Jeca Silvério perde poder, mas o recupera nas urnas

Jeca Silvério só ficou fora do poder por dois anos. Manuel Ribas não voltou mais. O coronel Frederico Trotta governou só por alguns meses e o historiador David Carneiro retomou o Oeste do Paraná

Com a deposição do presidente Getúlio Vargas em 29 de outubro de 1945 pelos próprios generais que o levaram a instituir a ditadura do Estado Novo, com ela acabava também a influência política do pioneiro Jeca Silvério, que desde 1930 sempre foi favorecido pelo getulismo.

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Com o fim da ditadura, acaba também o governo interventorial de Manuel Ribas, em 3 de novembro de 1945. Assume o campo-larguense Clotário de Macedo Portugal (1881–1947), desembargador e presidente do Tribunal de Justiça do Paraná.

Mas Cascavel não perdeu com isso, pela importância estratégica e geográfica afirmada desde a revolução de 1924. Quanto a Silvério, nem houve tempo para seus partidários lamentarem estar fora do esquema paranaense de poder desde 1930: nas primeiras eleições democráticas da história oestina, realizadas em 16 de novembro de 1947, ele se elegeu vereador pelo Município de Foz do Iguaçu.  

Já o interventor Macedo Portugal ficou só três meses no governo paranaense, em período instável no qual emergiu a liderança de Moysés Lupion. O Paraná deixava de perder e conquistaria em breve o território perdido com a criação do Território Foz do Iguaçu.

O Território do Iguaçu, por sua vez, recebeu seu segundo e último governador: o coronel Frederico Trotta, que não foi nomeado por Vargas, mas pelo general Eurico Gaspar Dutra.

Boicote geral ao Iguaçu

Depois de oito anos de ditadura, as asfixiadas lideranças paranistas decidiram não mais engolir caladas as imposições sofridas e a sua reação ao Território Federal do Iguaçu foi ressentida e agressiva.

A tática era dificultar qualquer sucesso da gestão territorial, instalada na verdade mais no Rio de Janeiro e Curitiba que em Laranjeiras do Sul, a contestada capital dos TFI.

“Redemocratizando o País, intensa campanha paranista pela volta do Iguaçu foi efetivada pela sociedade civil paranaense, com os seus intelectuais à frente, esclarecendo as populações tanto a nível interno do Paraná e do Iguaçu, como da Assembleia Nacional Constituinte, acerca da mutilação territorial sofrida, como das razões históricas, legais e administrativas da inconsistência geopolítica do Território. O Paraná todo se levantou, exigindo o restabelecimento da sua integridade territorial no Ocidente, que datava dos primórdios da sua ocupação” (Carlos Humberto Pederneiras Corrêa, A Descoberta do Oeste Catarinense).

Para Cascavel, aliás, esses tempos confusos funcionaram como um fermento. A comunidade estava unida e acolhia os viajantes com o sedutor convite a permanecer na área com facilidades para se instalar, nas melhores terras devolutas e na sede distrital.

A prioridade rodoviária

Para o novo governo, melhorar estradas era essencial, especialmente no Oeste, sob gestão federal.

Em novembro de 1945 o coronel José Rodrigues da Silva, gestor principal das obras da futura BR-277, deixou na chefia interina da CER-1 o tenente-coronel Sady Martins Viana e partiu para os Estados Unidos com a missão de gastar 2,5 milhões de cruzeiros em máquinas, veículos e acessórios para as obras rodoviárias do interior.

“Foram adquiridos diretamente na América do Norte: cinco rolos compressores, dois grandes escavadoras, um trailer, um grande compressor de ar, 10 jeeps, 10 caminhões e um elevado número de peças para automóveis, caminhões e máquinas – o que constituiu uma boa compra, em se comparando com o preço, por que ela sairia se fosse feita através de intermediários, aqui no Brasil” (Oscar Ramos Pereira, Estradas Paranaenses Construídas pelo Exército).

