O governo autointitulado “provisório” de Getúlio Vargas tinha interesse em abrir novas fronteiras agrícolas para os colonos do Rio Grande do Sul, derivando dessa intenção a proposta de criar um território federal englobando as regiões ocidentais de Paraná e Santa Catarina.
PRINCIPAIS NOTÍCIAS PELO WHATS. ENTRE NO GRUPO
“(…) o objetivo do grupo que controlava o governo federal, chefiado pelo gaúcho Getúlio Vargas, era subtrair do controle desses estados a sua parte Oeste, para que melhor se atendesse aos interesses dos capitalistas e em consequência das companhias colonizadoras gaúchas” (Ruy Christóvam Wachowicz, Obrageros, Mensus & Colonos).
Em 28 de outubro de 1932, Mário Augusto Teixeira de Freitas (1890-1956), diretor geral de Informações, Estatística e Divulgação do Ministério da Educação e Saúde Pública, faz no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro uma conferência intitulada O Reajustamento Territorial do Quadro Político do Brasil, em que propunha fundir estados com superfícies reduzidas.
Tido como um dos maiores sábios brasileiros, Teixeira de Freitas pretendia juntar Paraná e Santa Catarina num Estado só.
Paraná: o rio ou o Marquês?
A nova unidade da Federação seria o Estado do Iguaçu, proposta que já havia sido feita por Sud Menucci em 1930. Segundo o modelo de Teixeira de Freitas, o Estado do Iguaçu surgiria amplo e forte, superando completamente as revoltas e o rancor que ficaram ao perder para SC a região do Contestado.
Seria a extinção do sentimento de perda que o Paraná alimentava desde que na demanda vencida por Santa Catarina ficou sem seu então Sudoeste – a atual região Oeste de Santa Catarina.
Ao contrário, porém, o avanço da proposta de gauchizar o Oeste paranaense levou ao projeto de criação de um Território Federal, medida inaceitável para Curitiba, pois tiraria ainda mais área do Paraná.
Significava aumentar o trauma da derrota. O Paraná perderia até a referência do grande rio que muitos supõem ser a origem do nome do Estado. Na verdade, o nome do Estado foi uma homenagem ao Marquês do Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão (1801–1856), que uniu o país em um raro governo de sucesso e forçou a criação do Estado, que SP boicotava.
O embrião do nazismo
O ano de 1933 começou em clima sombrio no plano mundial. Adolf Hitler se torna primeiro-ministro da Alemanha e em todo o mundo há uma reação negativa à ascensão no nazismo.
Era preciso impedir que a pregação populista contaminasse as demais nações europeias e vingasse nas Américas.
O incêndio do Reichstag (parlamento alemão), em 27 de fevereiro, sinaliza o que virá pela frente. O crime, ordenado pelo nazista Goering, é imputado aos comunistas, que são presos aos milhares.
No Brasil abalado pela crise mundial, o ano será marcado pela criação do Instituto Brasileiro do Café (IBC), que estabelece rígido controle sobre o mercado da rubiácea.
Acreditava-se que a solução viria da eleição, em 3 de maio, da Assembleia Nacional Constituinte. Apesar de ter deputados escolhidos por apenas 5,7% da população adulta, a Constituinte deu ocasião para que a primeira mulher (Carlota de Queirós) e o primeiro trabalhador (Álvaro Ventura) chegassem ao Congresso Nacional.
O drama do café
O preço do café encalhado em 1933 estava reduzido a cerca de um terço do que era em 1928. Por conta da crise, Vargas proibiu o plantio de novas mudas de café durante três anos e ordenou a queima de milhões de sacas estocadas em depósitos do governo.
As medidas de controle rigoroso não se limitaram apenas ao café. A Comissão de Defesa da Produção do Açúcar, criada em 1931, é transformada em 1933 no Instituto do Açúcar e do Álcool. O pinho, o mate, o sal e a borracha são submetidos a controle oficial com a imposição de novos mecanismos burocráticos.
Em desespero, os aventureiros partiam para conquistar terras nas áreas já sem índios. Em 1932, com a melhoria dos caminhos, já era possível viajar entre Guarapuava e Foz do Iguaçu em “apenas” um mês.
