Categoria: Opinião

  • Interior, área de lazer dos latifundiários

    Interior, área de lazer dos latifundiários

    O Auto da Fundação da Freguesia de Nossa Senhora de Belém, proclamado em 9 de dezembro de 1819, foi a primeira lei especificamente criada para vigorar na região Oeste.

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    O documento afirma reunir “as mais ordens Régias a este respeito” e também “certa regras e capítulos do que pareceu mais conveniente ao bem, conservação e aumento da mesma povoação ao presente, visto que as autoridades que têm por ofício regular a polícia, se acham tão longe como a vila de Castro, que daqui dista quarenta léguas mais ou menos”.

    O Capítulo 1 regulamentava a disposição da vila e as normas para construção e arruamento: “Como esta é a primeira povoação fundamental, que se vai erigir nesta conquista de Guarapuava, é tão impreterível como necessário que na sua fundação se observem restritamente as formalidades por Sua Majestade prescritas na Carta Régia de Abril de 1809”.

    Todas as casas seriam separadas umas das outras e cobertas com telhas. As paredes seriam feitas de “pedras ou taipa de pilão, ou ao menos firmadas sobre estacas de cerne e nem uma tenha na frente menos de 15 palmos, todas alinhadas segundo a planta que levantou e ofereceu o reverendo vigário Francisco das Chagas Lima”.

    A povoação estaria cercada de trincheiras ou fossos, com ruas mais largas que cem palmos. “E porque é necessário haver desde agora onde se recolham os trabalhadores e mantimentos, se levantará fora das trincheiras mas debaixo da mesma ordem, uma rua de pequenas e ligeiras casas, cobertas de palha, as quais ficarão depois de concluídas a povoação servindo para a estalagem de passageiros”.

    As lágrimas do rei

    Iniciada na cidade do Porto, a revolução liberal, entre agosto e setembro de 1820, não tardará a ter reflexos e desdobramentos também no Brasil. Fez prevalecer em Portugal os ideais da Revolução Francesa, abolindo a monarquia absolutista e instituindo o regime constitucional.

    As Cortes (Parlamento) se instalam em Lisboa em 21 de janeiro de 1821 e o absolutismo chega ao fim com o manifesto da Junta do Porto, em 26 de janeiro. Os revolucionários lusos exigem então o retorno da família real a Portugal e com isso o Brasil perderá o status de sede do Reino para voltar a ser uma colônia.

    A partida do rei João VI para Lisboa foi marcada para 25 de abril de 1821. O rei limpou os cofres e carregou toda riqueza que pôde levar. Seguindo à nau Príncipe Real em lágrimas, ao se despedir do filho o aconselhou: “Pedro, se algum aventureiro quiser apoderar-se do governo do Brasil, põe-te à frente dele”.

    Meio Paraná, 121 habitantes

    O Paraná fecha o ano de 1821 com a montagem do primeiro mapa dos Campos de Guarapuava, organizado pelo padre Francisco das Chagas Lima. A região concedida pelo rei português e tomada aos índios pelas milícias paramilitares dos fazendeiros se distribuía em amplas propriedades destinadas, sobretudo, à criação de animais.

    O objetivo dessas propriedades deveria ser o povoamento regional, mas os criadores de gado mantinham domicílio nos mesmos Campos Gerais que já dominavam.

    Ficavam em Guarapuava entre um a dois meses de cada ano (Arthur Martins Franco, Diogo Pinto e a conquista de Guarapuava), como se fosse uma colônia de férias. Se essa prática trazia algum proveito para eles, assinala Franco, ao interesse público pouca utilidade apresentou.

    Assim, a vastidão das propriedades distribuídas contrastava com a reduzida população Guarapuava – “era de 118 indivíduos, além de 3 portugueses, casados com índios, totalizando 121 pessoas”.

    Muito a fazer

    Segundo o padre Chagas, só estavam ocupadas 50 léguas quadradas do total de 130 delimitados pelos campos.

    “Moradores pobres dos Campos Gerais se mudaram para Guarapuava, com toda a sua família, e receberam pequenas porções de terras ao redor da vila. Mas os grandes fazendeiros dos Campos Gerais obtiveram grandes extensões de campo, levaram seus ‘animais aos montões’ mas (…) não fizeram mais outro benefício algum, nem currais nem lavouras, nem casa de vivenda” (Altiva Pilatti Balhana, Brasil Pinheiro Machado e Cecília Westphalen, História do Paraná).

    Em 9 de janeiro de 1822, o príncipe regente do Brasil, Pedro de Bragança, achou mais vantajoso ficar no Brasil, apesar da exigência dos revolucionários lusos para retornar de imediato a Portugal.

    O Dia do Fico, porém, não era um gesto de rompimento com Portugal. Por que romper, se o Brasil pertencia a Portugal e Pedro estava talhado a ser o próximo soberano desse reino vastíssimo, que abarcava Europa, África e América do Sul?

    Aviso a Pedro: o Brasil está independente

    Aconselhada por José Bonifácio, a princesa Leopoldina usa o poder de governante interina do Brasil e reúne o Conselho de Estado na manhã de 2 de setembro de 1822, quando assina o decreto da independência, declarando o Brasil separado de Portugal.

    A princesa envia a Pedro uma carta, juntamente com outra de José Bonifácio, exigindo que o príncipe proclame em definitivo a independência do Brasil: “O pomo está maduro, colhe-o já, senão apodrece”.

    O príncipe ainda está em território paulista, entre São Paulo e Santos, quando o peso da mão lusa se nota no Rio de Janeiro nas prisões de maçons acusados de “demagogia” (expressão que na época significava (subversão, conspiração contra o reino).

    Pedro recebe as cartas da esposa e de Bonifácio próximo ao riacho Ipiranga, em meio a cólicas intestinais. É o dia 7 de setembro de 1822. Nada mais lhe restava a não ser confirmar o decreto da princesa.

    A independência, porém, foi comprada quando o Brasil assumiu dívidas de Portugal perante a Inglaterra. Para ser aceito como nação autônoma o Brasil teria que pagar muitas dívidas, estendidas ao longuíssimo prazo.

    Fortalecer-se com a agricultura

    A estratégia proposta pelas autoridades de Curitiba para fortalecer o Brasil era expandir a agricultura. Em meio às discussões nesse sentido, o comandante da vanguarda colonizadora de Guarapuava, Antonio da Rocha Loures, sugeriu ao governo paulista delimitar a área que deveria ser priorizada na concentração de esforços e recursos nesse sentido.

    Segundo sua orientação, o primeiro cuidado deveria ser com o aumento da produção agrícola “e todos os artigos que podem influir para a prosperidade da nossa povoação já conhecida, não excedendo as margens dos três maiores rios que a limitam; pelo norte o Ivaí, cognominado do Peixe, e Vila Real do Bananal; pelo sul o Iguaçu, ou Covô; pelo ocidente, o Paraná e grande salto de Guairá duas léguas a sudoeste do rio Piquiri”.

