Inteligência Artificial: entre o Acesso à Informação e o Pensamento Crítico

Paulo Porsch

A era da Inteligência Artificial (IA) trouxe consigo um acesso expandido e ilimitado à informação, porém, paradoxalmente, parece que as pessoas estão se afastando do pensamento crítico. A facilidade de encontrar informações na internet fez com que absorvêssemos conhecimento de forma passiva, sem questionar sua veracidade ou utilidade. É como se estivéssemos em um parque de diversões para o cérebro, mas muitos visitantes apenas dão uma volta na roda-gigante, sem experimentar o pensamento crítico.

Essencial é trazer de volta o hábito de pensar criticamente, pesquisando, comparando fontes, avaliando argumentos e formando nossas próprias convicções. Devemos ser sensíveis às palavras que usamos e às ideias em debate, sem nos deixar enrolar em detalhes linguísticos. O acesso à informação é um superpoder, mas o pensamento crítico é o que nos protege da desinformação. Portanto, vamos abraçar a era da IA com cautela, mantendo nossas capas de pensamento crítico bem amarradas e enfrentando os desafios do tempo atual com um olhar atento, uma mente inquieta e um toque saudável de ceticismo.

Desde os primórdios a vida humana têm evoluído à custa dos mais severos desafios. Lutamos contra animais selvagens para garantir o jantar, enquanto hoje tentamos entender o manual de montagem daquele móvel “simples de montar”, que mais se parece com um quebra-cabeça tridimensional. Agora, em plena era da Inteligência Artificial (IA), enfrentamos algo peculiar: o acesso expandido e ilimitado à informação em um mundo onde pessoas que pensam criticamente são uma espécie em extinção.

Antigamente, se você queria aprender algo buscava primeiro um especialista, ou seja, basicamente alguém que tivesse um conhecimento ou habilidade específica. Ou ainda, você mesmo desenvolvia o conhecimento seja por meios formais ou via aprendizado na prática. Nestes tempos você pode perguntar ao Google sobre qualquer coisa, desde como fazer macarrão até como construir um foguete caseiro (não o recomendo, a propósito!). E as coisas estão se intensificando via comandos de IA que de tudo sabem e a tudo respondem – mesmo que as respostas não sejam, ainda, tão precisas.

Ironicamente, contudo, quanto mais informações temos disponíveis, mais parece que as pessoas estão se afastando do velho e saudável hábito de pensar criticamente. É como se a modernidade tivesse trazido o vírus da “aceitação passiva” – as pessoas absorveram informações como esponjas, mas esqueceram que devem torcê-las para extrair o caldo do que está realmente acontecendo.

Aqui estamos nós, no epicentro de uma tempestade de dados, onde você pode aprender astrofísica enquanto pede um café. A internet se transformou em um parque de diversões para o cérebro, mas é um parque em que muitos visitantes parecem apenas dar uma volta na roda-gigante e saem sem nem mesmo experimentar os algodões-doces do pensamento crítico.

O “politicamente correto” continua em cena, mais recentemente renomeado “woke”. De repente, todos se preocupam mais com as palavras que usam e a defesa de grupos cujos interesses sequer entendem, do que com as ideias que sustentam. Aparentemente, é mais importante parecer correto e “legal” – “desperto” pra usar o termo da moda, do que ser capaz de articular um argumento coerente. É como se estivéssemos em uma competição para ver quem pode dançar em cima dos ovos da linguagem sem quebrá-los, em vez de simplesmente conduzir uma conversa produtiva.

Claro, a IA, trouxe – e ainda produzirá, muitos benefícios. Na medicina, por exemplo, diagnósticos precisos estão se tornando tão comuns que “desculpe, você tem um resfriado” provavelmente se tornou uma relíquia arqueológica. E, embora a produção de alimentos com IA possa ser o pesadelo de um agricultor tradicional, ela está ajudando a alimentar o mundo de maneira mais eficiente.

No entanto, devemos lembrar que o poder da IA é igual ao tio estranho que sempre tenta vender coisas suspeitas no grupo do zap ou em reuniões familiares: ele pode oferecer produtos incríveis, mas não significa que você deva comprar tudo o que ele oferece. O acesso fácil à informação não garante que o que você está encontrando seja verdadeiro, adequado ou útil.

O que fazer, então? Bem, é hora de trazer de volta o pensamento crítico à moda antiga. Lembra quando você não comprou o primeiro par de sapatos que via na vitrine, mas os experimentou para ter certeza de que eles se encaixavam? Aplique o mesmo princípio às informações! Não engula automaticamente só porque elas estão na internet ou são “cool” ou “in”.

Refletir criticamente não significa ser um cético rabugento que refuta tudo o que lhe é apresentado. Não, pensar criticamente significa olhar as informações com olhos curiosos e um senso de discernimento. Significa pesquisar, comparar fontes, avaliar argumentos e formar suas próprias convicções.

E quanto ao “politicamente correto”? Claro, é importante ser sensível às palavras que usamos e às ideias em debate, mas não devemos nos perder em um emaranhado de detalhes linguísticos. Afinal, você pode ser o comunicador mais polido do planeta, mas se suas ideias forem fracas, sua comunicação continuará parecendo uma gelatina sem sabor.

Portanto, vamos abraçar a era da IA com entusiasmo, mas também com cautela. Vamos surfar nas ondas da informação sem esquecer que o oceano está cheio de criaturas questionáveis. Vamos lembrar que o pensamento crítico é como um músculo – quanto mais você o usa, mais forte ele se torna. E, por último, mas não menos importante: sejamos politicamente conscientes, mas não a ponto de perder o sono por causa de cada palavra que dizemos.

Afinal, o acesso à informação é um superpoder, mas o pensamento crítico é a capacidade que nos mantém protegidos da kryptonita da desinformação. Mantenhamos nossas capas de pensamento crítico bem amarradas e enfrentemos os desafios do tempo atual com um olhar atento, uma mente inquieta e um toque saudável de ceticismo.

*Paulo Porsch é economista, consultor, especialista em governança corporativa e cooperativa. Atua com foco na melhoria do ambiente de gestão e inovação nas empresas brasileiras.

 

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