Categoria: Opinião

  • Forca, guilhotina e genocídio

    Forca, guilhotina e genocídio

    No Brasil, os desafiantes da rainha Maria I, a Louca, pagaram com prisão e banimento pela ousadia de tentar a libertação da colônia. Tiradentes pagou com a vida, em abril de 1792. 

    Na França, foi a autoridade real que sucumbiu à força da rebeldia popular. Em 21 de janeiro de 1793 o rei Luís XVI e sua rainha Maria Antonieta, sentenciados pelo tribunal popular por “alta traição”, morrem na guilhotina. 

    A rainha portuguesa também temia ser guilhotinada se continuasse na Europa, dando força ao boato de que iria se mudar para o Brasil.

    Como resultado da nova realidade vigente na França (a República), a realeza de Portugal decide reagir aos ventos antimonárquicos que sopravam de Paris se unindo à Espanha na chamada Primeira Coligação, que reunia nações absolutistas na pretensão de barrar a França revolucionária. 

    A guerra sustentada pela Inglaterra contra a França centralizará as atenções mundiais desde essa época.

    Crise e terra indígena 

    A Paz de Basileia, assinada em julho de 1795 entre a Espanha e a França, deixou Portugal de fora. 

    Abandonado pela Espanha frente a uma França ávida por domínio, defendendo-se por sua própria conta e logo se inclinando a uma aliança com a Inglaterra, Portugal sofre sérios prejuízos.

    “Os corsários franceses prearam mais de 200 milhões de francos de cargas levadas do Brasil” (Oliveira Lima, D. João VI no Brasil). Os acontecimentos mundiais no final do século XVIII, portanto, empurravam Portugal para uma séria crise. 

    O Brasil, nessa época, despontava como a grande força comercial lusitana. “Em 1796, nove décimos das exportações portuguesas para o Reino Unido eram de procedência brasileira” (Pedro Calmon, História da Civilização Brasileira).

    No interior do futuro Paraná, arrojados sertanistas promoviam ilegalmente sangrentas incursões para tentar o domínio das terras ainda controladas pelos índios, que resistiam ao assédio militar português. Era crime, mas gerar riquezas salvaria o reino. 

    Índios na zoologia

    Entra em voga nessa época a Corografia Brazileira, do padre Aires de Casal, primeiro livro editado no Brasil. O padre incluía os indígenas entre os animais na descrição da zoologia sul-americana.

    Pretextos e provocações não faltaram para combater os índios resistentes no interior do Paraná, apesar de Portugal ser governado por uma rainha católica, religião que condenava os genocidas ao inferno.

    Com o fim da gestão de Bernardo José de Lorena em 27 de junho de 1797, a Capitania de São Paulo passou ao comando de Antônio Manuel de Mello Castro e Mendonça, que tinha o apelido de Pilatos. 

    Com Mendonça, o que hoje é o Paraná começou a ser mais bem conhecido e planejado. Em sua gestão, que virou o século, organizou 24 mapas com dados minuciosos sobre a população em 1800.

    Um plano para a agricultura 

    Os eventos preparatórios para a conquista do interior do Paraná começaram a se esboçar de fato no final do século XVIII: em 1797, ao ser promovido ao posto de sargento-mor de Milícias, Diogo Pinto de Azevedo Portugal recebe a missão de comandar o Regimento de Cavalaria de Curitiba, de onde sairá para fundar Guarapuava.

    Para acalmar a crise no Paraná dessa época foi essencial a liderança do capitão-mor de Curitiba, Lourenço Ribeiro de Andrade. Ele foi o precursor da moderna agricultura que depois, com o café e a soja, faria a riqueza do Paraná. 

    Andrade designou agentes para em cada bairro estimular lavouras e “a nobre profissão de Cincinato*, que no seu dizer era o primeiro móvel da felicidade do povo” (Maria Helena Cordeiro Inssa, Os Louros de Lourenço).

    Havia preocupação das autoridades portuguesas com a pobreza dos paranaenses nessa época de revoluções e contágio das “ideias francesas”, ou seja, burguesas (revolucionárias e republicanas). 

    * Lúcio Quíncio Cincinato (519–439a.C.) foi um general e ditador romano que se dedicou à agricultura. 

    Criar gado ou pegar em armas?

    O declínio da mineração e o fim das expedições para além dos Campos Gerais, bloqueadas pelos governos do Rio de Janeiro e da matriz Portugal para evitar massacres indígenas, deixaram aos jovens da região como opções apenas o negócio do gado e combater os invasores espanhóis nas frentes de luta.

    Isso permitiu ao governo regional estabelecer uma estrutura agrícola que mesmo ainda reduzida conseguiu abastecer a força militar com “bastante trigo, feijão, alguma vez milho, fumo ou tabaco de corda, toicinho e a erva chamada Congonhas [mate] que a terra produz” (Romário Martins, Terra e Gente do Paraná). 

    Até então, a prosperidade, no entender de Andrade, limitava-se aos os criadores “que tinham campos e exportavam bois, potros e algumas bestas” e eram os donos das principais fazendas de Paranaguá, Santos e São Paulo. Andrade manifestava preocupação com os demais cidadãos, sem tais posses: “Como ficarão?”, perguntava.

    A seu ver, a opção pela agricultura se apresentava como a saída mais viável, apesar da falta de conhecimentos dos colonos, habituados a tarefas que não requeriam técnica. 

    Andrade confiava que a agricultura permitiria dar sustento e aumentar a população, trazendo a esperança de melhorar suas condições até que chegasse “o tempo anunciado das grandes felicidades desta terra”.

    Algodão, lã, madeira e couro

    O fim da Primeira República francesa, em 9 de novembro de 1799 – o Golpe do 18 Brumário, início da Era Napoleônica – deu sequência a uma cadeia de eventos que viraram o século, como a guerra entre França e Inglaterra, cujos desdobramentos afetarão o Brasil e o futuro Paraná.

    Um dos cenários avaliados pelo governo português, comandado pelo ministro Rodrigo de Sousa Coutinho, seria deslocar seu centro político para o Brasil, edificando um “vasto Império luso-brasileiro” (Ana Rosa Cloclet da Silva, Identidades Políticas Na Crise Do Antigo Regime Português). 

    A definição, em breve, caberá ao príncipe João. Nesse raiar do século XIX, as atividades dos paranaenses eram ainda limitadas à sua economia interna. 

