“Temos dois dias decisivos na vida: quando nascemos e quando descobrimos por quê”. A reflexão é do escritor norte-americano Mark Twain, que viveu no período de virada entre os séculos 19 e 20.
Esse pensamento busca enfatizar que todos nós nascemos por algum motivo, o qual deve ser nosso propósito de vida.
Nem todo mundo consegue identificar claramente qual é o seu propósito, como salienta o escritor e dramaturgo irlandês, Oscar Wilde: “Algumas pessoas não vivem, apenas existem”.
Significa que muita gente ainda está em busca do segundo dia decisivo em sua vida.
O seu propósito
Se você sente que ainda não encontrou o seu propósito, saiba que existe um amplo leque de possibilidades.
Eu elencaria três motivos porque você ainda não o encontrou até agora: você ainda não teve contato com ele; falta sensibilidade para identificá-lo; ou talvez esteja reprimindo o seu propósito.
Como identificá-lo
Primeiro é preciso entendermos o que significa ter um propósito.
As pessoas têm um propósito quando definem um objetivo de vida, aquilo que elas buscam alcançar. Ao fazer essa escolha elas possuem um projeto, um desígnio, que as motiva e as impulsiona a desenvolver certas atividades visando alcançar a meta de vida.
Por exemplo: há pessoas cujo propósito de vida é alfabetizar crianças, portanto, elas atuam como professoras e/ou realizam projetos nesse intuito.
Para identificar o seu propósito, é preciso ter a percepção de suas habilidades e da satisfação que determinada atividade lhe proporciona.
É quando você desenvolve algo com tal destreza e prazer que você sente que nasceu para fazer aquilo.
Busque o seu
Se você pretende descobrir o seu propósito, vale a pena se dedicar a algumas tentativas.
1) Se você o reprime: não deixe de fazer o que você gosta e lhe dá satisfação, seja por comodismo ou em razão do julgamento alheio. Não espere aprovação, nem aplausos. Assuma as rédeas da sua vida e ative suas habilidades em prol da sua causa.
2) Se falta sensibilidade: ao desenvolver suas atividades cotidianas, aumente sua percepção sobre aquilo que mais gosta de fazer e sobre o que lhe motiva a acordar com entusiasmo.
3) Se não teve contato com ele: experimente conhecer novos lugares, pessoas e atividades. Tente fazer outras leituras, participar de diferentes grupos, conhecer outras profissões. Faça algo que nunca fez.
Dessa maneira, você ampliará suas chances de encontrar aquilo que lhe completa. Afinal, nossas descobertas dependem de atitude.
Enquanto prepara no final de 1771 sua pretendida viagem triunfal para declarar “descobertos” os Campos de Guarapuava, o tenente-coronel Afonso Botelho, na época em função equivalente à de governador do Paraná, enviou uma expedição preparatória chefiada pelo guarda-mor Francisco Martins Lustosa.
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Português de Braga, Lustosa se envolveu quando jovem em atritos em Minas Gerais. Foragido e caçado em 1557 por uma bandeira punitiva da Câmara de Curitiba, refugiou-se no sertão do futuro Paraná, onde se declarou descobridor dos diamantes já reportados por Ângelo Pedroso no Tibagi.
Experiente, já idoso em 1771 e merecendo a confiança do governador Luís Mourão, Francisco Lustosa recebeu “37 praças e 23 aventureiros voluntários” para, oficialmente, encontrar ouro para o povoamento e o custeio das instalações militares projetadas em Iguatemi e Vila Rica, antigo domínio espanhol.
Povoar região povoada
Na verdade, o papel de Lustosa era verificar se o caminho estava livre de índios para que Afonso Botelho pudesse viajar com segurança até a região.
Primo do governador paulista Luís Mourão e encarregado de iniciar a povoação dos Campos de Guarapuava – aliás, já povoados pelos índios –, Afonso Botelho partiu de Curitiba em 10 de novembro de 1771.
Estava acompanhado por 26 homens, dentre os quais os capitães de Auxiliares* Lourenço Ribeiro de Andrade, Francisco Carneiro Lobo e José dos Santos Rosa, um padre capelão, o tenente Domingos Lopes Cascais e os sargentos Manoel Mangazan e José Joaquim César.
“A bagagem era composta por mantimentos, armamentos leves para caçada de animais e presentes para estabelecer relações de cordialidade com os indígenas, pois não eram esperadas reações de hostilidade” (Georgeana Barbosa de França, Barragens e Barrageiros).
*Auxiliares – A força armada lusa se dividia em três corpos militares: a tropa de primeira linha, paga; os corpos de auxiliares ou de segunda linha; e os corpos de ordenanças.
Presentes, rezas e armas
No entender de Afonso Botelho, ele só precisava vencer a “natural rudeza e desconfiança dos gentios”. Por isso, anunciou que levaria duas espécies de armas poderosas:
“A primeira consistia nas missas e rezas. A segunda nos presentes e agrados que, com as luzes da religião, facilmente converteriam os gentios em amigos dóceis e leais. Ante essas armas, render-se-iam eles, felizes e contentes” (Francisco Ribeiro de Azevedo Macedo, Conquista Pacífica de Guarapuava).
Por via das dúvidas, tratou também de levar todo o poder bélico disponível caso os índios resistissem, como de fato resistiram.
