Colheita da soja não avança e cultivo do milho trava poucos dias antes do fim do zoneamento

Plantio do milho caminha lentamente pelo oeste e safrinha começa a preocupar

Os produtores rurais de todo o oeste do Paraná correm contra o tempo para, de um lado colher a soja, e de outro plantar o milho segunda safra, a chamada safrinha, mas que de diminutivo tem apenas o nome.

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Em anos anteriores, mais da metade da soja cultivada pela região já havia sido colhida para dar espaço à semeadura do milho, mas desta vez, por conta das interferências climáticas e pelo atraso no desenvolvimento de quem plantou no início do ciclo, entre setembro e outubro, apenas 15% das lavouras foram colhidas. Na regional do Deral (Departamento de Economia Rural) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento de Cascavel foram 531.418 hectares destinados à oleaginosa. Deste total, cerca de 80 mil hectares foram colhidos.

Na outra ponta, a regional e Cascavel deverá destinar 3335 mil hectares para o milho, mas até o momento apenas 14% foram cultivados, algo em torno de 47 mil hectares.

A maior preocupação está no fim do zoneamento agrícola para a cultura, que se encerra, para a maioria dos municípios do entorno, em 28 de fevereiro, ou seja, em poucos dias. “Preocupa sim e preocupa principalmente se o clima não contribuir, se o tempo não firmar para colher a soja e plantar o milho”, alerta o secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara.

E se analisar os fatores climáticos, a notícia para quem está no campo não é muito animadora. Somente para esta semana a promessa é para 100 milímetros de precipitação, dos quais 56 milímetros são previstos para essa sexta-feira (17). “O excesso de chuva também é preocupante para a soja que está pronta para ser colhida, mas as máquinas não conseguem entrar no campo”, diz o produtor Pedro Henrique.

A informação também não muito animadora sobre o clima e o tempo é que ele não deve firmar nos próximos dias. “É possível que muitos produtores fujam da janela [do zoneamento], mas aí fica tudo mais complicado, crédito mais caro, sem cobertura do seguro. É um risco que muitos vão correr para plantar mesmo assim, outros já estão buscando outras alternativas para não deixar a terra sem nada”, destaca Ortigara.

Junto com a Regional de Toledo, o oeste estimava cultivo em quase 800 mil hectares de milho neste ciclo, mas aos poucos os planos vão mudando. “Tem muita soja no campo ainda”, segue o secretário de Agricultura.

Sozinho o oeste calculava que a colheita da safrinha corresponderia a quase um terço da produção da safra em todo o Paraná. A estimativa inicial eram quase 5 milhões de toneladas, ante os cerca de 15 milhões que o Paraná esperava levar para os silos e armazéns.

“O zoneamento muda de região para região e no norte ele é um pouco mais esticado. Lá a área a ser cultivada é um pouco maior que a inicial estimada para o oeste, de um milhão de hectares, mas a produtividade por lá é menor, então o oeste acaba produzindo mais”, reforça o Deral.

Impacto na cadeia produtiva

Mas na prática, o que isso significa? Na interferência direta na produção de quase todos os alimentos transformados, avalia o economista Marcelo Dias.

Neste ano o milho promete ser ainda mais disputado no mercado, tanto interno quanto externo, com a diminuição de cultivo e quebras nos principais países produtores. Isso vai aumentar a disputa pelo produto e, consequentemente, elevar o preço. “É a lei da oferta e da procura, falta produto e tem muita demanda, o preço vai subir e isso vem em efeito cascata para todos nós, principalmente no momento de comprar as proteínas como carne, leite, ovos”, reforça.

Cerca de 70% da ração animal é composta por milho e a grande incógnita que se estabelece sobre o mercado é: se a safrinha de fato estiver ameaçada, vai faltar milho para o mercado interno? Para o economista é uma queda de braço. “De um lado o produtor de milho vai vender para quem pagar melhor, do outro, a cadeia produtiva precisando do produto para alimentar aves, suínos, bovinos”, alerta o economista.

Norberto Ortigara não acredita que o mercado interno ficará desabastecido em detrimento das exportações, mas para ele é necessário planejamento. “As empresas costumam se planejar antes e já temos exportado milho há alguns anos, mas também temos importado milho. Não acredito na falta dele, mas as cotações no mercado internacional seguem elevadas e devem se manter diante do cenário que vivemos”, alertou.

Exportações, estoques baixos e importações

Atento ao que está por vir, o mercado está de olho em quem está produzindo milho. Somente nas duas primeiras semanas de fevereiro o Brasil exportou mais milho do que fevereiro inteiro de 2022.

Foram quase 1,3 milhão de toneladas vendidas para outros países, e as embarcações seguem abarrotadas. Esse volume é quase o dobro do que foi comercializado externamente no segundo mês inteiro de ano passado. “Os estoques estão baixos em diversos países e as vendas estão muito aquecidas, para não ficar sem produto e ter de comprar ele muito mais caro, os brasileiros certamente estão atentos”, completou o economista.

Somente no ano passado, as principais economias exportadoras da região venderam em torno de 30 mil toneladas de milho e seus derivados como comodity para outros países.

Somente em janeiro deste ano até a segunda quinzena de fevereiro essas mesmas economias já haviam vendido quase 20 mil toneladas. “Há um movimento do mercado indicando que o produto está escasso”, segue o especialista.

Compra e venda

Em média, cada saca de milho vendida pela região e que teve como destino outros países custou US$ 20 dólares, na cotação brasileira em torno de R$ 120. Isso considerando o produto in natura.

Na outra ponta, essas mesmas economias regionais importaram em 2022 quase um milhão de toneladas de milho, principalmente do Paraguai e Argentina, ao custo médio de US$ 15 dólares a saca, na casa dos R$ 80. “Nós viemos de duas safras ruins por conta das condições climáticas, então foi natural aumentar mesmo as importações, mas quem produz m ilho geralmente não é o mesmo que consome o produto, então é um jogo de mercado. Apesar disso, em média, a região conseguiu importar com um valo menor que aquele pago a quem exportou. Isso também indica que, para muitos que precisam do cereal, é mais barato trazer de fora do que adquirir internamente”, avalia o especialista.

No mercado brasileiro a saca de milho de 60 quilos era cotada, em média, nesta semana a R$ 85.

O ciclo do milho

A região é uma das maiores produtoras de milho do país. Considerando as duas safras, o oeste do Paraná responde por quase 5% da produção nacional. “Precisamos lembrar que a safrinha é de alto risco, se desenvolve durante os meses de frio e as frustrações de safra podem ser mais comuns por conta disso. Quanto mais tarde se planta, mais exposta a lavoura fica. Por isso é importante plantar no zoneamento com as orientações necessárias”, alerta Ortigara.

O Paraná costuma cultivar duas safras de milho, mas há regiões brasileiras onde há até 3 cultivos anuais. A de verão, que é a mais indicada para o cereal é de onde se consegue uma produtividade média próxima a 8 mil quilos por hectare. Mas neste período o grão acaba sofrendo concorrência com a soja, que é a maior aposta regional.

No cultivo de inverno o milho é o que predomina nas lavouras do oeste e, apesar de quase 800 mil hectares estimados para o ciclo, a produtividade média cai para pouco mais de 5 mil quilos por hectare.

Fonte: Juliet Manfrin

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