    “Com o algodão que vinha da região de Sorocaba e com a lã de seus próprios carneiros, em rodas de fiar e teares, manejados pelas mulheres, fabricavam o pano de sua roupa. Com a madeira de seus capões, construíram suas casas, suas mobílias, suas cercas, seus galpões. Com o ferro em barra armazenado, reparavam seu instrumental de trabalho. Do couro de suas crias faziam os aperos de seus cavalos, os arreios, lombilhos, xergas, laços, buçais, sinchas, botas” (Brasil Pinheiro Machado, Formação da estrutura agrária tradicional dos Campos Gerais).

    CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

    Família de cafeicultores paranaenses

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Não existe ano letivo perdido

    Não existe ano letivo perdido

    De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a pandemia da COVID-19 impactou os estudos de cerca de 91% do total de estudantes no planeta, isso representa mais de 1,5 bilhão de alunos. Esse cenário mostra que os investimentos com educação devem ser aumentados nos próximos anos. Mas vale ressaltar que ninguém perde um ano de vida. Por isso, pais, estudantes e professores não devem acreditar que 2020 foi um ano perdido.  

    Devemos olhar como um período de aprendizagem. Foi, sim, difícil para muitos se adaptarem ao ensino remoto. As diferenças ficaram mais evidentes, pois nem todos têm acesso a internet ou equipamentos para estudar online.  Porém, descobrimos mais uma vez como a tecnologia é nossa aliada, nesse momento o Youtube e as aulas online foram uma opção para continuar estudando.  

    No retorno às aulas presenciais, cada aluno deve ser olhado de forma individual para que a escola consiga perceber as diferenças de aprendizado no isolamento. Durante a pandemia, vimos que alguns pais que estavam ausentes em relação à vida acadêmica dos filhos passaram a ter um olhar mais atento. Isso trouxe a valorização das escolas. 

    É importante lembrar que aprender é um processo. Todos têm direito de aprender e cada um tem o seu tempo. A pandemia mudou o modo que estávamos acostumados a aprender e a ensinar. Uma saída provavelmente será aumentar a carga horária de estudos durante o ano de 2021 para que o ano letivo de 2020 seja concluído.  

    Esse momento é de aprendizado para todos. Acredite: tudo tem seu tempo e tudo dará certo desde que haja esforço. Alunos e professores deem o máximo com o que está ao seu alcance. Não existe ano perdido para quem tem vontade de aprender. 

    *Leonardo Chucrute é diretor-geral do Colégio e Curso Progressão, Professor de matemática, ex-cadete da AFA e Autor de livros didáticos

     

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  • Já ouviu falar em alfabetização midiática?

    Já ouviu falar em alfabetização midiática?

    “Num mundo inundado de informações irrelevantes, clareza é poder”. 

    A afirmação do historiador Yuval Harari reflete bem nossos dias atuais na Era da Informação. 

    Além do excesso de dados e conteúdos a que estamos expostos, também somos golpeados por outros males: falta de qualidade, informações incorretas, manipuladas, fabricadas, editadas ou descontextualizadas, que geram desinformação. 

    Para agravar o problema ainda existe a viralidade, que contribui para espalhar fake news no ecossistema de notícias. 

    Diante dessa desordem da informação, a Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura defende a necessidade de difundir a importância da educação midiática, que consiste em capacitar o público para lidar com as notícias.

    Mais especificamente, a entidade intitula essa prática de: Alfabetização Midiática e Informacional (AMI), que é a “capacidade mais específica de entender a linguagem e as convenções das notícias como um gênero e reconhecer como esses recursos podem ser explorados por alguém mal-intencionado”.

    O objetivo desse tipo de alfabetização é empoderar os cidadãos para que tenham condições de suspeitar e até identificar quando uma notícia possui elementos que possam ter o propósito de manipulá-los, evitando que isso aconteça.

    A partir dessa proposta, nós cidadãos que compomos a audiência, devemos adquirir certas habilidades e senso crítico para analisar, interpretar, avaliar os conteúdos noticiosos (e suas variações fraudulentas), assim como desenvolver um “ceticismo saudável” que nos proteja de acreditar em tudo o que surge à nossa frente, e que faça nos indagarmos sobre o teor verdadeiro das informações. 

    Outro ponto abordado é a necessidade de despertar a consciência de nossas próprias convicções e preconceitos, que podem afetar o modo como assimilamos as informações divulgadas. 

    Portanto, todo indivíduo precisa ter a mente aberta para respeitar opiniões divergentes das suas, evitar julgamentos e adquirir confiança nos processos de investigação fundamentados. 

    Manter-se sempre bem informado e atualizado também pode ajudar a não cair em falso.

    Em 2017, a Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias distribuiu material de divulgação contendo 8 critérios para a população adotar no enfrentamento de notícias fraudulentas, são eles:

    1) Verificar a fonte (checar a credibilidade do veículo ou site); 

    2) Ler mais antes de compartilhar; 

    3) Comprovar a autenticidade e a seriedade do autor; 

    4) Ver se há links de apoio que confirmam a notícia; 

    5) Conferir se a data de publicação não é antiga; 

    6) Assegurar de que não se trata de uma paródia; 

    7) Avaliar se não são seus próprios preconceitos que o levam a acreditar no conteúdo; 

    8) Na dúvida, consulte um especialista no assunto. 

    Você se considera alfabetizado midiaticamente? Pense nisso.

    Sucesso a todos!

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Gestão e planejamento para vencer a crise

    Gestão e planejamento para vencer a crise

    A pandemia que afeta o mundo neste ano vai trazer imensos desafios futuros para todos os governos. Não apenas na área de Saúde. Na semana passada, o Governo do Paraná encaminhou à Assembleia Legislativa o projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2021, com previsão de queda de R$ 1,7 bilhão na arrecadação tributária e perdas de 2,5% nas transferências da União em relação aos valores de 2020.

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    A queda de arrecadação pública, efeito econômico da crise do novo coronavírus, vai exigir novo rigor orçamentário e controle ainda mais amplo sobre as contas públicas, diretrizes que foram determinadas pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior e que constam na LOA. Vamos continuar a política de corte de gastos, estimular alternativas para garantir eficiência e honrar os compromissos básicos.

