Puxada pelo jornal fluminense O Globo, em 20 de outubro de 1949, a campanha para tentar impedir o retorno do getulismo ao poder expôs o Oeste e o Sudoeste do Paraná como um caos social e administrativo ao ser devolvidos pelo extinto Território Federal do Iguaçu, em 1946.
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O jornal mencionava “fronteiras abandonadas e uma população esquecida”. “O próprio batalhão, sediado em Foz do Iguaçu, para alimentar a sua soldadesca, era forçado a contrabandear gado do Paraguai”, prosseguia o jornal.
Pelo impacto, amplitude e sensacionalismo da matéria, essa foi a narrativa que prevaleceu na historiografia, até porque seria fácil comprovar as informações factíveis.
A alternativa que se apresentou ao governador Moysés Lupion foi o esforço da equipe de governo para demonstrar na prática o cumprimento do programa “Paraná Maior”.
Para enfrentar as informações negativas que circulavam na imprensa, o governo Lupion mobilizou forças para um contra-ataque publicitário que no plano administrativo implicava a preparação de um elenco de medidas para dinamizar a economia. E, enquanto elas não produzissem efeitos, um roteiro de festivas inaugurações.
O governador havia prometido em mensagem encaminhada à Assembleia que iria agir com uma “ação planificada”, a ser conduzida por “homens que, como eu, estão empenhados nesta grande batalha da construção de um Paraná Maior e num ensaio único de realizar a grande obra do futuro”.
Audácia e fatores morais e fé
Esse linguajar autoelogioso e ufanista faria escola entre seus sucessores. Lupion desenhava o próprio mandato como uma “obra”, que seria fruto da ação de um empreendedor que puxa a ação para si.
Para esse gestor, “a falta de audácia na ação, a falta de visão política e a pequenez nas determinações representam traição ao futuro”. A máquina do Estado se reduzia à vontade e às qualidades de uma pessoa, que se apresentava como dotado de visão e muito determinado.
As palavras otimistas procuram animar o Estado para a concretização dos objetivos desse governo personalista, que para Lupion iriam compor a sua construção pessoal do Estado – “uma obra de entusiasmo e de fé”, apoiada em “fatores morais”.
Com esse discurso individualista e um planejamento progressista Lupion tentava sufocar os conflitos e esconder as debilidades da ausência do Estado no interior, onde havia desvios de conduta dos homens de confiança do governador, corrupção, conivência com a grilagem de terras e perseguição aos posseiros.
Para o bem, nesse final de década, de fato, o Estado revelava um imenso potencial de crescimento econômico, que adviria da eletrificação e dos projetos no setor de transportes.
Maripá usou bem a conjuntura
Com a propaganda das terras oestinas no Sul em plena operação, o planejamento orientado para a exploração a madeira pela colonizadora Maripá reforçou o discurso progressista de Lupion.
O embate de versões sobre se o Oeste do Paraná estava abandonado ou assistido vinha a calhar à Maripá, que em 27 de abril de 1949 protocolou no Instituto Nacional do Pinho pedido para instalar sete novas serrarias na região “além da que já mantinha, e derrubada de árvores para aproveitamento de madeira de Toledo e comunidades vizinhas” (Luiz Alberto Martins da Costa, Calendário Histórico de Toledo).
“O potencial estimado é de 576 mil pinheiros, com 12 árvores por hectare, em 48 mil hectares. Mais 900 mil outras árvores, como cedro, ipê, cabriúva e grápia, com 4 árvores por hectare, em área de 225 mil hectares. A meta é derrubar 30 mil pinheiros por ano, em área de 25 mil hectares, produzindo 75 mil toras, com 84 mil m3. Mais 20 mil outras árvores, produzindo 40 mil toras, com 50 mil m3. Informa ainda que haviam sido demarcadas 400 colônias que seriam acrescidas de mais 300, da quais 200 em área de madeira de lei e 100 pinhais. A produção prevista para as 7 serrarias é de 4.464m3”.
O caminho mapeado
Para Cascavel, sair do marasmo em que caiu com o Território do Iguaçu dependia de providenciar caminhos para quem precisasse acessar os portos do Rio Paraná. Entroncamento de trilhas, os ramos principais à fronteira seriam rumo a Foz do Iguaçu ou a Porto Mendes, a opção preferida pelos italianos que chegavam.
Já definido pela geografia, via divisor de águas, como polo de bifurcações de caminhos, a rota de Cascavel para Foz do Iguaçu era formada por diversos trechos de antigas trilhas indígenas, ervateiras e também militares, sem mapas à disposição dos colonos em marcha.
