General se impressionou com os negócios na fronteira

General Cyro Espírito Santo Cardoso, logotipo da Capitania do Rio Paraná, vereadores Antônio de Almeida (Foz do Iguaçu e Cascavel) e Rubens Stresser (Toledo, pela comunidade de Quatro Pontes)

Criada em 1939, a Comissão Especial da Faixa de Fronteiras revelou em janeiro de 1952 preocupação com os inúmeros pedidos de cessão de terras e abertura de negócios em Foz do Iguaçu e outras comunidades fronteiriças.

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A CEFF era uma espécie de superprefeitura nacional das regiões limítrofes, cabendo-lhe a tarefa homologatória dos pedidos encaminhados. Nessa época sob o comando do general Cyro Espírito Santo Cardoso, cabia à Comissão de Fronteiras a fiscalização das operações com terras públicas e privadas,

Além de examinar conflitos de jurisdição de terras e conceder permissão para a exploração de bens minerais, cabia à Comissão autorizar a instalação de estabelecimentos comerciais, industriais, agrícolas, de colonização e negócios em geral em sua área de jurisdição.

Paranaense da Lapa, em julho de 1922, aos 34 anos, Cyro já se destacava como instrutor da Escola Militar do Realengo, que orientou a se integrar ao movimento revolucionário tenentista. Por conta disso, foi preso e condenado a um ano e quatro meses de prisão. 

Parecia sem futuro quando a anistia recebida com a revolução bem-sucedida de 1930 o levou à direção da Escola Militar de Resende, ali permanecendo até 1950, quando assumiu o comando da 10ª Região Militar em Fortaleza (CE). 

Já no governo constitucional de Getúlio Vargas, iniciado em janeiro de 1951, foi chefe de gabinete do presidente e ali estava quando, em sua sessão do dia 28 de janeiro de 1952, a CEFF decidiu enviar ofício ao Serviço de Patrimônio da União confessando estar “impressionada com o grande de número de pedidos de concessão de terras na faixa de fronteiras”. 

Recomendava que nos contratos fosse incluída cláusula obrigando os concessionários a fazer o aproveitamento racional das terras no prazo de três anos, “sob pena de caducidade* das concessões”.

*Caducidade: decrepitude, velhice incapacitante; neste caso, extinção. 

Vivendo o tumulto da Era Vargas 

Cyro saltou do gabinete de Vargas para o Ministério da Guerra, até o tenso mês de fevereiro de 1954, quando foi exonerado do cargo depois da divulgação do Manifesto dos Coronéis, que também derrubou o ministro do Trabalho, João Goulart.

Os oficiais protestaram contra a elevação do salário mínimo em 100%, negociada por Goulart, queixando-se das manobras para dividir os militares e dos escassos recursos para as necessidades militares do país. Em tempos de redes sociais eles seriam atropelados pela reação popular, mas na época abalaram o governo, tanto que Vargas se suicidou em agosto.

Deslocado para a diretoria de Ensino do Exército até o final desse 1954, foi para o comando da 4ª Região Militar, em Juiz de Fora, até o início de 1956. Retornou-se ao Rio de Janeiro em março de 1956 como diretor-geral do Serviço Militar e em dezembro foi para a diretoria-geral de Material Bélico, ali atuando até maio de 1957.

Sua última função de relevo foi comandar o IV Exército, em Recife, até 1959, coroando a trajetória de um dos militares paranaenses mais influentes na transição da ditadura Vargas para a redemocratização. Cyro Espírito Santo Cardoso morreu em 1979.

O espanto da Comissão de Fronteira no caso dos inúmeros pedidos de concessão de terras e permissão para a abertura de negócios no Município de Foz do Iguaçu tinha muito a ver com uma conjugação de acontecimentos: o fim da ditadura Vargas, com a eleição do prefeito pelo voto, a extinção do Território Federal do Iguaçu e o interesse do Estado do Paraná em retomar o controle de suas devolvidas regiões Oeste e Sudoeste para impedir a volta do TFI.         

Por conta desses fatos, um novo plano estadual de rodovias estava em elaboração na capital e teria impacto positivo determinante para o futuro do Oeste. 

Estradas, eterna preocupação

O esforço viário começa com reparos na estrada principal da rodovia que é hoje a BR-277. Havia sido improvisada, ainda em 1951, uma variante para permitir o tráfego alternativo entre Cascavel a Foz do Iguaçu, que explica o aumento da fluência de colonos ansiosos por obter terras na região.

Também partindo de Cascavel, Manoel Ludgero Pompeu (1888–1966) formava turmas para abrir estradas a partir do tronco principal. 

“Juntamente com o falecido Pompeu, fiz a estrada que vai do Tamoio 1 até a Foz do Piquiri, no muque. Esta estrada que passa no Brasmadeira, na Melissa, Meia Lata, Central Santa Cruz, Bananeira, Cafelândia – cujo nome era Caixão –, depois Anta Gorda, Roda de Carro, fomos nós que abrimos” (Aladin de Souza Leal, Prisma Cascavel, 10/2/1995).

