O ano de 1946 se encerrou no Oeste paranaense com um misto de frustração para quem apostou no sucesso do Território Federal do Iguaçu e também muita confiança por parte de quem esperava que com a reinserção ao Estado do Paraná a região pudesse compensar o atraso sofrido em relação ao Norte, cuja evidente prosperidade se esgotava nos limites do Território Federal, no Noroeste paranaense.
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“Capital e Território do Iguaçu terminou! Era como a passagem do cometa − deslumbrou no começo e deixou por fim o rabo”, escreveu em suas memórias o engenheiro Władysław Radecki, um dos fundadores de Virmond, na região da Colônia Coronel Queirós.
“Dissabor, em toda a extensão da palavra. Funcionários sem ser pagos, sem ser exonerados ou despedidos, aguardando o milagre do pagamento por serviços prestados. Interessante: votar a extinção do Território, sem ser levado em consideração o ato final, isto é, pagar, receber, dispor dos bens etc. De modo que esta parcela da União continua como cachorro sem dono, ou cachorro vira-lata. O governador [Frederico Trotta] abandonou o Território (…) sem ser solucionado o futuro do funcionalismo”.
O governador Trotta nunca mais reapareceu na região. Um ano depois, foi nomeado governador do Território do Guaporé (atual Estado de Rondônia).
O homem do interior
A primeira eleição direta no Paraná após a longa ditadura de Vargas se deu em 19 de janeiro de 1947, sob a presidência do desembargador Antonio Leopoldo dos Santos.
O resultado não causou surpresa nem contestação: ninguém ignorava que Moysés Lupion seria o vencedor. Era o ápice de uma trajetória iniciada em Jaguariaíva, onde ele nasceu, em 25 de março de 1908, filho de João Lupion de Troya e Carolina Döepfer Wille Lupion de Troya.
Moysés estudou na cidade natal, depois em Castro, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Nesta última formou-se em contabilidade pela Escola Álvares Penteado. Retornou ao Paraná e fixou-se em Piraí do Sul, onde iniciou atividades no comércio, indústria e agricultura.
Mudou-se para Curitiba para expandir os negócios, já plenamente vitorioso na iniciativa privada. “Sua participação empresarial e comunitária no Estado conferiu-lhe grande prestígio pessoal” (História biográfica da república no Paraná, de David Carneiro e Túlio Vargas).
Governador chegou rico ao poder
A caminhada rumo ao poder começa ao se tornar um grande amigo do interventor Manoel Ribas, dando-lhe assistência, especialmente depois de sua deposição do governo, em 1945.
Mas o que deu a Lupion a chance de se impor sobre o Paraná foi a imensa divisão reinante na política paranaense, com uma guerra de personalidades que nunca parecia ter fim.
Lupion chegava ao governo do Paraná na condição de um dos homens mais ricos do Brasil. O Grupo Lupion possuía, dentre outras coisas, e só no antigo Território do Iguaçu, três serrarias em Cascavel; dois grandes depósitos de madeira; transporte fluvial com porto em Foz do Iguaçu, exportando a madeira de Cascavel para a Argentina, com 6 barcos e 3 rebocadores.
Na campanha eleitoral foi dada a conhecer a lista completa de propriedades do Grupo Lupion.
Fábrica de caixas em Ponta Grossa, além de vários terrenos junto à ferrovia; indústria de ferro em Castro e diversos terrenos; fábrica de fósforos em Piraí do Sul; fábrica de papel e celulose de Arapoti.
Serraria do Rio do Peixe, incluindo exploração de pastagens e área agrícola; entreposto de Morungava para fornecimento de madeira à indústria de papel e celulose de Cachoerinha. Entreposto em Itararé, SP com desvio ferroviário particular e instalações para beneficiamento de madeira.
Uma fortuna imensa
Tinha ainda 70 caminhões, 20 caminhonetes e 11 vagões próprios operados pela então Rede Viação Paraná-Santa Catarina.
No Oeste, as fazendas Andrada, São Domingos, Piquiri e La Paz, adquiridas da empresa argentina Barthe, além das fazendas Santa Helena e Barro Preto, com mais de um milhão e trezentos mil pinheiros, além de ervais e um porto particular em Foz do Iguaçu,
Os pinhais em cinco fazendas abrangiam um total de três mil alqueires. Por fim, as diversas embarcações no Rio Paraná e mais duas no Atlântico, que faziam a rota Paranaguá−Rio de Janeiro.
O deputado Antônio Augusto de Carvalho Chaves, coordenador da campanha vitoriosa, assumiu o governo do estado por pouco mais de um mês, entre 6 de fevereiro e 12 de março de 1947, com a missão de organizar a posse do governador eleito.
