Uma realidade desconhecida por parte da população, mas que é a realidade de 172 famílias. O Jardim Melissa, loteamento da região norte de Cascavel, conta há anos com uma área de ocupação, que fica em um espaço de preservação ambiental. “Não temos escolha. Hoje convivo com o esgoto invadindo a minha casa. Quando o bueiro estoura, até fezes entram aqui! Eu tenho medo dos meus filhos serem contaminados. Quando chove, a casa é tomada. A força da água é forte. A minha esperança é conseguir algo melhor”, diz a dona de casa Silvana Ribas de Souza, que vive com o marido e dois filhos no fim da rua Limoeiro, local mais afetado pelas enxurradas.
“Hoje os riscos são enormes, a água desce nas nossas casas a cada chuva. Quando vemos o tempo mudando, não conseguimos nem dormir. Em dias em que a chuva é mais forte, a enxurrada entra por uma casa e vai passando de uma em uma. A nossa situação está bem difícil”, afirma o pintor Lucas Oliveira, que também mora na área de ocupação. “É um sonho de todos terem uma casa melhor, não podemos continuar nesta situação”. Silvana compartilha o mesmo desejo. “Não vemos a hora de sair daqui”, afirma.
A presidente do Melissa, Odete Andrade, lembra que a situação é antiga. “A área de ocupação está do mesmo jeito há muito tempo. Estamos na esperança que o Município, por meio da COHAVEL (Companhia Municipal de Habitação de Cascavel), vai conseguir realocar as famílias, pois é algo necessário. Essas pessoas precisam de um lugar melhor para viver”, solicita.


“Não temos nada”
Odete, que está há 15 anos no Melissa, elenca as necessidades dos moradores. “Nós precisamos de tudo aqui, não temos nada! Para acessarmos os serviços públicos, como saúde, educação e lazer, temos que ir a outros bairros, principalmente o Interlagos e Brasmadeira, e a demanda do Melissa é grande. Uma USF; uma escola; e um CMEI são mais que necessários para atender a população. Hoje a única coisa que temos é um salão comunitário”, discorre.
As obras de pavimentação e reurbanização da avenida Piquiri são vistas como uma conquista. “Lutamos por isso. Era uma demanda da comunidade da região norte há muito tempo. Essas obras vão dar mais fluidez ao trânsito. Temos uma grande cooperativa nas proximidades, os ônibus de trabalhadores e os caminhões de carga passam o dia todo pela avenida, as adequações chegaram para colaborar com todos”, comemora. “A única observação dos moradores é que precisamos de redutores de velocidade espalhados pela Piquiri. Os motoristas aproveitam a qualidade do asfalto e aceleram muito, crianças e idosos passam pela via, se tornando ainda mais perigoso”, cobra.


Criminalidade: “O Melissa se transformou nos últimos anos, e para melhor”
A empresária Marili Darahler administra um pequeno mercado na rua Nogueira. “O Melissa melhorou muito. Eu já fui assaltada três vezes, a última foi há 12 anos. Agora está bem mais tranquilo”, comenta. “Eu morava no Brasmadeira e tinha medo de me mudar para cá. Agora não troco aqui por nada. Há 10 anos era complicado, mas hoje o Melissa se transformou, e para melhor”, comemora a presidente do loteamento, Odete Andrade.

Gente boa
Morando há 19 anos no Melissa, Marili Darahler se recorda de quando chegou na cidade. “Minha família veio de Foz do Iguaçu, morávamos de aluguel. Viemos para Cascavel, pois conseguimos a casa própria. Na época, nem asfalta tinha, demorei um tempo para me acostumar com tudo. Hoje posso dizer que meus fregueses são mais clientes, são amigos. O Melissa é um lugar de gente boa, não troco aqui por nada”, fala a empresária.
“O Ecoponto é um dos orgulhos do Melissa”
Os moradores e a presidência do Jardim Melissa lembraram que o vereador, Dr. Lauri Silva (Solidariedade), é o mais atuante na região. “Acredito que a população lembrou de mim em razão dos recentes trabalhos no Melissa. Eu colaborei para levantar a associação de moradores, o salão estava abandonado. Hoje já está bem melhor. Constantemente atendo os moradores da região, por meio de indicações, dentre elas a de instalação de espaços de lazer. Todo o Melissa precisa de uma reurbanização, um embelezamento mesmo”, sugere o parlamentar.
“Um dos orgulhos do Melissa é o Ecoponto, que funciona muito bem, admiro o trabalho da cooperativa de reciclagem que atua no local. É uma geração de emprego e renda, que colabora com a melhora da qualidade de vida”, diz. “A área de segurança pública é prioritária, nós construímos o PSM (Plano de Segurança Municipal), melhorando o serviço da Guarda Municipal. As sedes da GM e da Secretaria de Segurança serão transferidas para o Morumbi, onde era o CAOM (Centro de Atendimento e Orientação ao Menor). É um grande avanço para a região norte. Este Complexo de Segurança vai colaborar com toda a população da cidade”, afirma. “Entendo que o Governo Municipal vem fazendo a sua parte. Cuidar do bairro é um trabalho conjunto entre poder público e população, cada um com seu papel”, lembra.