    A delimitação se devia a uma conclusão empírica recolhida pelo chefe militar ao cabo de vários anos percorrendo a região: ao contrário do que alardeavam os pecuaristas, muitos dos quais militares ansiosos por ocupar mais áreas para a expansão das criações, essa área já estava despovoada de “gentios bárbaros”, embora ainda fosse abrigo dos índios mansos, que fugiam do aldeamento de catequese do padre Francisco das Chagas Lima.

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    Fonte: Fonte não encontrada

  • Uma vacina para a bolsa

    Uma vacina para a bolsa

    Em um feito surpreendente, a Bolsa de Valores brasileira (B3) zerou as perdas de 2020. Nesta quarta-feira (16) o Ibovespa ultrapassou o patamar de 117 mil pontos. 

    A velocidade relativamente rápida dessa recuperação superou as projeções de grande parte dos analistas, que estavam mais pessimistas logo após a sequência de seis circuit breakers em oito pregões, sofridos em março deste ano, devido à pandemia de Covid-19.

    Naquela ocasião, houve pânico no mercado de capitais e o índice da nossa bolsa teve uma queda vertiginosa que alcançou os 63,5 mil pontos, cravando a mínima do ano. Com os investidores alvoroçados e temerosos, alguns analistas ousavam projetar que a recuperação das perdas poderia levar entre um a dois anos, mas a vacina acelerou a subida do gráfico. 

    Investidores individuais

    Durante a pandemia, o número de investidores pessoa física teve crescimento inesperado: ultrapassou 3,2 milhões em novembro – um recorde histórico – e que continua em elevação.

    Esse aumento foi motivado por um conjunto de fatores, dentre eles os estímulos monetários, maior acesso a informações sobre investimentos e em função da redução da taxa básica de juros (Selic), que deixou menos atrativas as aplicações conservadoras, levando os investidores a tomarem maior risco no mercado de renda variável.

    Outro fator marcante deste ano foi o movimento de abertura de capital de várias empresas na bolsa, colocadas em prática por meio de Oferta Pública Inicial de ações (IPOs). Casas de análises estimam que outras 200 empresas têm intenção de abrir capital em 2021.

    Perspectivas positivas

    Reportagens recentes da Isto É Dinheiro e Infomoney destacaram a profusão de investidores e as perspectivas positivas para o próximo ano.

    Basta observamos que os movimentos do mercado acionário ocorrem a partir de expectativas, por isso nem mesmo uma segunda onda de Covid afetou o ânimo daqueles investidores que já vislumbravam o início da vacinação. 

    A imunização costuma ser associada à retomada da atividade econômica, especialmente em setores mais afetados pela pandemia como turismo, shoppings, setores aéreo e educacional.

    Sendo assim, a vacina tem efeitos sobre a nossa bolsa de valores.

    Enquanto os papéis de várias companhias já superaram as mais altas cotações pré-pandemia (mineração, siderurgia, tecnologia e algumas de consumo e varejo) outras ainda estão sendo negociadas com valores defasados, tornando-se oportunidades para os investidores.

    Além disso, existe margem para uma entrada maior de capital estrangeiro, o qual ainda não chegou aos níveis do início do ano.

    Portanto, as projeções de grande parte dos analistas são muito otimistas para 2021, inclusive com projeção do Ibovespa superar os 130 mil pontos. Sejamos confiantes.

    Sucesso a todos!

    * A autora é jornalista e investidora

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  • Covid tem gênero?

    Covid tem gênero?

    Pertencemos todos ao gênero Homo. Na conhecida taxonomia das ciências biológicas (aquela que organiza reinos, filos, classes, etc.), nossa espécie sapiens está no mesmo gênero de outras menos afortunadas (como o erectus, o georgicus ou o heidelbergensis), todas extintas. Assim, somos do gênero Homo e da espécie sapiens.

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    Casos como esse deixam claro que o termo “gênero” nem sempre remete a sexo ou à noção social de gênero (que distingue pessoas cis e trans, por exemplo). Sua história talvez ajude a entender o termo: “gênero” provém do longínquo genus, que significava algo como origem, ascendência. Teoricamente, elementos que tenham a mesma origem terão características comuns e, desse modo, podem ser agrupados – o que pode explicar a recorrência desse termo em diferentes taxonomias (“gêneros discursivos”, “gêneros musicais” e tantos outros “do gênero” – com o perdão do trocadilho).

    Isso não explica, porém, por que, na maioria das línguas românicas, o gênero linguístico se dividiu em “masculino” e “feminino”, ou mesmo, continuando o que ocorria em latim, masculino, feminino e neutro (caso do romeno). Ou ainda por que, com tal classificação, seria possível atribuir “masculino” ou “feminino” a elementos que, em rigor, não parecem compatíveis com tal ordenação (o que haveria de masculino em “o esquema” e de feminino em “a tática”, por exemplo?).

    Antes de discutir o gênero da covid-19 (algo seguramente menos enigmático que o sexo dos anjos), vamos a uma breve reflexão sobre a noção de gênero linguístico.

    Gênero linguístico: mistério ou arbitrariedade?

    Em seus Princípios de linguística geral, o linguista brasileiro Joaquim Mattoso Câmara Jr. faz uma excepcional revisão bibliográfica do gênero como categoria gramatical dos nomes. Entre outras coisas, Mattoso Câmara pontua que a flexão de gênero é mais exceção que regra nos substantivos em língua portuguesa. Seja entre entes animados (“a onça”, “o cônjuge”, “a testemunha”), seja entre inanimados (“o livro”, “o sofá”, “a poltrona”), são muitos os nomes que não mudam de forma para indicar masculino e feminino (também não faria sentido buscar um feminino para “o sofá”, ou um masculino para “a poltrona”).

    Além disso, lembra Mattoso, os critérios das línguas para diferenciar os gêneros variam, indo além da divisão masculino/feminino. O autor cita o malaio, idioma em que, entre outros gêneros, há um para designar os seres humanos e outro para indicar os bichos de cauda. Mesmo em língua portuguesa, há formas nominais que não são masculinas ou femininas: os demonstrativos neutros (“isto”, “isso” e “aquilo”) expressam o valor “não humano” – podendo por isso assumir sentido pejorativo quando designam pessoas (em frases como “Isso é o líder de vocês?”, por exemplo). Isso acontece porque os pronomes do português guardaram uma sorte de memória etimológica da gramática latina, na qual o gênero neutro se manifestava. Resquícios da língua mater.