Fez subir para Curitiba o material de guerra disponível em Paranaguá, inclusive artilharia, seguindo o cabo Simão Veloso com trem da expedição e o comandante em chefe “com os seus capitães e o grosso do pessoal” (Romário Martins, Bandeiras e bandeirantes em terras do Paraná).
Para ajudar nas próximas expedições, a meio caminho entre os Campos Gerais e os de Guarapuava foi plantado o Sítio Nossa Senhora da Esperança.
Em 9 de dezembro de 1771, depois da primeira missa rezada nos Campos de Guarapuava pelo padre Francisco Inácio de Santa Catarina, Botelho relatou ter partido com os capitães Ribeiro de Andrade, Carneiro Lobo e Santos Rosa e um grupo armado com 22 camaradas para buscar um bom local de aquartelamento e fortificação. A conquista se completava,
Miranda, o mensageiro
Botelho despachou em 23 de dezembro o sargento Joaquim José Miranda a São Paulo, para apresentar ao governador os resultados da expedição. Um relatório positivo, apresentando a força militar dando presentes a índios receptivos e gratos.
No entanto, os antagonismos políticos entre o governador Mourão e o Marquês de Lavradio, vice-rei do Brasil, chegaram ao clímax justamente ao chegar o relatório da expedição. Miranda entregou o texto enviado por Botelho mas também narrou sua experiência.
Para Lavradio, tudo somado, a resistência de índios rebeldes, doenças sem possibilidades de tratamento e deserções inviabilizavam a continuidade das ações de Botelho.
Como havia pedras preciosas no Tibagi, para evitar o contrabando de diamantes o governo português decidiu assumir diretamente a exploração diamantífera, estabelecendo a Real Extração. E por ora as decisões não passariam disso.
Botelho sob pressão
O vice-rei denunciou que na tentativa de ocupar os Campos de Guarapuava os comandados de Botelho saquearam os depósitos de alimentos dos índios. O chefe militar negou.
Em sua defesa, narrou que em 8 de janeiro de 1772 “vinham os índios tocando suas gaitas de taquaras” e logo mandou alguns dos seus a recebê-los, com “carinho, e agrado” fora do quartel, “sem as suas costumadas armas, e algumas mulheres, que logo foram vestidas, e adornadas (…) e os homens com tangas de chitas riscadas, e tudo o que apeteciam se lhes dava com demasiada franqueza” (Afonso Botelho, Notícia da Conquista e Descobrimento dos Sertões do Tibagi).
Índios recebendo invasores com música e soldados distribuindo roupas para índias nuas não foi muito convincente. A realidade não batia com essa versão, contrariada por outra, de um caso de ingratidão dos índios.
O relatório positivo não conseguiu esconder a reação negativa dos índios às expedições. Sem a colaboração deles, o projeto ficaria inviável. Portugal então se desinteressou pelo desbravamento do vasto interior paranaense, desconhecido mas não despovoado.
Miranda, entre dois fogos
Botelho precisava noticiar a conquista pacífica e a rendição incondicional dos índios, mas não era fácil esconder as doenças que matavam soldados, a presença de nativos aguerridos e deserções.
Ao ser enviado como portador do relatório, o desenhista Joaquim Miranda, o “fotógrafo” oficial da expedição, pressionado por duas narrativas diferentes, registrou as cenas de paz que interessavam a Botelho mas também cenas de guerra com os índios, mostrados como cruéis e ingratos.
As versões antagônicas vindas da mesma fonte foram enviadas a Lisboa. Armado até os dentes, Botelho teria conquistado os índios com amabilidades? Ou a força militar portuguesa mais uma vez foi expulsa do interior paranaense, como nos tempos de Guairacá?
Botelho reconheceu que os índios o atrapalharam e propôs formar um grande exército para massacrar os desobedientes. O rei preferiu que o exército combatesse os estrangeiros.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.
Em outra ilustração, os índios são apresentados respondendo com ingratidão e violência aos presentes recebidos
A Casa da Moeda e o Banco Central do Brasil já colocaram em circulação a nova cédula de 200 reais, que é estampada com a imagem do lobo-guará. Pergunta: será que esse lobo é um lobo-mau?
Se para a maioria dos brasileiros já estava difícil conseguir a nota de R$ 100 (aquela azulzinha do peixe garoupa, lembra?), por que então fazer uma cédula com o dobro de valor?
Essa foi a frase mais repetida nas redes sociais, naquela ocasião do anúncio da novidade.
Agora vem a pergunta: estaria o lobo arquitetando um plano para comer o dinheiro da aposentadoria da vovozinha? Estamos desconfiados, mas não sabemos.
Ainda assim, todo bom curioso não vê a hora de se apropriar de uma nota nova de duzentão.
Em nossa fábula de hoje, a justificativa de criar a nova cédula é que, depois que os três porquinhos ficaram em isolamento social, passaram a guardar dinheiro em casa, com medo da crise.
Agora, com o lobo estampado nas notas nenhum deles vai querer estocar o perigoso animal em casa, o que favorece a circulação de numerário.
O lobo-guará tem hábito de comportamento solitário, assim como tenderá a ser escassa sua presença na carteira da maioria dos brasileiros, considerando a conjuntura atual.
O animal do Cerrado é um importante dispersor de sementes; do mesmo modo como no comércio brasileiro deverá ser um grande dispersor de outras cédulas menores, assim como de moedas, para que o valor alto seja trocado.
Atualmente, a espécie sofre com a destruição do seu habitat; assim como padece o habitat da nova cédula de R$ 200, em função da crise econômica.
