Erro na política agrícola afunda o Sri Lanka e obriga presidente a fugir do País

População foi às ruas protestar e obrigou presidente a fugir do país

Quem acompanha o noticiário nacional deve ter visto alguma coisa a respeito da crise econômica no Sri Lanka nos últimos dias. A situação se agravou a tal ponto que o presidente Gotabaya Rajapaksa, em apuros, fugiu do país localizado no sul da Ásia, nesta quarta-feira (13), dias depois de milhares de manifestantes furiosos invadirem sua residência oficial.

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Mas o que provocou essa crise que levou, entre outras coisas, a fome e a miséria entre a população de aproximadamente 21 milhões de pessoas? A sucessão de erros na política econômica. Especialistas apontam o principal erro na gestão da política agrícola. O governo quis tornar o agro do país 100% orgânico e em abril do ano passado proibiu a importação e o uso de fertilizantes e pesticidas sintéticos e ordenou que a produção nacional seja feita exclusivamente de produtos orgânicos no prazo máximo de 10 anos. 

A mudança repentina na política agrícola surpreendeu os agricultores, que protestaram durante meses contra a medida. Apesar de o governo ter voltado atrás da decisão, pouco produto efetivamente chegou às lavouras e o resultado foi uma queda de 40% na produção de arroz da temporada de setembro a março, também prejudicada por problemas climáticos, e alta na inflação dos alimentos, que chegou a atingir 80% em doze meses. As medidas adotadas no Sri Lanka geraram restrição da oferta, elevação do preço dos alimentos e até uma crise alimentar, que levou ao caos que estamos vendo atualmente no país do sul asiático, cuja população na sua maioria vive da agricultura. Apenas 19% reside em centros urbanos.

Além disso, o Sri Lanka também enfrenta outros desafios econômicos, que foram aprofundados pela pandemia da Covid-19, afetando também o turismo na região. Em 2019, o turismo representava quase metade das divisas do Sri Lanka. Hoje o Sri Lanka experimenta a pior crise desde a independência da Grã-Bretanha, em 1948.

Desde o começo do ano, há cortes de eletricidade no país, que duram até 13 horas por dia, além de filas de espera nos postos de gasolina, que não têm mais combustíveis disponíveis. De acordo com uma publicação da BBC, pelo menos oito pessoas que passaram dias nessas filas morreram enquanto esperavam combustível. A última morte confirmada foi um ataque cardíaco.

O motivo da escassez dos combustíveis é a alta inflação e o derretimento das reservas internacionais do país, situação que leva também à falta de outros produtos essenciais como medicamentos e comida.

O presidente Gotabaya Rajapaksa, em apuros, fugiu do país

Experimento utópico 

A ideia de tornar o Sri Lanka o primeiro país do mundo a ter uma agricultura totalmente orgânica fez parte da campanha eleitoral do presidente Rajapaksa, em 2019. Quando assumiu a presidência, ele nomeou vários membros desse projeto para seu gabinete, até mesmo no Ministério da Agricultura, excluindo a maioria dos agrônomos e cientistas agrícolas do país.

Em 2021, Rajapaksa colocou o projeto em prática: de um dia para o outro, o governo proibiu a importação de fertilizantes. De acordo com a analista de mercado da AgRural, Daniele Siqueira, o experimento reduziu a produção agrícola, obrigando o país a importar alimentos que antes não importava e a reduzir as exportações de produtos agrícolas que até então garantiam a entrada de divisas. “O experimento reduziu a atividade econômica e criou despesas extras, reforçando problemas econômicos e, de quebra, aumentando a insegurança alimentar”, explica.

Para Siqueira, a imposição do novo modelo a um país inteiro de forma repentina é ilógica e irresponsável, porque reduz a produtividade drasticamente e eleva os preços. A transição para práticas ambientais é mais lenta e complexa, de acordo com a especialista.

Ela ainda ressalta que, diante da elevação geral dos preços dos alimentos que vivemos no momento, mesmo os países europeus têm flexibilizado as exigências em relação ao uso de agrotóxicos. Como exemplo, Siqueira cita a Espanha, que está importando milho da Argentina, país ao qual costumava impor restrições devido a traços de herbicida. A flexibilização ocorre porque, no momento, está difícil importar milho da Ucrânia. “Quando o preço sobe, quando a fome aperta, todo o mundo tende a deixar de lado essas preocupações”, destaca.

“A agricultura orgânica é ótima, mas exige conhecimento, recursos, tecnologia e mão-de-obra especializada, e ainda não está pronta para atender a populações inteiras, especialmente em países mais pobres como o Sri Lanka”, reforça Siqueira.

A grande maioria das pessoas do Sri Lanka vive no campo e a produção de arroz é a principal atividade

 

Fonte: Gazeta do Povo e Jovem Pan

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