Krassuski, uma história de trabalho

Com o maquinário adquirido nos EUA, Cascavel ganharia serviços, obras e empregaria parte da população já existente e em transferência para sua sede urbana, tanto no trabalho direto com a estrada como na prestação de serviços aos equipamentos e seus operadores.

É o caso do motorista de caminhão Sebastião Alves Krassuski. Nascido em 7 de fevereiro de 1917 em Guarapuava veio para Cascavel em novembro de 1945, já om 28 anos, proveniente de Laranjeiras do Sul, então a capital do Território Federal do Iguaçu.

Krassuski vinha para trabalhar na Comissão de Estradas de Rodagem que prosseguia as obras da rodovia federal, mas já conhecia bem Cascavel desde 1940, quando fazia o transporte de operários para trabalhar na construção do segundo aeroporto de Cascavel.

O caminhão utilizado por Krassuski na época, segundo Antônio Coutinho, filho de José Coutinho, um dos operários, pertencia à companhia norte-americana de exploração petrolífera Standard Oil, da família Rockfeller, que perfurou dois poços de petróleo na região de Cascavel operando por meio da Companhia Geral Pan-Brasileira, ligada a Moysés Lupion.

Krassuski de imediato se integrou ao espírito progressista dos cascavelenses e em 1949 foi um dos líderes da criação do Tuiuti Esporte Clube.

“Avenida Frederico Trotta”

A administração do Território Federal do Iguaçu, porém, não se beneficiou do entusiasmo cascavelense com a retomada das obras depois do fracasso de desviar dinheiro desta região ao Paraguai, para uma desastrada obra rodoviária resultante de uma geopolítica infantil.

Se as autoridades do TFI tivessem sido mais competentes, a população não teria permitido que a unidade federativa se extinguisse tão facilmente nem haveria tantos hiatos na reativação do movimento emancipacionista pró-Estado do Iguaçu.

O segundo governador sequer conhecia a região. Carioca, advogado, militar, político e apreciador de escolas de samba, logo ao chegar ele e familiares já eram nomes a ruas, avenidas e prédios públicos − a Avenida Brasil de Cascavel foi denominada “Avenida Frederico Trotta” entre a região do atual Terminal Rodoviário e a Rua Sete de Setembro.

Os cascavelenses perguntavam quem seria esse tal de Frederico Trotta que virou o nome de sua rua principal.

Seu governo, curto e instável, foi marcado pela controvérsia, principalmente porque Foz do Iguaçu se sentia ainda mais abandonada que em seus tempos de extremo-Oeste do Paraná. Nesse sentido, o curtíssimo governo Trotta foi uma sucessão de melindrosos antagonismos e um indesejável culto à personalidade do governador.

“Dizem que roubou”

O historiador David Carneiro (1905–1990) jamais engoliu o Território Federal. Filho do coronel e industrial ervateiro do mesmo nome, estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro e diplomou-se em Engenharia Civil pela Universidade do Paraná (atual UFPR), da qual também foi professor, depois de lecionar História e Economia em universidades dos Estados Unidos.

Um dos mais respeitados pesquisadores da história do Paraná, David Carneiro em 1940 construiu em Curitiba um prédio em estilo barroco no qual reuniu mais de 5 mil peças em seu acervo.

Logo que teve início o processo de redemocratização do país, David Carneiro abriu as baterias contra a administração do Território do Iguaçu, disposto a combatê-lo por todos os meios.

O maior adversário do TFI, o historiador afirmava que o Iguaçu tinha muitos funcionários corruptos. Um deles teria chegado a lhe dizer, segundo depoimento de Carneiro:

− Se tiver oportunidade eu roubo mesmo, porque no Brasil (sic) não vai se saber o que aconteceu, e minha família vai ter as vantagens do que eu puder ter levado para o bolso.

“Dizem que ele roubou muito”, comentou a propósito o historiador paranista. Não se sabe de fato, porque nada foi apurado, mas era verdade que a burocracia do Rio de Janeiro considerava o Oeste do Paraná uma espécie de Sibéria, para onde iam civis e militares que não faziam parte dos esquemas de poder da República.

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