    Apesar dessas ponderações, seria exagero ou ingenuidade concluir que não há alguma relação entre gênero gramatical e gênero biológico ou social, inclusive porque este pode ser expresso por aquele (“o professor”/“a professora”, “o jovem”/“a jovem”, etc.). Entre outras hipóteses, a primorosa revisão bibliográfica de Câmara Jr. menciona a que foi defendida pelo linguista alemão Franz Bopp: povos indo-europeus teriam transferido a noção de sexo do reino animal para os demais elementos do universo, por meio de associações que os viam como “machos” ou “fêmeas”.

    Tais analogias, porém, se existiram de fato, não sustentam as noções de gênero atuais das línguas neolatinas, que sequer são coincidentes (entre tantos outros exemplos, podemos lembrar que, em espanhol, “la nariz” e “la leche” são termos do gênero feminino).

    O covid ou a covid?

    Não há uma normativa oficial sobre o tema em língua portuguesa, então não devemos ficar admirados se “falsos profetas da gramática” surgirem apregoando uma saída “lógica”: “como é uma doença, o certo é a covid-19”, alguns certamente diriam. Essa saída poderia ser exemplificada com um texto publicado pela Academia Brasileira de Letras, que, embora não tenha tomado posição no assunto, citou “a pandemia da covid-19” ao noticiar o lançamento de sua seção jornalística sobre o tema.

    Postura mais elogiável foi a da Real Academia Española: além de explicar a motivação das maiúsculas (trata-se de uma abreviação de COronaVIrus Disease, algo como “doença do coronavírus”), a entidade registrou que o feminino é aceitável, por acompanhar o gênero feminino do substantivo “doença”. Ainda segundo a instituição espanhola, o masculino também é cabível, tendo em conta o que ocorre com outras enfermidades cujos nomes provêm, por metonímia, dos nomes de seus vírus: o ebola e o zika, por exemplo.

    Já a Académie Française explica que o gênero de um acrônico ou sigla advém do núcleo do sintagma que a compõe, assim: a S.N.C.F. (Société nationale des chemins de fer, Sociedade Nacional de Ferrovias), porque o núcleo desse sintagma é “sociedade” e o C.I.O. (Comité international Olympique, Comitê Olímpico Internacional), porque o núcleo, comitê, é um nome masculino.

    Quando um acrônico ou sigla é composto de palavras estrangeiras, o mesmo princípio se aplicaria. Dessa forma, apregoa a Académie, deveríamos dizer “a covid-19”, pois covid significa corona virus disease (“doença do coronavírus”, o núcleo é o substantivo feminino “a doença”), enquanto “19” se refere a 2019, quando os primeiros casos em Wuhan, na China, foram divulgados publicamente pelo governo chinês no final de dezembro. Igualmente, como a Real Academia Española, argumenta que o que acontece é que os falantes, por metonímia, atribuem à doença o tipo de patógeno que a causa.

    Em qualquer dos casos, note-se que reside a arbitrariedade (ou o mistério) original dos gêneros gramaticais: “doenças” não são “fêmeas”, nem “vírus” são “machos”.

    O “x” da questão

    A distância que há entre gênero gramatical e gênero biológico não desqualifica as reflexões de ativistas e acadêmicos(as) debruçados(as) sobre temas como preconceito, machismo e exclusão. Merece nota o incomum exemplo de Grada Kilomba, portuguesa cuja obra sociológica Memórias da plantação – episódios de racismo cotidiano foi publicada originalmente em língua inglesa.

    Na tradução à língua materna, a autora inseriu uma espécie de glossário, discutindo termos que usara com naturalidade em inglês, mas não lhe pareciam igualmente cabíveis em português. Sobre o termo subject, a escritora pontua a exclusividade do masculino em português, “o sujeito”: para ela, a inexistência do feminino “a sujeita” ou do não binário “xs sujeitxs” exige buscarmos “compreender o que significa uma identidade não existir na sua própria língua, escrita ou falada, ou ser identificada como um erro”.

    * Marcelo Módolo é professor da FFLCH-USP e pesquisador do CNPq, e Henrique Braga, doutor em Filologia e Língua Portuguesa pela FFLCH-USP

    Fonte: Jornal da USP

  • Castigado por levar cacique à morte

    Castigado por levar cacique à morte

    Em 9 de julho de 1816 o padre curitibano Francisco das Chagas Lima vencia a disputa com o comandante Diogo Pinto de Azevedo Portugal pelo controle de Atalaia/Guarapuava. A junta administradora da expedição, em São Paulo, determinava que o chefe militar entregasse o comando ao tenente Antônio da Rocha Loures e se apresentasse em São Paulo.

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    O novo comandante de Guarapuava, casado com a irmã do padre Chagas Lima, Joana Maria da Luz, pôs fim ao conflito aceitando a liderança do religioso. Sob menor influência militar e agora abaixo da proteção religiosa, expandiram-se em Atalaia as roças, as fazendas e os campos de criação pelo trabalho dos índios catequizados. 

    Diogo Pinto, ao verificar o grande número de índios que trabalhavam em Atalaia, ordenou, para desgosto do padre Chagas, que os catequizados (chamados de índios mansos) o acompanhassem em sua mudança para Linhares.

    “Percebe-se a relutância do reverendo Francisco das Chagas Lima em aceitar essas ordens, já que insistiu em permanecer com o aldeamento e a povoação em Atalaia, e, junto a si, tinha o apoio de Antônio da Rocha Loures” (Almir Antonio de Souza, Armas, Pólvora e Chumbo: A Expansão Luso-Brasileira e os Indígenas do Planalto Meridional na Primeira Metade Do Século XIX).

    Começa a guerra no Sul

    Após a proclamação da independência das Províncias Unidas do Rio da Prata, em 7 de julho de 1816, houve a tentativa de José Gervásio Artigas de criar um território livre e democrático na região do atual Uruguai.

    Contra ele, tropas portuguesas comandadas por Araújo Correia atacaram em 28 de agosto a Fortaleza de Santa Teresa, que se rendeu sem muita resistência. 

    A chamada Banda Oriental foi ocupada militarmente pela força portuguesa de seis mil homens sob o comando do general Carlos Frederico Lecor, que entrará vitorioso em Montevidéu no ano seguinte, 1817. 

    Em resposta à ofensiva lusa, o Rio Grande do Sul foi invadido por Santana do Livramento e São Borja, atacada em 20 de setembro. A guerra contra Artigas iria durar longo tempo, e assim toda a ação de conquista do interior paranaense foi deixada de lado.

    O ímpeto inicial dos investimentos curitibanos na frente de ocupação do Oeste refluiu com a ação militar no Uruguai, ao esvaziar a força armada na vanguarda colonizadora.

    Paraná desguarnecido

    Apesar de ficar sem força militar alguma, o bloqueio comercial imposto pela guerra favoreceu as exportações da erva-mate paranaense. Agora, além do gado, a riqueza também estava no mate. O gado era comprado no Sul, mas a erva, como os pinheirais, estava nos arredores, ao alcance da mão.

