Categoria: Opinião

  • O previsível e o inusitado no Jornalismo

    O previsível e o inusitado no Jornalismo

    Se você prestar bem atenção, o Jornalismo tradicional tem uma parcela grande de previsibilidade, principalmente devido às pautas sazonais e à forma de abordagem dos temas.

    Todos os anos você vai ler, ouvir ou assistir a matérias jornalísticas sobre as vendas do comércio para ao Natal, o Réveillon, o pagamento do 13º salário, os destinos de férias, etc. São temas factuais recorrentes, que refletem o momento de vida da audiência.

    Nos programas jornalísticos de TV ainda existem os assuntos de frequência diária, tais como previsão do tempo e fluxo instantâneo de veículos nas rodovias.

    A previsibilidade segue também nos modelos de perguntas-padrão feitas aos entrevistados: Qual o objetivo? Qual a expectativa? Qual sua opinião? 

    Esse comportamento da mídia parece fugir à premissa que diz que: notícia não é quando um cachorro morde uma pessoa, mas sim quando uma pessoa morde um cachorro.

    Ainda bem que o previsível sempre está sujeito a ser surpreendido pelo inusitado!

    Em vídeo que circula na internet, a repórter pergunta ao entrevistado:

    -Qual o segredo para chegar aos 100 anos de idade?

    Ele responde: 

    – O segredo é não morrer.

    A resposta do idoso provoca risos e o vídeo está sendo considerado uma comédia, justamente em razão do seu caráter inusitado. 

    O senhor centenário foi bem-humorado na sua colocação, mas ao mesmo tempo, sua resposta revelou que nem todas as perguntas possuem resposta previsível. Possivelmente, ele não tenha nenhum “segredo” que seguiu para chegar àquela idade. Assim, a pergunta-padrão (feita a todos os centenários) ficou sem resposta-padrão (que varia entre levar uma vida saudável e tomar uma taça de vinho ao dia).

    Também viralizou, há mais tempo, o vídeo da entrevista a uma criança que estava conhecendo uma feira de animais e ordenhando uma vaca, ao que a repórter pergunta:

    – O que está achando? 

    E o menino responde: 

    – Leite.

    Apesar de óbvia, a resposta do garoto foi surpreendente e expressou a espontaneidade infantil. 

    Portanto, mesmo conservando uma parcela de previsibilidade, o segmento de comunicação coleciona um vasto conjunto de situações inusitadas, sejam elas cômicas (interrupções, tombos, respostas inesperadas) ou arriscadas (acidentes, explosões, quedas, tiroteios). 

    Acredito que a previsibilidade do Jornalismo atende a quesitos como a busca pela universalidade dos assuntos, acesso a informações de interesse público, abrangência de pessoas e facilidade de compreensão pela audiência.

    Por outro lado, não podemos desconsiderar que o Jornalismo precisa se reinventar cada vez mais, seja em razão do turbilhão de informações que competem pela atenção do público, seja pela possibilidade de robôs substituírem os repórteres no trabalho de produção de matérias – se antes esse fato era inusitado, agora já é previsível.

    Por enquanto, o componente emocional ainda é nossa vantagem sobre as máquinas. Porém não sabemos até quando teremos essa primazia, tendo em vista os avanços da inteligência artificial. Até lá, coloquemos em prática nossas melhores habilidades subjetivas (soft skills).

    Sendo assim, no exercício do Jornalismo cabe usufruir mais das características humanas do entusiasmo, carisma, criatividade, intuição, persuasão, solidariedade, empatia, espontaneidade, cooperação, capacidade de mobilização e integração, etc.

    Também vale explorar mais o jornalismo literário e a contação de histórias (storytelling) que envolvem e emocionam o público, pois são formas mais consistentes de fazer parte do seu cotidiano, do seu ideário e da sua constituição como humanos plenos.

    Sucesso a todos!

    * Carina Walker é jornalista e investidora. 

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Medo e frio, mas nenhum ataque dos índios

    Medo e frio, mas nenhum ataque dos índios

    O comandante Diogo Pinto de Azevedo Portugal embarca em Santos e parte rumo a Paranaguá em 19 de junho de 1809. Carrega com ele um calhamaço de decretos, avisos, instruções, ordens e portarias referentes às ações a ser desenvolvidas na conquista do interior do Paraná. 

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    De Paranaguá, sede da autoridade regional, segue a Antonina, onde suas tropas desembarcam em 24 de junho para se preparar e seguir a Curitiba. Essa primeira etapa da ação no Paraná não lhes foi nada fácil. 

    Depois de transpor a Serra do Mar, “sempre em meio a muita chuva, as tropas alcançaram Curitiba a 2 de agosto, em estado lastimável, sendo a maioria dos soldados internados no hospital” (Arquivo Municipal de Curitiba, Documentos para a história do Paraná [1660 a 1872]).

    Além de 200 homens armados que trazia, a expedição se completa em Curitiba com mais uma centena de colonos (voluntários, mulheres e escravos). À frente, sai de Curitiba em 3 de agosto um primeiro grupo de cem homens. 

    Pelo menos os militares estão cientes de que os Campos de Guarapuava eram habitados por índios da nação Tapuia ou Jê, descritos como “aguerridos”, embora jamais tenham atacado a vanguarda de penetração.

    Paranaguá era a capital

    Vai começar, enfim, a definitiva conquista do Oeste. Partindo em 19 de agosto de 1809 para São Felipe, estabelecida como a vanguarda da frente de penetração, ali o chefe militar mandou explorar um caminho para os “Campos do Cupim” (Imbituva). 

    A abertura do caminho prosseguiu, “chegando a 15 de novembro na [Serra da] Esperança, onde se fez a terceira roça e um grande quartel, distante de São Felipe de trinta e seis a trinta e sete léguas”, detalharia Diogo Pinto em relatório ao ouvidor João de Medeiros Gomes.

    Monitorar o andamento da expedição de conquista ao interior do Paraná não foi o único feito histórico do ouvidor. Ele mudou a sede da Comarca de Paranaguá para Curitiba e provavelmente foi essa decisão que definiu Curitiba – e não Paranaguá, na época em melhores condições – como a capital do futuro Paraná.

    Linhares, o pró-inglês

    Dos Campos do Cupim, a expedição seguiu até os de Guarapuava, ali chegando a 16 de dezembro, “depois de vencidas catorze a dezesseis léguas”. A jornada ainda seria mais trabalhosa, cumprida só após três tentativas, em 28 de dezembro de 1809, para alcançar uma posição de acordo com as especificações das ordens recebidas.

