerciante deve recolher R$ 180 de ICMS. O que não quer dizer, em nenhuma hipótese, que houve aumento de imposto: o que mudou foi o preço do produto; a alíquota permanece a mesma. E, se permanece a mesma, é falso afirmar que ocorreu aumento de imposto.

    Com os combustíveis, é exatamente a mesma coisa. Porém, há uma particularidade: nesse caso o imposto é cobrado no regime de substituição tributária, ou seja, o valor do ICMS sobre todas as etapas de comercialização é recolhido antecipadamente pela refinaria ou pelo importador – até porque este segmento, no caso do comércio varejista de combustíveis automotivos, sempre esteve entre os campeões de sonegação. Essa forma de cobrança diminui a possibilidade de fraudes.

    Mas, num mercado tão capilar, com o preço variando sobremaneira de posto para posto, que valor estipular como referência para a cobrança de ICMS? Para isso, é medida quinzenalmente uma média ponderada com os preços cobrados por litro nos estabelecimentos de todas as regiões do estado. Essa média tem o nome de PMPF (preço médio ponderado ao consumidor final). 

    Para se ter uma ideia do disparate, o PMPF vigente no Paraná está estabelecido em R$ 4,80 no caso da gasolina comum. Uma breve pesquisa no site Menor Preço, atualizado em tempo real com base nas emissões de notas fiscais, revela que não há nenhum posto sequer em Curitiba ou Londrina, principais cidades do estado, comercializando gasolina a menos de R$ 5,00 o litro. Em muitos, chega a R$ 5,30. 

    Ou seja, o posto vende a R$ 5,30, mas o ICMS é recolhido sobre apenas R$ 4,80. O mesmo ocorre com o Diesel: PMPF a R$ 3,75, enquanto na bomba chega a até R$ 4,50. O que torna absolutamente surreal a informação de que “o Paraná adotou valores mais altos que o preço de referência”, divulgada pelo sindicato representante dos varejistas do setor. Pois o preço de referência se trata simplesmente de uma média dos preços praticados pelos próprios varejistas – não há qualquer interferência do poder público em seu cálculo.

    Além disso, o PMPF no Paraná permanece entre os mais baixos praticados no país tanto no caso da gasolina quanto para o etanol e o óleo diesel. Qualquer mudança artificial no PMPF, portanto, sequer chegaria ao consumidor: serviria apenas para aumentar margens de lucro. Não se pode esquecer, ademais, a norma contida na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n. 101/2000) que proíbe os Entes públicos de renunciarem receitas sem prévias medidas compensatórias.

    Se o sistema tributário brasileiro precisa de ajustes e de melhorias, isso é uma outra história. Todos os estados, incluindo o Paraná, são favoráveis a uma reforma tributária urgente que o simplifique e o torne mais justo, não apenas para os entes federados mas especialmente para os cidadãos de todo o país. 

    Mas, enquanto a reforma não vem, não se pode admitir que segmentos econômicos usem de populismo e do artifício de lançar informações falsas para, “no grito”, recolher menos impostos. 

    Não existe mais espaço para esse tipo de atitude: os dados estão aí, abertos e acessíveis, e os meios digitais servem para checar rapidamente, em poucos cliques, qual é a verdade:

    • Clique aqui para conferir que o PMPF vigente no Paraná é um dos menores do Brasil: https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/atos-pmpf/2021/pmpf007_21

    • Acesse o site Menor Preço para verificar o valor que os postos estão efetivamente cobrando do consumidor na bomba, em muitos casos acima da PMPF: www.menorprecoparana.pr.gov.br

    • Confira a nota do Comsefaz sobre o assunto: https://comsefaz.org.br/?p=1759

    *Renê Garcia Junior é secretário da Fazenda do Estado do Paraná**Roberto Zaninelli Covelo Tizon é diretor da Receita Estadual do Paraná

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  • Coronéis fazem corrida para dominar o interior

    Coronéis fazem corrida para dominar o interior

    No Sul, em setembro de 1838, Bento Gonçalves divulga manifesto expondo os motivos da Revolução Farroupilha. Enquanto os conflitos do período regencial prosseguem pelo país, os líderes do futuro Paraná ficam diante de uma interrogação: aderir à República do Piratini ou estruturar a resistência aos rebeldes? 

