Levando a missão de criar a Companhia Isolada do Exército, o capitão Edgard Buxbaun seguiu à frente de um destacamento com 200 integrantes, oito oficiais e diversos sargentos e cabos, chegando a Foz do Iguaçu em 7 de julho de 1932. Dois dias depois, a 9 de julho, forças militares sediadas em São Paulo se rebelavam contra o “governo provisório” de Getúlio Vargas, que havia deposto o presidente Washington Luís.
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Agora as forças de Vargas é que são as “legalistas” e seus adversários, os constitucionalistas, assumem o papel de “revolucionários”.
Buxbaun foi instruído para combater o contrabando, instalar uma estação radiotelegráfica e construir o aeroporto de Foz do Iguaçu. Seus comandados sentiram que foram isolados nos confins do Paraná para não reforçar os contingentes que se rebelavam pelo país.
Para as autoridades paranaenses, a retomada dos objetivos da antiga Colônia Militar pela Companhia Isolada será uma ação adicional para afirmar a integração paranaense, iniciar a estruturação do futuro centro internacional de turismo e evitar assim a indesejável desagregação do território.
No entanto, essas intenções em breve seriam frustradas. Os paranistas a partir daí puderam resistir ao máximo, retardando a derrota por onze anos, porque os getulistas tinham outros planos para a região.
A trajetória de um capitão
A rigor, nem o governo Vargas era tão revolucionário quanto se dizia em 1930, nem a nova revolução constitucionalista merecia esse nome: sua proposta elementar não era mudar a estrutura de poder, que se transferia das oligarquias rurais para as elites industriais urbanas e sua florescente classe média.
Sob a justificativa de lutar por uma nova Constituição para o Brasil, a principal intenção era, objetivamente, assegurar maior poder no contexto nacional ao Estado de São Paulo, que orgulhosamente se proclamava “A Locomotiva do Brasil”.
Essa nova agitação em São Paulo, como já havia sido em 1924, também deixou em estado de alerta as forças militares legalistas e o governo paranaense.
Considerando esse quadro, que história levava consigo para o “exílio” em Foz do Iguaçu o capitão Buxbaum? Nascido em 1896, o capitão chegava a Foz do Iguaçu com 36 anos e uma sólida fama de rebelde. Entrou no Exército em 1912, saindo aspirante a oficial da arma de infantaria pela Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 1918.
Preso, mas cheio de méritos
Em dezembro do mesmo ano foi promovido a segundo-tenente. Em 5 de julho de 1922 participou do fracassado levante tenentista da Vila Militar, que, articulado aos levantes do forte de Copacabana e da Escola Militar do Realengo, no Rio, e ainda à sublevação da guarnição de Mato Grosso, constituiu um protesto contra a eleição de Arthur Bernardes para a presidência da República e algumas punições impostas aos militares pelo presidente Epitácio Pessoa (1919–1922).
A ação de seu grupo, comandada pelo segundo-tenente Frederico Buys, e na qual tomaram parte também os tenentes César Gonçalves e Artur da Costa e Silva – futuro presidente da República –, resultou na morte do capitão José Barbosa Monteiro.
Apesar de preso em consequência da insurreição, Buxbaum em setembro de 1922 foi promovido a primeiro-tenente. Retornando às fileiras, alcançou em fevereiro de 1929 a patente de capitão e no mesmo ano concluiu o curso de aperfeiçoamento de oficiais.
Cumprindo ordens
Dez anos depois, em 15 de agosto de 1932, Buxbaum ordenava que os militares em serviço na Companhia Isolada em Foz do Iguaçu fossem para Guaíra, buscando evitar a repetição da derrota legalista de 1924, quando os rebeldes paulistas ocuparam o Oeste do Paraná com facilidade.
Os verdadeiros revolucionários, ou seja, os tenentes que empolgaram parte da população com sua pregação liberalizante dez anos antes, chegavam à exaustão em 1932 com a derrota do “constitucionalismo”.
Vários antigos revolucionários já haviam se acomodado na máquina de governo de Vargas e outros estavam foragidos no exterior, como Luiz Carlos Prestes. Ao ser indagado sobre como resolvera o problema dos tenentes rebeldes, o irônico Vargas respondeu: “Promovi-os a capitães”.
A essa altura, não era por acaso que Buxbaum era capitão. A pá de cal no movimento constitucionalista se deu com a posterior conciliação, já que Vargas consentiu em votar uma nova Carta. A partir daí, o tenentismo que minguava em 1932 teria seus remanescentes liquidados em 1935.
Os militares paranaenses retornaram ao quartel em 21 de outubro de 1932. Nunca mais o Paraná voltará a ser palco de combates decisivos para a vitória de qualquer grupo, governista ou rebelde.
Líder nacionalista
Quanto a Buxbaum, sem jamais perder o ardor revolucionário ele não ficou só no posto de capitão. Em dezembro de 1937 foi promovido a major e em setembro de 1943 a tenente-coronel. Foi de 1945 a 1949 comandante do 38º Batalhão de Infantaria, no Espírito Santo, e promovido a coronel. Em 1952 passou para a reserva, promovido a general de divisão.
Aí foi para a política. Com outros militares da ala nacionalista do Exército, foi diretor da Liga de Emancipação Nacional (LEN), criada em abril de 1954 para defender as liberdades democráticas, a nacionalização das fontes de energia elétrica e da distribuição do petróleo, a reformulação da política cambial e fiscal, a promoção de uma reforma agrária e um desenvolvimento econômico independente do país.
A LEN era uma organização formada por militantes comunistas e militares nacionalistas. Em abril de 1955, Buxbaum se tornava presidente-executivo da LEN, que dirigiu até sofrer forte perseguição e ser fechada por decreto do presidente Juscelino Kubitschek em 1956.
O legado de Buxbaum
Fundando então o Movimento Brasileiro dos Partidários da Paz, o general Buxbaum foi distinguido com o Prêmio Internacional da Paz e morreu em 13 de novembro de 1958.
Sem cumprir suas missões, Edgard Buxbaum jamais teria fechado sua carreira militar no posto de general.
No Oeste do Paraná ele fez história, pois ao sair de Foz do Iguaçu havia cumprido todas as missões das quais foi encarregado, dentre as quais a construção do vital aeroporto, em 1933, que em breve serviria ao Correio Aéreo Nacional. Também em 1933 foi instalada a Delegacia da Capitania dos Portos do Estado.
Nesse ano, em que o Estado passou o projeto de viabilizar a cidade de Cascavel à Prefeitura, Foz do Iguaçu teve três prefeitos.
O primeiro foi Otto Trompczynski, um agrimensor com a preocupação de avançar a colonização. Depois, Antônio de Souza Mello Júnior, o comissário de terras encarregado de medir o que seria o Patrimônio Municipal de Aparecida dos Portos (Patrimônio Velho) de Cascavel.
Por fim, Jorge Samways, que tinha parentes e propriedades em Cascavel. Visivelmente uma cidade começava a avançar no Médio-Oeste.
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