Adiando mais uma vez as ações para a ocupação do Oeste paranaense, toda a energia do Império se concentrou no Sul. Com seus interesses na região contrariados com a eleição do blanco Manuel Oribe no Uruguai, aliado ao argentino Rosas, o Brasil articulou rapidamente uma intervenção militar na região.
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Aliou-se a Frutuoso Rivera (Partido Colorado) no Uruguai para derrotar Oribe e ao general argentino Justo José de Urquiza, governador de Entre-Rios, para derrotar Rosas.
Foi celebrado em maio de 1851 um acordo entre o Império brasileiro e Justo Urquiza, que se revoltou à frente de “um exército de cerca de 20 mil homens e recebeu a ajuda de um corpo de exército brasileiro, 4.000 soldados de elite, sob o comando do general Manoel Marques de Souza [depois Conde de Porto Alegre]” (Pedro Calmon, História da Civilização Brasileira).
O entendimento resultou em cinco tratados de limites, comércio, extradição, subsídios e aliança.
Apoiando os Colorados no Uruguai, o Império do Brasil contribui assim para a derrota dos Blancos de Manuel Oribe, em outubro de 1851. Garantido o controle do Uruguai pelos Colorados, o combate às tropas rosistas ficava facilitado.
A organização do Exército brasileiro para a campanha foi confiada a Luís Alves de Lima e Silva (Conde de Caxias), mas a força militar ainda era escassa. A deficiência de soldados no conflito no Prata apresentaria reflexos posteriores para o futuro Paraná, por conta da formação heterogênea dos batalhões que seguiriam para o combate.
A Tropa Mercenária
Com fronteiras imensas e em diversos pontos questionadas e sob ataque, o Império recorreu à tática de contratar mercenários para resistir aos avanços guerrilheiros dos vizinhos.
A Tropa Mercenária, contratada no Norte da Alemanha pelo governo imperial, compunha-se de 1.800 homens, com 80 oficiais, um batalhão de infantaria com seis companhias, um grupo de artilharia com quatro baterias e duas companhias de sapadores.
Os militares recrutados na Alemanha eram chamados de brummers (ranzinzas, encrenqueiros) e foram pagos em moedas de cobre de 40 réis (as patacas).
Quando foram desmobilizados, muitos ficaram sem receber em moedas, completando o soldo com terras, inclusive as ainda ocupadas por índios. Na impossibilidade de vendê-las, as terras foram cultivadas e os índios afastados pela força das armas.
Nem todos os brummers chegaram realmente a combater, por se mostrar desorganizados e rebeldes (daí o apelido pejorativo), mas vários deles, após terminado o contrato com o Império, ao receber terras como pagamento alternativo frente à escassez das patacas, fixaram-se no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, contribuindo para a organização e desenvolvimento da economia sulina, sua cultura e tradições.
Paraná, o cérebro da operação
A guerra contra Oribe e Rosas, iniciada efetivamente no Combate de Tonelero, em dezembro de 1851, será também importante para os paranaenses porque na condução política e estratégica de todo o episódio vai subir a estrela de Honório Hermeto Carneiro Leão, que logo iria criar a Província do Paraná com seu título nobiliárquico.
“Carneiro Leão, que já havia sido signatário, pelo Brasil, das negociações concluídas com o ministro uruguaio Andrés Lamas, tratando de aliança, limites, comércio, navegação e extradição, foi enviado ao Rio da Prata, em missão especial, junto aos governos do Uruguai e Paraguai, e das províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios, então rebeladas contra Rosas” (Hélio Vianna, na obra Honório Hermeto Carneiro Leão, Visconde e Marquês do Paraná, da Maioridade à Conciliação [1840-1853]).
O deslocamento até Buenos Aires começou em 5 de janeiro de 1852. As forças rosistas instalaram-se defensivamente na chamada cañada de Morón, antigo cemitério.
Em 27 de janeiro, Rosas seguiu para o acampamento em Monte Caseros e em 2 de fevereiro o Grande Exército Aliado (Uruguai, Brasil, Entre-Rios e Corrientes) chegou ao arroio Morón.
A batalha de Monte Caseros (ou dos Santos) foi decisiva, assinalando a vitória das forças aliadas.
Paulistas esvaziam o Paraná
A economia regional se limitava “preferencialmente à extração da erva-mate e ao criatório nos Campos Gerais, Guarapuava e Palmas” (Ruy Christovam Wachowicz, História do Paraná).
Um dos fatores que dificultaram a formação do Paraná foi o aumento da aquisição de escravos por parte dos cafeicultores paulistas. Arrematando a mão de obra cativa do futuro Paraná, deixaram a região com pouquíssimos trabalhadores no campo.
Para o cafeicultor paulista, ter muitos escravos significava mais lucros. Como já dissera Pero de Magalhães Gandavo, “a primeira cousa que pretendem alcançar, são escravos para lhes fazerem e granjearem suas roças e fazendas, porque sem eles não se podem [se] sustentar na terra” (História da província de Santa Cruz).
A Inglaterra, potência hegemônica na época, já não permitia mais “importar” escravos e o Brasil se viu forçado a adotar a severa Lei Eusébio de Queiroz, restritiva ao tráfico, embora mantivesse intocada a escravidão, cerne do modelo econômico imperial. Com isso, os cafeicultores teriam que adquirir escravos no mercado interno.
Custo de vida disparou
Já com a população mais branca do País, a região se dedicava ao mate e ao gado. Para seus fazendeiros, criar animais bastava como fonte de renda. As tarefas antes reservadas aos escravos eram evitadas, tidas como “indignas”.
“O preço do escravo, depois da extinção do tráfico – com fidelidade, proibição de importar e não de negociar –, dobrou, suprido o fechamento da fonte africana pela migração do norte ao sul” (Raymundo Faoro, Os Donos do Poder).
A partir de 1852, os preços dos alimentos chegaram a subir 200%. A Câmara de Curitiba não tardou a manifestar preocupação com o alto custo de vida e a fome nos bolsões de pobreza.
Eram os primeiros efeitos palpáveis da concentração fundiária facilitada pela famigerada Lei de Terras de 1850. Os vereadores curitibanos preferiram pôr a culpa no povo, criticando “o desprezo manifestado pelo brasileiro, e paranaense em particular, ao trabalho agrícola”.
“Trabalhar no cabo da enxada era considerado uma atividade de baixo status social, digna apenas de escravos e libertos. O homem comum estava cheio de preconceitos com relação ao trabalho agrícola. Preferia ser peão de tropa, cavalgar à procura de reses nos Campos Gerais ou colher erva-mate a dedicar-se ao serviço da agricultura” (Ruy Christovam Wachowicz).
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.

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