Empresários de Cascavel analisam os dias parados e as perspectivas futuras nas suas atividades

No ano de 2020 um capítulo completamente novo na história da economia está sendo escrito em resposta à crise mais brutal de nosso tempo. O aparecimento do coronavírus pegou o mundo de surpresa. Em poucas semanas, porém, espalhou-se rapidamente pelos cinco continentes e chegou ao Brasil, assustando os profissionais da saúde pela facilidade de contágio e letalidade, especialmente entre os idosos.

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O pico da pandemia ainda não chegou, e é impossível prever como o surto global vai evoluir. A única certeza que existe, hoje, é que o vírus já está causando impactos grandes na economia local.

O comércio de Cascavel está há duas semanas com as suas portas fechadas. O Preto no Branco ouviu empresários de diferentes segmentos para saber das dificuldades que vêm enfrentando, buscar uma avaliação do impacto do coronavírus na economia local e traçar uma perspectiva para o futuro. Confira:

Marcos Teixeira

Ramo: Concessionária de Veículos

A exemplo de toda atividade comercial, os prejuízos financeiros são os que primeiro aparecem. Mas no caso das concessionárias de veículos os prejuízos financeiros não são os únicos, já que uma interrupção do funcionamento regular das atividades compromete todo trabalho para geração de receitas futuras. Outra coisa que prejudica é o fato de que as medidas de restrição diferem de município para município e até mesmo entre os entes federativos. No nosso caso, que temos lojas em Cascavel e Foz do Iguaçu, por exemplo. Na primeira se permitia o trabalho interno e o período de validade da restrição até 05/04. Já em Foz, o fechamento era total sem trabalho interno e o prazo até 22/04. Depois que nos ajustamos a isso com férias coletivas, um Decreto Federal considerou como atividade essencial o atendimento de assistência técnica, que passou a ser permitido. Como fazer pra voltar atender? Antecipar o retorno dos funcionários que estão em férias? Isso tudo significa custos. Mas estamos comprometidos com todas as medidas de proteção que preservem a saúde e a vida de nosso time, clientes e coletividade.

O impacto maior está na perda da renda que era gerada pelos segmentos que estão com suas atividades paralisadas, ou parcialmente. É difícil neste momento mensurar em números ou percentuais a intensidade em que isso se dará em face do volume de recursos que serão injetados na economia local pelas atividades essenciais que não sofreram interrupções. Nesse contexto o agronegócio poderá dar um m grande alívio no caso de Cascavel, diferentemente de Foz do Iguaçu onde as principais atividades, turismo e comércio fronteiriço, foram seriamente afetados. 

Minha expectativa é a de a normalidade das atividades por completo ocorra o quanto antes, de preferência que se inicie de forma gradativa desde já. Estamos diante de algo novo e ainda é muito cedo pra se projetar em que estágio do problema estamos. Acho que este ano será muito difícil não só para o Brasil, mas para todo o mundo de uma forma geral. A volta do nível da atividade econômica ao patamar em que estava quando do surgimento da Pandemia está diretamente relacionada ao tempo que se levará para dissipa-lá.

Jadir Saraiva de Rezende

Ramo: Construtora

A empresa está num ritmo mais lento, mas ainda não sentimos dificuldades no momento. Mas, estamos muito preocupados com o futuro, com os outros segmentos. Uma andorinha só não faz verão. É importante que todos os segmentos estejam bem. 

O impacto na economia local que é algo muito tenebroso. Os profissionais liberais, os autônomos e aqueles que não têm registro, eles são os mais afetados. Um barbeiro, por exemplo, o faturamento dele tá zero e a despesa continua. Esse pessoal que eu acredito que vai sofrer mais e que vai precisar de mais apoio. 

A retomada vai começar a acontecer assim que o pessoal voltar ao trabalho, tomando os devidos cuidados. Acredito que em 30 a 40 dias após liberar as pessoas a trabalhar já dê pra notar a retomada do desenvolvimento, com algumas sequelas.

Thalles Belini

Ramo: Agência de Viagens

Fazemos parte de um setor, que possivelmente seja um dos 3 mais afetados no mundo. Cancelamento de voos, remarcações, reacomodações de todos os nossos passageiros para datas futuras, muita dificuldade para conseguir contato e informações precisas das companhias aéreas quanto as regras adotadas para essas alterações. 