    O primeiro é o da transparência, compromisso fundamental do governo com a sociedade. Não há solução mágica. A LOA retrata exatamente aquilo que se espera. Sem alternativa de receita fictícia ou mecanismos para esconder a situação. São desafios enormes na saúde, emprego e renda, e responsabilidade fiscal. Teremos menos recursos, mas precisamos manter investimentos, estimular a economia, ganhar eficiência da máquina pública e apertar o cinto neste ano complexo que se aproxima.

    Ao mesmo tempo, áreas essenciais precisam seguir com os avanços implantados no início de 2019. Por isso já garantimos para o ano que vem investimentos de R$ 9,8 bilhões para a Educação; R$ 4,4 bilhões para Segurança Pública; R$ 5,5 bilhões para Saúde; e R$ 745,5 milhões para Agricultura. A Sanepar, que sofre com a crise da estiagem, terá um investimento robusto de R$ 1,5 bilhão para melhoria do fornecimento de água e tratamento de esgoto.

    Importante destacar ainda que o Paraná está atuando forte na aquisição da futura vacina contra o coronavírus, já com reserva orçamentária de R$ 200 milhões para a compra. Metade do valor virá do caixa da Secretaria da Saúde, referente à emenda à LDO determinada pelo governador, e mais R$ 100 milhões de um repasse voluntário da Assembleia Legislativa. Aliás, não podemos esquecer que o Governo do Estado também é responsável pelo repasse de orçamento anual para outros poderes, como prevê a lei.

    Mas, se não há mágica, pode haver criatividade e modernidade. Também na semana passada, o governador assinou o decreto da adoção do programa TaxiGOVPR como meio de transporte oficial no deslocamento dos servidores em atividades administrativas. A estimativa é de que o novo programa gere uma economia de quase R$ 6 milhões ao ano para o governo em despesas de veículos locados ou próprios, que demandam gastos com motorista, combustível, manutenção, conservação e depreciação, entre outros. O TaxiGOVPR é um sistema semelhante aos aplicativos de transporte de passageiros e permite mais agilidade na locomoção a serviço da administração pública, além de gerar receita para os taxistas em todo o Estado.

    A pandemia também quebrou paradigmas, como a do home office, o trabalho remoto domiciliar, que sempre foi tratado de forma tímida nos órgãos públicos de nosso País. Desde o fim de março, o Brasil foi obrigado a migrar para o home office de forma intensa e descobriu que ele pode ser eficaz e eficiente.

    O Paraná foi um grande exemplo de sucesso no home office, com um planejamento rápido e uma resposta de qualidade. Os serviços do Estado foram mantidos e os paranaenses tiveram neste ano praticamente o mesmo padrão de atendimento de antes da pandemia. O Aula Paraná garantiu o ensino remoto para nossos alunos com o maior índice de alcance do Brasil.

    Outro exemplo é a emissão de carteiras de identidade, um serviço básico de suma importância para a população, principalmente para aqueles que precisavam do documento para receber auxílio emergencial e demais benefícios. O Estado atendeu 139.454 solicitações para a confecção de RG, de 16 de março até 30 de setembro. Todos os paranaenses que necessitaram do RG e comprovaram a emergência do documento foram atendidos.

    Já estamos preparando a criação de um grupo de trabalho para montar uma proposta de viabilidade para a implementação definitiva do home office. Vamos transformar o trabalho remoto em uma opção permanente na máquina estadual, o que vai gerar uma grande economia de recursos de infraestrutura.

    Temos certeza que o home office continuará sendo um sucesso na administração pela capacidade e comprometimento do servidor estadual. E o Governo Ratinho Junior tem dado atenção especial às condições de trabalho e garantias na carreira do nosso servidor. Mesmo com as dificuldades financeiras, a LOA contempla R$ 11,7 bilhões para previdência dos servidores em 2021.

    De qualquer maneira, os avanços no Paraná vão continuar. No mês passado o governador Carlos Massa Ratinho Junior lançou o programa Paraná em Obras, que prevê R$ 4 bilhões para projetos de infraestrutura, importantes para a geração de emprego e renda em todas as regiões paranaenses no pós-pandemia. O governador também sancionou as leis que criam o Cartão Social e o Cartão Futuro, medidas para ajudar na manutenção de empregos dos jovens e para auxiliar aqueles que buscam uma recolocação no mercado de trabalho. 

    Além de apoiar o setor privado com crédito, programas e medidas fiscais e administrativas, o Governo também lançou a campanha Feito no Paraná, para estimular a retomada econômica e dar mais visibilidade à produção estadual. O objetivo é estimular a compra de mercadorias paranaenses, valorizando as vocações produtivas locais e apresentando produtos e histórias de “quem faz o Paraná crescer”.

    E na segunda-feira (05) foi lançado o projeto Ptich Paraná, para buscar junto a startups ideias inovadoras que contribuam para o desenvolvimento estadual, a desburocratização do serviço público e a melhoraria da vida das pessoas.

    Os desafios são grandes, mas vamos superá-los, junto com a sociedade. O Paraná é um Estado forte e estamos fazendo o dever de casa com gestão e planejamento.

    *Guto Silva é secretário-chefe da Casa Civil do Governo do Paraná.

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  • As multidões que viviam no Oeste do Paraná

    As multidões que viviam no Oeste do Paraná

    Em 1777 morreu o rei José I e subiu ao trono a rainha Maria I. Os reinos de Portugal e Espanha celebraram acordo para manter seus territórios conquistados nas Américas, mas mesmo com o fim da guerra entre os europeus novos conflitos não estavam descartados.

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    Era preciso estruturar uma força militar brasileira para vigiar e manter as fronteiras asseguradas pelos acordos. Ela não ficaria ociosa: sua manutenção era garantia de segurança às fazendas de gado.

    Segurança, no entender dos coronéis, significava meios para aumentar a extensão das fazendas, ocupando as terras ainda sob controle dos índios que não se deixavam escravizar.

    Na busca de gente branca disposta a se estabelecer no vasto interior “despovoado”, o governo paulista ordenou reunir “todos os vadios e dispersos ou que vivem em sítios volantes” para povoar a vanguarda estabelecida pelas fortificações militares a ser criadas na região.

    Maria, rainha da paz

    Para conseguir de Portugal uma fortificação avançada no interior do futuro Paraná, a tática empregada pelos fazendeiros era reportar ataques indígenas às fazendas já existentes. 

