A Aliança Liberal divulga seu programa em 20 de setembro de 1929, propondo anistia ampla e voto secreto. Lança Getúlio Vargas candidato à Presidência, com o respaldo das lideranças regionais do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais.
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É nesse clima de agitação política que o jurista Teixeira de Freitas (1890−1956) aprofunda seus estudos sobre a redivisão territorial do Brasil e recomenda a fusão dos estados do Paraná e Santa Catarina para formar uma só unidade da Federação: o Estado do Iguaçu.
No Norte paranaense, a mata é cortada para o acesso dos compradores de lotes coloniais. A primeira caravana chega ao Patrimônio Três Bocas em dezembro de 1929.
Era composta de oito japoneses que vieram acompanhados do agenciador de terras da Companhia de Terras Norte do Paraná, Hikoma Udihara (1882–1972). Começa nesse momento a se formar a cidade de Londrina.
Enquanto o desbravamento do Norte paranaense prossegue, com iniciativa inglesa e colonos japoneses, cresce em todo o País a campanha da Aliança Liberal, que sacode a vida republicana sempre marcada pela corrupção e por incompetência administrativa.
Não era um movimento revolucionário: visava apenas a competir no pleito presidencial de março do ano seguinte. Mas a reação governista, fraudulenta e repressiva, não deixará outra opção aos descontentes a não ser uma nova revolução.
A crise do café
A produção brasileira de café de 1929 acrescentou 21 milhões de sacas a um estoque já encalhado, das quais apenas 14 milhões foram exportadas.
O temor quanto ao futuro imediato leva os cafeicultores a se aferrar ainda mais ao poder: em 12 de outubro, a convenção situacionista indica Júlio Prestes como candidato a presidente.
A intenção dos fazendeiros paulistas de manter o País sob seu controle gera manifestações de desagrado por todo o Brasil, especialmente em Minas Gerais.
A 24 de outubro, a crise explode nos EUA. Caem no desespero os cidadãos que perderam repentinamente suas economias depois de confiar na estabilidade do sistema – o american way of life.
No dia 29, as finanças mundiais já estão destroçadas irreversivelmente, deixando imunes apenas os países ligados à União Soviética, isolados dos EUA.
É a maior crise de todos os tempos, até então. Com o desastre da economia estadunidense caem os preços do café, do açúcar, da borracha e do cacau e com eles as exportações brasileiras.
O mundo mergulha na incerteza. “O Brasil queimou 78 milhões de sacas de café: assim ardeu em chamas o esforço de 200 mil pessoas durante cinco safras” (Roberto Simonsen, História Econômica do Brasil).
Agro cai, indústria avança
Os amplos estoques de café sem compradores são queimados na mesma velocidade da erosão do poder político dos cafeicultores. Em contrapartida, cresce a influência dos industriais, que a partir daí serão a força dominante em um Brasil que já ultrapassa a marca de 40 milhões de habitantes.
A decadência da cafeicultura e a transferência do capital para a indústria urbana resultarão em mão-de-obra melhor qualificada. Forma-se, assim, um mercado consumidor mais consistente e se afirma a classe média.
A concentração industrial no Sudeste, especialmente em São Paulo, encaminhará o País a um irreversível processo de urbanização. Socialmente, já é uma revolução.
O ano de 1930 começa efervescente. Em 24 de fevereiro, depois de conflitar com o governador paraibano, João Pessoa, o coronel José Pereira, com um vastíssimo arsenal de armas recebido para combater Lampião e a Coluna Prestes, mobiliza seus dois mil jagunços. É a Guerra de Princesa, um dos elementos detonantes da revolução de 30.
Revolução, base da cidade de Cascavel
Nas eleições presidenciais de 1º de março, a contagem oficial apresenta 1.091.709 votos para o “Candidato Nacional” (Júlio Prestes) e 742.794 votos para o “Candidato Liberal” (Getúlio Vargas, que tinha João Pessoa como vice).
Esse resultado, decorrente das habituais fraudes eleitorais brasileiras, será indiretamente responsável pela criação de uma cidade na época improvável: Cascavel.
Quando a notícia da derrota de Vargas chega ao armazém de José Silvério de Oliveira (1888–1966), o Nhô Jeca, ele imediatamente trata de abandonar a localidade de Pouso Alegre, interior de Guarapuava, temendo represálias de ferrenhos adversários políticos.
Ao retornar de uma limpeza de ervais, recolhe seus pertences e foge para a Encruzilhada dos Gomes, no caminho entre Catanduvas e os portos do Rio Paraná, onde possui terras tomadas em arrendamento junto ao colono Antônio José Elias.
A vinda Jeca Silvério
Enquanto ao Norte se encerra a construção de uma estrada de rodagem que liga o município de Jataí ao Patrimônio de Londrina, José Jeca Silvério inicia sua marcha na rota de Catanduvas para a Encruzilhada.
É o dia 27 de março. Nessa mesma data, a Companhia de Terras Norte do Paraná acaba de vender seu primeiro lote colonial, adquirido pelo agricultor Mitsugi Ohara.
Jeca Silvério chega à Encruzilhada dos Gomes com a mudança em 28 de março de 1930. O deslocamento de sua comitiva de parentes e amigos é facilitado porque a Prefeitura de Foz do Iguaçu havia melhorado os trechos mais dramáticos da estrada.
É a fundação da cidade de Cascavel. Silvério determina a seus empregados e parentes a construção de um pequeno armazém − a bodega, no dizer dos sertanejos – e as três primeiras casas de moradia para família.
Ali, nos arredores de seu acampamento, ele já mantinha roçados de milho e praticava o safrismo: a combinação da safra do milho com a engorda de suínos. Para viajar a Foz do Iguaçu, partindo dessa vila de quatro casinhas, era preciso estar com as armas de prontidão, em coldre ou junto às rédeas.
Lembranças dos pioneiros
Não havia salteadores, à exceção de alguma família de índios pedindo algumas utilidades, mas a qualquer momento, de dia ou de noite, os carroceiros eventualmente se viam na contingência de disparar contra os felinos predadores que viviam na mata.
A menina Dilair, filha de Jeca Silvério, acompanhava o pai em suas viagens: “Nós íamos de carroça, demorando cinco dias para ir e cinco dias para voltar. Na estrada era possível ver os tigres passar, amedrontando a todos. Era preciso dormir na estrada, o que era também difícil devido aos urros das feras”.
Apesar da agropecuária ainda incipiente em Cascavel, havia já em 1930 uma avançada agroindústria na região. O suíço Michael Willieux, arrendatário da Fazenda Britânia, instalou uma fábrica de extração do suco da laranja azeda, que era exportado para a Europa, via Argentina, em latas de cinco quilos, para ser utilizado como fixador de perfumes.
“Por iniciativa desse administrador foi instalada, às margens do Rio Branco, uma fábrica para extração de petit grain − extrato da folha da laranja azeda apepú − e de cedrão, extrato de erva cidreira, com a produção sendo vendida para o consumo em São Paulo e Rio de Janeiro (via Porto Mendes-Guaíra-Porto Epitácio; daí pela Estrada de ferro Sorocabana e depois pela Central do Brasil)” (Rubens Bragagnollo, Um Pouco da História do Oeste do Paraná).
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.
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