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    O esforço pela estrutura determinou a criação da primeira escola da povoação Guarapuava e mais áreas do sertão passavam a ser exploradas economicamente, em processo claramente a cargo de João da Silva Machado, o futuro Barão de Antonina.

    É assim que começa, em 1838, a corrida de dois grupos de coronéis pelo domínio dos Campos de Palmas. 

    Na primeira metade do século XIX, ocupar a terra ainda era a principal forma de assegurar a posse e garantir a propriedade. 

    De início, sete famílias de estancieiros aparentados entre si formam uma sociedade sob o comando do fazendeiro guarapuavano José Ferreira dos Santos. 

    Santos x Côrtes

    O grupo de Santos firmou “contrato com o governo provincial que lhes dava direitos de, após escolhida a sua fazenda, dar posse de terras aos outros integrantes do grupo” (Lourdes Stefanello Lago, Origem e Evolução da População de Palmas [1840 – 1899]).

    A corrida por Palmas não se limitaria ao grupo guarapuavano. Um segundo grupo, chefiado por Pedro de Siqueira Côrtes, apressou-se a assinar contrato ainda antes que o primeiro, em 28 de abril de 1839. 

    Côrtes havia tentado participar do primeiro grupo, mas foi rejeitado por ser curitibano: era ligado à família de Mateus Martins Leme, considerado fundador de Curitiba e um de seus líderes históricos mais importantes. 

    Conforme registros de José Cleto da Silva, Pedro de Siqueira Côrtes “firmou, com outros destemidos sertanistas, contrato para o povoamento dos Campos de Palmas, antiga região dos Campos dos Biturunas que, etimologicamente, significa terra alta”. 

    Briga intensa

    Assim, durante todo o ano de 1839 cerca de sessenta posseiros repartidos entre duas empresas concorrentes formadas por famílias importantes e militares, autorizadas pelo governo paulista mediante contrato, empregaram-se “na introdução de gado, trazido de Guarapuava e na precipitada fundação das suas fazendas, mas cada vez era mais viva a desarmonia entre todos” (Romário Martins, Bandeiras e bandeirantes em terras do Paraná).

    Cada um, à sua maneira, relatou Bandeira, um dos mediadores do conflito, montava a casa e a fazenda onde lhe parecia mais conveniente. 

    “Os que chegavam depois não respeitavam precedência e lançavam seus animais aonde julgavam próprio, estivesse ou não o lugar ocupado, deixando a decisão do negócio ao arbítrio das armas, derrubando casas e arrasando currais”. 

    O conflito empresarial-militar intensificou o avanço das frentes de exploração econômica do interior paranaense. O resultado disso era que as discussões eram resolvidas com muita briga, “deixando a decisão do negócio ao arbítrio das armas; casas houve que foram derrubadas e currais arrasados”, ainda segundo Bandeira.

    “Viva a República!”

    Para resolver os conflitos, o governo paulista determinou a indicação de dois árbitros. Inicialmente, os escolhidos foram o capitão Domingos Ignácio de Araújo (1783–1851) e o alferes José Caetano de Oliveira (1794–1869), futuro Barão de Tibagi e cunhado de Araújo. Os dois conheciam perfeitamente a região, que exploraram na juventude.  

    Enquanto a disputa entre dois grupos pelo controle dos Campos de Palmas continuava, o líder do litoral, Manoel Francisco Correia Júnior, denunciava em ofício enviado ao presidente provincial de São Paulo, Venâncio José Lisboa, o descaso com a região, que começava pelas instalações da força militar, em ruínas.