    Não funcionou. A rainha Maria privilegiava a paz e a cultura. Mas tinha um ponto fraco: o fanatismo religioso, que seus inimigos viam como sinal de loucura.

    Por trás da acusação havia uma rede de interesses que iam das intrigas na colônia à frágil situação de Portugal nas condições da Europa em sua época. 

    No Brasil, o antagonismo à rainha começa em 1785, quando impôs restrições à atividade industrial, proibindo a fabricação de tecidos e outros produtos.

    A elite local não gostou e em Lisboa começavam a circular murmúrios já em 1789 sobre um plano para transferir a corte portuguesa ao Brasil. 

    A família brasileira 

    A colônia poderia gerar muito mais riqueza aumentando a população. Soldados engravidando índias produziriam uma família brasileira que teria interesse patriótico em defender o território luso. Isso permitiria a Portugal criar um novo mundo e assim “ficar até mais independente das convulsões da Europa” (Francisco Adolfo de Varnhagen, História Geral do Brasil).

    A intenção de trazer a família real ao Brasil seria receber em seu vasto território “colonos de todas as nações e todas as religiões”. Com eles, aproveitar melhor as terras extraindo riquezas vegetais e minerais para reforçar a economia portuguesa. 

    Seria o mais belo, justo e próspero império da Terra. Um projeto nesses moldes, porém, não deixaria de despertar cobiça na classe em ascensão: a burguesia. 

    O interesse da família real em partir começa quando, nas sombras, organizam-se movimentos para tirar o Brasil das mãos da rainha Maria e passá-lo aos capitalistas ingleses. Sem Maria, a orientação será tirar dos índios os territórios que ocupavam.

    Os guerreiros Kadiwéu

    O almirante José Luís de Castro, Conde de Resende, assume em maio de 1790 as funções de vice-rei, substituindo Luís de Vasconcelos. Em seu governo serão julgados os inconfidentes mineiros pró-Inglaterra e Tiradentes subirá à forca.

    O vice-rei focou na estrutura: organizou os Correios, iniciou a iluminação pública no Rio de Janeiro – à base de óleo de baleia – e em seu governo houve a conquista definitiva dos Sete Povos das Missões e do Mato Grosso. 

    Em seu tempo, os índios ainda enfrentavam bravamente as forças portuguesas e eventualmente apoiavam iniciativas militares espanholas, com as quais já havia miscigenação.

    Com a liquidação das tribos promovida pelos bandeirantes e a fuga para o Sul dos índios sobreviventes com os jesuítas, a resistência indígena se manteve no Mato Grosso, onde os Kadiwéu treinavam cavalos e os utilizavam para caça, transporte e guerra.

    As forças lusas sofreram graves perdas nos confrontos com esses índios, até lhes propor o único Tratado de Perpétua Paz e Amizade firmado entre uma nação indígena e a coroa portuguesa.

    Kaingangues x Guaranis

    “Hábeis cavaleiros, exímios guerreiros, não permitiram jamais a expansão europeia na região, através das expedições portuguesas e espanholas. (…) O povo Kadiwéu é excelente ceramista com desenhos e motivos geométricos que inspiram grandes arquiteturas na Europa” (Adenilson Américo Gomes, A Colonização de Mato Grosso do Sul).

    As revelações sobre os Kadiwéu demoliam o suposto “vazio” do interior. Muitas tribos, principalmente as originadas do tronco Guarani, viveram por aqui em diferentes épocas ou simultaneamente. 

    Os remanescentes mais conhecidos são os Cayuás, ramo que sofreu a violência das forças ibéricas na conquista do Oeste. “Eles foram arrebanhados pela Comissão Estratégica, para alargar e aperfeiçoar a picada original de acesso à foz do Rio Iguaçu” (Aluizio Palmar, O Drama dos Mensus – Verdadeiros Mártires da Colonização do Oeste).

    Os Cayuás (ou Cayguás) eram índios Guaranis. Eram também chamados de “cabeludos”, mas sua denominação se origina de Kai’gwá, do idioma Guarani, que se traduz como “selvagem” ou “bravio”. 

    Entre o Oeste e o Leste havia também outras tribos: Biturunas, Botocudos, Carijós, Camecãs, Coroados, Pataxós, Gualachos, Guaianases, Tapuias (ou Jês), Caiapós, Aimorés, Camés, Xocrens, Dorins. 

    Muitas destas tribos eram derivadas do tronco Kaingangue, mas os primeiros a serem identificados no Oeste foram os Guaranis, pesar do nomadismo.

    Guaranis, elite indígena 

    Depois do extermínio e da fuga dos Guaranis para a região missioneira do Sul, os Kaingangues que vieram para o interior do Paraná eram originários do Mato Grosso, que também fazia parte da Capitania de São Paulo.

    Os Kaingangues, originariamente, eram tidos como antropófagos. Guerreiros temíveis, ocuparam o Oeste e combateram os Guaranis nas Sete Quedas, além de ser acusados de massacrar as tribos de Botocudos que viviam na região. Eram chamados de Kamgs ou Coroados. 

    Para Pedro Calmon, os Guaranis eram os Tupis do Sul, vindos principalmente do território que hoje pertence ao Paraguai. 

    Mais refinados em seus costumes, os Guaranis chamavam os parentes que viviam no Brasil de “Tupis”, palavra que significa rudes, grosseiros, inferiores.

    Quando, no fim do século XIX, os militares começaram a abertura da picada em direção à foz do Rio Iguaçu, a mão-de-obra da expedição era composta principalmente por índios Kaingangues.

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    Rainha Maria I e o vice-rei José Luís de Castro

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Documentário revela que redes sociais manipulam as pessoas

    Documentário revela que redes sociais manipulam as pessoas

    Um dos documentários mais assistidos e comentados da Netflix em 2020 com certeza será: O Dilema das Redes, dirigido por Jeff Orlowski, o qual denuncia a manipulação de pessoas realizada pelas empresas de tecnologia por meio das redes sociais.

    O roteiro é baseado em depoimentos de ex-funcionários de várias empresas do setor e que trabalharam diretamente na produção de softwares como Facebook, Instagram, Google, YouTube, Gmail, Twitter, Pinterest, entre outros – o que atribui autenticidade aos relatos.

    Segundo os entrevistados, a indústria de tecnologia compete pela atenção de seus usuários, uma vez que o modelo de negócio vincula os ganhos financeiros à exposição das propagandas das empresas anunciantes aos internautas.

