Sem dispor de vereadores que representassem diretamente Cascavel e a colonizadora Maripá na Câmara de Foz do Iguaçu ou o Médio-Oeste na Assembleia do Estado, o colonizador Alfredo Ruaro assumiu o papel reivindicatório se dirigindo à Prefeitura de Foz do Iguaçu, onde apresentou em dezembro de 1947 a proposta de instalar uma rede de energia elétrica no Distrito de Cascavel.
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Para Ruaro, fundador de Toledo, era um dever levar a energia elétrica ao Médio-Oeste: a crescente exploração econômica do pinheiro atraía diversos grupos de colonos oriundos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os futuros plantadores de soja e trigo.
Havia muita oferta de terras devolutas, mas as melhores áreas requeriam a segurança oferecida pelas empresas do ramo: documentação, assistência técnica e apoio às famílias.
Era interesse público favorecer a ação das companhias colonizadoras, portanto. Foi assim que, de imediato, em 17 de dezembro de 1947, assim que recebeu o requerimento entregue por Ruaro ao prefeito Júlio Pasa, o presidente da Câmara de Foz do Iguaçu, Paulo Montanari, tratou de incluir a proposta nos debates sobre o projeto de orçamento geral do Município para 1948, marcando sessão legislativa para o dia seguinte.
Urgência verbalizada
A Prefeitura teria que autorizar obras e ações no Distrito de Cascavel, mas a delimitação da área determinada na legislação estadual não abarcava de fato toda a área distrital presumida com o início da colonização em Toledo.
O vereador João de Camargo (PSD, o mesmo partido de Jeca Silvério), que tinha propriedades no distrito, de imediato reagiu requerendo verbalmente para posterior redação que o distrito de Cascavel tinha os seguintes limites:
“Foz do Rio Benjamin até sua cabeceira, da cabeceira do Rio Benjamin em linha sua até o Km 5, da estrada do Toledo e desta até o Km 50, da estrada da Alice* em linha reta, pela estrada geral até o Rio Piquiri mantendo os demais limites”, que seriam os da legislação estadual que criou o distrito administrativo de Cascavel.
*“Alice” foi um erro na redação da ata. Referia-se ao antigo latifundiário (obragero) argentino Júlio Tomás Allica. Outro erro na ata é que nela consta como requerente da energia elétrica o nome “Alfredo Rorato”, ato falho decorrente do fato de a família Rorato ser tradicional em Foz do Iguaçu, a mesma do deputado federal Cláudio Rorato.
Aproveitando a urgência e o recurso do requerimento verbal, o vereador Antônio Alves do Amaral (UDN, mesmo partido do prefeito Pasa) pediu que a Prefeitura determinasse a abertura de concorrência pública para instalação de luz elétrica em Cascavel.
Etnia, amizades e parentesco
Amaral foi para a sessão com os dados necessários previamente anotados por Alfredo Ruaro, justificando a necessidade da instalação da energia elétrica em Cascavel não só por suas necessidades urbanas mas também rurais e preparando o futuro.
Hoje pode parecer surpreendente e irreal, mas na década de 1940 havia povoados com casas de empregados em serrarias, a iniciante colonização de Toledo e locais do interior do Distrito de Cascavel, como São João, com população ainda maior que a da vila de Cascavel.
A população toledana, considerando os primeiros colonos e a peonagem da colonizadora Maripá, já era de 130 moradores no final da década de 1940 (Toledo e Sua História, Oscar Silva et alia).
Ninguém na Câmara de Foz do Iguaçu se opôs à rápida tramitação do pedido cascavelense porque de um lado o prefeito Júlio Pasa era amigo da comunidade italiana do distrito e, de outro, o presidente da Câmara, vereador Paulo Montanari, hoje nome de avenida em Foz do Iguaçu, tinha parentes no interior de Cascavel.
José Neves Formighieri, futuro prefeito de Cascavel, também descendia da família Montanari. Sua bisavó Maria Montanari, casada com Francesco Formighieri, pai de Virgílio Formighieri, integrava numerosa família com vários membros que migraram da Itália para o Brasil
Toda vila queria ser cidade
O mínimo que se podia concluir em 1947, primeiro ano de democracia municipal, é que os antigos prefeitos nomeados pela ditadura não demonstravam grande interesse pelo interior, a não ser que tivessem propriedades nele.
O mesmo processo de fortalecimento do Distrito de Cascavel em 1947 se verificava por todo o Estado. Apoiar a fundação de cidades e municípios foi uma das iniciativas mais estimuladas pelo governador Lupion, que assim fez o PSD se estruturar fortemente em todos os núcleos criados.
