Cooperativas no PR: rumo aos R$ 500 bi em faturamento

A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), é uma entidade que representa o desenvolvimento produtivo. Em 2024, o Paraná consolidou 227 cooperativas: 62 no Agro, 54 no Crédito, 36 na Saúde, 31 no Transporte, 21 em Infraestrutura, 16 em Trabalho e Produção de Bens e Serviços e sete no Consumo. O Sistema Ocepar é composto pela Ocepar, Fecoopar e Sescoop/PR, desempenhando um papel fundamental no fortalecimento do cooperativismo paranaense. O entrevistado da semana é o presidente do Sistema, José Roberto Ricken.

Preto no Branco: Apesar de 2024 ter sido um ano difícil, as cooperativas do Paraná faturaram mais de R$ 206 bilhões. Isso surpreendeu?José Roberto Ricken: Foi um ano muito difícil, taxas de juros elevadas, quebra de safra, condições desfavoráveis. Mas o segmento é empenhado e atingiu as metas.

Preto no Branco: E para 2025?Ricken: Será desafiador, taxa de juros ainda elevadas. Temos demanda por recursos para investimentos. Estamos montando uma estratégia para avançar.  Sabemos que vai ser um ano difícil, mas melhor que 2024 quando perdemos oito milhões de toneladas de grãos. Em produção neste ano a perspectiva é de uma safra boa. Se a gente considerar taxa de juro elevada, não se faz o investimento com taxa de juro de mercado. Se não tiver condição, dificilmente vai ter uma meta de investimento.

Preto no Branco: E as cooperativas vão investir mesmo assim?Ricken: Temos previsão de investimento de R$ 9,3 bilhões, R$ 8 bi no Paraná e R$ 1,3 bi no Mato Grosso do Sul], As cooperativas do Paraná recebem 40% da safra do Mato Grosso e o governador quer agroindústria lá, hoje temos duas grandes agroindústrias de cooperativas no estado. 

Preto no Branco: E o que é preciso parta que os investimentos se concretizem?Ricken: Recurso adequado do Finep, tem BNDES, não é recurso com juro de mercado que se faz investimento. Temos crédito de ICMS, o governo do Paraná tem apoiado, são mais de R$ 1,4 bi acumulado de crédito de ICMS. Isso está sendo liberado para investir e foi um avanço para nós. Temos mais uns R$ 600 milhões para homologar e isso é bom para o governo. Se você investe do crédito que tem, é garantia de negócios novos. 

Preto no Branco:  Fala-se muito na indústria 4.0, 5.0, a gente está caminhando para isso?Ricken: A gente vive uma situação diferente de muitas outras regiões e estados brasileiros, mas enfrentamos desafios de infraestrutura. Algumas demandas foram apresentadas ao governo. A maior dificuldade é não ter mão de obra, profissionais para trabalhar na indústria.

Preto no Branco: E isso se reflete muito no Oeste, não é?Ricken: Temos umas 10 mil vagas em aberto. Precisa de uma automatização maior. É uma limitação que a gente tem e como você vai aumentar o número de empregados? Primeiro ter onde esse povo morar. Tem que ter programas de moradia incentivada, há um programa com o governo para construir núcleos habitacionais.

Preto no Branco: Essa pareceria com o governo tem caminhado?Ricken: A cooperativa consegue o local e depois é ressarcida. O governo do PR entra com a entrada que o mutuário tem que dar para a compra. Em seguida precisa de infraestrutura geral, modernizada. Você não vai ter uma indústria 4.0 ou 5.0 com a infraestrutura que temos hoje. Não se resolve de uma hora para a outra. Não adianta ter estrada ótima se você não chega no porto aonde pode estrangular. Tem que começar de trás para frente. O rodoviário está encaminhado. Têm mais dois leilões [de rodovias] a serem feitos, mas o modelo mudou e a classificação foi proporcional aos investimentos que cada empresa vai fazer e vamos ter que fiscalizar.

Preto no Branco: Esse modelo é melhor? Ricken: Sim, porque tirando a outorga, houve redução na tarifa. Isso está bem encaminhado. 