    Por esse motivo, essa indústria está constantemente imbuída em fazer seus usuários permanecerem cada vez mais tempo conectados, olhando para uma tela.

    Para isso, ela faz uso de vários mecanismos, com base em notificações de curtidas, de novas publicações, de comentários, de marcação em foto, de novo e-mail, etc. As notificações e atualizações sequenciais servem como reforço intermitente positivo.

    Nesse contexto, o filme alerta: “Se você não está pagando por um produto, então você é o produto”.

    Prejudicial

    O problema é que o uso excessivo das tecnologias e o tempo de inserção no universo virtual, que é distorcido da realidade, tem provocado mudança de comportamento da sociedade, principalmente dos jovens.

    Os estímulos gerados pelas redes penetram cada vez mais no tronco cerebral e alteram o senso de autoestima e a identidade das crianças, que precisam de aprovação social a todo instante (na forma de curtidas e comentários).

    Essas circunstâncias forçam um ciclo vicioso que pode ser prejudicial, alerta o documentário.

    Expostos a padrões irreais de beleza e exibição de alto padrão social, crianças e jovens estão cada vez mais ansiosos, frágeis e deprimidos.

    O longa-metragem aponta que de 2009 até 2015 é gritante o aumento do número de suicídios de adolescentes, bem como de internações por autoflagelo.

    Já houve até mesmo notícia de adolescentes querendo fazer cirurgia plástica para que ficassem com a mesma aparência de suas fotos com filtro!

    Inconsciência

    Outro problema é que a maioria das pessoas ignora o poder de influência das redes. Enquanto isso, as empresas de tecnologia exploram a vulnerabilidade do psicológico humano.

    Conforme os depoentes, as empresas não vendem nossos dados, elas os utilizam para construir um modelo de usuário para prever nosso comportamento, quem somos e o que iremos fazer.

    Em seguida, os algoritmos decidem o que irão mostrar para o internauta, visando aumentar o seu engajamento (permanência em atividade), para que ele gere crescimento (convidar e envolver outros usuários) e seja exposto ao máximo de propagandas possível (visando conquistar seus cliques para os anunciantes).

    Conforme o longa-metragem, o Facebook descobriu que consegue até mesmo afetar o comportamento do mundo real e as emoções das pessoas sem nunca ativar a consciência delas.

    Para prender a atenção dos usuários, as redes procuram exibir sempre informações que reforçam as opiniões deles. Isso pode fazer com que as pessoas tenham visões obtusas, em que somente enxergam aquilo que querem ver. Assim, a sociedade fica cada vez mais polarizada e dividida, o que traz desastrosas consequências para a democracia. Crescem as manifestações de rua e a manipulação de opiniões por meio das fake news lançadas nas redes sociais.

    O ex-designer ético do Google, Tristan Harris, declara que a tecnologia é capaz de criar caos em massa, incivilidade, polarização, solidão, falta de confiança nos outros, populismo, distração e fraude eleitoral.

    Se projetarmos o agravamento desse quadro nos próximos anos, há quem preveja que possa ocorrer até mesmo uma guerra civil.

    Ao final do documentário, os entrevistados amenizam o tom, fornecendo dicas de como seria possível reverter essa tendência. 

    Deixo pra vocês assistirem.

    Sucesso a todos!

    Fonte: Fonte não encontrada

  • O “Start” de mais uma Campanha Eleitoral

    O “Start” de mais uma Campanha Eleitoral

    Iniciou oficialmente no domingo, dia 27/09, e durará até as 22 horas do dia 14/11, a campanha eleitoral para as Eleições Municipais de 2020.

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    Depois da maior indefinição da história eleitoral brasileira, motivada pela pandemia da Covid-19, meses de análises sanitárias e avaliações jurídicas, chegamos ao “start” de mais um pleito eleitoral municipal.

    Independentemente da pandemia, já previa-se uma eleição com características adversas das que vemos até então, primeiramente pela evolução da forma de fazer campanha, diante as tecnologias e as redes sociais, bem como, pelas alterações legislativas que trouxeram novas normas eleitorais.

    Primeiramente, a mudança no formato de escolha dos candidatos à vereador, na qual vedou-se a celebração de coligações, permitindo apenas que o partido lançasse isoladamente seus candidatos, outorgando uma maior fidedignidade à escolha do eleitor, respeitando minimamente a ideologia partidária.

    Para a campanha eleitoral, especificamente, no formato físico temos a limitação de tamanho dos materiais, em apenas 0,5m² (meio metro quadrado). Qualquer material produzido não poderá ser superior a este tamanho, com exceção da inscrição da fachada do Comitê Central dos candidatos (que poderá ser de 4m²), e o adesivo micro-perfurado no vidro traseiro dos veículos (que poderá ter toda extensão do vidro).

    Toda a propaganda eleitoral deverá possuir as seguintes informações: Partido/Coligação do candidato, CNPJ do candidato, CNPJ da empresa que confeccionou o material e tiragem.

    Está proibido o uso de outdoor e qualquer tipo de placa, a única forma permitida de propaganda física fixa, é em formato de adesivo de até 0,5 m² (meio metro quadrado), o qual poderá ser fixado apenas na janela da residência.

    O uso de carro de som e seus assemelhados está vedado, salvo, para acompanhamentos em carreatas, passeatas ou durante os comícios. 

    Uma série de vedações continuam expressas, como showmício, distribuição de bens e brindes, livemício, propagandas ofensivas, fakenews, tc.

     As propagandas irregulares denunciadas deverão ser retiradas no prazo de 48 horas, sob pena de multa de R$ 2.000,00 a R$ 8.000,00.

    Já na internet, os candidatos, partidos e coligações, poderão fazer propaganda em seus sites, blog, redes sociais, e-mail e aplicativo de mensagem instantânea (ex: whatsapp), inclusive, sendo permitido o impulsionamento/patrocínio das postagens, desde que a propaganda não tenho cunho negativo à adversário político.

    O cidadão comum/eleitor, poderá se manifestar livremente, fazer propaganda e participar ativamente do pleito eleitoral, todavia, lhe é vedado o impulsionamento/patrocínio de qualquer conteúdo eleitoral.