    As milícias haviam se retirado de Guarapuava nessa época para se dirigir ao Sul, em apoio à ocupação do Uruguai. Com a força militar no Paraná reduzida a zero, o capitão-mor de Paranaguá, Manoel Antônio Pereira, encaminhou em 11 de junho de 1817 ao Conde de Palma, o governador de São Paulo, um sinal de alarme. 

    Comunicava “não haver naquela vila nenhuma defesa, podendo acontecer serem invadidos e saqueados pelo inimigo ou corsários de Buenos Aires, e que não havia pólvora, bala, nem armas” (Antônio Vieira dos Santos, Memória Histórica da Cidade de Paranaguá, II). 

    Índios caçam índios

    No Oeste, os chefes índios catequizados eram instruídos a sair à mata para capturar outros índios, especialmente mulheres e crianças, com o fim de aumentar a força de trabalho em Atalaia. 

    As autoridades narravam os eventos de modo que não lhes parecessem desfavoráveis nem incriminadores: agora, segundo a versão portuguesa, eram os índios que caçavam índios. 

    Além da escravidão e das doenças que vieram com a “civilização”, as tribos eram jogadas umas contra as outras para que os mais fracos procurassem refúgio entre os soldados portugueses. 

    Segundo Mércio Pereira Gomes (Os Índios e o Brasil), as epidemias eram mais destrutivas quando ocorriam associadas a guerras de extermínio ou de escravização. A escassez de alimentos, a exaustão e o desgaste dos indígenas cativos facilitavam a baixa no sistema imunológico e propiciavam a contaminação.

    Começa a tradição colonial

    Para estimular a ocupação definitiva dos Campos de Guarapuava, foram distribuídas sesmarias aos integrantes da expedição de conquista e também para outros fazendeiros dos Campos Gerais, Curitiba e São Paulo interessados em utilizar a terra e que auxiliariam os conquistadores com alimentos, montarias e pousadas. 

    Data desse momento o início da formação da estrutura fundiária baseada em grandes propriedades na região.

    Segundo a legislação portuguesa, “o tamanho de uma sesmaria seria de uma légua de testada por três de comprimento ou cinco mil e quatrocentos alqueires de terra. Havia outras que apresentavam a superfície de uma légua e meia quadrada, área equivalente a quatro mil e cinquenta alqueires de terras” (Carlos Eduardo Schipanski, As Cavalhadas em Guarapuava).

    “Toda fazenda possuía seu próprio pomar e as atafonas encarregavam-se do feitio da farinha de mandioca e polvilho. Os monjolos e pilões produziam o fubá e a farinha de milho. Os laticínios em geral, o charque, banha, linguiça, doces, sabões e velas para a iluminação eram produtos da indústria doméstica” (Alcioly Therezinha Gruber de Abreu, A posse e o uso da terra: modernização agropecuária de Guarapuava).

    Forma-se com o incentivo da doação de terras aos escolhidos pelo trono português, portanto, a base para a estruturação da sociedade do interior paranaense. 

    Punido deu a volta por cima

    Enquanto a guerra se arrastava no Sul, acontecia em 6 de fevereiro de 1818, no Rio de Janeiro, a coroação oficial do rei João VI como chefe do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. 

    Em Guarapuava, o cacique Yongong foi dado como desaparecido. Forçado por Atanagildo Pinto Martins a seguir um roteiro perigoso no interior da atual Santa Catarina, nunca mais voltou. Martins foi punido, mas depois participou heroicamente de novas ações militares e se redimiu perante os chefes militares. 

    O destino do cacique, obrigado a seguir um caminho perigoso depois de advertir sobre os riscos que haveria ao trilhá-lo, é revelador da situação humilhante dos índios aprisionados na frente de conquista territorial.

    A frente de vanguarda que deveria avançar para o Oeste do atual Paraná recebeu nova ordem em 22 de agosto de 1818: estabelecer povoações ao longo da estrada para as Missões. Atanagildo, que conhecia o terreno, teria utilidade nessa missão. 

    Palmas, a retomada 

    Por ora, a Oeste estava um território de difícil acesso: “Imensa região de campos devolutos, pontilhados de bosques, vergéis, entremeados de pinheiros (…) florestas imensas de matas virgens, povoadas de pinheirais, imbuías e demais espécies de árvores frondosas. Taquarais e caratuvais intransponíveis; espinhos das mais variadas espécies, como anhapindá, pata-de-vaca, agulheiros, tramas de cipó enlaçam-se pelos troncos ou cerrados debaixo da mata agreste” (José Bischoff, Sombras do Passado).

    Uma grande seca se abateu sobre a frente de conquista do território paranaense em 1819. Houve muito desânimo no interior desassistido. 

    Com o extremo-Oeste do atual Paraná descartado, Atanagildo Pinto Martins comunicou ter à disposição guias índios que lhe permitiam acesso fácil aos Campos de Palmas. Com isso conseguiu convencer Portugal a considerar a região estratégica para seus objetivos e devolvê-lo ao jogo. 

    Incluindo Palmas na agenda já seria possível ocupar também a margem esquerda do Rio Paraná, entre os rios Paranapanema e Iguaçu. 

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    Guerra o Sul travou os planos de ocupar o “Sertão Desconhecido” do Oeste

     

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  • A idade da língua

    A idade da língua

    Quando dizemos que uma obra está “a todo vapor” supomos que todos ao nosso redor entendem o significado, em se tratando de falantes da língua portuguesa. Embora seja uma expressão antiga, que remete ao tempo da predominância do transporte ferroviário a vapor, ela ainda consegue exercer a sua função comunicativa.

    Mas trago aqui um questionamento: será que essa expressão não está “deveras demodê” para continuar sendo usada em pleno “século XXI”?

    Ou será que cogitarmos o banimento compulsório dela seria “colocar a carroça na frente dos bois”?

    Em geral, a eliminação de termos antigos é um processo natural e gradativo, que acontece de acordo com as escolhas de fala das novas gerações, a partir de seus novos usos linguísticos.

    Também não é raro ouvirmos a referência de que um cenário bonito seja o “cartão postal” da cidade. Se tem algo antiquado para os jovens é enviar para alguém esse tipo de correspondência impressa!

    Claro que o termo teve seu sentido ampliado na prática, mas será que não está na hora de revitalizarmos a nossa língua?

    Se pra você “caiu a ficha”, este é mais um motivo para renovarmos a nossa fala, caso contrário em breve corremos o risco de não sermos mais compreendidos pelas novas gerações.

    Trens, carroças, cartões postais e telefones públicos que aceitam fichas continuarão fazendo parte da nossa história, mas nossa língua é rica de expressões e flexível suficiente para adotar neologismos ou termos mais atualizados que possam substituir as expressões citadas.

    Se você não concorda, deleta. Só não precisa me cancelar.