Ao passo em que evolui lentamente a estrutura de transportes no interior do Paraná, também cresce o fluxo de passageiros no transporte fluvial e, com o aumento da população e a circulação de riquezas, o contrabando e a criminalidade.

Para reforçar a patrulha na fronteira, em 31 de julho de 1951 a Capitania dos Portos festeja em Foz do Iguaçu o recebimento da lancha-patrulha Iguaçu. A embarcação faz uma longa viagem até ser incorporada à estrutura de vigilância da fronteira: transportada em navio mercante que parte do Rio de Janeiro, segue até Montevidéu, onde é lançada às águas do Rio da Prata, navegando pelo Rio Paraná até chegar ao destino.

Migração produz colônias e cidades  

O Paraná se enche de pequenos povoados e cidades no interior e os núcleos mais antigos se consolidam. 

No Oeste, a colonizadora gaúcha Maripá procura atrair os colonos oferecendo assistência médica, abrindo escolas e templos religiosos. 

“A Companhia contratou um médico, construiu e equipou um hospital em Toledo (Casa de Saúde e Maternidade de Toledo) e ajudou a construir outro em Marechal Cândido Rondon (Hospital e Maternidade Filadélfia). Construiu escolas, pagava salário aos professores” (Valdir Gregory, Os Eurobrasileiros e o Espaço Colonial – Migrações no Oeste do Paraná [1940-1970]).

A colonizadora de Toledo vai além: contrata o agrônomo curitibano Rubens Stresser (1926–2011) para formar um sítio experimental e promover experiências com variedades de trigo, fumo, oliveiras e árvores frutíferas.

Era a retomada do fio da meada interrompida pela desistência dos ingleses de prosseguir com o projeto da Fazenda Britânia, onde experimentos agroindustriais resultaram até na exportação do petit grain (extrato de apepú – ver em https://x.gd/mqblV).

O esperto Almeida

Cascavel tinha uma subprefeitura de Foz do Iguaçu e em Toledo a colonizadora e madeireira Maripá dirigia a comunidade. Em Guaíra, tudo girava em torno do porto e na sede, Foz do Iguaçu, com a democracia recém-descoberta, tudo passava pela Câmara Municipal. 

Naquela época, o Poder Executivo nos municípios não era tão dominador quanto na União e nos estados. As câmaras eram de fato centros de legislação e debates estratégicos e não meros apêndices das prefeituras.  

As sessões legislativas de janeiro de 1952 em Foz do Iguaçu foram marcadas por um intenso debate a respeito de como deveria ser regulamentado e recolhido o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). 

Em campos opostos, o vereador iguaçuense Moacir Pereira criticava a má redação e a inconstitucionalidade do projeto de cobrança do IPTU remetido à Casa pelo prefeito Francisco Guaraná e o vereador Sadi Vidal defendia a lei como forma de combater os terrenos baldios. 

Coube ai vereador Antônio Rodrigues de Almeida, do Distrito de Cascavel, apresentar uma fórmula conciliadora, determinando em substitutivo que só pagariam (1% do valor venal) os imóveis “de mau aspecto”, que depunham “contra a paisagem urbana”.

Almeida foi elogiado por sua “esperteza”, já que na determinação do valor venal não entravam benfeitorias tais quais os muros, as cercas e as calçadas: taxar com maior valor os imóveis com benfeitorias seria um incentivo ao desleixo. 

Como quem melhorasse o aspecto dos imóveis, valorizando-os, não pagaria imposto, estimulavam-se os cidadãos a melhorar o aspecto da cidade, no melhor espírito do IPTU desde sua formulação. Foi o fim dos debates: o substitutivo de Almeida foi aprovado por unanimidade.

O esquecido Almeida

Almeida, fundador do Tuiuti Esporte Clube, além de vereador também foi delegado de polícia em Cascavel. Ligado à família Pompeu, seu nome foi esquecido por uma falha cometida pela Prefeitura que a Câmara Municipal, por desatenção, jamais corrigiu.

Em entrevista gravada, o pioneiro e ex-vereador Jacob Munhak declarou que antes da criação do Município ia verear na Câmara de Foz do Iguaçu em companhia de Antônio Almeida, mas na degravação (transcrição da entrevista para texto) o nome de Antônio Almeida foi grafado como “Antônio Leivas”.

Para homenagear os antigos vereadores e lhes dar nomes de ruas, a Prefeitura encaminhou à Câmara projeto de lei com o nome “Antônio Leivas” quando na verdade deveria ter encaminhado “Antônio Almeida” ou, completo, Antônio Rodrigues de Almeida. 

Por conta disso, a Rua Antônio Leivas passou a homenagear alguém que nunca existiu em Cascavel e Antônio Almeida, personagem histórico, ficou ignorado. O erro nunca foi corrigido e a rua, no bairro Santa Felicidade, continua com o nome errado.

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