    Já em plena atividade, a abertura da estrada até o destino pretendido avançou em 16 de fevereiro de 1810 com a construção de pontes e aterros rumo a uma posição estratégica, batizada como Abarracamento de Linhares, sete léguas e meia adiante de São Felipe. 

    O local homenageia o ministro Rodrigo Sousa Coutinho, o Conde de Linhares, partidário dos ingleses, sinal de que essa tarefa interessava aos planos britânicos para estender seus domínios pela América do Sul.

    “Aí foram construídos quartéis, capela, armazém, cozinha, hospital, casas de ferraria e de farinha e também se fez uma roça. Na povoação de Linhares deveria permanecer a sede do Comando da Expedição, até o momento de marchar para Guarapuava” (Roselys Vellozo Roderjan, A Formação de Comunidades Campeiras nos Planaltos Paranaenses e sua Expansão para o Sul).

    Medo e frio em Nova Esperança

    A exploração e o prosseguimento da abertura da estrada para a circulação das tropas teve um novo marco no momento em que a abertura alcançou a Serra da Esperança, em 29 de abril de 1810. A turma já havia transitado por ali fazendo explorações e definindo o trajeto da via. 

    Nessa data foi edificado o Quartel da Nova Esperança, “com capela, armazém, três quartéis, ferraria, cozinhas, monjolos, fábricas de farinha, tudo dentro do abarracamento, além de açude e roça”.

    “Muitas pessoas dormem ao relento, junto ao fogo. A noite é tétrica, assombrosa. Mantêm-se fogos bem acesos, com o fim de aquecer e de, pela chama, afugentar as feras e, pela fumarada, os insetos. Há sentinelas alertas, guardas dos animais e guardas dos fogos, com rendição de hora em hora”, relataria o padre Francisco das Chagas Lima.

    Um forte no local escolhido

    “Nas primeiras noites, poucos dormem”, anotou Chagas Lima.. “Depois, pelo hábito e pela fadiga, dormem todos, menos os oficiais de serviço, as sentinelas e os guardas. Ouvem-se constantemente os brados de alerta. Também, às vezes se ouvem rugidos de feras espavoridas”. 

    A vanguarda da expedição portuguesa de conquista inicia a marcha final para alcançar o local pretendido no meio dos Campos de Guarapuava em 10 de junho de 1810. A tropa havia deixado Linhares com cerca de trezentas pessoas: duzentos militares e cem civis. 

    “Em plena mata, nela sobressaindo o pinheiro e a imbuia colossais ao lado da modesta erva-mate, o som dos clarins, as vozes do comando e o tropel dos animais se harmonizam com as vozes da natureza na floresta formidável”, relatava Diogo Pinto:

    “A expedição seguiu picada aberta pelo guarda-mor Francisco Martins Lustosa, e a 17 de junho de 1810, sem oposição do gentio, saiu próxima à cabeceira de um rio que se denominou Coutinho. Como defesa, o comandante fez levantar o forte Atalaia, onde se construíram as primeiras casas para abrigar a tropa e as famílias” .

    “Há de ser bom viver aqui!”

    A expedição, aquelas cerca de 300 pessoas, entre soldados, colonos e escravos, observados à distância por sentinelas indígenas, chegou à cabeceira do Rio Coutinho, batizado com esse nome em uma nova homenagem ao ministro português Rodrigo de Souza Coutinho, já homenageado com o nome do Abarracamento de Linhares. 

    “Apesar da friagem, que belas paisagens!”, anotou o comandante. “Que ar puro! Que água pura! Como há de ser bom viver aqui!”. 

    No auge do inverno, os cavaleiros “tiveram a impressão de penetrar em um mundo fantástico de cristal, tão grande era a beleza dos campos guarapuavanos cobertos de gelo. A natureza caprichara naquela geada para receber os primeiros povoadores” (Gracita Marcondes, Nossa gente conta nossa história). 

    Em 2 de julho foi escolhido o local onde a povoação ficaria – Atalaia foi seu primeiro nome. Exatamente como Diogo Pinto de Azevedo previra, em nenhum momento a grande expedição foi perturbada pelos índios. Só começaram a haver atritos quando os portugueses pressionaram os nativos para servi-los em aldeamento, contrariando seus costumes.

    Primeiro contato foi pacífico 

    Duas semanas depois de levantada a Atalaia, foi atraído o primeiro grupo de índios, provenientes das tribos Camés, Votorões e Cayeres, que habitavam diversos pontos dos campos visados pela ocupação. 

    Segundo os cronistas da expedição, o grupo foi “muito bem tratado e agraciado, com presentes, durante sua permanência na povoação”. Desse primeiro contato, porém, resultaria o primeiro foco de atrito no paradisíaco cenário de inverno do centro paranaense.

    Ao se retirar, os índios deixaram várias mulheres no acampamento. De acordo com seus costumes, este é um sinal de amizade e reconhecimento. O padre Chagas de imediato reuniu os homens e os exortou a evitar “a tentação de qualquer contato com as índias”. 

    A reação que veio a seguir foi como uma declaração de guerra, como será visto na próxima semana.

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    Representação do cacique Tindiquera no Bairro Alto, em Curitiba, homenageia os índios do Paraná | foto: Washington Cesar Takeuchi

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  • Pitt, o inglês que planejou o Brasil

    Pitt, o inglês que planejou o Brasil

    Com a influência inglesa sobre Portugal crescendo no período das Guerras Napoleônicas, o chanceler britânico William Pitt II (1759–1806) propunha construir um “império” para acolher colonos de todo o mundo para povoar o “país das amazonas”, os “confins do Paraguai” e as “vizinhanças do lago Xaraés” (Araguaia-Tocantins).

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    Só estavam proibidos os revolucionários franceses. William Pitt, alcunhado “o Jovem” por ter o mesmo nome do pai, era uma personalidade singular. Simpatizante da Revolução Francesa, como chefe no governo inglês lhe coube combater os revolucionários. 

    Foi ele quem sugeriu o primeiro projeto de grande nação para o Brasil anglo-lusitano: aproveitar a navegabilidade dos rios, fundar uma “Brasília” (à qual sugeriu o nome de “Nova Lisboa”), onde passariam a viver o rei português e sua Corte, ramificando “estradas reais” ao Pará, Rio de Janeiro, Olinda, Salvador e portos do Pacífico.