Preto no Branco: E nos outros modais?Ricken: Ferrovia não é simples. Agora teremos que tomar uma decisão. Vamos licitar de volta? Vamos prorrogar contrato? Acho que pode ser discutido, desde que haja investimento. Se houver investimento, é melhor. O ideal era licitar, vir alguém com capital suficiente que faça crescer. Não dá para imaginar, a médio e longo prazo que não tenha ferrovia. Isso vai estrangular a produção, o escoamento. Cascavel vai ser um caos, porque a produção vai aumentar, a economia vai aumentar, a médio prazo o Brasil vai crescer. A demanda por alimentos no mundo está clara e objetiva. Querendo ou não, nós vamos ter uma posição melhor. Estamos no lugar certo, na hora certa. 

Preto no Branco: E como fazer? Ricken: Tem que ter indústria, o armazenamento, nós temos um déficit de armazenamento de nove milhões de toneladas, só as cooperativas do Paraná. Nós recebemos 64% da safra do estado. Isso não é uma vantagem, isso é uma enorme responsabilidade, porque o produtor, precisa do apoio para produzir e estocar. Mas precisa ter acesso a mercado. Tem que inverter essa equação. Antes a gente produzia e tentava vender. Agora você busca demandas e produz exatamente o que a demanda pede. Se é proteína animal o produto que o mercado internacional está buscando, nós temos que nos direcionar e o cooperativismo sabe fazer isso muito bem. 

Preto no Branco: Isso explica a abertura de mercados? Ricken: Sim, nós estamos em quase 200 países. É a missão nossa, gerar oportunidade para o cooperado. Se ele tiver oportunidade, vai investir, vai ter mais renda e com mais renda vai conquistar uma condição social melhor para a família, para a região. O modelo cooperativo ajuda, porque se você tiver uma empresa de fora, ela tem que remunerar o acionista dela, remunerar o fundo que não está aqui, o acionista não está aqui, mas a cooperativa está.

Preto no Branco: Quando a gente fala do cenário do mercado internacional, há polêmicas que não se sustentam sobre a produção brasileira. O que falta para se reverter essa visão?Ricken: Tem muita retórica. Na prática, quem fez a lição de casa na questão ambiental, fomos nós, não os europeus ou os americanos. Vai ver se tem reserva legal, se tem mata ciliar, se tem todo o processo que nós temos aqui de recuperação de áreas degradadas. A Europa tem isso? Eu não vi. Deve prevalecer a verdade, nós não temos que temer nada. 

Preto no Branco: Mas essa verdade não precisa ser dita? Ricken: Essa tarefa é nossa. Não basta fazer, nós temos que saber demonstrar. Teremos a COP 30 no Brasil. Não acredito que vai resolver muita coisa, porque vai se politizar muito e tem muita ONG ganhando muito dinheiro em cima disso. Nós vimos que tem uma rede que se alimenta desse assunto. É um negócio, não tem uma causa, tem um negócio poderoso a nível internacional. 

Preto no Branco: A homologação do CAR está travada no Brasil. Ele pode auxiliar nesse debate internacional sobre preservação?Ricken: O Paraná está caminhando bem com a criação de uma área específica. Vamos apoiar. Se os 215 mil produtores das cooperativas fizerem, eles terão uma garantia de mercado. Esse é o primeiro ponto. Você não vai exportar se não fizer isso. Pleiteamos e o governo atendeu. Vamos fazer a tarefa aí nós temos moral e o documento mostrando que fizemos, que preservamos. A Europa tem medo de nós. Eles fazem uma safrinha por ano. Nós fazemos duas, duas e meia. Eles não são competitivos. E o que eles tinham de área, exploraram. Quem tem potencial, somos nós. Ficam preocupados, se o Brasil entrar com mais produto, vai baixar o preço. Tudo isso não é interesse de meio ambiente, é interesse econômico. 

Preto no Branco: As cooperativas do Paraná têm uma meta ousada de R$ 500 bi de faturamento até 2030. É possível chegar lá?Ricken: Estamos trabalhando muito para isso. Temos uma meta intermediária que é R$ 300 bi até 2027. Os números estão dizendo que dá para chegar. Vai depender de uma série de fatores de mercado e de produção, mas dá para alcançar. Eu acredito.

 

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