    Eu sei que a língua é dos falantes, viva, orgânica, mutável. Cada um deles e seus respectivos grupos a usam da forma como consideram melhor para sua finalidade de comunicar. 

    Só não vale “flodar” os grupos de mensagens ou as redes sociais com termos recém-criados. 

    As nossas escolhas no exercício da fala ou da escrita podem fazer revelações sobre nós, talvez até sobre a nossa idade… Qual é a idade da sua língua?

    Pensando bem, melhor deixar esse processo todo acontecer naturalmente.

    Sucesso a todos!

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Primeiro, o Sul. O Paraná fica para depois

    Primeiro, o Sul. O Paraná fica para depois

    Dar aos novos campos desbravados no futuro Paraná o nome de “Palmas”, em homenagem ao novo governador paulista, Francisco Mascarenhas, o Conde de Palma, não foi muito útil, de imediato, para os interesses curitibanos de desenvolver no Oeste seus projetos de ocupação militar, criação de gado e construir um mercado consumidor criando cidades.   

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    Em agosto de 1815, o comandante da expedição de conquista dos Campos de Guarapuava, Diogo Azevedo Portugal, recebia ordens para cortar despesas. A prioridade era estender o domínio português até o Uruguai e isso passava pela conquista das regiões ainda não exploradas no Rio Grande do Sul.

    Diogo tinha ordens para descobrir o caminho “mais conveniente e de direta comunicação entre a cidade de S. Paulo e o campo das Missões no Rio Grande do Sul”. Começou por demitir o tenente Manoel Soares do Valle, que explorou os campos e matos circunvizinhos a Guarapuava e promoveu o melhoramento do trânsito nos passos dos rios Iguaçu, Chapecó e Goyoen (Passo Fundo).

    O herói demitido

    Foi Manoel Soares quem chefiou a exploração pioneira ao Sul, abrindo uma picada de dez léguas até o Rio Chopim, de onde voltou por ficar sem mantimentos. O tenente, nesse caso, foi punido por não ter seguido adiante.

    A determinação dada ao comandante Azevedo era retomar a trilha do tenente Soares do Valle e seguir dali ao Rio Uruguai para chegar a Santo Ângelo, primeiro povoado das Missões, distância calculada em 40 léguas por “dois bugres já catequizados”. 

    Diogo deveria em outubro de 1815 abrir o caminho com o auxílio do prático Antônio das Neves Ramos e a equipe necessária à realização da tarefa, autorizado a recrutar “e levar sem a menor violência” das vilas de Curitiba e Castro trabalhadores ao soldo de cem réis por dia durante a exploração.

    Cem réis por dia, sem dúvida, era melhor que trabalhar como escravo em Guarapuava. A penosa chegada ao centro do Paraná – o próprio comandante revelou esse fato – aconteceu forçando “voluntários” a trabalhar.

    Comandante se declara doente

    O governo paulista pretendia que Diogo Azevedo cumprisse a tarefa com a maior brevidade, para que em janeiro estivesse de volta para apresentar seu relatório. 

    O comandante, porém, declarou-se enfermo, preferindo cuidar de sua fazenda. Retransmitiu as ordens ao alferes Atanagildo Pinto Martins, que em 28 de novembro, na continuação dos trabalhos de abertura da picada, alcança o Rio Chapecó.

    Martins comunica o feito a Azevedo no Natal de 1815, quando o Brasil Colônia já havia sido elevado, por decreto especial, à categoria de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

    Em 10 de janeiro de 1816, Azevedo transmite novas ordens a Atanagildo Martins: prosseguir “até o ponto de entrar em um dos Povos de Missões portuguesas”. Havia urgência porque Portugal planejava uma ação militar no Sul.

    De posse do plano de ação, Atanagildo Martins prepara uma escolta da qual participam o cabo Francisco de Quadros, dois soldados de linha (Barnabé Barbosa e Joaquim Gomes), os civis Guilherme José, Salvador Rodrigues, Américo Manoel, Joaquim Donaire, José Inácio e Manoel dos Santos, mais os índios em serviço de guias – o cacique Yongong e José Poly. 

    Exploradores divididos

    Partem de Guarapuava ainda em 10 de janeiro para abrir a “nova vereda”. Advertindo para o risco de ataques dos aguerridos inimigos Kaingangues, o cacique-guia Yongong desviou o rumo da escolta para Leste, distanciando-se das Missões. Seguindo ao Sul, chegam a um setor ainda desconhecido – a região de Campos Novos.

    “A expedição atravessou o Rio Uruguai por um novo passo e foi sair nos Campos de Vacaria. Infletindo para Oeste, percorreu a região do atual Planalto Médio do Rio Grande do Sul, até chegar ao destacamento de São Borja” (Roselys Vellozo Roderjan, A Formação de Comunidades Campeiras nos Planaltos Paranaenses e sua Expansão para o Sul).

    Descontente por não ter seu roteiro seguido por Yongong, Atanagildo mandou Yongong e mais oito homens retornar pelo pretendido percurso. A contragosto, partiram. E nunca mais foram vistos. 

    Martins cumpre a missão

    Atanagildo Martins chega ao Povo de São Borja, na região das Missões, em 17 de abril de 1816. Apresenta-se ao comandante do quartel ali sediado, Francisco das Chagas Santos (1763–1840), e faz seu relatório. 

    O chefe militar relata a seus superiores que a região explorada por Atanagildo Pinto Martins começou com o reconhecimento do Rio Chapecó.

    Segundo o relato, Atanagildo e escolta atravessaram os rios Iguaçu, Chapecó e mais um, “semelhante ao Chapecó”, que seria o Rio do Peixe. Adiante transitaram pelos Campos Novos, transpondo o Rio Uruguai por um novo passo, citado por Fidelis Dalcin Barbosa (Vacaria dos Pinhais) como sendo o Passo do Pontão. 

    O lugar é hoje conhecido como Barracão, sede do Município gaúcho do mesmo nome. 

    Crescem atritos entre Chagas e Diogo

    Nesse ano repleto de mobilizações militares, em 9 de julho é declarada a independência das Províncias Unidas do Rio da Prata (hoje Argentina), definição que ao contrário de acalmar os ânimos e unir interesses na região do Prata os antagonizou ainda mais. 

    Nessa mesma data, de grande magnitude para a formação da América do Sul, um fato decisivo ocorre em Guarapuava, diminuindo a influência de Portugal e afirmando a liderança curitibana sobre a colonização do interior: o padre curitibano Chagas Lima decidiu assumir o comando de Guarapuava.

    Em várias regiões do País, inclusive no litoral e Campos Gerais do futuro Paraná, intensificavam-se em 1816 os conflitos entre as lideranças locais e as autoridades representantes da coroa lusa.

    Eclodiam aqui e ali conflitos entre portugueses e brasileiros por arbitrariedades, sobretudo porque as autoridades europeias recrutavam para suas guerras todo brasileiro que não fosse escravo nem estivesse ocupado a serviço de alguma fazenda.