Assuntos pessoais proibidos
Presume-se que homens ricos não vão roubar no governo porque não “precisariam”, mas geralmente saem de lá mais ricos ainda. Lupion garantiu aos correligionários que enquanto estivesse no poder não permitiria nem aos irmãos ir ao palácio para tratar de assuntos pessoais.
Queria deixar bem clara a separação entre o interesse público e os interesses privados. No entanto, sua ampla coligação logo iria fazer água, porque havia duas eleições marcadas para os meses seguintes à sua posse: de imediato, a escolha dos deputados estaduais constituintes; e no fim do ano, eleições municipais.
A posse do governador Moysés Wille Lupion de Tróia se deu em 12 de março de 1947, já com dezenas de apoiadores ansiosos por aparecer nas imagens de instalação do governo para iniciar suas campanhas rumo à Assembleia Estadual Constituinte.
No ato da posse, Lupion não só reafirmou as promessas de campanha como, empolgado com a campanha pela Constituinte, na qual pretendia emplacar o máximo de líderes mais fiéis, prometeu ainda mais do que já havia prometido na campanha rumo ao governo.
Enxurrada de promessas
Já no dia seguinte à posse no Palácio Iguaçu, em Curitiba, o novo governador recebeu os jornalistas para a primeira entrevista coletiva. Prometeu construir em Curitiba uma nova Biblioteca Pública e um majestoso edifício para o Teatro Guaíra.
Em seu discurso, elencou as duas obras como “exigências mínimas de uma cidade universitária”. Também prometeu estimular a colonização holandesa nos Campos Gerais, etnia que ao chegar ao Brasil, em 1911, logo se revoltou com a diferença entre as promessas feitas pelo governo e a dura realidade que precisaram enfrentar.
Lupion não chegou a realizar nada do que prometeu na coletiva do dia seguinte à posse. Elas somente seriam cumpridas no governo seguinte, por seu adversário e futuro sucessor – Bento Munhoz da Rocha Netto.
Atiçados pelas promessas, no interior os carroções não paravam de se deslocar do Sul para o Oeste. Máquinas também chegavam. Com os irmãos Domingos e Hilário Zardo vinham os tratores que iriam abrir a estrada entre Toledo e Palotina.
Hilário quase morreu em travessia
Anunciada como um futuro centro de produção de café pela Companhia Pinho & Terra, a atração e assentamento de colonos sulinos na região da atual Palotina ficaria sob a gerência de Domingos Zardo.
Na viagem para trazer as máquinas, ao chegar ao rio Cavernoso era preciso retirar os tratores dos caminhões para a travessia por dentro da água. Dirigindo o trator, Hilário Zardo por um triz não perdeu a vida em acidente ao atravessar o rio.
Quando a Companhia Maripá criou a Agro Industrial do Prata Ltda, em Toledo, para montar serrarias na região, Domingos era um dos sócios da empresa e acabou se firmando na gerência. Um líder incontestável, Domingos Zardo inicialmente fixou residência em Toledo e Hilário viria para Cascavel.
Nascido em 11 de novembro de 1917 em Nova Prata (RS), filho de Fioravante e Vitória Vigo Zardo, família de madeireiros que faziam revendas em Porto Alegre, Domingos seria eleito vereador pelo Município de Foz do Iguaçu em 1951, pelo Partido Republicano, do governador Bento Munhoz da Rocha.
Domingos foi o segundo prefeito eleito de Palotina, entre 1966 e 1970. É nome de rua em Foz do Iguaçu e de escola em Palotina.
Vitória, a mãe jamais esquecida
Hilário Zardo nasceu em 26 de agosto de 1919, em Rio Vermelho, também em Nova Prata (RS). Em Cascavel desde 1946, Zardo sofreu as limitações de uma pequena vila à qual se tinha acesso por uma porteira que quando chovia era fechada para não arruinar a movimentação dos moradores.
Para evitar aborrecimentos com o encarregado pela porteira, Hilário era obrigado a desviá-la por dentro dos terrenos onde hoje é o bairro Country.
Foi exatamente ali, terreno que passou a conhecer muito bem, onde Hilário adquiriu cerca de 40 alqueires e instalou um matadouro de gado para atender a cidade de Cascavel.
Hilário, fundador da Acic em 1960 ao lado de Ferdinando Antônio Maschio e Celso Formighieri Sperança, criou um parque ambiental e um loteamento denominado “Jardim Vitória”, ambos em homenagem à mãe, Vitória Vigo Zardo.
Em 1961, Zardo era sinônimo de carne em Cascavel. Fundador do Cascavel Country Clube em 13 de abril de 1963, ele doou 24.621m² de terras para a instalação do clube. Aliás, sua participação também está presente na estrutura da Catedral.
A família Zardo é emblemática do empenho e da participação ativa dos pioneiros na estruturação da sociedade oestina.
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