Muitos críticos já alertaram sobre a preocupação com o favorecimento à corrupção, pois uma mala cheia de lobos-guarás conterá o dobro do valor de uma maleta repleta de garoupas – o que não deixa de ser verdade. Mas para conter essa prática temos que confiar no trabalho dos caçadores da nossa selva de pedra.
O que realmente está por trás do lobo é a defasagem da nossa moeda devido à inflação acumulada de tantos anos, além da valorização do dólar.
O nosso salário mínimo hoje vale em torno de 196 dólares. Para termos uma ideia, em 2011 o salário mínimo brasileiro valia US$ 326.
Enquanto isso, a nova cédula de R$ 200 vale cerca de 37,50 dólares.
Segundo o Banco Central, 450 milhões de lobos-guarás serão “soltos” em 2020 e a caçada a eles já começou.
Esperamos que a aparência de raposa do animal fique somente na aparência e que, na verdade, ele seja um lobo bonzinho.
Desejamos que ele se torne nosso amigo de estimação, tal qual o tão aclamado doguinho caramelo.
O governador Luís Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, determinara a ocupação e povoamento das fronteiras de sua capitania (Mato Grosso e Oeste do atual Paraná) com os curibocas, “sobre-excesso da população mestiça que andava vagabunda”.
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Curibocas (ou mamelucos) eram os descendentes de homens brancos (soldados e bandeirantes portugueses) e índias nativas capturadas. Sem oportunidades, criados precariamente e vivendo a esmo entre a mata e as vilas, poderiam engrossar a rebeldia indígena ou virar salteadores desgarrados.
Orientá-los para povoar o remoto interior do Paraná aumentando a miscigenação e reduzindo a resistência indígena foi a tática escolhida por Mourão, mas o vice-rei Luís de Almeida Mascarenhas, o Marquês de Lavradio, preferiu armar a população sob a instrução de oficiais portugueses.
Em março de 1770, quando tropas coloniais espanholas tentam retomar dos portugueses o controle dos territórios perdidos com o Tratado de Madri, de 1750, a colonização deixou de ser a prioridade do rei José I.
Deserções em massa
A mão de obra que Mourão pretendia voltada ao desenvolvimento agropecuário do futuro Paraná foi de imediato requisitada para as tarefas defensivas determinadas pelo reino luso.
Como se tratava de organizar do nada um exército treinado, isso exigia muito dos envolvidos, comandantes trazidos da Europa, e dos pecuaristas forçados pelas autoridades a virar militares.
Quem prosperava transportando e vendendo gado não tinha interesse em abandonar a criação para ser tomada pelos índios. Sair da rendosa e pacífica pecuária para pegar em armas, arriscando a vida frente a tropas espanholas bem preparadas, não era o melhor negócio.
As famílias que lucravam com gado também não queriam bater de frente com os índios, tirando os filhos de uma vida produtiva para arriscar suas vidas em combate.
Sem vontade de enfrentar índios ferozes e espanhóis aguerridos nas desconhecidas matas do Oeste, as deserções se multiplicavam, minando o esforço para o recrutamento de soldados.
Comandantes mortos
Um retrato da economia regional no quarto final do século XVIII registra 88 fazendas e 131 sítios com 31.650 cabeças de gado. O negócio hegemônico, então, é o tropeirismo. Fazendeiros e sitiantes relutavam em desmobilizar sua produção para sair à guerra.
A orientação dada pelo governo paulista para ocupar o Oeste paranaense ainda era seguida pelo governador regional, Afonso Botelho, primo do governador Mourão, que enviou diversas expedições ao interior.
A principal missão ao Oeste até o final dos anos 1760 foi chefiada pelo capitão Estêvão Ribeiro Bayão, que fez valiosos registros para subsidiar as próximas expedições ao Rio Paraná.
A longa e penosa marcha para ocupar matas nunca dantes devassadas não poupou os comandantes das primeiras incursões ao interior do Paraná.
Depois de ter reconhecido o local em que assentou suas tendas como o ponto em que, mais de um século antes, floresceu a cidade hispano-guarani de Vila Rica do Espírito Santo (segunda fundação, hoje, Fênix), Bayão, atacado de impaludismo, viu-se obrigado a regressar com parte de sua turma a Curitiba, onde morreu em 1769.
Sete Quedas
Com a morte de Bayão e também do capitão Francisco Nunes Pereira, acometido de malária, o tenente Francisco Lopes da Silva foi promovido a capitão e assumiu o comando dos remanescentes das companhias dos chefes falecidos.
Coube a quem restou das expedições iniciais, tendo à frente o tenente Silva e o frade Santa Teresa, trabalhar no reconhecimento da navegabilidade do Rio Ivaí.
Chegando à região de Guaíra em 6 de janeiro de 1770, Francisco Lopes da Silva recebe ordens para desfazer tudo e sair com seus homens para socorrer a Praça de Iguatemi, assediada pelos espanhóis.
“Reconheceram os grandiosos Saltos das Sete Quedas e a encosta ocidental do Paraná, e, tomando o Rio Iguatemi, chegaram à Praça desse nome, última atalaia da dominação portuguesa no ocidente meridional brasileiro” (Romário Martins, Bandeiras e Bandeirantes em Terras do Paraná).
