Duas modestas vilas, Toledo e Cascavel somadas não chegavam a uma população de mil habitantes no início de 1951, situação compreensível quando se sabe que todo o Paraná apresentou no Censo de 1950 um total de 2,12 milhões de habitantes, 455 mil em Curitiba.
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Londrina já estava com 67 mil habitantes e Maringá bateu em 40 mil. Foz do Iguaçu, incluindo os distritos de Cascavel e Guaíra, apenas 16 mil.
Era esse o perfil do Paraná e do Oeste na época do retorno de Getúlio Vargas ao poder pelo voto, em 31 de janeiro de 1951. O Brasil se encaminhava para a combinação entre nacionalismo econômico e a domesticação (via PTB) do movimento operário – o chamado “populismo”, herança do estado-novismo.
A situação nacional iria naturalmente apresentar reflexos no Oeste paranaense. Os líderes regionais adaptavam as políticas do Paraná e da União aos próprios projetos como alavancas para suas estratégias de desenvolvimento.
No país, crescia o papel do Estado na economia, com a criação de empresas estatais e monopolistas nas áreas mais lucrativas e cobiçadas pelos investidores estrangeiros, especialmente norte-americanos.
Interessava ao Paraná e ao seu interior atrair projetos e verbas para ações estatais que se integrassem aos próprios planos das forças políticas e econômicas regionais. Como em raras ocasiões na história, a política oficial passou a ser encarnada pelo povo como sua.
Ilusões proletárias
Se 1930 foi a revolução da classe média, 1951 prometia protagonismo ao proletariado, que avalizava as iniciativas do governo, dentre as quais a fundação de um banco (o BNDE) para financiar projetos de empresas nacionais.
O governo limitou a remessa ao exterior de lucros de empresas estrangeiras instaladas no País com a Lei de Lucros Extraordinários e criou a Petrobrás, estabelecendo o monopólio estatal do petróleo.
Com isso, feria os interesses da Shell, Esso, Texaco e outras multinacionais que operavam no Brasil e manipulavam lobbies informais na política.
A nação se polariza em dois grupos: a maioria de nacionalistas, que concentram seus interesses na campanha “O Petróleo é Nosso”, e a elite “entreguista”, que defende a exploração do petróleo e demais riquezas do País pelos grupos estrangeiros em associação com as elites locais.
Assim, o começo de um grande salto econômico para o Brasil assinala também o início da conspiração que iria resultar no suicídio do presidente, em 1954, e dez anos depois o fim da ilusão de conquista do poder ao proletariado, com a emergência de uma ditadura de viés elitista, não mais apoiada no sindicalismo atrelado ao Estado, mas nas Forças Armadas.
Reveses e desvios
O governo democrático de Vargas sofreu reveses e desvios. O revés inicial foi um projeto nacionalista com o viés do extinto Estado Novo, que não permitiu o consenso nacional, fortalecendo assim a ampla oposição ligada aos EUA que explorou os erros do governo até resultar no revés final: o suicídio do presidente, em 1954.
Um dos vários desvios foi a opção pelo rodoviarismo, em prejuízo dos planos longamente alimentados de expansão ferroviária desde o Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza [1813–1889]).
Aliás, também nos EUA as ferrovias sofreram as consequências da opção pelas estradas de rodagem, só vindo a recuperar importância e cuidados na segunda metade do século XX.
Da mesma forma, no Paraná, o declínio da expansão ferroviária, base inicial para a colonização do Norte, foi uma falha estrutural que viria a custar caro ao Paraná e ao Brasil.
Em compensação, o número de caminhões circulando pelas estradas se multiplicava e o Paraná se desenvolvia favoravelmente no início da década de 1950. Muita madeira partia das serrarias do Médio-Oeste, transportada via rodoviária aos portos do Rio Paraná.
Com mais democracia no País e a estrutura de energia e transportes iniciada por Moysés Lupion, o Paraná progredia e ganhava a primeira indústria de cimento do Estado, em Rio Branco do Sul, um marco na industrialização do Estado.
Oportunidade perdida
Empossado em 31 de janeiro de 1951, o governador Bento Munhoz revelava pleno domínio dos assuntos do Estado e despachava com fluência, sem frustrar a quem o procurava.
Logo ao assumir, o novo governador atendeu ao pedido de audiência de um colonizador gaúcho interessado em abrir um projeto no vale do Piquiri.
“Respondeu-me ele [o governador] que não poderia permitir, pelo fato de não serem devolutas aquelas terras, mas sugeriu uma outra área de 40 mil alqueires (…), terras que eu não aceitei (…), muito quentes e rasas, quando eu desejava terras para plantio de trigo, parreiras, pomares e para criação de porcos e gado” (Antônio Bordin).