    Declaração de guerra 

    Dando sequência a esse projeto, os ingleses escoltaram o príncipe João de Bragança e a família real ao Brasil e de imediato foi providenciada a expedição de conquista ao interior do Paraná, que daqui estenderia seus caminhos à região missioneira do atual Rio Grande do Sul.

    A ordem veio com a Carta Régia de 1° de abril de 1809, determinando uma nova expedição “ao descobrimento dos Campos de Guarapuava, a catequese, e declaração de guerra àqueles índios Botocudos”. 

    Os índios do Paraná compunham na verdade uma ampla diversidade étnica, sem relação específica com os Botocudos, designação que para Portugal, nessa época, definia a totalidade dos índios de sua colônia sul-americana. Depois prevaleceria o termo “bugres”, que designava os índios sem catequese.

    “Entre os diversos agrupamentos indígenas existia rivalidade e desacordo de ideias, mas também momentos em que os líderes se entendiam. Entre esses índios relatados nos chamados sertões estavam Camés, Votorões, Dorins e Xocrens – todos do tronco Jê” (Afonso d’Escragnolle Taunay, Os índios Kaingang). 

    Imigrante de preferência militar

    Para ocupar as terras dos índios e suprir a redução da mão de obra negra, consequência imediata da proibição do tráfico escravista, os ingleses propunham trazer europeus. 

    Ocupar os espaços despovoados do interior do Brasil utilizando a mão de obra dos europeus empobrecidos pelas guerras foi a estratégia sugerida a Portugal por William Pitt em 1809, proposta que está na base da substituição da mão de obra escrava. 

    A preferência por famílias de militares europeus se encaixava na meta de combater os índios. Além disso, as autoridades portuguesas pretendiam aproveitar o trabalho dos vagabundos – ou seja, recrutar quem não quisesse trabalhar segundo as normas capitalistas com a promessa de encontrar riquezas no interior. 

    A preparação da mão de obra e a composição dos quadros militares, nesse caso, seria providenciada acionando os meios legais para direcionar a repressão ao crime e ao ócio como fonte de recrutamento para o trabalho forçado e ao adestramento militar. 

    Criminosos e estrangeiros

    Ao reprimir a vadiagem, a polícia estaria recrutando os desocupados para o trabalho semiescravo ou para as frentes militares de luta, abertas para a expansão do império ao Sul, Norte e Oeste.

    Além de pôr a polícia para recolher vadios e pô-los a serviço na lavoura ou frentes de batalha, o chefe policial Paulo Fernandes Viana (1757–1821) executou um programa de atração de famílias açorianas para trabalhar nas áreas tomadas aos índios em atividades agropecuárias.

    A polícia pagava as passagens e custos de transferência de jovens casais açorianos para o Brasil, fornecendo-lhes habitações, terrenos, ferramentas, carros e bois ou cavalgaduras. Benefícios, facilidades e instrumentos negados aos “vadios” – índios, negros e mestiços.

    Essas táticas de ocupação do interior seriam os “justos motivos que fazem suspender os efeitos de humanidade”, afirmava o príncipe João, autorizando “a guerra contra esses bárbaros índios”, para favorecer a distribuição de sesmarias aos brancos obedientes ao Reino.

    “Matam cruelmente”

    Idealizada pelo coronel engenheiro português João da Costa Ferreira e pelo inspetor de índios paulista José Arouche de Toledo Rendon, a Real Expedição de Conquista dos “sertões” do Paraná foi desenhada passo a passo para ser executada como operação militar e religiosa.

    Ferreira e Arouche elaboraram minuciosamente todo o procedimento que a expedição deveria seguir para tomar a posse definitiva da região e iniciar o aldeamento e catequese dos índios. 

    Seria uma força especial: além de militares traquejados no comando e de um experiente catequista, levaria escravos para trabalhar na construção de estradas, roças, capelas, instalações civis e militares.

    “Tendo presente o quase total abandono em que se acham os campos gerais de Curitiba e os de Guarapuava, assim como todos os terrenos que deságuam no Paraná (…) infestados pelos índios denominados bugres, que matam cruelmente todos os fazendeiros e proprietários que nos mesmos países têm procurado tomar sesmarias e cultivá-las em benefício do Estado; de tal maneira que […] maior parte das fazendas […] se vão despovoando”, rezava a Carta Régia de 1808 – Sobre os índios Botocudos, cultura e povoação dos Campos Gerais de Curitiba e Guarapuava.

    A Vereda das Missões

    Uma nova carta régia, em 19 de abril de 1809, determinava a abertura de uma via diretamente do interior do atual Paraná até as Missões. Será a origem de várias povoações ao Norte, Noroeste e Oeste do atual Rio Grande do Sul.

    A operação seria iniciada com o envio do alferes Atanagildo Pinto Martins (1772–1851). Nascido em Castro e servindo na Cavalaria Miliciana de Curitiba, caberia a ele abrir a “vereda das Missões”, no período entre 1814 e 1819. 

    Antes de enviar Martins rumo ao Sul, porém, o comandante Diogo Pinto de Azevedo Portugal precisava completar a tarefa de estabelecer uma posição fortificada em Guarapuava. 

    Com as instruções detalhadas que recebeu em São Paulo, Diogo seguiu para Santos, ali chegando em 3 de junho de 1809, onde iniciou o rápido preparativo da “tropa de linha”, que levaria parte do material necessário – o restante seria providenciado em Curitiba. A conquista definitiva do Oeste iria começar.

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    William Pitt projetou o Brasil grande, preconizou Brasília e propôs a imigração

     

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  • Reputação e confiança como valores corporativos

    Reputação e confiança como valores corporativos

    A sua empresa tem uma boa reputação? Atualmente, a reputação é considerada um patrimônio corporativo capaz de atrair negócios e refletir nos resultados da companhia. Ela interfere no valor de mercado da empresa e no custo de capital, por isso uma reputação corporativa forte constitui-se uma vantagem competitiva.

    Mas o que é reputação? É a percepção do público em relação à corporação, que é resultado da interação da empresa com seus stakeholders – todos com as quais ela se relaciona: cooperados, colaboradores, fornecedores, clientes, prestadores de serviço, entre outros.