Com a priorização da luta contra as incursões espanholas, o tenente Lopes seguiu para Iguatemi em junho em 1770, deixando na região do antigo Guayrá uma pequena guarda de dez homens ao comando de um sargento.
Prioridade a Guarapuava
A força militar em operação no Paraná, assim, foi deslocada para defender o Brasil dos ataques espanhóis pelo Sul e pelo Oeste. Um trabalho decisivo – e duradouro – cuja memória foi atribuída aos antigos bandeirantes.
Ocupar o interior deixava de ser a tarefa mais importante. A prioridade agora seria criar uma grande força militar brasileira. Mesmo assim, iniciar uma experiência colonial nos Campos de Guarapuava continuou nos planos de Mourão e do primo Afonso Botelho. Ainda em 1769, com o grupo do capitão Silveira Peixoto misteriosamente desaparecido (anos depois se soube que foi aprisionado pelos castelhanos), Botelho recebeu o sargento-mor Francisco José Monteiro, enviado pelo governo paulista para o resgate da expedição perdida.
Nesses tempos duríssimos, era difícil saber se uma tropa desertou ou foi capturada por inimigos. Em tarefa de buscas, que Botelho também pretendia de povoação, Monteiro partiu de Caiacanga e atingiu o Porto das Capivaras, no Rio Iguaçu.
Ele teria passado à história como o “descobridor” dos Campos de Guarapuava, mas preferiu enviar o tenente Cândido Xavier para empreender a marcha pela mata rumo ao Norte. Topando com índios bravios, porém, Xavier retrocedeu.
À espera do chefe
Conciliar a iniciativa povoadora com a defesa militar foi a saída que restou ao governador paulista na definição das missões no interior paranaense, “para que sua riqueza convidasse os povos a habitá-lo e desse as utilidades necessárias não só para enriquecer o Real Erário mas também para sustentar as guarnições das duas praças projetadas (Iguatemí e Vila Rica) e alguns fortes que é necessário estabelecer” (governador Luís Botelho Mourão, carta ao Conde de Oeiras, ministro de Portugal, 3 de dezembro de 1770).
O trabalho de reconhecimento do centro paranaense coube ao tenente Cândido Xavier, que em 8 de setembro de 1770 registrava a “descoberta” dos Campos de Guarapuava.
Xavier recebeu ordens para montar acampamento e aguardar a chegada do chefe geral, o tenente-coronel Afonso Botelho, que viria em nome do primo Luís Mourão, do vice-rei Mascarenhas e do rei José I para proclamar a conquista do Oeste. Só faltava combinar com os índios.
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À espera do chefe Afonso Botelho, Cândido Xavier construiu o Forte Nossa Senhora do Carmo, junto à foz do Rio Capivari no Tibagi
O nosso modo de realizar pagamentos está prestes a evoluir, com o novo sistema criado pelo Banco Central e chamado de Pix.
Por meio dele, você poderá receber dinheiro ou realizar pagamentos de graça em apenas alguns segundos. Sim, não vai ter que esperar horas ou até mesmo dias para o dinheiro cair na conta.
Esse serviço será oferecido dentro das plataformas e aplicativos dos bancos e demais instituições financeiras já existentes, então não será preciso baixar nenhum aplicativo novo.
Como esse novo sistema estará integrado ao seu banco, você não precisará mais pagar para fazer TED ou DOC visando transferir dinheiro.
Além disso, enquanto hoje existe limitação de dia e horário para essas transferências, com o Pix será possível fazer pagamentos 24 horas por dia, inclusive nos fins de semana e feriados: madrugada, Natal…
Também foi incluída a possibilidade de fazer um “Pix Agendado”, que é a realização da transferência de um valor financeiro em uma data futura.
O novo sistema permitirá enviar valores em dinheiro para outras pessoas, empresas, bancos e até mesmo instituições governamentais para recolhimento de impostos e taxas federais com muito mais agilidade.
Um acordo especial firmado entre o Banco Central e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) vai permitir também o pagamento da conta de luz, o que tornará mais ágil o religamento da energia elétrica quando necessário.
Com o Pix, os pagamentos serão realizados de forma bastante facilitada, podendo ser usado o CPF, e-mail, número do celular da pessoa recebedora; ou por meio do CNPJ da empresa beneficiada; e ainda terá opção de gerar um QR-code. Pensa que maravilha!
O Banco Central agendou para o dia 16 de novembro o início do funcionamento do Pix no Brasil. A única coisa é que nós, usuários, teremos que cadastrar nosso e-mail, CPF e celular, o que oficialmente está programado para ser feito no mês de outubro.
Porém, devido à ansiedade de lançar a novidade para os clientes, alguns bancos já estão liberando para seus correntistas fazerem o pré-cadastro no Pix. Já fez o seu ou o da sua empresa?
Com tantas facilidades, a gente já começa a se perguntar: será o fim dos boletos bancários? Acredito que logo eles se tornarão “obsoletos bancários”.
Estamos na iminência de entrar para um universo monetário com menos: filas, espera, estresse e desculpas. Uma vida financeira cada vez mais digital e sem limite de horário! Que seja auspiciosa!
Uma reforma tributária não pode ser linear, sob pena de punir setores e grupos sociais e inviabilizar o desenvolvimento do país, que já está atrasado. As três propostas que tramitam no Congresso Nacional devem passar por um profundo exame crítico a fim de evitar que as injustiças fiscais persistam, outras sejam perpetradas e que privilégios sejam mantidos, ampliados ou criados.