Ninguém está preparado para uma situação assim nunca vista antes, de fechamento total do comércio. Acredito que pouquíssimas empresas vão passar por essa situação sem sentir um baque econômico. No nosso setor, em meio a tanto caos, quem vai pensar em comprar uma viagem antes que as coisas comecem a normalizar? 

A retomada será gradual, onde primeiramente, as pessoas irão focar no que é extremamente necessário para então ir partindo para demais necessidades. Vejo ainda uns 2 a 3 meses de dificuldades pela frente, mas tenho plena certeza que o Brasil sairá muito bem desta crise. Nosso país e nosso povo são fortes, e nossa região predominantemente do forte e excelente no setor agrícola, terá uma facilidade maior para reagir. Quanto ao turismo, mesmo enfrentando a crise do coronavirus, vejo um trabalho muito bom das companhias aéreas, redes hoteleiras e operadoras de serviço e turismo, para alavancar o setor para o segundo semestre. 

Marcelo Junior Brun 

Ramo: Distribuidora de Gás

A principal dificuldade que estamos enfrentando é redução drástica em nosso volume de vendas. Embora as empresas de nosso segmento tenham sido autorizadas a continuar suas atividades, vários de nossos clientes comerciais e industriais foram obrigados a suspender suas atividades. 

Como nossa empresa atua com mais representatividade no segmento de gás de cozinha para uso de restaurantes, panificadoras, indústrias, condomínios, o impacto do fechamento destas empresam no volume de vendas foi profundo. A redução é de aproximadamente 60%. 

O impacto do fechamento quase total do comércio provocará uma redução considerável no volume de capital que circulará em nossa economia local no futuro próximo. Entranto, ainda levará um tempo para entendermos quais serão os reais impactos desta descapitalização: falências, demissões, redução de investimentos. 

Acreditamos que as atividades comerciais da cidade devam ser retomadas nos próximos 10 a 15 dias. Caso a restrição ao funcionamento persista para além deste prazo, poderemos esperar medidas mais desesperadas dos administradores como, por exemplo, demissões em massa e fechamento de filiais. Já as atividades que tiveram seu funcionamento completamente afetado durante o isolamento social necessitarão de um período mais longo para recuperar sua saúde financeira.

Viviane Bertoli 

Ramo: Consultoria Imobiliária

Sou Corretora de Imóveis, autônoma, e no momento estou respeitando a quarentena, o isolamento, então, sem sair de casa para mostrar imóveis aos clientes, e sem dúvida, isso dificulta o meu trabalho. Porém, de outro lado, temos toda uma tecnologia a nosso favor, como as redes sociais, por exemplo, e são com estes recursos que estou contando para me manter ativa no trabalho. Mas, o que estamos passando já está afetando o nosso setor em todo o mundo, e Cascavel, mesmo sendo uma região rica e forte, não passará ilesa. 

O fechamento do comércio em geral reduz o fluxo de pessoas e mercadorias, e afeta fortemente a economia local. Acredito que o impacto será substancial. Ainda é muito cedo para mensurar os reais impactos desta crise, e ao meu ver, impossível definir um tempo. O contexto é de incertezas. Temos sim, que cada um individualmente, fazer a sua parte.

Sou positiva por natureza, e uma pessoa de fé, sempre com a certeza de dias melhores. Os momentos de crise também apresentam oportunidades. Já passamos por outras crises e nos reerguemos.

José Wilmar Rocha

Ramo: Consultoria de Seguros

O contato com o cliente ficou mais restrito. Faz-se muito por telefone whats, e-mail, mas contato pessoal é mais eficaz, e acompanhamento de serviços junto aos prestadores é quase zero. 

O mercado ficou restrito, isso faz com que, obras, prestação de serviços sejam descontinuadas, fazendo com que o dinheiro fique escasso apertando o comércio principalmente. 

A retomada será lenta, pois já vínhamos de uma dificuldade e agora temos duas, e isso certamente demandará um grande espaço tempo, que deverá superar os dois semestres e, principalmente, para o comércio e a indústria. Sem falar dos autônomos, que passaram ter uma dificuldade diária.

Heroldo Secco Junior

Ramo: Confecções

Comum a praticamente todas as empresas, o faturamento da segunda quinzena é direcionado principalmente para construção de caixa para pagamento de salários e impostos relacionados, bem como capital de giro destinado a liquidação dos compromissos com fornecedores para a primeira quinzena do mês seguinte. Como somos “varejo de rua” e a experiência sensorial ainda ser fator decisivo para definição da compra pelo cliente, não poder atender e ainda nosso ticket médio não consegue absorver os custos de entrega, a opção de e-commerce não é viável. Assim o faturamento foi para zero imediatamente. 

