Com o fracasso da experiência colonizadora italiana no extremo-Oeste, asfixiada pela precária infraestrutura de caminhos no máximo carroçáveis, com apoio dos governos federal e estadual os ingleses da Companhia de Terras Norte do Paraná conseguiram casar perfeitamente seu plano imobiliário com o interesse do Paraná de fazer o interior produzir.
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Privilegiando o sistema de pequena propriedade rural, dividindo antigos latifúndios em lotes coloniais, será um dos mais rápidos e bem-sucedidos processos de colonização aplicados no Brasil.
A morte do ex-governador Generoso Marques, em 8 de março de 1928, é também o último suspiro da era em que o Paraná se dividia entre republicanos maragatos e monarquistas pica-paus. Agora eram todos republicanos e o poder durava décadas nas mãos do mesmo grupo.
Os preços da erva-mate começam a cair drasticamente no mercado internacional, mas o fenômeno tardou para alcançar o Rio Paraná. Em 1928, Foz do Iguaçu exportou pouco mais de 10 mil toneladas de mate e em 1929 os registros apontavam uma ligeira alta, chegando perto de 11 mil toneladas.
Quanto mais a crise aperta, mais as carroças dos pioneiros rumam a Oeste seguindo as obras da Estrada Estratégica. Em 1928, um grupo de 29 famílias de imigrantes alemães que partiu de Cruz Machado chega a Foz do Iguaçu. Para a época, era um êxodo.
A violência da crise
Os preços da erva-mate começaram a cair drasticamente no mercado internacional em 1928. A queda no volume de encomendas do produto era um reflexo das turbulências pelas quais o mundo estava passando. Nos EUA, em julho de 1929, a redução brusca dos índices de produção industrial leva a uma recessão.
Com a consequente diminuição da procura pela erva-mate paranaense, uma sensação de fim de ciclo já se espalha entre os industriais do setor. Seria uma situação sem volta: a Argentina não precisava mais do mate paranaense, já que sua produção própria era de ótima qualidade.
O medo se espalhou pelo Paraná: como se recuperar desse abalo, se a erva-mate respondia por 85% da economia paranaense? O temor se justificava. A erva-mate jamais voltaria a ter a importância que tivera nas exportações paranaenses até esse final de década.
A madeira surgia como o recurso natural em melhores condições de aproveitamento, como se viu na expansão do mercado no pós-I Guerra.
O boom madeireiro
O ímpeto com que os paranaenses se lançaram às derrubadas, porém, levou o governo a se preocupar com a exploração racional da madeira, posta abaixo avidamente onde havia condições de transporte, como na fronteira ferroviária e nos trechos de estradas mais bem conservados.
Assim, em 25 de abril de 1929 a lei estadual n.º 2.670 cria o Instituto de Madeira do Paraná, na tentativa de evitar o desastre de um aniquilamento rápido e irracional de árvores que demoram décadas para se formar, embora possam ser abatidas em segundos. Uma lei que de pouco serviu: mais e melhores estradas representavam maior e mais rápido escoamento das cargas.
Por uma negociação com a Companhia Mate Laranjeira, o Paraná quis tornar pública a ferrovia particular pioneira do Oeste paranaense, entre Guaíra e Porto Mendes.
“O governo do Estado, ciente das necessidades viárias dos habitantes da região compreendida entre os rios Piquiri e Paranapanema, sem comunicações com quaisquer centros comerciais e objetivando o desenvolvimento daquela região, entrou em entendimento com a empresa Mate Laranjeira para a abertura da sua linha férrea ao tráfego público” (Lando Rogério Kroetz, As Estradas de Ferro do Paraná 1880-1940).
Regalias excessivas
Data de 5 de março de 1929 um contrato firmado entre os empreiteiros Raul & Heitor Mendes e o Estado do Paraná concedendo aos empresários o privilégio para o uso e gozo da estrada construída por 60 anos.
Era um negócio nos moldes do celebrado com Percival Farquhar: cessão gratuita de uma área de 10.000 hectares de terras devolutas, privilégio sobre uma faixa de 15 quilômetros em cada eixo da linha e isenção de impostos estaduais sobre materiais adquiridos para serviços da estrada e outros impostos.
“Nestas condições os favores concedidos foram considerados lesivos aos interesses do Estado, tratando-se, sobretudo, de uma simples via férrea do sistema Decauville” (Lando Rogério Kroetz).
O impasse em torno da ferrovia pioneira do Oeste só teria desfecho depois da revolução de 1930, mesmo porque em 23 de abril de 1929 a lei estadual n.º 2.683, ao criar o Instituto de Estradas de Rodagem do Paraná, já sinalizava para o crescente predomínio das rodovias na preocupação central da administração do Estado.
Crise avança. Nasce Londrina
A política nacional entra em efervescência. Em 17 de junho de 1929, os políticos mineiros rompem com os paulistas: o governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870−1946) cede sua candidatura presidencial ao ex-ministro gaúcho Getúlio Vargas. A Paraíba indica o vice João Pessoa (1878−1930).
Os trabalhadores, agora transitando do anarquismo para o “bolchevismo”, eram severamente reprimidos. Em 20 de junho de 1929 a polícia invade a sede da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e leva 69 presos.
Indiferente aos acontecimentos nacionais, no inverno de 1929 a Companhia de Terras Norte do Paraná tomava posse efetiva de suas terras. Em 20 de agosto, um grupo de desbravadores, entre eles o pioneiro apucaranense Kurt Jakowatz e mais alguns peões contratados, partiram de Ourinhos em um caminhão Ford para uma aventura em meio à mata gelada.
“No dia 21 de agosto, bem cedo, chegamos a margem esquerda do Rio Tibagi, de onde iniciamos a dura caminhada até o local denominado Patrimônio Gleba Três Bocas (atual Londrina), onde se iniciava as terras da Companhia. Foi uma viagem feita com grande sacrifício, caminhando por um picadão escuro e barrento, onde o agrimensor Alexandre Razgulaef, orgulhosamente, fincou o primeiro marco de madeira e disse: ‘Chegamos!’ ” .
Era o início da conquista audaciosa das terras virgens e roxas do Norte do Paraná.
No teatro das operações políticas, formaliza-se em agosto de 1929 a Aliança Liberal, tendo como líderes o poeta fluminense Afonso Pena Júnior (1879−1968), filho do ex-presidente, e o gaúcho Ildefonso Simões Lopes (1866−1943), ex-ministro da Agricultura e fundador da Confederação Rural Brasileira. Será a semente de uma revolução.
CLIQUE AQUI e veja episódios anteriores sobre A Grande História do Oeste, narrados pelo jornalista e escritor Alceu Sperança.
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