Foi justamente nesse ano que se deu a segunda grande corrente da migração de colonos poloneses de Santa Catarina para o Oeste paranaense. Ocupando e produzindo em terras devolutas, em breve os carroções poloneses de oito animais levariam suínos e milho a Foz do Iguaçu e demais portos do Rio Paraná.
Sob influência fascista
Os colonos sugeriam que a viagem de um mês entre Guarapuava e o Rio Paraná poderia ser encurtada com trabalhos mais frequentes de conservação nos caminhos da colonização.
Como a intenção do governo do Estado era povoar rapidamente o interior para evitar a vitória do projeto de entrega de partes do Paraná a empresários gaúchos, a melhoria dos caminhos ficou prioritária.
Sob a nova Constituição, promulgada em 16 de julho de 1934, o Brasil sepultava de vez os propósitos da revolução de 1930, atrelando os sindicatos ao Estado, não permitindo o direito do voto aos analfabetos, cabos e soldados e criando brecha para a “eleição indireta” do presidente da República, mecanismo imposto para beneficiar Getúlio Vargas.
É uma carta repleta de falhas, logo desmoralizada pela última rebelião tenentista, em 1935 – a chamada “Intentona Comunista”, liderada por Luiz Carlos Prestes.
Além disso, a nova Carta não resistirá ao ataque fascista de 1937, claro reflexo da ascensão de Adolf Hitler, que havia se declarado “führer” (líder) na Alemanha. A ditadura do Estado Novo teria matizes do fascismo europeu.
Cascavel nos planos
A Prefeitura de Foz do Iguaçu, no propósito de povoar seu vasto Município, conquistara junto ao governo do Estado a criação do Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos de Cascavel em 1936.
Estava em seus planos concretizar o projeto do líder local, Jeca Silvério, de criar ali uma cidade.
Um apelo empresarial enviado ao Ministério do Exército pede ajuda no sentido de que fosse construída uma boa rodovia no lugar do descuidado leito da Rodovia Estratégica.
“A estrada que desta vai a Guarapuava está transformada em picada, deformada extraordinariamente pela ação do tempo. (…) Uma boa estrada de rodagem facilitará a exportação de mil e mil pinheiros, que os colonos, formando campos como os de Cascavel, derrubam para serem eliminados pelo fogo, causando assim enormes prejuízos para o Estado e para o município” (jornal Gazeta do Povo, 18 de junho de 1937).
Ganhos com Carambeí e Londrina
Em Foz do Iguaçu, nessa época, é também instalada a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado do Paraná, que havia sido criada ainda em 1924 por lei federal mas ficou engavetada.
Desenha-se uma estrutura de reforço a Foz do Iguaçu e cresce o seu papel como responsável pelo desenvolvimento do Médio Oeste paranaense. Mesmo assim, o destino desse esforço será a derrota.
O governo sob o comando de Manoel Ribas seguiu em 1934 o esforço do general Tourinho para apressar o povoamento do interior paranaense, mas só se arrastavam os estudos para criar uma estrutura turística autossustentável em Foz do Iguaçu.
Menos mal que nos arredores de Carambeí começava a formação da Colônia Terra Nova, por imigrantes alemães, em Castro surgia a colônia Castrolândia e Londrina se tornava município.
Democracia em perigo e fracasso no Oeste
Os estudos sobre a viabilidade do turismo em Foz do Iguaçu não andavam, mas do outro lado da fronteira houve agilidade: os argentinos se anteciparam e abriram o Parque del Iguazu, ironizando a demora com que no Brasil as decisões eram tomadas e em seguida postas de lado.
Havia acontecido o mesmo processo amarrado com as obras do Porto de Paranaguá. Paralisadas depois da tentativa do governador antoninense Caetano Munhoz da Rocha de compensar o desinteresse do governo federal pelo nosso litoral, na década de 1920, elas foram concluídas em 1934, assim como a ligação ferroviária entre Jaguariaíva e Curitiba, completada somente dez anos depois de iniciada.
Com o autoritarismo chegando, as pressões populares não serão mais tão ouvidas e novos tempos sombrios vão liquidar a democracia no Brasil. Mas Cascavel, criada por getulistas e apenas começada, foi favorecida pelo alinhamento ao poder.
Fonte: Fonte não encontrada
Deixe um comentário