Essas preocupações permeiam toda a sociedade brasileira. Mas eu desejo focar naquele extrato que conheço melhor: a agropecuária.
Pelo que já se viu, as propostas, em geral, penalizam o setor rural, impondo regras e impostos incompatíveis com a natureza das atividades do campo, tais como a tentativa – que não é de hoje – de transformar o produtor rural em pessoa jurídica. Por lei, o produtor é pessoa física, equiparado a empresa, certamente uma vantagem dada a especificidades da atividade, como a sazonalidade da sua receita e, sobretudo, o tamanho reduzido de milhões de propriedades, com baixa renda.
Pelas várias fragilidades do setor – sujeito aos azares da natureza, de uma terrível competitividade e estar a reboque de outros setores – a agropecuária tem sido poupada de uma maior pressão fiscal. Os legisladores e governantes têm compreendido este contexto.
Agora, contudo, há previsão de tributação exagerada que, certamente, vai influir na nossa competividade, justamente quando a agropecuária brasileira, além de alimentar todo o país, exporta excedentes que vem garantido superávits na nossa balança comercial. Criar obstáculos fiscais, além dos graves que já existem pela precariedade da nossa infraestrutura, é um terrível contrassenso.
Tributar insumos, máquinas e equipamentos destinados aos agricultores coloca em risco a produtividade e a produção de alimentos em nosso país.
Significa, em última análise, tributar a comida, mesmo que indiretamente e comprometer a nossa vantagem mundial no comércio de produtos da agropecuária.
Cálculos iniciais mostram que os produtores rurais estão sujeitos a ter um aumento tributário da ordem de 17%. Quer dizer, o lucro dos produtores, irá para os cofres públicos para compensar reduções tributárias como as previstas para o setor financeiro, que não precisa de nada disso.
Pelo que já pude perceber, os defeitos das propostas em trâmite no Congresso Nacional serão corrigidos por nossos parlamentares, para evitar que o nosso setor seja penalizado.
Mas além da reforma tributária, espero que o governo federal se apresse e apresente logo a reforma administrativa. A sociedade brasileira não pode continuar sustentando o peso de um setor público que só tem privilégios e se mostra pouco eficiente. A reforma tributária é um grande passo, mas isolada não resolve nossos graves problemas sociais e econômicos.
Luís de Almeida Mascarenhas, o Marquês de Lavradio (1729–1790), assume o Vice-Reinado do Brasil em 4 de novembro de 1769, substituindo o tio Rolim de Moura, que governava desde 1767. Lavradio fez um governo concentrado nas obras militares para a defesa do Rio de Janeiro e por priorizar a remessa de tropas e armamentos ao Sul.
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Durante seu período, Portugal recuperou o Rio Grande, sofreu a ocupação temporária da Ilha de Santa Catarina pelos espanhóis e começou a perder para eles a Colônia do Sacramento. O mapa do Brasil continuava inacabado.
Coube ao vice-rei Mascarenhas uma providência que no futuro viria também beneficiar o Paraná: ele deu atenção ao incremento da agricultura, levando para o Rio de Janeiro o cafeeiro, até então cultivado só no Norte, trazido da Guiana Francesa via contrabando.
Os cafezais em seguida iriam se alastrar para o interior de São Paulo até fazer a fértil terra roxa dar fim à incômoda percepção do Paraná como simples região de passagem para as tropas de gado, bandeirantes caçadores de índios e aventureiros em busca de ouro e diamantes.
Prioridade militar
A década de 1770 poderia ter assinalado a arrancada definitiva para a ocupação do atual Paraná. Isso não aconteceu por um fator político: a prioridade dada pelo reino luso ao controle fluvial do Prata.
Antes dessa definição, porém, houve uma disputa entre o vice-rei, Marquês de Lavradio, e o governador da Capitania de São Paulo, Luís Mourão, o Morgado de Mateus.
Mourão queria povoar o interior do Paraná. O vice-rei preferia fortalecer a Capitania de São Pedro (RS) para não ser engolida pela Espanha depois da ruína do Tratado de Madri.
Abria-se o equivalente a uma guerra pela destinação de recursos entre os atuais Paraná e Rio Grande do Sul.
Lavradio criticava Mourão por investir na ocupação militar como base para povoar o interior do futuro Paraná. Para o vice-rei, o Morgado desviava para a região governada por seu parente, Afonso Botelho, os recursos financeiros e humanos que julgava necessários à defesa do Sul.
De qualquer forma, o embate entre os dois projetos resultou em avanços para a força militar terrestre no Brasil.
Sucessão de expedições
O desbravamento do Terceiro Planalto e a resistência à Espanha foram as duas grandes tarefas militares da época. A primeira, ocupar o Oeste, esbarrou na resistência indígena, mas defendeu as posições lusas no Mato Grosso. A segunda, rechaçar as forças espanholas que ocuparam o Rio Grande, esbarrou na perda de Sacramento.
O desbravamento estimulado por Mourão começa em 20 de junho de 1769, quando o comandante Estêvão Ribeiro Bayão, de São José dos Pinhais, acompanhado pelo tenente Francisco Lopes da Silva, parte do Porto de São Bento, no Rio Tibagi, e vai encontrar o Ivaí, que a expedição batizou como “Rio Dom Luís de Mateus”, nome pelo qual o governador Mourão também era conhecido.