    Em 3 de janeiro de 1839, Correia Junior informou que o quartel da Guarda Nacional em Paranaguá precisava de um “conserto indispensável”, mas seis meses depois tudo ainda estava na estaca zero.

    Como a dar razão ao zeloso líder paranaense sobre a necessidade de dotar a região de uma estrutura militar para resistir à progressão das forças revolucionárias, um grupo se infiltrou pelo desguarnecido Oeste e em junho de 1839 os moradores da Freguesia de Nossa Senhora de Belém (Guarapuava) foram surpreendidos por um ataque repentino.

    “O quartel da polícia foi atacado por 21 indivíduos… Os assaltantes ali surgiram com altos brados de ‘Viva a República!’” (Benjamin Cardoso Teixeira, Efemérides Guarapuavanas). “Ferem um dos 36 defensores do quartel e fogem” (Projeto Livrai-Nos!, Famílias, Fortunas & Façanhas).

    Um novo país?

    Entre as pressões para dar início às primeiras obras do sistema ferroviário e para reforçar as defesas do Paraná contra a progressão revolucionária farroupilha, em 11 de julho de 1839 o presidente provincial Venâncio José Lisboa passa o governo paulista ao advogado fluminense Manoel Machado Nunes (1799–1876).

    A República Juliana é proclamada em 24 de julho e se instala em Laguna o Governo Provisório da República Catarinense, sob a presidência de Davi Canabarro. 

    O novo governo paulista temia que o Paraná se cansasse de não ter suas demandas atendidas e passasse para o lado dos revolucionários. 

    A República Juliana poderia vir a se tornar um país sul-americano abrangendo o território do atual Paraná se as forças imperiais não reagissem com rapidez e violência.

    Os farroupilhas chegaram a atacar a barra de Paranaguá em 31 de outubro de 1839, capturando uma sumaca*, mas foram repelidos pela artilharia da fortaleza.

    * Barco pequeno, de dois mastros.

    A ideia da separação 

     “Mesmo os curitibanos provando sua sinceridade ao imperador, ao lutar em favor do governo central nas fronteiras provinciais, este medo persistiria, até porque, a ideia de separação era uma velha aspiração entre os habitantes daquela região” (Sérgio Buarque de Holanda, História Geral da Civilização Brasileira).

    As autoridades paranaenses alertaram Nunes que para ocupar os Campos de Palmas o governo paulista precisaria primeiramente combinar a manobra com os índios, que poderiam pôr a perder as duas iniciativas empresariais-militares em andamento se decidissem atacar os colonos.

    Para complicar, em setembro de 1839 já não havia qualquer dúvida: os farroupilhas estavam chegando – e vinham por terra e mar.

    Machado Nunes mandou então criar uma força militar especial e destinou uma grande partida de armas e munições para apoiar a ocupação dos Campos de Palmas. Também determinou a formação de duas unidades da Guarda Nacional para combater a progressão dos farroupilhas. Muitas batalhas se anunciam.

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    Manoel Machado Nunes: novo governador deu muitas ordens, mas governou por apenas um ano

     

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  • Em dez anos, valor do pedágio será 70% maior

    Em dez anos, valor do pedágio será 70% maior

    A nova proposta do Ministério de Infraestrutura para a licitação do pedágio no Paraná, para o período de 30 anos (de dezembro de 2021 a dezembro de 2051), prevê uma arrecadação (sem correção) de R$ 156 bilhões. Não se assuste! É isso mesmo. Um valor que, aos preços de hoje, dá para comprar três milhões e 120 mil carros populares.

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    Desses R$ 156 bilhões, apenas R$ 42 bilhões estão previstos para investimentos em obras, ou seja, 27% da arrecadação estimada. Essa é uma demonstração clara que o objetivo do negócio não é realizar obras, melhorar a segurança de quem transita pelas estradas e sim o GRANDE LUCRO e a ARRECADAÇÃO para os governos em forma de impostos e da confusa outorga onerosa. É a teoria do Ganha-Perde: eles ganham muito e a sociedade perde tudo.

