Em 22 de abril de 1945, o Exército Vermelho da URSS entra em Berlim, o coração do nazismo, e no fim desse mês o mundo recebe a notícia do suicídio de Hitler. A 7 de maio, a Alemanha apresenta sua rendição.
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A II Guerra agora se resume a pressões sobre o Japão: Little Boy, a primeira bomba atômica, é jogada sobre Hiroshima na segunda-feira, 6 de agosto. Três dias depois, a segunda bomba, Fat Man, desaba sobre Nagasaki.
A maior tragédia vivida pela humanidade em sua história resultou na paz, embora depois artificializada pela Guerra Fria, perversidade da divisão do mundo em dois blocos (EUA x URSS), que se toleravam mas levaram os governos dos países a ter seus próprios povos como o “inimigo interno”.
Foi a mentalidade dominante de perseguir cidadãos com base em suspeitas sobre preferências de guerra que havia deixado a fronteira do Território Federal do Iguaçu em situação de miséria.
Enquanto Foz do Iguaçu ainda lamentava a perda de seus colonos, expulsos devido às perseguições, as péssimas estradas carroçáveis a Foz do Iguaçu e Porto Mendes obrigavam os colonos que pretendiam seguir em direção à fronteira a permanecer em Cascavel.
O mistério dos carros enguiçados
Foi o que ocorreu com o adolescente Zilmar Beux, que em 1945 saiu de Lajes (SC) tendo a fronteira como objetivo. Gaúcho de Tapejara, Zilmar viajava com familiares para Foz do Iguaçu quando o caminhão usado para o transporte parou em Cascavel por apresentar problemas mecânicos.
Carros enguiçados parando em Cascavel nos anos 1930 a 1950 são situações que aparecem em muitos relatos de pioneiros, dando origem a uma suspeita mais engraçada que real: Tio Jeca Silvério, o líder do lugar, mandava avariar ônibus e caminhões para que os viajantes pernoitassem na vila e fossem convencidos a ficar?
Com Zilmar também aconteceu de pernoitar em Cascavel, gostar do lugar e de sua gente, decidir ficar e chamar os parentes para viver no local em que passou a dedicar sua vida ao trabalho mecânico com veículos: reparação, retífica e esportes.
Liderou o desenvolvimento do automobilismo em Cascavel e a construção do Autódromo. Outros pioneiros que interromperam a trajetória rumo a Foz do Iguaçu e Porto Mendes apresentaram relatos de sucesso por desistir da fronteira ainda conturbada e permanecer em Cascavel.
Estrada reabre frentes de trabalho
Quem parou foi beneficiado pela necessidade da ditadura Vargas, já em pedaços, de compensar o erro cometido ao desviar recursos do Paraná e Santa Catarina para uma desastrada rodovia dentro do Paraguai.
Em junho de 1945, o governo decidiu recompor a Comissão Construtora de Estradas de Rodagem nos Estados do Paraná e Santa Catarina com o decreto-lei (a medida provisória da época) com o nome de Comissão de Estradas de Rodagem nº1; ou, simplesmente CER-1.
Não mencionando mais Paraná e SC no nome oficial, caberia à CER-1 promover melhoramentos na rodovia Ponta Grossa-Guarapuava e realizar estudos do trecho ainda crítico entre Guarapuava e Foz do Iguaçu.
“A deficiência de recursos financeiros, a irregularidade na distribuição de verbas e a incerteza de sua liberação constituíram uma ingrata constante durante as atividades da CER-1, desde as suas origens” (DER/PR, histórico da BR-277).
Para Cascavel, entretanto, a CER-1 foi seu Big Bang: com a indústria madeireira em ascensão encomendas sem fim de novas partidas de madeira e a necessidade de melhorar imediatamente o caminho até o porto de Foz do Iguaçu trouxeram para Cascavel em setembro 1945 a sábia decisão do coronel Adalberto Mendes da Silva de escolher o lugar para sede da 5ª Seção da CER-1.
Aeroporto Coronel Adalberto Mendes
A partir dessa iniciativa Cascavel se torna o embrião do polo regional que se tornou nos anos seguintes. Foi a gratidão de Cascavel para com esse militar que lhe valeu a homenagem de ser o nome do aeroporto local.
