1945, o ano em que a II Guerra terminou, foi, para Foz do Iguaçu, um tempo de penúria e escassez, não só resultante da expulsão dos colonos de origem italiana e alemã por conta da paranoia da ditadura com a suposta influência dos simpatizantes argentinos do nazifascismo sobre colonos descendentes de imigrantes, mas também em consequência de ataques de gafanhotos.
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Quem estava na cidade de Foz do Iguaçu e tinha dinheiro se abastecia nos navios que traziam mercadorias da Argentina, mas eram sobretudo mercadorias enlatadas ou em potes e garrafas.
Verduras não havia nas terras desprovidas de colonos e os paióis de cereais se esvaziaram logo que eles se retiraram para Cascavel, Guarapuava, Sul do Paraná, Curitiba e Santa Catarina.
Quem chegava a Foz do Iguaçu para visitar parentes ou ocupar terras no interior se decepcionava.
Dois anos depois da criação, o Território Federal do Iguaçu estava em frangalhos, triplamente afetado pelas difíceis condições da época: a desestruturação da economia colonial da fronteira pela perseguição aos imigrantes, o afastamento da gestão paranaense de ações na região, cujos projetos de colonização só continuaram a se desenvolver e região Norte do Paraná, e o esgotamento da ditadura, que se esfarelou ao longo de 1945.
Tudo vira comida
Raimundo dos Santos Leal transportava periodicamente alimentos de Guarapuava para Foz do Iguaçu e ainda no curso da II Guerra encontrou fome e abandono na fronteira durante a vigência do Território Federal do Iguaçu.
Levando as provisões em cargueiros*, duas mulas carregadas com bruacas, ao chegar à fronteira vendia tudo que levava. Em certa ocasião impressionou-se quando até as bruacas, grandes sacolas de couro cru de boi usadas para o transporte, foram compradas e de imediato assadas para consumo imediato como se fossem saborosas iguarias.
Estruturando-se lentamente, primeiro pela ineficiência administrativa da ditadura mas também pela dificuldade para encontrar gente disposta a ir para um lugar desconhecido e potencialmente perigoso para o gosto refinado da burocracia do Distrito Federal, só em 9 de março de 1945 o Território Federal do Iguaçu conseguiu instalar seu Poder Judiciário.
*Cargueiros: muares levando malas e bruacas nos lombos.
Entusiasmo passageiro
No discurso de posse, o juiz Joel Quaresma de Moura chegou a entusiasmar a assistência, tentando convencer a si mesmo com o discurso padrão da época, de era louvar o governo federal na suposição “mágica” de que as afirmações positivas automaticamente transformam as realidades adversas:
“Aproveitando este momento, não queria deixar passá-lo sem louvar de público o ato do Governo Federal, sábio, honesto, criterioso e bem orientado que criou as novas Unidades Federadas, porque este ato é o início, o marco da melhor participação administrativa do Território Nacional, cujos efeitos benéficos e duradouros não tardarão a aparecer, consubstanciando a velha aspiração de sábios geógrafos, economistas, sociólogos e geólogos pátrios, além de sua alta significação de bandeirantismo e progresso que representa para o nosso, até a pouco abandonado ou esquecido sertão, fontes de todos os nossos bens e de todos os nossos males, força latente de pujança, casa forte, cuja porta só agora se cuidou de abrir para assombrar-nos com o seu potencial de riquezas e capacidade produtiva, cujo efeito estávamos tão longe de imaginar”.
Estrada ruim, carroça proibida
Logo que pôde, Quaresma também abandonou Foz do Iguaçu. Foi para o Norte do Paraná, pulando em seguida para o Norte do país e lá sendo cassado, arrastado pelos expurgos de outra ditadura.
Em Rondônia, sua empolgação de 1945 passou por uma espécie de autocrítica: a criação dos territórios federais “foi uma solução de emergência, solução provisória (…) àquele tempo não mais do que uma experiência e um ensaio destinado a promover a efetiva integração nacional de regiões afastadas e longínquas, sem lei nem administração” (citado por José Júlio Guimarães Lima, O Ministério Público e a realidade dos Territórios Federais).
Ao contrário, deu-se bem quem parava em Cascavel, detido pelos convites gentis de Jeca Silvério para não continuar até a fronteira por conta de estradas ruins ou restritas.
Até Foz do Iguaçu as carroças foram proibidas pela necessidade da passagem dos caminhões carregados de madeira para exportar com destino à reconstrução da Europa.
Até Porto Mendes havia diversos caminhos de origem indígena, mas intransitáveis para carroças e difíceis até para a passagem dos cargueiros.
Luiz Sganzerla, por exemplo, partiu de Viadutos (RS) em março de 1945 com uma caravana com destino a Santa Helena, formada por três carroças puxadas por bois. Depois de 41 dias de viagem, acampando em um pequeno povoado, foram informados de que não havia estrada a Santa Helena.
“Pela dificuldade de fazer esse trajeto de navio, Luiz Sganzerla e as outras três famílias decidiram ficar aí mesmo. Essa localidade se chamava Encruzilhada. Mais tarde o nome mudou para Aparecida dos Portos e, finalmente, Cascavel” (Rolvi Martini, histórico da família Sganzerla).
Foi, mas voltou
João Miotto, nascido em Nova Prata (RS), até conseguiu chegar a Santa Helena, mas lá percebeu que não poderia permanecer e decidiu retornar a Cascavel, onde foi bem recebido em sua primeira passagem.
A decisão de Miotto foi favorecida por um dos últimos atos da ditadura para corrigir o desastre de desviar recursos do Paraná e Santa Catarina para a fracassada aventura de construir uma estrada no Paraguai.
O decreto-lei 7.362, datado de 8 de março de 1945, abria ao Ministério da Viação e Obras Públicas crédito especial de Cr$ 10 milhões para prosseguimento da rodovia Ponta Grossa-Foz do Iguaçu.
João Miotto foi trabalhar na obra, fazendo parte da equipe que derrubava as árvores para a abertura de novos trechos da estrada, entre Céu Azul e Matelândia.
Italianos, campeões em associativismo
Em abril, quem chegava a Cascavel era Carlos Cancelli. Nascido em Guaporé (RS) em 1897, vinha já na plena maturidade. Hospedou-se no Hotel Pompeu Reis e decidiu apostar no desenvolvimento da cidade, adquirindo lotes rurais que transformou no bem-sucedido loteamento Vila Cancelli.
Os filhos de italianos impedidos de chegar ao destino sonhado logo trataram de se organizar, de ardo com a tradição do filó, prática dos imigrantes que deu força às comunidades nas quais se enraizavam.
Ao lado das demais forças da nascente sociedade cascavelense, os filhos de italianos participaram da criação do Tuiuti Esporte Clube, da luta pela criação do Município, apoiando e fortalecendo a Associação Rural de Cascavel.
Foi na ARC que a extensão rural se estruturou e se construiu o projeto cooperativista, durante décadas bombardeado como “coisa de comunista” pelos atravessadores que exploravam os agricultores.
Devido aos trabalhos da Associação Rural, Cascavel chegou a ser o único Município a contar com duas cooperativas no início do ciclo da soja: a Copacol, no distrito de Cafelândia, e a Coopavel, na sede.
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