    O modelo proposto tem questões complexas e discutíveis. Arrepia só em pensar que teremos repetidos os sofrimentos passados de 1997 a 2021, quando interesses escusos e a corrupção só levantaram os preços do pedágio e sem construir as obras prometidas. Disso só restaram os acordos de leniência que mais servem como lições para a história, pois baixada a poeira, em meio ao “mea-culpa” disfarçado, cravados nas praças de pedágio, os preços das tarifas voltaram a subir de forma embalada.

    É imprescindível que prestemos atenção ao que se passa. Hoje, o custo do pedágio para veículos leves de Foz do Iguaçu a Guarapuava é de R$ 71,90, média de R$ 14,38 em cada praça, desta forma: R$ 17,00 na praça de pedágio de São Miguel do Iguaçu; R$ 12,90 na praça de Céu Azul e R$ 14,00 nas praças de Cascavel, Laranjeiras do Sul e Candói.

    O conflito de interesses é mais evidente e revoltante ao fazermos um comparativo dos valores das tarifas de pedágio hoje vigentes na região Oeste do Paraná com os das tarifas propostas, considerando: – o desconto máximo de 17% a ser concedido quando da licitação; –  as novas tarifas acrescidas de 40%, isso depois das duplicações; – somando-se as correções futuras  com base na inflação estimada em 4% ao ano, até 2031 e, pasmem, a inclusão de novas praças de pedágios no Oeste do Paraná, concluindo assim que estamos diante de uma exorbitância descabida. Estes valores são demonstrados no quadro a seguir, com cálculos estimados apenas para veículos leves.

    Pelo demonstrativo é possível perceber que hoje o valor do pedágio para veículos leves custa R$ 71,90. Na tarifa proposta, com o desconto de 17% quando da licitação, a inclusão das novas praças de pedágio na BR-163, mais o acréscimo de 40% na duplicação e a correção estimada em 4% ao ano acumulando 48,02% no período de dez anos a projeção do valor do pedágio para veículos leves na região Oeste nas BR-277 e BR-163, em 2031, será de R$ 121,93, ou seja, quase 70% a mais na comparação com as tarifas atuais de R$ 71,90. Só o cinismo e a desconsideração para alimentar essa excrescência.

    A proposta do Ministério de Infraestrutura contraria os princípios da livre concorrência, um deles é o do menor preço. A proposta estabelece limitações de desconto, bem diferente do que aconteceu no estado do Rio Grande do Sul, onde um trecho de 200 Km próximo a Santa Maria, foi licitado tendo como preço de partida R$ 7,37 para cada praça e sem a limitação de desconto.

    A ganhadora, o Grupo Espanhol Sacyr, que atua em mais de 30 países, propôs desconto de 54,4%, fechando em uma tarifa no valor de R$ 3,36.

    A batalha do pedágio começou há anos, inicialmente para que não houvesse a renovação automática das concessões. Uma luta árdua e desgastante, que colocou ombro a ombro o Programa Oeste em Desenvolvimento, a Caciopar e as associações comerciais e industriais da região, que lutaram contra tudo e contra todos, sofrendo agressões morais e perseguições duras e inesquecíveis. Mas a dignidade e a coragem dos líderes prevaleceram contra as injustiças. A sociedade combateu e conquistou o direito da não renovação automática da concessão dos contratos.

    Mais recentemente, a sociedade paranaense deu a maior prova da sua indignação, nas audiências públicas do Ministério de Infraestrutura realizadas nos dias 24 e 25 de fevereiro de 2021, nas quais os manifestantes – líderes, políticos, empresários e forças vivas da sociedade, se posicionaram de forma unânime contra o modelo apresentado.