    Começam a se desenhar os anseios pela independência.

    Padre fica, militar sai

    Na frente de ocupação do interior, o conflito vinha das discordâncias entre o severo militar português Diogo Azevedo e o intransigente padre curitibano Francisco das Chagas Lima. 

    “Verifica-se um campo de tensões, uma luta por terra, por poder, e pela mão de obra indígena, que além da instalação do povoado, era o principal motor de um conflito, um conflito entre dois lados e dois lugares: o lado do comandante em chefe Diogo Pinto de Azevedo Portugal e o povoado em Linhares; o lado do reverendo 1º capelão da Real Expedição Francisco das Chagas Lima e do comandante interino Antônio da Rocha Loures e o povoado em Atalaia” (Almir Antonio de Souza, Armas, Pólvora e Chumbo: A Expansão Luso-Brasileira e os Indígenas do Planalto Meridional na Primeira Metade Do Século XIX).

    Em 9 de julho de 1816 se deu a ruptura. Padre Chagas venceu a disputa com o militar, mas o comandante Diogo Pinto de Azevedo ainda tentaria mais uma cartada: levar com ele os índios catequizados pelo padre. O enredo da saga se adensa. 

    CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

    Guarnecer territórios que Portugal ainda não controlava bem, como o setor das Missões, era essencial ao projeto de invadir o Uruguai

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • “Dezembrou”

    “Dezembrou”

    Chegamos ao último mês do ano e com ele muitos fatos e perspectivas relevantes. Tem o começo do verão, Natal, fechamento de um ciclo e renovação de esperanças de início de um novo ano que tende a ser sempre melhor. 

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    Estamos prestes a fazer um balanço de nossos passos pessoais e profissionais ao longo de 2020 e renovar nossas promessas, projetos e metas para 2021.

    “Dezembrou” com uma linda decoração natalina nas principais vias e prédios públicos de Cascavel, atrações democráticas que podem ser admiradas ao ar livre por todos.

    Nos próximos dias teremos a inauguração do novo terminal de passageiros em nosso aeroporto: uma estrutura muito moderna e admirável que está à altura do que a nossa cidade merece.

    Se você também não sabia, aí vai: a cor desse mês é entoada pela campanha Dezembro Laranja, que conscientiza todos a cuidar da pele visando à prevenção ao câncer. Especialmente por ser um período de sol escaldante, mesmo que por outro lado também é propenso a chuvas expressivas.

    É o mês oficial do 13º salário, dos fechamentos das vendas do ano, esforços extras para bater metas, mesmo sendo este um ano totalmente fora da curva.

    O ano de 2020 foi extremamente desafiador para a grande maioria dos segmentos e para a comunidade mundial como um todo, que atualmente está dividida entre admitir a necessidade de recuar as atividades socioeconômicas diante da segunda onda de Covid-19; e a esperança trazida pela perspectiva de vacinação em massa contra a doença.

    Na medida em que permanece a condição epidêmica devem permanecer também os cuidados redobrados em relação à saúde, os quais fazem parte da nossa nova cultura do novo normal.

    É natural do ser humano a sua ânsia de viver em sociedade, coisa que continuaremos fazendo sempre, porém deve prevalecer a consciência coletiva da necessidade de prevenção. Seguir o que as autoridades sanitárias preconizam é relevante para darmos tempo à ciência desenvolver e validar uma imunização eficiente. 

    A energia positiva que sentimos quando chega o dia do “sextou” também pode ser vivida quando chega o “dezembrou”, desde que o façamos com responsabilidade.

    Saúde a todos!

    *A autora é jornalista e investidora. 

    Fonte: Fonte não encontrada

  • O início: só trabalho escravo e catequese

    O início: só trabalho escravo e catequese

    Criar nos prisioneiros e escravos o interesse em trabalhar sem fugir mata adentro era o desafio colocado aos novos fazendeiros – os militares que ao ganhar terras nas frentes de ocupação também viravam latifundiários. 

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    A administração portuguesa pretendia convencer fazendeiros já estruturados na região de Curitiba a deslocar familiares e escravos para as frentes de colonização. Entretanto, eles só teriam interesse se recebessem uma generosa oferta de amplas posses territoriais e a garantia de defesa contra a resistência indígena. 

    Mas as autoridades de Curitiba, Campos Gerais e o litoral não estavam dispostas a perder seus homens de iniciativa, comerciantes e escravos, para os núcleos abertos no interior, entre Guarapuava e o Noroeste do atual Rio Grande do Sul, mesmo em troca vantagens convincentes. 

    A região já havia cedido muitos homens para a formidável força de oito mil soldados que o príncipe João mandou em socorro ao vice-rei platino, Francisco Javier Elio, sufocado em Montevidéu pela agressividade do revolucionário Artigas.

    Curitiba administrava a conquista 

    Continuava ainda muito difícil atrair interessados em viver no Oeste paranaense porque os mais capazes seguiam ao esforço de guerra. Os delinquentes e menos capazes eram enviados à força ao interior, mas fugiam na mata. 

    O trabalho era em geral escravo, mas o número de cativos já declinava, depois de tantos homens válidos deslocados para a defesa das fronteiras.

    O início da segunda década do século XIX se caracteriza pela consolidação de Curitiba como centro de comércio resultante da movimentação de tropas de gado entre o Sul e Minas Gerais. 

    A futura capital paranaense também colhe os louros pela conquista dos Campos de Guarapuava. São os curitibanos que persistem na região após a progressiva retirada dos militares, chamados ao esforço pela expansão do Reino na indefinida situação das Províncias Unidas do Prata.

    Mascarenhas, o Conde de Palma 

    Na metade da segunda década do século XIX, a construção do interior do Paraná se dava com esse empreendedorismo curitibano apoiado no aproveitamento da mão de obra escrava e na ação de catequese para “domar” a rebeldia dos índios e integrá-los à “civilização”.

    Em agosto de 1813 há troca de comando na Capitania de São Paulo. Luiz Telles da Silva, o Marquês de Alegrete, encerra seu período de gestão e mais tarde assumirá o governo do Rio Grande do Sul.

    Em seu lugar, depois de um governo-tampão exercido por um ano e quatro meses pelo triunvirato Mateus de Abreu, Nuno de Lossio e Miguel de Oliveira Pinto, virá Francisco de Assis Mascarenhas (1779–1843), o Conde de Palma, que toma posse em dezembro de 1814. 

    Para ganhar sua simpatia às causas da região, os Campos de Palmas receberam esse nome em sua homenagem. Mascarenhas havia tido uma experiência traumática em seu primeiro contato com o que é o Paraná de hoje. 

    O “gaúcho” Atanagildo

    Mascarenhas ainda governava Goiás quando enviou uma expedição para explorar as vias fluviais. Seus homens, “varando de noite a barra do Rio Tietê, desceram pelo Paraná, e se precipitaram no Salto de Guairá, ou Sete Quedas escapando só dois homens”.

