Extinção, o duro castigo de quem devorou os exploradores

Cristóvão Jacques, primeiro explorador oficial do Oeste paranaense

A cidade de San Pedro de Ycuamandyju, no centro do Paraguai, guarda os restos mortais de Aleixo Garcia, o primeiro desbravador do atual Paraná. Sua morte, em ataque noturno de índios da região, deixou dúvidas jamais sanadas: por que os outros três homens brancos da expedição e o filho de Garcia foram poupados? 

“Tudo se perdeu. A vida do líder, a expedição e o tesouro. Esse final trágico de uma das mais fantásticas epopeias americanas não impediu, porém, que Aleixo Garcia viesse a ser reconhecido pela História do Paraguai, Bolívia, Argentina e Peru, como o primeiro e mais impetuoso explorador de todo continente sul-americano” (Rosana Bond, A Saga de Aleixo Garcia – O descobridor do Império Inca).

A notícia do fim de Garcia ainda não chegara ao Porto dos Patos ou a São Vicente, em 1526, quando um grupo de portugueses de Cananeia, ao comando de Jorge Sedeño (1), partiu com o propósito de se juntar à expedição. Atravessando o Rio Paraná perto das Sete Quedas, encontrou restos de acampamento, mas também foram liquidados em massacre atribuído aos índios Paiaguás (2). 

A história se repete: massacre

“[Sedeño] Foi com toda sua gente sacrificado no Rio Paraná, a montante dos saltos das Sete Quedas, pelos índios do poderoso Cacique Guair[ac]á. (…) Aqueles silvícolas, de bom grado prontificaram-se a dar passagem à caravana, mas fizeram-na em canoas cheias de rombos que habilmente mascararam com emplastros de argila. A certo ponto acima dos saltos (…) retiraram os tapumes e, a nado, puseram-se a salvo ganhando a ilhota, donde apreciaram o desenrolar do drama (…) As canoas soçobraram e, com os passageiros, lá se foram águas abaixo, desaparecendo tudo, dentro de alguns instantes, nos sumidouros infernais dos saltos lendários” (Edmundo Mercer, História de Tibagi).

Como Garcia empreendeu sua expedição por conta própria, o primeiro explorador da região do Prata enviado oficialmente pelo reino português foi Cristóvão Jacques, em 1526. Nomeado por d. João III como “governador das Partes do Brasil” em substituição a Pero Capico, Jacques tinha a missão de desbravar a região Sul. 

Jacques chegou a promover explorações na bacia do Prata e combateu corsários franceses em busca de pilhagens, fazendo centenas de prisioneiros.

Homenageou a esposa e foi preso

Com uma trajetória também romanesca, em 1525 o navegador veneziano Sebastião Caboto foi inicialmente designado para missão oficial ao Oriente determinada pela Espanha, mas também se deixou seduzir pelas notícias de fabulosos tesouros e desviou os três navios da expedição para o Sul.

Chegando à ilha do Porto dos Patos em fins de outubro de 1526, Caboto a batizou de Santa Catalina, em homenagem à esposa, e passou a organizar a expedição para a tarefa particular de explorar o Rio da Prata e seus tributários (rios Paraguai e Uruguai).

Partindo para a ação em fevereiro de 1527, a rota planejada por Caboto seria subir o Rio da Prata com o intuito de explorar as margens do Rio Paraná e coletar amostras de suas riquezas. “Foi uma jornada terrível por um labirinto de ilhas, com correntes contrárias, sob o calor do verão, com pouca comida, índios hostis e febres tropicais” (Eduardo Bueno, Náufragos, Traficantes e Degredados).

Europeus brigam, índios se unem

Em 7 de maio de 1528, três dias depois de ter partido de Santa Ana, quando descia o Paraná e já se encontrava a cerca de 70 km da confluência com o Paraguai, Sebastião Caboto se deparou com uma cena surpreendente: do nada, viu dois bergantins subindo o rio.

“Embora ambos os barcos tivessem bandeira espanhola, Caboto não tinha a menor ideia de quem poderia estar a bordo deles. Como Caboto logo descobriria, o chefe dos bergantins era o capitão Diego Garcia de Moguer” (Eduardo Bueno). Os dois começarão a travar uma disputa pelo direito de explorar a região. Estavam divididos, ao contrário dos índios, que se uniam:

“Encontraram índios hostis e souberam que os índios do Paraguai haviam se confederado com os daqueles arredores para levar a cabo uma sublevação geral e matar todos os espanhóis. Regressaram então à sua base, abandonando a ideia do descobrimento, sobretudo depois que os índios destruíram o forte de Sancti Spiritus, em 1º de setembro de 1529, o que confirmou as notícias alarmantes” (Manuel Lucena Salmoral, García de Moguer, Diego).

Ao retornar, Caboto foi preso e desterrado para a África, mas deixou sua contribuição histórica. Das derrotas sofridas pelos primeiros exploradores do Oeste do Paraná vai emergir uma figura mítica: é Guairacá, o líder das tribos Guaranis unificadas da região e cacique dos Dorins que não permitiu a progressão dos ibéricos por seus domínios, combatendo implacavelmente os invasores.

Guairacá passou à história e os Guaranis ainda resistem, mas os índios que venceram Garcia, Sedenho, Caboto e Moguer, caso dos Paiaguás, acabaram extintos.

1 – Sedeño ou Sedenho.

2 – Subgrupo dos Guaicurus, os Paiaguás eram exímios canoeiros.

Índio Paiaguá, tribo considerada extinta

 

Na semana que vem: Os cem mil índios do cacique Guairacá, a população do Oeste

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