Por sua vez, Francisco Nunes Pereira, capitão de Auxiliares (futura polícia) da Vila de Iguape, desce o Rio Paraná em 12 de agosto 1769 com a missão de explorar as correntezas do Rio Piquiri. Trazia 80 soldados.
Tinha como auxiliares dois alferes, um sargento, quatro cabos, um tambor (militar encarregado das sinalizações) e 71 praças: dois curitibanos, dois parnanguaras e os demais de Iguape e Cananeia.
Mais geógrafo que guerreiro
Depois de explorar o Piquiri, Francisco Nunes Pereira subiu novamente o Paraná, alcançou a foz do Tietê e retornou a São Paulo para fazer seu relatório, pontilhado de sinais da antiga presença jesuítica espanhola.
Por sua vez, a expedição de Bruno da Costa Filgueiras partiu do Porto de Nossa Senhora da Conceição do Rio Registro (Iguaçu) em 28 de agosto de 1769. Ele não deixou boa memória na crônica militar, mas sua expedição foi tecnicamente importante, explorando o Iguaçu até a foz do Rio Potinga.
Tinha, segundo Romário Martins, ordens para “explorar os sertões da margem direita do Rio do Registro até a sua barra no Paraná”.
Teria, portanto, que ir além dos saltos que interromperam a trajetória de Domingos de Cascais. “Levava 25 camaradas, entre os quais 18 curitibanos, são-joseanos e paranaguaras*”, relata Martins:
“Entrou Bruno da Costa pelo Iguaçu até ao Potinga em 3 canoas e rompendo pelo sertão à direita daquele rio, como lhe fora recomendado, avistou à esquerda grandes espirais de fumo, supondo-se por isso à vista dos Campos do Aputerebu (Palmas) e assim nas vizinhanças dos castelhanos, pelo que voltou a dar parte”.
*Soldados de Paranaguá.
Preso por ser prudente
O tenente Bruno repetiu Domingos de Cascais ao decidir não ir além dos saltos que barravam a navegação, mas por evitar o confronto com os espanhóis foi acusado de lhe faltar coragem.
Em novembro, a quinta expedição rumo ao Tibagi trouxe mais reforços e embarcou no Iguaçu se dividindo em duas partes.
A primeira seguiu em sete canoas, em 17 de novembro de 1769, sob o comando geral de Antônio da Silveira Peixoto, negociante na Vila de Paranaguá e alferes de Auxiliares. A segunda, no dia 28, em nove canoas, dirigida pelo tenente Manoel Teles Bitencourt.
Silveira Peixoto chegou à barra do Rio Potinga e dali seguiu por terra, encontrando a expedição de Bruno Filgueiras, que regressava.
Peixoto prendeu o tenente, acusando-o de covarde por não cumprir a missão. Ficou com seu pessoal e o remeteu preso a Paranaguá. Não chegou a voltar, morrendo afogado no Iguaçu durante uma tempestade.
Peixoto e a curva do rio
Navegando o Iguaçu até os primeiros saltos que interceptavam a navegação, Silveira Peixoto escolheu uma “paragem apropriada”, onde acampou e estabeleceu a fundação de um porto, que denominou Nossa Senhora da Vitória.
É a origem das atuais cidades de União da Vitória e Porto União. Peixoto deixou no local uma guarnição de vinte camaradas e seguiu viagem por terra até sair da zona dos saltos. Novamente em canoas, navegou o Iguaçu abaixo e nunca mais voltou.
Depois de alcançar as Cataratas do Iguaçu, o grupo se deparou com uma inesperada tropa espanhola. Preso pelos castelhanos e remetido a Buenos Aires, ali Peixoto ficou detido por sete anos. Quando retornou a Paranaguá estava doente e falido.
Há quem suponha a conquista do Oeste como espontânea, mas a cada passo as provas atestam o contrário. Pode-se apagar os heróis e até diminuir seus feitos, mas é impróprio inventar uma espontaneidade que não houve.
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Movimentações de exploradores portugueses no futuro Estado do Paraná entre 1760 e 1780
Uma das tendências mundiais agora começa a ser cogitada oficialmente no Brasil: a criação de uma moeda digital oficial para o país.
Mais do que cogitada, a ideia será efetivamente analisada pelo Banco Central, que acaba de criar um grupo de estudos visando preparar terreno para o futuro.
O conceito de emissão de moeda digital pelos bancos contrais é conhecido mundialmente pela sigla CBDC (Central Bank Digital Currency).
Apesar de ser virtual, uma CBDC é diferente de uma criptomoeda, pelo fato da primeira ser fiduciária e, portanto, ter garantia nacional e regulação federal – enquanto a segunda não possui.
No mundo
Alguns países já adotam a moeda digital, como é o caso da Tunísia e Senegal, enquanto outros estão em fase de testes, como são exemplos China, Canadá e Suécia, que é um dos países mais avançados do mundo na adoção de pagamentos virtuais e sua moeda digital se chama e-krona.
Na América Latina o país mais adiantado nesse processo de evolução da política monetária é o Uruguai, que lançou em 2017 o projeto piloto de sua moeda digital chamada e-peso.
Pioneiro
O Uruguai foi pioneiro mundial na experiência em larga escala. O e-peso contém a mesma informação que uma nota física, detalhando o número de série, a assinatura e a garantia do Banco Central – porém os dados são lidos por meio de um token.
Outro ponto que destacou o Uruguai foi ter conseguido implementar o uso do e-peso mesmo na ausência de acesso à internet.