    O episódio foi lembrado por Manoel de Sousa Chichorro, secretário do governador, em minucioso relato no qual a situação do Paraná dessa época foi exposta ao Conde de Palma desde suas origens.

    Nessa mesma ocasião, o capitão, depois major Atanagildo Pinto Martins, natural de Castro, foi designado para estabelecer a ligação entre Atalaia (atual Guarapuava), o Noroeste e Oeste do atual Rio Grande do Sul.

    No comando de um grupo militar também acompanhado por paisanos, os tropeiros, o povoador paranaense do Noroeste rio-grandense será no futuro considerado um herói “gaúcho”.

    Yongong e suas esposas  

    Martins será sempre lembrado, ao contrário de quem o levou até lá: o líder indígena Yongong, “descrito como grande conhecedor da região chamada pelos povos nativos de Bituruna ou Ibituruna – Terra Alta das Palmeiras” (Roberto Pocai, Além da “Boca do Sertão”: Pay-bangs e sertanistas nos Campos de Palmas [1809-1869]).

    A rota entre Guarapuava e a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul foi designada inicialmente pelos cronistas como “Vereda Missioneira”. O estabelecimento dessa via teve como personagem central o cacique Yongong (ou Pã’íIongong).

    Seu papel nesse pioneirismo se deu amplamente pela grande utilidade das tarefas que cumpriu na missão, oferecendo os préstimos essenciais de vaqueano (guia) e linguará (intérprete).

    A presença desse importante cacique na história foi ignorada porque o padre Chagas Lima o considerava rebelde. Insistia em manter quatro esposas e ao pretender mais uma, de onze anos, chegou a ser preso a mando do religioso. 

    Desencontros e escolhas 

    Rebelde, de fato, Yongong era. Na marcha ao Sul, ele não seguiu a rota pretendida pelo comandante da expedição. Advertindo que seria arriscado percorrer um território controlado por índios bravios – os Kaingangues, “(…) guiou-se mais ao Oriente, e passando pela ponta ocidental dos campos de Palmas, saiu nos da Vacaria” (Joaquim José Pinto Bandeira, Notícia da descoberta dos Campos de Palmas).

    Atanagildo Martins não ficou satisfeito com o roteiro escolhido pelo chefe índio e determinou que ele retornasse até o ponto em que a trilha idealizada pelo comandante deveria ser seguida e retomasse o trajeto com um pequeno grupo. 

    O cacique indígena relutou, mas contra vontade se obrigou a seguir o caminho desejado pelo comandante com alguns homens de confiança. Nenhum deles jamais voltou. Se desertaram ou foram atacados, nunca se soube.

    A Vereda das Missões 

    A conquista dos Campos de Palmas começa de fato quando o tenente Manoel Soares do Vale (1763–1824) completa o levantamento da margem esquerda do Rio Iguaçu em junho de 1815. 

    “Foi aí que atingiu o Rio Chopim, abrindo uma picada de dez léguas de fácil trânsito, de onde retrocedeu, por se acabarem os mantimentos” (Roselys Vellozo Roderjan, A Formação de Comunidades Campeiras nos Planaltos Paranaenses e sua Expansão para o Sul). 

    Levar adiante a abertura da “Vereda das Missões” era essencial para o Sul do Brasil. As autoridades reais e o governo de São Paulo não estavam satisfeitos com os resultados obtidos em Atalaia/Guarapuava porque o alvo maior era obter o controle do Noroeste e Oeste do Rio Grande do Sul e partir para dominar a região do Prata.

    Em agosto de 1815, o comandante da expedição de conquista dos Campos de Guarapuava, Diogo Azevedo Portugal, recebe ordens para regressar a Atalaia e promover cortes de despesas.

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    Tropeiros na Vereda das Missões

     

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  • Você já sentiu medo da viagem de férias?

    Você já sentiu medo da viagem de férias?

    Era uma segunda-feira de manhã quando arrumamos as malas, colocando nelas nossas incertezas sobre a decisão de viajar nesse ano de pandemia.

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    O destino era conhecido: Rio de Janeiro, mas o que encontraríamos lá era uma incógnita. A dúvida sobre adiar mais uma vez as férias de 2020 levamos na bagagem, dividindo espaço com seis máscaras, produtos de higiene reforçados e um tubo de álcool em gel.

    Viajamos em dois. As sinalizações de distanciamento social estavam em todos os aeroportos. Sem perceber, às vezes até nós nos distanciávamos na fila de embarque, depois lembrávamos que somos um casal e estávamos juntos.

    Uma voz feminina gravada nos informava que todo o ar interno das aeronaves era renovado a cada três minutos; e que o uso de máscara era obrigatório a todos durante todo o voo. Distribuíram aos tripulantes lenços umedecidos com gel antisséptico. O serviço de bordo se limitou a servir água (sem consumo de alimentos).

    Todos esses cuidados foram nos transmitindo segurança. O Uber que nos recepcionou na cidade de destino explicou da proibição de fechar os vidros do carro para ligar o ar-condicionado. Assim, a ventilação vinha de fora do veículo, conforme a velocidade que ele andava pela Linha Vermelha.

    No hotel, havia uma enxurrada de motociclistas do Ifood e Rappi entregando lanches aos hóspedes – deduzimos que muitos deles estavam evitando jantar em ambiente público ou coletivo.

    No dia seguinte, decidimos realizar exclusivamente passeios ao ar livre. Nunca antes nesse país vimos tantas pessoas mascaradas andando pelas ruas. Que alívio, sinal de consciência sobre os riscos.

    A escolha de ir viajar em dias úteis também foi estratégica, pois havia um número menor de pessoas nos locais turísticos. Assim, levamos nosso tubo de álcool em gel para passear em Copacabana, Ipanema, Lapa, Botafogo e Lagoa Rodrigo de Freitas.

    O Rio normal de atrativos tão badalados de outrora deu lugar a orlas livres para caminhada, trilha no parque da Catacumba, vista da lagoa, garça, tartaruga… Mais uma vez nos apaixonamos!

    Talvez o novo normal tenha nos afastado um pouco das pessoas, mas nos aproximou mais das belezas naturais, culturais e históricas.

    Sempre nos perguntam sobre o medo de sofrer algum tipo de violência no Rio de Janeiro. Vimos muito mais viaturas policiais lá em cinco dias do que aqui em Cascavel em um ano (guardadas as proporções).

    Os únicos momentos de apreensão foram ocasionais quando moradores de rua vinham em nossa direção sem máscara para pedir dinheiro. Mas era mais medo do coronavírus do que de um possível assalto. Por isso, nos afastávamos imediatamente.

    O desconforto de estar sempre com a boca coberta foi suplantado por estar o tempo todo de olhos bem abertos: o Rio de Janeiro continua lindo!