    Não é admitida a veiculação de conteúdo de cunho eleitoral mediante cadastro falso, ou seja, é proibido o uso de perfis “fakes” em manifestações eleitorais, ou seja, é vedado o anonimato nas redes sociais.

    É vedada absolutamente qualquer espécie de participação de pessoa jurídica na campanha eleitoral, seja ela por doação de valores, doação de bens ou serviços, bem como, de manifestação pública, inclusive em redes sociais, a favor ou contrário a determinado candidato.

    No dia da eleição, será proibido que o candidato realize novas postagens nas redes sociais.

    No campo financeiro, os candidatos deverão obedecer aos limites máximos de despesas que foram fixados pelo TSE, exemplo: em Marechal Cândido Rondon o candidato a prefeito poderá gastar até R$ 253.075,04 e o candidato a vereador poderá gastar até R$ 42.185,23.

    Os candidatos poderão investir em suas próprias campanhas até 10% do limite máximo fixado pelo TSE. Já os cidadãos poderão doar até 10% do valor bruto declarado no Imposto de Renda do ano anterior.

    Em Marechal Cândido Rondon, o candidato a prefeito poderá contratar até 310 cabos eleitorais e o candidato a vereador poderá contratar até 155 cabos eleitorais. 

    Por fim, a pandemia exigiu que o Poder Público, seja ele Municipal, Estadual ou Federal, impusesse limitações nas aglomerações, e também, regras sanitárias rígidas, como forma de conter o avanço e a disseminação do novo coronavírus, as quais devem ser respeitadas pelos candidatos e cabos eleitorais.

    As regras estão postas e os players estão apostos, que a democracia seja a grande vencedora deste pleito, e que ele seja disputado da forma mais ordeira e legítima. Alea jacta est!

    *O Autor é advogado, proprietário do Escritório Bersch Advocacia. Presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB/PR de Marechal Cândido Rondon.

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Fazenda Fortaleza, o bastião do interior

    Fazenda Fortaleza, o bastião do interior

    Estudos arqueológicos feitos na área de Itaipu antes do alagamento identificaram achados com cerca de sete mil anos, confirmando a idade presumível da presença de índios no Paraná. 

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    Não há como alegar, portanto, que o interior do atual Paraná era um “vazio” demográfico antes da colonização do Oeste, que erroneamente se supõe espontânea. 

    Os relatos dos bandeirantes e dos jesuítas já davam conta de grandes populações indígenas na região. O mito do despovoamento se devia somente à inexistência de recenseamentos das populações indígenas. 

    Sem dúvida, a parte já colonizada do Paraná no final do século XVIII ainda era escassamente povoada: resumia-se a apenas 17.288 habitantes em 1779. Toda a região dos “Campos de Curitiba” contava com 6.828 habitantes (Pedro Calil Padis, Formação de uma economia periférica; o caso do Paraná).

    Só Campo Erê resistiu

    Com ampla presença no Paraná, os Kaingangues, também conhecidos como Coroados, pelo corte raso do cabelo formando uma rodela ou coroa acima da nuca, ao ser massacrados e catequizados foram perdendo a toponímia que empregavam para nominar seus territórios: 

    Koran-bang-rê (Campos de Guarapuava); Kreie-bang-rê (Campos de Palmas); Kampo-rê (Campo Erê – Sudoeste); Payquerê (campos entre os rios Ivaí e Piquiri hoje nos município de Campo Mourão, Mamborê, Ubiratã e outros adjacentes); Minkriniarê (campos de Chagu, oeste de Guarapuava no município de Laranjeiras do Sul); e Campos do Inhoó (em São Jerônimo da Serra).

    O Oeste do Paraná sob domínio indígena ainda não contava com nenhuma fortificação autorizada pelas autoridades lusas. Havia ordens para não combater os índios, mas o interesse de Afonso Botelho, o comandante da região na época, era o mesmo dos fazendeiros: ampliar pela força a criação de gado nos campos ainda sob controle dos nativos.

    Fortim mais capela

    Na ação de avançar pelo território e se defender dos ataques indígenas, as posições deveriam se ampliar pelo interior por meio de fortins casados com capelas religiosas, para dar apoio armado ao negócio do gado (tropeirismo) e catequizar os índios capturados.

    Um caso emblemático é a Fazenda Fortaleza, que se forma em 1788 e reúne os conceitos de criar, defender e escravizar. O tenente-coronel José Félix da Silva, dono da fazenda, teve uma vida de riqueza iniciada e mantida massacrando índios e abusando da escravidão. 

    A Fortaleza começa a se formar quando, à frente de um grupo de aventureiros em busca de diamantes, ele se declarou o “descobridor” dos Campos do Inhoó (nome do cacique Kaingangue cuja tribo vivia na região), a vinte e sete léguas a noroeste de Castro. Ao ocupar a região pela força, os portugueses a renomearam como “Santa Bárbara”.

    Ação paramilitar

    José Félix da Silva, mencionado em diferentes pesquisas históricas também como José Félix do Canto e Silva e José Félix da Silva Passos, obteve a sua primeira sesmaria em 20 de maio de 1788. 

    Ela teria sido um prêmio pela matança de tribos Kaingangues que comandou por meio de força paramilitar no propósito de abrir vanguarda à penetração de novas fazendas. 

    Portugal não autorizava os massacres, mas os fazendeiros reportavam frequentemente às autoridades portuguesas que os índios eram um obstáculo à ocupação das terras requeridas. 

    Para se vingar dos massacres, os índios invadiam plantações, matavam animais e pessoas, realimentando o rol de queixas contra sua presença entre os Campos Gerais e os Campos de Guarapuava.

    Forma-se o latifúndio

    Para se fixar nos Campos do Inhoó, José Félix expulsou os Kaingangues que ali viviam e passou a aumentar seu latifúndio.

    Sua primeira propriedade foi uma faixa de três léguas de comprimento por uma légua de largura entre os rios Alegre e Faisqueira, afluentes do Tibagi, fechando-se o perímetro com o limite no ribeirão Bromado. Uma légua de sesmaria equivale a 6.600 metros.  

    Os detentores de títulos de sesmarias podiam vendê-los e José Félix comprou 21 mil alqueires. A seguir solicitou e lhe foi concedida pela Coroa a maior extensão: 65 mil alqueires. 

    Esse número fabuloso é relatado por Hellê Vellozo Fernandes, historiadora da Indústria Klabin, no livro Monte Alegre, Cidade Papel. Assim, na primeira década de 1800 o latifúndio de José Félix abrangia 86 mil alqueires.