O grande impacto, no momento, é o psicológico vinculado à sobrevivência das empresas e a manutenção dos empregos. Como não há uma data clara de quando as atividades retornarão, muitas decisões contraditórias das autoridades neste período inicial de afastamento social e uma realidade financeira de capital de giro não superior a 7 dias no varejo em geral certamente muitas empresas terão dificuldade em honrar seus compromissos, ainda mais os tributários. 

A retomada deverá ser lenta, ou seja, baixas vendas em grande parte dos negócios de varejo nos 2 ou 3 meses após a retomada da vida normal. Positivamente conto com o retorno a partir de 06/04/2020, porém estamos nos programando financeira e operacionalmente para uma possibilidade de extensão por mais duas semanas. No nosso ramo creio que teremos até 2 meses de quedas nas vendas e após retorno do projetado para o ano. 

Dilvo Grolli

Ramo: Cooperativa

As maiores dificuldades estão em áreas de logística e nas entregas dos produtos aos mercados. Na área de pessoal, a Coopavel colocou em férias todos os funcionários com problemas de saúde crônica, grávidas, pessoas com mais de 60 anos e aqueles que solicitaram antecipação de férias ou banco de horas. Estamos trabalhando com 90% da capacidade, atendendo todos os nossos clientes e associados. 

Na economia regional, o impacto maior está nos pequenos e médios varejistas, no aumento de despesas operacionais, e alterações no fluxo de trabalho diário. 

A expectativa é a retomada aos níveis anteriores na economia é para a partir de julho de 2020, se não tivermos maiores problemas com a disseminação do vírus.

André Frare

Ramo: Consultório de Fisioterapia

O impacto inicial foi grande, pois foram medidas extremas de isolamento, afetando principalmente nossos pacientes que são de cidades vizinhas, como os de Cascavel. Muitos pacientes em andamento de tratamento tiveram que dar descontinuidade, afetando assim na qualidade de vida deles e de seus familiares.

É um grande impacto econômico para as micro e pequenas empresas como a nossas, que dificilmente mantém um fluxo de caixa para essas situações de paralisação forçado.

 Aos poucos estamos retomando as atividades, pois, as normativas de segurança em saúde pública liberaram os atendimentos em caráter de urgência. O tempo de retomada de comercialização aos níveis que eram antes da pandemia, para o nosso segmento será rápido, pois, essa situação trouxe uma conscientização maior para toda a população para valorizar os cuidados essenciais com a saúde tanto física quanto mental.

Carlos Alberto Schulze

Ramo: Consultoria de Negócios e Inovação

Nosso trabalho serve justamente para preparar empresas para momentos como esse. Uma consultoria em inovação não é somente desenvolver novos produtos tecnológicos, mas ajudar as empresas a implementar práticas de gestão que incentivem a criação de mais valor para o cliente e consequentemente mais resultados. Claro, muitos eventos previstos foram cancelados gerando alguma ou outra alteração de agenda, mas isso não impede de seguirmos adiante. Todas as crises geram oportunidades, e esta é mais uma para repensarmos nossos negócios.

Sem dúvidas foi um impacto altíssimo para muitos segmentos. Somos uma potência na produção de alimentos e exportação, e devido a crise, outros países deixam de comprar dificultando a colocação dos produtos lá na ponta. O comércio sente, a indústria também. Mas devemos nos lembrar que tudo é um ciclo. Creio que muitas empresas vão quebrar por conta do momento, mas aqueles negócios que estão preparados sofrerão menos. É um momento que o que conta é a readaptação.

Como fortes indícios indicam que ainda não passamos pelo pico da contaminação do vírus, a expectativa é que pelo menos mais 2 semanas o comércio deve ficar fechado e a retomada de todo esse tempo parado custará caro à economia, retomando todos os prejuízos de 6 meses a 2 anos, dependendo dos segmentos de atuação. Contudo, creio que quando o comércio reabrir terá muita gente recuperando o atraso podendo reduzir esse tempo de recuperação. O conselho que fica é de se planejar e quando a crise acabar conseguir ser assertivo na estratégia comercial.

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