    O tubo de álcool voltou vazio e nós voltamos cheios de energia e felizes por constatar que, com cuidados redobrados e muita responsabilidade, foi possível superar o inédito medo da viagem de férias.

    Sucesso a todos!

    * A autora é jornalista e investidora. 

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  • Padre e militares não se entendiam

    Padre e militares não se entendiam

    O padre curitibano Francisco das Chagas Lima, o membro da expedição de conquista ao Oeste encarregado de comandar o esquema de catequese dos índios, logo no primeiro contato com os nativos abriu uma guerra com os soldados.

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    Quando os índios abordados pelo padre, em sinal de boa vontade, deixaram suas mulheres no forte Atalaia e se recolheram às aldeias, Chagas Lima proibiu os carentes soldados de aceitar a generosa oferta.

    Para o severo padre, o contato íntimo com as nativas, além de desobedecer às ordens régias, afrontava os preceitos da religião. Nem os soldados nem os índios gostaram da decisão do padre, mas os militares nada podiam fazer a não ser obedecer à ordem superior. 

    Os índios, porém, com seus costumes bem diferentes do que o religioso podia supor, entenderam a proibição do padre como uma afronta e decidiram atacar o forte para expulsar os invasores. 

    “Negócios da guerra” 

    A rejeição às mulheres, tomada como ofensa pelos índios, “deu azo a um cerco de seis horas ao fortim, depois do qual os índios derrotados se refugiaram na mata”, segundo o padre Chagas Lima (Memória sobre o descobrimento e colônia de Guarapuava.

    “Os Campos de Guarapuava já tinham sido conquistados, com trezentos homens e peças de artilharia, com muita pólvora e canhões da doce e pacífica sociedade nacional, que destroçavam os inimigos bárbaros e cruéis, armados de flechas, lanças… e porretes” (Almir Antonio de Souza, Brincando nos Campos do Senhor. A Invasão das Terras Indígenas nos Campos de Guarapuava [1809-1820]).

    Pelo relato do padre Chagas Lima, a tropa de soldados luso-brasileiros travou por três meses “negócios da guerra contra os selvagens”, vencendo-os ainda no curso de 1810.

    Conclusão da primeira estrada 

    A exploração do território continuou, apesar das “grandes dificuldades, chuvas e frios rigorosos”, enquanto se escolhia um local para a plantação da roça. Oficialmente, o comandante Diogo Pinto comunicava a seus superiores a conclusão da nova estrada e a chegada da Real Expedição aos Campos de Guarapuava:

    “No final de 1810, chefiando um agrupamento de cerca de 500 homens, finalmente tomamos definitivamente todo o Guarapuava, este amplo terreno de vital importância para civilizar os índios e dar início ao projeto de uma nova estrada para o Rio Grande. Com os progressos de nosso feito será permitido se fundar grandes arranchamentos ou quartéis com roças para sustentar a guarnição”.

    O projeto português de conquista do interior paranaense, porém, vai sofrer um abalo com o início de uma disputa de poder entre a autoridade militar e a autoridade religiosa. 

    Complô com o cunhado

    A divergência entre o comandante português Diogo Pinto e o padre curitibano surgiu já na definição local para o aldeamento de catequese dos índios. Chagas Lima pretendia que eles vivessem em aldeia autônoma, separados da tropa.

    Prevaleceu a força: Diogo Pinto impôs a mistura dos índios com os soldados e escravos, considerando que assim seria mais fácil vigiá-los.

    O padre começou a manobrar para que o chefe militar fosse logo transferido para outra missão. Com isso, convenientemente, ficaria no comando o tenente Antônio da Rocha Loures. Casado com Joana Maria de Jesus Lima, irmã do padre, Loures era seu cunhado.

    Para os portugueses, não se tratava mais de escravizar índios ou vendê-los como escravos, mas sim de conquistar suas terras, começando pelas áreas de campos que podiam imediatamente servir como pastagens para os rebanhos que acompanhavam as expedições. 

    “Depois de três meses de guerras e batalhas sangrentas, os Kaingang dos Koran-bang-rê foram derrotados pelas tropas comandadas por Diogo Pinto de Azevedo” (Kimiye Tommasino e Ricardo Cid Fernandes, Povos Indígenas do Brasil).

    Confissão: trabalho era escravo

    Diogo Pinto terminara o ano de 1810 com a satisfação de ver construída a estrada ligando os Campos Gerais aos de Guarapuava, mas reconheceu que a ocupação do interior do Paraná, desde o início, não foi espontânea:

    “A abertura da estrada para Guarapuava foi feita pelos moradores, que eram obrigados a trabalhar gratuitamente e tratados com severidade. Eram sacrifícios indispensáveis, pois de outra forma, sem vias de comunicação, a conquista de Guarapuava fracassaria, como a anterior”.

    Padre Chagas Lima ia continuar na Atalaia, marco inicial de Guarapuava, mas para o comandante Diogo a posição fincada no interior do Paraná era parte do trabalho de desbravamento do ainda desprezado interior do Rio Grande do Sul, especialmente suas regiões Norte e Noroeste. 

    Os atritos entre militares e religiosos deixavam sem solução a segunda finalidade da Real Expedição: abrir um novo caminho para as Missões.

    Agora, rumo ao Rio Grande

    Embora com atraso, e apenas como ação militar, de Atalaia/Guarapuava partiriam no futuro várias missões encarregadas de plantar povoados/fortins no Noroeste do Rio Grande do Sul. 

    Em apoio ao projeto de alcançar o Norte gaúcho, “os capatazes dos grandes fazendeiros dos Campos Gerais ocuparam os Campos de Guarapuava, cortados pelo Rio Jordão, subafluente do Rio Iguaçu e, em 1840, alcançaram os Campos de Palmas” (Nilo Bernardes, Expansão do povoamento no Estado do Paraná). 

    Os relatórios enviados aos ministros do Reino pelas autoridades curitibanas e pelo comandante da conquista do Oeste, Diogo Pinto de Azevedo, informavam que a tarefa de ocupar os Campos de Guarapuava havia sido cumprida à risca.

    Para fortalecer a conquista do interior e extrair progresso dessa atividade, no entanto, era fundamental enviar mão de obra para trabalhar nas áreas de colonização recente. 

    O governador paulista, Antônio Franca e Horta, sugeria que fossem despachados para a exploração e povoamento do Oeste “alguns vadios e facinorosos que na sua Comarca perturbam o sossego público, os criminosos e criminosas que sentenciar a degredo”. 

    Os degredados eram principalmente militares caídos em desgraça por se envolver em atividades ilegais. Ninguém queria vir para o Oeste. Nem os condenados.

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    Casa subterrânea dos índios Kaingangues que viviam no centro do Paraná

     

    Fonte: Fonte não encontrada