    A partir da percepção do público é que a empresa é creditada ou não a receber a confiança dele, ou seja, as pessoas confiam em quem têm uma boa reputação. 

    Reputação e confiança estão entre os três principais pontos considerados pelos consumidores brasileiros na hora da compra, ficando atrás apenas de preço (Relatório Especial Edelman Trust Barometer 2020: Confiança nas Marcas).

    Vantagens da confiança

    De acordo com o Edelman Trust Barometer, que realiza a maior pesquisa mundial sobre confiança nas instituições, empresas confiáveis têm uma base mais forte de consumidores; geram recomendações da força de trabalho; têm maior licença junto a reguladores para poder operar; são mais bem avaliadas pelo mercado e preferidas pelos investidores, possuem maior resiliência frente ao risco, enfrentam melhor as crises; e ainda são mais imunes a coberturas desfavoráveis da mídia.

    Quando se conquista uma imagem positiva e sólida, eventuais falhas também passam a ter um peso menor junto ao público e ao mercado.

    Como conquistar a confiança

    Segundo o jornalista e professor Clóvis de Barros Filho: “Você costura relações de confiança quando é fiel aos valores que afirma respeitar”.

    Portanto, para conquistar a confiança do público é preciso ser uma empresa confiável. 

    Na prática, consiste em difundir os valores e a missão da empresa; ter uma postura coerente com os próprios valores e com o que comunica; cumprir o que promete e não prometer o que não pode cumprir; praticar a transparência, admitir eventuais falhas e corrigir os erros. Também é importante zelar pela imagem percebida (reputação). 

    Como ter uma boa reputação

    Apesar da reputação estar em mãos alheias (do público), as organizações podem e devem gerenciá-la, sendo responsáveis por construí-la, monitorá-la e protege-la. 

    Por meio das suas decisões, atividades e da sua comunicação, a empresa deve buscar sempre o alinhamento entre o seu posicionamento (imagem desejada) e a percepção dos stakeholders (reputação).

    Uma reputação corporativa forte engloba: conduta ética, integridade, governança corporativa transparente e eficiente, comunicação estratégica, gestão de marca, ambiente organizacional favorável, práticas de responsabilidade social e ambiental, práticas de negociações e parcerias justas, qualidade de produtos e na prestação de serviços, etc.

    As organizações que conseguem construir uma reputação forte atraem mais negócios, se tornam referência, conquistam melhores resultados financeiros e maior sucesso.

    Por ser um patrimônio intangível e conquistado ao longo do tempo, a reputação de uma organização precisa receber atenção profissional permanente. 

    Sucesso a todos!

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  • Dilema: aceitar o domínio francês ou fugir

    Dilema: aceitar o domínio francês ou fugir

    O mundo está prestes a sofrer uma nova configuração geopolítica nos primeiros anos do século XIX. Em Lisboa, as tensões se acumulam com a força francesa prestes a controlar o país. Os ingleses colocaram diante do príncipe João duas opções: pôr sua esquadra sob o comando inglês ou embarcar imediatamente para o Brasil. 

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    Em 13 de novembro de 1807 a família real começa os preparativos para a opção escolhida: vir ao Brasil. A ruidosa partida ocorre em 29 de novembro, com quinze mil pessoas lotando as embarcações. Seriam 54 dias de viagem.

    No dia seguinte à partida, enquanto a enorme comitiva já se desloca pelo oceano, os franceses ocupam Lisboa, sob o comando do general Jean-Andoche Junot. Os franceses tiveram nesse momento a grande frustração de saber que haviam perdido o Brasil – e logo em seguida todo o Cone Sul – para a Inglaterra.

    Guerra à França

    Dominar toda a região do Prata, ocupando Buenos Aires, o atual Uruguai e tomando ao Norte áreas ainda sob domínio francês levariam à construção do maior império do mundo – um imenso reino português. 

    A França não conseguiu se antecipar e Portugal não conseguiu completar, permitindo assim à Inglaterra cumprir mais uma etapa rumo à afirmação do seu próprio império.

    A esquadra portuguesa que traz a família real ao Brasil alcança a costa da Bahia em 18 de janeiro de 1808. Instala-se em março no Rio de Janeiro e em maio o príncipe João de Bragança declara guerra à França, invadindo sua Guiana.

    Com a rainha Maria afastada, João governa com plenos poderes e ordena tirar dos índios as regiões que eles ainda controlavam entre o interior do atual Paraná e o Norte do Rio Grande do Sul.

    Cumprir essa tarefa seria “civilizar os povos bárbaros”, submetendo-os a “uma escola severa, que por alguns anos lhes faça conhecer os bens da sociedade e avaliar o maior e mais sólido bem que resulta do exercício das faculdades morais do espírito, muito superiores às físicas e corporais”.

    “Mortandades e crueldades”

    Em Carta Régia datada de 5 de novembro de 1808, o príncipe regente reconhecia que os métodos até então tentados na região não foram eficazes para obrigar os índios a “gozarem dos bens permanentes de uma sociedade pacífica e doce, debaixo das justas e humanas leis que regem os meus povos”.

    A seu ver, o “sistema de guerra defensiva” não surtia efeito, restando a alternativa da guerra ofensiva. 

    O príncipe suavizou a orientação ao ordenar que o plano de ocupação deveria ser tão amistoso quanto possível, “considerando que não é conforme os meus princípios religiosos e políticos o querer estabelecer a minha autoridade nos Campos de Guarapuava e território adjacente por meio de mortandades e crueldades contra os índios, extirpando as suas raças”.

    Para João, os índios deveriam ser submetidos “por meio da religião e civilização, até para não ficarem desertos tão dilatados e imensos sertões”. 

    A Expedição Real de Conquista

    Uma nova Carta Régia, datada de 1º de abril de 1809, além de definir o Rio Uruguai como limite sul da Comarca de Curitiba e Paranaguá, estabelecia as regras que o governo paulista deveria seguir para organizar a Expedição Real de Conquista de Guarapuava.

    A expedição ficaria sob o comando do tenente-coronel Diogo Pinto de Azevedo Portugal, tendo como subcomandante o tenente Antônio da Rocha Loures (1781–1849), que vinha de uma consagrada ascendência e também deixaria uma ampla e próspera descendência.

    Filho de curitibanos, nascido em São José dos Pinhais, Rocha Loures descendia de Mateus Martins Leme, capitão povoador de Curitiba, e também das influentes famílias paulistas Veiga, Prado, Bueno da Ribeira, Pires e Mendonça.