Para sua surpresa, na área que Bordin recusou nessa ocasião em breve seria formada a futura cidade de Terra Roxa. O topógrafo lamentou ter tudo aquilo nas mãos e deixado escapar, mas ainda havia muito a fazer no Oeste e ele estava só começando a agir no Paraná.
Nascido em Casca (RS) em 1912, Antônio Bordin fez nome no Sul participando do planejamento da ferrovia Porto Alegre-Passo Fundo. Casou-se em 1932 com Pierina Sabadin, com quem teve sete filhos: Hélio, Sady, Luciano (que em Cascavel participou da Associação Rural), Félix, Davina, Adolar e Lívio. Ficou viúvo em 1947 e em 1965, casado com Estelina Maria Biazus, teve mais o filho Vicente.
O preço de um picadão
A grande oportunidade para Bordin no Paraná veio ao ser chamado por Alfredo Ruaro para trabalhar com a Colonizadora Pinho & Terras, do Grupo Dalcanale, iniciativa que o levou a morar em Palotina. Até um revólver ele pôs no penhor para poder viajar.
Em Curitiba, do contato com Alberto Dalcanale saiu o negócio: receberia 500 alqueires de terras e um caminhão Ford 51 em troca de abrir um picadão até uma serraria na barra do Rio São Camilo com o Piquiri.
“Nesse lugar enfrentou muitos conflitos de posse de terras. Mesmo assim cumpriu sua missão, lutando também pela viabilidade de ser instalada em Guaíra Usina Sete Quedas em parceria com investimentos japoneses para atrair indústrias com o baixo custo da energia – uma ideia que não saiu do papel pela burocracia e também resistência não só do Brasil como do Paraguai; além da sonhada ponte que ligaria o Paraná com Mato Grosso do Sul que somente foi construída na década 90 pelo então governador Jaime Lerner denominada Ponte Ayrton Senna” (Revista Mosaicos, fevereiro de 2019).
Lembrado até em Curitiba
O veterano empreendedor gaúcho depois se redimiria do erro estratégico de desprezar a região de Terra Roxa, participando da formação de Palotina. Mudando-se depois para Foz do Iguaçu, onde queria instalar uma estação rodoviária, participou na fronteira de tudo que interessava à comunidade.
Foi assim, por exemplo, com o planejamento da ponte da Fraternidade (Tancredo Neves), ligando Brasil e Argentina, que ele já havia proposto ao então ministro dos Transportes, Mário Andreazza, em 1974.
Com forte atuação política, Bordin foi eleito vereador por duas legislaturas: uma por Guaíra e outra por Palotina, liderando junto aos órgãos competentes a primeira ligação rodoviária Palotina-Iporã e balsa para travessia do Rio Piquiri.
Sua mão esteve presente na salvação da Santa Casa Monsenhor Guilherme e até nas ações para a conquista da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Morreu em 18 de julho de 2004.
Sua memória foi reverenciada em Curitiba com a criação do Largo Antônio Bordin, próximo ao Parque Barigui, assinalado por uma torre florida também histórica: o primeiro jardim vertical de plantas ornamentais nativas de Curitiba.
Bento desfaz arranjo lupionista
Ainda no clima de intensa participação popular pós-ditadura e de valorização do voto dos anos 1950, Moysés Lupion antes de transferir o governo ao professor Bento Munhoz tratou de criar feudos eleitorais em vários pontos do Estado.
Com a lei 613, de 27 de janeiro de 1951, o governador criou no quadro territorial do Estado 40 novos municípios. Bento considerou que a lei não convinha aos interesses do Estado e resolveu revogá-la em 6 de abril de 1951, restabelecendo o quadro territorial anterior.
A determinação de regras mais precisas para a criação de municípios vem com uma nova lei – 666 –, em 11 de julho de 1951. Com base nos novos critérios, a lei estadual 790, de 14 de novembro de 1951, criará 38 novos municípios e não mais 40, como previa a lei revogada.
Não seriam mais municípios atrelados ao ex-governador, mas ao novo. Dois desses novos municípios, Cascavel e Toledo, inicialmente não foram considerados como possíveis sedes municipais.
Estavam longe de preencher os critérios estabelecidos de população, estrutura urbana e diversificação de atividades, ao contrário de Guaíra, com seu porto movimentado, a destacada atração das Sete Quedas e uma população de 7.081 moradores.
Só Guaíra, nesse caso, podia entrar no projeto final. Cascavel e Toledo não tinham as mínimas condições de se tornar municípios.
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