    Olhos flechados 

    Com o crescente movimento de tropeiros, as notícias de ataques indígenas corriam mais rapidamente. José Félix e seu “estado maior”, que tinham cerca de cem escravos em serviço na área, reportavam frequentes ataques à Fazenda Fortaleza pelos índios.

    Um dos relatos comunicados era de que um grupo de índios matou Brígido de Castro, amigo de Félix, e espetou a cabeça do morto num dos portões da fazenda, com uma flecha em cada olho.

    Em retaliação, José Félix e seu capataz, Antônio Machado Ribeiro, à frente de milícia armada, encontrou um grupo de Kaingangues a 50 quilômetros da Fazenda Fortaleza. Lá, mataram todos os índios, até crianças e mulheres. O sangue tingiu o córrego e os corpos ficaram à mercê dos urubus. 

    Conforme o registro de Hellê Fernandes, a “chacina do Tibagi” deu nome ao lugar: “Mortandade”. Assim o lugar ficou conhecido até ser mudado, 150 anos mais tarde: ali foram construídos o hospital e o Hotel Ikapê de Monte Alegre (atualmente município de Telêmaco Borba).

    Ciúme, veneno, tesouros

    O riquíssimo José Félix, porém, não teve um bom destino. Em viagem por mar entre Santos e Paranaguá, o militar fazendeiro conheceu e se apaixonou pela paulista Onistarda do Rosário, de Taubaté. Com ela viveu um romance de ciúme doentio, que o fez manter a esposa em cárcere privado na fazenda.

    Narrativa popular conta que para esconder seu tesouro da mulher escolheu escravos e os levou até um lugar desconhecido: “Conta-se que José Felix tinha grande fortuna. Ela estava escondida em algum canto da fazenda e até hoje se procura esconderijo da fortuna. Os escravos que sabiam não voltaram pra contar pois o tal do José Félix tratou de os matar” (Lendas e Contos Populares do Paraná, Renato Augusto Carneiro Jr).

    O miliciano fazendeiro ficou mutilado após sofrer vários atentados contra sua vida, praticados pela esposa, Onistarda, que ele mantinha encarcerada mas teria conseguido envenená-lo com a ajuda de alguém na fazenda, já em idade avançada. Após sua morte ela se tornou a mulher mais rica do Paraná: a baronesa de São Félix.

    CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

    Onistarda serve comida com veneno ao marido José Félix, em ilustração de Mick Carnicelli

     

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Porque você precisa mudar sua relação com o dinheiro

    Porque você precisa mudar sua relação com o dinheiro

    Uma das expressões mais recorrentes que ouço é: “Eu queria investir, mas não sobra dinheiro”. 

    Essa crença de escassez permanente de dinheiro se deve, em grande parte, ao modo como o brasileiro lida com o recurso. 

    Esperar que sobre algum valor no fim do mês não é uma boa estratégia para quem deseja investir ou ter maior estabilidade e segurança financeira.

    Jogar a culpa no salário (baixo), nas despesas (altas) ou no acaso pode ser um mero vitimismo ou falta de compromisso com o seu próprio futuro.

    A verdade é que, mesmo que você receba um aumento salarial, vai gastá-lo do mesmo jeito (e não vai sobrar) – caso você não mude a sua relação com o dinheiro.

    Porém, nem tudo está perdido. Você pode melhorar usa vida financeira. 

    Primeiro, vamos ao diagnóstico.

    Passo um

    Entenda porque o “bendito” não sobra:

    – Consumismo estimulado: você se rende a anúncios sedutores da internet, à moda, tendências, lançamentos, faz compra impulsiva, se compara com colegas, falta preparo emocional para evitar gastos com produtos dos quais você não precisa realmente, compra e nem usa;

    – Falta de planejamento financeiro: gasta antes de receber; faz parcelas para pagar no futuro com dinheiro que ainda nem entrou no seu caixa; não estabelece prioridades, não se programa e não toma decisões antecipadas e conscientes sobre a destinação dos recursos que irá receber;

    – Reduzido controle financeiro: não sabe detalhadamente onde gasta, com o que e quanto (e qual o peso de cada despesa no orçamento pessoal ou familiar);

    – Crença limitante: pensa que é “apenas” um assalariado; ganha pouco; com o salário que ganha não sobra dinheiro para investir;

    – Preconceito com o dinheiro: ele é sujo, não traz felicidade; o vizinho é rico porque deve estar roubando (que injustiça).

    Agora vai

    Se você se identifica com algum dos tópicos acima, lembre-se que você precisa mudar sua relação com o dinheiro se quiser prosperar na sua vida financeira. Como?

    – Faça um planejamento com metas de curto, médio e longo prazo. Estabeleça critérios e objetivos claros: anote-os e coloque-os em prática.

    – Compartilhe as metas com os membros da família para ter maior cumplicidade, cobrança mútua e resultados coletivos.

    – Defina valores limitados para compra de cada item que compõe as suas necessidades. Fuja do consumo inconsciente e do uso do rotativo do cartão de crédito (inconsequente)!

    – Faça uma reserva financeira de emergência, mesmo que seja gradativamente. Assim, você terá um respaldo quando mais precisar.

    – Quando já tiver sua reserva, estabeleça um valor mensal para investir e coloque-o como prioridade, invertendo a lógica que tinha até então.

    Ou seja: invista antes, gaste se sobrar. 

    – Desenvolva uma mentalidade positiva sobre o dinheiro, para que ele não seja problema, e sim solução. 

    Seguindo essas dicas, em breve, seu dinheiro será seu maior aliado.

    Sucesso a todos!

    * A autora é jornalista e investidora.

    Fonte: Fonte não encontrada

  • Castro derrubou Mourão por maus-tratos aos índios

    Castro derrubou Mourão por maus-tratos aos índios

    O fim do projeto do governador paulista Luís Botelho Mourão para o aproveitamento das riquezas do interior do Paraná começou, concretamente, com uma carta do influente ministro luso Martinho de Melo e Castro, secretário dos Negócios Ultramarinos, endereçada em 21 de abril de 1774 ao rei José I. 

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    O ministro acusava o governador paulista e seu primo Afonso Botelho, chefe da autoridade portuguesa no Paraná, de violar as ordens reais no tratamento dado aos índios. 