    Os planos lusos para o interior paranaense foram minuciosamente previstos: “Com relação à segurança do povoado, as casas deveriam estar afastadas umas das outras e se possível cobertas com telhas, para evitar as flechas incendiárias, e, além disso, deveriam estar rodeados por fosso ou trincheiras, esperando com isso manter afastados os índios bravos” (Almir Antonio de Souza, Brincando nos Campos do Senhor – A Invasão das Terras Indígenas nos Campos De Guarapuava [1809-1820]).

    Capturar “ociosos e vagabundos”

    Endereçada ao governador paulista, Antônio da Franca e Horta, a Carta Régia de 1º de abril de 1809 aprova o plano de povoar os campos de Guarapuava e de “civilizar os índios bárbaros que infestam aquele território”. 

    Para atrair colonos dispostos a trabalhar na região, ensaiava uma tímida “reforma agrária” com as terras dos índios: os colonos pobres que não tivessem sesmarias poderiam ganhar pequenos pedaços de terra devolutas.

    Inicialmente, a mão-de-obra seria escrava, fornecida pelos fazendeiros dos Campos Gerais e de Curitiba para trabalhos pesados, como a construção das estradas. 

    Seriam capturados para seguir à frente de ocupação “as pessoas sem estabelecimento fixo” e “os ditos ociosos e vagabundos deverão ser arregimentados também para o trabalho”.

    Entusiasmo em Curitiba 

    Finalmente, em 24 de maio de 1809 o governador paulista comunicava ao Conde de Linhares (ministro Rodrigo de Sousa Coutinho, pró-inglês e influenciador do príncipe) acharem-se “finalmente vencidos todos os obstáculos que se opunham à pronta expedição dos Campos de Guarapuava”.

    “Durante os vários meses que durou a organização da tropa, a população de Curitiba viveu em clima de agitado entusiasmo. Os campos de Guarapuava já eram lendários no espírito do povo, pelas maravilhas que dele se contavam, avolumando-se com o passar do tempo. Lembrados do fracasso da tentativa de Afonso Botelho, 40 anos antes, os padres se encarregavam de convencer o povo da certeza da vitória, sem derramamento de sangue, necessária para a cristianização de milhares de índios. Essa certeza lhes era dada pelo próprio Azevedo Portugal, que há tempos vinha garantindo que a conquista pacífica dependia apenas de uma expedição numerosa e bem armada, à qual os índios não reagiriam, como tinham feito com a pequena tropa de Afonso Botelho e Cândido Xavier” (Nivaldo Kruger, Paraná Central: A Primeira República das Américas).

    A Real Expedição de Conquista dos “sertões” do Paraná foi projetada pelo português João da Costa Ferreira (1750–1822), coronel da Engenharia, e pelo paulista José Arouche de Toledo Rendon. 

    Costa Ferreira se destacou nas obras de reconstrução de Lisboa, devastada pelo terremoto de 1755. Foi de sua lavra, além do levantamento cartográfico e projeto de povoamento para Guarapuava, a carta corográfica e hidrográfica dos portos de Santos, Cananeia, Paranaguá e Guaratuba.

    CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

    Busto do capitão Antônio da Rocha Loures em Guarapuava

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Como criar uma cultura de inovação na sua empresa?

    Como criar uma cultura de inovação na sua empresa?

    A capacidade de inovação de uma empresa é, atualmente, não apenas um dos seus principais ativos e diferenciais, mas uma necessidade para sua permanência no mercado. 

    Inovar impacta em melhoria de processos e em desenvolvimento de serviços operacionais, melhoria do bem-estar no ambiente laboral, maior produtividade, redução de custos, aumento das vendas e das receitas.

    Por conta disso, a capacidade de inovação é hoje uma das competências mais perseguidas pelas empresas que têm como propósito o crescimento dos seus negócios. 

    No entanto, muitas vezes existe dificuldade em colocar a inovação em prática. Por quê? Por considerar que é algo complexo e por não favorecer que ela aconteça. 

    Primeiramente, precisamos compreender que inovar não está restrito ao segmento tecnológico e não se limita a criar um produto revolucionário. 

    É preciso descomplicar a inovação e abrir caminho para ela. 

    De forma simplificada, podemos afirmar que inovar consiste em criar ou melhorar algo (que pode ser um produto, serviço, processo, método organizacional, de vendas ou ainda o modelo de negócio).

    Os processos de inovação ocorrem a partir de ideias inovadoras, as quais nascem de insights de integrantes da equipe de funcionários.

    A boa notícia é que a empresa pode favorecer que os seus colaboradores tenham boas ideias, criando uma cultura de inovação. Como?

    Se quem inova são as pessoas, elas precisam ser motivadas a isso: é preciso falar sobre inovação e simplificar seus conceitos. Isso pode ser feito implantando um programa de inovação, formando comitê interno ou clube de ideias, que seja responsável por fomentar a nova cultura. É importante que o grupo seja multidisciplinar, para contemplar diferentes ângulos de visão.

    Para criar um ambiente de inovação é preciso declarar confiança no potencial de todas as pessoas que trabalham na empresa, reconhecer que elas não são meras executoras de tarefas, mas sim que possuem opiniões e ideias capazes de melhorar a empresa. 

    Como as ideias surgem? A partir de observação crítica, reflexão, conexões, leitura, conhecimento, diálogo e troca de informações, vivências, experimentação, ousadia e criatividade. Sendo assim, é válido expor a sua equipe a conhecimentos diversos, palestras, treinamentos vivenciais, cases de sucesso de outras empresas, etc.

    Na empresa inovadora, o que os funcionários pensam não fica apenas no plano cognitivo, mas passa ao plano das palavras, da apreciação e, oportunamente, se concretiza. Para isso é necessário permitir às pessoas verbalizarem ideias.

    Além disso, a empresa deve estar aberta a receber críticas construtivas e mostrar que todas as ideias com esse viés serão bem-vindas, debatidas e analisadas pelo comitê de inovação.

    Ao ser criada uma atmosfera de fluência de ideias, o comitê interno deve estar apto a desenvolver um sistema de organização de ideias inovadoras. Ele avaliará a pertinência, viabilidade e impactos daquela inovação.