Dezenas de novas vilas e cidades brotavam em todo o Paraná e pretendiam se tornar municípios. Só em 1947 foram criados os municípios de Abatiá, Arapongas, Bela Vista do Paraíso, Cambé, Campo Mourão, Curiúva, Floraí, Ibaiti, Ibiporã, Jaguapitã, Jundiaí do Sul, Mandaguari, Porecatu, Porto Amazonas, Quatiguá, Ribeirão do Pinhal, Santa Mariana e Uraí.
Muitos outros municípios em breve iriam brotar dos distritos mais antigos e das frentes pioneiras de colonização.
Uma das exigências mais frequentes feitas pelas famílias que chegavam do Sul era dispor de comodidades que já usufruíam em suas regiões de origem – principalmente a energia elétrica.
Por isso Cascavel elegeu como prioridade conquistar a energia elétrica, lançando o apelo tanto para a sede municipal, Foz do Iguaçu, como para o governo do Estado, até porque Moysés Lupion e sua família ainda eram donos de serrarias em Cascavel.
Assuntos da capital pressionaram Lupion
No entanto, Lupion já não pensava mais no local de reduzida população onde a cada eleição tinha a totalidade ou a imensa maioria dos votos.
A aceleração administrativa inicial do governo Lupion aos poucos dará lugar a uma feroz disputa entre as diversas tendências aninhadas na nova estrutura de poder e o ninho das serpentes políticas dominantes estava em Curitiba.
Tais rachaduras eram estimuladas e assistidas com prazer pela antiga oligarquia Camargo-Munhoz, já reorganizada em torno de Bento Munhoz da Rocha Neto.
A liderança de Bento vai absorver rapidamente as dissidências do lupionismo. Sinal da ebulição política reinante na capital é o fato de que só em 1947 Curitiba teve quatro prefeitos: Ângelo Lopes, chamado para a Secretaria de Estado da Fazenda, Raul de Azevedo Macedo (1891–1981), João Kracik Netto e João Macedo Souza.
Mas é inegável que o primeiro governo de Moysés Lupion caracterizou-se pela arrancada desenvolvimentista do interior do Paraná.
Havia condições favoráveis para isso: contornada a crise de 1929/30, a cultura do café voltava a atrair as atenções dos consumidores mundiais e o mercado interno também se ampliava. O algodão, na mesma trilha, fazia brotar mais vilas e cidades ao redor das culturas.
A transformação do interior paranaense num novo Eldorado brasileiro traria também um subproduto do progresso: com uma estrutura fundiária esgarçada e conflituosa, o país sempre expôs as fronteiras agrícolas a sangrentas questões em torno do reconhecimento da posse e da legitimação da propriedade da terra, fenômeno que ainda hoje ocorre em regiões entre o Centro-Oeste e o Norte do país.
Em Toledo, paz e boa comida
O cenário do Paraná então era de um universo rural amplo e regiões inexploradas. Havia também disparidades entre a colonização sem conflitos na antiga fazenda dos ingleses e as áreas em que a União e o Estado esgrimiam leis contraditórias, como na região do Piquiri, ao Norte do Distrito de Cascavel, e no Sudoeste, que o Território Federal do Iguaçu deixou desorganizado.
No front de Toledo, a paz com que a colonizadora Maripá desenvolvia a estrutura de seu projeto foi encarnada pela atuante Vergínia Drago Ruaro. Nascida na comunidade de Ana Rech (Caxias do Sul, RS), cunhada de Alfredo Ruaro e esposa de Zulmiro, que trouxe a primeira turma de toledanos para trabalhar na região, ela tomou conta do rancho às margens do Arroio Toledo.
“O calor, o medo dos animais da floresta, mas principalmente as nuvens de insetos haviam se transformado num suplício quase insuportável”, escreve Moema Viezzer no livro As Mulheres no Alvorecer de Toledo.
A maior dificuldade e o maior desafio para conseguir implantar o projeto da vila, prossegue Moema, foi a alimentação dos primeiros trabalhadores, uma exigência para que não abandonassem a obra:
“Os desbravadores necessitavam, acima de tudo, comida abundante, reforçada e bem feita para aguentar o peso de seu trabalho definido inicialmente: abrir o mato e construir a estrada que ligaria o Pouso Toledo a Porto Britânia para o transporte da madeira a ser exportada para a Argentina e Inglaterra”.
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