No entanto, mesmo reconhecendo a qualidade do sistema criado pelo referido país, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou que a iniciativa carecia de mais pesquisas, para analisar o impacto de um CBDC na transmissão da política monetária, nas instituições financeiras e na dolarização. Com isso o projeto uruguaio desacelerou.
Nossa vez
Com várias experiências em andamento em nível mundial, o Brasil agora está prestes a fazer levantamentos sobre diversos aspectos que envolvem a novidade: identificação de riscos, segurança cibernética, proteção de dados, normas e impactos.
A emissão de moeda eletrônica estaria alinhada com o processo de modernização que será trazido pelo Pix, novo sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central e que começará a funcionar em novembro em nosso país.
Por outro lado, a iniciativa de emissão de novas cédulas de 200 reais caminha na direção contrária – enquanto a inclinação mundial é declinar cada vez mais do uso de moeda física.
Mas, como por enquanto a virtualização se trata apenas de estudo, o Brasil ainda está longe de colocar o plano digital em prática.
Minha dúvida é: como você acha que poderia ser chamada a nossa moeda digital? E-Real? E-Rara? E-Difícil?…
Se demorar muito pra sair do papel poderá se chamar E-tarde. Mas o mais importante é torcermos para se tornar realidade e, acima de tudo, que seja segura.
A ação armada na ocupação dos campos do Tibagi e de Guarapuava foi recomendada pelo governador paulista, Luís Botelho Mourão, conhecido em Portugal pelo título “Morgado de Mateus”, como resposta a ataques indígenas reportados anteriormente pelos bandeirantes.
Começou a ser praticada na quadra final do século XVIII (1775/1800) e nos próximos cem anos levará ao desenho completo do Paraná, integrando seu território de Leste a Oeste, fixando os limites também ao Norte, embora perca, já no século XX, as porções ao Sul que tocavam o Noroeste do atual território gaúcho.
O projeto de Portugal para a região se desdobrava em defesa militar e exploração do potencial econômico. Esta se realizará com relativo êxito, mas a estratégia militar do governador paulista, Luís Mourão, vingou só parcialmente: venceu os espanhóis no Mato Grosso e no Sul, mas não os índios, cuja resistência não permitiu a vitória aos portugueses.
Os nativos somente seriam completamente vencidos um século mais tarde, após a Guerra do Paraguai, quando a força militar do Império já estava definitivamente consolidada e daria origem à República.
Voluntários ou escravos?
O plano do governador paulista Luís Mourão para iniciar a ocupação portuguesa da imensa porção Oeste do atual Paraná, compreendendo todo o Terceiro Planalto, segundo Romário Martins, começa com “30 bandeirantes sem remuneração” que partiram a pé de Curitiba em 5 de dezembro de 1768.
Ao custo de 70 mil réis em mantimentos, canoas e munições, a primeira expedição, sob o comando dos tenentes Domingos Lopes Cascais e Bruno da Costa Filgueiras, alcançou o Porto de Nossa Senhora da Conceição da Caiacanga (atual Porto Amazonas), de onde inicia a descida fluvial pelo Rio do Registro, que Portugal conhecia também como “Rio Grande de Curitiba”, os índios chamavam de “Goio-Covó” e conhecemos por Rio Iguaçu.
Começava a jornada de três meses de penosa viagem, desprovidos de referências, completamente às escuras, sem noção do que vinha pela frente.
O grupo embarcou em Caiacanga formando monção* de três canoas que desceu o Rio Iguaçu “coisa de 70 léguas” até onde a proximidade dos saltos obriga a interromper a navegação (atual Bituruna).
*Monção – nome dado a uma expedição fluvial
A base da geografia
Feitas as anotações necessárias, agora já se sabia que o Rio Iguaçu é navegável desde a corredeira de Caiacanga, a duas léguas de Palmeira, até o Porto da Vitória, numa extensão de aproximadamente 350 km.
Começava assim uma das mais importantes e desafiadoras aventuras da história paranaense. Cada anotação feita na marcha traçava a base da geografia paranaense e dos próximos passos da saga.
Chegando ao início dos saltos, em Porto Vitória, trinta quilômetros adiante de onde hoje se localizam as cidades-gêmeas de Porto União (SC) e União da Vitória (PR), Domingos de Cascais não considerou prudente a transposição dos saltos.
“Descendo o Rio Iguaçu, ao atingir o boqueirão do rio na Serra da Boa Esperança, a expedição prosseguiu por terra até atingir novamente trecho navegável do rio. Em seu relatório constam dados sobre a primeira porção de seu curso e seus principais afluentes” (Jonas Elias Volcov, Cerâmica Tupiguarani e os Processos de Interação Cultural no Alto Rio Iguaçu, PR).
Nas proximidades da foz do Rio Jangada o grupo registrou as confluências dos rios das Pedras e Potinga, da margem direita, e dos rios Negro, Paciência e Timbó, da margem esquerda. No retorno, penetrou os rios Timbó (então chamado de Mogi-Grande) e Paciência (Mogi-Pequeno).
Evitando os índios
Na expedição pioneira, que se estenderia até março de 1769, não ocorreram encontros com índios. “Eram caminhos seguros para atravessar, pois o cenário, traduzido segundo suas noções de territorialidade, indicava ausência de domínio, como já era esperado” (Dora Shellard Corrêa, Descrições de paisagens – construindo vazios humanos e territórios indígenas na capitania de São Paulo ao final do século XVIII).
