A extensão da faixa de fronteira para 150 quilômetros foi um grande golpe dado no Paraná pelo governo ditatorial de Getúlio Vargas.
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“Até 1937, quando instalou-se como ditador no chamado Estado Novo, Getúlio contemporizou com as elites políticas paranaenses. Receava magoá-las, precisava ainda de seu apoio. Naquele ano, todavia, viu-se suficientemente forte para fazer inserir o artigo 165 na Constituição Federal, o qual criava uma faixa de fronteira de 150 quilômetros de largura” (José Augusto Colodel, Cinco Séculos de História).
A “faixa de fronteira” será imposta como um território federal dentro do Estado. O governo paranaense não pode mais planejar, agir ou promover investimentos ali sem autorização do Governo Federal.
Se já havia a sempre repetida alegação de que o governo do Paraná “esqueceu” o interior, o que já não era verdade pelo menos desde 1905*, o Paraná não teve como levar adiante seus projetos de colonização induzida porque foi impedido de administrar a fronteira.
Na capital federal, o Rio de Janeiro, já era tramado o próximo passo do projeto de tirar do Paraná a faixa de fronteira, não apenas limitando a jurisdição estadual mas confiscando parte de sua área.
*Ano da expedição do engenheiro Arthur Martins Franco à fronteira, para medir as obrages
Soldado brasileiro, filhos paraguaios
Em missão no Oeste paranaense, o tenente-coronel José de Lima Figueiredo reforçou a tese de que o Paraná abandonou a região: “Escolhemos parar na obraje* Sete de Setembro, do senhor Eugênio Caferata, argentino. O senhor Caferata trabalha com 120 homens, sendo 82 paraguaios e 38 argentinos. O único brasileiro existente neste recanto do nosso Brasil é um soldado de polícia ali destacado, que, aliás, é casado com uma paraguaia e seus filhos falam… o guarani”.
Contemplando o projeto de ocupação da faixa de fronteira, o Plano Rodoviário do Departamento Nacional de Estradas e Rodagem vem a calhar para a expectativa dos colonos de que os caminhos com maior trânsito de carroça e caminhões serão melhorados.
Elaborado em 1937, o plano conduz à criação do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem no ano seguinte e ao Programa Rodoviário Marcha para o Oeste em 1941. Na fronteira, uma conquista concreta é a inauguração da linha internacional Rio de Janeiro-Assunção-Buenos Aires, pela Pan American Airways, com voos semanais a Foz do Iguaçu.
Fora da faixa de fronteira, a linha férrea alcança Apucarana em 1937, já se aproximando do centro do Paraná, em mais uma etapa de estruturação da economia regional.
Nessa época, o café ainda ocupa o segundo lugar no volume transportado pelos trilhos, perdendo para o milho. Em menos de uma década, porém, vai assumir a primeira posição. De resto, as exportações no Brasil estão em declínio, mas as do Paraná aumentam.
*Obraje: grafia espanhola
Catanduvas, uma tentativa
Nesse período politicamente conturbado também no Paraná, em clima de confronto entre fascistas e antifascistas, o governo do Paraná procura levar a administração para além dos limites da faixa de fronteira, em cuja área está proibido de interferir.
Em 31 de março de 1938, o decreto-lei estadual 6.667 cria o distrito de Rocinha (atualmente sede municipal de Catanduvas), pertencente a Guarapuava. Com isso, o governo do Estado ousa estimular projetos de colonização nas regiões Oeste e Sudoeste, mesmo com o risco de “invadir” a faixa de fronteira, mas recebe uma ducha de água fria:
“É pensamento de S. Exa., o presidente da República, criar em breve, em regiões fronteiriças alguns territórios federais, entre os quais figurará o Território Federal do Iguaçu. Daí não ser conveniente, fazerem-se desde já, até mesmo a brasileiros, qualquer alienação de concessão de terras nessa região. Cada Território Federal, será governado por um oficial do exército ou da marinha, que terá atribuição para regular a utilização das terras devolutas e promover o povoamento e localização de colonos, de modo a atender aos interesses nacionais” (Relatório do Departamento de Terras e Colonização de 1938, apresentado por Antônio Baptista Ribas).
Hitler afia as garras
Em tempos de ditadura, enfim, predomina o supremo “pensamento” do Führer: em março de 1938, Hitler anexa a Áustria ao território da Alemanha. É o chamado Anschluss (anexação).
Em todo o mundo há reações negativas à expansão do domínio nazista. Os alemães que aderem ao nazismo e o propagam no Brasil, com a conivência do governo fascista, são francamente hostilizados pelo povo. A embaixada alemã até se queixa das “perseguições” que os nazistas sofrem no Brasil.
Há muita insatisfação no País com a ditadura. Os integralistas, que antes favoreceram a implantação do regime, já se mostram descontentes com a falta de poder aos seus líderes. Assim, rompem com o governo e armam uma operação militar com o propósito de invadir a residência oficial, capturar o ditador Vargas e tomar o Poder.
Galinhas-verdes atacam
O ataque é desfechado na madrugada do dia 11 de maio de 1938, num grande fiasco, selando o fracasso definitivo dos integralistas, popularmente conhecidos como “galinhas-verdes”.
Com Hitler mais poderoso na Europa e Vargas mais poderoso no Brasil, o Paraná, impedido de atuar na faixa de fronteira, concentra esforços na estrutura do desenvolvimento da região Norte do Estado.
O primeiro trem chega a Arapongas e, nos limites da faixa de fronteira, Rocinha recebe em 20 de outubro de 1938 o nome de Catanduvas.
O decreto-lei estadual 7.573 também cria o distrito administrativo de Cascavel, pertencente ao Município de Foz do Iguaçu. É até onde o Estado tem permissão para alcançar. A população chama o lugar de Encruzilhada e Aparecida dos Portos, mas o Estado descarta esses “batismos” populares.
Por sua vez, a ditadura não aprecia o nome Cascavel, que logo será mudado para Guairacá e só vai se consagrar definitivamente em 1951, com a criação do Município.
Esqueceram as margens do Paraná
Em outubro de 1938, o engenheiro carioca Theophilo de Andrade percorre a fronteira Brasil-Paraguai, margeando o Rio Paraná. Missão: fazer um estudo para a implantação de um ramal ferroviário cruzando o Paraná rumo ao pantanal mato-grossense.
Ele pretendia a integração do Oeste brasileiro pelos trilhos, “e averiguar a viabilidade de uso do rio Paraná, acima e abaixo das Sete Quedas, como rota da Marcha para o Oeste via navegação” (Antonio Marcos Myskiw, A Fronteira como Destino de Viagem: A Colônia Militar de Foz do Iguaçu [1876-1907]).
Para o desolado engenheiro Andrade, o projeto não poderia avançar porque suas ideias esbarraram numa imposição geográfica. Constata que o Rio Paraná não tem margens: tem barrancas.
“Este fato, preliminarmente fixado, quase tira ao rio importância agrícola. Não serve de elemento de fecundação do solo, mas somente de via de comunicação e de escoamento, para as terras que atravessa” (Theophilo de Andrade, O rio Paraná no roteiro da marcha para o oeste).
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