    Por fim, as ideias concretizadas devem ser motivo de reconhecimento individual pela empresa, e os resultados da inovação devem ser compartilhados e celebrados coletivamente, concluindo um ciclo interno virtuoso.

    Que tal começar a inovar ainda hoje?

    Boa sorte e sucesso a todos!

    * Carina Walker é jornalista e investidora

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Colégios cívico-militares: Um avanço ao Paraná

    Colégios cívico-militares: Um avanço ao Paraná

    A proposta do Governo do Estado, aprovada majoritariamente na Assembleia Legislativa, é inédita no Brasil se comprovou eficaz e com excelentes resultados. O desempenho dos alunos dessa modalidade de escola é 20% melhor no Ideb do das escolas normais.

    Agora, os diretores das escolas que se enquadram no perfil cívico-militar estão convocando pais, professores e funcionários para aprovar ou não a mudança proposta pelo governo. As consultas públicas começaram na terça-feira, 27, e seguem até quarta-feira, 28.

    A proposta é democrática, a comunidade escolar através de uma espécie de referendo vai dizer sim ou não ao modelo na escola em questão. Para ter validade, mais de 50% das pessoas aptas devem participar da consulta. 

    Por exemplo, se a comunidade escolar tem 500 integrantes, é necessário um quórum de pelos menos 251 pessoas. Para migrar ao modelo cívico-militar basta a aceitação de 50% e mais um voto do total. O resultado de todas as consultas deve sair até quinta-feira, 29.

    Os colégios cívico-militares vão ter carga horária ampliada, com aulas extras de português, matemática, educação financeira e valores éticos e constitucionais. Todos os estudantes vão receber uniformes e a formação de respeito às liberdades, apreço à tolerância, apropriação de valores com ênfase em comportamentos que valorizam o respeito e a honestidade.

    Os colégios terão maior participação e integração das famílias para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem, mais segurança no ambiente escolar e seu entorno, enfrentando a violência e promovendo a cultura da paz, além de prever uma forte atuação nas causas de repetência e abandono escolar.

    A nova modalidade de ensino funcionará com gestão compartilhada entre militares e civis em escolas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e no ensino médio. As aulas continuarão sendo ministradas por professores da rede estadual, enquanto os militares serão responsáveis pela infraestrutura, patrimônio, finanças, segurança, disciplina e atividades cívico-militares. Haverá um diretor-geral e um diretor-auxiliar civis, além de um diretor cívico-militar e de dois a quatro monitores militares, conforme o tamanho da escola.

    É uma ótima proposta que se espera por uma grande adesão. 

    Você pode garantir que seu filho tenha esse ensino de qualidade.

    Basta participar da consulta, votando pela transformação dos colégios cívicos militares.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Ordem aos paranaenses: produzir farinhas

    Ordem aos paranaenses: produzir farinhas

    1800. O novo século começa com as consequências das guerras napoleônicas. Uma delas – a escassez de alimentos em Portugal –, já afastada a rainha Maria I, tida por louca e fanática religiosa, fez o príncipe regente João de Bragança exigir do Brasil mais farinha para o pão de seus súditos. 

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    A ordem para priorizar a produção de farinhas foi repassada a Curitiba e Paranaguá pelo governador paulista, Antônio Manuel de Melo e Castro de Mendonça. Em carta datada de 15 de dezembro de 1801, o governador comunicava ao secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Rodrigo de Souza Coutinho, que determinara o incentivo ao plantio da mandioca na Capitania.

    Os preços do açúcar desabavam e os do algodão, requisitada matéria-prima americana, aumentavam significativamente. O perfil da economia mundial mudava, transformando também a estrutura produtiva do Brasil e determinando a vocação agrícola – e agroindustrial – do Paraná. 

    A região, a partir daí, fornecerá farinhas para as frentes de batalha no Sul, no Mato Grosso e para o Nordeste resistir a longos períodos de seca.

    O clã dos Andrades

    Após a morte do líder Lourenço Ribeiro de Andrade, em 1799, seu filho mais velho, Antônio, herdou com os negócios, comércio de gado e fazendas de criar, as funções de capitão-mor de Curitiba, equivalente às de governador. 

    Em sua condição de tropeiro, o novo líder de Curitiba tinha uma ativa cumplicidade com bandos de ladrões de gado e contrabandistas de cavalos nas esgarçadas fronteiras sulinas. 

    Antônio Andrade ficou ainda mais rico e poderoso que o pai porque, para o contexto da época, a ligação com bandos e as ocupações de terras não constituíam atividades imorais ou criminalmente condenáveis.

    O líder guerrilheiro paranaense Maneco Pedroso, por exemplo, foi um dos patriotas que tomaram dos espanhóis a região dos Sete Povos das Missões. 

    No governo do clã Ribeiro de Andrade teve início a imposição do capitalismo no Paraná e a ocupação do Oeste. Além de oficial da Câmara da futura capital, Antônio também foi capitão-mor da Freguesia de São José e deve ser reconhecido como precursor dos futuros banqueiros.

    Índios, o obstáculo habitual

    Resolver a questão indígena era um componente obrigatório para a política de aproveitamento econômico da região, ainda defendida bravamente pelos descendentes do bravo cacique Guairacá, que “em sua fase áurea chegou a liderar cem mil índios, de doze tribos e nações diferentes” (Nivaldo Kruger, Paraná Central: A Primeira República das Américas).

    Desde a primeira tentativa de ocupar o interior, em 1776, a proposta do capitão Afonso Botelho, apoiada pelos exploradores do sertão, era repudiada pela religião: sequestrar seus filhos para doutriná-los segundo a cultura europeia, liquidar os guerreiros e acasalar suas mulheres com soldados.

    Na Corte em Lisboa ainda prevalecia a inclinação religiosa dos soberanos portugueses. Historicamente, os religiosos se opunham à escravatura dos índios e a rainha Maria herdou de seus antepassados uma extrema fidelidade à Igreja Católica. 

    O príncipe João, entretanto, foi aconselhado a vencer e doutrinar os índios combinando a força militar com a catequese religiosa. 

    Rendon: plano para dominar os índios 

    Com a rainha afastada, crescia na Corte do príncipe João a aceitação à proposta de responder à ofensiva napoleônica formando “um grande império do outro lado do Atlântico”, defendida, dentre outros, pelo ministro Rodrigo de Souza Coutinho. 

