Da roça no Oeste do Paraná à Capela Sistina

A fumaça branca que em breve subirá da Capela Sistina pode não anunciar apenas um novo Papa, mas também reacender lembranças de um passado simples e profundamente enraizado no Oeste do Paraná. Dom Odilo Pedro Scherer, um dos sete cardeais brasileiros com direito a voto no conclave, nasceu em Cerro Largo (RS), mas cresceu no chão vermelho do Oeste do Paraná.

Em dezembro de 1976 ele foi ordenado padre em Quatro Pontes, cidade que hoje se orgulha de tê-lo como filho espiritual. Mais que isso: Scherer mantém vínculos estreitos com a região, especialmente com a localidade de Dois Irmãos, pertencente a Toledo, onde passou parte da juventude e onde ainda repousam as lembranças de sua família.

É ali, às margens da BR-163, próximo ao viaduto de acesso a Dois Irmãos, que os Scherer fincaram raízes e construíram sua história. Hoje, ainda conservam propriedades na localidade e recebem com frequência as visitas de Dom Odilo. A simplicidade do local contrasta com o peso do anel cardinalício que ele carrega no Vaticano — mas é justamente esse contraste que enobrece sua caminhada.

“Tenho muito orgulho de ter Dom Odilo como meu padrinho”

A ligação com a terra de criação não é apenas simbólica. Em Quatro Pontes vive Olímpio Scherer, filho de Hermeto (irmão mais velho de Dom Odilo) e único afilhado do cardeal. “Tenho muito orgulho de ter Dom Odilo como meu padrinho”, afirma, emocionado. “Ele ainda não era padre quando fui batizado, por isso sou o único afilhado que ele tem”. Depois da ordenação, padres não podem ser padrinhos.

Segundo Olímpio, a família acompanha com expectativa a participação de Odilo no conclave. “Sabemos da importância desse momento para a Igreja, mas para nós, é também um momento de orgulho e emoção”, relata. O último encontro familiar aconteceu em janeiro deste ano, em Capitão Leônidas Marques, durante um tradicional encontro da Família Scherer. “Ele sempre visita a família, é muito presente. Apesar das responsabilidades, nunca se afastou de nós”, completa Olímpio.

Treze irmãos e um cardeal: a força dos Scherer

Dom Odilo é o sexto de uma família de 13 filhos — dois dos quais faleceram ainda crianças e estão sepultados no cemitério de Dois Irmãos. A trajetória familiar revela um típico núcleo rural de fé, trabalho e simplicidade. Aliás, Dom Odilo não é o único religioso da família. O seu primo Irineu Roque Scherer foi bispo na Diocese de Guaranhuns (PE) e Joinville (SC), onde faleceu em 2016, vítima de infarto. 

Hoje muitos dos irmãos de Dom Odilo ainda residem na região, especialmente em Quatro Pontes e Toledo. Outros estão espalhados por diferentes cidades do Brasil e até do Paraguai:

Hermeto – Quatro Pontes (PR)

Iria Kuhn – Quatro Pontes (PR)

Ines Wammes – Quatro Pontes (PR)

Flavio – Toledo (PR)

Lotário – Toledo (PR)

Odilo – São Paulo (SP)

Paulino – São José dos Campos (SP)

Arcádio – Alto Taquari (MS)

Lucio – Santa Fé (PY)

Bruno – Toledo (PR)

Erno – Barreiras (BA)

Com frequência, os irmãos se reúnem para manter vivas as lembranças do tempo em que todos moravam no sítio às margens da BR-163. A presença de Odilo nesses encontros reforça o elo entre o cardeal e suas origens. “Sempre oramos por ele e ele ora por nós”, comenta.

Presença paranaense no conclave

Com 75 anos, Dom Odilo será novamente um dos protagonistas no processo de escolha do novo Papa. Já participou do conclave de 2013, que elegeu Francisco, e agora retorna à Capela Sistina, representando não apenas o Brasil, mas também uma história que começou entre as plantações e paróquias do Oeste do Paraná. Sua ordenação ocorreu em 1976, em Quatro Pontes, então sob a jurisdição da Diocese de Toledo.

Foi professor de Teologia e Filosofia, reitor de seminários em Cascavel e Toledo, e lecionou na Unioeste. Também exerceu atividades pastorais em paróquias da região, antes de partir para Roma como oficial da Congregação para os Bispos.

A presença de Dom Odilo entre os 135 cardeais eleitores é mais do que uma formalidade institucional: é a reafirmação de que o interior do Brasil, com suas famílias numerosas e tradições simples, também pode estar no centro das grandes decisões da fé católica.