Ao contrário, o sentido Porto Mendes contava com um trajeto já bem mapeado pelas tentativas de colonização da Santa Helena Velha e pela vistoria minuciosa feita em nome do governo paranaense pelo engenheiro Arthur Martins Franco e sua equipe no início do século.
No entanto, os caminhos a Foz do Iguaçu eventualmente recebiam reparos, pois a Rota Oeste estava começando, mas o trecho Cascavel-Porto Mendes ficava inviável a cada chuva, apesar da notícia de que uma linha de ônibus logo viria se integrar aos esforços da Maripá.
Sede ou interior?
Deu-se então um embate na Câmara de Foz do Iguaçu entre vereadores da sede e do interior: os parcos recursos disponíveis deveriam ser usados no remoto interior, onde logo se esgotariam, por ser insuficientes, ou deveriam apoiar os colonos no entorno da cidade-sede?
O interior foi descartado, contra a vontade do prefeito Júlio Pasa, mas em benefício do eixo Cascavel-Porto Mendes foi brilhante sua iniciativa de designar Manoel Ludgero Pompeu para assumir as funções de subprefeito distrital de Cascavel.
A determinação serviu também para compensar o vácuo de gestão decorrente do afastamento do líder local, Jeca Silvério, determinado pelas autoridades do Território Federal.
A designação teve ainda uma consequência inusitada: aumentou o grau de entrelaçamento entre as vidas de Jeca Silvério e Manoel Pompeu, que já tinham uma grande identidade (https://x.gd/Chaof).
Além disso, a combinação dessas personalidades deu a Cascavel, em paralelo às suas sólidas bases familiares, uma inteligência política e administrativa invejável para um distrito cuja sede ainda era uma pequena vila.
Pompeu e suas ligações
Quando foi enviado a Cascavel em 1949, Manoel Ludgero Pompeu não só conhecia bem a região como já era um nome histórico em Foz do Iguaçu, como um dos fundadores da primeira cooperativa agrícola da região, em 29 de maio de 1932.
Com 32 agricultores participando da assembleia de fundação, a Sociedade Cooperativista Agrícola Ltda tinha no Conselho de Administração nomes que no futuro seriam decisivos para o fortalecimento de Foz do Iguaçu e do Oeste paranaense.
Entre ele, Antônio Dotto (presidente), Balduíno Welter (diretor gerente), Sílvio Rorato, Antônio Alves Amaral, Martin Nieuwenhoff, Cristiano Waudscher e Manoel Ludgero Pompeu, que era o diretor tesoureiro. No Conselho Fiscal figurava ainda o prefeito Júlio Pasa.
Foi Pasa quem moveu a peça certa para o lugar certo, designando Pompeu como subprefeito do Distrito de Cascavel, para onde ele se transfere nesse mesmo ano decisivo de 1949 para desenvolver uma atuação que ultrapassou os limites distritais e se estendeu para além da criação do Município de Cascavel, instalado em 1952.
Chamado pelo prefeito José Neves Formighieri, Pompeu se manteve no serviço público municipal entre 1953 e 1959, destacando-se no exercício de suas funções apesar dos mínimos recursos disponíveis.
Energia atrai colonos
Um dos feitos notáveis de Pompeu como subprefeito, entre 1949 e 1950, foi buscar uma ligação direta entre o Oeste e o Norte. Nesse caso, fez a exploração, a locação e o desmatamento de toda a estrada que seguia de Cascavel ao Porto 1, no Rio Piquiri.
O traçado ligava Cascavel a Melissa, Central Santa Cruz, Cafelândia, Iguaçuzinho e Nova Aurora, “desta forma inaugurando a primeira ligação rodoviária com o Norte, até então inacessível, a não ser via Guarapuava” (Alceu A. Sperança, Cascavel, a História).
Foi ainda consequência direta da presença de Pompeu em Cascavel e das necessidades expostas pela colonizadora Maripá a criação, pelo prefeito Júlio Pasa, do Serviço Municipal de Luz Elétrica da Vila de Cascavel, em 14 de dezembro de 1949.
A lei 35/49 fechava o ano determinando a dotação de 12 mil cruzeiros para a “manutenção e regularização” do setor em 1950.
Assim, foi já com a disseminação da propaganda de que a região da Maripá contava com energia elétrica que em 7 de março de 1950 chegavam a Toledo os primeiros colonos trazidos pela colonizadora, com famílias que se instalariam também em áreas do futuro Município de Marechal Cândido Rondon.
Eles vinham para se estabelecer nos núcleos de colonização que darão origem não só a Toledo, Marechal Cândido Rondon e seus distritos, mas também aos embriões de vários outros futuros municípios.
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