Apesar desse relato, depois se soube que “o território era dominado pelos ameaçadores Botocudos, como os Xokleng, eles que, ao contrário dos índios Kaigang – que foram aldeados mais cedo – ofereciam resistência a qualquer tentativa de contato do elemento branco” (Nilson Thomé, A Formação do Homem do Contestado).
De imediato o capitão Afonso Botelho de Sampaio Souza, primo do governador Mourão, comandante da Praça de Paranaguá, cargo equivalente à posição de governador regional, detalhou os procedimentos a ser seguidos pela segunda expedição, a ser comandada pelo capitão Estêvão Ribeiro Bayão:
“Em todo lugar que o capitão tiver alguma demora fará roças para bastante planta, cuja se fará em toda ocasião que houver, e a todos os campos que encontrar porá fogo, e sempre na entrada e saída das matas fará cortar árvores grandes, e em outras fará cruzes e descreverá alguns caracteres nos troncos das árvores e em pedras, que digam Viva El-Rei de Portugal e outras coisas semelhantes, que em todo tempo se conheça chegou por aí a expedição: nas barras dos rios e lugares mais notáveis deixarão os ditos caracteres, e no roteiro virão marcados para saber onde ficam”.
Alcançar áreas inexploradas e deixar ali marcas para reconhecimento era a primeira condição para ser dono das terras.
“Rio Mourão”
Em 1769, com “77 homens, gente forte, robusta e acostumada ao serviço do sertão” (Francisco Negrão, Genealogia Paranaense), o grupo seguiria até o Porto de São Bento, no Rio Tibagi, de onde partirá para a mata desconhecida sob as ordens de Bayão.
Na jornada, o grupo encontrou o Rio Ivaí, que os índios chamavam de Ubatuba, e por ele navegou até o Rio Paraná, localizando as Sete Quedas.
De volta a Paranaguá e relatando o feito às autoridades, o governador Luís Mourão determinou ao parente que ele pôs no comando administrativo e militar do Paraná dessa época, Afonso Botelho, renomear o Rio Ubatuba (atual Ivaí) como Rio Dom Luís de Mateus, “de sorte que fique bem estampada a memória dos autores deste descobrimento, para os tempos futuros”. Dom Luís era ele próprio, Mourão.
Segundo a determinação de Afonso Botelho, todo o território deveria ser marcado com nomes das famílias dominantes portuguesas. “Campo Mourão” tem origem nessa norma.
Portugal teria, assim, argumento nas futuras negociações com a Espanha pela posse de territórios disputados.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.
Salto Caiacanga, ponto de partida para a viagem que registrou o trecho navegável do Rio Iguaçu e definiu o percurso das expedições | Foto: Leonardo Ingenito
Se alguém dissesse a você que: “O fim está próximo”, como você iria reagir?
“Depende” – seria a resposta certa.
Por si só a frase isolada, deslocada de um contexto, pode nos levar a interpretar que se trata de uma previsão apocalíptica sobre o fim do mundo ou mesmo a iminência do fim da vida.
Mas se eu disser a você que a frase soa como uma ótima notícia para quem a lê em outro contexto?
Sim, ela pode ser até uma frase motivacional.
Por exemplo, se ela estiver escrita em um cartaz segurado por um espectador de uma corrida, ao mostrá-la para o atleta (foto), já cansado e esbaforido: “O fim está próximo”.
“Ufa! Ainda bem!!!” – ele iria pensar, interpretando que o fim do seu trajeto está quase sendo alcançado, sinal de alívio e empolgação para ele. “Falta pouco para que eu possa concluir a prova de atletismo”.
Se a frase fosse resposta para a pergunta: “Como está a situação da pandemia no Brasil?” “O fim está próximo”. – Ufa! Seria mais uma situação de alívio.
Em outra cena, vemos o supervisor perguntando ao estagiário: “Como está nosso estoque de álcool em gel?” “O fim está próximo”, ele diz – sinal de que providências precisam ser tomadas para adquirir mais mercadoria.
Portanto, o contexto de uma afirmação possui extrema relevância. Ele refere-se a um conjunto de circunstâncias em que um enunciado é expressado, incluindo o momento histórico, a situação, o público-alvo, a cultura, a visão de mundo de quem emite e de quem recebe a mensagem, além da escolha das palavras.
O sentido de uma frase pode variar de acordo com todos esses fatores. Por essa razão, alguns enunciados deslocados do seu contexto podem ter uma interpretação equivocada.
Especialmente na arte, na literatura, na advocacia, na política, o contexto pode mudar tudo.
Se o presidente da República olhar para Paulo Guedes e disser: “O fim está próximo”, alguns vão entender que o ministro pode estar na iminência de ser retirado do cargo. Nessa hipótese a Bolsa de Valores cai!
Mas o mandatário poderia estar se referindo ao fim da reunião, ao fim do auxílio emergencial, ao fim da crise econômica e sanitária, etc. Nessa última hipótese a Bolsa sobe!
Então, o desconhecimento ou a ausência do contexto pode levar a problemas de comunicação. Sem ele, ficamos sem parâmetros para interpretar adequadamente a mensagem transmitida.
Sendo assim, precisamos sempre ser cautelosos nas nossas interpretações, procurando ter uma visão ampla dos fatores situacionais antes de tirarmos conclusões. Pense nisso.