    Um grandioso império, entretanto, não podia ter uma vasta fronteira desocupada. O projeto de usar a religião e a força combinadas para vencer os índios partiu de José Arouche de Toledo Rendon (1756–1834), diretor-geral das Aldeias da Capitania desde 1798. 

    Em 1802 ele apresentou um plano que consistia em “abolir os aldeamentos, transformando-os em núcleos ou povoações comuns”.

    Em meio a difíceis tratativas para organizar a campanha de ocupação do interior do Paraná, entre junho e outubro de 1803 a Capitania de São Paulo foi governada, interinamente, por um triunvirato composto pelo bispo d. Matheus de Abreu Pereira, o ouvidor Miguel Antônio de Azevedo Veiga e o intendente da Marinha, José Maria Couto. 

    O trio preparou uma excursão às matas inexploradas com a intenção de preparar as bases das futuras cidades.

    Os pontos interessantes 

    As determinações régias encaminhadas ao governador Antônio Mello e Castro de Mendonça na virada do século recomendavam, segundo ele mesmo, povoar “os pontos interessantes da capitania nos seus limites com Espanha, e os que dominam as cabeceiras dos rios que vão desaguar nos domínios espanhóis ou no Paraguai ou no rio da Prata” (Arquivo Histórico Ultramarino).

    O padre curitibano Francisco das Chagas Lima e o militar português Diogo Pinto de Azevedo seriam os encarregados de cumprir os desígnios do príncipe João de tomar as terras do interior dominadas pelos índios. Eles chefiariam o emprego das duas armas recomendadas pelo estrategista Arouche Rendon: a cruz e a espada.

    No fim de 1804, Napoleão Bonaparte é coroado Imperador da França em cerimônia referendada pelo papa Pio VII, mais um marco no avanço do capitalismo. Napoleão I, que estimulara os experimentos de Robert Fulton com embarcações e armas, ambicionava unificar a Europa sob seu cetro.

    Povoados deveriam ter 18 famílias 

    A organização da uma “expedição real de conquista” ao interior do Paraná foi decidida em meio a fortes embates entre o novo governador paulista, Antônio José da Franca e Horta, e as lideranças paranaenses.

     São estabelecidas em Curitiba “as condições e formalidades com que se deve fazer o caminho do Sertão”: “Será muito útil fazerem-se povoações no sertão que não poderão ser menos de dezoito fogos para poderem fazer frente aos bugres” (Raul d’Almeida, História de Rio Negro).

    Fogo era a casa ou parte dela em que habita independentemente uma pessoa ou família. Uma casa de três cômodos poderia somar três fogos, desde que fossem indivíduos ou famílias independentes entre si.

    Fácil planejar, difícil cumprir. Assim, somente em abril de 1807 começam a se definir os contornos da estratégia de ocupar o vasto interior inexplorado do Paraná. Tudo, porém, ainda dependeria de um movimento no xadrez europeu: o destino da família real portuguesa. 

    CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

    Arouche Rendon idealizou a fórmula que fez Portugal vencer os índios do interior paranaense

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Oeste seria francês, às ordens de Napoleão

    Oeste seria francês, às ordens de Napoleão

    O ano de 1800 fecha o século XVIII, no qual a burguesia conquista o poder político, abalando o absolutismo e instaurando seu sistema: o capitalismo, que vai se impor em escala global durante o século XIX, período em que também o Paraná se completará como província autônoma. 

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    Em 1800, o mundo alcançava seu primeiro bilhão de pessoas. A eletricidade começa a ser domada por Ritter. A Companhia das Índias Orientais desenvolve crescentes atividades na China, para onde os ingleses contrabandeiam ópio, oferecido em troca dos preciosos produtos orientais.

    A Guerra do Ópio seguirá até meados do século, apresentando consequências duradouras. Caracteriza, por seu impacto sobre o Oriente, a ofensiva global da Inglaterra para expandir sua influência, pela força do comércio, do dinheiro e das armas. Em breve o Brasil e o Paraná também estarão sob o domínio britânico.

    Os bárbaros Tupis

    Por enquanto, no interior do futuro Paraná, só os campos de criação progridem, até onde é possível haver proteção militar. Além dela está a imensa extensão das terras ainda sob domínio indígena. 

    Sair para as matas não controladas pela força militar, bancada pelos latifundiários (sesmeiros) que exploram a economia tropeira (pecuária), significa, portanto, enfrentar a resistência dos índios.

    O espanhol Miguel Lastarría, secretário do vice-rei do Prata, Juan José de Vértiz y Salcedo (1719–1799), enviou relatório à Europa informando que “os bárbaros Tupis vagam pelos grandes e espessos bosques (…) e muito no interior dos domínios portugueses, desde as cabeceiras do Piratini para o Rio Curitiba ou Iguaçu” .

    Muitos europeus ainda chamavam o Rio Iguaçu de “Rio da [Comarca de] Curitiba”. 

    O treinamento de padre Chagas

    A preparação para a conquista da vastidão interiorana do Paraná começa longe daqui, com a designação do padre curitibano Francisco das Chagas Lima (1757–1832) para aldear e catequizar índios nômades dos sertões de Mantiqueira, na divisa da Capitania de São Paulo com Minas Gerais.

    Era um treinamento para a missão que lhe seria confiada no interior do futuro Paraná. Lima se saiu bem na missão de formar a Aldeia de São João de Queluz, à qual impôs um padrão modelar.

    Sobre o futuro do interior ainda despovoado, padre Aires de Casal supunha que “depois de subjugados os selvagens de Guarapuava, ela deve crescer; e seus extensos contornos passarão a ser semeados de grande número de aldeias, cujos moradores, livres deste flagelo, poderão criar muito gado, e fazer florescer a agricultura”.

    Por ora, Portugal, no olho do furacão da disputa entre França e Inglaterra pelo controle da Europa, pretendia evitar que os “ideais franceses” (republicanos) se alastrassem por sua grande colônia sul-americana. 

    Lisboa autorizou no outono de 1800 o envio ao Brasil da força naval do almirante Donald Campbell para aumentar a força militar lusa na região.

    O papel da Fazenda Fortaleza

    O vice-rei José Luís de Castro (1744–1819), Conde de Resende, via dificuldades para o sustento de um grande efetivo militar, mas reforçou a defesa de Santa Catarina com um regimento da Infantaria e pôs em alerta as forças disponíveis no Rio Grande e Mato Grosso.