Enxurrada e esgoto: “Não pode ser feito nada”

A Prefeitura Municipal de Cascavel informou que são 172 famílias instaladas na área de ocupação do Jardim Melissa. Destas, 10 já foram realocadas, outras 117 irão para o Jardim Favo de Mel e as demais distribuídas por vários bairros da cidade. Em 24 meses toda a área será liberada. Conforme o Paço, haverá uma operação de replantio de árvores por se tratar de uma área de preservação ambiental. O Município ainda informou que está trabalhando para que novas famílias não ocupem o local. Sobre a enxurrada e o esgoto a nota diz: “Não pode ser feito nada, pois é uma área de preservação permanente, portanto qualquer obra é ilegal, lembrando que as famílias invadiram o local, estando na área ilegalmente”.
Em relação à falta de equipamentos públicos, a Secretaria de Educação repassou que existe um planejamento para pleitear recursos para a construção de escola e CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) na região, mas no momento não há previsão de construção. Já a Secretaria de Saúde afirma que existe reserva de terreno e projetos cadastrados no Ministério da Saúde. “Falta agora a captação de recursos, que está em programação com emenda parlamentar ou recursos do Ministério para uma Unidade de Saúde na região do Melissa”. A Secretaria de Esportes e Lazer enviou uma nota comunicando que ao lado do salão comunitário existe espaço para a construção de um campo. O projeto está em fase de estudos para viabilização.
A Secretaria de Obras afirma que 70% do projeto de pavimentação e reurbanização da avenida Piquiri foi executado. Ao todo, são mais de R$ 23 milhões em investimentos. São cinco quilômetros de via, em uma área de 66 mil metros quadrados, compreendendo vários loteamentos e bairros da região norte. A via é o principal acesso ao centro de Cascavel. As obras entraram na penúltima fase, que está sendo realizada na área do viaduto da PRC-467. Os serviços devem demorar 60 dias. Os motoristas precisam redobrar a atenção.
As obras impactaram o itinerário da linha 105 – Melissa/Terminal Nordeste. A Transitar (Autarquia Municipal de Mobilidade, Trânsito e Cidadania) comunicou que os ônibus seguem passando pela rua Guilherme Piovesan em razão da extensão da avenida Piquiri, liberada em dezembro, não estar totalmente concluída, faltando o calçamento, sinalização e demarcação dos pontos de parada. A retomada das obras, no trecho para conclusão, e o bloqueio, já em funcionamento na avenida entre o viaduto da PRC-467 e a rua Orestes Kolman, inviabilizam o retorno da linha ao itinerário original. A Transitar adiantou que a avenida Piquiri e a rua Guilherme Piovesan serão binários.
Após a conclusão das obras e entrega pela Secretaria de Obras, a Autarquia realizará os estudos e avaliações para outras intervenções, que não aquelas previstas na execução do contrato com a empreiteira. Será necessário avaliações após a conclusão, considerando que haverá alteração nos sentidos das vias no trecho revitalizado.
A comunidade cobrou em relação a sinalização horizontal nas ruas do Melissa. A Transitar repassou que está com cronograma de serviços em execução, cumprido rigorosamente com base nas datas de solicitação dos pedidos. Paralelamente está fazendo sinalizações e intervenções em áreas de risco potencial e de periculosidade efetiva, com base nas estatísticas de sinistros graves, considerando que a Autarquia não tem capacidade operacional para atendimento da área territorial total, que são mais de 2.100 quilômetros quadrados, equivalente a quatro vezes o tamanho de Maringá, por exemplo.
Reportagem: Silvio Matos
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