Adalberto Mendes, homenageado ainda em vida com o nome do aeroporto pela gratidão da comunidade cascavelense, trouxe estrutura para a cidade, a começar franqueando aos civis as comunicações do Exército que serviam à população e deixando como legado a primeira pavimentação da Avenida Brasil, com poliedros irregulares.
A CER-1 locou o eixo da Rodovia Estratégica atravessando o povoado de Cascavel, trazendo mais movimento de veículos e de viajantes. Os filhos de imigrantes que chegavam iam tomando posse de lotes rurais e trabalhando na construção da grande estrada.
Era gente jovem chegando, cheios da energia dos produtos coloniais e com saúde de ferro, mas não estavam imunes às picadas de cobras e aos tiroteios nessa época em que todos andavam armados para se defender delas e das feras, sobretudo as onças, cuja caça era o grande troféu do imenso clube de tiro que era a vastidão dos pinhais.
Prefeitura inoperante, gestão burocrática
Pelas necessidades sociais que a população crescente apresentava, o coronel Adalberto Mendes da Silva decidiu atuar no vácuo da inoperante Prefeitura de Foz do Iguaçu, na época dirigida apenas no papel e sem nenhum poder pelo professor Acácio Pedroso.
Sem poder administrar, Pedroso cuidava mais de sua casa comercial que do vasto Município colocado burocraticamente em suas mãos. Em 1947, como inspetor escolar, Pedroso se redimiu com a população de Cascavel, ao instalar o Grupo Escolar e Escola Reunida, que deu origem ao atual Colégio Eleodoro Ébano Pereira.
Foi para compensar a desatenção da praticamente falida Prefeitura de Foz do Iguaçu que o coronel Mendes montou a primeira estrutura de saúde de Cascavel, ao prover a CER-1 de uma equipe de seis enfermeiros destacados para prestar atendimento aos operários ao longo das obras.
Foz do Iguaçu também precisava de um empurrão. Com o Exército fortalecido material e financeiramente pela participação no conflito mundial, o engenheiro militar e futuro general Luiz Carlos Pereira Tourinho (1914–1998), encarregado de construir as instalações do 1° Batalhão de Fronteira, repudiou a decisão do governo do Território Federal do Iguaçu de montar sua estrutura de gestão em Laranjeiras do Sul.
Engenheiro militar defendeu Cascavel
Tourinho insistia em que a capital do TFI fosse Foz do Iguaçu ou, alternativamente, no centro territorial. Contou em suas memórias que foi bater na porta da casa do interventor do Território, João Garcez, para tentar uma solução mais adequada:
“Confessei não entender o motivo que o levara a mudar a capital, de Foz do Iguaçu para Laranjeiras. Podia ter aproveitado a confluência dos rios Paraná e Iguaçu. Projetaria a cidade no quadrante de círculo. Alegou que um golpe de mão da Argentina podia, de uma hora para outra, apoderar-se da capital do Território” (Luiz Carlos Pereira Tourinho, Toiro Passante IV, Tempos da República Getuliana).
Tourinho continua seu relato:
“Expus-lhe a magnífica situação de Cascavel, chapadão apropriado para ali assentar grande cidade, com possibilidade de obter água potável por gravidade. Bastaria, então, para povoar o Oeste com rapidez, construir as estradas Cascavel-Guaíra e Cascavel-Foz do Iguaçu. Manteve o mesmo ponto de vista. Não arredou um centímetro da decisão já tomada”.
Com o fim da guerra e a derrota do nazifascismo, o regime ditatorial imposto ao Brasil se esgotava irremediavelmente e Garcez foi jogado no esquecimento.
Os generais Goes Monteiro e Gaspar Dutra (os mesmos fiadores do golpe fascista de 1937) sitiaram o palácio do governo em 29 de outubro de 1945 e forçaram o ditador Getúlio Vargas a se afastar do poder.
Com o fim da ditadura, a economia do Paraná deslanchou e o ciclo café-madeira deu força ao interior – inicialmente ao Norte, que já era paranaense, e em seguida ao Oeste e Sudeste, que em no ano seguinte voltariam a pertencer ao Paraná.
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