    Viu que era urgente ocupar o interior. Portugal precisava ir além do que era o Paraná no início de século XIX – Litoral, Curitiba e Castro. Assim, em 22 de outubro de 1800 ocorre uma transação que influirá decisivamente no desbravamento e ocupação do então remoto interior do Paraná.

    O coronel Joaquim Aranha de Camargo, influente personalidade da Justiça e da política em São Paulo, amigo da família real e descendente do rei Afonso Henriques, formalizava a transferência de sua sesmaria ao sargento-mor José Felix da Silva Passos, “com todo o gado e animais”, fazendo com que o enorme latifúndio do adquirente chegasse a 86 mil alqueires.

    O padre e o militar

    Acumular essa grande propriedade teria sido um prêmio a José Félix pela matança de índios Kaingangues, único obstáculo para a plena ocupação das terras requeridas. Os nativos eram acusados de invadir plantações, matar animais e atrapalhar a passagem dos tropeiros. 

    Eram conhecidos como Coroados, pelo corte raso do cabelo formando uma roda (ou coroa) acima da nuca.

    Desse latifúndio – a Fazenda Fortaleza – e do horror aos massacres patrocinados pelo coronel José Félix para eliminar os obstáculos à sua expansão territorial viria o projeto de ocupar o interior pela presença militar combinada com o esforço pelo aldeamento dos índios. 

    Esse plano teria como protagonistas o padre curitibano Francisco das Chagas Lima e o militar lusitano Diogo Pinto de Azevedo Portugal (1750–1820).

    Os índios resistiam bravamente às incursões das forças militares, limitadas pela fidelidade do trono luso ao papado, contrário ao massacre dos índios. 

    A rainha Maria I era uma católica fanática, mas em fevereiro de 1792 os médicos a atestaram como incapaz de gerir o reino. 

    Com a morte do primogênito José, preparado desde criança para herdar o trono, o reinado caiu nas mãos do débil príncipe João, que sob outras influências teria os índios como inimigos. 

    Sem as amarras que prendiam os militares, os grupos paramilitares de José Félix ousavam ocupar novas áreas enquanto clamavam por autorização real para promover “guerra justa” aos índios.

    Maior império do mundo

    A França tentou sem sucesso, mais de uma vez, tomar conta de todo o Brasil e nessa época o Oeste do Paraná quase acabou nas mãos de Napoleão. 

    As pressões sobre João cresciam. Sua esposa, a princesa espanhola Carlota Joaquina (1775–1830), queria que Portugal abandonasse os ingleses e se aliasse às forças napoleônicas.

    Carlota formou um partido secreto com a intenção de declarar João incapaz de governar, como já havia acontecido com a mãe, Maria I, a Louca. Se assumisse o trono em lugar de João, Carlota seria a líder do maior império do mundo, constituído pela Península Ibérica e América do Sul.

    O projeto foi proposto pelo chefe militar português, Marquês de Alorna. Teria como protagonista o próprio príncipe João. Começaria a partir do momento em que a família real se transferisse para o Brasil. 

    Com a rainha afastada, João governaria o novo grande império a partir do Rio de Janeiro. Mas se Carlota triunfasse, o Oeste voltaria a ser espanhol, agora submetido à influência francesa. 

    Com as manobras britânicas em favor do submisso João, o Brasil continuou português, mas agora sob ampla influência inglesa.

    CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

    Padre Francisco das Chagas Lima teria duas tarefas: pacificar os índios e controlar os militares

     

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  • Já decidiu em quem você vai votar?

    Já decidiu em quem você vai votar?

    Faltam menos de 30 dias para o pleito eleitoral em que iremos escolher nossos representantes políticos em nível municipal. Você já decidiu em quem vai votar?

    Tudo bem, as eleições deste ano estão sendo atípicas, por serem realizadas em meio à pandemia de Covid-19, o que implica uma série de restrições, especialmente um cuidado redobrado na campanha corpo a corpo.

    Diante deste cenário, as campanhas políticas estão cada vez mais virtualizadas, e o distanciamento social dos candidatos em relação aos eleitores já vem sendo assimilado como natural. 

    Não que isso seja um impedimento, pois as propostas de governo podem ser apresentadas por meio das redes sociais, sites e da propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV. 

    O problema é quando os eleitores se afastam do debate eleitoral, um fato que demonstra desinteresse pelo futuro da cidade, desmotivação ou descrença. Especialmente entre os jovens, essa postura já aparenta ser uma epidemia. E entre os adultos?

    Você já parou para pensar quais são os critérios que você adotou ou adotará para escolher os candidatos em quem irá votar no dia 15 de novembro? 

    Ficha limpa, origem, histórico pessoal, desempenho profissional, partido, discurso, posicionamento sobre temas relevantes, propostas concretas que pretendem realizar caso sejam eleitos…ou outros motivos…

    Está na hora de buscarmos conhece-los, bem como suas propostas.

    O historiador Yuval Harari afirma que: “Eleições sempre dizem respeito a sentimentos humanos, não à racionalidade humana”. Você concorda?

    Na propaganda eleitoral tenho observado que alguns candidatos da região Oeste adotaram uma estratégia de comunicação muito mais voltada à emoção e à humanização da figura do próprio candidato, em detrimento de oferecer promessas. Uma tentativa de fugir daquela velha roupagem da política.

    Acredito que as campanhas políticas ficarão cada vez mais próximas das campanhas publicitárias que adotam estratégias de marketing digital, em busca da geração de leads qualificados, somando potenciais eleitores, cujo engajamento seja revertido em votos ao invés de vendas. Para isso será preciso gerar conteúdo gratuito, criativo e atrativo, o que é um desafio quando o assunto é política. Quem sabe mudando a linguagem e a abordagem utilizada. Recursos e plataformas não faltam.

    Na era da tecnologia, nós eleitores, queremos mais do que santinhos para chamar a nossa atenção. Nomes e números dizem pouco. Queremos ser ouvidos, queremos uma causa.

    Novembro está logo ali. Precisamos retomar nosso interesse pela política e reassumir nosso papel de protagonistas no processo de escolha dos prefeitos e vereadores dos nossos municípios. 

    Para desempenharmos esse feito com maestria temos que resgatar nossa criticidade e exercitá-la visando a apontar aos candidatos o que mais importa para a coletividade.

    Pense nisso. Sucesso a todos!

    *A autora é jornalista e investidora.

    Fonte: Fonte não encontrada