    O novo modelo de cobrança do pedágio transporta em seu bojo uma disparidade, relativamente ao conceito da LIVRE INICIATIVA. Por isso, o caminho da cooperação entre todas as regiões do Paraná ter uma posição contrária ao novo modelo de concessão imposto pelo Ministério de Infraestrutura, com limitações de desconto em 17% na tarifa básica,  outorga onerosa e degrau tarifário de 40% quando acontecerem as duplicações.

    Os problemas do pedágio paranaense serão resolvidos pelo CAMINHO DA COOPERAÇÃO. O POD – Programa Oeste em Desenvolvimento, e as outras forças do Oeste já articularam a sociedade para combater os valores exorbitantes e a corrupção das concessionárias que atuam no Paraná. E agora mantêm o mesmo espírito de luta para mudar a proposta do Ministério de Infraestrutura, a fim de que tenhamos um pedágio JUSTO, que assegure um Paraná com uma economia forte e próspera.

    DILVO GROLLI é presidente da Coopavel e Membro do Programa Oeste em Desenvolvimento

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  • 7×1 para o vírus

    7×1 para o vírus

    Imagine um mundo onde não houvessem hospitais, leitos ou profissionais de saúde para nos atender quando precisássemos. Hoje é praticamente isso que estamos vivendo: não temos mais estrutura! Será que ainda não deu para entender que a pandemia é um assunto grave e que não há leitos hospitalares disponíveis para todos? Tem filas nas UTIs e pessoas morrendo em casa!

    Vemos o nosso gestor municipal apelando com a atitude extrema de filmar as unidades de saúde para escancarar o colapso do setor. O que mais é necessário fazer para evidenciar que a crise sanitária está sem controle?

    Nós queremos ter o direito de “cansar” do distanciamento social, mas nos esquecemos de que o vírus não respeita esse “direito”. Quando afrouxamos os cuidados, ele se espalha em escala exponencial. É isso que está acontecendo.

    O agravamento da pandemia é consequência de comportamentos irresponsáveis, que ignoram as medidas de proteção. 

    Enquanto deveriam estar em isolamento, várias pessoas saem de casa para trabalhar ou para outra atividade, mesmo tendo sintomas de Covid-19 ou mesmo tendo em casa alguém da família contaminado. É o serviço de “Uber” para o vírus.

    É possível ignorar os protocolos de saúde, mas é impossível ignorar nossos mortos. Essa postura tem preço e a fatura está aí para ser paga com vidas. O Brasil se aproxima de 260 mil mortos pela doença.

    Quando caiu o avião da equipe Chapecoense, em 2016, morreram em torno de 70 pessoas e o fato foi considerado uma tragédia que gerou intensa comoção social. Muitos times, desportistas e empresas manifestaram que se importavam, divulgando #forçaChape.

    Hoje estamos sendo derrotados por 7×1 para o vírus.

    Nesta quarta-feira (03) batemos o recorde com 1.910 mortes no Brasil em apenas 24 horas devido à Covid e qual a nossa reação? Cadê nosso respeito, onde estão nossos milhares de “força Chape”? 

    Antigamente, quando falecia alguém, as empresas fechavam e expressavam seu luto com uma faixa preta em frente à porta. Hoje milhares de mortes são relevadas e luta-se para manter as portas abertas.

    A pandemia não é uma tragédia? O que aconteceu com a nossa humanidade?

    Aqui em Cascavel o maior evento do agronegócio do país foi cancelado, pois a coordenação avaliou que se uma vida sequer fosse perdida por conta da feira, já não teria valido a pena realizá-la.

    Esse é o sentimento.

    A gravidade da situação atual demanda medidas drásticas. Se não queremos virar estatística e enlutar nossas famílias, temos que respeitar as medidas restritivas impostas pelas autoridades. 

    Até o ministro da Saúde ficou de vir a Cascavel.

    Lembrem-se: a nossa luta contra o vírus não acabou. 

    Nós somos os próximos pacientes em potencial.

    Saúde a todos!

    Fonte: Fonte não encontrada