    Na correspondência ao rei, Castro informava que não foi cumprida, nos “descobrimentos do Sertão do Tibagi”, a ordem para convencer os índios “pelos meios suaves e brandos que prescrevem as reais ordens de El Rey Nosso Senhor”. 

    Os Botelhos, sustentou, queriam “persuadir que os ditos índios devem ser atacados nos sertões e reduzidos pela força de armas, para depois de civilizados se deixarem na sua liberdade”. 

    Escravizar a pretexto de civilizar não cabia nas intenções de Portugal, que pretendia ter os índios como guardas das fronteiras da colônia.

    Mourão concordava: liberou os soldados para engravidar índias e determinou tratar os nativos com “afabilidade animando-os, e convidando-os com algumas dádivas, para os capacitar a serem nossos amigos”. Afonso, porém, preferia esmagar qualquer resistência.

    O truque antiCastro

    A advertência de Martinho de Castro ao rei levou à suspensão dos “descobrimentos dos sertões do Ivaí e Tibagi”, com a orientação de manter a posse do Sertão do Iguatemi e enviar socorro militar ao Viamão (Rio Grande do Sul). 

    Mesmo já sem condições de seguir com o projeto de aproveitar os campos inexplorados do futuro Paraná, o governador paulista tentou contornar a oposição de Castro e organizou a Freguesia do Iapó para manter a frente de ocupação do interior.

    Iniciada por Afonso Botelho em 1771, a freguesia teve em 1775 estabelecidas amplas divisas: ao Norte, a cidade de São Paulo, pelo rio Itararé; ao Sul, a vila de Curitiba, pelo rio Tibagi e mais “todo o sertão”. 

    Confiava-se assim à tutela da freguesia de um pequeno número de povoadores, “todo o horizonte do norte e do poente” (Roselys Vellozo Roderjan, A Formação de Comunidades Campeiras nos Planaltos Paranaenses e sua Expansão para o Sul).

    Para o controle militar da área, o governador criou também em 1775 a 3ª Companhia de Ordenanças de Cavalaria Auxiliar dos Campos Gerais, sob o comando do capitão Francisco Carneiro Lobo.

    Reza a crônica militar que Lobo foi o único sobrevivente de um grupo de oito soldados que sofreram um ataque indígena na tentativa de conquistar os Campos de Guarapuava. Escapou por ser o capitão e o único a cavalo. 

    Prioridade ao reforço militar

    Mesmo assim o governador Mourão não desistiu de colonizar o futuro Paraná, optando por dar força militar à frente avançada. Como a ordem era fazer a defesa do Sul e proteger Iguatemi, não enviar todos os recursos militares para a resistência à Espanha foi a causa de sua derrota.

    Mourão foi substituído em junho de 1775 pelo capitão-general Martim Lopes Lobo de Saldanha, que reabriu o cadastramento da população, recrutando 6.368 homens para formar novas “listas da Ordenança”, as forças militares necessárias para combater os espanhóis. 

    “Nesse contexto, a Capitania de São Paulo assumiu o papel de arregimentar tropas e assegurar a posse dos territórios meridionais da América Portuguesa” (Lorena Leite, Déspota, tirano e arbitrário: o governo de Martim Lopes Lobo de Saldanha na capitania de São Paulo [1775 – 1782]).

    Por uma ironia da história, a ampla freguesia organizada pelos Botelhos contra a articulação do ministro luso deu origem a uma cidade cujo nome é… Castro, justamente em homenagem ao ministro português. O governador paulista seria depois lembrado pelo nome de outra cidade: Campo Mourão.

    O legado de Mourão

    Os limites definitivos da região Oeste como posse brasileira serão fixados só depois da guerra luso-espanhola, em 1777, que levou ao Tratado de Santo Ildefonso. Basicamente, o acordo fazia valer as determinações do Tratado de Madri. 

    O governo paulista ficava livre para ocupar o território conquistado aos espanhóis, mas não sem escaramuças: no final de outubro de 1777, cerca de três mil espanhóis, acompanhados por índios Guaicurus, invadiram e saquearam o Forte São Carlos, na Colônia do Iguatemi, a vanguarda portuguesa no Oeste.

    Um passo efetivo adiante para a pacificação entre os reinos ibéricos se deu em março de 1778, quando um novo tratado de amizade entre a Espanha e Portugal é assinado, dando início a uma longa jornada para a recuperação de Iguatemi, iniciada em 30 de abril de 1778, quando Luís de Vasconcelos e Sousa (1742–1809), o Conde de Figueiró, assume as funções de vice-rei do Brasil.

    O Mapa Geográfico da América Meridional, de Juan de la Cruz Cano y Olmedilla, segundo Romário Martins “traça a estrada de São Paulo até a localidade de Pitanga, nas nascentes do Rio Tibagi, e daí em diante assinala as localidades por elas atingidas”. Mourão saiu, mas alguma coisa ficou.

    Mais uma década perdida

    Os anos finais da década de 1770 nas frentes pioneiras do Paraná se definiram, de um lado, pelo desinteresse das autoridades portuguesas em ocupar o interior por conta da prioridade aos confrontos com a Espanha no Sul. 

    De outro, pela resistência dos índios ao avanço das fazendas de gado que os curitibanos estendiam pelos Campos Gerais e pretendiam ampliar também para os campos de Guarapuava e Palmas. 

    Retrato da economia do interior do futuro Paraná nesse meio de década relacionava 88 fazendas e 131 sítios. A preocupação do administrador Afonso Botelho era lhes dar segurança e a possibilidade de expansão.

    Os curitibanos não tinham como avançar para o interior porque os índios não podiam ser combatidos: a autoridade real portuguesa, de índole extremamente religiosa, seguia a orientação papal de tratar os índios como “cidadãos talhados para o reino dos céus”, como já haviam reportado os jesuítas em seus tempos no Guayrá.

    Para o Oeste do Paraná, porém, mais uma década se completava e nada havia sido feito na mesopotâmia dos rios Paraná, Iguaçu e Piquiri, terras que no futuro seriam listadas entre as mais férteis do mundo.

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    O Paraná do século XVIII, no famoso Mapa Geográfico da América Meridional, de Juan de la Cruz Cano y Olmedilla: o Rio Iguaçu ainda era o “Rio Grande de Curituba”

     

    Fonte: Fonte não encontrada